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1 Prof. Nonato Vieira Introdução às Sagradas Escrituras Aula 2 Conversa Inicial Normalmente, quando se aborda a estrutura das Escrituras, pensa-se em algo apenas da cultura material, mas esta aula tratará do tema sob o olhar das duas expressões culturais: material e imaterial O objetivo é que a elaboração do que se conhece hoje como uma estrutura acabada possa ser visto como algo que surgiu, em parte, como resultado do fazer cultural humano A Estrutura da Bíblia Foi criada uma linguagem exclusiva para produzir as Sagradas Escrituras? A produção desse livro se deu em um ambiente fechado, socio, geográfica e culturalmente? Houve interação com outros centros de produção da cultura literária? Quais materiais foram usados? Suas línguas As línguas são resultado de interação sociocultural e desenvolvimento de uma sociedade que busca maneiras adequadas de compartilhar de seus mundos socialmente criados Deus, poderoso e sábio, utilizou-se de meios culturais compreensíveis e poderosos para a comunicação, com fim de se revelar e ser compreendido As línguas que foram utilizadas para a escrita do Antigo Testamento 2 Em sua sabedoria, Deus escolheu se revelar a um povo semita e, para alcançá-lo, usou uma língua semita O texto do Antigo Testamento foi escrito nas línguas aramaico e hebraico A língua utilizada para a escrita da maior parte do primeiro cânon Bíblico foi o hebraico O hebraico é uma língua pessoal Na escrita do Novo Testamento, tem-se a influência do aramaico, o povo de Israel veio de cativeiros de povos que falavam o aramaico, que foi uma língua comercial durante um período longo com influência sobre a cultura judaica, mas não era mais uma língua com tanto vigor que pudesse suplantar o grego popular na época de produção e transmissão do Novo Testamento As línguas que foram utilizadas para a escrita do Novo Testamento Joaquim Jeremias defendeu a escrita total dos evangelhos na língua aramaica É mais provável que uma pequena porção dos evangelhos tenha sido escrita em aramaico O grego, no estágio popular, era a língua comercial do "mundo" Uma língua mais fácil para trabalhar assuntos complexos – ex.: encarnação Seu ambiente sociogeográfico A bíblia não caiu do céu, como estrutura, mas é resultado do fazer cultural da humanidade. Como já foi visto, valeu-se de línguas, culturas, mas também foi produzida em um espaço definido e em um tempo com suas peculiaridades socioculturais O ambiente social Quais eram as realidades sociais do ambiente em que surgiram os escritos da Bíblia? Região de tribos nômades/seminômades Sociedade concentrada na solidariedade tribal Sociedades egípcias, Mesopotâmicas, Fenícias, Medos e Persas... Constante intercâmbio cultural 3 As escrituras narram acontecimentos e ditos revelacionais ou até mesmo da história social da humanidade, cobrindo um tempo de mais de dois mil anos e um espaço de milhares de quilômetros de terra palmilhada pelos atores das narrativas bíblicas O ambiente geográfico Encontramos uma trilha muito grande, que os patriarcas trilharam entre Mesopotâmia, Canaã, Egito e outras terras hoje chamadas africanas A maioria das narrativas tem a terra de Israel como cenário principal NT – Palestina, mas estende-se da Espanha, Itália, Ásia Menor, compreendendo onde hoje estão Turquia, Iraque, Grécia, entre outros Seu ambiente religioso A religião sempre teve a força de moldar o rumo das civilizações, como é o caso da civilização dos hebreus O Antigo Testamento se desenvolve em meio a dois polos religiosos quanto à forma de explicar o mundo, seu surgimento, sustentação e futuro – politeísmo e monoteísmo O ambiente religioso do Antigo Testamento As civilizações que mais influenciaram na formação de Israel, como a egípcia, a mesopotâmica, a cananeia, a fenícia e outras eram todas de prática politeísta Israel tem uma confissão monoteísta Monoteísmo e politeísmo polarizam as exortações do AT Exortação kerigmática – chamado ao arrependimento Coulanges (1961, p. 59) aponta apenas o ramo de duas das maiores religiões do período do Novo Testamento: “Dessas duas religiões, a primeira tomava os seus deuses da alma humana, a segunda, da natureza física”, porém, o judaísmo e o gnosticismo foram motivos de livros inteiros terem sido escritos O ambiente do Novo Testamento 4 O culto aos mortos e todas as suas ramificações levaram o Apóstolo Paulo a escrever aos Tessalonicenses e exortá-los a ter cuidado com essas crenças A força da crença judaica levou o mesmo autor a escrever Cartas como Gálatas O Livro de João e a Carta aos Colossenses têm nas suas mensagens a preocupação de combater o gnosticismo Os autores Por se tratar de um texto produzido, dentro de um contexto sociocultural, por pessoas que possuíam traços desse contexto mais a sua bagagem, transmitida de gerações familiares, e ainda seus traços pessoais, o texto bíblico, quanto produzido nessa esfera, traz essas presenças em seus traços de produção A personalidade dos autores Os profetas que escreveram as Escrituras não eram autômatos, eram mais como secretários preparados para anotar o que lhes era ditado As personalidades dos profetas não foram violentadas por uma intrusão sobrenatural Escreveram com o coração Segundo a consciência que os movia Personalidades: Jeremias x Isaías A formação dos autores bíblicos é muito diversa, temos homens com uma excelente formação, digna de um chefe de estado, bem como homens simples, com provável pouca instrução formal A formação dos autores Na corte real, Moisés aprendeu a ler e a escrever e foi instruído na cultura egípcia Falava a língua do Egito e o acadiano (da Babilônia), além do hebraico, sua língua materna Ele provavelmente estudou os clássicos babilônios Lucas, Paulo, Pedro, Amós... 5 Materiais utilizados para a produção da Bíblia A evolução dos instrumentos para a escrita esteve associada à evolução do material que receberia a escrita, porém, mesmo depois da descoberta de bases mais finas, que possibilitavam melhor acabamento, instrumentos e materiais variados permaneceram coexistindo até certo ponto da história da escrita Instrumentos para a escrita A escolha do instrumento de escrita e do material no qual se queria escrever, bem como a natureza desse material, tinham grande influência sobre a forma das letras Cinzel – para pedras mais duras Ponteiros – para cerâmicas ou similares Pincel de junco – para superfícies lisas Cálamo – para superfícies lisas Os autores das Escrituras empregaram os mesmos materiais em uso no mundo antigo. [...] As tabuinhas de barro eram usadas não só na antiga Suméria, já em 3500 a.C., mas também por Jeremias e por Ezequiel As pedras também eram usadas para fazer inscrições na Mesopotâmia, no Egito e na Palestina, para gravação do Código de Hamurabi Material que recebeu a escrita Muitos foram os materiais usados, ainda que temporariamente, por alguns: Pedras para serem talhadas Pedras pintadas com cal na superfície Tábuas revestidas de cera Papiro / pergaminho / cerâmicas... Na Prática 6 Foi mencionada a história do Pedro como um olhar prático para a aula de hoje. Esta aula ajuda Pedro a continuar a conversa com o seu amigo? A história do Pedro A Bíblia precisa ser compreendida no seu contexto primário A compreensão da estrutura da Bíblia é importante para que se entendam certas particularidades do texto sagrado A compreensão das línguas bíblicas ajudam na boa compreensão do texto A Bíblia faz parte da história da escrita Finalizando Nesta aula, vimos que as Sagradas Escrituras se valeram de todo o aparato cultural existente no decorrer de sua escrita As estruturas material e imaterial da Bíblia Contextos forjam identidades e discursos Na língua, se expressam valores No contexto sociogeográfico, forja-se a identidade No contexto religioso, forjam-se cosmovisões Na cultura material, forjam-se técnicas e habilidadesReferências 7 COULANGES, F, de. A cidade antiga: a marcha das civilizações. Trad. Frederico Ozanam Pessoa de Barros. São Paulo: Editora das Américas, 1961. v. 1.