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LUTAS A Faculdade Multivix está presente de norte a sul do Estado do Espírito Santo, com unidades presenciais em Cachoeiro de Itapemirim, Cariacica, Castelo, Nova Venécia, São Mateus, Serra, Vila Velha e Vitória, e com a Educação a Distância presente em todo estado do Espírito Santo, e com polos distribuídos por todo o país. Desde 1999 atua no mercado capixaba, destacando-se pela oferta de cursos de graduação, técnico, pós-graduação e extensão, com qualidade nas quatro áreas do conhecimento: Agrárias, Exatas, Humanas e Saúde, sempre primando pela qualidade de seu ensino e pela formação de profissionais com consciência cidadã para o mercado de trabalho. Atualmente, a Multivix está entre o seleto grupo de Instituições de Ensino Superior que possuem conceito de excelência junto ao Ministério da Educação (MEC). Das 2109 instituições avaliadas no Brasil, apenas 15% conquistaram notas 4 e 5, que são consideradas conceitos de excelência em ensino. Estes resultados acadêmicos colocam todas as unidades da Multivix entre as melhores do Estado do Espírito Santo e entre as 50 melhores do país. MISSÃO Formar profissionais com consciência cidadã para o mercado de trabalho, com elevado padrão de quali- dade, sempre mantendo a credibilidade, segurança e modernidade, visando à satisfação dos clientes e colaboradores. VISÃO Ser uma Instituição de Ensino Superior reconhecida nacionalmente como referência em qualidade educacional. R E I TO R GRUPO MULTIVIX R E I 2 MULTIVIX EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 3 MULTIVIX EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 BIBLIOTECA MULTIVIX (Dados de publicação na fonte) Rodrigo Lemos Soares Lutas / SOARES, Rodrigo Lemos, 2020 Catalogação: Biblioteca Central Multivix 2020 • Proibida a reprodução total ou parcial. Os infratores serão processados na forma da lei. 4 MULTIVIX EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 LISTA DE QUADROS Quadro – Sistematização da regionalidade das artes marciais e lutas 23 Quadro – Classificação quanto ao tipo de ação proposta pelas lutas 24 Quadro da unidade temática de Lutas na escola 47 Quadro – Classificação das lutas: distanciamento, participação olímpica e não olímpica. 48 Quadro da unidade temática de Lutas na escola 76 Sugestão da organização dos conteúdos das lutas na escola 77 Especificação das graduações de nível básico 99 Especificação das graduações de nível intermediário 100 Especificação das graduações de nível graduado 100 Especificação das graduações de nível superior 101 Especificação das graduações de superior (categoria especial) 101 Capacidades motoras condicionais e suas manifestações 104 Manifestações de força e suas respectivas utilizações em combates de judô 105 5 MULTIVIX EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 LISTA DE FIGURAS Artes marciais 13 Contextos das artes marciais 15 Culturas das lutas 17 Esportivização das lutas 20 Jiu-jitsu 24 Judô 25 Taekwondo 27 Kung fu 28 Caratê 29 Caratê 34 Judô 36 Cabo de guerra 38 Luta olímpica, greco-romana ou wrestling 41 Ataque e defesa 42 Categorias pedagógicas para os jogos 45 Luta de agarre 49 Fatores sociais 52 Boxe 54 Implemento (espada) 56 Platão e a educação grega 61 Fundamentos básicos dos golpes 63 Desenvolvimento motor 67 Vantagens e desvantagens das propostas de ensino de lutas 69 Artes marciais 71 Organização dos conteúdos 75 Formação integral 78 Avaliação contínua 80 Judô 86 Judô: combate 89 Caracteres do judô 92 Judogi 96 6 MULTIVIX EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 Roda de capoeira, de Johann Moritz Rugendas (1808 - 1858) 112 Início da esportivização da capoeira 116 Capoeira como patrimônio nacional 117 Processo de institucionalização da capoeira 118 Capoeira e o ensino 121 Treinamento de capoeira 126 Recife – PE 127 Saúde e bem-estar 135 Atividade física e promoção de saúde 137 Boxe e o rendimento 139 Qualidade de vida 140 Relação da qualidade de vida com as individualidades 141 Flexibilidade 145 Lutas e sua relação com a saúde 149 Estímulo cardíaco 154 Persistência e preservação 156 7 MULTIVIX EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 SUMÁRIO APRESENTAÇÃO DA DISCIPLINA 10 1. CONTEXTUALIZAÇÃO HISTÓRICA E SOCIOCULTURAL DAS LUTAS 12 INTRODUÇÃO 12 1.1 ORIGEM E EVOLUÇÃO DAS LUTAS NO CONTEXTO HISTÓRICO 12 1.2. CARACTERÍSTICAS CULTURAIS DAS PRÁTICAS DAS LUTAS, ARTES MARCIAIS E MODALIDADES 16 1.3. PROCESSO DE INSTITUCIONALIZAÇÃO, ESPORTIVIZAÇÃO E EXPANSÃO DAS LUTAS 18 2. AS LUTAS ORIENTAIS, OCIDENTAIS E SUA EVOLUÇÃO 21 2.1. JIU-JITSU E JUDÔ 23 2.2. TAEKWONDO 26 2. VIVÊNCIA, ANÁLISE E ESTRUTURAÇÃO DAS ATIVIDADES DE LUTAS E CLASSIFICAÇÕES 33 INTRODUÇÃO 33 2.1 CLASSIFICAÇÃO DOS TIPOS DE ARTES MARCIAIS 33 2.2 JOGOS DE LUTAS CORPO A CORPO 53 3. FUNDAMENTAÇÃO, ORGANIZAÇÃO E ESTRUTURAÇÃO DIDÁTICO-MET- ODOLÓGICA DO CONTEÚDO DAS LUTAS 59 3. 1 PROCESSO PEDAGÓGICO DAS LUTAS 60 3.2 PROCEDIMENTO DE ENSINO E AVALIAÇÃO DOS CONTEÚDOS 78 4. INTRODUÇÃO AOS CONHECIMENTOS BÁSICOS DO JUDÔ 85 4.1 ORIGEM, EVOLUÇÃO E ASPECTOS HISTÓRICOS DO JUDÔ 85 4.2 CONTEXTUALIZAÇÃO DAS PRÁTICAS DO JUDÔ 102 5. INTRODUÇÃO AOS CONHECIMENTOS BÁSICOS DA CAPOEIRA 111 5.1 ORIGEM, EVOLUÇÃO E ASPECTOS HISTÓRICOS DA CAPOEIRA 111 5.2 CONTEXTUALIZAÇÃO DAS PRÁTICAS DA CAPOEIRA 123 2UNIDADE 3UNIDADE 4UNIDADE 5UNIDADE 1UNIDADE 8 MULTIVIX EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 6. AS LUTAS COMO ATIVIDADE FÍSICA NA PROMOÇÃO DE SAÚDE 134 6.1. EDUCAÇÃO FÍSICA E LUTAS NA PROMOÇÃO DE SAÚDE 134 6.2. BENEFÍCIOS DAS LUTAS PARA A SAÚDE 151 6UNIDADE 9 MULTIVIX EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 ATENÇÃO PARA SABER SAIBA MAIS ONDE PESQUISAR DICAS LEITURA COMPLEMENTAR GLOSSÁRIO ATIVIDADES DE APRENDIZAGEM CURIOSIDADES QUESTÕES ÁUDIOSMÍDIAS INTEGRADAS ANOTAÇÕES EXEMPLOS CITAÇÕES DOWNLOADS ICONOGRAFIA 10 TEORIA E PRÁTICA II MULTIVIX EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 APRESENTAÇÃO DA DISCIPLINA A disciplina de Teoria e Prática Pedagógica II tem a finalidade de refletir sobre os espaços de atuação do profissional de Educação Física, contextualizando- -os a partir das diferentes esferas de atuação; dos conceitos e das concepções básicos; das metodologias e das práticas pedagógicas de trabalho; e dos inte- resses do público-alvo. Vale destacar que o movimento histórico vivido pela área da Educação Físi- ca revela percursos diferentes e amplos baseados nas características de mo- mentos históricos, das necessidades sociais e das propostas formativas. Foram várias as conquistas que delimitaram as tarefas do profissional de Educação Física no campo da Saúde, na escola, no esporte, no lazer, na recreação e em outros espaços. Mesmo assim, a linha condutora da prática fundamenta a identidade do profissional, que se aperfeiçoa e se aprofunda nas especificida- des exigidas pelo campo de trabalho. UNIDADE 1 > Discutir e descrever o processo de origem das artes marciais. > Discutir a evolução das lutas do Oriente e do Ocidente. OBJETIVO Ao final desta unidade, esperamos que possa: 11 MULTIVIX EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 LUTAS 12 MULTIVIX EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 LUTAS 1. CONTEXTUALIZAÇÃO HISTÓRICA E SOCIOCULTURAL DAS LUTAS INTRODUÇÃO Nesta unidade,compreenderemos como ocorreram os desenvolvimentos e as difusões das lutas ao longo do tempo. Passaremos por conceitos como arte guerreira, ritual tribal, atividade lúdica, jogo e esporte, orientados pelas di- nâmicas das lutas. Focaremos em como as lutas ganharam contornos nas culturas brasileiras a partir da disseminação dessas práticas do Oriente para o Ocidente, as quais foram balizadas pelos estudos da contemporaneidade. Por isso, percorreremos relações entre questões de gênero, hierarquia, geraciona- lidade, violência, lazer e defesa pessoal. O intuito principal deste material é o de que, ao término dos estudos, você entenda, analise e problematize as lutas como um dos componentes das ma- nifestações corporais os quais, assim como os jogos, as brincadeiras, os espor- tes, as danças e as ginásticas, são uma atividade constituída historicamente. Além disso, com base neste estudo, será possível perceber as dinâmicas e as indispensáveis adaptações das lutas para diferentes sujeitos e seus corpos. Os praticantes, para um desenvolvimento mais globalizado, necessitam de algu- ma vivência e experimentação das diferentes lutas desenvolvidas em múlti- plos espaços educativos. 1.1 ORIGEM E EVOLUÇÃO DAS LUTAS NO CONTEXTO HISTÓRICO No processo evolutivo social, as dinâmicas para a sobrevivência humana per- passam o que hoje chamamos de lutas. Obviamente, isso não ocorreu no mes- mo contexto, porém há premissas próximas àquelas desenvolvidas desde a Pré-História, isto é, sobrevivência alimentar, manutenção da vida contra ani- mais, disputa por território, ataque e defesa. Até serem esportivizadas, o emba- samento das lutas preconizava apenas estas duas últimas premissas, entendi- das como uma forma de imposição pela força e estratégia (BRASIL, 1998). 13 LUTAS MULTIVIX EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 A partir desse ponto, foram sistematizados (institucionalizados) os golpes que definem as especificidades das artes marciais e das atividades de lutas. Como exemplo, podemos citar alguns movimentos de curta distância nas lutas: as práticas de imobilização e os atos de empurrar, puxar e desestabilizar. Desses fundamentos, desenvolveram-se as ações de curta distância das lutas, que são: os chutes, os socos e as formas de defesas, o que depende de múltiplas habilidades dos membros superiores e inferiores. Ademais, foram desenvolvidos os golpes de longa distância, que requerem implementos como espadas, lanças, bastões etc. (BRASIL, 1998). Desse modo, antropologicamente falando, podemos perceber as atividades de lutas nos diferentes processos históricos da humanidade, fator que difi- culta o estabelecimento de uma data específica. Portanto, cabe a nós estu- darmos a genealogia das lutas e reconhecermos que foram os gregos que as colocaram no mundo esportivo, mais especificamente pelos Jogos Olímpicos no século 7 a.C. na Grécia Antiga (BRASIL, 1998). ARTES MARCIAIS Fonte: Pixabay (2020). #PraCegoVer A imagem apresenta silhuetas (desenhos) de praticantes da arte marcial. A diferença está na postura. 14 MULTIVIX EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 LUTAS A arte guerreira advém da Antiguidade Oriental, mais especificamente da so- ciedade de samurais, que eram conhecidos como uma classe social devido aos serviços que desenvolviam. Os rituais tribais dizem respeito ao conjunto de atividades oriundas de uma coletividade específica; deles só participam su- jeitos aceitos e aptos a seguirem com a tradição das práticas daquele grupo. Uma atividade lúdica é o meio pelo qual os sujeitos se organizam com base em dinâmicas livres e, muitas vezes, miméticas. Uma forma de lidarmos com elas é por meio das brincadeiras. O jogo, nesse sentido, significa uma ativida- de de cunho sociocultural livre de pressões ou regramentos, porque ele tem função de socializar e permitir a livre expressão dos participantes. Por fim, o esporte, por um viés da Modernidade, está implicado na institu- cionalização de determinada prática, de modo que ele passa a ser praticado regrada e harmonicamente nas diferentes regiões do mundo. Embora sofra alterações, o esporte mantém os caracteres que o fundaram enquanto práti- ca esportivizada. Vejamos, a seguir, como se iniciaram as manifestações das lutas. 1.1.1 SURGIMENTO DAS MANIFESTAÇÕES DE LUTAS Para compreensão inicial, o que hoje chamamos de lutas, atividades de lutas e jogos de oposição, entre outras nomenclaturas, é balizado por um conceito mais amplo: cultura corporal de movimento (BRASIL, 1998). Ao assumirmos esse local de partida, dialogamos com a ideia existencialista e, por sua vez, uma ideia de antiguidade dessas práticas (RUFINO; DARIDO, 2015). O surgimento das lutas compõe e descreve os modos como os grupos sociais se comportavam, por intermédio de contextos e concepções de culturas es- pecíficas (OLIVEIRA JR., 2019). Não podemos estabelecer um histórico de cada modalidade sem estabelecermos relações que oportunizam a compreensão genealógica de manifestação. 15 LUTAS MULTIVIX EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 CONTEXTOS DAS ARTES MARCIAIS Fonte: Pixabay (2020). #PraCegoVer A imagem apresenta dois praticantes de muay thai enfrentando-se dentro de um lago. Enquanto elemento da cultura corporal, uma modalidade de luta exemplifica necessidades específicas de cada povo nos diferentes momentos históricos das civilizações. Desde o combate corpo a corpo até a necessidade de utili- zar implementos nas lutas, podemos perceber os processos tecnológicos que modificaram comportamentos dos sujeitos, o que demanda necessidades sociais (economia, política e cultura). Ao surgirem, essas práticas assinalavam cenários de afirmação e, talvez por essa razão, elas estejam até hoje muito vinculadas à noção de violência – algo que ainda ocorre quando as aproximamos, erroneamente, das brigas. Assim, conseguimos conceber processos identitários que são postulados a cada gru- po, a partir de suas práticas de lutas, fator que é definido pelas culturas socio- corporais de cada região (RUFINO, 2012). Nos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs), as lutas são compreendidas como: “[...] disputas em que o(s) oponente(s) deve(m) ser subjugado(s), mediante técnicas e estratégias de desequilíbrio, contusão, imobilização ou exclusão de um determinado espaço na combinação de ações de ataque e defesa.” (BRASIL, 1998, p. 37). 16 MULTIVIX EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 LUTAS Para tanto, as lutas emergiram com efeito pedagógico sobre manifestações de violência, especificamente as brigas em diferentes contextos e, por isso, são mediadas por regulamentos específicos de cada modalidade, com o in- tuito de balizar os combates. Por fim, precisamos compreender que o surgimento das manifestações de lutas, na contemporaneidade, para além dos seus processos históricos, é sus- tentado por um extenso campo de bens de consumo, entre outras práticas culturais. Nessa esteira de pensamento, temos o advento da moda (roupas e acessó- rios), os materiais esportivos, as casas de aposta e os ambientes de prática (es- colas, clubes, academias, entre outros). Somada a isso, temos uma infinidade de profissões que desenvolvem seus estudos e atividades laborais em torno das lutas (pesquisadores, professores, técnicos, nutricionistas, árbitros, fisiote- rapeutas, fisiologistas, entre outras que constituem a base de orientação para o funcionamento esportivo, cultural e científico das modalidades). 1.2. CARACTERÍSTICAS CULTURAIS DAS PRÁTICAS DAS LUTAS, ARTES MARCIAIS E MODALIDADES A caracterização cultural das dinâmicas que envolvem as lutas é dependente de como os corpos eram considerados em diferentes momentos históricos e contextos locais. No caso das artes marciais e das lutas, elas precisam serentendias como opostas, isso porque, ainda que denominem uma mesma prática, não podemos esquecer que as primeiras concebem um arcabouço filosófico restrito, enquanto o segundo grupo é fruto da Modernidade e con- sequência da esportivização ou da ocidentalização das modalidades. Nesse sentido, é possível dizer que um adepto de arte marcial desenvolvia técnicas para uma situação real de combate, cujo intuito é o de derrubar um adversário rapidamente. 17 LUTAS MULTIVIX EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 CULTURAS DAS LUTAS Fonte: Pixabay (2020). #PraCegoVer Desenho de ringue com dois lutadores competindo no centro. Contudo, a apropriação de um arcabouço técnico desse nível requer muito tempo de prática, algo de que na contemporaneidade não dispomos mais (RIOS, 2005). Desse modo, as lutas, regidas pela globalização e por regula- mentos que possibilitam uma competição, adaptaram-se ao momento e se afastaram em alguns aspectos da sua origem (OLIVEIRA JR., 2019). Ao mesmo tempo, foi o arcabouço cultural que originou e possibilitou uma variação nas atividades de lutas, na tentativa de popularizá-las, além oportu- nizar sua difusão e sua prática. O que implicou esses processos transformadores foi o fato de que, até um determinado momento histórico, o que finalizava uma arte marcial ou luta era o óbito de um dos praticantes, quando em combate. Esse acontecimento denunciava um dos hábitos que, além de caracterizar a genealogia da moda- lidade, “[...] envolve o sujeito em outras dimensões de sua existência dentro e fora da área de luta [...]” (RODRIGUES, 2009, p. 649). Logo, podemos presenciar características circulares do conceito de cultura, dentro de sua polissemia, en- quanto arena discursiva que possibilita distintas compreensões acerca das artes marciais, das lutas, das aproximações e dos distanciamentos que forjam suas diferenciações epistêmicas (CORREIA; FRANCHINI, 2010). Yonezawa (2010) demarca então que são os modos de combate que passa- ram a definir as especificidades de cada modalidade, mediante os conjun- tos éticos, políticos e filosóficos – componentes da premissa estética da luta. 18 MULTIVIX EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 LUTAS Sem ignorar a função social das modalidades ou ferir algum grupo cultural, precisamos compreender que historicamente as artes marciais carregaram o estigma de “máquina de guerra” (YONEZAWA, 2010, p. 35). Esse conceito não é gratuito, tampouco pode ser lido como depreciador, vis- to que nossa leitura acerca das estruturas culturais não requer, nem mesmo permite, uma análise leviana e descontextualizada das motivações que con- duziram um povo ou outro a estabelecer, pelas suas práticas corporais, os mo- dos de manter-se vivo (GONÇALVES; SILVA, 2013). 1.3. PROCESSO DE INSTITUCIONALIZAÇÃO, ESPORTIVIZAÇÃO E EXPANSÃO DAS LUTAS Como vimos, as artes marciais e as lutas por muito tempo salvaguardaram a premissa bélica de suas dinâmicas. Essa manutenção oportunizou às dife- rentes modalidades a fixação do conceito de tradicionalidade. Contudo, essa observação é possível ao compreendermos que, relacionada às artes mar- ciais, a institucionalidade se deve pela concepção orientalista que sustenta sua genealogia. Às lutas, por sua vez, são atribuídas dinâmicas vinculadas “[...] a práticas de la- zer, educacionais, atividades físicas e esportivas.” (GONÇALVES; SILVA, 2013, p. 666). Esses subconjuntos de significação, ainda que sejam frutos de campos discursivos, balizam os modos como conceberemos ou desenvolveremos ati- vidades que dependam de quaisquer desses grupos conceituais. 19 LUTAS MULTIVIX EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 Institucionalização: a institucionalização de uma prática não é definidora de seu modus operandi; pelo contrário, é ela que oportuniza que sejam produzidas apropriações e adaptações que levam à expansão das lutas, além de possibilitar o desenvolvimento de políticas que as façam chegar a diferentes contextos e sujeitos. Benefícios do processo de institucionalização: a institucionalização das artes marciais e das lutas confere poder de autonomia, fator que – no caso dos nossos estudos – propicia a produção de regimentos que visam regular o desenvolvimento dessas práticas, inclusive em âmbito mundial, por meio das organizações mundiais, comitês olímpicos, federações, entre outros órgãos cuja finalidade é manter e difundir as artes marciais e as lutas. Esportivização: é pela institucionalização que chegamos à esportivização, que ocorre pela utilização de um grupo de signos e códigos que permitem diferentes formas de acessibilidade às dinâmicas de lutas. Sistematização: na sistematização, podemos observar a transformação de uma arte marcial em luta, isso porque é esperado que ocorra alguma perda de caracteres geradores, a fim de que se amplie o alcance de determinada prática (RIOS, 2005). Ao ser compreendida como esporte, uma arte marcial se distancia de sua origem, contudo ela se torna um objeto possível de ser pedagogizado, com vistas a oportunizar uma vasta produção de conhecimento acerca de seu de- 20 MULTIVIX EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 LUTAS senvolvimento sem que, com essa atitude, esteja descaracterizada do seu viés fundador. Dentro de uma mesma linguagem corporal, um jogo desportivo, por exemplo, é necessário saber discernir o caráter mais competitivo ou recreativo de cada situação, conhecer o seu histórico, compreender minimamente regras e estratégias e saber adaptá-las. Por isso, é fundamental a participação em atividades de caráter recreativo, cooperativo, competitivo, entre outros, para aprender a diferenciá-las (BRASIL, 1998, p. 27). Esportivizar uma prática não implica negligenciamos seus processos histó- ricos, mas sim adaptarmos um conhecimento cultural para que seja expe- rimentado por diferentes corpos e sujeitos, sem apagar os fundamentos de sustentação (RUFINO; DARIDO, 2015). ESPORTIVIZAÇÃO DAS LUTAS Fonte: Plataforma Deduca (2020). #PraCegoVer A imagem apresenta a silhueta de duas pessoas praticando artes marciais. Por fim, podemos exemplificar esse processo com “[...] competição, mensu- ração, aplicação de conceitos científicos, comparação de resultados, regras e normas codificadas e institucionalizadas, maximização do rendimento corpo- ral e espetacularização da expressão corporal.” (CORREIA; FRANCHINI, 2010, p. 2). Isso porque, quanto maior for o domínio sobre as próprias habilidades cor- porais, maior será a amplitude de autoconhecimentos construídos pelos sujei- tos acerca da sua gestualidade, o que incidirá sobre modalidades específicas. 21 LUTAS MULTIVIX EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 Agora que compreendemos a origem e a evolução das lutas no contexto his- tórico, vamos estudar essa evolução no Oriente e no Ocidente. 2. AS LUTAS ORIENTAIS, OCIDENTAIS E SUA EVOLUÇÃO Ao decidirmos trabalhar com os conteúdos que estruturam as lutas, precisa- mos contextualizar constantemente os processos históricos que permitem nossas leituras e compreensões das modalidades implícitas no plano de traba- lho docente. Essa imersão é necessária porque abordaremos uma gama de sa- beres que constituem parte da evolução da humanidade e nos possibilitam a identificação de valores dos grupos que produziram as lutas orientais e ociden- tais, influenciadas e desenvolvidas por fatores econômicos, políticos e culturais. Ao pensarmos em evolução, não podemos negligenciar o fato de que a oci- dentalização das artes marciais orientais acelerou o distanciamento das tradi- ções culturais e técnicas que as fundamentam e diferenciam (ataque, defesa e autoproteção). Processos culturais: para Said (2007), quando falamos em processosculturais, especificamente das artes marciais, observamos uma espécie de valorização do termo oriental, algo que chega ao Ocidente como exótico, misterioso, profundo e seminal. Para o autor, “[...] a palavra Oriente possui uma grande ressonância cultural no Ocidente.” (SAID, 2007, p. 274). Rede discursiva: a rede discursiva presente nessas narrativas envolve concepções de hipervalorização das artes marciais enquanto conjunto de práticas regidas por valores éticos e morais responsáveis por forjar condutas esperadas de todo e qualquer cidadão. Mais que isso, o enaltecimento do Oriente “[...] envolve o sujeito em outras dimensões de sua existência dentro e fora da área de luta [...]” (RODRIGUES, 2009, p. 649). Cultura de distanciamento: 22 MULTIVIX EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 LUTAS existe ao menos uma cultura que distancia, não somente em termos geográficos, os hábitos desses povos e os tornam subjugados e inferiores às culturas ocidentais em detrimento das orientais, por conta do exotismo existente e nutrido (CORREIA; FRANCHINI, 2010). É possível dizer que um dos intercâmbios culturais que ocorreram entre Orien- te e Ocidente é marcado no período “[...] pós II Guerra, quando o mundo assiste a um redescobrimento do Oriente, de Ordem Cultural, mais especificamente de sua cultura corporal [...]” (MARTA, 2009, p. 85). Ainda que esse não tenha sido o primeiro encontro entre esses povos, podemos dizer que foi impulsionado por ele que as artes marciais do Oriente (com ênfase às japonesas), foram visi- bilizadas a ponto de atingirem diferentes territórios no Ocidente. Essa dinâmica de trocas foi impulsionada pela fetichização da cultura cor- poral, especificamente das habilidades motoras das artes marciais orientais, fator que fez com estas fossem trazidas ao Ocidente (MARTA, 2009). Na che- gada, foram geradas adaptações, isso porque a complexidade doutrinária nas modalidades do Oriente ocasionava inúmeras contraposições às dinâmicas culturais do Ocidente. Uma justificativa para tal afirmação é a ideia de que os povos orientais preconizam processos educacionais pautados na meditação, enquanto os ocidentais são orientados pelo imediatismo. Assim, podemos dividir as lutas em vertentes dicotomizadas, que se orientam pelo território fundante. São classificadas em: artes marciais orientais e lutas, desenvolvidas em contextos ocidentais. 23 LUTAS MULTIVIX EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 É possível sistematizar algumas modalidades conforme quadro a seguir. SISTEMATIZAÇÃO DA REGIONALIDADE DAS ARTES MARCIAIS E LUTAS Orientais Ocidentais • Kalaripayit (Índia); • Wushu (Kung fu ou boxe chinês); jeet kune do; tai chi chuan; pa kua, hsing-I (China); • karate, judô, jiu-jitsu, ninjitsu, kendo, aikido, sumô (Japão); • tae kwon do, tang soo do (Coreias); • Muay thai (Tailandia); • Krav Maga (Israel). • Wrestling, fullcontact, kickboxing, boxe (Inglaterra e EUA); • Capoeira, luta livre (Brasil). Fonte: Elaborado pelo autor (2020). #PraCegoVer Quadro sistematizando as modalidades de lutas entre orientais e ocidentais. Compreendida a evolução das lutas ocidentais, vamos estudar duas modali- dades específicas: jiu-jitsu e judô. 2.1. JIU-JITSU E JUDÔ A modalidade jiu-jitsu é oriunda do continente Asiático, há aproximadamen- te 3.600 anos. Há vertentes que defendem o surgimento no Japão ; outras apontam para a Índia (como prática dos monges budistas), migrando a para China e, depois, aportando no Japão, em acompanhamento à expansão do budismo. Além dessa, há a vertente que define o surgimento do jiu-jitsu na China. Enquanto arte marcial, temos, na contemporaneidade, um distancia- mento significativo em relação à modalidade originada na Ásia. 24 MULTIVIX EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 LUTAS JIU-JITSU Fonte: © Vincicioli/Wikimedia Commons (2020). #PraCegoVer A imagem apresenta duas praticantes da modalidade de jiu-jitsu em combate. Na concepção antiga, o jiu-jitsu focava na formação dos sujeitos por meio de uma estética de vida, ou seja, uma ética pessoal que formava os samurais a partir do bushido (código de regras sociais). Jiu-Jitsu no Brasil: no Brasil, o jiu-jitsu data de 1914, com a chegada do japonês Mitsuyo Maeda. Implementação: foi implementado pelos irmãos Carlos e Hélio Gracie e difundido em território nacional a partir de adaptações da sua prática original, resultando no brazilian jiu-jitsu. 25 LUTAS MULTIVIX EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 Esportivização: com o processo de esportivização, percebemos certa dificuldade na difusão e no desenvolvimento dos golpes, isto é, as habilidades ficaram mais específicas e complexas, e tal fator dificulta o acesso à modalidade e seu entendimento. Contudo, ainda é possível observar uma crescente linha de adeptos e uma valorização exacerbada da competição, algo que deflagra um tensionamento entre a origem e a contemporaneidade. No judô, a etimologia da palavra auxilia-nos a compreender sua filosofia, isso porque está implica em: ju (ser gentil, leve, suave) e do (caminho, princípio), logo, o significado é o princípio da suavidade. Assim, a modalidade preconiza uma integração em detrimento da dicotomização entre corpo e mente. Para isso, o judô é fruto de uma mescla de técnicas de outras artes marciais, especificamente do jiu-jitsu (termo que significa uma luta/técnica que se uti- liza do corpo para atacar o oponente e se defender dele). JUDÔ Fonte: Pixabay (2020). #PraCegoVer A imagem apresenta a silhueta de um homem realizando um movimento do judô. 26 MULTIVIX EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 LUTAS Podemos dizer que essa modalidade foi pensada e proposta em 1882 por Ji- goro Kano (japonês) ao fundar o Instituto Kodokan, onde aliou a filosofia às práticas corporais e, mais tarde, ao esporte. As dinâmicas do judô não res- tringem seu desenvolvimento a tipos específicos de corpos, portanto ele é amplamente difundido para todos os sujeitos. Estratégia (concentração e au- toconfiança) e velocidade são exigidas nas dinâmicas de movimento da mo- dalidade, por isso ela desenvolve a integralidade motora, além dos valores de autodefesa, respeito e aprendizagem com o oponente. Para saber mais sobre os processos históricos, as regras, as competições e as personagens dessa modalidade, acesse o site da Confederação Brasileira de Judô (CBJ), e também a página oficial da Federação Internacional de Judô (IJF). Em meados de 1922, o judô chegou ao Brasil por Eisei Maeda (Conde Koma), que difundiu a modalidade ao se apresentar em diferentes estados brasilei- ros, momentos em que, inclusive, desafiava expectadores. Contudo, foi em 1938, com a chegada de imigrantes nipônicos, que a prática do judô foi am- plamente difundida no país. Riuzo Ogawa fundou a Academia Ogawa, a qual vislumbrava manter a cultura física oriental, bem como seguir com os ensi- namentos de Kano. 2.2. TAEKWONDO O taekwondo, ou tae kwon do, tem, no campo discursivo, a data de 1.300 anos. Também é possível encontrar perspectivas que apontam seu surgimento para a data de 670 anos d.C. A prática foi difundida a partir de 11 de abril de 1955, por Choi Hong Hi (general sul-coreano). Com a invasão japonesa à Coreia em 1909, essa prática foi banida, e o taekwondo foi mantido em segredo. Etimologicamente, a palavra significa “[...] caminho dos pés e das mãos e do espírito através da mente.” (BATISTA, 2006, p. 39). Além disso, por ser uma mo- dalidade próxima ao código de conduta dos samurais (taekyon), ela preconiza https://cbj.com.br/ https://cbj.com.br/ https://www.ijf.org/ 27 LUTAS MULTIVIX EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.Uem 23/06/2017 obediência ao rei, respeito aos pais, lealdade para com os amigos, não recusa perante o inimigo e morte somente quando não houver outra alternativa (BA- TISTA, 2006). TAEKWONDO Fonte: © Stefan Pettersson/Wikimedia Commons (2020). #PraCegoVer A imagem apresenta dois lutadores de Taekwondo, em que um está aplicando um golpe com os membros inferiores no outro. Filosoficamente, a modalidade pondera valores como perseverança, integri- dade, autocontrole, cortesia, respeito e lealdade. Em 1970, o taekwondo apor- tou no Brasil com a chegada do então mestre Sang Min Cho (BATISTA, 2006). Para saber mais sobre os processos históricos, as regras, as competições e as personagens dessa modalidade, acesse o site da Confederação Brasileira de Taekwondo (CBTKD), e também a página oficial da Confederação Internacional de Taekwondo (WT). https://cbtkd.com.br/ https://cbtkd.com.br/ http://www.worldtaekwondo.org/ 28 MULTIVIX EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 LUTAS A modalidade passou por um processo de esportivização na década de 1960, momento em que sofreu significativas alterações para adentrar o mundo globalizado das competições (RIOS, 2005). 2.3. KUNG FU E CARATÊ Simbolicamente, o kung fu está implicado em designar as artes marciais cuja origem advém da China. O termo tornou-se mais comum na década de 1970, quando ocorreu sua difusão no Ocidente pela produção fílmica e televisiva (FERREIRA; MARCHI JÚNIOR; CAPRARO, 2014). KUNG FU Fonte: Pixabay (2020). #PraCegoVer Silhueta de praticante de kung fu realizando um movimento da modalidade. Suas histórias são polissêmicas e disputadas por estudiosos e adeptos da prá- tica. No entanto, existe um consenso de que ele foi criado para uso bélico e desenvolveu-se como uma forma de produzir e manter a saúde e as ha- bilidades corporais, bem como o autoconhecimento. Além do apresentado, aceitam-se as narrativas de que o kung fu tem origem conjunta com o povo chinês (FERREIRA; MARCHI JÚNIOR; CAPRARO, 2014). Para saber mais sobre os processos históricos, as regras, as competições e as personagens dessa modalidade, acesse o site da Confederação Brasileira de Kung Fu (CBKW), e a página oficial da Confederação Internacional de Kung Fu (IWUF). http://www.iwuf.org/ 29 LUTAS MULTIVIX EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 Já o caratê tradicional (caratê budô) tem origem em mosteiros da China e da Índia. Aportou no Japão com o nome de okinawa-te e recebeu como re- gramento o budô (código de conduta samurai). Dessa fusão, passou a ser co- nhecido como caratê. Ganhou visibilidade após a Segunda Guerra Mundial, momento em que sua prática era vista como desenvolvedora de caráter, além de apresentar-se como uma forma de defesa pessoal. CARATÊ Fonte: Pixabay (2020). #PraCegoVer Imagens de atletas de caratê sentados em momento de explicação de técnicas. Pedagogicamente, uma aula de caratê é organizada em três momentos, no mínimo, são eles: kihon (fundamentos e técnicas iniciais), kata (sequência de movimentações que reúnem elementos do kihon, de modo a simular ataque e defesa direcionados a um adversário ou a muitos); e o kumite (encontro de mãos, ou combate, que é a dinâmica de luta propriamente dita). Diferente- mente dos primeiros, este último é desenvolvido com um parceiro que tenha a mesma graduação (LAJE; JÚNIOR, 2007). O caratê de contato (karate kyokushin ou full contact karate) é uma prática de origem japonesa datada de 1957, cujo criador foi o Grão Mestre Masutatsu Oyama. Oyama acreditava e defendia que os golpes deveriam ser os mais ver- dadeiros possíveis, porque somente dessa forma o praticante conceberia sua potência. Desse modo, o mestre produziu essa modalidade ao incluir o karatê tradicional, fato que aliou a modalidade à nomenclatura kyokushin (verdade e realidade), a qual etimologicamente implica aprofundar-se na verdade (FRO- SI; MAZO, 2011). 30 MULTIVIX EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 LUTAS Para saber mais sobre os processos históricos, as regras, as competições e as personagens dessa modalidade, acesse o site da Confederação Brasileira de Karatê (CBK), a página da Federação Internacional de Karatê (WKF), e também o site da Confederação Brasileira de Karatê Kyokushin Oyama (CBKKO) e a página oficial da Federação Internacional de Karate Kyokushin. Por fim, podemos dizer que o caratê tem como característica a dinamicidade e a base dos fundamentos do bushido (caminho do guerreiro), que defende o autoconhecimento rigoroso, a empatia com os semelhantes, a veneração aos pais e a fidelidade à pátria. A modalidade chegou ao Brasil em 10 de outubro de 1972, com a vinda do japonês Seiji Isobe, que trouxe o terceiro grau do es- tilo (na ocasião). https://www.karatedobrasil.com/ https://www.karatedobrasil.com/ https://www.wkf.net/ https://www.wkf.net/ https://www.cbkko.com.br/ https://www.cbkko.com.br/ https://www.ifk-kyokushin.com/ https://www.ifk-kyokushin.com/ 31 LUTAS MULTIVIX EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 CONCLUSÃO Ao longo desta unidade, percebemos o quão difícil é a formulação de uma síntese histórico-contextual das artes marciais e das lutas. Contudo, precisa- mos manter o acesso à arte de questionar, isso porque é esse processo que nos oportunizará a ampliação de reflexões acerca dos aspectos originários e evolutivos dessas práticas, seja pelo viés da tradição, mantido no Oriente para aquelas modalidades advindas de Ásia, seja pelas perspectivas modernistas ocidentais, que tudo alteram, transformam, mas que, por essa razão, possibi- litam estudos e produção de conhecimentos acerca das artes marciais adap- tadas às lutas. Compreendemos, nesse sentido, que cada modalidade é variável dos aconte- cimentos regionalizados, visto que foram os recortes históricos que oportuni- zaram o surgimento das artes marciais e das lutas em territórios distintos. Mais do que isso, foram os contextos socioculturais que conferiram características específicas a cada modalidade. No entanto, via processos de institucionali- zação e esportivização das modalidades às quais chegamos na atualidade, é possível compreender a genealogia das lutas e, por essa razão, desenvolver essas práticas corporais. Na esteira desses pensamentos, vimos o quanto a dicotomização entre Orien- te e Ocidente, ainda que responsável pela manutenção dos históricos das mo- dalidades, oportunizou que reconhecêssemos a importância dessa territoria- lização para a manutenção da tradicionalidade das artes marciais orientais. Ao serem levadas ao Ocidente, as artes marciais defrontaram-se com aspec- tos culturais distintos e, nessa perspectiva, brindaram-nos com uma gama cultural que influenciou nossos comportamentos desde a chegada ao territó- rio brasileiro especificamente. UNIDADE 2 > Identificar e conhecer os tipos de lutas. > Identificar as lutas quanto aos tipos de golpes e utilização de implementos. OBJETIVO Ao final desta unidade, esperamos que possa: 32 MULTIVIX EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 LUTAS 33 MULTIVIX EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 LUTAS 2. VIVÊNCIA, ANÁLISE E ESTRUTURAÇÃO DAS ATIVIDADES DE LUTAS E CLASSIFICAÇÕES INTRODUÇÃO Nesta unidade, identificaremos a tipologia das lutas e as especificidades re- lativas aos golpes e à utilização de implementos. Passaremos pelos concei- tos de jogos, jogos de oposição, atividades de lutas, lutas de média e grande distância. Em seguida, focaremos no desenvolvimento das lutas por meio da evolução dos fundamentos de cada classificação. Especificamente, estudaremos a classificação dos tipos de artes marciais, a si- tuação macro e micro de forma grupal nas lutas e as característicasdos jogos de lutas corpo a corpo, em lutas com golpes, com derrubada, com imobiliza- ção ou com exclusão do espaço, bem como lutas com toque por implemento. 2.1 CLASSIFICAÇÃO DOS TIPOS DE ARTES MARCIAIS Os campos epistemológicos conferem distintos significados às artes marciais e às lutas, fator que possibilita diferentes modos de leitura e compreensão de seu arcabouço histórico. Essas interpretações tornam polissêmicas a circula- ção e a apropriação das práticas corporais de lutas por muitos grupos sociais. Com isso, é possível apreender que elas são, de modo inicial, uma atividade milenar, atrelada a determinadas orientações filosóficas e religiosas, além de um conjunto de atividades físicas; ou uma modalidade esportiva, adaptada ou não para execução enquanto uma das práticas escolares e não escolares. Nesse sentido, as artes marciais podem ser entendidas também como prá- ticas existenciais, pois permitem ao sujeito “[...] vivenciar as tensões próprias da prática, de violência, de justiça e éticas que não são questões banais, mas sensíveis.” (BARREIRA, 2014, p. 138). Isso requer do praticante o entendimento dos diferentes contextos culturais que produziram ou modificaram as artes marciais em lutas. 34 LUTAS MULTIVIX EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 CARATÊ Fonte: Pixabay (2020). #PraCegoVer Imagem de mulher praticando um golpe de caratê. Nessa esteira de embates conceituais, na contemporaneidade, é possível compreender as artes marciais como um ramo dos estudos de lazer e prática corporal que possibilita um aumento da aptidão física, bem como o desen- volvimento da defesa pessoal, a prática esportivizada, entre outras dinâmicas diretamente vinculadas com estilos de vida forjados por processos e contex- tos culturais. Essas práticas, portanto, passam a atuar como objeto de significação, isso porque, ao longo da história, elas têm ganhado maior difusão midiática, fa- tor que reverbera no aumento da busca por essas atividades em academias, clubes, escolas, projetos sociais, entre outros ambientes educativos – o que acarreta múltiplos e dinâmicos processos de transformação (OLIVEIRA, 2019). Entender o modo como as artes marciais são discutidas atualmente implica ampliar os saberes que possibilitam múltiplas manifestações das lutas, deri- vadas de contextos culturais específicos (SILVA, 2019). 35 MULTIVIX EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 LUTAS Referente ao que tem sido produzido sobre as artes marciais pelos distintos setores de conhecimento, com maior incidência nos campos acadêmicos, é possível perceber que a educação física e a fisioterapia têm assumido a dian- teira no sentido de escrever cientificamente sobre essas lutas. Educação física: Tem focado no desenvolvimento, nas metodologias de ensino, nos processos históricos e nos regramentos. Fisioterapia: Tem se responsabilizado pela biodinâmica, ou seja, lesões e propriedades de movimento que competem às artes marciais. Esses fatores podem ser observados de modo complementar nos estudos de cada campo. Para o desenvolvimento da unidade, compreenderemos essas práticas corporais como: artes marciais, luta, modalidades esportivas de com- bate e jogos de lutas (CORREIA; FRANCHINI, 2010). Somada a esses enten- dimentos, há a concepção esportiva (GOMES et al., 2010), o que demarca a ampliação do campo de saber. Muitas lutas têm em sua origem o estigma da essencialidade, pautada por um viés filosófico cuja premissa defende uma completa harmonização do sujeito, de modo a negar as dicotomias corpo-mente e espírito-natureza. Se, por um lado, tem-se um imaginário que evidencia a figura do homem como superior; por outro, pode-se citar uma linha de pensamento dentro da própria organização das lutas, o que preconiza a busca pela harmonia e pelo respeito aos praticantes, independentemente do sexo ou gênero. Nesse sen- tido, é possível perceber um contraponto com relação à participação das mu- lheres nas artes marciais, no entanto, pelo viés da filosofia, o registro que se faz é de que esse tipo de pensamento, e por vezes atitudes, deriva de contex- tos culturais específicos (SILVA, 2019). 36 LUTAS MULTIVIX EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 JUDÔ Fonte: Plataforma Deduca (2020). #PraCegoVer A imagem um atleta de judô amarrando a faixa preta de sua vestimenta. Essas significações se concretizam no prevalecimento da força bruta/física, do sentido competitivo e, ainda, pelo fetiche de exercer domínio sobre outros corpos (CECCHETO, 2004). Ainda nesse pensamento sobre o mundo dos es- portes, pode-se dizer que é masculino, “[...] pois as qualidades desejáveis aos esportistas, como combatividade, o desejo de superar-se, a ousadia para cor- rer riscos, a agressividade, a força e a potência” (ISSE, 2003, p. 93) são caracte- rísticas vinculadas a uma masculinidade hegemônica e tóxica. Essas relações são mediadas, via de regra, pela postura assumida pelo pro- fessor, isso porque o docente “[...] ocupa um lugar importante na construção do ‘estilo’ de um lutador: ele pode concorrer, grosso modo, para disciplinar as paixões ou para estimular o comportamento deliberadamente agressivo dos lutadores.” (CECCHETO, 2004, p. 151). As artes marciais ou lutas, durante muito tempo, ficaram presas ao universo masculino. A afirmativa é possível pela visualização dos caracteres historica- mente produzidos aos corpos dos samurais, às situações bélicas das quais o sexo e o gênero femininos foram excluídos por um longo período da história. Contudo, na contemporaneidade, a busca é pela inversão desse quadro e, por isso, temos um número significativo de praticantes mulheres. 37 MULTIVIX EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 LUTAS Para saber mais sobre a relação das lutas com a exclusão das mulheres na modalidade, leia o artigo “Controle de si, dor e representação feminina entre lutadores(as) de mixed martial arts” de Thomazini, Moraes e Almeida (2008), disponível neste link. Agora que entendemos a evolução histórica e a classificação das artes mar- ciais, vamos estudar as características dos jogos de oposição. 2.1.2 JOGOS DE OPOSIÇÃO/ATIVIDADES DE LUTAS Um dos objetivos da educação física é desenvolver as corporeidades por meio da cultura corporal de movimento. Nessa esteira de pensamento, o lúdico aparece como uma potente ferramenta que auxilia nos processos de ensino- -aprendizagem. Os conteúdos são pedagogicamente distribuídos de modo a permitir que o sujeito-alvo da atividade didática consiga aprender e apreender cada dinâ- mica, por meio da história, da sociologia, dos jogos, dos esportes, das ginásti- cas, das danças e das lutas, junto aos estudos dos corpos, o que oportuniza o reconhecimento de habilidades, bem como a elaboração de estratégias que denotam a necessidade da ação reflexiva dos envolvidos. Para tanto, é preciso conhecer cada processo pedagógico escolhido para uma boa gestão e adap- tação das atividades propostas. https://www.revistas.ufg.br/index.php/fef/article/view/4992 38 LUTAS MULTIVIX EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 CABO DE GUERRA Fonte: Pixabay (2020). #PraCegoVer A imagem apresenta algumas crianças brincando de cabo de guerra. Os jogos de oposição podem ser entendidos como atividades de lutas. Tal caracterização deriva do fato de que eles acessam e se utilizam de dinâmicas que são próprias das técnicas específicas das modalidades de lutas. Desse modo, esses jogos são considerados uma ferramenta pedagógica democrá- tica. Isso porque eles possibilitam acesso aos direitos sociais educativos, bem como à participação e ao envolvimento de todos. Eles oferecem práticas mo- toras ajustadas e adequadas à ampla participação, além de minimizar desi-gualdades técnicas específicas que tendem a agravar situações de baixa au- toestima, as quais, por sua vez, podem afastar praticantes. Podemos exemplificar essas dinâmicas com “[...] as brincadeiras de cabo de guerra e braço de ferro, até as práticas mais complexas da capoeira, do judô e do caratê.” (BRASIL, 1998, p. 37). 39 MULTIVIX EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 LUTAS Para saber mais a respeito da relação das brincadeiras com as lutas, assista ao vídeo “A importância dos jogos e brincadeiras”, Parte 1, Parte 2 e Parte 3. Outro objetivo da educação física é oportunizar uma pluralidade de acessos a distintas experiências corporais. Dessa afirmativa, deriva uma justificativa para aplicabilidade das atividades de lutas e dos jogos de oposição, muitas ve- zes desenvolvidos no lugar das lutas em si (BRASIL, 1998). Esse acontecimento é conhecido como prática pedagógica inovadora. Além disso, os fundamentos que envolvem os jogos de oposição estão pauta- dos na premissa de organização básica dos jogos e brincadeiras. Eles podem envolver toda gama de possibilidades, como serem utilizados em porções e combinações simples das classificações dos jogos, conforme podemos visua- lizar a seguir (SANTOS, 2012): Grandes jogos: Mais participantes, atenção no foco/objetivo. Pequenos jogos: Menos participantes, potencial de observação (velocidade, equilíbrio, lateralidade, força, raciocínio etc.). Revezamento ou estafetas: Revezamento para realização das atividades (jogos combinados – múltiplas habilidades motoras e psíquicas). https://www.youtube.com/watch?v=_bb4M97wQJ0 https://www.youtube.com/watch?v=WKRuon-AgHQ https://www.youtube.com/watch?v=uVKIseVsWHA 40 LUTAS MULTIVIX EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 Aquáticos: Realizados em meio líquido (redução de danos). Jogos sensoriais: Recorrência aos sentidos (visão, audição, tato, olfato e paladar). Jogos sociais de mesa: Tabuleiro (sem focar na manipulação do azar). Jogos expressivos: Visam desenvolvimento motor e rítmico. Jogos de lutas: Proporcionam disputa por território e contato físico. Jogos cooperativos: Visam à participação inclusiva (realização de tarefa pela coletividade). Jogos competitivos: Visam desenvolver a competição. Ao propor atividades de lutas, o proponente necessita imergir em um campo metodológico específico, a pesquisa-ação. Essa atitude requer que a atenção seja dispensada conforme os participantes da aula apresentem dificuldades ou as superem. Uma atividade de luta, enquanto ferramenta, oportuniza que 41 MULTIVIX EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 LUTAS fundamentos básicos das lutas sejam desenvolvidos, ampliando o registro motor, a percepção espacial e as dinâmicas de movimento. Essa gama de aprendizagens deriva do entendimento de que as atividades de lutas e os jogos de oposição são especificados por dinâmicas de defesa e ataque, das quais são detalhadas ações de: tocar, agarrar/reter, imobilizar, desequilibrar e movimentar. Olivier (2000) sistematiza os jogos de oposição/ atividades de lutas em grupos, conforme a complexidade e exigência motora. São eles: • jogos de rapidez e atenção; • jogos de conquista de objetos; • jogos de conquista de territórios; • jogos para desequilibrar; • jogos para reter, imobilizar e se livrar; • jogos para combater. Para o autor, essa escalada pedagógica auxilia no ensino-aprendizagem das habilidades motoras básicas para o sujeito se inserir nas artes marciais ou nas lutas (OLIVIER, 2000). LUTA OLÍMPICA, GRECO-ROMANA OU WRESTLING Fonte: © Somin Q/Wikimedia Commons (2020). #PraCegoVer A imagem apresenta dois adeptos da luta olímpica durante um combate. 42 LUTAS MULTIVIX EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 Por defesa e ataque, é preciso entender as atitudes de esquiva, resistência e escape. As esquivas são as ações de desvio, “ludibriamento” e “enganação”; procuram desviar atenção do oponente para obter algum êxito. A resistência está alicerçada na capacidade de suportar alguma força aplicada contra o corpo, por exemplo, manter-se imóvel quando empurrado pelo adversário. Já o escape consiste na capacidade de se livrar de alguma imobilização ou agar- re. Por fim, o ataque pressupõe toda ação que propõe a retirada da inércia, mobilidade e ocupação de espaço geográfico. Os jogos orientados por ataque e defesa são propositivos no sentido de en- frentamento; eles possibilitam ganho de território, competitividade, coopera- ção e desenvolvimento estratégico (KISHIMOTO, 1996). ATAQUE E DEFESA Fonte: Plataforma Deduca (2020). #PraCegoVer A imagem traz duas silhuetas de esportistas durante um combate de esgrima, em que um aplica o golpe e o outro tenta se defender. Essas subclassificações iniciais dos jogos de oposição, quando aplicadas, ne- cessitam respeitar de modo global as etapas de desenvolvimento (morfo- funcional, psicológico e social) (PIAGET, 1983) dos participantes da atividade promovida. Contudo, é preciso não esquecer que “[...] o jogo não é o fim, mas o eixo que conduz a um conteúdo didático específico, resultando em um em- préstimo da ação lúdica para aquisição de informações.” (KISHIMOTO, 1996, p. 47). 43 MULTIVIX EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 LUTAS Como toda atividade pedagógica, ele possui características próprias e fina- lidades que, por mais que sejam combinadas, não perdem sua orientação inicial. Além do desenvolvimento de habilidades, os jogos operam fatores mo- tivacionais que são integradas pelo viés da ludicidade ao acessar dimensões como a afetividade, o trabalho em grupo e das relações com regras predefi- nidas, o que promove a construção do conhecimento cognitivo, físico e social (OLIVIER, 2000). Acesse este link para visualizar alguns exemplos de atividades com jogos de oposição/atividades de lutas. Os jogos de oposição, em seu caráter pedagógico ou didático, têm como ob- jetivo proporcionar determinadas aprendizagens, diferenciando-se do mate- rial didático por conter o aspecto lúdico e por ser utilizado para atingir de- terminados objetivos pedagógicos (OLIVIER, 2000). Eles são uma alternativa para melhorar o desempenho dos envolvidos, em alguns conteúdos de difícil aprendizagem (KISHIMOTO, 2002). A premissa deles é a manutenção da inte- gridade física, sem deixar de promover experiências corporais (RODRIGUES, 2009). Nesse entendimento, os jogos de oposição e as atividades de lutas possuem duas categorizações amplas que requerem equilíbrio: uma lúdica (que deve propiciar diversão e prazer) e outra educativa (pautada na ideia de que é pre- ciso ensinar ao sujeito algo que seja acrescido ao seu saber). O equilíbrio suge- re que os jogos de oposição ponderem os pilares da educação, ou seja, apren- der a conhecer, aprender a fazer, aprender a viver com os outros e aprender a ser (OLIVIER, 2000). Ao respeitar a estrutura inseparável desses pilares, os jogos de oposição de- senvolverão valores que são apreendidos pelas técnicas corporais disponibi- lizadas pela educação dos corpos. Essas atividades promovem tipos e valores pela imitação do gesto (RODRIGUES, 2009). Esses valores, de acordo com So- http://www.educacaofisica.seed.pr.gov.br/modules/conteudo/conteudo.php?conteudo=413 44 LUTAS MULTIVIX EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 ares (2008), são: Valor experimental: Permitir a exploração e manipulação, isto é, um jogo que ensine conceitos científicos deve permitir a manipulação de algum tipo de brinquedo, espaço e ação. Valor da estruturação: Suportar a estruturação de personalidade e seu aparecimento em estratégias e na forma de brincar, isto é, liberdade de ação dentrode regras específicas. Valor de relação: Incentivar a relação e o convívio social entre os participantes e entre o ambiente como um todo. Valor lúdico: Avaliar se os objetos têm as qualidades que estimulem o aparecimento da ação lúdica. O jogo escapa de pressões e avaliações, o que cria um clima propício à formu- lação de soluções. O benefício do jogo se encontra na possibilidade de esti- mular a exploração em busca de respostas, sem constranger o sujeito quando este erra (OLIVIER, 2000). A didática e os processos pedagógicos que envol- vem os jogos de oposição e as atividades de lutas são responsáveis por dire- cionar a intencionalidade, os saberes, os conteúdos e as culturas que entrarão na ordem discursiva da aula. Trata-se de uma ação curricular que oportunizará aprendizagens pelo jogo, que são derivadas de interesses pessoais. Esses interesses definirão se a ati- vidade foi pedagógica ou conteudística. Isso porque os jogos, por si só, não vão garantir a aprendizagem de certos saberes que precisam ser sistemati- 45 MULTIVIX EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 LUTAS zados de acordo com os objetivos pedagógicos (KISHIMOTO, 2002). Eles são dependentes das ações de conteúdos dispostos em três categorias, conforme a figura a seguir. CATEGORIAS PEDAGÓGICAS PARA OS JOGOS Fonte: Elaborada pelo autor (2020). #PraCegoVer A imagem traz três retângulos. Em casa um, aparece uma das categorias na seguinte sequência: atitudinais, conceituais e procedimentais. Os conteúdos conceituais referem-se ao que precisamos saber; os conteúdos procedimentais referem-se ao que precisamos saber fazer, e os conteúdos atitudinais referem-se ao eu precisamos ser (ZABALA, 1998). Os jogos de oposição precisam, portanto, ser propostos sem esquecer sua premissa de contato corporal, caracterizado pela pré-esportivização e pela atuação em duplas, trios ou grupos. A carga educacional necessita ser a pro- pulsora de toda atividade, de modo a contextualizar questões culturais, pro- cessos sócio-históricos e de gênero. Além disso, não é possível o esquecimento das relações de limite (contradi- ções entre risco e segurança), visto que a integridade física do proponente e do sujeito-alvo é balizadora de qualquer prática de jogo de oposição ou ati- vidade de luta (OLIVEIRA JÚNIOR, 2019). Para isso, faz-se necessária toda e qualquer compreensão objetiva das regras que direcionarão cada exercício proposto. É preciso, dessa forma, não se esquecer de que o corpo do outro é, ao mesmo tempo, razão e possibilidade do acontecimento dos jogos e das atividades. Assim, o opositor está ali como inteligência tática desafiadora que requer zelo para a manutenção das atividades (OLIVEIRA JÚNIOR, 2019). Ao descrever esse arcabouço de proposições, reitera-se a preocupação de se conceber o caráter pedagógico dos jogos de oposição e das atividades de luta. Para tanto, devemos lembrar que, aqui, falamos da pré-luta. Desse modo, 46 LUTAS MULTIVIX EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 na condição de preparação, os jogos de oposição podem ser compreendidos como atividades de curta, média, longa e alongada distância, e isso depende da proposição a eles conferida. Vamos estudar essa classificação a seguir. 2.1.3 LUTAS DE MÉDIA E GRANDE DISTÂNCIA As lutas cuja caracterização correspondem aos elementos de distanciamento médio possuem seu desenvolvimento no toque em locais específicos e na projeção uniforme do ataque. Como exemplos dessas lutas, temos: tae kwon do, caratê tradicional e kung fu (algumas vertentes). Também existem as que objetivam o nocaute (encerrar a luta com golpe único), como: box, caratê de contato e muay thay. Essas modalidades, por sua vez, apresentam dinâmicas distintas entre elas. Contudo, ainda que haja aproximação, é preciso compreender que a orienta- ção das modalidades é o toque, sem contato permanente, por exemplo, uma imobilização de demora. Nessas lutas, faz-se necessário um arcabouço tático capaz de responder coor- denadamente aos elementos propostos pelo adversário. É preciso acionar habilidades motoras que considerem o tempo de ação e contrarreação, espacialidade, temporalidade de ataque, defesa, resposta e corporeidade do oponente. Esse conjunto hábil apresenta como objetivo causar uma desarmonia no con- junto corporal – distância, posicionamento, equilíbrio, ritmo e resposta – do adversário. Tal percepção faz referência a toda e qualquer modalidade, inclu- sive nos jogos de oposição, isto é, pode ser em uma prática esportiva, marcial ou escolar. O quadro a seguir sistematiza essa classificação. ] 47 MULTIVIX EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 LUTAS CLASSIFICAÇÃO QUANTO AO TIPO DE AÇÃO PROPOSTA PELAS LUTAS Curta distância Média distância Longa distância Desequilibrar Tocar Tocar (por intermédio de um implemento) Rolar Projetar Golpear Cair Manipular (implemento) Controlar Mãos, braços e cotovelos Excluir Pernas, joelhos e pés Fonte: Adaptado de Gomes (2008). #PraCegoVer Característica de ações em golpes de curta, média e longa distância. A partir da categorização balizada pela distância, podemos observar, ao me- nos, três subdivisões às táticas aplicadas as lutas, são elas: “[...] luta de agarre, lutas de impacto/toque e lutas mistas” (CARNEIRO; PICOLI; SANTOS, 2015, p. 733). Nessa organização, é possível observar mecanismos pedagógicos que atravessam as distintas práticas de luta, ou seja, processos que dependem de respostas motoras específicas, e que apontam desenvolvimento de aprendi- zagens para chegarmos a um uso cuidadoso e ampliado das técnicas. No quadro a seguir, é possível visualizar essas características de acordo com cada modalidade. 48 LUTAS MULTIVIX EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 CLASSIFICAÇÃO DAS LUTAS: DISTANCIAMENTO, PARTICIPAÇÃO OLÍMPI- CA E NÃO OLÍMPICA. Distância Olímpicas Não olimpicas (exemplos) Curta Judô Jiu-jitsu Média Judô Aikido Hapkido Longa Boxe Tae kwon do Caratê Kung-fu Capoeira Alongada Esgrima Kenjutsu Haidong Gumdo Fonte: Adaptado de Carneiro, Picoli e Santos (2015). #PraCegoVer Quadro exemplificativo de lutas olímpicas e não olímpicas de acordo com a distância. As lutas de agarre (judô, jiu-jítsu, wrestling e hapkido) surgem ao combinar- mos o curto e o médio distanciamento. Nessa tipologia, ocorrem as ações de pegadas, que são fundamentais para o desenvolvimento das dinâmicas de luta. Na ocorrência dessas lutas, observamos as dinâmicas de contato, que buscam neutralizar o ataque pela força do oponente. 49 MULTIVIX EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 LUTAS LUTA DE AGARRE Fonte: Pixabay (2020). #PraCegoVer A imagem apresenta dois atletas no chão aplicando golpes de luta de agarre. As lutas de impacto/toque (o boxe, o tae kwon do, a capoeira, o kenjutsu, a es- grima e o kung fu), cujas distâncias são longas e alongadas, formam o grupo de toques intermitentes. A busca pelo alvo é sempre elaborada pelo conjun- to de habilidades corporais que, por vezes, utilizam elementos extras (armas) para desenvolver o combate. Quando a modalidade possui essas possibilida- des, é preciso compreendê-las como uma extensão corporal, algo que am- pliará a chance de alcance e o contato com corpo do adversário (CARNEIRO; PICOLI; SANTOS, 2015). Por fim, as mistas – Mixed Martial Arts (MMA) e o ninjutsu – requerem ao me- nos uma combinação das demais. Contudo, são requisitos um bom desem- penho do jogo e a interrelação entre as quatro distâncias. O conjunto de habi- lidades técnico-corporais exige ações de pegada, golpes percussivos (cabeça, mãos, joelhos e pés) ou, em casos específicos, a utilização de armamentos. Na concepção dos usos dessas modalidades, o praticante necessitarádesen- volver, a longo prazo, sua capacidade tático-técnica, a fim de desempenhar as habilidades específicas de uma luta combinada com outras, no intuito de conseguir desviar a atenção do oponente, uma vez que, por não ter apenas a especificidade em jogo, o elemento surpresa será a combinação de elemen- tos, ou mesmo a mudança de percurso ao longo do embate. 50 LUTAS MULTIVIX EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 Para seguir, temos as lutas de longa distância ou de precisão alongada. Essas práticas corporais geralmente utilizam elementos para prolongar o alcance. Logo, uma das características dessas modalidades esbarra na necessidade de um amplo domínio de implementos (espadas, bastões, lança, facão, entre ou- tros). Elas exigem um espaço para manuseio adequado do armamento. São exemplos dessas especificações a esgrima, o kendo e o kung fu. As habilidades corporais técnicas básicas das lutas de média distância são: Socos: Projeção de braço e antebraço em direção a um oponente. Chutes: Projeção de perna e coxa em direção a um oponente. Joelhadas: Projeção da articulação do joelho em direção a um oponente. Defesas com membros inferiores e superiores: Movimento dinâmico de reclusão do corpo, que visa bloquear a ação de uma cabeçada, soco, cotovelada, chute ou joelhada. Além disso, visa proteger de chaves que levem à imobilização. 51 MULTIVIX EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 LUTAS Já as habilidades corporais técnicas básicas das lutas de longa distância são: Empunhaduras: Ações de agarre/pegada, com a finalidade de propor algum golpe. Habilidades manipulativas: Ação motora de manuseio de algum tipo de armadura. Posturas: Cálculo para manutenção das estruturas corporais e equilíbrio ao propor ou receber algum golpe. Percepção geográfica: Habilidade de conceber a distância do oponente para propor um golpe, a fim de evitar gasto de energia pela perda de efetividade da ação deferida. A seguir, vamos estudar a situação macro e micro de forma grupal nas lutas. Acompanhe. 2.1.4 SITUAÇÃO MACRO E MICRO DE FORMA GRUPAL NAS LUTAS Millen Neto, Garcia e Votre (2016) argumentam que as lutas são organizadas a partir de seus contextos e, por eles, foi determinada sua difusão. Cada grupo social, ao desenvolver suas lutas, propôs dinâmicas de movimento que lhes conferiu características (GOMES, 2010). Na contemporaneidade, percebemos que a dinâmica da globalização ocasio- nou mudanças em muitas modalidades de lutas, principalmente por conta 52 LUTAS MULTIVIX EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 dos processos de esportivização. “O fator decisivo para a predominância desse processo foi a emergência de um novo mercado, que teve como principal veí- culo os pacotes pay-per-view de televisão [...]” (MILLEN NETO; GARCIA; VOTRE, 2016, p. 409). FATORES SOCIAIS Fonte: Plataforma Deduca (2020). #PraCegoVer A imagem apresenta o globo terrestre com diversos desenhos de pessoas em volta e setas ligando as pessoas umas às outras. O fato de vivermos um momento hipermidiático possibilita a produção de macro e micro-olhares às atividades de lutas. O caráter macro implica condi- ções de observarmos que o arcabouço histórico da humanidade permite que encontremos similaridades nas práticas de lutas (OLIVEIRA JUNIOR, 2019). Além disso, um olhar ampliado oportuniza uma compreensão de movimen- to, que deflagra que as artes marciais, ao serem esportivizadas, em muito per- deram suas características (GOMES, 2010). Já uma situação micro estabelece uma resistente defesa da manutenção de caracteres históricos das modalidades. Dessa afirmação decorre a assertiva das sequências de estudos genealógicos, a fim de ao menos mantermos vivas as tradições que são pilares para cada modalidade (OLIVEIRA JUNIOR, 2019). 53 MULTIVIX EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 LUTAS Um olhar dos grupos específicos de cada luta implica nosso entendimento de que suas reivindicações são singulares, pois cada modalidade apresenta, em algum grau ou medida, um ponto que a diferencia de outro, logo sua individualidade precisa ser mantida. Cada grupo defende sua historicidade, pelas práticas corporais que desenvolve e mantém ao longo dos anos (OLIVEIRA, 2019). A oralidade, por muito tempo, tem sido uma alternativa mais contundente para a manutenção e a difusão dos saberes que fundamentam práticas espe- cíficas de lutas (OLIVEIRA JUNIOR, 2019). Outro fator que auxilia nessa busca por compreender especificidades de cada luta é a geracionalidade. Esta, por sua vez, está implicada no entendimento de que os saberes dos mais antigos (ancestrais) são mais uma forma de recorrer aos processos históricos e usos do passado das práticas (GOMES, 2008). Assim, é preciso que compreendamos a importância da produção de conhe- cimento advindo da prática de lutas e, a partir disso, a observância desse pon- to na hora de planejarmos uma aula, abrirmos ou buscarmos um espaço que desenvolva trabalhos com alguma modalidade de lutas. 2.2 JOGOS DE LUTAS CORPO A CORPO Neste tópico, vamos compreender as características da situação de luta com golpes, com derrubada/imobilização/exclusão do espaço e com toque por im- plemento. Acompanhe. 2.2.1 SITUAÇÃO DE LUTA COM GOLPES Uma situação de luta com golpes antecede o combate propriamente dito, quando falamos em jogos de oposição; ou é a luta em si, ao pensarmos na competição. As ocasiões que preconizam os golpes são aquelas de treino em que os adeptos necessitam experimentar-se no toque, via contato direto, para que percebam sua efetividade em uma competição. Os golpes podem ser desenvolvidos unitariamente ou em sequência. Essas 54 LUTAS MULTIVIX EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 situações são necessárias, pois auxiliam na aquisição de repertórios (simples e complexos), que reiteram habilidades motoras específicas de cada modalida- de. A promoção de golpes é precedida de processos condicionais de ensino, nos quais os praticantes aprendem a recebê-los, aplicá-los, bem como a reali- zar uma queda quando atingidos. BOXE Fonte: Pixabay (2020). #PraCegoVer A imagem apresenta um adepto do boxe treinando os golpes. Uma situação de treino orienta habilidades de campo global, isto é, sempre preconiza a bilateralidade (esquerda e direita), os diferentes níveis de altura, as dinâmicas de velocidade, além da concepção de organização corporal cog- nitiva para propor um ataque ou se defender. Já em uma competição, essas situações são constituintes de jogos de troca, sobre os quais não temos gerência, uma vez que são sempre dependentes da investidura do opositor. No combate, as lógicas de estratégia são postas à prova, e o praticante é geralmente avaliado pelas respostas motoras que exi- be nesses momentos. 2.2.2 SITUAÇÃO DE LUTAS COM DERRUBADA/ IMOBILIZAÇÃO/EXCLUSÃO DO ESPAÇO Nos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs), afirma-se que “As lutas são disputas em que os oponentes devem ser subjugados, com técnicas e estra- tégias de desequilíbrio, contusão, imobilização ou exclusão de um determina- do espaço na combinação de ações de ataque e defesa.” (BRASIL, 1998, p. 70). 55 MULTIVIX EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 LUTAS No cenário apresentado, podemos observar uma sistematização dos golpes cujo objetivo é o desenvolvimento ético de uma atividade de luta. Nessa es- teira de pensamento, temos atividades que sintetizam e explicitam a finaliza- ção de algumas modalidades, como: derrubar, imobilizar e excluir do espaço original (BRASIL, 1998). A derrubada consiste no ato de fazer com que o adversário toque com as cos- tas no chão e permaneça no solo. A imobilização implica oato de paralisar o oponente. Já a exclusão do espaço significa a ação de movência do competi- dor, a fim de deslocá-lo a quaisquer direções. A luta olímpica é um exemplo completo dessas ações. Dentro dessas dinâmicas de lutas, preconiza-se a efi- cácia do gesto, visto que ele pode definir a finalização do combate (OLIVIER, 2000). As competências físicas de derrubar, imobilizar e excluir constituem a funda- mentação básica do desenvolvimento de qualquer modalidade de luta. Como exemplos, temos: desequilíbrio (judô, luta olímpica – wrestling ou luta greco- -romana), imobilização (jiu-jitsu), exclusão (sumô) e contusão (boxe, kung-fu, caratê e tae kwon do) (OLIVEIRA JÚNIOR, 2019). 2.2.3 SITUAÇÃO DE LUTAS COM TOQUE POR IMPLEMENTO Nas situações em que ocorrem utilização de implementos, observamos a existência de um arsenal de aparelhos que visam manter a integridade física do oponente, por exemplo: coletes, máscaras, capacetes, munhequeiras e ca- neleiras. As modalidades, nessa classificação, representam as lutas de longa e alon- gada distância, que são determinadas pelo desenvolvimento das formas de combate (CARNEIRO; PÍCOLI; SANTOS, 2015). Os implementos representam um prolongamento (espadas, bastões, entre outros) das estruturas corporais e buscam tocar o adversário em locais especificados pelo manual de pontua- ção, sem a existência do agarre. 56 LUTAS MULTIVIX EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 IMPLEMENTO (ESPADA) Fonte: Pixabay (2020). #PraCegoVer A imagem apresenta um adepto da luta com implemento, no caso, uma espada. A necessidade e a utilização dos implementos nas artes marciais e lutas re- querem, “[...] no processo de ensino-aprendizagem, maneiras semelhantes de manipulação, formas de deslocamento, esquivas, ruptura dos padrões de luta de contato e semicontato e incorporação da espada na lógica da luta [...]” (GO- MES et al., 2010, p. 217). Além disso, o lutador deve “[...] se manter afastado para estar protegido. A proximidade também vem em função da ação do ataque e se relaciona com o implemento, como se este fosse uma extensão do corpo de quem luta.” (GOMES et al., 2010, p. 219). 57 MULTIVIX EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 LUTAS CONCLUSÃO Visualizamos, nesta unidade, que a classificação das artes marciais e das lutas é dependente do contexto histórico, da velocidade e da distância dos golpes. Compreendemos a função dos jogos de oposição/atividades de lutas enquan- to possibilitadores das dinâmicas de ensino-aprendizagem. Somado a esses saberes, percebemos que a organização macro e micro das modalidades de lutas são dependentes das relações culturais e das temporalidades em que se situam. Além dos conhecimentos apresentados, tivemos uma noção acerca das lutas corpo a corpo, como ferramentas que dialogam com os jogos de oposição e assumem função semelhante, de ação pedagógica. Nessa esteira de pensa- mento, aprendemos sobre a situação das lutas com golpes, com derrubada, imobilização e exclusão do espaço e o quanto elas são imprescindíveis para compreendermos a organização das artes marciais e das lutas. Por fim, desenvolvemos reflexões sobre a utilização de implementos para ocorrência de um combate nas lutas de longa ou alongada distância. No cer- ne dessas ideias está todo o processo didático da teoria dos jogos e a organi- zação das lutas, na contemporaneidade, a partir de situações macro e micro das dinâmicas das artes marciais. UNIDADE 3 > Avaliar e caracterizar as lutas quanto ao processo de ensino- aprendizagem. > Avaliar as potencialidades quando aos ensinos procedimental, atitudinal e conceitual. OBJETIVO Ao final desta unidade, esperamos que possa: 58 MULTIVIX EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 LUTAS 59 MULTIVIX EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 LUTAS 3. FUNDAMENTAÇÃO, ORGANIZAÇÃO E ESTRUTURAÇÃO DIDÁTICO- METODOLÓGICA DO CONTEÚDO DAS LUTAS INTRODUÇÃO Nesta unidade, vamos tratar sobre a didática, a pedagogia e a metodologia do ensino de lutas, tanto na escola como na academia. Por meio desses co- nhecimentos, vamos estabelecer um plano de ensino e uma prática docente coerentes, de acordo com o local onde vamos atuar e com as características e os objetivos pedagógicos das lutas nos seus diferentes contextos. Muitos pesquisadores das metodologias e das ciências aplicadas no âmbi- to das lutas, como Breda et al. (2010), Cartaxo (2011), Del Vecchio e Franchini (2012), Rufino e Darido (2015), entre outros, encontraram uma série de proble- mas relacionados ao ensino de lutas tanto nas escolas como nas academias. Assim sendo, relacionando os argumentos desses autores com o ethos das lutas, podemos verificar que: • existe um conflito entre as práticas características de cada modalidade de luta (tradicionais ou mais usadas ou eficientes) com as teorias da pedagogia e das ciências do esporte; • o conflito e o distanciamento dos mestres de lutas do ambiente acadêmico, assim como o pouco conhecimento sobre as lutas nas universidades, limitam pesquisas pontuais e acarretam o desconhecimento das lutas nas suas características; • ocorre a falta de preparação do profissional de Educação Física para atura em lutas, assim como a falta de preparação dos profissionais em lutas para atuar na escola; • as rixas entre as modalidades de lutas também refletem no ambiente acadêmico, pois o pesquisador se foca em uma única modalidade; • a nova Base Nacional Comum Curricular (BNCC), de 2018, em substituição aos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs), de 1997, exige o ensino de lutas 60 LUTAS MULTIVIX EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 nas escolas e, consequentemente, exige das universidades a importância devida ao tema, em especial para a formação inicial dos novos professores para atuar na Educação Física escolar. Dessa maneira, vamos focar nosso estudo no que diz respeito à fundamenta- ção, à organização e à estruturação didático-metodológica do conteúdo das luta, de forma que possamos ter ferramentas práticas que permitam atuar no ensino de lutas na escola e reconhecer os procedimentos didáticos e metodo- lógicos do ensino de lutas nas academias. Além disso, para aqueles que já estão inseridos no universo das lutas e dese- jam ser instrutores ou mestres, este estudo permitirá uma organização mais clara das aulas e das metodologias, uma ponte entre as tradições das lutas e os avanços acadêmicos, ou seja, uma ferramenta indispensável para um en- sino diferenciado. 3. 1 PROCESSO PEDAGÓGICO DAS LUTAS Para entendermos o processo pedagógico das lutas, devemos voltar no tem- po e fazermos um comparativo das diferentes referências históricas a respeito do tema. No Ocidente, por exemplo, sempre existiu uma distinção entre as lutas espor- tivas – conhecidas como esportes de combate – e a lutas militares – ou ar- tes marciais. Isso fica claro na Paideia (παιδεια), ou educação grega, em obras como A República, de Platão, que distingue a educação dos guardiões da po- lis , dos soldados e dos atletas, e nos vários livros de Xenofonte a respeito da formação do Rei, dos cavaleiros, dos soldados e dos homens úteis para a so- ciedade – livro baseado na educação espartana e persa (JAEGER, 2013). 61 MULTIVIX EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 LUTAS PLATÃO E A EDUCAÇÃO GREGA Fonte: Plataforma Deduca (2020). #PraCegoVer Imagem da estátua do filóso grego Platã Isso é possível ver nas peças de arte grega, em que os homens nus lutando re- presentam os atletas olímpicos, diferentes dos guerreiros que aparecem com elmos, escudos e espadas em cenas de batalha. No Oriente, mais especificamente na Índia e na China, o registro das lutas e
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