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SSiisstteemmaa NNeerrvvoossoo (Bases Anatômicas) Universidade São Judas Tadeu Profª Drª Eliane Gama 2007 1 I - INTRODUÇÃO O sistema nervoso é o sistema responsável pela captação, processamento, armazenamento, comparação e envio de informações. O tecido nervoso é formado por neurônios, unidade fundamental do tecido nervoso, e responsável pela condução dos estímulos através do sistema nervoso, e por células gliais ou neuróglia, cuja função é de sustentação e proteção. Os neurônios são células altamente excitáveis. Possuem três regiões: corpo celular(a), dendritos (b) e axônio (c) (Fig.1). O corpo celular é o centro metabólico do neurônio, contém um núcleo e sua forma e tamanho pode variar. Os dendritos são especializados em receber os estímulos. O axônio apresenta um comprimento variável, de alguns milímetros a mais de um metro, e são esses prolongamentos dos neurônios que entram em contato com outros neurônios. Esse ponto de contato é denominado sinapse. Um axônio pode ou não apresentar um envoltório, a bainha de mielina. Os axônios com bainha são denominados de fibras nervosas mielínicas, e aqueles sem bainha, fibras nervosas amielínicas. A presença da bainha de mielina, além de produzir um isolamento elétrico, também permite uma condução mais rápida do estímulo nervoso. Figura 1. Componentes de um neurônio. a) corpo celular, b) dendritos e c) axônio. 2 II - DIVISÃO DO SISTEMA NERVOSO O sistema nervoso pode ser analisado sob diversos pontos de vista. Entretanto, toda a tentativa de separar as partes do sistema nervoso, seja através da forma, função, embriologia ou qualquer outro critério, será puramente didática, pois o sistema nervoso funciona como um todo. A. Divisão anatômica do sistema nervoso De acordo com a posição que o sistema nervoso ocupa no esqueleto, podemos classificá-lo em sistema nervoso central (SNC) e sistema nervoso periférico (SNP). O SNC é aquele que ocupa o esqueleto axial, especificamente a cavidade craniana e o canal vertebral (Fig.2). O SNP é o conjunto de componentes do sistema nervoso que se encontra fora deste esqueleto. Observe a Tabela 1 e identifique cada estrutura nas Figuras 2 e 3. Sistema nervoso central encéfalo cérebro telencéfalo diencéfalo cerebelo tronco encefálico mesencéfalo ponte bulbo medula espinal Sistema nervoso periférico nervos espinais cranianos gânglios terminações nervosas Tablea 1- Divisão do sistema nervoso quanto a Anatomia. 3 Figura 2. Localização do Encéfalo e Medula Espinal. Figura. 3 – Estruturas do encéfalo. B. Divisão funcional do sistema nervoso A parte do sistema nervoso responsável pela integração do indivíduo ao seu meio denomina-se sistema nervoso somático ou da vida de relação. O componente aferente informa sobre o meio ambiente, e o componente eferente é responsável pela inervação dos músculos estriados esqueléticos. Sistema nervoso visceral ou da vida vegetativa, ou também conhecido como Sistema Nervoso Autônomo é a parte do sistema nervoso responsável pela homeostasia. Controla as atividades viscerais de modo a manter manter estável o organismo frente às necessidades de adaptação aos meios internos e externos. É composto por duas partes distintas, Simpático e Parassimpático. 4 III - Aspectos Anatômicos Gerais A) Medula Espinal A medula espinal é um cilindro de substância nervosa que ocupa o canal vertebral. Limita-se superiormente com o tronco encefálico ao nível do forame magno e inferiormente termina, no adulto, na região da 2ª vértebra lombar (L2). Apresenta duas dilatações denominadas intumescência cervical e intumescência lombar, que correspondem ao ponto de emergência dos nervos espinais que formam os plexo braquial e plexo lombrossacral, responsáveis pela inervação dos membros superiores e inferiores, respectivamente (Fig. 4A). Existem 31 pares de nervos espinais conectados à medula, distribuídos da seguinte maneira: 8 cervicais, 12 torácicos, 5 lombares, 5 sacrais e 1 coccígeo. Os nervos espinais mais inferiores se dispõem ao redor da região mais caudal da medula e constituem a cauda eqüina (Fig. 4A). Figura 4. Região sacral (vista posterior). Observar os nervos espinais que compõem a cauda eqüina. 5- meninge espinal, 8- filamento terminal. 5 B) Tronco Encefálico O tronco encefálico é formado por 3 partes: bulbo, ponte e mesencéfalo e localiza-se anteriormente ao cerebelo (Fig. 5). O bulbo apresenta na sua face anterior duas eminências alongadas e medianas, as pirâmides. Lateralmente a cada uma das pirâmides observa-se uma eminência oval, a oliva. Na parte mais inferior do bulbo, os axônios que constituem as pirâmides cruzam a linha mediana, a decussação das pirâmides. Na face posterior do bulbo duas eminências ocupam cada metade do bulbo, são o tubérculo grácil (mais medial) e o tubérculo cuneiforme (mais lateral), cada um deles correspondendo ao local de sinapse dos fascículos grácil e fascículo cuneiforme, fibras ascendentes (aferentes) provenientes da medula espinal e relacionadas à propriocepção. A ponte tem sua superfície percorrida por feixes de fibras transversais que convergem para constituir o pedúnculo cerebelar médio, que une a ponte ao cerebelo. O mesencéfalo, anteriormente, apresenta dois grossos feixes de fibras descendentes que convergem ao penetrar na ponte, os pedúnculos cerebrais. O IV ventrículo é uma cavidade que se interpõe entre o bulbo e ponte anteriormente, e cerebelo, posteriormente. Esta cavidade está preenchida pelo líquor e faz parte de um sistema de cavidades ventriculares presentes em todo o sistema nervoso central. Da superfície do tronco encefálico emergem os axônios dos neurônios que conectam o tronco encefálico à periferia e vão constituir os nervos cranianos. Dos doze pares de nervos cranianos, dez emergem do tronco encefálico. O VIII par, nervo vestíbulo-coclear, é aferente e relaciona-se a audição e ao equilíbrio. Destacam-se suas relações com o cerebelo para o controle do equilíbrio corporal. 6 Figura 5. A- Tronco encefálico e Cerebelo (vista anterior). 1- pirâmide, 2- decussação das pirâmides, 3- oliva, 4- sulco bulbopontino, 5- ponte, 6- sulco basilar, 7- pedúnculo cerebelar médio, 8- sulco pontino superior, 9- pedúnculo cerebral. C- cerebelo. B- Tronco encefálico (vista posterior). a- tubérculo grácil, b- tubérculo cuneiforme, c- colículo facial, d- área vestibular (c e d estão no assoalho do quarto ventrículo), e- colículo inferior, f- pedúnculo cerebelar superior, g- pedúnculo cerebelar médio, h- pedúnculo cerebelar inferior. C) Cerebelo O cerebelo localiza-se posteriormente ao tronco encefálico e está ligado a este e à medula através dos pedúnculos cerebelares. Liga-se à medula e ao bulbo pelo pedúnculo cerebelar inferior e à ponte e mesencéfalo pelos pedúnculos cerebelar médio e inferior, respectivamente (Fig. 5). Observa-se no cerebelo uma região ímpar e mediana, o verme do cerebelo, e duas massas laterais, os hemisférios do cerebelo. Durante o desenvolvimento embriológico (ontogênese) do cerebelo a primeira fissura a aparecer é a póstero-lateral. Ela divide o cerebelo em lóbulo flóculo-nodular e corpo do cerebelo. A fissura primária, que surge depois, divide o corpo em lobo anterior e lobo posterior (Fig. 6). Pode-se relacionar o aspectoontogenético à função do órgão como mostra a Tabela 2. 7 Divisão ontogenética Funções lobo flóculo-nodular equilíbrio corporal lobo anterior tônus muscular e postura lobo posterior movimentos delicados Tabela 2. Relação entre as funções do cerebelo e sua formação ontogenética Figura 6. Vista superior do cerebelo. TE- tronco encefálico, 1- verme do cerebelo, 2- lobo anterior do cerebelo, 3- lobo posterior do cerebelo. O lóbulo flóculo-nodular é também denominado de cerebelo vestibular, pois tem conexões com o nervo vestíbulo-coclear, que transmite ao cerebelo informações sobre a posição da cabeça, importantes para a manutenção do equilíbrio corporal. O lobo anterior, ou cerebelo espinal, recebe da medula espinal informações sobre o grau de contração dos músculos, tensão dos elementos peri-articulares e tendões, bem como as posições e velocidades do movimentos das partes do corpo. Permitindo ao cerebelo o controle do tônus muscular e da postura. TE 8 O lobo posterior, ou cerebelo cortical, recebe estímulos do córtex cerebral, e através destas conexões controla os movimentos finos, delicados, principalmente das mãos. D) Diencéfalo Diencéfalo mais telencéfalo contituem o cérebro. O diencéfalo está constituído por um cavidade central, III ventrículo e as estruturas que o circundam, tálamo, hipotálamo, epitálamo e subtálamo (Fig. 7). O tálamo constitui a parte superior da parede lateral do III ventrículo e limita-se inferiormente com o hipotálamo. O sulco hipotalâmico marca o limite entre tálamo e hipotálamo. O tálamo está relacionado com a sensibilidade. Todos os impulsos aferentes, exceto olfação, antes de alcançarem o córtex cerebral passam pelo tálamo, onde são integrados, modificados e retransmitidos. O tálamo também está relacionado ao comportamento emocional, integrando o sistema límbico. O hipotálamo controla as funções viscerais. Regula a temperatura corporal, o sono e a vigília, a fome, a sede, a diurese, as glândulas, os ritmos biológicos, além de estar relacionado ao comportamento emocional. Figura 7. Vista medial do encéfalo. 1. tálamo, 2. hipotálamo. A- telencéfalo, B- tronco encefálico, C- cerebelo. TE A B C 9 E) Telencéfalo O telencéfalo é a estrutura mais complexa do sistema nervoso. Os processos ligados à memória, intelecto, interpretação, orientação espacial estão relacionados a ele. Está constituído por dois hemisférios cerebrais, separados parcialmente pela fissura longitudinal do cérebro. Os dois hemisférios são unidos por um grosso feixe de axônios, o corpo caloso. Cada hemisfério cerebral apresenta cinco lobos, quatro deles relacionados aos ossos do crânio: frontal, parietal, occipital e temporal. O lobo da ínsula, o quinto lobo cerebral, localiza-se profundamente. A superfície do telencéfalo é percorrida por uma série de elevações denominadas giros, e depressões denominadas sulcos. O sulco central percorre obliquamente a face súpero-lateral do hemisfério, separando o lobo frontal do parietal. Anteriormente e posteriormente ao sulco central observam-se os giros pré-central e giro pós-central, respectivamente. De modo geral, as áreas localizadas adiante do sulco central estão relacionadas à motricidade e as áreas localizadas posteriormente relacionam-se à sensibilidade. O sulco lateral, como o próprio nome indica, localiza-se lateralmente e divide o lobo frontal e parietal do temporal. Na profundidade deste sulco observa-se o lobo da ínsula e curvando-se em torno de sua extremidade posterior, o giro supramarginal (Fig. 8). Figura 8. Vista súpero-lateral do encéfalo. 1. giro pré- central, 2. giro pós-central. F- lobo frontal, P- lobo parietal, O- lobo occipital, T- lobo temporal. F P T O 1 2 10 O lobo frontal limita-se como o lobo parietal através do sulco central. Este sulco é longo e percorre a face súpero-lateral de cada hemisfério. Adiante deste sulco encontra-se o giro pré-central, área motora; e posteriormente ao sulco central, o giro pós-central, área somestésica. Contornando a parte posterior do sulco lateral, oberserva-se o giro supramarginal, e contornando a parte posterior do sulco temporal superior, encontra-se o giro angular, são áreas responsáveis pelo esquema corporal, ou seja, percepção espacial de partes do corpo sem o auxílio da visão. A estrutura do telencéfalo corresponde a uma camada periférica de substância cinzenta, córtex cerebral, subjacente a essa, o centro branco medular do cérebro. No interior da substância branca, aglomerados circunscritos de substância cinzenta, os núcleos da base. No interior de cada hemisfério cerebral uma cavidade preenchida por líquor, o ventrículo lateral. IV - Áreas Motoras do Sistema Nervoso Os movimentos produzidos pelos músculos esqueléticos são, de modo geral, controlados pela vontade. Entretanto, em situações de defesa da integridade física, observamos atos reflexos da musculatura. Por exemplo, um indivíduo que, distraidamente, apóia sua mão sobre uma chapa quente, só observará sua distração segundos depois de já haver retirado a mão do objeto. Este é um exemplo de um ato reflexo de retirada. Diversas áreas do sistema nervoso estão envolvidas no planejamento, execução e coordenação dos movimentos voluntários. A área motora suplementar, localizada na face medial do lobo frontal do telencéfalo, está relacionada com o planejamento motor, ou seja, a idealização de seqüências complexas de movimentos. A área pré-motora, localizada na face súpero lateral do lobo frontal do telencéfalo, adiante do giro pré-central, e relaciona-se com o controle da musculatura do tronco e da raiz dos membros superiores e inferiores. Através de conexões com outras áreas motoras, a área pré-motora coloca os membros em uma postura adequada para a execução de movimentos 11 mais delicados das extremidades. O giro pré-central, localizado na face súpero- lateral do lobo frontal do telencéfalo, é descrita como a área motora primária do córtex cerebral. Os estímulos originados neste giro são responsáveis pela motricidade voluntária. São neurônios longos que atravessam a substância branca do telencéfalo, descem pelo pedúnculo cerebral, ponte e bulbo, onde cruzam a linha mediana, constituindo a decussação das pirâmides. Este cruzamento ocorre de 75 a 90% das fibras nervosas e determina o movimento do lado oposto do corpo. Do bulbo as fibras nervosas alcançam o neurônio motor inferior, localizado na substância cinzenta da medula espinal, o corno anterior. Através dos nervos espinhais este neurônio alcança a musculatura esquelética correspondente. V - Inervação dos membros superiores e inferiores: Os nervos espinhais emergem da medula e vão inervar região posterior da cabeça, pescoço, tronco e membros superiores e inferiores. São denominados de acordo com as regiões da coluna vertebral: cervicais (C), torácicos (T), lombares (L), sacrais (S) e coccígeo (Co). Os nervos se agrupam formando os plexo braquial e plexo lombossacral. A) Plexo braquial: O plexo braquial inerva os membros superiores. É constituído pelas raízes anteriores dos nervos espinhais C5 a T1. Estes se unem e formam os troncos: C5 e C6, tronco superior; C7, tronco médio e, C8 e T1, tronco inferior. Cada tronco dá origem a um ramo anterior e um ramo posterior. Os ramos anteriores se reúnem e formam o fascículo lateral e medial, e da união dos ramos posteriores se origina o fascículo posterior. Destes fascículos originam-seos ramos terminais, que são os nervos musculocutâneo, ulnar, mediano, axilar e radial. 12 O nervo musculocutâneo origina-se do fascículo lateral e é responsável pela inervação dos músculos coracobraquial, braquial e bíceps braquial. A flexão do cotovelo depende desse nervo. O nervo ulnar origina-se do fascículo medial e inerva os músculos da face anterior do antebraço. O nervo mediano origina-se da união dos fascículos lateral e medial. Inerva os músculos anteriores do antebraço e da palma da mão. Os movimentos de flexão da mão e dedos dependem dos nervo mediano e ulnar. O nervo axilar é ramo do fascículo posterior e inerva os músculos deltóide e redondo menor. Os movimentos de abdução, flexão e extensão do ombro dependem desse nervo. O nervo radial também é ramo do fascículo posterior. Inerva os músculos da região posterior do braço e antebraço. Os movimentos de extensão do cotovelo e mão dependem desse nervo. B) Plexo lombossacral: A união dos plexos lombar e plexo sacral dá origem ao plexo lombossacral. O plexo lombar é formado pelos ramos anteriores de L1 a L4. O nervo femoral é um ramo do plexo lombar e é responsável pela inervação do músculo quadríceps da coxa. Este nervo é responsável pelo movimento de extensão do joelho. O nervo obturatório também é ramo do plexo lombar e inerva os músculos da região medial da coxa. A adução da coxa depende do nervo obturatório. O plexo sacral é o resultado da união dos ramos anteriores de L4 a S3. O nervo isquiático é o principal ramo do plexo sacral e inerva os músculos posteriores da coxa. É espesso e percorre a face posterior da coxa, onde se divide em dois ramos, o nervo tibial e o nervo fibular comum. O nervo tibial inerva os músculos da região posterior da perna e planta do pé. Os movimentos de flexão plantar e flexão dos dedos dependem desse nervo. O 13 nervo fibular comum inerva os músculos da região anterior e lateral da perna e dorso do pé. Os movimentos de flexão dorsal do pé e extensão dos dedos dependem desse nervo. Referências bibliográficas: Machado, A. Neuroanatomia Funcional. 2 ed. Ed Atheneu, 2000. Sociedade Brasileira de Anatomia. Terminologia Anatômica. Ed Manole, 2001. Souza, R.R. Anatomia Humana. Ed Manole, 2001.
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