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CIENCIAS DA RELIGIÃO-AULAS 5

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(
Aula
 
5:
 
Escolas
 
Históricas
Disciplina:
 
Ciências
 
da
 
Religião
)
Apresentação:
As religiões estão presentes entre homens e mulheres desde há muito tempo, conforme você viu na aula 04. Você já deve ter se perguntado: se depois de tantos estudos, pesquisas e investigações ainda há coisas por se descobrir ou por se reinterpretar à luz de novos conceitos e argumentos?
Durante esta aula tentaremos responder a essa questão.
Objetivos:
Compreender as escolas históricas das Ciências da Religião;
Identificar as características das escolas históricas nas Ciências da Religião; Reconhecer fatos e contextos das escolas históricas nas Ciências da Religião.
Introdução
Você é convidado a refletir sobre as escolas que estudaram a religião do ponto de vista histórico. Como elas construíram essa abordagem? Essa construção deve levar em conta a crise das ciências humanas.
 (
Leia
 
este
 
pequeno
 
texto
 
sobre
 
isso:
GHIRALDELLI
 
JR.,
 
Paulo.
 
Ciências
 
humanas
 
em
 
crise
 
—
 
qual
 
crise?
<htt
p
s://
g
oo.
g
l/4
y
Zbhm>
Leitura
)
Iniciaremos a aula com uma reflexão1.
O começo da História da Religião
Você pode se perguntar: quando surgiu o termo “História das Religiões”?
Esse termo teria aparecido, pela primeira vez, em 1867, dentro das obras escritas por Friedrich Max Müller (1823-1900), linguista, historiador, orientalista (estudioso das culturas e civilizações orientais) e mitólogo (estudioso dos mitos).
Esse autor escreveu muitos volumes sobre mitologia comparada de diversas civilizações, em especial, as da Índia. O que pensa Max Müller a esse respeito?
Para ele, a Ciência da Religião (no singular) conseguiria, através da linguagem, conhecer as culturas a partir das instituições religiosas, e, com o rigor científico, se faria o estudo das religiões sob o método comparativo sem considerar nenhuma estrutura religiosa superior à outra. Reflita sobre quem faria essa imensa tarefa de estudo e pesquisa.
Seria a historiografia dos símbolos, dos mitos e das linguagens das culturas e das civilizações que forneceria a base para a Ciência da Religião ser uma ciência compreensiva de um dos mais poderosos fenômenos humanos, a religião.
 (
Friedrich
 
Max
 
Müller
 
(1823-1900)
)
Em cada época da história universal humana, a religião encarnou sentidos específicos estudados dentro desse contexto singular. Esse pensador alemão propôs que toda religião começaria com um mito, e de um mito que pode ser entendido como um conjunto de narrativas coletivas que contam histórias de origem, virtudes, heróis, valores, mistérios, movimentos e trajetórias (de pessoas e de grupos).
Essas narrativas são sentidas por fiéis, adeptos e crentes como uma avalanche de linguagem que toma corpo e se encarna em uma história. Os mitos fundem as imagens do mundo e das práticas sociais em uma unidade imaginada e ideal.
A razão histórica como razão científica procura analisar, destrinchar, desentranhar, desbanalizar e desnaturalizar as estruturas, inclusive as estruturas míticas. O logos é diferente do mythos. Mas, você se pergunta: o que vem a ser essas duas palavras?
São expressões da língua grega:
 (
Significado
 
amplo,
 
utilizado
 
de
 
diversas
 
maneiras
 
ao
 
longo
 
da
 
História
 
da
 
Filosofia.
 
Para o filósofo grego Heráclito de Éfeso (535 a.C.- 475 a.C.), o 
logos 
é o
 
responsável pela conexão entre o discurso racional e a estrutura racional do
 
mundo. Aristóteles (384 a.C-322 a.C.) definiu 
logos 
como um dos três modos de
 
persuasão
 
(os
 
outros
 
são
 
ethos
 
e
 
pathos
)
 
o
 
argumento
 
da
 
razão,
 
descrito
 
em
 
sua
Lo
g
os
)
 (
obra 
Ars Rethorica 
(Arte da retórica). Depois, outros sentidos foram
 
acrescentados,
 
como
 
explicação
 
racional,
 
lei
 
universal,
 
discurso
 
lógico
 
e
 
sabedoria.
)
 (
Significa
 
mistério,
 
desconhecido,
 
intrigante,
 
aquilo
 
que
 
permanece
 
não
 
esclarecido
 
completamente, imaginário, aquilo que encanta. O mito, nas palavras do filósofo
 
Georges Gusdorf, “guardará sempre o sentido de um longo olhar em direção à
 
integridade perdida e algo assim como de uma intenção restitutiva” (GUSDORF,
 
1980,
 
p.
 
24).
M
y
thos
)
 (
Em geral, o senso-comum acostumou a colocar 
mythos 
e logos em oposição
 
absoluta, mas, é preciso rever isso. Nas palavras do filósofo e historiador Carlos
 
Lima
 
(1990,
 
p.
 
208):
 
o
 
“discurso
 
lógico,
 
ao
 
chegar
 
ao
 
fim
 
de
 
si
 
mesmo,
 
descobre-
 
se como sendo um mito construído pela razão e que, já agora, deve ser
 
executado
 
na
 
prática
 
e
 
tornar
 
realidade
 
pelo
 
trabalho
 
da
 
ação”.
Atenção
)
Os primeiros passos da História da Religião
Como você viu nas aulas anteriores, um dos primeiros pensadores a propor uma abordagem mais histórica foi David Hume, em sua obra História natural da religião (publicada em 1757). Mas, veja que, na segunda metade do século XIX, ocorreu uma forte polêmica entre dois pesquisadores:
 (
Adolf
 
von
 
Harnak
 
(
1851-1930
)
)
 (
Reconhecia
 
que
 
as
 
religiões
 
deveriam
 
ser
 
estudadas
 
segundo
 
o
 
método
 
histórico
 
e
 
que o historiador deveria ter em vista o contexto histórico e social mais amplo,
 
contudo a Teologia continuava, ao lado da História e da Filologia, como disciplina
 
central,
 
ainda
 
mais
 
porque
 
se
 
referia
 
ao
 
Cristianismo.
)
 (
Diferenciou
 
História
 
Eclesiástica
 
e
 
Teologia
 
e
 
identificou,
 
na
 
primeira,
 
a
 
origem
 
da
 
História das Religiões e na segunda, pelo menos naquela época, como centrada
 
apenas em uma única religião (Cristianismo) e, por isso mesmo, não poderia
 
conhecer
 
bem
 
nenhuma
 
outra
 
religião.
Max
 
Müller
 
(
1823-1900
)
)
Observe que a modernidade significou a pluralização e diferenciação das sociedades europeias e possibilitou o advento da liberdade religiosa e, com isso, a História Eclesiástica se transformou em História das Religiões.
O termo ‘religião’ passou a significar algo mais que Cristianismo. Tomou corpo o método histórico-filológico baseado nos seguintes elementos:
Esse grande projeto científico das Ciências da Religião recebeu o nome de História comparada das religiões, pois visava comparar e contrastar as religiões e suas tradições, seus mitos, ritos etc., construindo uma morfologia religiosa.
A escola histórico-cultural de Viena
Reflita um pouco sobre uma das mais poderosas ideias do século XX, o Evolucionismo, que se tornou uma doutrina. Essa doutrina dizia que todas as culturas, todos os povos e todas as civilizações passariam por diversas fases evolutivas, e isso de forma universal e necessária.
Você pode se questionar: qual o problema dessa ideia?
O problema dessa ideia, nas Ciências Sociais e Humanas, e por extensão, nas Ciências da Religião, é que ela toma fenômenos, documentos, fatos e eventos de seus contextos originais e os coloca em paralelo e combina, de forma errada, coisas bem diferentes.
Contra essa ideia, repare, surgiram movimentos intelectuais e metodologias que questionaram o Evolucionismo em sua ideia central, a de evolução universal da cultura, da História e da religião, de forma necessária e inevitável, saindo das formas mais simples, passando por etapas, até chegar às formas mais evoluídas.
É nesse clima, que ganha corpo uma nova orientação, o difusionismo. Você se perguntará: o que vem a ser essa nova orientação?
É uma corrente de ideias que se opõe ao Evolucionismo baseada na ideia de que os elementos culturais se difundem e se propagam, misturando-se ao longo do tempo.
Havia três diretivas de investigação:
01
A que estuda a difusão espacial dos elementos que compõem uma cultura (machado, flecha, calçado, técnicas de cultivo, mitos e ritos).
02
A que estuda as áreas culturais baseada em critérios sincrônico-geográficos globais (por exemplo, como foi que determinadas estruturas semelhantes de um mito ou de um ritual se difundiram em distintas regiões a partir de alguns vetores).
03
A que investiga as culturas em seus desenvolvimentos e suas intersecções e pontos de contato, tensão, mistura e conflitos.Das diretivas 2 e 3, emerge a escola de Viena, liderada por Wilhelm Schmidt (1862- 1954), padre vienense e intelectual católico.
Você poderia indagar: qual era o método dessa escola?
O método consistia em pesquisar as influências de uma cultura sobre a outra. O olhar dessa escola recaiu de forma mais enfática sobre as sociedades étnicas, coletando muitas fontes orais (canções, músicas, técnicas variadas de produção e vida, ritos, mitos, lendas).
Mas, para que isso?
O objetivo da pesquisa era construir um sistema de princípios comparativos e identificar critérios que ajudassem a distinguir os diversos tipos de sociedade e cosmovisão.
Na ideia de Wilhelm Schmidt eram dois os objetivos de comparar:
Observe mais um pouco o que Schmidt pensou: as religiões seriam compreendidas enquanto elementos do jogo de causa e efeito em outros campos e outros fatores, como civilizações que exerceram semelhante influência de causa e efeito no campo da religião.
Aí, você poderia se perguntar: como seriam possivelmente esses nexos causais?
Veja um exemplo:
 (
Exemplo
)
 (
Um historiador escocês das religiões, Alfred Lang (1844-1912), trouxe uma
 
hipótese muito controversa acerca da origem dos cultos religiosos. Dizia ele ter
 
encontrado evidências de que muitas populações não letradas e não
 
escolarizadas,
 
em
 
especial
 
na
 
África,
 
acreditam
 
em
 
um
 
Ser
 
Supremo,
 
com
 
claras
 
funções de referência ética e com a função de criador primordial que, depois de
 
criar,
 
retraiu-se
 
e
 
permaneceu
 
inativo
 
após
 
contemplar
 
as
 
maldades
 
humanas.
)
O que está na base dessa ideia seria o monoteísmo7 ético. Schmidt escreveu uma obra com 12 volumes (Ursprungder Gottesidee , traduzido como Gênese da ideia de Deus) para tentar provar a tese do Urmonotheismus.
Você poderia estar curioso e perguntar: por quê?
Porque esse monoteísmo seria, na visão dessa escola, a forma lógica e racional mais simples e original e se harmonizaria com uma suposta necessidade — universal e também original — do espírito humano de conhecer e compreender a origem do cosmos e da vida.
A metodologia dessa escola é chamada de hermenêutica teológica, por tentar submeter os dados das culturas e religiões a ideias teológicas de orientação cristã.
A Escola Italiana de História das Religiões
Um dos fatos que marcaram seu surgimento, foi a criação da cátedra de Storia delle religioni na Universidade di Roma, em 1924, e da revista Studi e materiali di Storia dele religioni, em 1925. Essa escola teve que lutar contra dois problemas, a ação repressora da Igreja Católica que estava interessada em combater os “modernismos” e poucos antecedentes nas universidades italianas.
Naquela época, houve um conflito entre uma corrente teórica chamada historicismo italiano, liderada pelo filósofo e historiador Benedetto Croce (1866-1952) que defendia o storicismo assoluto [historicismo absoluto] e outros pensadores que defendiam a autonomia das religiões como categoria disciplinar na história.
Veja que o historicismo absoluto defendia a história como o verdadeiro conhecimento do real, do universal concreto, ou seja, o conhecimento histórico é todo o conhecimento. A história é um tribunal, para Croce, que não condena e nem absolve, não faz censura nem faz louvor, pois apenas conhece e compreende.
 (
Para
 
Croce,
 
a
 
História
 
das
 
Religiões
 
seria
 
apenas
 
uma
 
coletânea
 
erudita
 
de
 
dados
 
e, por isso, não seria uma ciência ou disciplina científica com legitimidade. Para
 
afirmar a validade da História das Religiões surgiram críticas em oposição à tese
 
do
 
padre
 
de
 
Viena,
 
por
 
pesquisadores
 
daquela
 
que
 
ficou
 
conhecida
 
como
 
a
 
Escola
 
Italiana
 
de
 
História
 
das
 
Religiões.
Saiba
 
mais
)
Raffaele Pettazzoni (1883-1959), um dos líderes da Escola Italiana de História das Religiões, lista uma série de razões para a rejeição da hipótese do monoteísmo primordial:
Algumas ideias da Escola Italiana de História das Religiões
Pettazzoni teve de marcar o território da História das Religiões diante de dois obstáculos:
01
A pressão da Igreja Católica em sua ambição de concentrar esforços em combater os “modernismos” que, em sua visão, atrapalhavam; e
02
Setores das universidades e comunidades de cientistas desfavoráveis ao estudo da religião a partir de disciplinas e métodos específicos. A ideia central era conduzir a análise da religião ou das religiões, ao plano da pesquisa histórica, elegendo a História como a realidade dinâmica e dialética do ser e do vir a ser de cada cultura.
Pettazzoni demonstra exemplarmente a proposta da Escola Italiana de História das Religiões no livro La religione primitiva in Sardegna (A religião primitiva na Sardenha). Você pode se perguntar: qual seriam os pontos essenciais dessa proposta?
Primeiro ponto
A defesa da laicidade da pesquisa histórico religiosa
Segundo ponto
A introdução da metodologia comparativa
Pettazzoni dedicou-se aos estudos da religião no mundo antigo e oriental e aos estudos etnológicos (sociedades tribais étnicas sem escrita). As obras visavam desmontar a tese da escola de Viena, são ela:
Dio: formazione e sviluppo del monoteismo nella storia delle religione (Deus: formação e desenvolvimento do monoteísmo na História da Religião)
La confessioni dei peccatti (As confissões dos pecados)
Depois da Segunda Guerra Mundial, publicou 4 volumes de Mitti e legende (Mitos e lendas) e L’onniscienza di Dio (A onisciência de Deus), em que procurou encerrar a disputa com as ideias do monoteísmo primordial.
Pettazzoni toma um dos atributos de Deus, a onisciência (a ciência de tudo e todos), a partir dele, percorreu muitos dados e detalhes históricos em sociedades étnicas e conclui com estas palavras:
 (
A
 
ideia
 
primitiva
 
de
 
ser
 
supremo
 
não
 
é
 
um
 
absoluto
 
a
 
priori.
 
Ela
 
surge
 
no
 
pensamento
 
humano
 
das
 
próprias
 
condições
 
da
 
existência
 
humana,
 
e
 
como
 
essas
 
condições
 
variam
 
segundo
 
as
 
diversas
 
fases
 
e
 
formas
 
da
 
civilização
 
primitiva,
 
varia
 
também,
 
no
 
seio
 
delas,
 
a
 
forma
 
do
 
ser
 
supremo.
(FIROLAMO,
 
2016,
 
p.
 
67).
)
A onisciência é um atributo das entidades ou divindades celestes ou astrais (luz e sabedoria conjugadas). Pare para refletir sobre a ideia dos pesquisadores da escola de Viena:
FIROLAMO; PRANDI, 2016.
Para o líder da escola italiana, a criatividade não seria o mais importante e distintivo atributo dos seres supremos. “Por quê?”, você se perguntaria.
Segundo as ideias de Pettazzoni, os mitos de criação são parte dos mitos de origem e a criatividade é parte do mito da criação, que possui uma função específica: dar a justificativa para a existência e estrutura atual do cosmos e da vida.
Preste atenção nos seguintes exemplos e fatos, pois as ideias de ser supremo, criação e origem estão relacionadas às estruturas sociais, políticas e econômicas das sociedades e civilizações:
 (
Em
 
sociedades
 
agrícolas,
 
o
 
ser
 
supremo,
 
com
 
poucas
 
exceções,
 
é
 
a
 
grande
 
Mãe
 
Terra,
 
que
 
se
 
torna
 
a
 
fonte
 
de
 
sustento
 
e
 
vida
 
para
 
os
 
seres
 
humanos.
1
)
 (
Em
 
sociedades
 
do
 
deserto,
 
estepes
 
e
 
planaltos,
 
o
 
culto
 
centrava-se,
 
com
 
poucas
 
exceções, em deidades masculinas celestes e estas tinham a qualidade da
 
onisciência
 
(relação
 
simbólica
 
com
 
o
 
céu,
 
amplo,
 
aberto,
 
profundo).
2
) (
Em
 
tribos
 
baseadas
 
em
 
uma
 
economia
 
de
 
caça-coleta,
 
a
 
ideia
 
de
 
ser
 
supremo
 
estava
 
articulada
 
a
 
duas
 
tipologias
 
religiosas:
uma mais primitiva, que se ligava à floresta (onde vivia um Senhor-
 
Divindade
 
com
 
seus
 
animais,
 
com
 
capacidade
 
de
 
onividência
 
má
g
ico-
 
oracular
2
)
 
e
uma
 
posterior,
 
que
 
fazia
 
do
 
Senhor
 
dos
 
animais
 
um
 
ser
 
celeste.
3
) (
Não há relação causal entre o desenvolvimento social, econômico e político e a
 
ideia
 
de
 
monoteísmo,
 
pois
 
há
 
civilizações
 
que
 
foram
 
politeístas
 
desdesuas
 
origens
 
(gregos,
 
egípcios
 
etc.).
4
)
Veja que, segundo Pettazzoni, para explicar como o monoteísmo se formou, é preciso partir das religiões de cunho monoteísta (Judaísmo, Zoroastrismo3, Cristianismo e Islamismo) e de como o politeísmo foi negado. Você pode ser perguntar: como isso ocorre?
Em geral, ocorre por obra de um reformador (por exemplo, Abraão, Zoroastro, Jesus e Mohammad4) que anuncia uma nova religião, rejeita as divindades anteriores (negação do politeísmo) e proclama a unicidade de Deus e estabelece a saída da magia ritual dos cultos para a ética da conduta de vida.
 (
Alerta
 
metodológico
Toda tipologia ou classificação é um modelo teórico e todo modelo teórico possui
 
limites. Nenhuma classificação ou tipologia substitui a realidade, que é sempre
 
maior,
 
mutante,
 
infinda.
 
A
 
função
 
das
 
tipologias
 
classificatórias
 
é
 
dar
 
mais
 
clareza
 
e
 
uma
 
melhor
 
interpretação
 
à
 
enorme
 
quantidade
 
de
 
dados
 
e
 
informações
 
obtidas
 
com
 
as
 
investigações
 
e
 
pesquisas.
Saiba
 
mais
)
Há, de acordo com Pettazzoni, uma luta entre uma fé politeísta, que se enfraquece e uma nova consciência religiosa, a do monoteísmo, que é afirmada. Na escola italiana, o método comparativo é consolidado e a preocupação com as diferenças e semelhanças é constante, procurando equilibrar essas duas polaridades.
“E com que mais essa escola se ocupa?”, você poderia refletir.
Suas preocupações se giram em torno:
Os continuadores da Escola Italiana de História das Religiões
Os principais “discípulos” de Pettazzoni continuaram as trilhas por ele abertas, embora com diferenças. “O que eles pensaram?”, você poderia perguntar. Veja abaixo a lista:
Angelo Brelich (1913-1977)
Húngaro de nascimento, escreveu obras que marcavam a defesa do legado do fundador, Perché storicismo e quale storicismo (Porque historicismo e qual historicismo). Em suas ideias, há uma interpretação sobre o dilema entre a profissão de fé (adesão a uma religião) e a pesquisa histórico-religiosa (FIROLAMO; PRANDI, 2016).
Haveria um claro conflito entre essas duas posições, porque o pesquisador procura razões históricas, portanto humanas, nas formações e estruturas culturais-religiosas.
O que isso diz para as ciências da religião?
Diz que o historiador não pode usar instrumentos metodológicos e epistemológicos que estejam baseados em princípios metafísicos (que se situam além da crítica científica) ou em valores que transcendam a história (um absoluto além de tudo e todos, por exemplo).
Quando os fatos religiosos são vistos como produtos históricos, sociais e culturais, submetidos aos métodos históricos e quando as categorias de análise usadas também passam a ser criticadas em sua origem e desenvolvimento (segundo as suas temporalidades e contextos), as atitudes preconceituosas e racistas são criticadas.
Brelich também fez um estudo sobre os deuses gregos (I Greci e gli dei — Os gregos e os deuses) ressaltando a originalidade da religião grega. O que haveria de interessante nessa obra? você poderia ficar curioso.
Em geral, o politeísmo é explicado pela tese de que teria havido, no decorrer dos séculos, a personalização de forças naturais e funções sociais, emergindo daí os deuses, que passaram a ser venerados. Nesse aspecto, a tensão entre a escola fenomenológica e histórica é forte: a armadilha fenomenológica, na visão da escola italiana, é a proposição de um modelo universal que contenha a multiplicidade dos sistemas religiosos, diluindo o caráter processual.
Você pode refletir sobre como compreender esses processos. A religião gira em torno de dois eixos:
histórias sagradas (mitos) e comportamentos, técnicas, instrumentos e materiais (ritos).
As histórias são contadas em ocasiões específicas, com relatos das origens (il nillo tempore — assim era no princípio, naquele tempo etc.), cuja função é dupla:
estabilizar a realidade do momento em que se vive;
 (
emprestar
 
certa
 
ordem
 
e
 
sentido
 
às
 
coisas
 
que
 
variam
 
de
 
acordo
 
com
 
as
 
cosmologias
 
e
 
religiões.
Os ritos teriam uma função. Nas palavras de Brelich, é preciso explicar a
 
permanência
 
das
 
religiões
 
como
 
o
 
esforço
 
das
 
sociedades.
 
Daí
 
ele
 
deriva
 
uma
 
da
 
etimologia
 
latina
 
da
 
palavra
 
culto
 
(
colere
,
 
cultivar,
 
cuidar):
 
os
 
homens
 
fazem
 
os
 
deuses existirem, os seres humanos cultivam os deuses (culto e cultivo, com
 
semântica,
 
ou
 
sentido,
 
muito
 
próximos).
Reflita
 
um
 
pouco
 
os
 
outros
 
continuadores
 
da
 
escola
 
italiana.
)
Ernesto De Martino (1908-1965)
De Martino conseguiu articular, nos estudos históricos-religiosos, as sugestões da psicanálise freudiana, do marxismo e das filosofias da existência. Dedicou-se a estudos das presenças religiosas na Itália, e escreveu alguns ensaios teóricos nos quais criticou Otto e a concepção do sagrado. Qual seria a crítica
De Martino diz que o numinoso de Otto não pertence à metodologia dos estudos históricos, mas à esfera dos testemunhos diretos e, por isso mesmo, mais no campo de uma fonte de informação religiosa ou uma fonte mística, mais do que um método e uma teoria sobre o sagrado e a religião.
Uma de suas grandes contribuições: dar espaço aos estudos das religiões populares, dos sistemas mágicos e religiosos do povo simples e camponês, religiões que eram desprezadas e sofriam forte preconceito e incompreensão. Por exemplo, os estudos sobre os cantos fúnebres e as técnicas usadas para superar o luto. Veja no livro Morte e pianto rituale nel mondo antico (Morte e pranto no mundo antigo).
Com a análise linguística das antigas canções, técnicas de luto e histórias, De Martino conclui que entre as antigas religiões mediterrânicas e o Cristianismo houve uma relação de subordinação e ressignificação, ou seja, as ideias e concepções de morte das tradições agrárias foram afetadas pelas ideias e concepções de morte e ressurreição cristã, havendo o que foi chamado de cultura hegemônica (dominante) e cultura subalterna (dominada), em uma convivência muito complexa e tensa.
De Martino também estudou a relação entre magia popular (encantamento, mau- olhado etc.) e o Cristianismo católico (missa) e percebeu que a bruxaria e o sacramento, a oração católica e o exorcismo mágico tinham uma relação de afastamento no plano simbólico-cultural, mas proximidade no plano dos desejos e
das intenções, a fuga momentânea da história para que o ser humano volte a mergulhar novamente na história, mas protegido dos riscos e tensões pelos ritos e mitos mágicos e religiosos.
Na aula sobre as escolas antropológicas você aprenderá as conceituações de magia e de religião. Um dos estudos mais importantes de De Martino — La terra del remorso — se concentrou sobre um antigo fenômeno popular, o tarantismo, típico da região rural de Lucca e Puglia (Itália).
Estes pequenos vídeos trazem para você uma noção do fenômeno:
Tarantismo, disponível em: https://www. youtube .com/watch? v=igUTPVPdA-E <https://www.youtube.com/watch?v=igUTPVPdA- E> , acesso em 08 fev. 2018 e
La taranta, disponível em: https://www.youtube. com/watch? v=PTi_ hAdwsR0 <https://www.youtube.com/watch?v=PTi_hAdwsR0> , acesso em 08 fev. 2018.
O fenômeno ocorria, em geral, com mulheres durante a colheita que ficavam em estado de transe neurótico. A terapia para curar esse estado de agitação, consistia em danças e cantos com violino, tambor e harmônica, envolvendo uma longa mescla de elementos míticos e religiosos das religiões dos romanos e gregos ao Cristianismo católico. O ato final da cura ocorria durante as festas dedicadas a São Pedro e São Paulo.
O transe foi associado à picada da tarântula (aranha), comum na época das colheitas, daí o nome de tarantismo e da tarantela, uma tradicional dança folclórica. Não se sabe bem a origem do tarantismo. Saiba que explicações e hipóteses foram levantadas, desde as picadas de insetos (aranhas) a manifestações de desequilíbrio psiquiátrico. Mas, De Martino mostra que essas explicações eram insuficientes e deveriam ser vistasdentro de um quadro mais amplo (Psicanálise, Antropologia, Mitologia etc.) que levasse em conta a forte opressão sofrida pela mulher.
 (
Por
 
fim,
 
pense
 
um
 
pouco
 
na
 
contribuição
 
do
 
terceiro
 
membro
 
da
 
Escola
 
Italiana
 
de
 
História
 
das
 
Religiões,
 
Lanternari.
Sua
 
reflexão
 
acompanha,
 
em
 
linhas
 
gerais,
 
a
 
proposta
 
da
 
escola
 
italiana.
 
Porém,
 
sua
 
escolha
 
metodológica
 
o
 
levou
 
a
 
tratar
 
de
 
fenômenos
 
religiosos
 
e
 
culturais
 
de
 
fronteira,
 
isto
 
é,
 
fenômenos
 
típicos
 
de
 
zonas
 
em
 
que
 
pressões
 
coloniais
 
ou
 
fortes
 
transformações
 
sociais
 
e
 
econômicas
 
geraram
 
sincretismos
 
religiosos.
Vittorio
 
Lanternari
 
(
1918-2010
)
)
 (
Dentro dessa temática, o que mais mobiliza Lanternari é a do
 
encontro/desencontro
 
histórico-cultural
 
e
 
histórico-religioso
 
entre
 
o
 
Ocidente
 
e
 
o
 
Terceiro
 
Mundo
 
(países
 
e
 
regiões
 
pobres
 
ou
 
em
 
desenvolvimento).
Outra ideia de Lanternari é a crítica a teorias que reduzem a religião a um
 
instrumento
 
de
 
domínio
 
ou
 
ideologia
 
conservadora,
 
como
 
faz
 
o
 
marxismo
 
vulgar,
 
conjunto
 
de
 
autores
 
que,
 
adotando
 
as
 
ideias
 
de
 
Karl
 
Marx,
 
as
 
banalizaram.
A
 
religião
 
pode
 
ser
 
instrumento
 
de
 
transformação
 
social.
 
Por
 
isso,
 
na
 
ótica
 
desse
 
pesquisador italiano, é necessário estudar as religiões em suas trajetórias no
 
tempo
 
e
 
no
 
espaço.
Um dos livros mais importantes de Lanternari, traduzido para o português como
 
“As
 
religiões
 
dos
 
oprimidos”
 
(
Movimenti
 
religiosi
 
di
 
libertà
 
e
 
di
 
salvezza
 
dei
 
popoli
 
opressi
), toma por objeto um tema que ficou muito restrito à religião dos
 
hebreus, o Messianismo e o Profetismo, ou seja, os movimentos que buscam o
 
messias
 
e
 
as
 
profecias
 
de
 
novos
 
mundos
 
e
 
mudanças.
 
Esse
 
estudo
 
abrange
 
povos
 
africanos,
 
latino-americanos
 
e
 
outros.
)
Saiba mais
Diálogo entre História e religião
Um exemplo do diálogo entre métodos históricos e religião, pode ser encontrado na obra do historiador italiano Carlo Ginzburg, que publicou livros como:
Os andarilhos do bem. Feitiçaria e cultos agrários nos séculos XVI e XVII — são analisadas as crenças religiosas populares no início da Idade Moderna, com ênfase sobre uma comunidade camponesa do século XVI e usando como fontes, os processos inquisitoriais;
O queijo e os vermes. O cotidiano e as ideias de um moleiro perseguido pela Inquisição — analisa, também por meio dos cruéis processos da Inquisição, a vida e o pensamento de Menocchio, considerado herege e perseguido.
Assista aos vídeos:
Direito e Literatura - O queijo e os vermes, disponível em:
https://www.youtube.com/ watch?v=1hg6z6f _HrM
<https://www.youtube.com/watch?v=1hg6z6f_HrM> . Acesso em 08 fev. 2018
Quem é Carlo Ginzburg? disponível em: https://www.youtube. com/watch? v=zqw- M10svEE <https://www.youtube.com/watch?
 (
v=zqw-M10svEE>
 
.
 
Acesso
 
em
 
08
 
fev.
 
2018.
)
A influência francesa na História das Religiões
Pare e reflita um pouco sobre a contribuição dos historiadores franceses. Foram muitas, em especial daquela chamada a Escola dos Annales, fundada por Marc Bloch e Lucien Febvre, em 1929, na França. Fundam o que se chama de primeira geração dos Annales.
Em geral, essa escola é definida a partir do rompimento com uma perspectiva positivista (história baseada em datas, grandes eventos e personagens) e inaugura uma perspectiva mais total da aventura humana, feita por povos, grupos, classes sociais e civilizações, ao longo do tempo, incluindo aspectos culturais, sociais, econômicos, artísticos, geográficos e religiosos.
Você poderia perguntar: quais seriam as novidades dessa escola?
Ei-las:
Com a segunda geração5 e com a terceira geração 6, os métodos históricos são aprofundados e o estudo da religião alcança maturidade científica e acadêmica.
 (
Veja,
 
por
 
exemplo,
 
o
 
texto
 
básico
 
das
 
influências
 
dessa
 
escola:
JULIA,
 
Dominique.
 
A
 
religião:
 
História
 
Religiosa.
 
In:
 
LE
 
GOFF,
 
Jacques;
 
NORA,
 
Pierre.
 
História
:
 
novas
 
abordagens.
 
Rio
 
de
 
Janeiro:
 
F.
 
Alves,
 
1976.
Leia
 
um
 
artigo
 
breve
 
sobre
 
a
 
relação
 
entre
 
história
 
e
 
religião,
 
e
 
um
 
dos
 
mais
 
importantes
 
conceitos
 
por
 
ele
 
desenvolvido,
 
a
 
ideia
 
de
 
longa
 
duração:
Saiba
 
mais
)
 (
BRAUDEL,
 
Fernando.
 
História
 
e
 
ciências
 
sociais
.
 
A
 
longa
 
duração.
 
Disponível
 
em: 
htt
p
://www.revistas. us
p
.br/ revhistoria/ article/ view/
 
123422/119736
<htt
p
://www.revistas.us
p
.br/revhistoria/article/view/123422/119736
>
 
.
 
Acesso
 
em
 
08
 
fev.
 
2018.
)
Pare e reflita sobre a tríplice herança da história religiosa, segundo Julia:
Caberia citar para você uma das pesquisadoras da área de História das Religiões, Karen Armstrong (1944), embora não seja historiadora de formação. Dos livros que escreveu, facilmente acessíveis, observe alguns:
Em defesa de Deus O Islã
A Bíblia: uma biografia
Campos de sangue: religião e a história da violência Jerusalém: uma cidade, três religiões
Se você deseja ser um bom teólogo, é preciso aprofundar a compreensão sobre as religiões e sobre os monoteísmos a partir do ponto de vista histórico-social.
Desdobramentos contemporâneos
Veja que os especialistas falam de História das Religiões e das religiosidades, para marcar uma fronteira:
 (
Entendidas no plural, são diversas, diferentes e constituídas por estruturas
 
institucionais,
 
com
 
discurso
 
e
 
documentos
 
oficiais,
 
hierarquias,
 
poder
 
etc.
 
Por
 
exemplo, os discursos teológicos oficiais do Catolicismo ou Protestantismo
 
pronunciados
 
pelos
 
sacerdotes.
Reli
g
iões
) (
Entendidas
 
também
 
como
 
múltiplas,
 
dizem
 
respeito
 
às
 
vivências
 
não
 
institucionais
 
de indivíduos e grupos e são constituídas de emoções, discursos não oficiais,
 
experiências subjetivas etc. Por exemplo, as práticas e crenças populares vividas
 
pelos adeptos e fieis do Catolicismo e do Protestantismo. Uma refere-se à outra,
 
uma
 
está
 
reagindo
 
e/ou
 
agindo
 
sobre
 
a
 
outra.
Reli
g
iosidades
)
Por isso, preste atenção no que defende Nicola Gasbarro: a existência de uma distância entre ortodoxia e ortoprática.
 (
A
 
religião
 
é
 
compreensível
 
historicamente
 
antes
 
pela
 
análise
 
da
 
prática
 
e
 
do
 
exercício
 
do
 
culto
 
do
 
que
 
pela
 
estrutura
 
do
 
dogma
 
e/ou
 
pelo
 
sistema
 
de
 
crenças.
 
Como
 
provocação
 
metodológica,
 
proponho
 
utilizar
 
a
 
noção
 
de
 
‘ortoprática’
 
a
 
antepor
 
e
 
contrapor
 
à
 
de
 
ortodoxia
 
no
 
estudo
 
da
 
religião
 
—
 
religiões.
 
[os
 
negritos
 
são
 
do
 
professor].
GASBARRO,
 
2006.
)
Ainda com as palavras de Gasbarro:
 (
Ao
 
privilegiar
 
as
 
regras
 
rituais
 
e
 
as
 
ações
 
inclusivas
 
e
 
performativas
 
da
 
vida
 
social,
 
ela
 
pode
 
dar
 
conta
 
também
 
da
 
construção
 
histórica
 
do
 
sistema
 
de
 
crenças
 
como
 
lugar
 
das
 
compatibilidades
 
simbólicas
 
das
 
diferenças
 
culturais.
GASBARRO,
 
2006.
)
Você entende melhor a religião quando o seu olhar de pesquisa recai sobre as práticas concretas das pessoas, dos indivíduos e dos grupos, que são históricas e sociais, mudam ao longo do tempo.
No Brasil, muitos são os pesquisadores que realizaram pesquisas variadas, desde os estudos sobre o passado colonial brasileiro até as religiões e religiosidades contemporâneas, com muitas hipóteses e teorias interessantes. Veja alguns:
 (
Historiador, escreveu estudos sobre a religião na época colonial, por exemplo,
 
estes
 
dos
 
livros
 
intitulados,
 
Trópico
 
dos
 
pecados.
 
Moral,
 
sexualidade
 
e
 
inquisição
 
no
 
Brasil
 
e
 
Casamento,
 
amor
 
e
 
desejo
 
no
 
Ocidente
 
Cristão
.
Ronaldo
 
Vainfas
) (
Historiadora
 
pernambucana,
 
organizou
 
uma
 
grande
 
coleção
 
de
 
estudos
 
com
 
o
 
título
 
História
 
das
 
Religiões
 
no
 
Brasil
,
 
que
 
já
 
está
 
no
 
oitavo
 
volume.
S
y
lvana
 
Brandão)
 (
Historiador;
 
há
 
uma
 
boa
 
entrevista
 
sobre
 
seu
 
livro
<htt
p
s://
g
lobo
p
la
y
.
g
lobo.com/v/1570076/>
 
,
 
intitulado,
 
Cristianismos:
 
questões
 
e
 
debates
 
metodológico
.
André
 
Chevitarese
)
Atividades
1. Leia este pequeno texto:
“A interação entre religião e História já é antiga. E no que concerne à tradição ocidental, ancorada nos valores greco-romanos e princípios judaico-cristãos, isso é visível não só pela interferência de tais valores e crenças na constituição político-social e na cunhagem do imaginário europeu, assunto, aliás, já sedimentado; mas também pela importância que deram os ocidentais, as corporações religiosas, à História e ao seu ofício, a ponto de fazer dos gregos e latinos, mestres historiógrafos, e do Cristianismo, uma ‘religião de historiadores’”. (PRADO, 2014, p. 04-31, p. 4).
Sobre a relação entre História e religião, assinale a alternativa correta:
a) A interação entre religião e história é antiga, mas restringe-se ao campo do Cristianismo.
b) A relação entre religião e história recebe influências greco-romanas e cristãs.
c) A relação entre religião e história tem pouca influência de gregos e cristãos.
d) A tradição ocidental, ancorada apenas nos princípios judaico-cristãos, define a história.
e) A tradição ocidental, ancorada nos valores greco-romanos, define a história.
2. Leia este pequeno texto:
“Podemos retornar ainda mais no tempo, pois há evidências ainda mais antigas sobre o interesse de pensadores pelo estudo da religião, que rementem ao séc. V
a.C. Os filósofos pré-socráticos, na Grécia, denunciavam uma forte curiosidade pela religião. Parmênides (530-460 a. C.) e Empédocles (495-435 a.C.) teceram reflexões racionais sobre os deuses e mitos gregos; Demócrito (460-370 a. C.) interessou-se pelas religiões estrangeiras, especialmente as da Babilônia; Heródoto (484-425 a. C.) descreveu religiões do Egito, da Pérsia, da Trácia e da Cítia; Platão (429-347 a. C) estudou as religiões bárbaras; Aristóteles (384-322 a. C) a degenerescência da religião; Teofrasto (372-287 a.C.) foi considerado o primeiro historiador grego das religiões, produzindo textos sobre a temática, divididos em 6 volumes”. (PRADO, 2014, p.04-31, p. 4).
Tendo isso em vista, sobre o começo da História das Religiões, o século XIX foi fundamental. Assinale, em relação a isso, a opção correta:
a) A História das Religiões é uma das Ciências da Religião surgida a partir de distintas influências, por exemplo, a crítica da religião e os estudos comparativos entre mitos e civilizações.
b) A História das Religiões é uma das Ciências da Religião que enfoca, basicamente, a história das doutrinas religiosas.
c) A História das Religiões é uma das Ciências da Religião que enfoca, basicamente, a história das religiosidades e dos sentimentos religiosos
d) A História das Religiões é uma das Ciências da Religião que se ocupa, centralmente, de documentos e discursos oficiais das religiões.
e) A História das Religiões é uma das Ciências da Religião que procura estudar, basicamente, das tradições orais das religiões.
3. Sobre a Escola de Viena, na História das Religiões, e suas pesquisas e autores, procurou discordar do evolucionismo, que transposto para as Ciências Humanas e Sociais, tornou-se uma ideologia. Sobre a Escola de Viena, assinale a alternativa correta.
a) A ideia central da Escola de Viena vai de encontro do difusionismo, negando que a religião e a cultura se difundem pelo tempo e espaço realizando intercâmbios entre si.
b) O autor mais importante da Escola de Viena é Wilhelm Schmidt (1862-1954) e a ideia mais importante refere-se à comparação tipológica entre fatos religiosos.
c) Na Escola de Viena, a História da Religião, como ciência, procura descrever o percurso, a sucessão dos fatos religiosos, mas também o nexo causal que liga um ao outro e um no outro.
d) Na Escola de Viena, a História da Religião, como ciência, procura explicar a sucessão dos fatos religiosos e a hipótese do monoteísmo ético.
e) Na Escola de Viena, a metodologia seguida é a da hermenêutica teológica que distingue e opõe os dados das culturas e religiões das ideias teológicas de orientação cristã.
4. Um dos fatos que marcaram o surgimento da Escola Italiana de História das Religiões foi a criação da cátedra de Storia delle religioni na Universidade de Roma (1924) e da revista Studi e materiali di Storia dele religioni (1925). Tendo em vista os muitos autores dessa escola e suas ideias básicas, assinale a resposta correta:
a) Na Itália, a História das Religiões foi ao encontro da Igreja Católica e de setores das universidades que eram favoráveis ao estudo da religião por métodos/disciplinas específicos.
b) A Escola Italiana das Religiões criticou a Escola de Viena por que esta reunia dados históricos das sociedades étnicas e os submetia a uma hipótese teológica a priori, o Urmonotheismus.
c) Na Itália, a História das Religiões foi de encontro à Igreja Católica e aos setores das universidades que eram favoráveis ao estudo da religião por métodos/disciplinas específicos.
d) Na Itália, a História das Religiões foi de encontro à Igreja Católica e aos setores das universidades que eram desfavoráveis ao estudo da religião por métodos/disciplinas específicos.
e) A Escola Italiana das Religiões apoiava a Escola de Viena quando esta reuniu os dados históricos de sociedades étnicas e os submeteu a uma hipótese teológica a priori, o Urmonotheismus.
5. Preste atenção no trecho deste livro, escrito pelo historiador Ronaldo Vainfas, Casamento, amor e desejo no Ocidente Cristão. Essas ideias exemplificam a forma como a história lida com a religião:
“A história da moral cristã é certamente muito complexa e faz-se necessário pontuá-la, escutar-lhe as palavras, traçar-lhe os passos, inquirir-lhe os segredos, fazendo um pouco à moda dos confessores do século XII. O casamento sempre foi um valor sagrado no Cristianismo? A austeridade sexual foi uma invenção da Igreja no Ocidente, estabelecendo-se assim, um abismo entre a moral cristã e a ética dita pagã? Reprimia-se genericamente o desejo ou condenavam-se, na prática, alguns prazeres? [...]. Em meio a essas indagações veremos, portanto, se e como foi construída uma doutrina ocidental acerca da sexualidade caracterizada, como quer Jacques Le Goff, pela recusa do prazer.”
Tendo em vista o texto acima, e a forma como História vê a religião, marque a alternativa correta:
a) No estudo da religião, as escolas históricas tendem a acentuar ideias, a priori, como a de permanência e atemporalidade do sagrado nas religiões.
b) No estudo da religião, as escolas históricas tendem a acentuar ideias, a posteriori, como a de permanência e atemporalidade do sagrado nas religiões.
c) No estudo da religião, todas as escolas históricas tendem a acentuar ideias como a de permanência do sagrado nas religiões.
d) No estudo da religião, todas as escolas históricas tendem a acentuar ideias como a de mudanças e temporalidades do sagrado nas religiões.
e) No estudo da religião, algumas escolas históricas tendem a acentuar ideias como a de mudanças e temporalidades do sagrado nas religiões.
 (
Pesquise,
 
nos
 
textos
 
indicados
 
na
 
caixa
 
Explore+
,
 
e
 
responda
 
as
 
seguintes
 
perguntas:
6
.
 
Quando
 
começa
 
a
 
relação
 
entre
 
história
 
e
 
religião?
)
 (
7.
 
Qual
 
é
 
o
 
objetivo
 
ou
 
dever
 
central
 
da
 
História
 
das
 
Religiões?
)
 (
8.
 
Quais
 
as
 
principais
 
escolas
 
e
 
influências
 
presentes
 
na
 
História
 
das
 
Religiões?
)
Notas
Reflexão1
A História das Religiões foi uma das primeiras Ciências da Religião a nascer e a se estabelecer nas universidades europeias. Esse fato é fundamental e cheio de questões para os rumos atuais dessas Ciências. Mas, veja que Eusébio de Cesaréia (260-340), teólogo cristão, foi um dos que procuraram fazer a historiografia voltada para a área da religião, embora concentrando-se no Cristianismo.
O fato de ser bispo da Igreja Católica romana e aliado do Imperador Constantino, representante deuma instituição e ao mesmo tempo um aliado político, influenciou a união entre a esfera eclesiástica e a política. A obra de Cesaréia dissolve a fronteira entre fato e crença e introduz o mito na historiografia.
Durante toda a longa Idade Média, desde a Queda do Império Romano até as primeiras caravelas portuguesas e espanholas a “História das Religiões” ficou restrita a uma história eclesiástica, contada por bispos e padres, em geral católicos, apologética.
Com a era das reformas religiosas, que começa muito antes da Reforma Protestante — feita pelos grandes reformadores, como Martinho Lutero (1483-1546), João Calvino (1509-1564), Ulrico Zwinglio (1484-1531) e Thomas Müntzer (1490-1525) —, outras versões da história do Cristianismo são contadas e levadas em consideração.
Uma obra lançada ao final do século XVII começa a mostrar outro panorama: a História imparcial da Igreja e das heresias (1699-1700) de Gottfried Arnold (1666-1714) trouxe uma virada crítica quando defendeu um estudo imparcial das fontes (documentos originais) e ao chamar atenção para a importância dos elementos subjetivos na vivência religiosa e defender a tolerância.
Note que se migrou de uma historiografia confessional limitada para uma historiografia ampla e laica.
Onividência mágico-oracular2
Oráculo
Termo que significa duas coisas ao mesmo tempo, a divindade consultada ou o sacerdote encarregado da consulta à divindade e transmissão de suas respostas.
Onividência
Que tudo vê, que tudo conhece e tudo sabe.□Expressão composta pela raiz do latim onmi, todo, totalidade, e vide, visão.
Onividência mágico-oracular
Conhecimento de tudo o que aconteceu, acontece e acontecerá de forma mágica e por oráculos.
Zoroastrismo3
Principal profeta e líder religioso do Islamismo para os muçulmanos. Nascido em Meca, na Arábia Saudita, no ano que corresponde a 571 d.C. Pertencia à tribo dos coraixitas, clã dos hachemitas. Ficou órfão cedo, foi criado por seu tio, Abu Talib, tornou-se mercador, casou-se com uma rica viúva (Khadijah), mas, aos 40 anos, segundo a tradição islâmica, começou a receber as revelações do Arcanjo Gabriel. Disseminou a crença islâmica, mas houve um conflito com os comerciantes de Meca. O islamismo afirma sua potência, em Meca, importante cidade; e, na Arábia, havia diferentes credos (politeístas, judaicos e cristãos). Mohammad e seguidores fogem para a cidade de Yatreb (Medina). Essa fuga é chamada de Hégira e dá início ao calendário islâmico, o ano zero, assim como o nascimento de Jesus dá início ao calendário cristão. Depois, Mohammad retoma Meca e inicia a expansão do islamismo pelo mundo.
Zoroastrismo4
Chamado também de mazdeísmo, é uma religião monoteísta surgida no Irã, baseada nos ensinamentos do profeta Zaratustra ou Zoroastro (628 – 551 a.C.). Segundo as tradições desta religião, Zoroastro viveu na Ásia Central, atualmente leste do Irã e Afeganistão. No sistema de crenças, Ahura Mazda é a divindade maior, criadora de todas as coisas boas e Ahriman é o princípio destrutivo, as trevas. Possui um livro sagrado, Zend-Avesta, contendo hinos, rituais, instruções, legislação. Foi, a rigor, a primeira religião monoteísta surgida entre os seres humanos.
Segunda geração5
Fernand Braudel (1902-1885) e Jacques Le Goff (1924)
Terceira geração6
Emmanuel Le Roy Ladurie (1929-), Marc Ferro (1924-2014), Philippe Ariès (1914-1984) e Pierre Nora (1929-)
monoteísmo 7
Devoção ou adoração a apenas um ser ou deus conjugado com o reconhecimento da existência de outros deuses.
Referências
BELOTTI, Karina. História das Religiões: conceitos e debates na era contemporânea. Disponível em: <http://revistas.ufpr.br/historia/article/viewFile/26526/17686
<http://revistas.ufpr.br/historia/article/viewFile/26526/17686> >. Acesso em 08 fev. 2018.
FIROLAMO, Giovanni; PRANDI, Carlo (orgs.). As Ciências das Religiões. 8. ed. São Paulo: Paulinas, 2016.
GASBARRO, Nicola. Missões: a civilização cristã em ação. In: MONTERO, Paula (org). Deus na Aldeia: missionários, índios e mediação cultural. São Paulo: Globo, 2006.
GUSDORF, Georges. Mito e metafísica. São Paulo: Convívio, 1980, p. 24.
LIA, Cristina. História das Religiões e religiosidades: contribuições e novas abordagens. Disponível em: <http://seer.ufrgs.br/index.php/aedos/article/view/31208/20886
<http://seer.ufrgs.br/index.php/aedos/article/view/31208/20886> >.
LIMA, Carlos R. V. Cirne. Mitologia e história. In: SCHÜLER, Donald; GOETTEMS, Míriam Barcellos (orgs.). Mito ontem e hoje. Porto Alegre: Editora da UFRGS, p. 208-216, 1990, p. 208.
MATA, Sérgio da. História e religião. Belo Horizonte: Autêntica, 2010.
PASSOS, João D.; USARSKI, Frank (orgs.). Compêndio de Ciência da Religião. São Paulo: Paulinas: Paulus, 2013.
PRADO, André Pires do; SILVA JÚNIOR, Alfredo Moreira da. História das Religiões, história religiosa e ciência da religião em perspectiva: trajetórias, métodos e distinções. In: Religare, João Pessoa, v.11, n.1, março de 2014, p. 04-31, p. 4.
Próximos Passos
A religião como elemento social;
As escolas sociológicas clássicas e contemporâneas; Religião e estrutura social;
Religião e as abordagens contemporâneas.
Explore mais
Leia estes três artigos científicos, eles apresentam o que é a História das Religiões:
Da historiadora Karina Belotti, História das Religiões: conceitos e debates na era contemporânea.
<http://revistas.ufpr.br/historia/article/viewFile/26526/17686>
Da historiadora Cristina Lia, História das Religiões e religiosidades: contribuições e novas abordagens.
<http://seer.ufrgs.br/index.php/aedos/article/view/31208/20886>
Dos professores André Prado e Alfredo da Silva Júnior, História das Religiões, história religiosa e ciência da religião em perspectiva: trajetórias, métodos e distinções.
<http://periodicos.ufpb.br/index.php/religare/article/viewFile/22191/12285>

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