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( Aula 5: Escolas Históricas Disciplina: Ciências da Religião ) Apresentação: As religiões estão presentes entre homens e mulheres desde há muito tempo, conforme você viu na aula 04. Você já deve ter se perguntado: se depois de tantos estudos, pesquisas e investigações ainda há coisas por se descobrir ou por se reinterpretar à luz de novos conceitos e argumentos? Durante esta aula tentaremos responder a essa questão. Objetivos: Compreender as escolas históricas das Ciências da Religião; Identificar as características das escolas históricas nas Ciências da Religião; Reconhecer fatos e contextos das escolas históricas nas Ciências da Religião. Introdução Você é convidado a refletir sobre as escolas que estudaram a religião do ponto de vista histórico. Como elas construíram essa abordagem? Essa construção deve levar em conta a crise das ciências humanas. ( Leia este pequeno texto sobre isso: GHIRALDELLI JR., Paulo. Ciências humanas em crise — qual crise? <htt p s:// g oo. g l/4 y Zbhm> Leitura ) Iniciaremos a aula com uma reflexão1. O começo da História da Religião Você pode se perguntar: quando surgiu o termo “História das Religiões”? Esse termo teria aparecido, pela primeira vez, em 1867, dentro das obras escritas por Friedrich Max Müller (1823-1900), linguista, historiador, orientalista (estudioso das culturas e civilizações orientais) e mitólogo (estudioso dos mitos). Esse autor escreveu muitos volumes sobre mitologia comparada de diversas civilizações, em especial, as da Índia. O que pensa Max Müller a esse respeito? Para ele, a Ciência da Religião (no singular) conseguiria, através da linguagem, conhecer as culturas a partir das instituições religiosas, e, com o rigor científico, se faria o estudo das religiões sob o método comparativo sem considerar nenhuma estrutura religiosa superior à outra. Reflita sobre quem faria essa imensa tarefa de estudo e pesquisa. Seria a historiografia dos símbolos, dos mitos e das linguagens das culturas e das civilizações que forneceria a base para a Ciência da Religião ser uma ciência compreensiva de um dos mais poderosos fenômenos humanos, a religião. ( Friedrich Max Müller (1823-1900) ) Em cada época da história universal humana, a religião encarnou sentidos específicos estudados dentro desse contexto singular. Esse pensador alemão propôs que toda religião começaria com um mito, e de um mito que pode ser entendido como um conjunto de narrativas coletivas que contam histórias de origem, virtudes, heróis, valores, mistérios, movimentos e trajetórias (de pessoas e de grupos). Essas narrativas são sentidas por fiéis, adeptos e crentes como uma avalanche de linguagem que toma corpo e se encarna em uma história. Os mitos fundem as imagens do mundo e das práticas sociais em uma unidade imaginada e ideal. A razão histórica como razão científica procura analisar, destrinchar, desentranhar, desbanalizar e desnaturalizar as estruturas, inclusive as estruturas míticas. O logos é diferente do mythos. Mas, você se pergunta: o que vem a ser essas duas palavras? São expressões da língua grega: ( Significado amplo, utilizado de diversas maneiras ao longo da História da Filosofia. Para o filósofo grego Heráclito de Éfeso (535 a.C.- 475 a.C.), o logos é o responsável pela conexão entre o discurso racional e a estrutura racional do mundo. Aristóteles (384 a.C-322 a.C.) definiu logos como um dos três modos de persuasão (os outros são ethos e pathos ) o argumento da razão, descrito em sua Lo g os ) ( obra Ars Rethorica (Arte da retórica). Depois, outros sentidos foram acrescentados, como explicação racional, lei universal, discurso lógico e sabedoria. ) ( Significa mistério, desconhecido, intrigante, aquilo que permanece não esclarecido completamente, imaginário, aquilo que encanta. O mito, nas palavras do filósofo Georges Gusdorf, “guardará sempre o sentido de um longo olhar em direção à integridade perdida e algo assim como de uma intenção restitutiva” (GUSDORF, 1980, p. 24). M y thos ) ( Em geral, o senso-comum acostumou a colocar mythos e logos em oposição absoluta, mas, é preciso rever isso. Nas palavras do filósofo e historiador Carlos Lima (1990, p. 208): o “discurso lógico, ao chegar ao fim de si mesmo, descobre- se como sendo um mito construído pela razão e que, já agora, deve ser executado na prática e tornar realidade pelo trabalho da ação”. Atenção ) Os primeiros passos da História da Religião Como você viu nas aulas anteriores, um dos primeiros pensadores a propor uma abordagem mais histórica foi David Hume, em sua obra História natural da religião (publicada em 1757). Mas, veja que, na segunda metade do século XIX, ocorreu uma forte polêmica entre dois pesquisadores: ( Adolf von Harnak ( 1851-1930 ) ) ( Reconhecia que as religiões deveriam ser estudadas segundo o método histórico e que o historiador deveria ter em vista o contexto histórico e social mais amplo, contudo a Teologia continuava, ao lado da História e da Filologia, como disciplina central, ainda mais porque se referia ao Cristianismo. ) ( Diferenciou História Eclesiástica e Teologia e identificou, na primeira, a origem da História das Religiões e na segunda, pelo menos naquela época, como centrada apenas em uma única religião (Cristianismo) e, por isso mesmo, não poderia conhecer bem nenhuma outra religião. Max Müller ( 1823-1900 ) ) Observe que a modernidade significou a pluralização e diferenciação das sociedades europeias e possibilitou o advento da liberdade religiosa e, com isso, a História Eclesiástica se transformou em História das Religiões. O termo ‘religião’ passou a significar algo mais que Cristianismo. Tomou corpo o método histórico-filológico baseado nos seguintes elementos: Esse grande projeto científico das Ciências da Religião recebeu o nome de História comparada das religiões, pois visava comparar e contrastar as religiões e suas tradições, seus mitos, ritos etc., construindo uma morfologia religiosa. A escola histórico-cultural de Viena Reflita um pouco sobre uma das mais poderosas ideias do século XX, o Evolucionismo, que se tornou uma doutrina. Essa doutrina dizia que todas as culturas, todos os povos e todas as civilizações passariam por diversas fases evolutivas, e isso de forma universal e necessária. Você pode se questionar: qual o problema dessa ideia? O problema dessa ideia, nas Ciências Sociais e Humanas, e por extensão, nas Ciências da Religião, é que ela toma fenômenos, documentos, fatos e eventos de seus contextos originais e os coloca em paralelo e combina, de forma errada, coisas bem diferentes. Contra essa ideia, repare, surgiram movimentos intelectuais e metodologias que questionaram o Evolucionismo em sua ideia central, a de evolução universal da cultura, da História e da religião, de forma necessária e inevitável, saindo das formas mais simples, passando por etapas, até chegar às formas mais evoluídas. É nesse clima, que ganha corpo uma nova orientação, o difusionismo. Você se perguntará: o que vem a ser essa nova orientação? É uma corrente de ideias que se opõe ao Evolucionismo baseada na ideia de que os elementos culturais se difundem e se propagam, misturando-se ao longo do tempo. Havia três diretivas de investigação: 01 A que estuda a difusão espacial dos elementos que compõem uma cultura (machado, flecha, calçado, técnicas de cultivo, mitos e ritos). 02 A que estuda as áreas culturais baseada em critérios sincrônico-geográficos globais (por exemplo, como foi que determinadas estruturas semelhantes de um mito ou de um ritual se difundiram em distintas regiões a partir de alguns vetores). 03 A que investiga as culturas em seus desenvolvimentos e suas intersecções e pontos de contato, tensão, mistura e conflitos.Das diretivas 2 e 3, emerge a escola de Viena, liderada por Wilhelm Schmidt (1862- 1954), padre vienense e intelectual católico. Você poderia indagar: qual era o método dessa escola? O método consistia em pesquisar as influências de uma cultura sobre a outra. O olhar dessa escola recaiu de forma mais enfática sobre as sociedades étnicas, coletando muitas fontes orais (canções, músicas, técnicas variadas de produção e vida, ritos, mitos, lendas). Mas, para que isso? O objetivo da pesquisa era construir um sistema de princípios comparativos e identificar critérios que ajudassem a distinguir os diversos tipos de sociedade e cosmovisão. Na ideia de Wilhelm Schmidt eram dois os objetivos de comparar: Observe mais um pouco o que Schmidt pensou: as religiões seriam compreendidas enquanto elementos do jogo de causa e efeito em outros campos e outros fatores, como civilizações que exerceram semelhante influência de causa e efeito no campo da religião. Aí, você poderia se perguntar: como seriam possivelmente esses nexos causais? Veja um exemplo: ( Exemplo ) ( Um historiador escocês das religiões, Alfred Lang (1844-1912), trouxe uma hipótese muito controversa acerca da origem dos cultos religiosos. Dizia ele ter encontrado evidências de que muitas populações não letradas e não escolarizadas, em especial na África, acreditam em um Ser Supremo, com claras funções de referência ética e com a função de criador primordial que, depois de criar, retraiu-se e permaneceu inativo após contemplar as maldades humanas. ) O que está na base dessa ideia seria o monoteísmo7 ético. Schmidt escreveu uma obra com 12 volumes (Ursprungder Gottesidee , traduzido como Gênese da ideia de Deus) para tentar provar a tese do Urmonotheismus. Você poderia estar curioso e perguntar: por quê? Porque esse monoteísmo seria, na visão dessa escola, a forma lógica e racional mais simples e original e se harmonizaria com uma suposta necessidade — universal e também original — do espírito humano de conhecer e compreender a origem do cosmos e da vida. A metodologia dessa escola é chamada de hermenêutica teológica, por tentar submeter os dados das culturas e religiões a ideias teológicas de orientação cristã. A Escola Italiana de História das Religiões Um dos fatos que marcaram seu surgimento, foi a criação da cátedra de Storia delle religioni na Universidade di Roma, em 1924, e da revista Studi e materiali di Storia dele religioni, em 1925. Essa escola teve que lutar contra dois problemas, a ação repressora da Igreja Católica que estava interessada em combater os “modernismos” e poucos antecedentes nas universidades italianas. Naquela época, houve um conflito entre uma corrente teórica chamada historicismo italiano, liderada pelo filósofo e historiador Benedetto Croce (1866-1952) que defendia o storicismo assoluto [historicismo absoluto] e outros pensadores que defendiam a autonomia das religiões como categoria disciplinar na história. Veja que o historicismo absoluto defendia a história como o verdadeiro conhecimento do real, do universal concreto, ou seja, o conhecimento histórico é todo o conhecimento. A história é um tribunal, para Croce, que não condena e nem absolve, não faz censura nem faz louvor, pois apenas conhece e compreende. ( Para Croce, a História das Religiões seria apenas uma coletânea erudita de dados e, por isso, não seria uma ciência ou disciplina científica com legitimidade. Para afirmar a validade da História das Religiões surgiram críticas em oposição à tese do padre de Viena, por pesquisadores daquela que ficou conhecida como a Escola Italiana de História das Religiões. Saiba mais ) Raffaele Pettazzoni (1883-1959), um dos líderes da Escola Italiana de História das Religiões, lista uma série de razões para a rejeição da hipótese do monoteísmo primordial: Algumas ideias da Escola Italiana de História das Religiões Pettazzoni teve de marcar o território da História das Religiões diante de dois obstáculos: 01 A pressão da Igreja Católica em sua ambição de concentrar esforços em combater os “modernismos” que, em sua visão, atrapalhavam; e 02 Setores das universidades e comunidades de cientistas desfavoráveis ao estudo da religião a partir de disciplinas e métodos específicos. A ideia central era conduzir a análise da religião ou das religiões, ao plano da pesquisa histórica, elegendo a História como a realidade dinâmica e dialética do ser e do vir a ser de cada cultura. Pettazzoni demonstra exemplarmente a proposta da Escola Italiana de História das Religiões no livro La religione primitiva in Sardegna (A religião primitiva na Sardenha). Você pode se perguntar: qual seriam os pontos essenciais dessa proposta? Primeiro ponto A defesa da laicidade da pesquisa histórico religiosa Segundo ponto A introdução da metodologia comparativa Pettazzoni dedicou-se aos estudos da religião no mundo antigo e oriental e aos estudos etnológicos (sociedades tribais étnicas sem escrita). As obras visavam desmontar a tese da escola de Viena, são ela: Dio: formazione e sviluppo del monoteismo nella storia delle religione (Deus: formação e desenvolvimento do monoteísmo na História da Religião) La confessioni dei peccatti (As confissões dos pecados) Depois da Segunda Guerra Mundial, publicou 4 volumes de Mitti e legende (Mitos e lendas) e L’onniscienza di Dio (A onisciência de Deus), em que procurou encerrar a disputa com as ideias do monoteísmo primordial. Pettazzoni toma um dos atributos de Deus, a onisciência (a ciência de tudo e todos), a partir dele, percorreu muitos dados e detalhes históricos em sociedades étnicas e conclui com estas palavras: ( A ideia primitiva de ser supremo não é um absoluto a priori. Ela surge no pensamento humano das próprias condições da existência humana, e como essas condições variam segundo as diversas fases e formas da civilização primitiva, varia também, no seio delas, a forma do ser supremo. (FIROLAMO, 2016, p. 67). ) A onisciência é um atributo das entidades ou divindades celestes ou astrais (luz e sabedoria conjugadas). Pare para refletir sobre a ideia dos pesquisadores da escola de Viena: FIROLAMO; PRANDI, 2016. Para o líder da escola italiana, a criatividade não seria o mais importante e distintivo atributo dos seres supremos. “Por quê?”, você se perguntaria. Segundo as ideias de Pettazzoni, os mitos de criação são parte dos mitos de origem e a criatividade é parte do mito da criação, que possui uma função específica: dar a justificativa para a existência e estrutura atual do cosmos e da vida. Preste atenção nos seguintes exemplos e fatos, pois as ideias de ser supremo, criação e origem estão relacionadas às estruturas sociais, políticas e econômicas das sociedades e civilizações: ( Em sociedades agrícolas, o ser supremo, com poucas exceções, é a grande Mãe Terra, que se torna a fonte de sustento e vida para os seres humanos. 1 ) ( Em sociedades do deserto, estepes e planaltos, o culto centrava-se, com poucas exceções, em deidades masculinas celestes e estas tinham a qualidade da onisciência (relação simbólica com o céu, amplo, aberto, profundo). 2 ) ( Em tribos baseadas em uma economia de caça-coleta, a ideia de ser supremo estava articulada a duas tipologias religiosas: uma mais primitiva, que se ligava à floresta (onde vivia um Senhor- Divindade com seus animais, com capacidade de onividência má g ico- oracular 2 ) e uma posterior, que fazia do Senhor dos animais um ser celeste. 3 ) ( Não há relação causal entre o desenvolvimento social, econômico e político e a ideia de monoteísmo, pois há civilizações que foram politeístas desdesuas origens (gregos, egípcios etc.). 4 ) Veja que, segundo Pettazzoni, para explicar como o monoteísmo se formou, é preciso partir das religiões de cunho monoteísta (Judaísmo, Zoroastrismo3, Cristianismo e Islamismo) e de como o politeísmo foi negado. Você pode ser perguntar: como isso ocorre? Em geral, ocorre por obra de um reformador (por exemplo, Abraão, Zoroastro, Jesus e Mohammad4) que anuncia uma nova religião, rejeita as divindades anteriores (negação do politeísmo) e proclama a unicidade de Deus e estabelece a saída da magia ritual dos cultos para a ética da conduta de vida. ( Alerta metodológico Toda tipologia ou classificação é um modelo teórico e todo modelo teórico possui limites. Nenhuma classificação ou tipologia substitui a realidade, que é sempre maior, mutante, infinda. A função das tipologias classificatórias é dar mais clareza e uma melhor interpretação à enorme quantidade de dados e informações obtidas com as investigações e pesquisas. Saiba mais ) Há, de acordo com Pettazzoni, uma luta entre uma fé politeísta, que se enfraquece e uma nova consciência religiosa, a do monoteísmo, que é afirmada. Na escola italiana, o método comparativo é consolidado e a preocupação com as diferenças e semelhanças é constante, procurando equilibrar essas duas polaridades. “E com que mais essa escola se ocupa?”, você poderia refletir. Suas preocupações se giram em torno: Os continuadores da Escola Italiana de História das Religiões Os principais “discípulos” de Pettazzoni continuaram as trilhas por ele abertas, embora com diferenças. “O que eles pensaram?”, você poderia perguntar. Veja abaixo a lista: Angelo Brelich (1913-1977) Húngaro de nascimento, escreveu obras que marcavam a defesa do legado do fundador, Perché storicismo e quale storicismo (Porque historicismo e qual historicismo). Em suas ideias, há uma interpretação sobre o dilema entre a profissão de fé (adesão a uma religião) e a pesquisa histórico-religiosa (FIROLAMO; PRANDI, 2016). Haveria um claro conflito entre essas duas posições, porque o pesquisador procura razões históricas, portanto humanas, nas formações e estruturas culturais-religiosas. O que isso diz para as ciências da religião? Diz que o historiador não pode usar instrumentos metodológicos e epistemológicos que estejam baseados em princípios metafísicos (que se situam além da crítica científica) ou em valores que transcendam a história (um absoluto além de tudo e todos, por exemplo). Quando os fatos religiosos são vistos como produtos históricos, sociais e culturais, submetidos aos métodos históricos e quando as categorias de análise usadas também passam a ser criticadas em sua origem e desenvolvimento (segundo as suas temporalidades e contextos), as atitudes preconceituosas e racistas são criticadas. Brelich também fez um estudo sobre os deuses gregos (I Greci e gli dei — Os gregos e os deuses) ressaltando a originalidade da religião grega. O que haveria de interessante nessa obra? você poderia ficar curioso. Em geral, o politeísmo é explicado pela tese de que teria havido, no decorrer dos séculos, a personalização de forças naturais e funções sociais, emergindo daí os deuses, que passaram a ser venerados. Nesse aspecto, a tensão entre a escola fenomenológica e histórica é forte: a armadilha fenomenológica, na visão da escola italiana, é a proposição de um modelo universal que contenha a multiplicidade dos sistemas religiosos, diluindo o caráter processual. Você pode refletir sobre como compreender esses processos. A religião gira em torno de dois eixos: histórias sagradas (mitos) e comportamentos, técnicas, instrumentos e materiais (ritos). As histórias são contadas em ocasiões específicas, com relatos das origens (il nillo tempore — assim era no princípio, naquele tempo etc.), cuja função é dupla: estabilizar a realidade do momento em que se vive; ( emprestar certa ordem e sentido às coisas que variam de acordo com as cosmologias e religiões. Os ritos teriam uma função. Nas palavras de Brelich, é preciso explicar a permanência das religiões como o esforço das sociedades. Daí ele deriva uma da etimologia latina da palavra culto ( colere , cultivar, cuidar): os homens fazem os deuses existirem, os seres humanos cultivam os deuses (culto e cultivo, com semântica, ou sentido, muito próximos). Reflita um pouco os outros continuadores da escola italiana. ) Ernesto De Martino (1908-1965) De Martino conseguiu articular, nos estudos históricos-religiosos, as sugestões da psicanálise freudiana, do marxismo e das filosofias da existência. Dedicou-se a estudos das presenças religiosas na Itália, e escreveu alguns ensaios teóricos nos quais criticou Otto e a concepção do sagrado. Qual seria a crítica De Martino diz que o numinoso de Otto não pertence à metodologia dos estudos históricos, mas à esfera dos testemunhos diretos e, por isso mesmo, mais no campo de uma fonte de informação religiosa ou uma fonte mística, mais do que um método e uma teoria sobre o sagrado e a religião. Uma de suas grandes contribuições: dar espaço aos estudos das religiões populares, dos sistemas mágicos e religiosos do povo simples e camponês, religiões que eram desprezadas e sofriam forte preconceito e incompreensão. Por exemplo, os estudos sobre os cantos fúnebres e as técnicas usadas para superar o luto. Veja no livro Morte e pianto rituale nel mondo antico (Morte e pranto no mundo antigo). Com a análise linguística das antigas canções, técnicas de luto e histórias, De Martino conclui que entre as antigas religiões mediterrânicas e o Cristianismo houve uma relação de subordinação e ressignificação, ou seja, as ideias e concepções de morte das tradições agrárias foram afetadas pelas ideias e concepções de morte e ressurreição cristã, havendo o que foi chamado de cultura hegemônica (dominante) e cultura subalterna (dominada), em uma convivência muito complexa e tensa. De Martino também estudou a relação entre magia popular (encantamento, mau- olhado etc.) e o Cristianismo católico (missa) e percebeu que a bruxaria e o sacramento, a oração católica e o exorcismo mágico tinham uma relação de afastamento no plano simbólico-cultural, mas proximidade no plano dos desejos e das intenções, a fuga momentânea da história para que o ser humano volte a mergulhar novamente na história, mas protegido dos riscos e tensões pelos ritos e mitos mágicos e religiosos. Na aula sobre as escolas antropológicas você aprenderá as conceituações de magia e de religião. Um dos estudos mais importantes de De Martino — La terra del remorso — se concentrou sobre um antigo fenômeno popular, o tarantismo, típico da região rural de Lucca e Puglia (Itália). Estes pequenos vídeos trazem para você uma noção do fenômeno: Tarantismo, disponível em: https://www. youtube .com/watch? v=igUTPVPdA-E <https://www.youtube.com/watch?v=igUTPVPdA- E> , acesso em 08 fev. 2018 e La taranta, disponível em: https://www.youtube. com/watch? v=PTi_ hAdwsR0 <https://www.youtube.com/watch?v=PTi_hAdwsR0> , acesso em 08 fev. 2018. O fenômeno ocorria, em geral, com mulheres durante a colheita que ficavam em estado de transe neurótico. A terapia para curar esse estado de agitação, consistia em danças e cantos com violino, tambor e harmônica, envolvendo uma longa mescla de elementos míticos e religiosos das religiões dos romanos e gregos ao Cristianismo católico. O ato final da cura ocorria durante as festas dedicadas a São Pedro e São Paulo. O transe foi associado à picada da tarântula (aranha), comum na época das colheitas, daí o nome de tarantismo e da tarantela, uma tradicional dança folclórica. Não se sabe bem a origem do tarantismo. Saiba que explicações e hipóteses foram levantadas, desde as picadas de insetos (aranhas) a manifestações de desequilíbrio psiquiátrico. Mas, De Martino mostra que essas explicações eram insuficientes e deveriam ser vistasdentro de um quadro mais amplo (Psicanálise, Antropologia, Mitologia etc.) que levasse em conta a forte opressão sofrida pela mulher. ( Por fim, pense um pouco na contribuição do terceiro membro da Escola Italiana de História das Religiões, Lanternari. Sua reflexão acompanha, em linhas gerais, a proposta da escola italiana. Porém, sua escolha metodológica o levou a tratar de fenômenos religiosos e culturais de fronteira, isto é, fenômenos típicos de zonas em que pressões coloniais ou fortes transformações sociais e econômicas geraram sincretismos religiosos. Vittorio Lanternari ( 1918-2010 ) ) ( Dentro dessa temática, o que mais mobiliza Lanternari é a do encontro/desencontro histórico-cultural e histórico-religioso entre o Ocidente e o Terceiro Mundo (países e regiões pobres ou em desenvolvimento). Outra ideia de Lanternari é a crítica a teorias que reduzem a religião a um instrumento de domínio ou ideologia conservadora, como faz o marxismo vulgar, conjunto de autores que, adotando as ideias de Karl Marx, as banalizaram. A religião pode ser instrumento de transformação social. Por isso, na ótica desse pesquisador italiano, é necessário estudar as religiões em suas trajetórias no tempo e no espaço. Um dos livros mais importantes de Lanternari, traduzido para o português como “As religiões dos oprimidos” ( Movimenti religiosi di libertà e di salvezza dei popoli opressi ), toma por objeto um tema que ficou muito restrito à religião dos hebreus, o Messianismo e o Profetismo, ou seja, os movimentos que buscam o messias e as profecias de novos mundos e mudanças. Esse estudo abrange povos africanos, latino-americanos e outros. ) Saiba mais Diálogo entre História e religião Um exemplo do diálogo entre métodos históricos e religião, pode ser encontrado na obra do historiador italiano Carlo Ginzburg, que publicou livros como: Os andarilhos do bem. Feitiçaria e cultos agrários nos séculos XVI e XVII — são analisadas as crenças religiosas populares no início da Idade Moderna, com ênfase sobre uma comunidade camponesa do século XVI e usando como fontes, os processos inquisitoriais; O queijo e os vermes. O cotidiano e as ideias de um moleiro perseguido pela Inquisição — analisa, também por meio dos cruéis processos da Inquisição, a vida e o pensamento de Menocchio, considerado herege e perseguido. Assista aos vídeos: Direito e Literatura - O queijo e os vermes, disponível em: https://www.youtube.com/ watch?v=1hg6z6f _HrM <https://www.youtube.com/watch?v=1hg6z6f_HrM> . Acesso em 08 fev. 2018 Quem é Carlo Ginzburg? disponível em: https://www.youtube. com/watch? v=zqw- M10svEE <https://www.youtube.com/watch? ( v=zqw-M10svEE> . Acesso em 08 fev. 2018. ) A influência francesa na História das Religiões Pare e reflita um pouco sobre a contribuição dos historiadores franceses. Foram muitas, em especial daquela chamada a Escola dos Annales, fundada por Marc Bloch e Lucien Febvre, em 1929, na França. Fundam o que se chama de primeira geração dos Annales. Em geral, essa escola é definida a partir do rompimento com uma perspectiva positivista (história baseada em datas, grandes eventos e personagens) e inaugura uma perspectiva mais total da aventura humana, feita por povos, grupos, classes sociais e civilizações, ao longo do tempo, incluindo aspectos culturais, sociais, econômicos, artísticos, geográficos e religiosos. Você poderia perguntar: quais seriam as novidades dessa escola? Ei-las: Com a segunda geração5 e com a terceira geração 6, os métodos históricos são aprofundados e o estudo da religião alcança maturidade científica e acadêmica. ( Veja, por exemplo, o texto básico das influências dessa escola: JULIA, Dominique. A religião: História Religiosa. In: LE GOFF, Jacques; NORA, Pierre. História : novas abordagens. Rio de Janeiro: F. Alves, 1976. Leia um artigo breve sobre a relação entre história e religião, e um dos mais importantes conceitos por ele desenvolvido, a ideia de longa duração: Saiba mais ) ( BRAUDEL, Fernando. História e ciências sociais . A longa duração. Disponível em: htt p ://www.revistas. us p .br/ revhistoria/ article/ view/ 123422/119736 <htt p ://www.revistas.us p .br/revhistoria/article/view/123422/119736 > . Acesso em 08 fev. 2018. ) Pare e reflita sobre a tríplice herança da história religiosa, segundo Julia: Caberia citar para você uma das pesquisadoras da área de História das Religiões, Karen Armstrong (1944), embora não seja historiadora de formação. Dos livros que escreveu, facilmente acessíveis, observe alguns: Em defesa de Deus O Islã A Bíblia: uma biografia Campos de sangue: religião e a história da violência Jerusalém: uma cidade, três religiões Se você deseja ser um bom teólogo, é preciso aprofundar a compreensão sobre as religiões e sobre os monoteísmos a partir do ponto de vista histórico-social. Desdobramentos contemporâneos Veja que os especialistas falam de História das Religiões e das religiosidades, para marcar uma fronteira: ( Entendidas no plural, são diversas, diferentes e constituídas por estruturas institucionais, com discurso e documentos oficiais, hierarquias, poder etc. Por exemplo, os discursos teológicos oficiais do Catolicismo ou Protestantismo pronunciados pelos sacerdotes. Reli g iões ) ( Entendidas também como múltiplas, dizem respeito às vivências não institucionais de indivíduos e grupos e são constituídas de emoções, discursos não oficiais, experiências subjetivas etc. Por exemplo, as práticas e crenças populares vividas pelos adeptos e fieis do Catolicismo e do Protestantismo. Uma refere-se à outra, uma está reagindo e/ou agindo sobre a outra. Reli g iosidades ) Por isso, preste atenção no que defende Nicola Gasbarro: a existência de uma distância entre ortodoxia e ortoprática. ( A religião é compreensível historicamente antes pela análise da prática e do exercício do culto do que pela estrutura do dogma e/ou pelo sistema de crenças. Como provocação metodológica, proponho utilizar a noção de ‘ortoprática’ a antepor e contrapor à de ortodoxia no estudo da religião — religiões. [os negritos são do professor]. GASBARRO, 2006. ) Ainda com as palavras de Gasbarro: ( Ao privilegiar as regras rituais e as ações inclusivas e performativas da vida social, ela pode dar conta também da construção histórica do sistema de crenças como lugar das compatibilidades simbólicas das diferenças culturais. GASBARRO, 2006. ) Você entende melhor a religião quando o seu olhar de pesquisa recai sobre as práticas concretas das pessoas, dos indivíduos e dos grupos, que são históricas e sociais, mudam ao longo do tempo. No Brasil, muitos são os pesquisadores que realizaram pesquisas variadas, desde os estudos sobre o passado colonial brasileiro até as religiões e religiosidades contemporâneas, com muitas hipóteses e teorias interessantes. Veja alguns: ( Historiador, escreveu estudos sobre a religião na época colonial, por exemplo, estes dos livros intitulados, Trópico dos pecados. Moral, sexualidade e inquisição no Brasil e Casamento, amor e desejo no Ocidente Cristão . Ronaldo Vainfas ) ( Historiadora pernambucana, organizou uma grande coleção de estudos com o título História das Religiões no Brasil , que já está no oitavo volume. S y lvana Brandão) ( Historiador; há uma boa entrevista sobre seu livro <htt p s:// g lobo p la y . g lobo.com/v/1570076/> , intitulado, Cristianismos: questões e debates metodológico . André Chevitarese ) Atividades 1. Leia este pequeno texto: “A interação entre religião e História já é antiga. E no que concerne à tradição ocidental, ancorada nos valores greco-romanos e princípios judaico-cristãos, isso é visível não só pela interferência de tais valores e crenças na constituição político-social e na cunhagem do imaginário europeu, assunto, aliás, já sedimentado; mas também pela importância que deram os ocidentais, as corporações religiosas, à História e ao seu ofício, a ponto de fazer dos gregos e latinos, mestres historiógrafos, e do Cristianismo, uma ‘religião de historiadores’”. (PRADO, 2014, p. 04-31, p. 4). Sobre a relação entre História e religião, assinale a alternativa correta: a) A interação entre religião e história é antiga, mas restringe-se ao campo do Cristianismo. b) A relação entre religião e história recebe influências greco-romanas e cristãs. c) A relação entre religião e história tem pouca influência de gregos e cristãos. d) A tradição ocidental, ancorada apenas nos princípios judaico-cristãos, define a história. e) A tradição ocidental, ancorada nos valores greco-romanos, define a história. 2. Leia este pequeno texto: “Podemos retornar ainda mais no tempo, pois há evidências ainda mais antigas sobre o interesse de pensadores pelo estudo da religião, que rementem ao séc. V a.C. Os filósofos pré-socráticos, na Grécia, denunciavam uma forte curiosidade pela religião. Parmênides (530-460 a. C.) e Empédocles (495-435 a.C.) teceram reflexões racionais sobre os deuses e mitos gregos; Demócrito (460-370 a. C.) interessou-se pelas religiões estrangeiras, especialmente as da Babilônia; Heródoto (484-425 a. C.) descreveu religiões do Egito, da Pérsia, da Trácia e da Cítia; Platão (429-347 a. C) estudou as religiões bárbaras; Aristóteles (384-322 a. C) a degenerescência da religião; Teofrasto (372-287 a.C.) foi considerado o primeiro historiador grego das religiões, produzindo textos sobre a temática, divididos em 6 volumes”. (PRADO, 2014, p.04-31, p. 4). Tendo isso em vista, sobre o começo da História das Religiões, o século XIX foi fundamental. Assinale, em relação a isso, a opção correta: a) A História das Religiões é uma das Ciências da Religião surgida a partir de distintas influências, por exemplo, a crítica da religião e os estudos comparativos entre mitos e civilizações. b) A História das Religiões é uma das Ciências da Religião que enfoca, basicamente, a história das doutrinas religiosas. c) A História das Religiões é uma das Ciências da Religião que enfoca, basicamente, a história das religiosidades e dos sentimentos religiosos d) A História das Religiões é uma das Ciências da Religião que se ocupa, centralmente, de documentos e discursos oficiais das religiões. e) A História das Religiões é uma das Ciências da Religião que procura estudar, basicamente, das tradições orais das religiões. 3. Sobre a Escola de Viena, na História das Religiões, e suas pesquisas e autores, procurou discordar do evolucionismo, que transposto para as Ciências Humanas e Sociais, tornou-se uma ideologia. Sobre a Escola de Viena, assinale a alternativa correta. a) A ideia central da Escola de Viena vai de encontro do difusionismo, negando que a religião e a cultura se difundem pelo tempo e espaço realizando intercâmbios entre si. b) O autor mais importante da Escola de Viena é Wilhelm Schmidt (1862-1954) e a ideia mais importante refere-se à comparação tipológica entre fatos religiosos. c) Na Escola de Viena, a História da Religião, como ciência, procura descrever o percurso, a sucessão dos fatos religiosos, mas também o nexo causal que liga um ao outro e um no outro. d) Na Escola de Viena, a História da Religião, como ciência, procura explicar a sucessão dos fatos religiosos e a hipótese do monoteísmo ético. e) Na Escola de Viena, a metodologia seguida é a da hermenêutica teológica que distingue e opõe os dados das culturas e religiões das ideias teológicas de orientação cristã. 4. Um dos fatos que marcaram o surgimento da Escola Italiana de História das Religiões foi a criação da cátedra de Storia delle religioni na Universidade de Roma (1924) e da revista Studi e materiali di Storia dele religioni (1925). Tendo em vista os muitos autores dessa escola e suas ideias básicas, assinale a resposta correta: a) Na Itália, a História das Religiões foi ao encontro da Igreja Católica e de setores das universidades que eram favoráveis ao estudo da religião por métodos/disciplinas específicos. b) A Escola Italiana das Religiões criticou a Escola de Viena por que esta reunia dados históricos das sociedades étnicas e os submetia a uma hipótese teológica a priori, o Urmonotheismus. c) Na Itália, a História das Religiões foi de encontro à Igreja Católica e aos setores das universidades que eram favoráveis ao estudo da religião por métodos/disciplinas específicos. d) Na Itália, a História das Religiões foi de encontro à Igreja Católica e aos setores das universidades que eram desfavoráveis ao estudo da religião por métodos/disciplinas específicos. e) A Escola Italiana das Religiões apoiava a Escola de Viena quando esta reuniu os dados históricos de sociedades étnicas e os submeteu a uma hipótese teológica a priori, o Urmonotheismus. 5. Preste atenção no trecho deste livro, escrito pelo historiador Ronaldo Vainfas, Casamento, amor e desejo no Ocidente Cristão. Essas ideias exemplificam a forma como a história lida com a religião: “A história da moral cristã é certamente muito complexa e faz-se necessário pontuá-la, escutar-lhe as palavras, traçar-lhe os passos, inquirir-lhe os segredos, fazendo um pouco à moda dos confessores do século XII. O casamento sempre foi um valor sagrado no Cristianismo? A austeridade sexual foi uma invenção da Igreja no Ocidente, estabelecendo-se assim, um abismo entre a moral cristã e a ética dita pagã? Reprimia-se genericamente o desejo ou condenavam-se, na prática, alguns prazeres? [...]. Em meio a essas indagações veremos, portanto, se e como foi construída uma doutrina ocidental acerca da sexualidade caracterizada, como quer Jacques Le Goff, pela recusa do prazer.” Tendo em vista o texto acima, e a forma como História vê a religião, marque a alternativa correta: a) No estudo da religião, as escolas históricas tendem a acentuar ideias, a priori, como a de permanência e atemporalidade do sagrado nas religiões. b) No estudo da religião, as escolas históricas tendem a acentuar ideias, a posteriori, como a de permanência e atemporalidade do sagrado nas religiões. c) No estudo da religião, todas as escolas históricas tendem a acentuar ideias como a de permanência do sagrado nas religiões. d) No estudo da religião, todas as escolas históricas tendem a acentuar ideias como a de mudanças e temporalidades do sagrado nas religiões. e) No estudo da religião, algumas escolas históricas tendem a acentuar ideias como a de mudanças e temporalidades do sagrado nas religiões. ( Pesquise, nos textos indicados na caixa Explore+ , e responda as seguintes perguntas: 6 . Quando começa a relação entre história e religião? ) ( 7. Qual é o objetivo ou dever central da História das Religiões? ) ( 8. Quais as principais escolas e influências presentes na História das Religiões? ) Notas Reflexão1 A História das Religiões foi uma das primeiras Ciências da Religião a nascer e a se estabelecer nas universidades europeias. Esse fato é fundamental e cheio de questões para os rumos atuais dessas Ciências. Mas, veja que Eusébio de Cesaréia (260-340), teólogo cristão, foi um dos que procuraram fazer a historiografia voltada para a área da religião, embora concentrando-se no Cristianismo. O fato de ser bispo da Igreja Católica romana e aliado do Imperador Constantino, representante deuma instituição e ao mesmo tempo um aliado político, influenciou a união entre a esfera eclesiástica e a política. A obra de Cesaréia dissolve a fronteira entre fato e crença e introduz o mito na historiografia. Durante toda a longa Idade Média, desde a Queda do Império Romano até as primeiras caravelas portuguesas e espanholas a “História das Religiões” ficou restrita a uma história eclesiástica, contada por bispos e padres, em geral católicos, apologética. Com a era das reformas religiosas, que começa muito antes da Reforma Protestante — feita pelos grandes reformadores, como Martinho Lutero (1483-1546), João Calvino (1509-1564), Ulrico Zwinglio (1484-1531) e Thomas Müntzer (1490-1525) —, outras versões da história do Cristianismo são contadas e levadas em consideração. Uma obra lançada ao final do século XVII começa a mostrar outro panorama: a História imparcial da Igreja e das heresias (1699-1700) de Gottfried Arnold (1666-1714) trouxe uma virada crítica quando defendeu um estudo imparcial das fontes (documentos originais) e ao chamar atenção para a importância dos elementos subjetivos na vivência religiosa e defender a tolerância. Note que se migrou de uma historiografia confessional limitada para uma historiografia ampla e laica. Onividência mágico-oracular2 Oráculo Termo que significa duas coisas ao mesmo tempo, a divindade consultada ou o sacerdote encarregado da consulta à divindade e transmissão de suas respostas. Onividência Que tudo vê, que tudo conhece e tudo sabe.□Expressão composta pela raiz do latim onmi, todo, totalidade, e vide, visão. Onividência mágico-oracular Conhecimento de tudo o que aconteceu, acontece e acontecerá de forma mágica e por oráculos. Zoroastrismo3 Principal profeta e líder religioso do Islamismo para os muçulmanos. Nascido em Meca, na Arábia Saudita, no ano que corresponde a 571 d.C. Pertencia à tribo dos coraixitas, clã dos hachemitas. Ficou órfão cedo, foi criado por seu tio, Abu Talib, tornou-se mercador, casou-se com uma rica viúva (Khadijah), mas, aos 40 anos, segundo a tradição islâmica, começou a receber as revelações do Arcanjo Gabriel. Disseminou a crença islâmica, mas houve um conflito com os comerciantes de Meca. O islamismo afirma sua potência, em Meca, importante cidade; e, na Arábia, havia diferentes credos (politeístas, judaicos e cristãos). Mohammad e seguidores fogem para a cidade de Yatreb (Medina). Essa fuga é chamada de Hégira e dá início ao calendário islâmico, o ano zero, assim como o nascimento de Jesus dá início ao calendário cristão. Depois, Mohammad retoma Meca e inicia a expansão do islamismo pelo mundo. Zoroastrismo4 Chamado também de mazdeísmo, é uma religião monoteísta surgida no Irã, baseada nos ensinamentos do profeta Zaratustra ou Zoroastro (628 – 551 a.C.). Segundo as tradições desta religião, Zoroastro viveu na Ásia Central, atualmente leste do Irã e Afeganistão. No sistema de crenças, Ahura Mazda é a divindade maior, criadora de todas as coisas boas e Ahriman é o princípio destrutivo, as trevas. Possui um livro sagrado, Zend-Avesta, contendo hinos, rituais, instruções, legislação. Foi, a rigor, a primeira religião monoteísta surgida entre os seres humanos. Segunda geração5 Fernand Braudel (1902-1885) e Jacques Le Goff (1924) Terceira geração6 Emmanuel Le Roy Ladurie (1929-), Marc Ferro (1924-2014), Philippe Ariès (1914-1984) e Pierre Nora (1929-) monoteísmo 7 Devoção ou adoração a apenas um ser ou deus conjugado com o reconhecimento da existência de outros deuses. Referências BELOTTI, Karina. História das Religiões: conceitos e debates na era contemporânea. Disponível em: <http://revistas.ufpr.br/historia/article/viewFile/26526/17686 <http://revistas.ufpr.br/historia/article/viewFile/26526/17686> >. Acesso em 08 fev. 2018. FIROLAMO, Giovanni; PRANDI, Carlo (orgs.). As Ciências das Religiões. 8. ed. São Paulo: Paulinas, 2016. GASBARRO, Nicola. Missões: a civilização cristã em ação. In: MONTERO, Paula (org). Deus na Aldeia: missionários, índios e mediação cultural. São Paulo: Globo, 2006. GUSDORF, Georges. Mito e metafísica. São Paulo: Convívio, 1980, p. 24. LIA, Cristina. História das Religiões e religiosidades: contribuições e novas abordagens. Disponível em: <http://seer.ufrgs.br/index.php/aedos/article/view/31208/20886 <http://seer.ufrgs.br/index.php/aedos/article/view/31208/20886> >. LIMA, Carlos R. V. Cirne. Mitologia e história. In: SCHÜLER, Donald; GOETTEMS, Míriam Barcellos (orgs.). Mito ontem e hoje. Porto Alegre: Editora da UFRGS, p. 208-216, 1990, p. 208. MATA, Sérgio da. História e religião. Belo Horizonte: Autêntica, 2010. PASSOS, João D.; USARSKI, Frank (orgs.). Compêndio de Ciência da Religião. São Paulo: Paulinas: Paulus, 2013. PRADO, André Pires do; SILVA JÚNIOR, Alfredo Moreira da. História das Religiões, história religiosa e ciência da religião em perspectiva: trajetórias, métodos e distinções. In: Religare, João Pessoa, v.11, n.1, março de 2014, p. 04-31, p. 4. Próximos Passos A religião como elemento social; As escolas sociológicas clássicas e contemporâneas; Religião e estrutura social; Religião e as abordagens contemporâneas. Explore mais Leia estes três artigos científicos, eles apresentam o que é a História das Religiões: Da historiadora Karina Belotti, História das Religiões: conceitos e debates na era contemporânea. <http://revistas.ufpr.br/historia/article/viewFile/26526/17686> Da historiadora Cristina Lia, História das Religiões e religiosidades: contribuições e novas abordagens. <http://seer.ufrgs.br/index.php/aedos/article/view/31208/20886> Dos professores André Prado e Alfredo da Silva Júnior, História das Religiões, história religiosa e ciência da religião em perspectiva: trajetórias, métodos e distinções. <http://periodicos.ufpb.br/index.php/religare/article/viewFile/22191/12285>
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