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Fundação Biblioteca Nacional ISBN 978-85-387-6645-2 9 7 8 8 5 3 8 7 6 6 4 5 2 O setor de serviços é extremamente diverso e complexo e sua importância na economia global e brasileira vem crescendo de modo acentuado nas últimas décadas. São consideradas como empresas do setor de serviços tanto o trabalho de um jardineiro autônomo ou um pequeno salão de beleza quanto empresas com faturamentos bilionários, como as companhias de transporte aéreo de passageiros. O que interliga esses tipos de empresa e faz com que sejam classificadas dentro do mesmo setor econômico é o fato de o serviço ser intangível. O serviço, diferentemente de um produto, depende da interação entre o cliente e o prestador, o que faz com que as empresas de cada ramo do setor de serviços apresentem estruturas, processos e organizações totalmente diferentes, além de utilizarem, em suas atividades, profissionais com formação, experiência e competências extremamente diversas. O objetivo maior desta obra é ajudar o leitor a entender a relação entre processos bem definidos e executados nos serviços e a fidelização dos clientes da empresa. Afinal, ter processos que garantam a alta qualidade de entrega dos serviços prestados é um diferencial competitivo altamente valorizado na atualidade, pois são fundamentais para garantir a satisfação e a fidelização dos clientes. Código Logístico 59443 Gestão de processos e serviços Fabiano Caxito IESDE BRASIL 2020 CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ C377g Caxito, Fabiano Gestão de processos e serviços / Fabiano Caxito. - 1. ed. - Curitiba [PR] : IESDE, 2020. 84 p. : il. Inclui bibliografia ISBN 978-85-387-6645-2 1. Marketing de relacionamento. 2. Serviços ao cliente - Administração. 3. Clientes - Contatos - Administração. I. Título. 20-64084 CDD: 658.812 CDU: 658.89 Todos os direitos reservados. IESDE BRASIL S/A. Al. Dr. Carlos de Carvalho, 1.482. CEP: 80730-200 Batel – Curitiba – PR 0800 708 88 88 – www.iesde.com.br © 2020 – IESDE BRASIL S/A. É proibida a reprodução, mesmo parcial, por qualquer processo, sem autorização por escrito do autor e do detentor dos direitos autorais. Projeto de capa: IESDE BRASIL S/A. Imagem da capa: Tribalium/ edel/ rawf8/ Top Vector Studio/ z-ifcom/ Billion Photos/ Drovnin /Shutterstock Fabiano Caxito Mestre em Administração pela Universidade Nove de Julho (Uninove). MBA em Recursos Humanos pela Universidade de São Paulo (USP). Graduado em Administração Financeira pela Universidade Cidade de São Paulo (Unicid). Atuou nas áreas de recrutamento e seleção e de treinamento e desenvolvimento em diversas empresas de distribuição e venda de bebidas. Foi coordenador de cursos de pós-graduação lato sensu em Logística das Operações Comerciais e em Negócios Internacionais. Também foi professor dos cursos de Marketing, Logística e Recursos Humanos. É professor da Fundação Instituto de Administração (FIA/USP) e influenciador digital. Agora é possível acessar os vídeos do livro por meio de QR codes (códigos de barras) presentes no início de cada seção de capítulo. Acesse os vídeos automaticamente, direcionando a câmera fotográ�ca de seu smartphone ou tablet para o QR code. Em alguns dispositivos é necessário ter instalado um leitor de QR code, que pode ser adquirido gratuitamente em lojas de aplicativos. Vídeos em QR code! SUMÁRIO 1 O que são serviços 9 1.1 Conceitos básicos de serviços 10 1.2 Características e classificação dos serviços 12 1.3 Evolução dos serviços na história econômica 14 2 Marketing de serviços 20 2.1 Fatores que determinam a qualidade de um serviço 20 2.2 Prestação de serviços 24 2.3 Expectativa e satisfação 26 2.4 Relacionamento com o cliente 31 2.5 Código de Defesa do Consumidor 34 3 Processos gerenciais 39 3.1 O que são processos 40 3.2 Mapeamento e desenvolvimento de processos 43 3.3 Ferramentas de análise de processos 45 4 Gestão dos processos em serviços 54 4.1 Conceitos de processos administrativos 54 4.2 Rotinas de trabalho 57 4.3 Gerenciamento de atividades processuais 60 4.4 Gestão de projetos 62 4.5 Processos em serviços 64 5 Melhoria de processos e competitividade 68 5.1 A economia de serviços 69 5.2 Serviços como diferencial competitivo 70 5.3 Melhoria contínua de processos 72 5.4 Treinamento e desenvolvimento de pessoas em serviços 74 5.5 Fidelização de clientes por meio dos serviços 78 6 Gabarito 82 Agora é possível acessar os vídeos do livro por meio de QR codes (códigos de barras) presentes no início de cada seção de capítulo. Acesse os vídeos automaticamente, direcionando a câmera fotográ�ca de seu smartphone ou tablet para o QR code. Em alguns dispositivos é necessário ter instalado um leitor de QR code, que pode ser adquirido gratuitamente em lojas de aplicativos. Vídeos em QR code! O setor de serviços é extremamente diverso e complexo e sua importância na economia global e brasileira vem crescendo de modo acentuado nas últimas décadas. São consideradas como empresas do setor de serviços tanto o trabalho de um jardineiro autônomo ou um pequeno salão de beleza quanto empresas com faturamentos bilionários, como as companhias de transporte aéreo de passageiros. O que interliga esses tipos de empresa e faz com que sejam classificadas dentro do mesmo setor econômico é o fato de o serviço ser intangível. O serviço, diferentemente de um produto, depende da interação entre o cliente e o prestador, o que faz com que as empresas de cada ramo do setor de serviços apresentem estruturas, processos e organizações totalmente diferentes, além de utilizarem, em suas atividades, profissionais com formação, experiência e competências extremamente diversas. Os conceitos relacionados aos serviços serão abordados no Capítulo 1 desta obra. Serão também abordadas a evolução histórica do setor de serviços na economia global, bem como as características e classificações dos tipos de serviços. Essa variabilidade dos tipos de atividades classificadas como serviços e a própria natureza intangível do serviço fazem com que a qualidade percebida pelo cliente varie de acordo com as relações, eventos e interferências que possam ocorrer durante a prestação do serviço. Por esse motivo, os fatores que determinam a qualidade de um serviço e a relação entre a expectativa e satisfação dos clientes serão temas do Capítulo 2, que abordará também o Código de Defesa do Consumidor. Ao analisarmos as atividades de uma empresa, seja ela de serviços ou produtos, e reduzirmos essas atividades a seus componentes mais básicos, é possível identificar que a empresa realiza uma sequência de processos. Os processos operacionais e de gestão são primordiais para garantir o nível de qualidade entregue a seus clientes. Assim, para garantir a qualidade dos serviços, é importante que as empresas definam e executem processos rigorosos, que possibilitem uma entrega homogênea e satisfatória, dentro das expectativas dos clientes. Os Capítulos 3 e 4 têm como foco os processos tanto operacionais quanto gerenciais da empresa, conceituando também mapeamento, desenvolvimento e melhoria APRESENTAÇÃO 8 Gestão de processos e serviços contínua dos processos da empresa. Os capítulos também abordam as ferramentas de gestão de processos e de melhoria contínua da empresa. Ter processos que garantam a alta qualidade de entrega dos serviços prestados é um diferencial competitivo altamente valorizado na atualidade, pois são fundamentais para garantir a satisfação e a fidelização dos clientes, esse importante tema será abordado no Capítulo 5. O objetivo maior desta obra é que o conteúdo o ajude a entender a relação entre processos bem definidos e executados nos serviços e a fidelização dos clientes da empresa. Bons estudos! O que são serviços 9 1 O que são serviços Imagine que você irá almoçar em um restaurante a quilo. Pegandoum prato, vai até o buffet, escolhe a comida e coloca-a no prato, na quantidade que deseja. Anda, então, até a balança e pesa seu prato, coloca-o em uma bandeja, pega os talheres e leva sua comida até a mesa. Agora, vamos pensar em outra experiência. Você decide jan- tar em um restaurante elegante, com uma pessoa especial. O recepcionista abre a porta do restaurante, um maitre o leva até a mesa, e os garçons oferecem menus para a escolha dos pratos. O garçom informa os ingredientes de cada prato e explica o modo de sua preparação. Um sommelier indica o vinho que harmoniza com a refeição escolhida, e os garçons trazem a comida e servem a bebida nos copos. Em ambas as experiências, você está comprando o mesmo produto: comida, mas, em cada uma delas, o nível de serviços agregado é completamente diferente. Em uma entrevista, o em- presário Rogério Fasano, dono de restaurantes de luxo, foi ques- tionado se não achava muito alto o preço que cobrava em seus restaurantes. Ele disse que não, explicando que vendia mais que comida, vendia uma experiência. O que o empresário entendeu é que serviço agrega valor percebido ao produto, e, em alguns casos, muito valor. Os serviços têm ganhado cada vez mais importância em nossa economia, pois possibilitam que as empresas agreguem valor a seus produtos e cobrem por isso. Assim, entender os conceitos de produtos e serviços se torna fundamental para quem atua na área de gestão. 10 Gestão de processos e serviços 1.1 Conceitos básicos de serviços Vídeo O termo serviço pode ser definido, segundo Bateson e Hoffman (2016), como a oferta de uma atividade intangível e imaterial, que é de- senvolvida por meio de um processo produtivo, é feita por uma empre- sa ou por uma pessoa e não resulta na produção de um bem material, mas na criação de uma experiência que tenha o objetivo de atender ou satisfazer uma necessidade ou um desejo de cliente. Para que possamos entender mais claramente o que são serviços, precisamos, primeiramente, conceituar o que é produto e demonstrar as diferenças entre esses dois conceitos. Para Kotler e Keller (2019), en- tender o que são os produtos é mais fácil, pois eles são bens tangíveis, ou seja, existem fisicamente e podemos tocá-los. A existência física do produto traz uma série de outras características. É possível comparar um produto produzido por uma indústria, por uma empresa ou até mesmo por um artesão com os produtos construídos por empresas concorrentes. Pode-se afirmar, por exemplo, que um produto é maior, tem mais quantidade, qualidade ou durabilidade em comparação a ou- tro. Ao comprar, o cliente passa a ter posse sobre o produto, enquanto a empresa deixa de ser sua dona. Para Kotler e Keller (2019), outra importante característica dos pro- dutos é que eles podem ser produzidos antes de serem consumidos, com a utilização de processos produtivos que podem ser industrializa- dos, o que garante a capacidade de produzir diversos produtos com o mesmo nível de qualidade e com as mesmas características. Nas fábri- cas, as linhas de produção produzem milhares de produtos iguais. Um produto é criado com a transformação de matérias-primas, por meio do uso de mão de obra e tecnologia. Por serem fabricados antes do momento de consumo, os produtos podem ser estocados e trans- portados, de modo que estejam disponíveis no momento em que o cliente desejar adquiri-los. A entrevista Um vinho custar mais de R$ 2.000 é uma “aberração”, realizada pelo jornal Folha de São Paulo, com Rogério Fasano, mostra como o valor percebido pelo cliente aumenta ao agregar ao produto mais serviços do que a empresa comercializa. Acesso em: 4 jun. 2020. https://www1.folha.uol.com.br/fsp/cotidian/ff0807200713.htm Artigo https://www1.folha.uol.com.br/fsp/cotidian/ff0807200713.htm O que são serviços 11 O conceito de serviço, em diversos aspectos, é oposto ao conceito de produto. A principal característica do serviço é não ser tangível, segun- do Bateson e Hoffman (2016). Não é possível dizer que um atendimento psicológico ou um corte de cabelo é algo que se pode tocar, no sentido de existir fisicamente. Por não ser tangível, o serviço apresenta diversas características que o diferenciam de um produto. Na grande maioria dos serviços, o cliente precisa estar presente e interagir com o prestador de serviço no momento em que a ação ocorre. Assim, não é possível produzir serviços com antecedência e estocá-los. Um cabeleireiro não pode estocar cortes de cabelo e simplesmente os entregar aos clientes quando estes chegarem ao salão de beleza. Um fisioterapeuta não pode armazenar tratamentos e entregá-los aos pacientes quando estes forem ao consultório. A produção de um serviço ocorre simultaneamente à sua prestação, com a presença física do cliente e sua interferência. Essa possibilidade de o cliente interferir na qualidade do serviço pres- tado é uma das principais características que o diferem dos produtos, de acordo com Kotler, Kartajaya e Setiawan (2017). Um cliente não pode causar um problema de qualidade durante a construção de um produto que é feito em uma fábrica distante, em um período anterior ao momen- to de consumo. Mas imagine alguém que preste o serviço de cortar ca- belos de crianças. Se o cliente se mover inesperadamente no momento em que o profissional está com a tesoura posicionada, o corte pode ficar torto, prejudicando a qualidade final do serviço. Como é produzido no momento em que é prestado, o serviço não pode ser estocado, o que traz uma série de desafios para a gestão de operações de serviços. Por exemplo, um hotel, durante o período de baixa temporada, tem diversos quartos vagos. O investimento feito pela empresa para construir as acomodações, fazer a manutenção e a limpe- za aumenta os custos de operação, pois a ociosidade dos quartos é alta. Por outro lado, na alta temporada, há uma grande procura e, muitas ve- zes, o hotel está completamente cheio e ainda existem clientes interessa- dos em se hospedar. Porém, como o hotel não dispõe de quartos livres, não pode prestar o serviço de hospedagem, prejudicando o resultado da empresa e sua participação no mercado. Ainda voltados para a incapaci- dade de atender a todos os clientes, podemos citar como exemplo o sa- lão de beleza, que fica ocioso durante a semana, mas tem seus serviços em alta procura aos finais de semana. Esse fator torna o atendimento a todos os que procuram os serviços prestados algo inviável. 12 Gestão de processos e serviços 1.2 Características e classificação dos serviços Vídeo A separação entre bens e serviços com base na tangibilidade pode parecer simples do ponto de vista conceitual. Na prática, porém, pro- dutos e serviços apresentam diferentes classificações em relação à tan- gibilidade, pois é comum que os produtos sejam comercializados com serviços ligados a ele. Da mesma forma, muitos serviços são prestados com a utilização de produtos a ele relacionados. Dentre as diversas classificações desenvolvidas por diferentes autores, destacaremos as de Bateson e Hoffman (2016): • Bem tangível: nessa classificação, encontram-se produtos ou bens cuja comercialização não depende de nenhum serviço adi- cionado. Grande parte dos produtos de consumo vendidos em um supermercado, por exemplo, podem ser classificados nessa categoria. • Bem tangível associado a serviços: produtos que são mais complexos do ponto de vista tecnológico, ou que apresentam vida útil prolongada, dependem da existência de serviços que ga- rantam sua qualidade e sua disponibilidade durante o tempo de utilização. Por exemplo: automóveis, eletrodomésticos ou com- putadores, bens duráveis que dependem de assistência técnica e manutenção. • Híbrida: quando o benefício que a empresa oferece aos seus clientes depende, igualmente, de um produto e dos serviços a ele adicionados. O exemplo do restaurante, utilizado no início deste capítulo, demonstra perfeitamente essa categoria. • Serviço principal associado a bens ouserviços secundários: casos em que o cliente busca a prestação de um serviço, mas, para que este seja prestado, a empresa utiliza produtos para compor a qualidade do serviço. São exemplos dessa categoria as viagens aéreas, em que o cliente compra o serviço de transporte (ser transportado do local A para o local B), mas ele está associa- do a bens tangíveis, como a comida e a bebida servidas durante o voo. Outro exemplo é o cabeleireiro, que, para prestar o serviço de coloração de um cabelo, utiliza produtos específicos. • Serviço puro: quando se oferece apenas a prestação do servi- ço, sem nenhum produto adicional a ser usado ou entregue ao O que são serviços 13 cliente. O exemplo clássico dessa categoria são os atendimentos psicoterápicos ou o trabalho de um professor ou tutor. A Figura 1 mostra as diversas classificações produto-serviço dentro de um continuum. Figura 1 Escala de tangibilidade Predominantemente tangíveis Predominantemente intangíveis Lojas de fast-food Lojas de fast-food Agências de propagan da Sal Linhas aéreas Refrigera ntes Detergen tes Automóv eis Cosmétic os Gerência s de investime ntos Consulto ria EnsinoFonte: Bateson; Hoffman, 2016, p. 6. Para Pereira, Carvalho e Rotondaro (2012), essa classificação não deve ser pensada em termos de categorias estanques, mas como um continuum, em que em um extremo encontramos o produto puro e no outro encontramos o serviço puro. À medida que se transita en- tre esses dois extremos, o produto deixa de ser a parte fundamental e principal da proposta de valor oferecida pela em- presa e torna-se parte de uma oferta na qual o ser- viço ganha importância gradativamente. Voltando ao exemplo do restaurante, determinado produto ou serviço pode ser mais ou menos importante no composto oferecido ao cliente, dependendo do que a empresa busca oferecer e da expectativa gerada. Na Figura 2, Corrêa e Gianesi (2007) demonstram a relação entre expectativa e realidade na prestação dos serviços. Na prestação de serviços, garantir a sua qualida- de e regularidade é um dos grandes desafios para as empresas da área. Isso ocorre por causa de sua ca- racterística de intangibilidade, o que impossibilita sua produção antecipada em ambientes e processos con- trolados, e por depender da interação com o cliente durante sua produção. Figura 2 Qualidade em serviços Expectativa do cliente quanto ao serviço Percepção do cliente quanto ao serviço Qualidade percebida pelo cliente Fonte: Adaptada de Gianesi; Corrêa, 2007. 14 Gestão de processos e serviços 1.3 Evolução dos serviços na história econômica Vídeo Para que possamos entender a importância do setor de serviços, é importante compreender como a economia evoluiu durante a história. Três grandes ondas econômicas, segundo Corrêa, Ribeiro e Pinheiro (2017), moldaram a forma como o ser humano produz bens e serviços, o que possibilitou a geração de riquezas e influenciou a organização política e social da civilização humana. Os primeiros grupos humanos sobreviviam por meio da coleta de alimentos e da caça, o que os forçava a se manterem constantemente em deslocamento, em busca dos alimentos necessários para a sobre- vivência. Por isso, eram nômades, não estabelecendo moradias fixas. Esse modelo de organização evoluiu com o desenvolvimento da agricultura, o que Corrêa, Ribeiro e Pinheiro (2017) chamam de primeira onda da história da economia. A agricultura permitiu que os primeiros grupos humanos se estabelecessem em uma determinada região, le- vando, assim, ao surgimento de cidades e, posteriormente, das nações. Esse modelo econômico com base na agricultura perdurou por milê- nios e teve como período mais significativo a Idade Moderna, entre os séculos XVI e XVIII, com os estados absolutistas europeus, nos quais o poder do rei e dos nobres estava intimamente relacionado à posse de terras e à produção de alimentos. A segunda onda econômica, de acordo com Malta, Braga e Barbosa (2019), surgiu a partir da Revolução Industrial, no século XVIII. A intro- dução de novas tecnologias de fabricação e de novas fontes de energia, em especial da máquina a vapor e do carvão, gerou ganhos de pro- dutividade nunca antes registrados na manufatura de bens de con- sumo. Os ganhos econômicos dos industriais foram tão significativos que influenciaram até mesmo a organização política dos estados e dos países, resultando no fim da monarquia em grande parte dos países. Para Corrêa, Ribeiro e Pinheiro (2017), a segunda revolução econômica transferiu o poder econômico e a fonte de geração de riquezas da terra ao capital necessário para investir na criação e na operação de grandes estruturas industriais, de geração de energia, de transporte e de co- mercialização de bens e produtos. Com o desenvolvimento de novas tecnologias de comunicação e de geração, de organização e de análise de dados e informações, uma ter- ceira onda surgiu na história da economia, a qual Stewart (2007) chama O que são serviços 15 de era da informação ou economia do conhecimento. Nesse novo momen- to econômico, que se acelerou nas últimas décadas do século XX, com o desenvolvimento de computadores e de tecnologias de comunicação, o principal elemento gerador de riquezas na economia passou a ser o co- nhecimento. Se nas ondas econômicas anteriores as fontes de geração de riqueza eram tangíveis, como a terra, os alimentos, as máquinas e os equipamentos, na economia do conhecimento, as fontes de geração de riqueza passaram a ser intangíveis e intrinsecamente ligadas aos servi- ços e ao controle sobre os meios de informação e de comunicação. Apesar de serem estudadas de maneira sequencial, por terem surgido em momentos diferentes da história da humanidade, os três modelos econômicos – com base na posse de terras, no capital e no co- nhecimento – coexistem na economia moderna, com diferentes pesos e importância, de acordo com o nível de desenvolvimento econômico do país. O aumento do peso do setor de serviços é uma realidade na economia brasileira, assim como na maioria dos países desenvolvidos ou em desenvolvimento. O gráfico, a seguir, mostra o peso de cada um dos modelos econômicos na economia brasileira. Figura 3 Evolução da composição do Produto Interno Bruto (PIB) por setores, em %. Indústria perde peso no PIB do Brasil 1995 2005 1º trimestre 2014 1º trimestre 2019 Nível de pré-recessão 24,7% 5,2% 5,5% 65,4% 70,1% 67,2% 50% 25% 0 75% 100% 5% 201920152010200520001995 73,5% 21,5% Pico da indústria 29,1% 27,2% Indústria Serviços Agropecuária 5,8% Fonte: Alvarenga, 2019, com base em Ibre/FGV, a partir de dados do IBGE. 16 Gestão de processos e serviços Segundo Caxito (2020, p. 107), o modelo da economia baseada na agricultura e na posse de terras tem uma participação estável na economia do país, re- presentando por volta de 5% do total de riquezas produzidas anualmente. Já a economia baseada no capital, representada pela produção industrial, vem perdendo peso na economia do país. O peso do setor de serviços, no qual se insere a economia do conhecimento, vem crescendo gradativamente na econo- mia brasileira. Esse é um dado importante, porque o setor de serviços reflete as demandas da indústria, do comércio e da agricultura. Segundo dados do IBGE (2014), existem mais de 1 milhão e 300 mil empresas de servi- ços não financeiros, que geram cerca de R$ 1,5 trilhão em receita ope- racional líquida. Ainda segundo os dados do IBGE (2014), o setor é um grande em- pregador, com mais de 13 milhões de pessoas empregadas e com pou- ca concentração em grandes empresas, com exceção de algumas áreas específicas, como os transportes dutoviário (99,7%), aéreo (92,2%), ferroviário/metroviário (82,0%), bem como correio ou outras atividades de entrega (81,6%). A grande maioria das empresas prestadoras de serviço que atuam na economia brasileira pode ser enquadrada em dois grupos: em- presas especializadas em serviçosprestados principalmente às famí- lias (ex.: escolas, clubes, cabeleireiros etc.), que totaliza mais de 450 mil empresas registradas, e as empresas especializadas em serviços profissionais, administrativos e complementares (ex.: empresas de contabilidade, empresas de locação de equipamentos etc.), com mais de 400 mil empresas. O crescimento do peso do setor de serviços na economia brasileira (Figura 4) embute um risco e uma oportunidade. À medida que a eco- nomia de um país evolui de atividades mais básicas, como agricultura e indústria, para atividades mais complexas, típicas da área de serviços, a necessidade de educação, treinamento e desenvolvimento dos pro- fissionais aumenta. Segundo o estudo Trabalhando com o Brasil, publicado pelo órgão internacional OCDE, que busca promover o desen- volvimento econômico global, o setor de serviços é o principal contribuin- te para o PIB e para a criação de emprego no Brasil. Porém, o estudo também aponta que o setor ainda apresenta um foco interno, com baixo desempenho como setor exportador. Disponível em: http://www.oecd. org/latin-america/Active-with-Bra- zil-Port.pdf. Acesso em 4 jun. 2020. Saiba mais Em entrevista ao site UOL, o CEO da AccorHotels na América do Sul, Patrick Mendes, afirmou que “o brasileiro tem uma grande capaci- dade de aprendizagem. O otimismo, a vontade e a curiosidade são impressionantes. Sendo de fora, vejo uma dife- rença enorme. Há uma curiosidade real, sincera de querer ser melhor e aprender”. A entrevista mostra como o setor de serviços tem um grande potencial de crescimento no Brasil, além da impor- tância do desenvolvimen- to profissional para que o trabalhador possa atuar no setor. Disponível em: https://www.uol/ economia/especiais/entrevista- -patrick-mendes-accorhotels. htm#tematico-1 Acesso em: 4 jun. 2020. Curiosidade http://www.oecd.org/latin-america/Active-with-Brazil-Port.pdf http://www.oecd.org/latin-america/Active-with-Brazil-Port.pdf http://www.oecd.org/latin-america/Active-with-Brazil-Port.pdf O que são serviços 17 Figura 4 Peso dos serviços sobre o valor adicionado na economia brasileira 71,5% 71,0% 70,5% 70,0% 69,5% 69,0% 68,5% 68,0% 67,5% 67,4% 67,1% 67,7% 68,3% 68,2% 68,6% 68,3% 68,1% 67,7% 68,1% 68,5% 68,6% 68,6% 70,1% 69,4% 69,2% 70,0% 70,0% 70,3% 70,6% 71,1% 70,8% 70,9% 71,1% 67,0% an o 1 99 6 an o 1 99 7 an o 1 99 8 an o 1 99 9 an o 2 00 0 an o 2 00 1 an o 2 00 2 an o 2 00 3 an o 2 00 4 an o 2 00 5 an o 2 00 6 an o 2 00 7 an o 2 00 8 an o 2 00 9 an o 2 01 0 an o 2 01 1 an o 2 01 2 an o 2 01 3 an o 2 01 4 an o 2 01 5 an o 2 01 6 an o 2 01 7 an o 2 01 8 an o 2 01 9 Fonte: Adaptado de IBGE, 2020. É fundamental, portanto, que a educação formal do país seja repen- sada, para investir na formação profissional, não só da nova geração que chega ao mercado de trabalho, como também da mão de obra que hoje se encontra ativa. A oportunidade de crescimento está na inclina- ção natural do brasileiro para o relacionamento, fundamental no setor de serviços. Com o desenvolvimento da tecnologia da informação e da automa- tização dos processos, o papel da mão de obra migra gradativamente da operação para a gestão. À proporção que essa evolução ocorre, a quantidade de pessoas necessárias para desenvolver a mesma quanti- dade de trabalho diminui, o que leva à necessidade de um reposiciona- mento da mão de obra. A questão maior é: quanto mais a tecnologia evolui, mais a mão de obra precisa ser preparada, pois a educação passou a ter um papel fundamental no desenvolvimento econômico. O mercado sempre evo- luiu e sempre mudou. Milhares de telefonistas foram substituídas por centrais telefônicas e profissionais que atuavam como caixas de banco foram substituídos por caixa eletrônicos. O caso da Zappos, uma empresa americana de e-commerce especializada em sapatos, é contado no livro Satisfação Garantida, escrito pelo fundador da empresa. Esta é reconhe- cida pela qualidade de atendimento prestado a seus clientes. O livro mos- tra a importância do rela- cionamento com o cliente e as oportunidades de trabalho no e-commerce para profissionais da área de serviços. HSIEH, T. 2. ed. Rio de Janeiro: HarpersCollins, 2016. Livro 18 Gestão de processos e serviços Mas da mesma forma que profissões desapa- receram, outras surgiram. A evolução das tecno- logias ligadas à informação e à comunicação é cada vez mais acelerada. Conhecer tecnologia, pensar de maneira lógica, aprender programa- ção não é mais considerado um diferencial profissional e será condição básica para atuar no mer- cado. Quanto mais cresce a automatização dos processos comerciais, com o crescimento do e-commerce, maior a necessi- dade de profissionais especializados na área de serviços. CONSIDERAÇÕES FINAIS Produtos e serviços apresentam características diversas, mas que se complementam. Por isso, é importante conhecer essas características para que se possa utilizá-las para gerar e capturar valor aos clientes. À medida que a economia de um país evolui, a importância do setor de serviços cresce, o que traz grandes oportunidades, tanto para as em- presas quanto para os profissionais. Porém, o setor de serviços exige profissionais capacitados e preparados, o que aumenta a importância da educação e do desenvolvimento da mão de obra do país. ATIVIDADES 1. Dentre as características do serviço, a intangibilidade é uma das mais importantes. Explique como esse conceito pode ser utilizado para diferenciar produtos e serviços. 2. Explique a classificação de um serviço principal associado a bens ou serviços secundários, utilizando um exemplo diferente dos mencionados neste capítulo. 3. Por que o crescimento do setor de serviços no Brasil pode apresentar um risco? Justifique sua resposta. REFERÊNCIA ALVARENGA, D. Com três trimestres de queda, indústria perde peso no PIB e vê recuperação mais distante. G1 Economia, 27 ago. 2019. Disponível em: https://g1.globo. com/economia/noticia/2019/08/27/com-tres-trimestres-de-queda-industria-perde-peso- no-pib-e-ve-recuperacao-mais-distante.ghtml. Acesso em: 4 jun. 2020. BATESON, J.; HOFFMAN, K. D. Princípios de marketing de serviços: conceitos, estratégias e casos. 3. ed. São Paulo: Cengage Learning, 2016. Everett Historical/Shutterstock O que são serviços 19 CAXITO, F. Desafios contemporâneos e inovação na gestão pública. Curitiba: IESDE, 2020. CORRÊA, H. L.; GIANESI, I. G. N. Just in Time, MRP II e OPT: um enfoque estratégico. 5. ed. São Paulo: Atlas, 2007. CORRÊA, F.; RIBEIRO, J. S. A. N.; PINHEIRO, M. M. K. Aspectos da economia da informação: arquétipo conceitual econômico e social. Informação & Informação, v. 22, n. 1, p. 185-214, jan./abr. 2017. Disponível em: http://www.uel.br/revistas/uel/index.php/informacao/ article/view/26536/21056. Acesso em: 4 jun. 2020. IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Brasil em síntese. 2014. Disponível em: https://brasilemsintese.ibge.gov.br/servicos.html. Acesso em: 4 jun. 2020. IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Sistema de Contas Nacionais Trimestrais - SCNT. 2020. Disponível em: https://www.ibge.gov.br/estatisticas/economicas/ industria/9300-contas-nacionais-trimestrais.html?=&t=series-historicas. Acesso em: 4 jun. 2020. KOTLER, P.; KARTAJAYA, H.; SETIAWAN, I. Marketing 4.0: do tradicional ao digital. Rio de Janeiro: Sextante, 2017. KOTLER, P.; KELLER, K. L. Administração de marketing. São Paulo: Pearson Universidades, 2019. MALTA, G. A. P.; BRAGA, S. 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Com a evolução dos conceitos e dos conhecimentos, o marketing passou a ser visto como a ativida- de responsável pelas relações de troca entre empresa e clientes. Com o aumento da importância dos serviços na percepção de valor por parte dos clientes, uma nova área surgiu dentro do marketing: o marketing de serviços, que tem como foco a criação, o desenvolvimento e o oferecimento de serviços de qualidade e que atendam às necessidades do cliente, auxiliando a instituição a atingir seus objetivos. 2.1 Fatores que determinam a qualidade de um serviço Vídeo Quando falamos em produtos, os conceitos relacionados à qua- lidade são mais facilmente entendidos, por ser possível analisar as matérias-primas utilizadas, a correta execução dos processos produ- tivos e comparar o produto final com um padrão preestabelecido ou com produtos concorrentes. Desse ponto de vista, a qualidade é uma característica intrínseca ao produto: ou ele tem qualidade ou não tem. Porém, a definição de qualidade precisa levar em conta, também, as percepções, as expectativas e os padrões estabelecidos pelo cliente. Caxito (2019, p. 94) afirma que: talvez o valor de qualidade seja conhecido por todos, mas, quan- do se trata do conceito, a percepção de cada parte interessada pode ser diferente, conforme seus anseios e suas necessidades. Pode-se pensar, então, que qualidade é fazer as coisas de forma Marketing de serviços 21 certa, ou seja, o que foi combinado com o cliente e, se ele ficar satisfeito, é porque a qualidade foi atingida. A visão da qualidade, não apenas pelas características intrínsecas do produto, é ainda mais importante quando se busca identificar e de- finir padrões de qualidade em serviços. Sendo assim, apenas o cliente pode definir o que é qualidade em um serviço, pois as expectativas, as vivências anteriores e os desejos de um determinado consumidor serão diferentes das expectativas de outro. Para analisarmos a qualidade em serviços, precisamos dividir a pres- tação de serviços em dois tipos de diferentes. Segundo Grönroos (2009), os serviços interativos, também conhecidos como linha de frente ou front office, são serviços em que há alto grau de contato entre o presta- dor de serviço e o cliente. Já os serviços de suporte, também conhecidos como serviços de retaguarda ou backstage, têm baixo contato entre o prestador de serviços e o cliente. Para exemplificar, pense em um con- sumidor que vai até uma empresa de assistência técnica para consertar um eletrodoméstico. Ele será atendido por um balconista, que realizará a abertura de uma ordem de serviços, além de informá-lo sobre prazos e valores. O conserto do produto será realizado por um técnico, sem a presença física do usuário no momento da prestação do serviço. Menezes e Borchardt (2010) explicam que a entrega de um serviço de qualidade para o cliente envolve cinco áreas distintas, conforme a Figura 1. Figura 1 Camadas envolvidas na entrega do serviço Retaguarda (backstage) Linha de frente (frontstage) Clientes Atividades de suporte Ambiente físico Experiência do cliente Funcionários Processo de entrega do serviço Amigos dos clientes Fonte: Menezes; Borchardt, 2010, p. 31. Para entender esse conceito na prática, basta analisar os comentários e as opiniões dos clientes em sites de avaliação de serviços. Um exemplo é o Trip Advisor, em que turistas avaliam restaurantes, passeios, eventos e festas. Ao ler as avaliações, é possível identificar que um mesmo serviço é percebido como ótimo por alguns clientes e péssimo por outros. É comum encontrar comentários que salientam a insatisfação com o atendimento e a interação ofe- recidos pelo prestador de serviço. Saiba mais 22 Gestão de processos e serviços A figura nos permite entender as relações entre as atividades de su- porte, que ocorrem sem a presença física do consumidor e em ambien- te ao qual o cliente não tem acesso; o ambiente físico no qual o cliente é atendido, que precisa ser adequado às expectativas deste; os funcio- nários, que precisam estar preparados para interagir com o cliente, en- tendendo e atendendo às suas necessidades; o processo de entrega do serviço, que deve ser claro, seguir padrões e cumprir o que foi prometi- do ao cliente; e os amigos dos clientes, que influenciarão a percepção do consumidor e por este serão influenciados. Apesar da divisão em áreas propostas pelas autoras, do ponto de vista do cliente, a percepção de qualidade do serviço é integrada, ou seja, ele enxerga todas as partes como um todo. Ele pode estar satisfei- to com a prestação do serviço, mas, se considerar que o ambiente físico em que foi atendido não atende às suas expectativas, perceberá a qua- lidade geral do serviço como insatisfatória. Assim, identificar os crité- rios que possam ser utilizados para medir os serviços de forma objetiva têm sido o foco de diversas pesquisas e de estudos acadêmicos. Dentre os variados modelos desenvolvidos por pesquisadores, destaca-se o SERVQUAL, desenvolvido por Zeithaml, Parasuraman e Berry, em 1985. Segundo Lovelock e Wright (2011), o modelo SERVQUAL define dez di- mensões, nas quais a qualidade de um serviço pode ser avaliada. Essas dimensões foram, posteriormente, consolidadas em cinco, conforme demonstra o Quadro 1. Quadro 1 Relação entre as dimensões que compõem a escala SERVQUAL Dimensões originais Dimensões finais Descrição Tangibilidade Tangibilidade Aparência e elementos físicos, oferecendo ao cliente instalações, equipamentos, pessoal envol- vido e material de comunicação adequado e com qualidade. Confiança Confiança Desempenho preciso, digno de confiança, ou seja, realizar um serviço prometido de forma confiável e precisa. Sensibilidade Capacidade de resposta Rapidez e presteza, ajudando o cliente a ter um pronto atendimento. (Continua) Marketing de serviços 23 Dimensões originais Dimensões finais Descrição Comunicação Segurança Competência, cortesia, credibilidade e proteção, por meio da habilidade em transmitir confiança e segurança, com cortesia e conhecimento do que se faz. Credibilidade Segurança Competência Cortesia Compreensão do cliente Empatia Acesso fácil, boa comunicação e entendimento do cliente por meio de cuidados e atenção individuali- zada. Acesso Fonte: Lovelock; Wright, 2011, p. 84. Analisando a descrição de cada uma das cinco dimensões finais apresentadas no quadro, é possível perceber que elas estão centradas na visão do cliente final e em suas expectativas e percepções sobre o serviço. A dimensão tangibilidade leva em consideração a aparência e os ele- mentos físicos da prestação do serviço. A percepção sobre a adequa- ção de uma área de atendimento varia de acordo com o cliente. Tomemos como exemplo uma oficina mecânica.É normal que a área de atendimento de uma empresa que presta esse tipo de serviço seja pouco organizada, com peças novas e usadas espalhadas, muitas delas sujas, bem como com ausência de espaços de espera ou até mesmo ca- deiras ou poltronas nas quais o cliente possa aguardar a prestação do serviço. Um ambiente físico assim pode não impactar negativamente a percepção de qualidade do serviço de um grupo de clientes, mas pode ser extremamente incômodo para uma parcela significativa que deseja aguardar a prestação de serviços em uma sala de espera. Segundo Ladhari (2009), o SERVQUAL não é o único instrumento para mensuração da qualidade em serviços. O autor apresenta algu- mas lacunas importantes, como não levar em consideração a possibi- lidade de personalização dos serviços de acordo com as necessidades de cada cliente. Todavia, ainda é o instrumento mais utilizado atual- mente, em diversos países do mundo. 24 Gestão de processos e serviços 2.2 Prestação de serviços Vídeo Dentro do contexto da gestão das empresas, a inovação é um dos temas mais abordados nos últimos anos. Para Guimarães (2017), o desenvolvimento tecnológico acelerado, registrado nas primeiras dé- cadas do século XXI, está ligado, em grande parte, às tecnologias da in- formação e da comunicação, áreas ligadas à economia de serviço e que trazem mudanças profundas nos relacionamentos entre as pessoas e entre estas e as empresas. O desenvolvimento dessas tecnologias deu origem não só a no- vas empresas, mas também a novos setores econômicos; em especial na área de serviços. Podemos usar como exemplo o desenvolvimen- to de empresas que oferecem serviços de compartilhamento, que possibilitam aos proprietários de bens automóveis oferecer serviços de transporte, tais como as empresas UBER, LIFT e 99, e de bens imóveis oferecer locação temporária de imóveis e espaços de coworking, como a empresa AirBnB. Muitos autores, porém, apontam que a inovação na área de serviços não recebe a mesma atenção e o mesmo foco dos gestores quanto à inovação em produtos. Para Lima e Vargas (2012), a inovação em ser- viços só começou a ser estudada com mais profundidade nos últimos anos. Os autores afirmam que tanto os empreendedores quanto os governos têm investido cada vez mais na criação de um ambiente que incentive o desenvolvimento de inovações. A finalidade é que estas possibilitem a entrega de um serviço com mais qualidade, mais eficiên- cia e com maior valor percebido pelos clientes de maior valor agregado ao seu destinatário. Para que os serviços sejam prestados de forma a garantir que a qua- lidade proposta pelo prestador do serviço seja percebida pelo cliente, é de fundamental importância garantir que todas as atividades sejam realizadas dentro do planejado e de acordo com os parâmetros esta- belecidos. Para isso, é fundamental que o processo de prestação do serviço esteja descrito e que ocorra a gestão desse processo. Maximiano (2015) conceitua a gestão como o processo de tomar de- cisões sobre a correta utilização dos recursos disponíveis para atingir os objetivos pretendidos, como pode ser entendido na figura a seguir. A economia do comparti- lhamento tem como base o conceito do uso comum de espaços, equipamentos e bens, com foco no seu uso e não na sua posse. O conceito também se relaciona a novas formas de organização do trabalho, com a formação de redes que podem, ou não, ser intermediadas por sites e plataformas de internet. Saiba mais Marketing de serviços 25 Figura 2 Relação entre as variáveis na administração Recursos Pessoas, informação e conhecimento, espaço Decisões Planejamento Organização Execução e direção Objetivos Resultado Ab er t/S hu tte rst oc k Fonte: Adaptado de Maximiano, 2015. Assim como na produção de bens, o processo de gestão envolve a definição de metas e de objetivos que a empresa busca atingir, além da identificação e da organização dos recursos que a empresa dispõe, como os financeiros, os de conhecimento e os humanos. Esse processo envolve, ainda, o planejamento dos passos, das atividades e das ações a serem tomadas pelos colaboradores da empresa. Garantir a perfeita execução dessas ações – por meio do treinamento adequado da equi- pe e da correta utilização dos recursos –, bem como acompanhar os re- sultados obtidos, comparando-os com os objetivos traçados, também são atividades importantes. Segundo Lopes et al. (2008), garantir a qualidade no serviço oferecido, dentro das dimensões de qualidade (tangibilidade, confiança, capacidade de resposta, segurança e empatia), é fundamental para que o cliente se sinta satisfeito com a empresa, pois a satisfação das expectativas é um importante aspecto para se criar a fidelidade dos clientes. Na prestação dos serviços, a gestão se torna ainda mais funda- mental, em especial a gestão dos recursos humanos. Para Hemais e Casotti (2009), a preparação das pessoas que atuam na área de serviços é parte fundamental na busca da qualidade do serviço pres- tado, já que a interação entre cliente e prestador do serviço é parte inerente do serviço. 26 Gestão de processos e serviços Tomemos como exemplo o recepcionista de um hotel que faz o fe- chamento da conta de um hóspede. Este não concorda com o valor to- tal da conta, acusa o atendente pelo erro e diz que está sendo roubado. Fala em voz alta, começa a gravar a cena com seu celular e informa que chamará a polícia, caso o valor da conta não seja revisto. O recepcio- nista e o gestor da recepção precisam estar preparados para lidar com essa situação, mantendo o respeito para com o cliente e seguindo os padrões e os processos da empresa. A preparação dos recursos humanos está intimamente relaciona- da às dimensões capacidade de resposta, segurança e empatia, todas elas ligadas à relação que se estabelece entre prestador e cliente du- rante a execução do serviço. Elas envolvem aspectos como rapidez, presteza, cortesia, boa comunicação e entendimento das necessida- des dos clientes. Outros aspectos fundamentais para a prestação de um serviço de qualidade estão relacionados a um processo bem descrito e criterio- so de como cada passo do serviço deve ser prestado, além da utilização de tecnologias, equipamentos e softwares que auxiliem o prestador do serviço durante a interação com o cliente. As dimensões tangibilidade e confiança são relacionadas à capacidade da empresa de garantir que o serviço prestado a clientes diferentes, em momentos diferentes e em condições diferentes, apresentem regularidade e estejam dentro de padrões; esses aspectos devem estar claros para os clientes durante a prestação do serviço. A gestão dos processos de prestação de serviços não deve ser vista apenas como uma ferramenta que garanta a qualidade percebida pelo cliente, mas, principalmente, como um elemento-chave da estratégia da empresa para atingir seus objetivos e diferenciar-se em relação a seus concorrentes. 2.3 Expectativa e satisfação Vídeo A Associação Americana de Marketing (AMA) é a mais importante instituição global de estudos sobre o marketing. Segundo a definição da AMA, marketing pode ser entendido tanto como uma atividade quanto como um conjunto de instituições e processos utilizados pela Marketing de serviços 27 empresa para criar, comunicar e entregar uma oferta de valor, que pode ser entendida como um determinado produto ou serviço a um determinado preço, com uma determinada comunicação em um de- terminado lugar. Ainda segundo o conceito da AMA, essa oferta precisa representar valor tanto para a empresa, que busca atingir seus objetivos, quanto para o cliente, que busca atender a seus desejos e suas necessidades. Deve representar valor, também, para os parceiros da empresa, tais como os fornecedores, e para a sociedade como um todo, já que o de- senvolvimento das atividades da empresa não pode trazer prejuízo, seja ele ambiental ou social. Kotler e Keller (2012) definem marketing como um processo social no qual indivíduose grupos organizados buscam obter produtos e serviços que atendam às suas necessidades e aos seus desejos. Em ambas as definições, é possível identificar a centralidade do conceito de necessidades e de desejos que são atendidos por meio de produtos e serviços. Assim, é necessário entender esses dois concei- tos, que são a base para compreendermos a relação entre expectativa e satisfação. Dentre as diversas teorias que discutem as necessidades huma- nas, a mais conhecida e utilizada na administração é aquela voltada ao conceito da pirâmide das necessidades humanas, desenvolvida pelo psicólogo Abraham Maslow (1908-1970), também conhecida como a Pirâmide de Maslow. Segundo a teoria de Maslow, para que possam sobreviver, con- viver em sociedade e realizar seu potencial, as pessoas apresen- tam uma série de necessidades. Elas foram organizadas pelo autor em uma pirâmide, na qual as necessidades mais básicas, como as fisiológicas, estão na base, e as necessidades mais elevadas, como a autorrealização, estão no topo. Para o psicólogo, assim que o ser humano consegue satisfazer um certo nível de necessidades, sua motivação é direcionada para atingir um degrau mais elevado de necessidades, como pode ser visto na Figura 3. 28 Gestão de processos e serviços Figura 3 Pirâmide de Maslow Realização pessoal: moralidade, criatividade, espontaneidade, solução de problemas, ausência de preconceito, aceitação dos fatos. Estima: autoestima, confiança, conquista, respeito dos outros, respeito aos outros. Amor/Relacionamento: amizade, família, intimidade sexual. Segurança: segurança do corpo, do emprego, de recursos, da moralidade, da família, da saúde, da propriedade. Fisiologia: respiração, comida, água, sexo, sono, homeostase, excreção. Macrovector/Shutterstock Como a pirâmide mostra, as necessidades mais básicas estão rela- cionadas à sobrevivência e à manutenção da posição conquistada pela pessoa. Assim, fisiologia e segurança são as necessidades mais básicas. Pense em um bebê. Somente suas necessidades mais básicas são ne- cessárias para que se sinta satisfeito. Ele precisa comer e dormir, coisas que satisfazem suas necessidades fisiológicas; mas ele também quer se sentir seguro no colo da mãe ou de alguém que o nine, satisfazendo sua necessidade de segurança. Tendo sido satisfeitas as necessidades mais básicas, o ser humano se motiva a buscar as mais elevadas. Ele precisa se sentir parte de um grupo social, ser amado e ser respeitado como ser humano. Pensando no exemplo do bebê, à medida que ele cresce e vai para uma escola, passa a ter a necessidade de contar com amigos e fazer parte do grupo social da escola. As necessidades mais elevadas (estima e autorrealização) estão re- lacionadas a fatores externos, como obter uma posição de destaque dentro do grupo social, sentir-se respeitado, ter suas conquistas valori- zadas e identificar-se como um indivíduo autorrealizado. Para Ferreira, Demutti e Gimenez (2010), a teoria de Maslow, apesar de amplamente utilizada, também é questionável, pois foi desenvolvi- da com base em pesquisas restritas e com pouca significância estatís- Marketing de serviços 29 tica. Porém, o conceito se tornou amplamente utilizado por permitir aos profissionais de marketing um entendimento bastante acurado de como as pessoas buscam satisfazer suas necessidades e como as expectativas são criadas na mente humana. Cada produto ou serviço que uma empresa vende atende a uma ne- cessidade ou a um desejo humano. Kotler e Keller (2012) afirmam que o papel do marketing é identificar necessidades e criar desejos, para, então, satisfazê-los por meio da entrega da oferta de valor. Os conceitos de expectativa e satisfação estão intimamente ligados e ambos são a base de várias atividades do marketing. Enquanto a co- municação em marketing, composta pelas atividades de publicidade, propaganda, merchandising e promoção de vendas, é responsável pela criação de uma expectativa positiva no cliente, em relação aos produ- tos e serviços oferecidos pela empresa, as áreas de desenvolvimento de produtos e serviços, assim como a área de vendas, precisam ga- rantir que o cliente tenha uma experiência que supere as expectativas criadas, para que possa se sentir satisfeito. Tomemos como exemplo dois clientes que façam reservas em dois diferentes hotéis em uma mesma cidade litorânea. Ambos fizeram a reserva por sites de reservas, sem conhecer o local. Ao fazer a escolha, leram a descrição dos serviços dos hotéis, viram as fotos dos ambien- tes comuns e dos quartos, analisaram o cardápio do café da manhã e dos restaurantes. O primeiro cliente chega ao hotel reservado e encontra algo total- mente diferente das fotos. O lugar está em mal conservado, o quarto tem marcas de mofo nas paredes e a limpeza das áreas comuns parece não ser feita há dias. A piscina do hotel está fechada para reformas, mas isso não havia sido informado na reserva, e o café da manhã apre- senta um cardápio bem menos variado do que estava descrito no site. O segundo cliente chega ao seu hotel reservado e é informado de que, como o padrão de quarto que havia sido reservado estava esgo- tado, ele seria acomodado em uma suíte de nível superior, com camas mais confortáveis e uma banheira de hidromassagem. A gerência tam- bém oferece ao hóspede um jantar gratuito em um dos restaurantes do hotel. Chegando ao quarto, o hóspede é surpreendido, pois há uma cesta com doces, flores e bebidas. A satisfação é uma relação entre a expectativa gerada e a experiência real. Se o cliente tem uma alta expectativa, seja com a compra do produto ou com o serviço prestado, e a realidade é menor, ele se sente insatisfeito, decepcionado e enganado; dificilmente voltará a fazer negócios com a empresa. Por outro lado, se a experiência real, no uso do produto ou no recebimento do serviço, supera a expectativa criada, o cliente se sentirá satisfeito e, provavelmen- te, voltará a fazer negócios com a empresa no futuro. Importante 30 Gestão de processos e serviços Pense agora como cada cliente avaliará sua experiência durante a viagem. Mesmo que ambos tenham ido às mesmas praias e visitado os mesmos locais durante o fim de semana, o primeiro cliente estará totalmente insatisfeito, pois as suas expectativas foram frustradas por uma experiência muito abaixo do esperado; já o segundo cliente estará encantado e, provavelmente, retornará em uma oportunidade futura, além de indicar o hotel aos amigos. Essa relação entre expectativa e satisfação pode ser entendida da seguinte forma: • Se a expectativa é maior que a realidade, o cliente ficará insatisfeito. • Se a expectativa é igual à realidade, o cliente ficará satisfeito. • Se a expectativa é menor que a realidade, o cliente ficará encantado. Em nosso exemplo, a experiência de cada um dos clientes foi cla- ramente positiva ou negativa, o que raramente ocorre na realidade. A avaliação do cliente sobre suas expectativas e a satisfação obtida é um somatório de vários aspectos que ocorrem durante a prestação de um serviço. Ele pode se sentir satisfeito com uma parte do serviço, encanta- do com outra e decepcionado com uma determinada atitude do pres- tador de serviço, por exemplo. Assim, o grau de satisfação dependerá do peso que o cliente dará para cada um desses aspectos. Quando se analisa a satisfação com serviços, fatores relacionados a sentimentos e emoções fazem parte da experiência, que pode ser ana- lisada como positiva e negativa por meio dessas sensações. As expectativas do cliente não são criadas apenas pelas comunica- ções, pela publicidade e propaganda feita pela empresa. As caracte- rísticas do produto ou do serviço que está sendo comprado também fazem parte do processo de criação de expectativas. Um cliente que se matricula em uma academia pequena, com apenas uma unidade e com mensalidade barata, tem uma determinada expectativa; mas o cliente que se matricula em uma academia de uma grande rede, com dezenasde unidades e mensalidade de alto valor, tem outra expectativa ao ser- viço prestado. Marketing de serviços 31 A expectativa também é influenciada pelas opiniões de amigos, co- nhecidos e, mais recentemente, dos influenciadores digitais, que utili- zam e divulgam os serviços em suas redes sociais. O estado emocional do cliente no momento da prestação do serviço também influencia sua percepção sobre a satisfação com o serviço. Um cliente que esteja em um momento psicológico negativo pode avaliar de forma ruim um serviço que, em outro momento, seria bem avaliado. A postura da equipe que se relaciona com o cliente é fundamental para que ele possa se sentir bem atendido, mesmo nos momentos em que não se sente bem. Outro fator importante sobre a percepção de satisfação tem a ver com a noção de justiça. Caso o cliente ache que está sofrendo precon- ceito ou considere que outro cliente está recebendo uma atenção es- pecial por parte dos atendentes, ele pode se sentir injustiçado e, assim, insatisfeito com o serviço prestado. Desse modo, a expectativa e a satisfação de um cliente com um serviço prestado pela empresa envolvem aspectos objetivos e subjetivos; alguns deles sob controle da empresa, como a qualidade do serviço, a propaganda e a publicidade, bem como a preparação da equipe, e outros que não estão sob o controle da empresa, como as emoções do cliente e as opiniões de terceiros, que influenciam as percepções do consumidor. 2.4 Relacionamento com o cliente Vídeo O cliente está no centro de todos os conceitos e teorias de marketing, pois é por meio das necessidades e dos desejos do cliente que a empresa organiza sua oferta de valor e seus produtos e serviços. Sendo assim, o relacionamento com os clientes da empresa é parte fundamental do trabalho da área de marketing. Segundo Lourenço (2008), o conceito de marketing de relaciona- mento passou a ser foco de estudos a partir da década de 1980. Essa centralidade do marketing de relacionamento tem como origem o au- mento da competitividade do mercado e a busca, pelas empresas, por conhecer cada vez mais profundamente os clientes, com o objetivo de aumentar as vendas realizadas. Vender mais para o mesmo cliente é mais barato, mais rápido e mais eficiente do que buscar novos clien- 32 Gestão de processos e serviços tes. Para o autor, o marketing de relacionamento possibilita uma maior pessoalidade nas relações entre empresa e clientes. Nesse momento, quebra-se o paradigma de que o marketing é visto como uma atividade transacional, focada na venda, e passamos para a compreensão de que é uma atividade relacional, focada no cliente. Analisando os diversos autores que pesquisaram o tema do marketing relacional, Bonfadini e Machado (2010) elaboraram o qua- dro que destaca as principais teorias do marketing de relacionamento. Quadro 2 Principais conceitos do marketing de relacionamento Autor Conceito McKenna (1993) Trata-se de uma filosofia do marketing que tem como base o cliente, por meio do qual a empresa se propõe a criar novas formas de comunicação com seus consumidores, tentando adquirir uma vantagem competitiva diante das empresas concorrentes. Kotler (2000) Baseia-se na premissa de que contas importantes precisam de atenção contínua e concentrada, na qual a empresa deve monitorar seus clientes-chave, conhecer seus problemas e estar pronto para servi-los de diversas maneiras. Gordon (1998) Trata-se de um processo contínuo, no qual a empresa consegue identificar e criar no- vos valores com os clientes individuais e compartilhar seus benefícios durante a parce- ria entre fornecedor e cliente. Buttle (1996) Está relacionado à preocupação da empresa com o desenvolvimento e a manuten- ção de relacionamentos mutuamente benéficos com os mercados estrategicamente significantes. Vavra (1993) Envolve o estabelecimento de relacionamentos duradouros com clientes estratégicos, a maior fonte de lucro empresarial. Fonte: Bonfadini; Machado, 2010, p. 2. Em todos os conceitos relacionados pelos autores, é possível iden- tificar que o marketing de relacionamento tem como objetivo a cons- trução e a manutenção de uma base de clientes ativos, que façam transações regulares com a empresa e que sejam rentáveis. O marketing de relacionamento está, também, intimamente ligado às dimensões da qualidade em serviços, em especial às dimensões con- fiança e segurança. À medida que a empresa conhece cada vez mais as necessidades, as expectativas, os desejos e até mesmo as emoções de seus clientes, vai aumentando a possibilidade de desenvolver uma oferta de valor que seja mais adequada a eles. Desse modo, cresce a Marketing de serviços 33 satisfação do cliente e, consequentemente, sua confiança e sua credi- bilidade na empresa. A teoria do relacionamento organizacional mede como a empresa usa, em sua estratégia, o relacionamento com os clientes. Dentre os conceitos que compõem a teoria, estão: • o comprometimento, que mede o interesse das partes envol- vidas – empresas e clientes – em manter o relacionamento no longo prazo; • a confiança, que está relacionada à credibilidade de uma das partes em relação à outra e influencia a decisão de fazer negó- cios no futuro; • a cooperação, que é o nível de dedicação de cada uma das par- tes na construção e na manutenção do relacionamento; • o poder, que é a capacidade de um dos lados influenciar as deci- sões do outro lado; e • a satisfação, que é o nível de aprovação com que um dos lados avalia os esforços do outro lado e que é fundamental para a deci- são de manter o relacionamento. De acordo com Kotler e Keller (2012), todo o processo do marketing de relacionamento se inicia no momento da atração de novos clien- tes, estendendo-se por todo o intervalo de tempo em que a relação perdura na busca da empresa pela retenção de seus clientes. Para os autores, a organização deve analisar as necessidades e os desejos de potenciais clientes, para que se possa desenvolver uma oferta de valor que esteja adequada antes mesmo de se iniciar a atração do cliente. Se a oferta de valor fizer sentido para o cliente potencial, ele poderá tomar a decisão de experimentar os produtos e serviços da empresa. Mas, nesse momento, o consumidor também considera fazer negócios com empresas concorrentes. Assim, realizar a primeira transação com o cliente não garante a sua fidelidade. Se ele não se sentir satisfeito, pode voltar a comprar os serviços e os produtos do concorrente. A empresa precisa transformar os clientes em regulares, analisando as caracterís- ticas das transações e identificando os pontos que geraram satisfação. Dessa forma, clientes regulares podem ser transformados em clientes preferenciais, que já estabeleceram com a empresa um relacionamen- to diferenciado e esta conhece suas necessidades e expectativas. 34 Gestão de processos e serviços Kotler e Keller (2012) afirmam que, se o relacionamento for cuida- do de forma adequada, a empresa pode oferecer benefícios exclusivos para esse grupo de clientes, aumentando seu grau de satisfação com a empresa. Se eles estiverem totalmente satisfeitos com essa relação, tornam-se defensores da empresa; além de realizar compras regulares, indicam os produtos e os serviços a outros possíveis clientes. 2.5 Código de Defesa do Consumidor Vídeo Apesar de ser amplamente difundido e, hoje, por força da lei, ser tema presente no cotidiano das relações entre empresas e clientes, o respeito aos direitos do consumidor, assim como seu conceito, são re- lativamente recentes. O Código de Defesa do Consumidor (CDC) foi implementado em 1991, com base na Lei n. 8.078, de 1 de setembro de 1990. Antes de sua promulgação, não existia no Brasil nenhuma legislação específica que defendesse o consumidor em sua relação com as empresas. A proteção dos direitos do consumidor passou a ser foco das em- presas e, principalmente, dos legisladores, por meio da constatação de que, em uma relação de consumo, na maioria das vezes,o cliente é o elo mais fraco, sofrendo a pressão, por parte das empresas, para adqui- rir produtos e serviços em condições que não são as mais adequadas para as suas necessidades. Assim, os legisladores buscaram estabele- cer limites na atuação das empresas, de forma a garantir que o cliente tenha a condição de tomar suas decisões de consumo amparado em uma legislação que protege seus direitos. A legislação de proteção ao consumidor busca, também, incentivar a concorrência entre as diver- sas empresas, para que o cliente tenha a opção de consumir produtos e serviços das instituições que ofereçam a melhor proposta de valor. O Código de Defesa do Consumidor define as relações de con- sumo como a relação entre pelo menos dois participantes: de um lado, o consumidor e, do outro, o fornecedor. Essa relação tem um objeto, que é a aquisição, por parte do consumidor, de produtos e serviços oferecidos pelo fornecedor. O CDC, em seu artigo 2°, con- sidera como consumidor uma pessoa física ou jurídica que adquire um produto ou usufrui de um serviço, sendo ele o destinatário desse bem (BRASIL, 1990). Já o fornecedor é definido, no artigo 3°, como toda Marketing de serviços 35 pessoa, seja ela física ou jurídica, de propriedade pública ou privada, de origem nacional ou estrangeira (BRASIL, 1990). São considerados fornecedores, também, os que a lei chama de entes despersonalizados, ou seja, empresas ou instituições irregulares ou sem registro. O forne- cedor é responsável pela “produção, montagem, criação, construção, transformação, importação, exportação, distribuição ou comercializa- ção de produtos ou prestação de serviços” (BRASIL, 1990). A relação de consumo não se restringe à compra de um serviço ou de um produto. Qualquer relação de consumo está sujeita às determi- nações do CDC. Assim, dentre os direitos básicos do consumidor, a lei define, no artigo 6º: I – a proteção da vida, saúde e segurança contra os riscos provo- cados por práticas no fornecimento de produtos e serviços con- siderados perigosos ou nocivos; II – a educação e divulgação sobre o consumo adequado dos pro- dutos e serviços, asseguradas a liberdade de escolha e a igualda- de nas contratações; III – a informação adequada e clara sobre os diferentes produtos e serviços, com especificação correta de quantidade, caracterís- ticas, composição, qualidade e preço, bem como sobre os riscos que apresentem; IV – a proteção contra a publicidade enganosa e abusiva, méto- dos comerciais coercitivos ou desleais, bem como contra práticas e cláusulas abusivas ou impostas no fornecimento de produtos e serviços; V – a modificação das cláusulas contratuais que estabeleçam prestações desproporcionais ou sua revisão em razão de fatos supervenientes que as tornem excessivamente onerosas; VI – a efetiva prevenção e reparação de danos patrimoniais e mo- rais, individuais, coletivos e difusos; VII – o acesso aos órgãos judiciários e administrativos com vis- tas à prevenção ou reparação de danos patrimoniais e morais, individuais, coletivos ou difusos, assegurada a proteção Jurídica, administrativa e técnica aos necessitados; VIII – a facilitação da defesa de seus direitos, inclusive com a in- versão do ônus da prova, a seu favor, no processo civil, quan- do, a critério do juiz, for verossímil a alegação ou quando for ele hipossuficiente, segundo as regras ordinárias de experiências; IX – (Vetado); X – a adequada e eficaz prestação dos serviços públicos em geral. (BRASIL, 1990) 36 Gestão de processos e serviços Uma análise dos direitos do consumidor mostra que ele é conside- rado a parte mais fraca nas relações de consumo. A lei tem, então, a função de reequilibrar a relação e diminuir a desigualdades econômica, técnica e de decisão entre cliente e fornecedor. Logo, na legislação, é dada preferência ao consumidor e oferecida a ele uma situação jurídica favorável nas negociações de consumo. Popcorn (2005) mostra que a relação entre empresas e consumi- dores, muitas vezes, é marcada por pontos positivos e negativos. O aumento do consumo de bens e produtos, em especial nas últimas décadas do século XX e nas primeiras décadas do século XXI, levou, também, a um aumento da concorrência entre as empresas que busca- ram aumentar sua relação com os clientes. Porém, nem sempre forne- cedores e clientes têm acesso ao mesmo nível de informação, para que tomem suas decisões de consumo. A autora aponta que o consumidor está mais vigilante, conhece seus direitos e utiliza essa garantia legal em suas relações de consumo com as empresas. Vianna e Hermann (2007) apontam que o CDC não busca desfigurar os conceitos e pressupostos fundamentais do marketing, mas coibir empresas que atuam de forma antiética em suas relações com os con- sumidores, abusando de seu poder econômico para manipular merca- dos e consumidores. CONSIDERAÇÕES FINAIS A prestação de serviços ocorre por uma relação entre fornecedores e consumidores que buscam atingir seus objetivos e atender às suas necessidades e aos seus desejos. Para garantir a qualidade e a regulari- dade dos serviços prestados, as empresas precisam planejar e gerenciar adequadamente os processos de prestação de serviço, de forma a garan- tir que o serviço ofertado atenda às expectativas do cliente, gerando sa- tisfação e incentivando-o a comprar os serviços oferecidos pela empresa novamente. Essa relação de consumo, porém, é muitas vezes desigual. O fornece- dor conta com mais informações e poder sobre a decisão do consumidor, podendo utilizar essas vantagens para forçar o cliente a tomar decisões que podem prejudicá-lo no futuro. Assim, a relação de consumo precisa ser realizada dentro do contexto de garantia dos direitos do consumidor. Marketing de serviços 37 ATIVIDADES 1. Explique a diferença entre serviços interativos e serviços de suporte. Dê exemplos de cada um dos tipos. 2. Explique os conceitos de expectativa e satisfação e a importância deles para a área de serviços. 3. Qual é o objetivo principal do marketing de relacionamento, de acordo com o que foi apresentado no texto? REFERÊNCIA BONFADINI, G. J.; MACHADO, M. A. A construção de relacionamento de cooperativa de crédito: a validação de uma escala e implicações para a construção de relacionamento entre cooperativas e seus associados. In: IV ENCONTRO DE MARKETING DA ANPAD. 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Por mais simples que possa parecer, esse exemplo reflete, com perfeição, os processos existentes em uma empresa, sejam eles os processos produtivos, que darão origem a produtos e serviços a serem comercializados pela empresa, ou os processos gerenciais, por meio dos quais se administram as diversas áreas e atividades de uma empresa. Para buscar a melhoria contínua das atividades da empresa, é preciso mapear cada um dos processos realizados, utilizando ferramentas e metodologias que permitam analisar os resulta- dos obtidos e desenvolver novos processos, cada vez mais efi- cientes e eficazes. 40 Gestão de processos e serviços 3.1 O que são processos Vídeo Ao analisarmos as atividades de uma empresa, seja ela de ser- viços ou produtos, e reduzirmos essas atividades a seus com- ponentes mais básicos, é possível identificar que a empresa realiza uma sequência de processos que podem ser definidos como entrada-transformação-saída. Se analisarmos com mais profundidade o exemplo da receita de omelete, conseguimos perceber muitos outros inputs necessários para fazer a receita. Para que o fogão fosse fabricado, chapas de metal precisaram ser dobradas e cortadas em tamanhos específi- cos e tubos, para a passagem do gás, precisaram ser soldados. Para que o ovo chegasse até a sua casa, foi necessário criar e alimentar milhares de galinhas em granjas. O ovo precisou ser embalado e transportado. Diversas definições de processo são encontradas na literatura acadêmica. Lobo (2010, p. 18) define processo como um “conjunto de recursos e atividades inter-relacionadas o qual transforma ele- mentos de entrada em elementos de saída”. Orofino (2009, p. 10) baseia sua definição no conceito utilizado na NBR ISO 9000:2000, ou seja, uma “sequência de atividades que segue um cronograma preestabelecido, em que os recursos envolvidos e o ponto almejado se apresentam de forma simples e nítida”. Para Orofino (2009), no mapeamento de um processo, é preciso levar em consideração elementos como o tempo de execução e a es- pera de cada passo, além do espaço físico em que cada passo ocorre e a sua ordenação cronológica. Citando o exemplo da omelete, não adianta colocar o ovo na frigideira antes de quebrá-lo e misturá-lo com o sal. A sequência correta precisa ser seguida para que o obje- tivo do processo seja alcançado. Para cada matéria-prima, equipamento e conhecimento uti- lizado, em cada produto ou serviço que você faz uso no seu co- tidiano, é possível desenhar uma sequência de processos de entrada-transformação-saída. Esses processos podem ser simples e utilizar poucos recursos, como o plantio de uma alface, por exemplo; ou podem ser extre- mamente complexos e longos, como a produção de um automóvel. Processos gerenciais 41 Figura 1 Processo de transformação Recursos a serem transformados – materiais, informações e consumidores PROCESSO DE TRANSFORMAÇÃO Bens e serviçosINPUT OUTPUT Ambiente Ambiente • Instalações • Pessoal • Recursos de transformação Fonte: Slack; Chambers; Johnston, 2018. Em cada processo que ocorre na empresa, dois tipos de recursos são necessários. Os recursos transformados são aqueles que sofrem uma alteração de seu estado natural ou inicial. Na omelete, por exem- plo, o ovo sofreu uma alteração em suas características. Já os recursos de transformação são aqueles utilizados para transformar os primei- ros. No caso da omelete, temos o garfo, que foi usado para mexer os ovos; a frigideira, usada para fritar a omelete; e o fogão. Ao final do processo de fazer a receita, esses recursos não sofreram alteração de sua forma inicial. Nos processos que ocorrem em uma empresa, dois tipos de recur- sos de transformação são utilizados. O primeiro está relacionado às ins- talações, que incluem os espaços físicos, as fábricas, os escritórios ou as lojas, e aos equipamentos, como as máquinas, os computadores, os telefones e as tecnologias
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