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Júlia Figueirêdo – LOCOMOÇÃO E APREENSÃO ANATOMIA E SEMIOLOGIA DOS MEMBROS SUPERIORES: O membro superior (MS) é uma estrutura caracterizada por elevada mobilidade e precisão, sendo formado por 4 segmentos principais: ombro (e sua cintura escapular), braço (porção mais longa), antebraço e mão. Anatomia topográfica do membro superior ANATOMIA DO OMBRO: A cintura escapular, que une o membro superior ao esqueleto axial, é formada por dois ossos de grande importância: Clavícula: estrutura anterior que dá suporte ao movimento escapular e une o MS ao tronco; Escápula: osso plano e triangular que se situa na região dorsal, sendo dividida posteriormente pela espinha da escápula em porções supra e infraespinal. Essa formação se continua lateralmente, com o acrômio, ponto do ombro no qual se insere a articulação clavicular. Nessa área também está a cavidade glenoidal, de aspecto raso e côncavo, ponto de interação com o úmero. Vistas anterior e posterior da anatomia óssea da cintura escapular No que se refere aos componentes musculares do ombro, eles podem ser divididos em: Músculos toracoapendiculares anteriores: promovem a movimentação do cíngulo do membro superior; o Peitoral maior: age sobre a adução e rotação medial do úmero e o deslocamento anteroinferior da escápula; A articulação esternoclavicular é o único foco de transmissão de choques entre o membro superior e o esqueleto axial Ainda que seja revertida por diversos ligamentos, a articulação acromioclavicular é bastante frágil, podendo ser lesionada em esportes de alto contato Júlia Figueirêdo – LOCOMOÇÃO E APREENSÃO o Peitoral menor: é responsável pela estabilização da escápula, também a movendo nos sentidos anterior e inferior; o Subclávio: tem como função a fixação e depressão escapular; o Serrátil anterior: “empurra” a escápula contra a parede do tórax, além de auxiliar sua rotação. Músculos toracoapendiculares anteriores (em destaque) Músculos toracoapendiculares posteriores: o Trapézio: seu papel consiste em retrair a escápula e girar superiormente a cavidade glenoidal; o Latíssimo do dorso: músculo que se estende por toda a lateral das costas, tem como função a extensão, adução e movimento medial do úmero; o Levantador da escápula: promove, como o nome indica, a elevação escapular, além de girar inferiormente a cavidade glenoidal; o Romboides menor e maior: atuam na fixação escapular ao tórax, auxiliando a retraí-la e rotacionar a cavidade glenoidal para baixo. Músculos escapuloumerais: o Deltoide: apresenta importante papel na movimentação do MS, realizando flexão, extensão, abdução e rotação medial/lateral; o Redondo maior: realiza a abdução e rotação medial do braço; o Redondo menor: age na rotação lateral do MS; o Supraespinal: tem papel auxiliar à movimentação desempenhada pelo deltoide; o Infraespinal: assim como o redondo menor, é responsável por rotacionar lateralmente o membro superior; o Subescapular: apresenta função similar à do redondo maior, rodando medialmente o braço. Músculos toracoapendiculares posteriores (destaque azul) e escapuloumerais (destaque em verde) Os músculos redondo menor, supraespinal, infraespinal e subescapular compõem o manguito rotador, estrutura que envolve a articulação do ombro, garantindo proteção e estabilidade ao manter a cabeça do úmero na cavidade glenoidal durante a movimentação do braço Júlia Figueirêdo – LOCOMOÇÃO E APREENSÃO ANATOMIA DO BRAÇO: O úmero articula-se à escápula na região da cavidade glenoidal, relacionando-se às estruturas do antebraço na articulação do cotovelo. Em sua extremidade distal estão situados a tróclea (medial, interage com a ulna), o capítulo (lateral, articulado ao rádio) e as fossas do olecrano, coronoidea e radial, compondo o côndilo do úmero. Marcos anatômicos do úmero Como principais músculos dessa região, destacam-se: Bíceps braquial: realiza supinação e flexão do antebraço; Coracobraquial: auxilia na adução e flexão do braço; Braquial: flete o antebraço; Tríceps braquial: tem como principais funções a extensão do antebraço e a resistência à luxação umeral durante a abdução do braço; Ancôneo: estabiliza o cotovelo e estende o antebraço, junto ao tríceps braquial. Anatomia topográfica dos músculos do braço ANATOMIA DO ANTEBRAÇO: O antebraço é formado por dois ossos paralelos, sendo que o rádio é capaz de girar sobre a ulna, promovendo a supinação e pronação da mão mesmo enquanto o cotovelo está fletido. A ulna é responsável pela estabilização do antebraço, apresentando duas projeções para sua articulação ao úmero, o olecrano (“ponta do cotovelo”) e o processo coronoide. Anatomia dos ossos do antebraço Júlia Figueirêdo – LOCOMOÇÃO E APREENSÃO Os componentes musculares dessa região têm como função não somente a movimentação do antebraço em si, mas também auxiliar a flexão e extensão dos dedos das mãos. Musculatura superficial e profunda do antebraço ANATOMIA DA MÃO: As mãos são as porções mais especializadas de todo o sistema locomotor, dotadas de elevada sensibilidade e mobilidade, além de considerável força muscular. De modo geral, essas extremidades são divididas em carpo (ossos escafoide, semilunar, piramidal, pisiforme, trapézio, trapezoide, capitato e hamato), metacarpos (“ossos da base dos dedos”) e falanges digitais. Principais ossos da mão O punho, por sua vez, é composto pela articulação radiocarpal, estrutura formada pela porção distal do rádio (a ulna contribui apenas com uma membrana fibrosa para estabilização), e pelos ossos da primeira fileira do carpo. A cápsula articular ainda é reforçada por ligamentos dorsais e palmares, atuantes nos movimentos de pronação e supinação, respectivamente. Fisiologia das articulações do punho Duas saliências nos coxins palmares formam as eminências tenar (polegar) e hipotênar (associada ao 5º dedo), usadas como referencial anatômico para componentes musculares intrínsecos: Músculos tenares: o Oponente do polegar: realiza o desvio medial do 1º metacarpo; o Abdutor curto do polegar: promove a abdução e ajuda o movimento opositor do polegar; o Flexor curto do polegar: age na flexão do primeiro dedo; o Adutor do polegar: responsável pela adução do polegar rumo à face lateral da palma. Músculos hipotênares: o Abdutor do dedo mínimo: como seu nome sugere, abduz o 5º dedo, além de contribuir para a flexão do mesmo; Júlia Figueirêdo – LOCOMOÇÃO E APREENSÃO o Flexor do dedo mínimo: é o principal responsável por fletir a falange proximal dessa estrutura; o Oponente do dedo mínimo: provoca o movimento do 5º dedo em direção ao polegar. Músculos de maior relevância à função das mãos A inervação da mão é realizada pelos nervos ulnar (4º e 5º dedos), mediano (1º, 2º, 3º e 4º dedos, além de músculos flexores do punho) e radial (1º, 2º e 3º metacarpos e musculatura extensora do antebraço). Topografia da inervação da mão SEMIOLOGIA DOS MEMBROS SUPERIORES: EXAME FÍSICO DO OMBRO: A inspeção do ombro deve contemplar as superfícies anterior (articulações ósseas), lateral e posterior (posição da escápula e aparência geral dos músculos), registrando também deformidades na coluna cervical ou no tórax. Durante a palpação, os focos principais devem ser as estruturas ósseas, como a clavícula, identificando deformidades ou edema, e as articulações esternoclavicular e acrômio-clavicular (busca pelo sinal da tecla). Possíveis pontos dolorosos sobre os músculos também devem ser pesquisados, bem como aumento de temperatura e inchaço, sinais sugestivos de inflamação.A avaliação da mobilidade é iniciada com movimentos ativos do ombro, seguida pela ativação passiva dos mesmos grupamentos musculares, observando alterações de amplitude tanto globais quanto específicas: Abdução: normalmente permite o deslocamento de 0 a 90° ao mover os braços lateralmente, partindo de uma posição elevada ao nível do tórax. Adução: movimento oposto a abdução, com o cruzamento do braço sobre o tronco (“se abraçar”), possibilitando variação de 0 a 75°; Trajetória dos movimentos de abdução e adução Elevação: realizada no plano escapular (“bater as asas”), varia de 0 a 180°; Flexão: consiste no arco formado ao levantar os braços acima da cabeça e retorná-los à posição original, com amplitude esperada de 180°; Extensão: é feita no plano sagital, como se “jogasse os braços para trás”, em direção às costas, podendo chegar a 60°; Júlia Figueirêdo – LOCOMOÇÃO E APREENSÃO Movimentos de flexão e extensão do ombro Rotação externa: é avaliada ao solicitar que o paciente rotacione o antebraço fletido sem mover o restante do braço, tendo variação média de 0-75°; Rotação interna: descreve o movimento oposto ao anterior, buscando aproximar as extremidades ao tórax. Movimentos de rotação do ombro A realização de provas funcionais pode ter grande contribuição no exame físico, uma vez que estimula movimentos e gestos comuns do cotidiano, tais como: Levar a mão à nádega oposta; Levar a mão às costas, tocando com o polegar o vértice inferior da escápula; Colocar a palma da mão no ombro oposto; Levar a palma da mão à nuca. Em caso de dificuldade nessas atividades, é preciso avaliar mais atentamente a origem da rigidez ou instabilidade articular. No que se refere aos testes clínicos especiais para patologias do ombro, destacam-se: Teste de Neer: o membro superior, colocado em extensão e rotação neutra é elevado passivamente pelo examinador. Nesse movimento, a tuberosidade do úmero se projeta contra o acrômio, reproduzindo a dor causada pela inflamação do tendão supra- espinhoso e da bursa subacromial. Esse teste é positivo em quadros de síndrome do impacto do manguito rotador. Representação do teste de Neer O ritmo escapuloumeral é avaliado por uma sequência de movimentos subsequentes, repetindo as atividades realizadas anteriormente Júlia Figueirêdo – LOCOMOÇÃO E APREENSÃO Anatomia do ombro, destacando a bursa subacromial, foco de dor no teste de Neer positivo Teste de Gerber: o paciente é solicitado a colocar o dorso da mão em região lombar, removendo-a rapidamente em seguida, de forma a induzir a rotação interna do ombro. A impossibilidade de realização do teste sugere lesão do músculo infraespinhoso. Posicionamento durante o teste de Gerber Teste de Jobe: com o paciente de pé, de frente ao examinador, é feita a flexão e abdução do braço em 30°, o rotacionando para “dentro”, de forma que os polegares apontem para baixo. Posteriormente, o médico impõe resistência na altura do cotovelo, pedindo que o indivíduo flexione o braço. Em quadros de inflamação ou ruptura do tendão do músculo supraespinhoso, a realização dessa manobra causa dor na face anterolateral do ombro. Execução do teste de Jobe Teste de Hawkins-Kennedy: realizado a partir da flexão e rotação externa passiva do cotovelo, com o examinador estabilizando o ombro ipsilateral. Quando positivo, o paciente refere dor que se estende à face anterolateral do braço, em decorrência do atrito ou impacto do tendão supra-espinhoso. Manobra para o teste de Hawkins-Kennedy Teste da apreensão: posicionado atrás do paciente, o examinador realiza uma série de movimentos de abdução, rotação externa e extensão do ombro, ao mesmo tempo em que, com o polegar da outra mão, pressiona a face posterior da cabeça do úmero. Quando quadros com instabilidade articular, o indivíduo tem sensação de luxação iminente, tentando interromper a continuidade do teste. EXAME FÍSICO DO COTOVELO: A inspeção do cotovelo é frequentemente realizada pela visão posterior, onde também Júlia Figueirêdo – LOCOMOÇÃO E APREENSÃO se inicia a palpação, identificando principalmente os epicôndilos e o olécrano. Em casos de bursite crônica, uma tumefação é visível e palpável nessa região, com consistência variável, dependendo da presença ou não de infecção associada. O músculo braquiorradial pode ser identificado ao pedir que o indivíduo feche o punho enquanto flete o cotovelo, tendo o punho restrito pelo examinador. No que se refere aos extensores do carpo, sua detecção ocorre durante a extensão contra resistência. A estrutura medial de maior relevância no cotovelo é o nervo ulnar, que passa pela goteira do olécrano. Sua palpação revela uma estrutura cilíndrica e flexível, podendo haver dor se for comprimida junto ao osso. Na avaliação dos movimentos, é importante ressaltar que essa articulação executa “apenas” flexão/extensão (0 a 140º) e pronação/supinação A perda da capacidade de extensão é um indicador bastante sensível e precoce de patologias intra- articulares do cotovelo, sendo um sinal precoce de patologia intra- articular. Os testes de estabilidade analisam ligamentos anteroposteriores, laterais e mediais a partir de manobras em varo (úmero em rotação interna) e valgo (rotação externa do braço), ambos com o antebraço em ligeira flexão (15º), para desobstruir a fosseta olecraniana. EXAME FÍSICO DO PUNHO E MÃO: Durante a inspeção das mãos é possível detectar deformidades ou edemas, que atuam como indicadores de fraturas, luxações ou quadros inflamatórios, sendo necessário descrever minuciosamente a sua localização. Cicatrizes não devem ser menosprezadas, pois sua localização pode levar a restrições na mobilidade, seja do punho ou dos dedos. À palpação, devem ser levadas em consideração alterações de temperatura (artrite reumatoide, sinovites ou infecções), focos de dor e estalos, além de edemas, estabelecendo sua consistência e localização. Nas mãos, um dos principais pontos de referência para a pesquisa de dor é a tabaqueira anatômica (apófise estiloide do rádio), principalmente em síndromes compressivas. Durante o exame da mobilidade articular do punho, é necessário testar tanto exercícios ativos quanto passivos de flexão/extensão palmares, adução (desvio ulnar), abdução (desvio radial) e supinação/pronação com o auxílio de um goniômetro (aferidor da angulação), identificando se eles causam ou não dor. Normalmente, ambas as categorias são equivalentes, porém em doenças dos tendões, a mobilização passiva é mais ampla. Para investigar a amplitude de movimento das mãos, é necessário avaliar as articulações metacarpo-falangiana e interfalangianas proximal e distal de cada dedo, sendo que a oponência do polegar não deve ser negligenciada. A força dos músculos estabilizadores do punho deve ser testada do mesmo modo que em outros grupamentos sistêmicos, classificando os resultados na escala MRC (graus 0-5) Júlia Figueirêdo – LOCOMOÇÃO E APREENSÃO Como testes especiais das extremidades superiores, destacam-se: Teste de Finkelstein: baseia-se na realização de um desvio ulnar do punho, mantendo o polegar na palma fechada. O teste é positivo se produzir dor no processo estiloide do rádio. É empregado para o diagnóstico da tenossinovite de Quervain. Execução do teste de Finkelstein, evidenciando o estiramento do tendão Teste de Phalen: consiste em manter os punhos em flexão máxima (um contra o outro ou de forma individual) por 1 minuto, sendo positivo na presença de dormência na região inervada pelo nervo mediano. Pode ser utilizado durante ainvestigação de síndrome do túnel do carpo. Testes de Phalen e Phalen reverso (movimento oposto da articulação do punho) Teste de Tinel: feito por meio da percussão suave no trajeto de um nervo, em sentido distal para proximal, sendo que, na presença de degenerações ou compressões, o paciente refere sensação de choque (sinal de Tinel). Também faz parte da avaliação da síndrome do túnel do carpo. Representação da palpação do nervo ulnar durante o teste de Tinel Teste do nervo ulnar: realizado pela avaliação sensitiva das áreas inervadas e pela busca por fraqueza ou paralisia durante a abdução do 5º dedo; Teste do nervo mediano: utiliza as mesmas etapas anteriores, porém, o componente motor requer a realização de uma pinça com o polegar e o indicador com as pontas dos dedos. Lesões irão tornar o movimento possível apenas com as pontas digitais Teste do nervo radial: também é semelhante aos anteriores, avaliando a extensão de punho e dedos contra resistência, podendo revelar “mão caída” em caso de paralisia completa, típica em fraturas diafisiárias do úmero. Teste dos tendões flexores dos dedos: é solicitado que o paciente flexione primeiramente a articulações metacarpofalangiana e interfalangianas dorsal, com os demais dedos estabilizados em extensão, e, posteriormente, que seja fletida a articulação interfalangianas distal, determinando integridade de estruturas superficiais e profundas, respectivamente.
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