Buscar

Psicanálise Aplicada à Psicopedagogia

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 273 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 273 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 273 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

Indaial – 2021
Psicanálise aPlicada à 
PsicoPedagogia
Prof.ª Karoline Gregol Pereira 
Prof. Kevin Daniel dos Santos Leyser
1a Edição
Copyright © UNIASSELVI 2021
Elaboração:
Prof.ª Karoline Gregol Pereira 
Prof. Kevin Daniel dos Santos Leyser
Revisão, Diagramação e Produção:
Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI
Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri 
UNIASSELVI – Indaial.
Impresso por:
P436p
 Pereira, Karoline Gregol
 
 Psicanálise aplicada à psicopedagogia. / Karoline Gregol 
Pereira; Kevin Daniel dos Santos Leyser – Indaial: UNIASSELVI, 
2021.
 
 273 p.; il.
 ISBN 978-65-5663-872-0
 ISBN Digital 978-65-5663-870-6 
 
 1. Psicopedagogia. - Brasil. I. Leyser, Kevin Daniel dos Santos. 
II. Centro Universitário Leonardo da Vinci.
 CDD 150
aPresentação
Aprender é como ir à academia. Acreditamos que o aprendizado 
provavelmente seja mais bem concebido como algo muito semelhante ao 
preparo físico. Certamente, não pensamos que avançamos muito se – como 
professores – encaramos a aprendizagem simplesmente como a passagem 
de informações da cabeça de uma pessoa para a cabeça de outra. No fundo, 
sabemos instintivamente que ensinar é muito mais do que isso. E se algum 
dia nos esquecermos, não demorará muito para que sejamos intensamente 
lembrados de que ensinar não é simplesmente dizer à outra pessoa o que 
gostaríamos que ela aprendesse.
 
Aprender, assim como a aptidão física, não é algo que podemos dizer 
que “possuímos”. Infelizmente, não podemos “colocar” aptidão em nossos 
corpos. Em vez disso, a boa forma é a resposta natural de nossos corpos 
às condições (as condições adversas) às quais nos sujeitamos quando nos 
exercitamos, vivemos e comemos de maneira saudável. Da mesma forma, 
aprender é a nossa resposta a tudo o que acontece quando entramos em 
contato com um professor; não é uma “coisa” discreta que, pode-se dizer, 
o professor pode nos “dar”. Os melhores professores desempenham um 
papel semelhante ao de um bom treinador ou personal trainer. Os melhores 
professores estão principalmente preocupados em facilitar nossa inclinação 
para aprender, em estimular e manter nosso interesse e entusiasmo, ao invés 
de “transmitir” seus conhecimentos para nós.
 
Aprender sugere uma analogia com “aptidão” não apenas no 
sentido fisiológico cotidiano da palavra, mas também em seu sentido 
darwiniano especializado. A adaptação de criaturas vivas a seus ambientes 
em constante mudança é a personificação no mundo vivo de um “processo 
de aprendizagem” constante e natural. A evolução por seleção natural faz 
com que os organismos vivos se tornem “mais adaptados”, caso contrário, 
eles deixam de ser organismos vivos. A evolução oferece a possibilidade 
de que os seres vivos se tornem mais complexos, sofisticados, resilientes. A 
consciência e a engenhosidade do intelecto humano parecem ser os produtos 
desse processo de aprendizagem inerente à própria vida, embora deva-se 
ter em mente que a evolução e a seleção natural operam “cegamente”, sem 
objetivo pré-determinado, e esse potencial evolutivo é limitado tanto pelo 
ambiente de uma criatura quanto por sua herança genética.
 
A natureza instintiva, sem objetivo e sem direção deste processo, pelo 
qual as criaturas vivas, no entanto, podem se tornar mais aptas, deve nos 
lembrar que, embora “razão” e “inteligência” sejam resultados potenciais 
da aprendizagem, o próprio processo de aprendizagem (como a evolução) 
não precisa ser considerado “racional”, ou como tendo um significado 
logicamente discernível ou objetivo de longo prazo.
Este é o ponto em que a psicanálise entra no debate sobre a natureza 
da aprendizagem. Ele abre novas perspectivas sobre o que é aprendizagem 
e sobre o que os professores fazem. A psicanálise é capaz de fazer isso 
porque, mais do que qualquer outra disciplina, está bem-posicionada para 
nos lembrar que a vontade e a capacidade de aprender são moldadas por 
influências muito distantes dos motivos conscientes e racionais.
Este Livro Didático tem como objetivo explorar este caminho aberto 
pela psicanálise ao olhar para os fenômenos da aprendizagem, foco principal 
da psicopedagogia.
Na Unidade 1 deste livro, você explorará as relações possíveis 
entre a psicanálise e a educação a partir da visão da psicanálise como 
psicopedagogia. No Tópico 1 o foco será a história da psicanálise e a 
introdução do inconsciente como uma forma de conhecimento. No Tópico 2 
será o Ego e outras estratégias de resistência que vamos explorar juntos. Por 
fim, no Tópico 3 da primeira Unidade, você aprenderá a transferência como 
uma técnica fundamental psicopedagógica da psicanálise.
Na Unidade 2, vamos, primeiramente, comparar as abordagens 
clássicas à aprendizagem (o comportamentalismo, cognitivismo e 
humanismo) com a abordagem psicanalítica e suas possíveis contribuições 
neste campo de estudo. Prosseguiremos com a exploração do pensamento de 
dois autores psicanalíticos: Freud e Bion, para pensarmos a aprendizagem.
Na Unidade 3 será a contribuição psicanalítica do pensamento de 
Jung e Winnicott ao campo da aprendizagem que vamos descrever com mais 
profundidade. Para finalizar o Livro Didático, o último tópico apresentará 
um mapeamento histórico das relações entre psicanálise e educação.
Desejamos que o conteúdo deste Livro desperte em você o desejo de 
aprender – de buscar não apenas mais saber, mas de buscar mais ser, enfim, 
a melhor versão de você mesmo.
Karoline Gregol Pereira 
Kevin Daniel dos Santos Leyser
Você já me conhece das outras disciplinas? Não? É calouro? Enfim, tanto para 
você que está chegando agora à UNIASSELVI quanto para você que já é veterano, há novi-
dades em nosso material.
Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos os acadêmicos desde 2005, é 
o material base da disciplina. A partir de 2017, nossos livros estão de visual novo, com um 
formato mais prático, que cabe na bolsa e facilita a leitura. 
O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura interna foi aperfeiçoada com nova diagra-
mação no texto, aproveitando ao máximo o espaço da página, o que também contribui 
para diminuir a extração de árvores para produção de folhas de papel, por exemplo.
Assim, a UNIASSELVI, preocupando-se com o impacto de nossas ações sobre o ambiente, 
apresenta também este livro no formato digital. Assim, você, acadêmico, tem a possibilida-
de de estudá-lo com versatilidade nas telas do celular, tablet ou computador. 
 
Eu mesmo, UNI, ganhei um novo layout, você me verá frequentemente e surgirei para 
apresentar dicas de vídeos e outras fontes de conhecimento que complementam o assun-
to em questão. 
Todos esses ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos nas pesquisas 
institucionais sobre os materiais impressos, para que você, nossa maior prioridade, possa 
continuar seus estudos com um material de qualidade.
Aproveito o momento para convidá-lo para um bate-papo sobre o Exame Nacional de 
Desempenho de Estudantes – ENADE. 
 
Bons estudos!
NOTA
Olá, acadêmico! Iniciamos agora mais uma disciplina e com ela 
um novo conhecimento. 
Com o objetivo de enriquecer seu conhecimento, construímos, além do livro 
que está em suas mãos, uma rica trilha de aprendizagem, por meio dela você 
terá contato com o vídeo da disciplina, o objeto de aprendizagem, materiais complemen-
tares, entre outros, todos pensados e construídos na intenção de auxiliar seu crescimento.
Acesse o QR Code, que levará ao AVA, e veja as novidades que preparamos para seu estudo.
Conte conosco, estaremos juntos nesta caminhada!
LEMBRETE
sumário
UNIDADE 1 — A PSICANÁLISE COMO PSICOPEDAGOGIA ................................................. 1
TÓPICO 1 — O INCONSCIENTE: UMA FORMA DE CONHECIMENTO ............................... 3
1 INTRODUÇÃO ....................................................................................................................................3
2 A PSICANÁLISE COMO PSICOPEDAGOGIA, A PSICOPEDAGOGIA 
 COMO PSICANÁLISE ....................................................................................................................... 3
3 A REJEIÇÃO DA HIPNOSE EM FAVOR DA PEDAGOGIA ..................................................... 7
4 A DESCOBERTA DA PSICANÁLISE ............................................................................................ 10
5 O INCONSCIENTE E O REPRIMIDO .......................................................................................... 12
6 O INCONSCIENTE É UMA LINGUAGEM ................................................................................. 16
RESUMO DO TÓPICO 1..................................................................................................................... 23
AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 25
TÓPICO 2 — O EGO E OUTRAS ESTRATÉGIAS DE RESISTÊNCIA ..................................... 27
1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 27
2 RESISTÊNCIA E ELABORAÇÃO .................................................................................................. 27
3 O INCONSCIENTE COMO DISCURSO DO OUTRO .............................................................. 29
4 O EGO E AS ESTRATÉGIAS DE RESISTÊNCIA ....................................................................... 32
5 O ESTÁDIO DO ESPELHO ............................................................................................................. 36
RESUMO DO TÓPICO 2..................................................................................................................... 41
AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 43
TÓPICO 3 — A TRANSFERÊNCIA: POR UMA TEORIA E TÉCNICA 
PSICOPEDAGÓGICA ................................................................................................ 45
1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 45
2 ELABORAÇÃO DAS RESITÊNCIAS E TEORIA EDUCACIONAL ....................................... 45
3 OS QUATRO DISCURSOS ............................................................................................................ 48
4 MANEJO DA TRANSFERÊNCIA COMO HABILIDADE PEDAGÓGICA .......................... 52
5 O DESEJO DO ANALISTA E A SUPERAÇÃO DA TRANSFERÊNCIA ................................ 58
6 O MESTRE IGNORANTE ............................................................................................................... 60
LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................ 66
RESUMO DO TÓPICO 3..................................................................................................................... 74
AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 79
REFERÊNCIAS ...................................................................................................................................... 81
UNIDADE 2 — FREUD, BION, PESQUISA E APRENDIZAGEM ............................................. 85
TÓPICO 1 — PESQUISA PSICANALÍTICA EM APRENDIZAGEM........................................ 87
1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 87
2 UMA VISÃO GERAL HISTÓRICA DAS TEORIAS DE APRENDIZAGEM ....................... 88
3 ABORDAGENS CONTEMPORÂNEAS ....................................................................................... 90
4 PSICANÁLISE E APRENDIZAGEM ............................................................................................. 92
4.1 O MODO DE ENTREGA E RECEPÇÃO DA APRENDIZAGEM ......................................... 92
4.2 O ALUNO ...................................................................................................................................... 93
4.3 FOCO NO FUNCIONAMENTO DO GRUPO DA TURMA .................................................. 95
5 SUGESTÕES PARA PESQUISAS FUTURAS .............................................................................. 96
5.1 APRENDIZAGEM SINTONIZADA .......................................................................................... 97
5.2 METAPSICOLOGIA ................................................................................................................... 102
5.3 A “EXPERIÊNCIA” DE APRENDIZAGEM ............................................................................ 104
5.4 O PRAZER INTELECTUAL ...................................................................................................... 106
RESUMO DO TÓPICO 1................................................................................................................... 108
AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................ 109
TÓPICO 2 — A PERSPECTIVA FREUDIANA DE APRENDIZAGEM 
E ENSINO ................................................................................................................... 111
1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................ 111
2 TEORIA COGNITIVA DA APRENDIZAGEM EM TERRITÓRIO 
 PSICANALÍTICO ............................................................................................................................ 113
3 A PSICANÁLISE, O EGO E A APRENDIZAGEM .................................................................... 115
3.1 A FANTASIA E O PENSAMENTO: UMA TEORIA PSICANALÍTICA DA 
APRENDIZAGEM ...................................................................................................................... 119
3.2 LIMITAÇÕES DA ABORDAGEM PSICANALÍTICA À APRENDIZAGEM..................... 122
4 AS QUATRO ABORDAGENS À APRENDIZAGEM ............................................................... 125
RESUMO DO TÓPICO 2................................................................................................................... 131
AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................ 133
TÓPICO 3 — A TEORIA DO PENSAMENTO E DA PRAXIS 
 EDUCACIONAL DE W. R. BION ........................................................................... 135
1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................ 135
2 UM PARADIGMA PSICANALÍTICO RADICAL? .................................................................. 136
2.1 A BARREIRA DE CONTATO .................................................................................................... 138
2.2 O FATO SELECIONADO E A EP ↔ D .................................................................................... 139
2.3 CONTINENTE/CONTIDO (♀♂) ............................................................................................ 140
2.4 VÉRTICES MÚLTIPLOS ............................................................................................................ 141
2.5 TRANSFORMAÇÕES ................................................................................................................ 141
3 CONTEXTO PSICANALÍTICO E FILOSÓFICO ...................................................................... 142
4 O SIGNIFICADO DA APRENDIZAGEM .................................................................................. 144
4.1 BION NA SALA DE AULA ....................................................................................................... 145
4.2EXPERIÊNCIAS DE APRENDIZAGEM ................................................................................. 148
5 BION E FREIRE – UMA PRÁXIS TRANSFORMADORA ...................................................... 151
LEITURA COMPLEMENTAR .......................................................................................................... 155
RESUMO DO TÓPICO 3................................................................................................................... 161
AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................ 163
REFERÊNCIAS .................................................................................................................................... 165
UNIDADE 3 — JUNG, WINNICOTT, PSICANÁLISE E EDUCAÇÃO .................................. 173
TÓPICO 1 — PERSPECTIVA JUNGUIANA DA APRENDIZAGEM ...................................... 175
1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................ 175
2 PSICOLOGIA ANALÍTICA E A DIALÉTICA ENTRE OPOSTOS ....................................... 175
3 JUNG E O PENSAMENTO DIRIGIDO ...................................................................................... 179
4 OS PROCESSOS DE ALQUIMIA ................................................................................................ 182
5 APRENDIZAGEM SIGNIFICATIVA E O PENSAMENTO NÃO DIRIGIDO ................... 183
6 A DIALÉTICA ENTRE O PESSOAL E O COLETIVO ............................................................. 190
RESUMO DO TÓPICO 1................................................................................................................... 193
AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................ 195
TÓPICO 2 — WINNICOTT E A EDUCAÇÃO ............................................................................. 197
1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................ 197
2 SUSTENTAÇÃO, ESPELHAMENTO E FENÔMENOS TRANSICIONAIS ....................... 197
3 O OBJETO TRANSICIONAL ........................................................................................................ 203
4 SELF VERDADEIRO E FALSO SELF .......................................................................................... 205
5 FUNÇÕES MATERNA E PATERNA ............................................................................................ 210
RESUMO DO TÓPICO 2................................................................................................................... 214
AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................ 216
TÓPICO 3 — AS CONTRIBUIÇÕES PSICANALÍTICAS AO 
ENSINO-APRENDIZAGEM ................................................................................... 219 
1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................ 219
2 PSICANÁLISE CLÁSSICA E EDUCAÇÃO ............................................................................... 220
2.1 A TRANSFERÊNCIA E A CONTRATRANSFERÊNCIA ...................................................... 222
2.2 AS RAÍZES DA PSICANÁLISE ................................................................................................ 224
2.3 A PSICANÁLISE NAS ESCOLAS: GRANDES EXPECTATIVAS, 
 RESULTADOS ESCASSOS......................................................................................................... 225
3 TEMAS PSICANALÍTICOS SOBRE A MELHORIA DO 
 CURRÍCULO E DO ENSINO ........................................................................................................ 228
3.1 COMPREENSÃO ALÉM DA ABORDAGEM MERAMENTE 
 COGNITIVA................................................................................................................................. 228
3.2 PESQUISAS SOBRE CAUSAS PSÍQUICAS PROFUNDAS DE 
 PROBLEMAS DE APRENDIZAGEM ESPECÍFICOS ............................................................ 235
3.3 A DINÂMICA TRANSFERENCIAL E CONTRATRANSFERENCIAL 
 NA SALA DE AULA .................................................................................................................. 238
3.3.1 Transferência ...................................................................................................................... 239
3.3.2 Contratransferência ........................................................................................................... 242
3.4 O PROFESSOR COM CONHECIMENTO TERAPÊUTICO ................................................. 243
4 PSICANÁLISE E EDUCAÇÃO: PROBLEMAS E POTENCIALIDADES ............................. 245
LEITURA COMPLEMENTAR .......................................................................................................... 247
RESUMO DO TÓPICO 3................................................................................................................... 252
AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................ 254
REFERÊNCIAS .................................................................................................................................... 255
1
UNIDADE 1 — 
A PSICANÁLISE COMO 
PSICOPEDAGOGIA
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
PLANO DE ESTUDOS
A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:
• compreender a ideia pedagógica por meio do qual conceitos psicanalíticos-
chave são formulados;
• analisar conceitos psicanalíticos, como o inconsciente, a resistência e a 
transferência em um enfoque psicopedagógico;
• entender o inconsciente como uma forma de conhecimento em um 
processo de reaprendizagem;
•	 identificar	 o	 manejo	 da	 transferência	 como	 habilidade	 pedagógica	 na	
relação analista/professor e analisando/aluno.
Esta unidade está dividida em três tópicos. No decorrer da unidade, 
você	 encontrará	 autoatividades	 com	 o	 objetivo	 de	 reforçar	 o	 conteúdo	
apresentado.
TÓPICO 1 – O INCONSCIENTE: UMA FORMA DE CONHECIMENTO
TÓPICO 2 – O EGO E OUTRAS ESTRATÉGIAS DE RESISTÊNCIA
TÓPICO 3 – A TRANSFERÊNCIA: POR UMA TEORIA E 
 TÉCNICA PSICOPEDAGÓGICA
Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos 
em frente! Procure um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá 
melhor as informações.
CHAMADA
2
3
TÓPICO 1 — 
UNIDADE 1
O INCONSCIENTE: UMA FORMA 
DE CONHECIMENTO
1 INTRODUÇÃO
Caro acadêmico! A psicanálise pode ser entendida como um tipo particular 
de aprendizagem, que está interessada não em qualquer tipo de conhecimento, 
mas	em	conhecimento	especificamente	traumático.	No	entanto,	o	conhecimento	
traumático não vem de forma genérica; em vez disso, é sempre inconsciente. 
Deste modo, este tópico é dedicado a explicar o conceito psicanalítico 
de inconsciente: a principal alegação é que o inconsciente freudiano é sempre 
ideativo	 em	 conteúdo,	 nunca	 emocional,	 o	 que	 Jacques	 Lacan	 deixa	 claro	 ao	
descrevê-lo como um discurso. No entanto, se o conhecimento traumático é 
inconsciente,	Freud	e	Lacan	afirmam	que,	paradoxalmente,	já	o	sabemos,	pois,	o	
inconsciente está sempre presente. Assim, aprender o inconsciente é sempre uma 
questão de reaprendê-lo. Portanto, nosso caminho de estudos neste tópico será 
percorrer a ideia de que a psicanálise pode ser vista como psicopedagogia e não 
apenas um corpo teórico e técnico aplicado à psicopedagogia. Assim, trilharemos 
brevemente	sobre	a	descoberta	da	psicanálise,	discorrendo	sobre	o	inconsciente	
como linguagem e o reprimido, para concluir que aprender o inconsciente é uma 
reaprendizagem. 
Pronto para iniciar os estudos? Vamos adiante!
2 A PSICANÁLISE COMO PSICOPEDAGOGIA, A 
PSICOPEDAGOGIA COMO PSICANÁLISEA	abordagem	de	Jacques	Lacan	à	psicanálise	é	mais	do	que	um	modelo	
clínico;	é	também	uma	estrutura	interpretativa	robusta.	Sua	infusão	em	disciplinas	
como	filosofia,	literatura,	cinema	e	estudos	culturais,	estudos	religiosos	e	ciência	
política – para citar apenas alguns – gerou não apenas algumas das percepções 
mais	fascinantes,	mas	também	um	repensar	radical	do	que	está	em	jogo	nessas	
áreas	de	estudo.	Fê-lo	porque	a	psicanálise	vai	além	da	superfície	para	descobrir	
os	investimentos	libidinais	feitos	nos	projetos	em	andamento	nessas	áreas.	E,	por	
causa do insight	que	oferece	sobre	o	literário,	o	textual	e	o	humano,	a	psicanálise	
lacaniana tornou-se uma condição sine qua non (sem a qual não pode ser) nas 
humanidades teóricas.
 
UNIDADE 1 — A PSICANÁLISE COMO PSICOPEDAGOGIA
4
A infusão da psicanálise nas humanidades teóricas não é surpreendente, 
já	que	Sigmund	Freud,	ao	longo	de	sua	obra,	revelou	um	interesse	permanente	
por	 literatura,	 arte,	 política,	 sociedade,	 religião	 e	 assuntos	 afins.	 Entretanto,	
dos campos disciplinares potenciais para os quais a psicanálise pode dar uma 
contribuição,	Freud	destaca	um:	“Nenhuma	das	aplicações	da	psicanálise	excitou	
tanto interesse e despertou tantas esperanças, e nenhuma, por conseguinte, 
atraiu	tantos	colaboradores	capazes,	quanto	seu	emprego	na	teoria	e	prática	da	
educação”	(FREUD,	1996a,	p.	307).	No	entanto,	ele	continua	a	dizer	que	embora	
reconheça	 “o	 bon mot	 [observação	 inteligente]	 que	 estabelece	 existirem	 três	
profissões	 impossíveis	–	educar,	curar	e	governar”	 (FREUD,	1996a,	p.	307),	ele	
lamenta	que	a	maior	parte	do	trabalho	de	sua	vida	foi	inteiramente	ocupada	com	
a segunda destas, na exclusão da educação. No entanto, Freud interrompe, isso 
“não	significa	que	desprezo	o	alto	valor	social	do	trabalho	realizado	por	aqueles	
de meus amigos que se empenham na educação” (FREUD, 1996a, p. 307).
 
Mais	 tarde,	 em	 1933,	 Freud	 revisita	 muito	 brevemente	 o	 assunto	 da	
educação em suas Novas Conferências Introdutórias Sobre Psicanálise, intitulada 
"Explicações,	 Aplicações	 e	 Orientações",	 dizendo	 ao	 seu	 público:	 “Existe	 um	
tema, todavia, que não posso deixar passar tão facilmente – assim mesmo, não 
porque	eu	entenda	muito	a	respeito	dele,	e	nem	tenha	contribuído	muito	para	
ele”,	continua	ele,	“Devo	mencioná-lo	porque	é	da	maior	importância,	é	tão	pleno	
de	esperanças	para	o	futuro,	talvez	seja	a	mais	importante	de	todas	as	atividades	
da análise. Estou pensando nas aplicações da psicanálise à educação” (FREUD, 
1996b,	 p.	 144-145).	 Freud	 tenta	marcar	 os	 contornos	 do	 que	 uma	 investigação	
psicanalítica na educação pode acarretar. Para Freud, a tarefa primária da 
educação	é	ensinar	a	criança	a	controlar	suas	pulsões,	ou	seja,	a	educação	deve	
inibir,	proibir	e	suprimir,	mas	uma	vez	que	essa	supressão	de	pulsões	envolve	
o	 risco	de	doença	neurótica,	a	única	preparação	adequada	para	a	profissão	de	
educador	é	um	treinamento	psicanalítico	completo	(FREUD,	1996b).	Para	Freud,	
a educação é o processo de aprender a conter as pulsões, e a psicanálise é a teoria 
que pode auxiliar na compreensão desse processo. 
Se há algo profundamente insatisfatório na tentativa de Freud de pensar 
a	aplicação	da	psicanálise	à	educação,	talvez	seja	porque	ele	vê	a	relação	da	psica-
nálise com a educação na ordem de sua relação com as disciplinas humanísticas: 
isto é, a psicanálise e a educação são campos distintos que podem ser reunidos 
posteriormente.	Desse	modo,	a	relevância	da	psicanálise	na	educação	se	reduz	à	
da aplicação: a educação psicanalítica é apenas uma educação à qual a psicaná-
lise se aplica. No entanto, se o "bon mot", que une psicanálise, educação e política 
como	"as	profissões	impossíveis",	tem	algum	significado,	então	certamente	deve	
ser que todos os três campos não são completamente distintos, mas estão de al-
guma forma inextricavelmente ligados para que um não possa ser evocado sem 
já	evocar	os	outros	dois.	A	educação	deve,	portanto,	ser	pensada	como	possuindo	
uma relação mais íntima com a psicanálise do que as humanidades teóricas: se 
as humanidades teóricas convidam à intervenção da psicanálise, a educação não 
pode prescindir dela.
TÓPICO 1 — O INCONSCIENTE: UMA FORMA DE CONHECIMENTO
5
O presente livro didático investiga os lugares onde a associação como 
“profissões	impossíveis”	rompe	o	muro	imaginário	que	separa	a	psicanálise	da	
educação.	Nesses	locais,	a	psicanálise	já	é	pedagogia	e	a	pedagogia	já	é	psicanálise.	
A	 aposta	 é	 que	 algo	 mais	 interessante	 do	 que	 o	 “entusiasmo”	 de	 Freud	 seja	
encontrado. Chamamos	isso	de	“psicopedagogia”	para	transmitir	que	o	que	está	
em	jogo	não	é	a	mera	aplicação	da	psicanálise	à	pedagogia,	mas,	muito	mais,	as	
formas pelas quais psicanálise e pedagogia estão entrelaçadas, contíguas. 
A psicanálise não pode ser meramente aplicada à pedagogia, porque 
a	 pedagogia	 já	 se	 encontra	 nela,	 portanto,	 a	 psicanálise	 utiliza	 e	 depende	 da	
pedagogia para formular sua teoria e seus conceitos. Felman (1982, p. 27) faz uma 
afirmação	semelhante:	“A	psicanálise	é,	portanto,	uma	experiência	pedagógica:	
como um processo que dá acesso a novos conhecimentos até então negados à 
consciência, oferece o que pode ser chamado de uma lição de cognição (e de de-
cognição),	um	ensino	epistemológico”.	Essa	relação	é	concebida	como	um	tipo	
especial de relação pedagógica em que esta aprende o que está armazenado 
no inconsciente. Mais do que retórica, esses motivos pedagógicos representam 
uma teoria da educação e da pedagogia em si. No cerne da psicopedagogia está, 
portanto,	 uma	 tentativa	 para	 elucidar	 essa	 teoria	 já	 embutida	 na	 psicanálise,	
enfocando esses motivos pedagógicos.
A	 interpretação	 específica	 da	 psicanálise	 sob	 exame	 aqui,	 nos	 tópicos	
desta	primeira	unidade	do	livro	didático,	é	o	 importante	“retorno	a	Freud”	de	
Jacques	Lacan.	As	contribuições	teóricas	de	Lacan	para	a	história	do	pensamento	
psicanalítico	 estão	 entre	 as	 mais	 originais	 e	 importantes,	 mas	 também	 têm	 a	
reputação	de	estar	entre	as	mais	desafiadoras.	Parte	desse	desafio	tem	a	ver	com	
o	estilo	peculiar	de	discurso	de	Lacan	(DOR,	1989). A maior parte, entretanto, tem 
a	ver	com	o	fato	de	que	o	pensamento	de	Lacan	se	desenvolve	ao	longo	do	tempo,	
e ele nunca escreveu uma magnum opus	(grande	obra)	que	contivesse	o	somatório	
de	seus	pontos	de	vista.	Em	vez	disso,	ficamos	com	as	transcrições	dos	famosos	
seminários	de	Lacan,	que	foram	realizados	entre	as	décadas	de	1950	e	1970,	para	
testemunhar o dinamismo de seu pensamento em primeira mão. 
As afirmações de Freud, extraídas das Conferências Introdutórias à Psicanálise, 
nos introduzem o tema das relações entre Psicanálise e Educação, e da complexidade da 
“missão” do educador. Para aprofundar esta relação entre os dizeres de Freud e a educação, 
sugerimos a leitura do livro Freud e a educação: o mestre do impossível, de Maria C. Kupfer 
(2005).
DICAS
UNIDADE 1 — A PSICANÁLISE COMO PSICOPEDAGOGIA
6
Em	 termos	de	 escrita,	 Lacan	deixou	 apenas	 um	volume	de	 ensaios,	 os	
Escritos	(LACAN,	1998). Tudo isso deixa seu pensamento de forma fragmentária, 
ultimamente	intotalizável.	Tentar	fabricar	uma	síntese	dos	fragmentos	de	Lacan	
pode	 ser	uma	 tarefa	 frustrante,	 até	mesmo	 impossível.	 Para	 obter	 o	mais	 leve	
controle	 sobre	 o	 pensamento	 de	 Lacan,	 é	 necessário	 examinar	 as	 transcrições	
de	 seus	 seminários	 (muitos	 dos	 quais	 ainda	 não	 foram	 publicados	 e	 menos	
ainda	foram	traduzidos	para	o	português,	o	que	representa	mais	dificuldades)	e	
correlacionar essas ideias com seus vários Escritos – como poderíamos imaginar, 
este	trabalho	exige	a	maior	quantidade	de	paciência.	
A	construção	eficaz	de	uma	psicopedagogia	neste	 terreno	psicanalítico,	
exigirá,	portanto,	alguma	explicação	do	pensamento	de	Lacan,	e	esse	pensamento	
será	 abordado	aqui	 como	derivado	de	uma	 leitura	 atenta	de	Freud.	É	 sempre	
útil	 lembrar	que,	historicamente,	Lacan	ganhou	proeminênciaa	partir	de	uma	
crítica aos chamados psicólogos do ego, Heinz Hartmann, Ernst Kris e Rudolph 
Loewenstein.	Contra	a	tentativa	da	psicologia	do	ego	de	rebaixar	a	psicanálise	ao	
nível de uma mera psicologia, reduzindo o pensamento de Freud ao complexo 
ego-superego-id,	 Lacan,	 por	meio	 de	 uma	 leitura	 atenta	 dos	 textos	 de	 Freud,	
enfatizou	 a	 importância	 que	 Freud	 atribuía	 a	 conceitos	 fundamentais	 como	 o	
inconsciente, a pulsão, a repetição e a transferência. 
Para	 Lacan	 (1998),	 a	 psicanálise	 foi	 oficialmente	 inaugurada	 pela	
descoberta	revolucionária	de	Freud	do	inconsciente;	sua	estrutura	foi	construída	
sobre	os	conceitos	de	pulsão,	sexualidade,	repetição	e	transferência,	e	foi	coroada	
com uma compreensão crítica da função do ego. Portanto, qualquer coisa que 
não	reconheça	todo	o	pensamento	de	Freud,	especialmente	o	que	Lacan	chama	
de "os quatro conceitos fundamentais", o inconsciente, a pulsão, a repetição e a 
transferência,	não	pode	receber	o	nome	de	psicanálise	(LACAN,	1988a).	
Caro acadêmico! Para conhecer mais sobre os quatro conceitos fundamentais 
da psicanálise, segundo Jacques Lacan, sugerimos a leitura do “O seminário, Livro 11: os 
quatro conceitos fundamentais da psicanálise” (LACAN, 1988a). De modo mais sintetizado, 
você poderá ler o artigo “De que se trata ser freudiano pela psicanálise lacaniana? Os quatro 
conceitos fundamentais da psicanálise em Freud e Lacan”, de Iagor Leitão e Flávio Mendes 
(2018), disponível no seguinte link: https://bit.ly/3lSDOZL. 
DICAS
TÓPICO 1 — O INCONSCIENTE: UMA FORMA DE CONHECIMENTO
7
FONTE: <https://bit.ly/3DVBlns>. Acesso em: 17 ago. 2021.
Por	 essas	 razões,	 Lacan	 sempre	 será	 discutido	 aqui	 dentro	 de	 seu	
próprio contexto freudiano, mesmo remontando aos primeiros escritos de 
Freud,	os	chamados	pré-psicanalíticos,	a	fim	de	dar	uma	visão	panorâmica	do	
desenvolvimento	do	pensamento	de	Lacan.	A	 imagem	da	psicopedagogia	que	
surgirá	como	resultado	é	a	de	um	pensamento	pedagógico	que	já	está	presente	
e em ação em Freud – arquivado, por assim dizer, em seus textos originais – e é 
redescoberto	pela	leitura	atenta	de	Lacan.
Agora	então	iniciaremos	esta	 jornada	pelos	fundamentos	da	psicanálise	
na tentativa de apreender sua essência pedagógica. Vamos lá?
3 A REJEIÇÃO DA HIPNOSE EM FAVOR DA PEDAGOGIA
Sigmund	Freud	era	um	péssimo	hipnotizador.	E	 isso	não	 sabemos	por	
ouvir dizer, mas pela própria admissão de Freud. Pensando na época anterior ao 
surgimento da psicanálise, na época em que ainda estava estudando na clínica 
de	Hippolyte	Bernheim	(1837-1919),	em	Nancy,	na	França,	Freud	se	 lembra	de	
ter	 sentido	que	uma	“arte”	da	hipnose	 realmente	existia	e	que	ela	poderia	 ser	
aprendida com Bernheim. Entretanto,	 ele	 confessa,	 “logo	 que	 tentei	 praticá-la	
com	meus	próprios	pacientes,	descobri	que	pelo	menos	meus	poderes	estavam	
sujeitos	a	graves	limitações	e	que,	quando	o	sonambulismo	não	era	provocado	
num paciente nas três primeiras tentativas, eu não tinha nenhum meio de induzi-
lo”	(BREUER;	FREUD,	1996,	p.	136).	Freud	até	oferece	um	relato	bastante	cômico	
de	seus	problemas:
Logo	 comecei	 a	 ficar	 cansado	 de	 proferir	 asseguramentos	 e	 ordens	
tais	 como	 “Você	vai	 dormir...	 durma!”	 e	de	 ouvir	 o	paciente,	 como	
tantas vezes acontecia quando o grau de hipnose era leve, reclamar 
comigo:	 “Mas	 doutor,	 eu	 não	 estou	 dormindo”,	 e	 de	 ter	 então	 que	
UNIDADE 1 — A PSICANÁLISE COMO PSICOPEDAGOGIA
8
fazer	distinções	sutis:	“Não	me	refiro	a	um	sono	comum,	mas	sim	à	
hipnose.	Como	vê,	você	está	hipnotizado,	não	consegue	abrir	os	olhos”	
etc.,	“e	de	qualquer	modo,	não	há	necessidade	de	que	você	adormeça”,	
e assim por diante (BREUER; FREUD, 1996, p. 136).
 
Mesmo assim, Freud, nesse estágio inicial, ainda se considerava um 
praticante	de	uma	escola	específica	de	psicoterapia	que	considerava	a	hipnose	
uma	 técnica	 integral.	 O	 que	 Freud	 deveria	 fazer?	 “Vi-me,	 por	 conseguinte,	
defrontado	com	a	opção”,	diz-nos	ele,	“abandonar	o	método	catártico	na	maioria	
dos casos que lhe seriam apropriados ou aventurar-me à experiência de empregar 
esse	método	sem	o	sonambulismo,	quando	a	influência	hipnótica	fosse	leve	ou	
mesmo quando sua existência fosse duvidosa” (BREUER; FREUD, 1996, p. 136). 
Freud está em uma encruzilhada; ele deve tomar uma decisão importante: ou 
continuar em uma prática não adequada aos seus talentos ou seguir seu próprio 
caminho.	Ele	decide	o	último,	procedendo	sem	a	ferramenta	da	hipnose.	A	decisão	
de Freud é inovadora, pois representa uma ruptura com a escola de terapia em 
que foi treinado e seu primeiro passo em direção à psicanálise.
Enquanto	isso,	a	decisão	de	abandonar	a	hipnose	tem	sérias	implicações	
para a prática de Freud:
Ao	abrir	mão	do	sonambulismo,	 talvez	me	estivesse	privando	de	uma	
precondição sem a qual o método catártico não parecia utilizável, pois 
esse	método	era	claramente	baseado	na	possibilidade	de	os	pacientes,	em	
seu	estado	alterado	de	consciência,	terem	acesso	às	lembranças	e	serem	
capazes	de	identificar	ligações	que	não	pareciam	estar	presentes	em	seu	
estado de consciência normal (BREUER; FREUD, 1996, p. 136-137).
A doença é causada primeiro por algum tipo de trauma. No entanto, a 
memória desse evento traumático original está ausente da consciência, estando 
em algum lugar além de seu alcance. O método catártico (pré-psicanalítico) gira 
em torno da capacidade de acessar essa memória ausente, acesso proporcionado 
pela hipnose. Como a hipnose é um método que Freud decide não praticar mais, 
ele está privado da técnica prática para acessar a chave para curar as neuroses de 
seu paciente.
 
No entanto, Freud aceita a premissa da escola em que se formou, a 
saber,	que	a	chave	está	em	acessar	a,	então	chamada,	memória	supraconsciente.	
Contudo, sem hipnose, ele é incapaz de seguir adiante na prática. Então, ele se 
lembra	de	algo	de	 seus	dias	 com	Bernheim:	uma	demonstração.	Uma	mulher,	
em estado de hipnose, é informada por Bernheim que ele é invisível para ela, e 
quando	questionada,	ao	acordar,	 se	ela	se	 lembrava	de	 ter	visto	Bernheim,	ela	
jurava	que	não.	Entretanto,	Freud	relata	que	Bernheim	não	desistiu	por	aí,	ele	
continuou	a	demonstração,	colocando	“a	mão	em	sua	testa	a	fim	de	ajudá-la	a	
lembrar-se.	E	vejam	só!	Ela	acabou	por	descrever	tudo	o	que	aparentemente	não	
havia	percebido	durante	o	sonambulismo	e	aparentemente	não	havia	recordado	
no estado de vigília” (BREUER; FREUD, 1996, p. 137). 
TÓPICO 1 — O INCONSCIENTE: UMA FORMA DE CONHECIMENTO
9
O	 que	 nesta	 demonstração	 impressiona	 Freud	 é	 a	 forma	 específica	
como Bernheim usa a hipnose. No treinamento de Freud, a hipnose era usada, 
como	regra,	para	expandir	a	consciência	do	paciente	para	abranger	a	memória	
supraconsciente traumática. No entanto, nesta demonstração, Bernheim usa a 
hipnose	para	 fazer	a	mulher	esquecer	algo,	ou	seja,	que	ela	o	viu.	Para	 fazê-la	
lembrar,	ele	simplesmente	coloca	as	mãos	em	sua	testa,	o	que,	com	certeza,	é	uma	
técnica não hipnótica. Freud hipotetiza que os limites da consciência podem ser 
estendidos sem o auxílio da hipnose. Freud está, portanto, convencido de que as 
memórias perdidas de seu paciente só são aparentemente esquecidas quando o 
paciente	está	acordado,	como	também	podem	ser	chamadas	novamente	por	uma	
gentil convocação: um toque da mão na testa.
Freud toma a demonstração de Bernheim como um modelo para um 
procedimento experimental. Em vez de usar a hipnose para facilitar o processo 
catártico, Freud simplesmente colocava as mãos na testa de seus pacientes e os 
instruía	de	que	as	memórias	voltariam	à	consciência	simplesmente	sob	a	pressão	
de	suas	mãos.	A	 técnica	experimental	 funcionou	muito	bem,	mesmo	além	das	
expectativas	de	Freud,	pois	seus	pacientes	foram	capazes	de	lembrar	muito	do	
que antes era considerado esquecido. O que se torna aparente para Freud é que, 
quando	um	paciente	é	incapaz	de	lembrar	os	eventos	cruciais	do	trauma	original,	
isso	 não	 reflete	 uma	 consciênciadébil	 ou	 limitada,	 mas,	 ao	 contrário,	 uma	
faculdade crítica hiperativa, portanto, o paciente de fato conhece a informação 
em	questão	parcial	 ou	 totalmente,	mas	 é	 impedido	de	 se	 lembrar	 dela.	 Freud	
escreve:
 
Afinal	fiquei	tão	confiante	que,	quando	os	pacientes	respondiam	“não	
vejo	 nada”	 ou	 “nada	 me	 ocorreu”,	 podia	 descartar	 essa	 afirmação	
como	 uma	 impossibilidade	 e	 assegurar-lhes	 que	 por	 certo	 haviam	
ficado	conscientes	do	que	se	desejava,	mas	se	recusavam	a	acreditar	
que	fosse	aquilo	e	o	rejeitavam	[...].	Invariavelmente,	eu	tinha	razão.	
Os pacientes ainda não tinham aprendido a relaxar sua faculdade 
crítica.	Haviam	rejeitado	a	lembrança	que	surgira	ou	a	ideia	que	lhes	
tinha	ocorrido,	sob	a	alegação	de	que	não	servia	e	era	uma	interrupção	
irrelevante. E depois que a relatavam a mim, ela sempre revelava ser 
aquilo	que	se	desejava	(BREUER;	FREUD,	1996,	p.	138).
 
Na	opinião	de	Freud,	o	principal	obstáculo	à	 lembrança	não	é	o	 limite	
estreito da consciência, mas isso, o que ele chama de faculdade crítica. Nesse 
estágio inicial e, com certeza, altamente experimental, Freud sugere que os 
analistas lidem com a faculdade crítica ensinando seus pacientes a relaxá-la. No 
entanto, à medida que a psicanálise entra em ação, Freud revisa esta posição: a 
faculdade crítica – ou as resistências – deve ser confrontada e superada, em vez 
de simplesmente relaxada. O movimento do relaxamento para a superação na 
teoria de Freud será retomado em tópicos posteriores deste livro didático. Aqui, é 
suficiente	dizer	que	mesmo	nesta	iteração	inicial	e	altamente	provisória	da	teoria	
psicoterapêutica	(ainda	não	pode	ser	chamada	de	"psicanálise"),	o	ato	de	lembrar	
é	apresentado	como	uma	habilidade	que	pode	ser	aprendida	por	meio	do	próprio	
processo analítico, tornando desnecessário o recurso à hipnose. 
UNIDADE 1 — A PSICANÁLISE COMO PSICOPEDAGOGIA
10
Outra	maneira	de	dizer	 isso	é	que	Freud	rejeita	a	hipnose	em	favor	da	
pedagogia. Na verdade, Freud acredita tão fortemente no potencial pedagógico 
do	trabalho	analítico	que,	à	medida	que	continua	trabalhando	com	neuróticos,	até	
evita sua própria técnica inspirada em Bernheim.
4 A DESCOBERTA DA PSICANÁLISE
A mudança que Freud faz na técnica pode parecer pequena, mas as 
implicações	teóricas	são	inúmeras,	como	demonstrado	pela	passagem	da	hipnose	
à	pedagogia.	Na	verdade,	isso	leva	a	nada	menos	do	que	a	descoberta	da	própria	
psicanálise. Ao supor que o paciente precisa da hipnose para expandir o domínio 
da consciência, a escola de psicoterapia de Bernheim entende a incapacidade de 
recordar o passado traumático como resultado de uma memória semelhante a 
uma peneira. Algumas memórias são retidas pela consciência, outras não. Não 
é	que	o	 sujeito	 individual	queira	 esquecer,	mas	 é	 especialmente	difícil	manter	
o trauma na consciência. O indivíduo é entendido aqui como tendo um papel 
passivo.
 
Por	 ter	 tanto	 sucesso	 com	 sua	 técnica	 quase-bernheimiana,	 a	 ponto	 de	
torná-la	 obsoleta,	 Freud	 chega	 a	 uma	 conclusão	 diferente:	 “Achei	 ainda	mais	
surpreendente, talvez, que pelo mesmo método fosse possível fazer retornarem 
números	e	datas	que,	a	um	exame	superficial,	há	muito	tinham	sido	esquecidos,	
e assim revelar como a memória pode ser inesperadamente precisa” (BREUER; 
FREUD, 1996, p. 139). Freud desvenda ainda mais as implicações teóricas no 
artigo A Psicoterapia da Histeria,	 na	 conclusão	 reflexiva	do	dossiê	Estudos sobre 
a Histeria.	 Com	a	 ajuda	dos	 casos	 recolhidos	 nestes	Estudos, Freud averigua o 
fio	condutor	de	 todas	as	memórias	perdidas:	“eram	todas	de	natureza	aflitiva,	
capazes de despertar afetos de vergonha, de autocensura e de dor psíquica, além 
do	sentimento	de	estar	sendo	prejudicado”	(BREUER;	FREUD,	1996,	p.	271).	Os	
eventos que faltam à consciência não são, segundo Freud, simplesmente difíceis; 
antes, eles causam danos ao indivíduo.
Trauma, para Freud, não descreve nem a natureza do evento em si nem 
o	 conteúdo	de	 sua	memorialização;	descreve	o	 efeito	do	 evento	no	 indivíduo.	
Angústia,	vergonha,	autocensura,	dor,	dano	–	todas	essas	palavras	descrevem	o	
tipo de impacto que pode transformar um evento comum em um trauma completo. 
Embora	a	maioria	das	pessoas	concorde	que	o	holocausto,	por	exemplo,	é	horrível	
e difícil de entender, nem todos o vivenciam como um trauma. O holocausto se 
torna traumático quando causa dor ao indivíduo, fazendo-o suportar algum tipo 
de estresse psíquico ou danos, como vergonha ou culpa. Enquanto a dificuldade é, 
em	certo	sentido,	experimentada	objetivamente,	o	trauma	é	vivenciado	subjetiva	ou	
existencialmente.	A	diferença	entre	dificuldade	e	trauma	é	porque	muitas	pessoas	
podem	falar	“factualmente”	sobre	o	holocausto,	enquanto	outras	ainda	podem	
regurgitar	fatos	e	números	em	questionários	sobre	o	tema	sem	um	sentimento	de	
vergonha	ou	lesão.	Ao	definir	o	trauma	relacionalmente,	Freud	revela	o	incentivo 
para o esquecimento dos eventos traumáticos: os traumas são supraconscientes 
TÓPICO 1 — O INCONSCIENTE: UMA FORMA DE CONHECIMENTO
11
não	porque	são	em	si	mesmos	eventos	horríveis,	embora	certamente	possam	ser,	
mas sim pelos afetos negativos que provocam no indivíduo. O indivíduo, para 
Freud, tem uma mão ativa no esquecimento. Na verdade, o indivíduo comete 
um	ato	de	esquecimento	e	geralmente	por	um	bom	motivo.	E	sem	essa	dimensão	
da	lesão	ou	ferimento,	um	evento,	embora	difícil,	não	levanta	problemas	para	a	
memória consciente.
 
Como	o	indivíduo	é,	para	Freud,	figurado	como	agente	ativo	no	processo	
de esquecimento das memórias, a memória não é como uma peneira. As memórias 
traumáticas nunca simplesmente escapam da consciência. A consciência as 
armazena, mas de uma maneira que não interfere em seu funcionamento. Como 
então	elas	são	armazenadas?	A	resposta	leva	à	própria	inovação	teórica	sobre	a	
qual	Freud	constrói	a	psicanálise,	a	saber,	o	inconsciente.	
O inconsciente é um paradoxo: é a parte da consciência que não é mais 
consciente. Não supraconsciente, mas literalmente não consciente (em alemão, 
Unbewusste).	Para	entender	melhor	este	paradoxo,	talvez	seja	melhor	descrever	
o inconsciente como o reverso ou lado inferior da própria consciência. E é por 
isso que a hipnose é desnecessária: uma vez que o inconsciente não é externo 
à consciência, não está fora de seu alcance, mas seu exato outro lado, nenhuma 
quantidade	de	consciência	em	expansão	 levaria	a	ele.	Entretanto,	 também	não	
significa	que	o	inconsciente	permaneça	inacessível.	Significa	apenas	que	o	acesso	
ao	inconsciente	deve	ser	combatido	dentro da própria consciência. A consciência, 
por assim dizer, deve passar por si mesma ou, dito de outra forma, deve cruzar sua 
própria	divisão	interna.	Essa	localização	paradoxal	significa	que	o	inconsciente	é	
de fato um tipo particular de conhecimento consciente: é a forma assumida pelo 
conhecimento traumático.
 
O que Freud ganha com toda a sua experiência clínica inicial é uma 
premissa	teórica	totalmente	nova	para	o	trabalho	prático.	“Resolvi”,	Freud	relata,	
“partir	do	pressuposto	de	que	meus	pacientes	sabiam	tudo	o	que	tinha	qualquer	
significado	 patogênico	 e	 que	 se	 tratava	 apenas	 de	 uma	 questão	 de	 obrigá-los	
a comunicá-lo” (BREUER; FREUD, 1996, p. 137). A nova premissa de Freud 
transforma tudo o que aprendera com Bernheim. A memória não é porosa; em 
vez disso, é sólida, na verdade muito sólida. O indivíduo não é ignorante ou de 
mentalidade	débil,	mas	conhecedor	e	capaz.	O	indivíduo	também	não	é	passivo,	
mas	ativo.	O	conhecimento	em	si	–	isto	é,	tudo	de	“significância	patogênica”	–	
não é supraconsciente; é inconsciente. O trauma não é esquecido, mas reprimido. 
A	chave	para	desbloquear	a	neurose	não	está	em	expandir	a	consciência	por	meio	
da	hipnose,	mas	em	comunicar	o	que	está	no	inconsciente	por	meio	do	trabalho	
analítico. A psicanálise é o resultado de todas essas reversões.
UNIDADE 1 — A PSICANÁLISE COMO PSICOPEDAGOGIA
12
Para que você possa compreender melhor todoo contexto histórico e as 
principais contribuições de Freud na construção da Psicanálise, sugerimos que assista ao 
documentário: “A Invenção da Psicanálise”, que é um documentário francês de 1997. Este 
vídeo mostra, detalhadamente, a trajetória da psicanálise, desde seu nascimento até as 
direções tomadas no período após a morte de Freud, associando-a aos fatos históricos de 
cada época. Todo o filme é comentado por Elisabeth Roudinesco e Peter Gay, biógrafo de 
Freud. O documentário mostra muito material fotográfico e vídeos raros como o de Jung 
descrevendo seu primeiro encontro com Freud e relato de Ernest Jones, como também 
as últimas imagens de Freud em seu apartamento em Viena, pouco antes do exílio em 
Londres, feitas por Marie-Bonaparte, neta de Napoleão Bonaparte. Traz ainda a única 
gravação em áudio da voz de Freud em entrevista à BBC de Londres, em 7 de dezembro de 
1938. Você pode acessar o documentário pelo link: https://bit.ly/3jedZ4B. 
DICAS
5 O INCONSCIENTE E O REPRIMIDO
“O	inconsciente	abrange”,	Freud	escreve	em	seu	artigo	O Inconsciente,	“por	
um lado, atos que são meramente latentes, temporariamente inconscientes, mas 
que em nenhum outro aspecto diferem dos atos conscientes, e, por outro lado, 
abrange	processos	tais	como	os	reprimidos,	que,	caso	se	tornassem	conscientes,	
estariam	propensos	a	sobressair	num	contraste	mais	grosseiro	com	o	restante	dos	
processos conscientes” (FREUD, 1996c, p. 177). A psicanálise está interessada 
neste	último,	ou	seja,	o	conteúdo	reprimido	do	inconsciente,	o	conteúdo	recalcado.
Recalque ou repressão é um dos conceitos fundamentais da psicanálise, 
tendo sido desenvolvido por Sigmund Freud. Denota um mecanismo mental de defesa 
contra ideias que sejam incompatíveis com o eu. A ação da repressão causa tensão e 
consequentemente desconforto. A partir da repressão, surge o recalque. Que é enviar 
o conteúdo que está tensionando de volta para o inconsciente, causando assim uma 
sensação de alívio da tensão causada pela repressão. Assista ao vídeo do psicanalista 
Christian Dunker, na série Glossário Freud, “O recalque”, no qual ele explica o conceito de 
recalque. Você pode acessar ao vídeo neste link: https://bit.ly/3jdyVsE. 
DICAS
De	acordo	com	a	linguagem	popular	“reprimido”	geralmente	se	refere	a	
uma	emoção.	Nessa	definição	popular,	quando	se	diz	que	alguém	está	reprimido,	
o que geralmente se quer dizer é que a pessoa suprimiu todos os sentimentos 
TÓPICO 1 — O INCONSCIENTE: UMA FORMA DE CONHECIMENTO
13
emocionais. Por exemplo, um indivíduo sexualmente reprimido é considerado 
destituído	de	sentimentos	de	luxúria	ou	desejo.	Nada	poderia	estar	mais	longe	do	
entendimento de Freud da repressão do que essa noção popular. 
 
Na introdução dos Estudos sobre a Histeria,	 Josef	 Breuer	 e	 Freud	 (1996)	
observam	que	 a	diferença	 entre	neurose	 e	doença	 é	 que	 esta	 é	 o	 resultado	de	
uma lesão física, enquanto a primeira é o resultado de um trauma psíquico, que 
é	 sinalizado	 pelo	 afeto	 de	 susto.	 “Qualquer	 experiência”,	 eles	 escrevem,	 “que	
possa	evocar	afetos	aflitivos	–	tais	como	os	de	susto,	angústia,	vergonha	ou	dor	
física – pode atuar como um trauma dessa natureza; e o fato de isso acontecer 
de	 verdade	 depende,	 naturalmente,	 da	 suscetibilidade	 da	 pessoa	 afetada”	
(BREUER;	FREUD,	1996,	p.	41-42).	Mesmo	nesta	fase	inicial	do	pensamento	de	
Freud,	 a	 vasta	 distância	 que	 separa	 sua	 posição	 e	 a	 compreensão	 popular	 da	
repressão é evidente. Os neuróticos, para Freud, não são pessoas que reprimiram 
seus sentimentos e emoções; em vez disso, são pessoas que são dominadas pelo 
afeto: o trauma provoca sentimentos intensos de medo, vergonha e ansiedade, 
culminando em uma neurose.
 
Freud fornece um exemplo claro na história do caso da Miss	Lucy	R.,	uma	
de suas primeiras pacientes. Miss	Lucy	R.,	que	trabalha	como	governanta,	chega	
a Freud, atormentada pelo cheiro de pudim queimado. Ao longo da análise, 
Freud sugere à paciente que ela ama secretamente seu empregador. Miss	Lucy	
R., talvez surpreendentemente, não contesta a sugestão de Freud de forma 
alguma. Muito pelo contrário, ela o admite prontamente, chegando ao ponto 
de confessar que uma vez teve a esperança de se casar com ele. De acordo com 
a compreensão popular da repressão como supressão do afeto, a Miss	Lucy	R.	
deveria ter contradito Freud como todos os sentimentos amorosos deveriam ter 
sido	suprimidos.	A	noção	popular	de	repressão	leva	a	um	beco	sem	saída.	
No entanto, Freud investiga mais. Durante uma sessão, a Miss	Lucy	R.	avisa	
Freud que o cheiro de pudim queimado se dissipou, mas agora ela é atormentada 
pelo cheiro de fumaça de charuto. Por meio de uma série de perguntas, a Miss 
Lucy	R.	relembra	uma	lembrança:	seu	patrão	e	seu	contador,	que	também	é	amigo	
da família, estão compartilhando um charuto; uma vez terminado, o contador se 
despede	dos	 filhos	 de	 seu	 patrão	 beijando-os	 nos	 lábios;	 tendo	 testemunhado	
isso,	seu	patrão	fica	furioso.	Ver	seu	empregador	castigar	um	amigo	da	família	a	
incomoda, pois se ele trata um amigo dessa maneira, ela só pode imaginar o que 
ele faria com uma mera empregada como ela. Freud vai mais longe no assunto, 
ponto em que a Miss	Lucy	R.	se	lembra	de	outra	cena.	Desta	vez,	uma	amiga	se	
despede	das	crianças	beijando-as.	Mais	uma	vez,	seu	patrão	fica	furioso	e	diz	a	ela	
que se isso acontecer novamente, ela será demitida. Esta cena, como Freud coloca, 
esmagou	suas	esperanças.	“Se	ele	pode	enfurecer-se	comigo	dessa	maneira	e	fazer	
tais	ameaças	por	um	assunto	tão	banal”,	diz	a	Miss	Lucy	R.	a	Freud,	“devo	ter	
cometido	um	erro.	Ele	não	pode	jamais	ter	tido	quaisquer	sentimentos	ternos	por	
mim”	(BREUER;	FREUD,	1996,	p.	147).	Na	avaliação	de	Freud,	ser	repreendida	
por seu empregador – um homem por quem ela tinha sentimentos afetuosos – 
envergonha	a	Miss	Lucy	R.	a	tal	ponto	que	ela	reprimiu	a	memória	do	evento.	O	
que ela reprime, porém, não é o amor, mas a cena da memória.
 
UNIDADE 1 — A PSICANÁLISE COMO PSICOPEDAGOGIA
14
Voltando	a	Freud	e	Breuer	(1996,	p.	42),	eles	escrevem:	“devemos	antes	
presumir	 que	 o	 trauma	 psíquico	 –	 ou,	 mais	 precisamente,	 a	 lembrança	 do	
trauma – age como um corpo estranho que, muito depois de sua entrada, deve 
continuar a ser considerado como um agente que ainda está em ação”. O que 
eles estão sugerindo é que o reprimido não é o evento traumático em si, mas sua 
memória. Ou, dito de outra forma, reprimido é todo e qualquer conhecimento do 
evento traumático. No caso da Miss	Lucy	R.,	o	que	é	reprimido	é	a	memória,	o	
conhecimento,	ou,	como	Freud	diz,	a	cena,	da	violenta	fúria	de	seu	amado	patrão	
ao	ver	seus	filhos	beijados	na	boca.	Ao	ver	essa	raiva,	um	conflito	surge	nela	entre	
o conhecimento de que ele descaradamente a despreza e o carinho que ela tem por 
ele.	O	conflito	é	resolvido	pela	divisão	dessas	duas	partes:	o	conhecimento	de	um	
lado	e	a	emoção	do	outro.	A	cena,	bem	como	qualquer	conhecimento	associado,	
é reprimida, tornada inconsciente. A emoção, entretanto, permanece e se apega 
ao cheiro de fumaça de charuto e pudim queimado, dando a esses cheiros uma 
carga	libidinal	adicional.	Uma	vez	que	Miss	Lucy	R.	se	lembra	dessa	cena,	ela	é	
capaz,	como	Freud	e	Breuer	dizem,	de	traduzir	“o	afeto	em	palavras”	(BREUER;	
FREUD,	 1996,	 p.	 42);	 e	 sua	 situação,	 como	 resultado,	 muda	 dramaticamente,	
retornando o senso do seu olfato.
À medida que o pensamento de Freud continua a se desenvolver – acima 
de tudo, com os Ensaios de Metapsicologia – o caráter ideativo, em oposição ao 
emocional,	do	inconsciente	torna-se	mais	bem	definido.	No	primeiro	ensaio,	Os 
Instintos e suas Vicissitudes,	Freud	(1996d,	p.	127)	afirma	isso	de	uma	pulsão:
 
Se agora nos dedicarmos a considerar a vida mental de um ponto 
de	vista	biológico,	um	 ‘instinto’	 [pulsão]	nos	aparecerá	 como	sendo	
um conceito situado na fronteira entre o mental e o somático, como 
o representante psíquico dos estímulos que se originam dentro do 
organismo e alcançam amente, como uma medida da exigência feita 
à	mente	no	sentido	de	trabalhar	em	consequência	de	sua	ligação	com	
o corpo.
Esta	única	frase	contém	uma	multiplicidade	de	informações	importantes,	
mas o que nos preocupa aqui é a sugestão de Freud de que o que é referido como 
uma entidade singular, a pulsão, é na realidade um composto da própria pulsão 
e seu representante psíquico ou ideia representativa.
 
A repressão – isto é, a ação de "afastar determinada coisa do consciente, 
mantendo-a	a	distância"	–	afeta	apenas	o	"representante	psíquico	(ideacional)”	da	
pulsão	(FREUD,	1996e,	p.	152-153),	e	não	a	própria	pulsão.	Isso	ocorre	porque	a	
“pulsão”,	como	Freud	a	entende,	“nunca	pode	se	tornar	objeto	da	consciência	–	só	
a	ideia	que	[a]	representa	pode”	(FREUD,	1996c,	p.	182).	A	afirmação	de	Freud	é,	
em essência, que os indivíduos reprimem ideias que representam a pulsão para 
a	consciência.	O	que	Freud	 (BREUER;	FREUD,	1996),	em	sua	obra	anterior,	os	
Estudos sobre a Histeria, descreveu como uma cena, agora é descrito como um 
representante psíquico ou ideacional. Nada poderia estar mais longe das emoções 
do que a linguagem de representação de Freud.
 
TÓPICO 1 — O INCONSCIENTE: UMA FORMA DE CONHECIMENTO
15
Freud acredita tão enfaticamente que a repressão é sempre a repressão 
do	 conteúdo	 ideativo	 que	 em	O Inconsciente,	 ele	 escreve:	 “Por	 certo,	 faz	 parte	
da	natureza	de	uma	emoção	que	estejamos	cônscios	dela,	isto	é,	que	ela	se	torne	
conhecida	pela	consciência.	Assim,	a	possibilidade	do	atributo	da	inconsciência	
seria completamente excluída no tocante às emoções, sentimentos e afetos” 
(FREUD, 1996c, p. 182). Freud não poderia ser mais claro, que a repressão não 
se	 refere	 à	 supressão	 da	 emoção.	 Para	 fins	 de	 clareza,	 a	 noção	 de	 Freud	 do	
representante ideativo será referida simplesmente como conhecimento: assim, o 
que permanece reprimido no inconsciente é sempre algum tipo de conhecimento 
traumático. Dessa forma, a psicanálise pode ser entendida como uma espécie 
de processo de aprendizagem: o processo de aprendizagem do conhecimento 
traumático.
 
No entanto, deve-se ter cuidado para não entender Freud como 
negligenciando	o	afeto,	pois	 ele	de	 fato	 tem	uma	 teoria	das	emoções.	Quando	
ocorre a repressão – isto é, quando algum conhecimento traumático é tornado 
inconsciente	–	ele	é	liberado	de	uma	quota	de	afeto	que	o	acompanha	(FREUD,	
1996c).	Esse	afeto	 recém-liberado	pode	então	 se	 ligar	a	outras	 ideias,	dissipar-
se,	altear-se	em	ansiedade	ou	permanecer	flutuando	livremente.	Em	seu	estado	
separado, a emoção é geralmente erroneamente reconhecida como algo diferente 
do concomitante emocional do conhecimento traumático. Uma vez que o 
conhecimento traumático é aprendido a partir do inconsciente, esse afeto radical 
livre é lançado em uma luz nova e apropriada. 
Um exemplo seria o paciente de Freud conhecido como o Homem dos 
Ratos. Enquanto estava no exército, o Homem dos Ratos conversa com um de 
seus	comandantes	–	“um	capitão	de	nome	tcheco”	(FREUD,	1996f,	p.	149).	Nessa	
conversa, o capitão relata uma forma de tortura envolvendo o uso de ratos. 
Ouvir o capitão tcheco descrever essa tortura com ratos deixa o homem doente. 
Quando	a	doença	se	transforma	em	um	caso	de	compulsão	obsessiva,	ele	vem	ver	
Freud. Por meio da análise, Freud determina que o Homem dos Ratos reprimiu o 
conhecimento	traumático	de	ter	atacado	ferozmente	seu	pai	na	infância	(o	trauma	
aqui é o sentimento de culpa por ter atacado seu pai). Uma vez reprimido, esse 
conhecimento	se	separa	de	seu	componente	afetivo	–	a	saber,	seu	ódio	pelo	pai	
– e o afeto remanescente é deslocado para a pessoa do capitão tcheco. O ódio 
do Homem dos Ratos, que, com certeza, nunca foi inconsciente ou reprimido, 
mas apenas deslocado, é, no entanto, reconhecido erroneamente por ele como 
qualquer coisa, menos o que realmente é. Ele vê isso como um sinal de que seu 
capitão é desprezivelmente sádico, que ele próprio é um covarde, até mesmo 
que as mulheres em geral são repugnantes. O que ele não vê é este ódio como 
companheiro do conhecimento traumático de que odeia seu pai. 
UNIDADE 1 — A PSICANÁLISE COMO PSICOPEDAGOGIA
16
Caro acadêmico! Assista ao filme que foi baseado na história de um jovem tratado 
por Freud, cujo trabalho foi publicado como “Homem dos Ratos”, no ano de 1909. O filme 
estreou em 28 de junho de 1973. Você pode assistir ao filme neste link: https://bit.ly/3n2jWTz.
DICAS
6 O INCONSCIENTE É UMA LINGUAGEM
 
Quando	 Freud	 usa	 a	 frase	 “representante	 ideacional”	 (ou	 ideativo)	 –	
descrito	 aqui	 como	 conhecimento	 traumático	 –	 para	 designar	 o	 conteúdo	 do	
inconsciente, ele está usando uma frase que é original para ele. Esta frase, que é 
traduzida	em	português	como	“representante	ideacional”,	é,	no	alemão	original,	
Vorstellungsrepräsentanz,	 que	 é	 a	 combinação	 de	 duas	 palavras:	 Vorstellung e 
Repräsentanz. O fato de Freud inventar uma palavra composta não é incomum 
para a língua alemã. No entanto, a palavra em si é peculiar: Vorstellung pode 
ser	traduzido	aproximadamente	como	“representação”,	“ideia”	ou	“concepção”;	
e Repräsentanz	 traduzido	 aproximadamente	 como	 “representante”	 no	 sentido	
jurídico,	 como	 um	 embaixador	 ou	 um	 advogado.	 Vorstellungsrepräsentanz, 
portanto, se traduz aproximadamente como a "representação do representante". 
Freud, ao usar a linguagem da representação, pretende traçar uma linha nítida 
de	distinção	entre	afetos	e	conceitos.	Assim,	esclarecer	que	o	conteúdo	reprimido	
nunca	é	emocional,	mas	sempre	ideacional	ou	ideativo,	não	é	um	gesto	superficial;	
é, ao contrário, inerente ao discurso de Freud. 
 
Podemos dizer que ninguém entendeu os riscos da linguagem altamente 
original	 de	 Freud	melhor	 do	 que	 Jacques	 Lacan.	 No	 sétimo	 de	 seus	 famosos	
seminários, A Ética da Psicanálise,	Lacan	chama	a	atenção	para	a	frase	de	Freud:
Os processos de pensamento, na medida em que regulam por meio 
do princípio do prazer, o investimento do Vorstellungen e a estrutura 
em que o inconsciente está organizado, a estrutura na qual os 
mecanismos	inconscientes	subjacentes	são	floculados.	E	é	isso	que	faz	
os pequenos coalhos da representação, isto é, algo que tem a mesma 
estrutura	do	significante	–	ponto	sobre	o	qual	insisto.	Isso	não	é	apenas	
Vorstellung, mas como Freud escreve mais tarde no mesmo artigo 
sobre	o	inconsciente,	Vorstellungsrepräsentanz; e assim ele transforma 
Vorstellung	 em	 um	 elemento	 associativo	 e	 combinatório.	 Dessa	
forma, o mundo de Vorstellung	 já	está	organizado	de	acordo	com	as	
possibilidades	do	significante	como	tal	(LACAN,	1992,	p.	61).
 
Das muitas coisas interessantes que acontecem nesta passagem, a mais 
pertinente	para	a	presente	discussão	é	a	maneira	como	Lacan	destaca	a	linguagem	
representacional	de	Freud	usando	o	termo	"significante"	da	linguística	estrutural.	
O	que	Lacan	está	enfatizando	a	seus	seminaristas	é	que,	em	Freud,	o	inconsciente	
TÓPICO 1 — O INCONSCIENTE: UMA FORMA DE CONHECIMENTO
17
é	um	modo	de	representação,	portanto,	enquanto	os	objetos	existem	no	real	–	isto	
é, fora da linguagem – só podemos conhecê-los na linguagem e pela linguagem, 
por	meio	do	discurso,	razão	pela	qual	Lacan	afirma	que	“o	inconsciente	é	uma	
linguagem”	(LACAN,	1993,	p.	11).
Caro acadêmico! O século XXI descobriu a importância da linguagem como 
condição e meio de produção de sujeitos, relações de poder, formas de ideologia e modalidades 
de desejo. Pela linguagem nos definimos e nos constituímos. Contudo, será que toda a 
gramática de uma língua seria suficiente para traduzir a complexa realidade do mundo em 
que vivemos e o de nossos processos psíquicos? Esta inquietude, essa tensão entre o que é o 
real e o que a linguagem tenta capturar do real é questão fundamental na obra do psicanalista 
Jacques Lacan e é isso que o psicanalista Christian Dunker irá discutir nesta palestra no Café 
Filosófico CPFL. Você poderá acessar o vídeo neste link: https://bit.ly/3FUAaqx
DICASLacan	continua	sua	discussão	sobre	a	terminologia	de	Freud	no	seminário	
XI, Os Quatro Conceitos Fundamentais da Psicanálise. Na sessão intitulada 
“Tiquê	 e	Autômaton”,	 Lacan	 aproveita	 para	 “sublinhar	 o	 que	 Freud,	 quando	
fala do inconsciente, designa como o que o determina essencialmente – o 
Vorstellungsrepräsentanz”	 (LACAN,	1988a,	p.	 61).	 “O	que	quer	dizer”,	 continua	
ele,	 “não	 o	 representante	 representativo	 como	 se	 traduziu	 monotonamente,	
mas	 o	 lugar-tenente	 da	 representação”	 (LACAN,	 1988a,	 p.	 61),	 ou	 seja,	 o	
“representante	 –	 traduzi,	 literalmente	 –	 da	 representação”	 (LACAN,	 1988a,	
p. 206). Vorstellungsrepräsentanz não é representativo no sentido de ser o mais 
exemplar dos representantes, mas sim algo que representa a representação, algo 
que toma o lugar da representação. Aquilo que ocupa o lugar da representação, 
afirma	Lacan,	ao	concluir,	“é	o	Trieb”	(LACAN,	1988a,	p.	61),	a	pulsão.
 
Com	 a	 ajuda	 de	 Lacan,	 todas	 as	 implicações	 da	 terminologia	 especial	
de	Freud	estão	agora	ao	nosso	alcance.	Lembre-se	de	que,	para	Freud,	apenas	o	
representante da pulsão – que retraduzimos como conhecimento – pode se tornar 
um	objeto	de	consciência	e	nunca	a	própria	pulsão.	Freud	denomina	a	repressão	
que afeta o representativo inicial da pulsão de repressão primária,	ou	seja,	"uma	
primeira fase de repressão, que consiste em negar entrada no consciente ao 
representante	 psíquico	 (ideacional)	 do	 instinto	 [pulsão]"	 (FREUD,	 1996e,	 p.	
153).	O	que	Freud	uma	vez	descreveu	 como	uma	 cena	 agora	 está	 sendo	mais	
formalmente denominado como Vorstellungsrepräsentanz. Ao relacionar este termo 
com	a	pulsão,	Lacan	esclarece	que	ao	explorar	o	inconsciente	não	se	atinge	a	base	
última	da	psique,	mas	sim	o	Vorstellungsrepräsentanz,	ou	seja,	um	conhecimento	
que	representa	outra	coisa,	a	saber,	a	pulsão.	Vorstellungsrepräsentanz é, em outras 
palavras,	um	significante,	e	o	que	ele	significa	é	a	pulsão.	Em	outras	palavras,	
Vorstellungsrepräsentanz	designa	o	modo	pelo	qual	a	pulsão	fala.	Ao	afirmar	que	o	
UNIDADE 1 — A PSICANÁLISE COMO PSICOPEDAGOGIA
18
reprimido no inconsciente é o Vorstellungsrepräsentanz,	Lacan	lê	Freud	como	tendo	
em	mente	um	modelo	linguístico	do	inconsciente	na	medida	em	que	ele	significa	
ou fala a pulsão. Portanto, quando o inconsciente emite o Vorstellungsrepräsentanz, 
ele	fala	seu	conhecimento	na	linguagem	da	pulsão.	E	é	por	isso	que	Lacan	afirma	
que	“o	inconsciente	é	estruturado	como	uma	linguagem”	(LACAN,	1988a,	p.	142).
Para	Lacan,	um	significante	reside	sempre	no	centro	do	inconsciente,	um	
fragmento de conhecimento que nada mais representa senão a própria pulsão: 
“O	que	é	essencial	é	que	ele	veja,	para	além	dessa	significação,	a	qual	significante	
–	 não	 senso	 [sem	 significado],	 irredutível,	 traumático	 –	 ele	 está,	 como	 sujeito,	
assujeitado”	(LACAN,	1988a,	p.	237).	Lacan	dá	dois	exemplos	desse	significante	
reprimido.	O	primeiro	é	retirado	do	trabalho	de	seu	aluno	Serge	Leclaire.	Em	um	
de	seus	casos,	Leclaire	descobre	o	significante	sem	significado,	Poordjeli, no centro 
do inconsciente de um de seus pacientes. O nome desse paciente é Philippe, e ele 
é	obcecado	por	unicórnios,	que,	em	francês,	é	licorne. O comentarista lacaniano, 
Eric	Laurent,	discorre	sobre	o	significado	da	descoberta	de	Leclaire:
Philippe	 tinha	 obsessões	 que	 podiam	 ser	 atribuídas	 ao	 fato	 de	 que	
ele	 foi	 definido,	 não	 como	um	menino	mau,	mas	 sim	 como	 “pobre	
Philippe” (pauvre Philippe). Sua mãe sempre se referiu a ele como 
“pobre	Philippe”	e	a	conexão	do	som	de	“au”	em	“pauvre”	e	“o”	em	
“licorne”	foi	enfatizada	por	Leclaire,	que	mostrou	que	“pauvre Philippe” 
era o som que colocava Philippe na cama [lit]	[...]	Leclaire	apontou	que	
Philippe	poderia	ser	definido	em	termos	de	uma	cadeia	que	poderia	
ser	 escrita	 da	 seguinte	 forma:	 Pobre	 (d)	 J'e-Li	 (Poordjeli)	 incluindo	
"pobre	Philippe",	o	“Je”	(Eu)	do	sujeito,	e	“li”	de	Philippe,	licorne e lit 
(cama)	(LAURENT,	1995,	p.	27).
 
O	segundo	exemplo	de	Lacan	é	 tirado	do	paciente	de	Freud	conhecido	
como	 Homem	 dos	 Lobos.	 O	 pseudônimo,	 Homem dos Lobos, é derivado da 
natureza	de	seu	sintoma:	ele	é	atormentado	por	sonhos	com	lobos.	O	Homem	
dos	Lobos	conta	seu	sonho	recorrente	para	Freud	assim:
Sonhei	 que	 é	 noite	 e	 que	 estou	 deitado	 em	minha	 cama	 (ela	 ficava	
com	os	pés	para	a	janela,	diante	da	janela	havia	uma	fileira	de	velhas	
nogueiras. Sei que era inverno quando sonhei, e era noite). De repente 
a	 janela	 se	 abre	 sozinha,	 e	 vejo,	 com	 grande	 pavor,	 que	 na	 grande	
nogueira	diante	da	janela	estão	sentados	alguns	lobos	brancos.	Eram	
seis	 ou	 sete.	 Os	 lobos	 eram	 inteiramente	 brancos	 e	 pareciam	 antes	
raposas ou cães pastores, pois tinham caudas grandes como as raposas 
e suas orelhas estavam em pé como as dos cães, quando prestam 
atenção a algo. Com muito medo, evidentemente, de ser comido pelos 
lobos,	gritei	e	acordei	(FREUD,	2003,	p.	227).
 
Ao	 longo	do	 tratamento	do	Homem	dos	Lobos,	Freud	chega	a	 teorizar	
algo	que	ele	chama	de	“cena	primária”	(FREUD,	2003,	p.	236).	A	cena	primária	é	
a	linguagem	através	da	qual	o	conhecimento	traumático	do	Homem	dos	Lobos	é	
registrado	e	tornado	inconsciente.	Freud	permanece	indeciso	sobre	a	exata	acurácia	
da	 cena	 primária	 recordada.	 “Essas	 memórias	 anteriormente	 inconscientes”,	
escreve	ele,	“nem	mesmo	precisam	ser	verdadeiras;	elas	podem	ser	verdadeiras,	
mas sua verdade é frequentemente distorcida e intercalada com elementos 
TÓPICO 1 — O INCONSCIENTE: UMA FORMA DE CONHECIMENTO
19
fantasiados”	(FREUD,	2003,	p.	250).	O	importante	é	que	são	“formações-fantasia,	
inspirando-se	em	anos	mais	maduros,	concebidas	como	representação	simbólica,	
por	assim	dizer,	de	desejos	e	interesses	reais”	(FREUD,	2003,	p.	248).	Observe	que	
Freud	chama	a	cena	primária	de	"representação	simbólica"	de	"desejos	e	interesses	
reais".	Lacan	aproveita	o	tom	linguístico	da	descrição	de	Freud,	apresentando	a	
cena	primária	como	um	caso	exemplar	do	significante	primário.
Para compreender melhor o caso do Homem dos Lobos, assista ao vídeo do 
psicanalista Christian Dunker “Homem dos Lobos – Falando Daquilo 43”, no qual ele explica 
o ocorrido neste caso. Você poderá assistir ao vídeo neste link: https://bit.ly/3n81IQm.
DICAS
O	evento	 traumático,	 portanto,	 nunca	 é	 obliterado	da	mente,	mas,	 ao	
contrário,	é	armazenado	como	conhecimento	na	forma	de	significante	primário	
no inconsciente. O conhecimento traumático é o conhecimento traduzido para 
a	 linguagem	do	 inconsciente.	Qualquer	outro	material	 significante	que	possa	
ser	associado	ao	significante	primário	experimentará	o	mesmo	destino	daquilo	
que foi primeiramente reprimido (FREUD, 1996e) – ele chama essa repressão 
secundária de repressão propriamente dita.	 Composto	 pelo	 significante	
primário	 primeiramente	 reprimido	 e	 pelo	 conteúdo	 associado	 reprimido,	
“o	 inconsciente”,	 descreve	 Lacan,	 “torna-se	 uma	 cadeia	 de	 significantes”	
(LACAN,	2004a,	p.	286),	uma	linguagem	em	si	mesma.	Em	outro	lugar,	Lacan	
elabora:	“O	inconsciente	é	fundamentalmente	estruturado,	tecido,	acorrentado,	
entrelaçado,	pela	 linguagem.	E	não	apenas	o	significante	desempenha	ali	um	
papel	tão	grande	quanto	o	significado,	mas	desempenha	o	papel	fundamental.	
Na	verdade,	o	que	caracteriza	a	 linguagem	é	o	sistema	de	significantes	como	
tal”	(LACAN,	1993,	p.	119).
 
A psicanálise não é uma doutrina do niilismo: a alegação de que o 
conhecimento traumático é armazenado no inconsciente de forma alguma sugere 
que	 ele	 nunca	 possa	 ser	 acessado.	Na	 verdade,	 o	 problema	 que	 a	 psicanálise	
apresenta	é	exatamente	o	oposto.	A	natureza	linguística	do	inconsciente	significa	
que o conhecimento traumático pode ser falado – na verdade, o inconsciente, como 
Lacan	coloca,	é	“um	conhecimento	que	fala	por	si	mesmo”	(LACAN,	2007,	p.	70).	
Embora	não	seja	impossível,	falar	o	inconsciente	também	não	é	simples;	fazer	isso	
envolve	uma	quantidade	enormede	trabalho.	Freud	compara	este	trabalho	ao	da	
tradução	–	sublinhando	assim	a	natureza	linguística	do	inconsciente:
Como devemos chegar a um conhecimento do inconsciente? 
Certamente, só o conhecemos como algo consciente, depois que ele 
sofreu transformação ou tradução para algo consciente. A cada dia, o 
trabalho	psicanalítico	nos	mostra	que	esse	tipo	de	tradução	é	possível	
(FREUD, 1996c, p. 171).
 
UNIDADE 1 — A PSICANÁLISE COMO PSICOPEDAGOGIA
20
Na	verdade,	toda	a	dinâmica	do	trabalho	analítico	gira	em	torno	da	luta	
para	divulgar	o	conhecimento	traumático	reprimido.	Lacan,	entretanto,	adverte:	
“A	interpretação	não	está	aberta	a	nenhum	significado”	(LACAN,	1981,	p.	250).	
O	que	isso	significa	é	que	o	objetivo	da	psicanálise	é	estritamente	permitir	que	
o inconsciente fale seu conhecimento traumático, não para impor ou adicionar 
significado	a	ele	por	meio,	digamos,	da	interpretação.	A	razão	pela	qual	Lacan	
adverte	 contra	 a	 interpretação	 do	 significante	 primário	 é	 que	 o	 significante	
primário,	“na	medida	em	que	o	significante	primário	é	puro	insensato	[...]	não	
está	 aberto	 a	 todos	 os	 significados,	 mas	 abole	 todos	 eles”	 (LACAN,	 1981,	 p.	
252).	Em	vez	de	desvendar	algum	significado	profundo	e	misterioso	por	trás	do	
significante	primário	–	afinal,	o	significante	primário	sempre	representa	a	própria	
pulsão,	que	nunca	pode	se	tornar	consciente	como	tal	–	o	objetivo	da	psicanálise	é	
assumir	a	responsabilidade	por	ele,	em	toda	a	sua	plenitude	traumática.
 
O	filme	Memento (Amnésia), dirigido por Christopher Nolan, demonstra 
perfeitamente	esses	princípios	psicanalíticos.	O	personagem	principal	deste	filme	
é	Leonard	–	um	homem	que	sofre	perda	de	memória	de	curto	prazo	devido	a	um	
ferimento	na	cabeça	que	sofre	ao	tentar	impedir	o	assassinato	de	sua	esposa.	A	
motivação	de	Leonard	é	encontrar	o	assassino	de	sua	esposa	e	vingar	sua	perda.	
Sofrendo	 de	 amnésia,	 Leonard	 só	 consegue	 visualizar	 cenas	 fragmentadas	 do	
assassinato	de	sua	esposa.	Então,	para	compensar	sua	falta	de	memória,	Leonard	
usa	uma	câmera	instantânea	para	tirar	fotos	que	ele	espera	que	funcionem	como	
uma	 memória	 protética.	 Juntando	 as	 fotos,	 Leonard	 é	 levado	 a	 um	 homem	
chamado	Teddy.	Leonard	está	convencido	de	que	Teddy	é	o	homem	que	procura,	
mas	antes	de	decretar	sua	vingança,	Teddy	revela	que	a	esposa	de	Leonard	foi	
morta	por	ninguém	menos	que	o	próprio	Leonard.	Leonard,	por	acaso,	injetou	
em	sua	esposa,	uma	diabética,	uma	quantidade	letal	de	insulina.	O	motivo	pelo	
qual	Leonard	sofre	perda	de	memória	de	curto	prazo	não	tem	nada	a	ver	com	a	
tentativa de impedir um assassino em potencial – na verdade, não há ataque, em 
primeiro lugar. Em vez disso, é porque ele reprimiu o conhecimento traumático 
de	que	 ele	 é	 o	 assassino	de	 sua	 esposa.	Quanto	 às	 fotos	 instantâneas,	 se	 lidas	
dentro	do	contexto	adequado,	elas	também	revelariam	a	verdade	de	que	Teddy	
não	é	o	homem	que	Leonard	está	procurando.	Mas	Leonard	não	reconheceu	o	que	
as fotos estavam de fato dizendo a ele. Em outras palavras, essas fotos sofreram o 
que Freud chama de repressão propriamente dita.
Assista ao filme descrito, Memento (Amnésia), é um filme norte-americano de 
2001, dos gêneros drama e suspense, dirigido por Christopher Nolan, com roteiro dele e seu 
irmão Jonathan Nolan. Estrelado por Guy Pearce, Memento conta a história de um homem 
que sofre de amnésia anterógrada, que o impossibilita de ele adquira novas lembranças.
DICAS
TÓPICO 1 — O INCONSCIENTE: UMA FORMA DE CONHECIMENTO
21
O	 conceito	 psicanalítico	 óbvio	 em	 ação	 aqui	 é	 a	 repressão,	 na	medida	
em	que	Leonard	 reprime	o	 conhecimento	 traumático	de	que	 ele	 é	 o	 assassino	
de	sua	esposa	e	todas	as	fotografias	associadas.	No	entanto,	o	uso	de	Nolan	do	
meio	visual	do	filme	atende	a	todas	as	nuances	do	pensamento	psicanalítico.	O	
inconsciente não é representado como algum complexo de ódio por si mesmo. 
Em vez disso, é visualizado como uma cena de flashback, que aparece na forma 
de	 fragmentos	 que	 devem	 ser	 colocados	 juntos.	 Essa	 cena,	 que	 no	 filme	 não	
tem som, é separada dos afetos associados de culpa e vergonha – afetos que 
são	deslocados	para	Teddy.	No	entanto,	a	verdadeira	genialidade	do	filme	é	o	
uso	 das	 fotos	 instantâneas.	 Essas	 fotografias,	 se	 devidamente	 reconhecidas,	
formariam	 uma	 cadeia	 significativa	 que	 levaria,	 em	 última	 análise,	 à	 cena	
traumática	original	em	que	Leonard	se	vê	matando	sua	esposa.	O	inconsciente,	
por assim dizer, expressa seu conhecimento por meio dessas fotos. Como tal, elas 
também	devem	ser	reprimidas	secundariamente,	o	que	Leonard	consegue	ao	não	
reconhecer a história que estão contando. A cena original do assassinato de sua 
esposa,	que	só	vem	à	memória	de	Leonard	em	fragmentos,	 junto	com	a	cadeia	
de	fotos	instantâneas,	que	ele	carrega	nas	mãos,	é	seu	inconsciente.	A	"cura"	de	
Leonard	não	seria	tirar	algo	significativo	da	morte	de	sua	esposa.	Em	vez	disso,	
seria aprender esse conhecimento traumático em todo o seu horror e assumir a 
responsabilidade	por	ele	como	a	verdade	de	seu	ser.
A postura psicanalítica pode parecer intransigentemente severa. Com o 
inconsciente,	a	psicanálise	sugere	que	realmente	sabemos	mais	do	que	queremos	
admitir. Aprender o inconsciente é, na verdade, um ato de reaprendizagem. Zizek 
(1992)	dramatiza	a	severidade	da	postura	psicanalítica	no	título	de	seu	livro	“Eles 
não sabem o que fazem”.	O	título	do	livro	de	Zizek	é	uma	referência	ao	pedido	bem	
conhecido	de	Cristo	para	que	Deus	perdoe	os	responsáveis			por	sua	crucificação,	
uma	vez	que	eles	"não	sabem	o	que	fazem".	Para	Zizek,	o	cristianismo	é,	portanto,	
muito	 tolerante,	 uma	 vez	 que	 aceita	 a	 ignorância	 do	 pecador	 em	 relação	 à	
pecaminosidade de sua ação. 
FONTE: <https://bit.ly/2XpistN>. Acesso em: 17 ago. 2021.
UNIDADE 1 — A PSICANÁLISE COMO PSICOPEDAGOGIA
22
A psicanálise, explica Zizek (1992), é muito mais severa do que o 
cristianismo,	a	 ignorância	não	é	razão	suficiente	para	o	perdão,	pois	 transmite	
uma dimensão oculta de gozo, de deleite. O indivíduo investe profundamente em 
“esquecer”	o	conhecimento	traumático,	desde	que	aquele	conhecimento	lhe	causa	
dano.	Este	incentivo	permite	que	o	indivíduo	desfrute	da	ignorância.	Esse	prazer	
de permanecer ignorante do conhecimento traumático é o que o cristianismo, de 
acordo com Zizek, tem total falta. 
De	acordo	com	a	psicanálise,	o	inconsciente	significa	que	a	pessoa	deve	
ser	responsabilizada	pelo	conhecimento	traumático.	A	psicanálise	acusa	onde	o	
cristianismo	perdoa.	Ao	se	recusar	a	perdoar	a	ignorância,	a	psicanálise	tem	um	
interesse	permanente	pela	pedagogia,	mas	também	está	comprometida	com	um	
objetivo	pedagógico	específico:	ensinar	o	analisando	a	aprender	o	conhecimento	
traumático	do	inconsciente.	É	um	objetivo	que	só	é	alcançado	permitindo	que	o	
inconsciente	fale	seus	significantes.
Caro acadêmico! Para que você possa explorar e aprender mais sobre a 
psicanálise e seus conceitos, sugerimos a leitura do livro “O prazer de ler Freud”, de J.-D. 
Nasio (1999).
FONTE: <https://bit.ly/2YXaacU>. Acesso em: 17 ago. 2021.
DICAS
23
Neste tópico, você aprendeu que:
• A psicanálise pode ser vista como psicopedagogia e não apenas um corpo 
teórico e técnico aplicado à psicopedagogia.
• Para Freud a educação é o processo de aprender a conter as pulsões, e a 
psicanálise é a teoria que pode auxiliar na compreensão desse processo.
• A educação deve, portanto, ser pensada como possuindo uma relação mais 
íntima com a psicanálise do que as humanidades teóricas: se as humanidades 
teóricas convidam à intervenção da psicanálise, a educação não pode prescindir 
dela.
• A psicanálise não pode ser meramente aplicada à pedagogia, porque a 
pedagogia	 já	 se	encontra	nela,	a	psicanálise	utiliza	e	depende	da	pedagogia	
para formular sua teoria e seus conceitos.
• Para	 Lacan,	 a	 psicanálise	 foi	 oficialmente	 inaugurada	 pela	 descoberta	
revolucionária	de	Freud	do	inconsciente;	sua

Continue navegando