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PROCESSO DO TRABALHO PARA O EXAME DE ORDEM : 1ª e 2ª FASES LUIS CLAUDIO PEREIRA DA SILVA 2ª edição – revista, atualizada e ampliada Brasília Edição do autor 2018 “Teu nome é Yemanjah (Yemanjah) E é Virgem Maria É Glória e é Cecília Na noite fria Oh, minha mãe Minha filha tu és qualquer mulher Mulher em qualquer dia” Raul Seixas Agradeço a todos os meus alunos que sempre me incentivaram a continuar a produção de obras destinadas a facilitar a vida dos estudantes de Direito, sobretudo daqueles que enfrentarão o desgastante exame de ordem, pelas constantes sugestões que têm sido importantíssimas para a melhoria desta obra. A todos que puderem contribuir para a melhoria desta obra, deixo o meu e- mail para receber críticas e sugestões: professorluisclaudio@gmail.com Obs.: todas as críticas e sugestões serão muitíssimo bem bem-vindas, pois, no fim, são elas que nos ajudam a melhorar. mailto:professorluisclaudio@gmail.com SUMÁRIO APRESENTAÇÃO 1- TEORIA GERAL DO DIREITO PROCESSUAL DO TRABALHO 1.1- Conceito 1.2- Princípios do Direito Processual do Trabalho 1.3- Das Normas de Direito Processual do Trabalho 1.4- Da Aplicação Subsidiária das Normas de Direito Processual Comum 2- ORGANIZAÇÃO E COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA DO TRABALHO 2.1– Detalhamento da Competência da Justiça do Trabalho 2.2- Competência da Justiça do Trabalho Consoante Critérios Adotados pelo art. 114, da CF/88 2.3- Processos Anteriores à EC n. 45, de 2004 2.4- Competência Territorial da Justiça do Trabalho 2.5- Conflito de Competência 3- COMISSÃO DE CONCILIAÇÃO PRÉVIA 4- ATOS, TERMOS E PRAZOS PROCESSUAIS 4.1- Atos e Termos Processuais 4.2- Prazos processuais 4.3- Fac-simile 4.4- Suspensão e Interrupção de Prazo Processual 5- NULIDADES PROCESSUAIS 5.1- Atos Meramente Irregulares 5.2- Atos Inexistentes 5.3- Classificação das Nulidades 5.4- Regras e Princípios sobre as Nulidades no Processo do Trabalho 6- DISSÍDIOS INDIVIDUAIS DE TRABALHO 6.1- Dissídios Individuais - Procedimento “Ordinário” 6.2- Dissídios Individuais – Procedimento de Alçada Exclusiva da Vara do Trabalho – Procedimento “Sumário” 6.3- Dissídios Individuais – Procedimento Sumaríssimo 6.4- Dissídios Individuais – Inquérito para Apuração de Falta Grave 6.5- Dissídios Individuais – Do Processo de Jurisdição Voluntária para Homologação de Acordo Extrajudicial 7- DISSÍDIO COLETIVO DE TRABALHO 7.1- Da Decisão da Assembleia Geral de Trabalhadores - AGT 7.2- Da Instauração da Instância 7.3- Do Procedimento 7.4- Da Extensão das Decisões 7.5- Da Ação de Cumprimento 7.6- Da Revisão das Decisões 7.7- Dissídio Coletivo de Natureza Jurídica 7.8- Custas nos Dissídios Coletivos de Trabalho 8- PROCEDIMENTOS ESPECIAIS APLICÁVEIS AO PROCESSO DO TRABALHO 8.1- Ação de Consignação em Pagamento 8.2- Ação Rescisória 8.3- Mandado de Segurança 8.4- Ação Civil Pública 9- RECURSOS NO PROCESSO DO TRABALHO 9.1- Teoria Geral dos Recursos Trabalhistas 9.2- Embargos de Declaração 9.3– Recurso ordinário 9.4- Recurso Adesivo 9.5- Agravo de Instrumento 9.6- Agravo Regimental 9.7- Recurso de Revista 9.8- Embargos ao TST 9.9- Correição parcial ou reclamação correicional 10- EXECUÇÃO TRABALHISTA 10.1- Liquidação de Sentença 10.2- Os Trâmites da Execução Trabalhista 10.3- Da Exceção de Pré-executividade 10.4- Da Execução por Carta Precatória 10.5- Desconsideração da Personalidade Jurídica 10.6- Embargos de terceiro 10.7- Execução contra Massa Falida 10.8- Execução contra a Fazenda Pública 10.9- Agravo de Petição 11- AÇÃO MONITÓRIA 12- BANCO NACIONAL DE DEVEDORES TRABALHISTAS – BNDT E CERTIDÃO NEGATIVA DE DÉBITOS TRABALHISTAS – CNDT REFERÊNCIAS APRESENTAÇÃO Esta obra se destina aos estudantes do Curso de Direito e aos bacharéis recém-formados que pretendem fazer o exame de ordem. Para a construção de seu conteúdo, partimos do seguinte método de pesquisa: 1º) Catalogamos todas as questões de Processo do Trabalho aplicadas nas duas fases dos exames de ordem unificados, ou seja, nos exames aplicados desde 2007 até o XXIV Exame de Ordem[1]; 2º) Separamos todas as questões por tópicos; 3º) Em seguida, escrevemos o essencial sobre o conteúdo de cada tópico, incluindo um pouco mais de conteúdo quando entendemos importante para a boa compreensão de cada instituto abordado ou de outros temas que poderão, em nossa humilde opinião, vir a ser futuramente cobrados nos exames de ordem, porém, vinculados às temáticas cobradas nos exames de ordem anteriores. Esse foi o método adotado até o XXII Exame de Ordem. Contudo, a partir da entrada em vigor da Lei n. 13.467/17, que instituiu a reforma trabalhista, sentimo-nos obrigados a inserir todo conteúdo relativo à referida reforma uma vez que todas as alterações incluídas na legislação trabalhista pela mencionada Lei certamente serão exploradas nos futuros exames de ordem, especialmente a partir do XXV exame de ordem. Mesmo assim, pretendemos manter o objetivo inicial: elaborar uma obra concisa, destinada a proporcionar aos formandos do Curso de Direito, e aos recém-formados, material objetivo, simples e direto sobre os pontos que vêm essencialmente sendo cobrados nos exames de ordem. Por isso, o examinando encontrará, nessas poucas páginas, todo conteúdo necessário para que possa resolver a contento as questões que foram cobradas na provas de 1ª e 2ª fases de Direito do Trabalho dos exames de ordem unificados aplicados até o XXIV Exame de Ordem Unificado. Originariamente, como fizemos constar na apresentação da 1ª edição desta obra, pretendíamos revisar esta obra a cada novo exame de ordem, com o objetivo de mantê-la atualizada em relação às questões de Processo do Trabalho cobradas nos exames de ordem. Entretanto, diante da excessiva alteração na legislação laboral e que gerará, certamente, modificações significativas na jurisprudência do TST, deixaremos para atualizar esta obra sempre que possível, não mais necessariamente a cada novo exame de ordem. Consigne-se, por fim, que esta obra não trata de direito do trabalho nem de prática profissional trabalhista, que são matérias abordadas em livros próprios. 1- TEORIA GERAL DO DIREITO PROCESSUAL DO TRABALHO No que se refere à cobrança de temas relacionados à teoria geral do Direito Processual do Trabalho, considerando-se todas as questões cobradas até o XXIV Exame de Ordem, foram cobrados dois institutos: os princípios aplicáveis ao processo do trabalho e a aplicação subsidiária do direito processual comum ao processo do trabalho. Portanto, nossa abordagem aqui será limitada a essa temática. 1.1- Conceito Para Nascimento (2008, item 2, capítulo 1), “O direito processual do trabalho integra, como parte fundamental, o sistema de composição dos conflitos trabalhistas quanto à jurisdição estatal e à ação, o processo e o procedimento judicial destinado a solucionar as controvérsias oriundas das relações de trabalho em suas duas configurações maiores – os conflitos individuais e os conflitos coletivos -, com base no ordenamento jurídico, que o disciplina com leis, jurisprudência, doutrina e atos internos dos órgãos da Justiça do Trabalho”. Para Sanches (2008, item 1, do capítulo 1), “podemos conceituar o processo do trabalho como o ramo do direito que tem por fito resolver as lides trabalhistas afetas à Justiça do Trabalho por meio de regras procedimentais próprias”. Portanto, os conceitos acima demonstram satisfatoriamente o objeto do processo do trabalho: dar solução aos conflitos levados ao Poder Judiciário Trabalhista, sejam eles individuais – cuja maioria decorre de demandas entre empregados e empregadores – ou coletivos, especialmente por meio do dissídio coletivo de trabalho. 1.2- Princípios do Direito Processual do Trabalho Inicialmente, deve-se atentar para o fato de que, na doutrina, não há uniformidade quanto ao tratamento desse tema, havendo, na verdade, um rol de princípios para cada autor de direito processual do trabalho. Outrossim, os autores de direito processual do trabalho ainda discutem sobre a existênciade princípios próprios do direito processual do trabalho, sendo que muitos consideram aplicáveis ao direito processual do trabalho os princípios do direito processual, analisados no âmbito da teoria geral do processo. Como nossa obra destina-se à exploração dos temas cobrados nos exames de ordem, faremos uma abordagem exclusiva dos princípios que já foram cobrados nas provas anteriores dos exames de ordem unificados e alguns outros poucos que julgamos importantes. 1.2.1 - Conceito de Princípios: Para Tostes Malta (2008, p. 108), os princípios “são idéias básicas que orientam um ou mais sistemas jurídicos, como a de que o direito deve voltar- se para uma organização da sociedade que atenda ao bem comum”. Segundo Pereira de Castro e Lazzari (2015, cap. 7): “É certo que princípio é uma ideia, mais generalizada, que inspira outras idéias, a fim de tratar especificamente de cada instituto. É o alicerce das normas jurídicas de certo ramo do Direito; é fundamento da construção escalonada da ordem jurídico-positiva em certa matéria”. Atualmente os princípios são considerados normas de superposição, devendo ser aplicados sempre que houver uma norma inferior que se contrapuser a um princípio. 1.2.2 – Funções dos Princípios: É comum encontrarmos na doutrina e na jurisprudência pátria referências às seguintes funções dos princípios: 1ª) Orientar o legislador na elaboração da norma jurídica; 2ª) Integrar o direito em casos de lacunas e 3) Orientar o aplicador do direito, especialmente o magistrado, quando da aplicação de uma regra ao caso concreto. 1.2.3 - Principais Princípios do Direito Processual do Trabalho: Deixamos consignado, prezado examinando, que chamamos de principais princípios do Direito Processual do Trabalho aqueles que têm sido cobrados nos exames de ordem unificados e alguns outros cujo estudo julgamos importante. 1.2.3.1– Princípio de proteção: é a expressão do princípio de proteção do direito material do trabalho sobre o direito processual do trabalho através do qual se justificam algumas de suas regras. Assim, com fundamento nesse princípio entende-se que: 1º) No processo do trabalho, a ausência do reclamante à audiência una não autoriza que lhe seja aplicada a pena de confissão ficta decorrente de sua eventual revelia, mas tão somente o arquivamento do processo (Art. 844, da CLT), salvo, obviamente, no caso previsto na Súmula n. 74, I, do TST. Em audiência, como veremos detalhadamente mais à frente, deverão estar presentes o reclamante, que é o autor da ação proposta perante a justiça do trabalho, podendo ser o empregado ou o empregador, e o reclamado, que é o réu na ação proposta perante a justiça do trabalho, também podendo ser o empregado ou o empregador, independentemente do comparecimento de seus advogados, nos termos do art. 843, da CLT. Desse modo, se o reclamante falta, o processo é arquivado e ele poderá ou não ser condenado a pagar custas (arts. 789, II, primeira parte e 790, § 3º, da CLT); contudo, se o reclamando falta à audiência, é, para os efeitos do processo do trabalho, revel e decorre da revelia a confissão ficta, ou seja de que os fatos alegados na inicial são verdadeiros, nos termos do art. 844, da CLT. Como, em regra quase absoluta, é o empregado o reclamante, há um nítido favorecimento do reclamante em relação ao empregador, sustentada, para muitos doutrinadores, pelo princípio de proteção. 2º) A inversão do ônus da prova a favor do empregado, nas hipóteses consagradas na jurisprudência, como, por exemplo, nos casos previstos nas Súmulas 212, 338 e 461, do TST, que assim dispõem: SÚMULA 212 - DESPEDIMENTO. ÔNUS DA PROVA. O ônus de provar o término do contrato de trabalho, quando negados a prestação de serviço e o despedimento, é do empregador, pois o princípio da continuidade da relação de emprego constitui presunção favorável ao empregado. SÚMULA - 338 JORNADA DE TRABALHO. REGISTRO. ÔNUS DA PROVA. I - É ônus do empregador que conta com mais de 10 (dez) empregados o registro da jornada de trabalho na forma do art. 74, § 2º, da CLT. A não-apresentação injustificada dos controles de frequência gera presunção relativa de veracidade da jornada de trabalho, a qual pode ser elidida por prova em contrário. II - A presunção de veracidade da jornada de trabalho, ainda que prevista em instrumento normativo, pode ser elidida por prova em contrário. III - Os cartões de ponto que demonstram horários de entrada e saída uniformes são inválidos como meio de prova, invertendo-se o ônus da prova, relativo às horas extras, que passa a ser do empregador, prevalecendo a jornada da inicial se dele não se desincumbir. SÚMULA - 461 FGTS. DIFERENÇAS. RECOLHIMENTO. ÔNUS DA PROVA. É do empregador o ônus da prova em relação à regularidade dos depósitos do FGTS, pois o pagamento é fato extintivo do direito do autor (art. 373, II, do CPC de 2015). 3º) A imposição de que o empregador, se for o reclamado, na maioria dos recursos trabalhistas, faça o depósito recursal para eventual garantia de futura execução (§§ 1º a 8º, do Art. 899, da CLT). No processo do trabalho, o empregador, na posição processual de reclamado, é obrigado a efetuar um depósito para poder recorrer, salvo se beneficiário da justiça gratuita, agora aplicado ao empregador, mesmo que empresa, por força do art. 98, do CPC. Essa mesma obrigação não se impõe ao empregado, havendo, portanto, um desequilíbrio entre as partes justificado pelo princípio de proteção para alguns juristas. 1.2.3.2– Princípios da Demanda, da Inércia ou Dispositivo (Arts. 2º, 485, II, III e § 1º, do CPC e Súmula n. 240, do STJ): esses princípios pressupõem que somente ao interessado é dado movimentar o órgão do poder judiciário e, após dar início ao processo, fica o interessado obrigado pela movimentação do processo até seu final, na busca da tutela jurisdicional. Ao juiz cabe também movimentar o processo, contudo, com o objetivo de fazer com que o processo chegue ao fim com ou sem tutela jurisdicional. Aqui devemos fazer uma distinção entre tutela jurisdicional e prestação jurisdicional. Na tutela jurisdicional, o poder judiciário julga o mérito da causa. Nesse caso, diz-se que o serviço prestado pelo poder judiciário foi realizado na sua inteireza. Na prestação jurisdicional, não há análise do mérito da causa. Mesmo assim, também aqui o serviço do poder judiciário foi prestado, contudo, não em sua integralidade porque a demanda não estava apta a ser inteiramente resolvida, culminando na extinção do processo sem resolução do mérito. E é nesse sentido que se deve entender o papel do juiz, como a autoridade responsável por levar o processo para o seu fim. Entenda: fim do processo e não fim do conflito. Desse modo, a parte que houver movimentado o órgão do poder judiciário por meio da propositura de uma ação deverá dar andamento ao processo, requerendo a prática dos atos processuais que entender convenientes e não abandonar a causa, pois, nesSe caso, poderá, inclusive, vê-la extinta sem resolução do mérito. 1.2.3.3– Princípio Inquisitivo ou Inquisitório ou princípio do impulso oficial (art. 2º, do CPC): Esse princípio confere ao juiz o poder de atuar independentemente de requerimento das partes, podendo, inclusive, iniciar fases processuais ou dar andamento aos feitos que lhe são submetidos, em algumas situações previstas em lei. São exemplos de aplicação do princípio inquisitivo no Direito Processual do Trabalho: Na execução trabalhista, o juiz podia, até o advendo da Lei n. 13.467/2017, iniciar e impulsionar o processo independentemente da prática de ato processual pela parte interessada. Essa sistemática foi parcialmente modificada pela Lei n. 13.467/2017 que somente autoriza a prática de ato processual pelo juiz do trabalho se a parte a favor da qual está movimentando o processo estiver postulando sem advogado (art. 878, da CLT). Busca da verdade real – no processo do trabalho o juiz pode determinar as provas que entender necessárias para bem elucidar a causa, independentemente de requerimento das partes (art.765, da CLT). Dever de movimentar o processo, na fase de conhecimento, nos dissídios de alçada exclusiva das Juntas e naqueles em que os empregados ou empregadores reclamarem pessoalmente (art. 4º, da Lei n. 5.584/70). Determinar que seja integrado à lide outra pessoa não incluída na demanda pelo autor, nos seguintes casos: 1º) Devedor solidário, nos casos de solidariedade passiva (art. 2º, § 2º, da CLT); 2º) Sucessor ou sucedido, nos casos de sucessão de empregadores (arts. 10 e 448, da CLT) e 3º) O empreiteiro principal, nos casos de contrato de subempreitada (art. 455, da CLT). 1.2.3.4– Princípio do jus postulandi: no processo do trabalho, temos o empregado, em regra, como autor – denominado de reclamante – e o empregador, em regra, como réu – denominado de reclamado. Ambos podem atuar sem que estejam representados por advogados (Art. 791, da CLT). Contudo, essa regra constante da CLT, que não impõe qualquer limite para a atuação dos empregados e empregadores sem a representação de advogado, sofre limitação imposta por entendimento do TST, consagrado na Súmula n. 425, que tem o seguinte teor: O jus postulandi das partes, estabelecido no art. 791 da CLT, limita-se às Varas do Trabalho e aos Tribunais Regionais do Trabalho, não alcançando a ação rescisória, a ação cautelar, o mandado de segurança e os recursos de competência do Tribunal Superior do Trabalho. 1.2.3.5– Princípio da Eventualidade: impõe que as partes devem esmiuçar a matéria a ser submetida à apreciação judicial no momento oportuno, que ocorre, em regra, para o autor na petição inicial e demais momentos que tiver de falar nos autos e para o réu em sua contestação e demais momentes que tiver de se manifestar nos autos, sob pena de preclusão (Arts. 319, 336 e 341, do CPC e 795 e 840, da CLT). 1.2.3.6– Princípio da extrapetição: por esse princípio, o juiz, em alguns casos, pode condenar a reclamada ao pagamento de certos direito não constantes da petição inicial. Sua aplicação é discutível no processo do trabalho. Há, contudo, uma hipótese, citada pelos autores, em que é plenamente aplicável, que é a da condenação da reclamada, independentemente de pedido do autor, em juros e correção monetária do débito, com fundamento no Art. 322, § 1º, do CPC e Súmula n. 211, do TST. SÚMULA – 211 - JUROS DE MORA E CORREÇÃO MONETÁRIA. INDEPENDÊNCIA DO PEDIDO INICIAL E DO TÍTULO EXECUTIVO JUDICIAL. Os juros de mora e a correção monetária incluem-se na liquidação, ainda que omisso o pedido inicial ou a condenação. Em quatro outras hipóteses, contudo, há divergências na doutrina e na jurisprudência: 1ª) Multa para que o empregador conceda férias ao empregado (Art. 137, § 2º, da CLT). 2ª) Multa em relação às verbas rescisórias incontroversas não pagas pelo empregador na primeira audiência (Art. 467, da CLT). 3ª) Multa por atraso de pagamento das verbas rescisórias (Art. 477, § 8º, da CLT) e 4ª) Conversão de reintegração em indenização (Art. 496, da CLT). 1.2.3.7– Princípio da Oralidade: esse princípio acolhe o entendimento por meio do qual deve-se dar preferência à prática oral dos atos processuais, prevalecendo a comunicação verbal entre as partes, o juiz e seus auxiliares. O processo do trabalho não consagra totalmente esse princípio, sendo que na prática só é aplicado nos seguintes atos processuais: audiência e sustentações orais perante os Tribunais Trabalhistas. 1.2.3.8– Princípio da concentração dos atos processuais: justifica a reunião dos atos processuais o mais próximo possível uns dos outros ou a supressão de atos processuais visando a maior celeridade processual possível. São exemplos dessas hipóteses: 1º) A audiência una (Art. 849, da CLT) e a irrecorribilidade das decisões interlocutórias (§ 2º, do Art. 799 e § 1º, do Art. 893, da CLT). 1.2.3.9– Princípio da conciliação: o processo do trabalho tem a finalidade suprema de buscar a autocomposição das partes por meio da mediação dos juízes e tribunais do trabalho (Art 764, da CLT). Esse princípio é adotado pela CLT obrigatoriamente nas seguintes passagens, em que os juízes deverão tentar conciliar as partes: Nos dissídios individuais: Arts. 846, 850 e 852-E, da CLT. Nos dissídios coletivos de trabalho: Arts. 860 e 862, da CLT. A Lei n. 13.467/2017 incluiu na CLT competência aos juízes do trabalho para decidir quanto à homologação de acordo extrajudicial em matéria de competência da Justiça do Trabalho. 1.2.3.10– Princípio da irrecorribilidade das decisões interlocutórias (§ 2º, do Art. 799 e § 1º, do Art. 893, da CLT): a definição de decisão interlocutória encontra-se no § 2º, do Art. 203, do CPC, segundo o qual decisão interlocutória é todo pronunciamento judicial de natureza decisória que não põe fim à fase cognitiva do procedimento comum ou não extingue a execução. No processo do trabalho, a apreciação das decisões interlocutórias, desde que expressamente ressalvadas (Art. 795, da CLT), só é admitida quando da apreciação de recurso da decisão definitiva. 1.3- Das Normas de Direito Processual do Trabalho O direito processual do trabalho não tem suas normas codificadas, como ocorre com o direito processual civil e o direito processual penal. Sua principal regulamentação encontra-se prevista na CLT (arts. 643 a 910), mas outras normas existem que tratam de processo do trabalho e deverão ser sempre lembradas e prestigiadas; entras essas, estão as Leis n. 5.584/70, 7.701/88 e o Decreto-Lei n. 779/69. 1.4- Da Aplicação Subsidiária das Normas de Direito Processual Comum Tendo em vista que as normas regulamentadoras do direito processual do trabalho não são suficientes para dar solução a todos os casos concretos que são levados à Justiça do Trabalho, a CLT prevê a necessidade de se recorrer às normas do processo comum (art. 769, da CLT). Assim, verificando-se que há lacunas nas normas que regulamentam o processo do trabalho, devem ser tomadas as seguintes providências, nos termos do art. 769, da CLT: 1ª) Verificar a existência de norma prevista do direito processual comum, em especial no CPC na fase de conhecimento e na lei de executivos fiscais na fase de execução e 2ª) Se existir, verificar se há compatibilidade da norma prevista no direito processual comum com os princípios e regras aplicáveis ao processo do trabalho. A aplicação subsidiária do direito processual comum ao processo do trabalho, por força do art. 769, da CLT, dá-se pela aplicação primordial do CPC ao processo trabalhista de conhecimento, ou à fase de conhecimento e, por força do art. 889, da CLT, da Lei nº 6.830/80 ao processo de execução trabalhista, ou à fase de execução, ficando, nesse caso, o CPC relegado a segundo plano. Registre-se, por fim, que a aplicabilidade das normas de processo comum já foi cobrada, em questões de concurso como princípio do processo do trabalho – o princípio da subsidiariedade – e já foi cobrada em questão de exame de ordem como fonte do direito processual do trabalho. 2- ORGANIZAÇÃO E COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA DO TRABALHO Nos termos do art. 111, da CF/88, a Justiça do Trabalho compõe-se de três órgãos jurisdicionais: o Tribunal Superior do Trabalho - TST, os Tribunais Regionais do Trabalho - TRTs e os juízes do trabalho. No seu topo, como órgão destinado a dar a última palavra sobre a interpretação e aplicação das normas de direito e processo do trabalho, está o Tribunal Superior do Trabalho - TST, sediado em Brasília, com jurisdição em todo território nacional (Art. 92, §§ 1º e 2º, da CF/88). O TST compõe-se, segundo o art. 111-A, da CF/88: De vinte e sete Ministros, escolhidos dentre brasileiros com mais de trinta e cinco e menos de sessenta e cinco anos, nomeados pelo Presidente da República após aprovação pela maioria absoluta do Senado Federal, sendo: I – um quinto dentre advogados com mais de dez anos de efetiva atividade profissional e membros do Ministério Público do Trabalho com mais de dez anos de efetivo exercício, observado o disposto no art. 94; II – os demais dentre juízes do Trabalho dos Tribunais Regionais do Trabalho, oriundos da magistraturada carreira, indicados pelo próprio Tribunal Superior. Os órgãos judicantes do TST, conforme prevê o Art. 59 de seu regimento interno, são os seguintes: I - Tribunal Pleno; II – Órgão Especial; III - Seção Especializada em Dissídios Coletivos - SDC; IV - Seção Especializada em Dissídios Individuais, dividida em duas subseções, respectivamente, a Subseção Especializada em Dissídios Individuais 1 – SDI-1 e a Subseção Especializada em Dissídio Individual 2 - SDI-2; e V – Turmas. Cada um desses órgãos tem competência específica prevista no regimento interno do TST. Assim, além de outras competências, vale citar as seguintes, que serão de suma importância mais à frente quando tratarmos do estudo dos recursos trabalhistas: Às Turmas, compete julgar, nos termos do Art. 72, I e II, do RITST: I - os recursos de revista interpostos contra decisão dos Tribunais Regionais do Trabalho, nos casos previstos em lei; II - os agravos de instrumento dos despachos de Presidente de Tribunal Regional que denegarem seguimento a recurso de revista. À SDI-1 compete, nos termos do Art. 71, II, a e b, do RITST: a) julgar os embargos interpostos contra decisões divergentes das Turmas, ou destas que divirjam de decisão da Seção de Dissídios Individuais, de Orientação Jurisprudencial ou de Súmula; e b) julgar os agravos e os agravos regimentais interpostos contra despacho exarado em processos de sua competência. À SDC compete, nos termos do Arts. 70, I, a e b, e 72, do RITST: I – originariamente: a) julgar os dissídios coletivos de natureza econômica e jurídica, de sua competência, ou rever suas próprias sentenças normativas, nos casos previstos em lei; b) homologar as conciliações firmadas nos dissídios coletivos. [...] II - em última instância, julgar: a) os recursos ordinários interpostos contra as decisões proferidas pelos Tribunais Regionais do Trabalho em dissídios coletivos de natureza econômica ou jurídica. Além do TST, a Justiça do Trabalho é formada por Tribunais Regionais do Trabalho - TRTs, que são os órgãos regionais da Justiça do Trabalho. São 24 (vinte e quatro) os TRTs espalhados no Brasil, tendo cada um, jurisdição nas respectivas regiões, conforme definidas nas leis federais que os criaram (Art. 112, da CF/88). O Art. 674, da CLT, elenca quais são os TRTs do País e traz, ainda, em seu parágrafo único, o local de suas respectivas sedes: Art. 674. Para efeito da jurisdição dos Tribunais Regionais, o território nacional é dividido nas vinte e quatro Regiões seguintes: 1ª Região – Estado do Rio de Janeiro, com sede na Cidade do Rio de Janeiro; 2ª Região – Estado de São Paulo, com sede na Cidade de São Paulo; 3ª Região – Estado de Minas Gerais, com sede na Cidade de Belo Horizonte; 4ª Região – Estado do Rio Grande do Sul, com sede na Cidade de Porto Alegre; 5ª Região – Estado da Bahia, com sede na Cidade de Salvador; 6ª Região – Estado de Pernambuco, com sede na Cidade de Recife; 7ª Região – Estado do Ceará, com sede na Cidade de Fortaleza; 8ª Região – Estados do Pará e do Amapá, com sede na Cidade de Belém; 9ª Região – Estado do Paraná, com sede na Cidade de Curitiba; 10ª Região – Distrito Federal e Tocantins, com sede no Distrito Federal; 11ª Região – Estados do Amazonas e de Roraima, com sede em Manaus; 12ª Região – Estado de Santa Catarina, com sede na Cidade de Florianópolis; 13ª Região – Estado da Paraíba, com sede na Cidade de João Pessoa; 14ª Região – Estados de Rondônia e Acre, com sede da Cidade de Porto Velho; 15ª Região – Estado de São Paulo (área não abrangida pela jurisdição estabelecida na 2ª Região), com sede na Cidade de Campinas; 16ª Região – Estado do Maranhão, com sede na Cidade de São Luis; 17ª Região – Estado do Espírito Santo, com sede na Cidade de Vitória; 18ª Região – Estado de Goiás, com sede na Cidade de Goiânia; 19ª Região – Estado de Alagoas, com sede na Cidade de Maceió; 20ª Região – Estado de Sergipe, com sede na Cidade de Aracaju; 21ª Região – Estado do Rio Grande do Norte, com sede na Cidade de Natal; 22ª Região – Estado do Piauí, com sede na Cidade de Teresina; 23ª Região – Estado do Mato Grosso, com sede na Cidade de Cuiabá; 24ª Região – Estado do Mato Grosso do Sul, com sede na Cidade de Campo Grande. Parágrafo único. Os Tribunais têm sede nas cidades: Rio de Janeiro (1ª Região), São Paulo (2ª Região), belo horizonte (3ª Região), Porto Alegre (4ª Região), Salvador (5ª Região), Recife (6ª Região), Fortaleza (7ª Região), Belém (8ª Região), Curitiba (9ª Região), Brasília (10ª Região), Manaus (11ª Região), Florianópolis (12ª Região), João Pessoa (13ª Região), Porto Velho (14ª Região), Campinas (15ª Região), São Luís (16ª Região), Vitória (17ª Região), Goiânia (18ª Região), Maceió (19ª Região), Aracaju (20ª Região), Natal (21ª Região), Teresina (22ª Região), Cuiabá (23ª Região) e Campo Grande (24ª Região). Veja que não há um TRT para cada Estado da Federação. Em 8 Estados, há apenas 4 TRTs: Pará e Amapá – TRT da 8ª Região; Distrito Federal e Tocantins – TRT da 10ª Região; Amazonas e Roraima – TRT da 11ª Região e Rondônia e Acre – TRT da 14ª Região. Além disso, no Estado de São Paulo, temos dois TRTs: TRT da 2ª Região, com sede na capital São Paulo e TRT da 15ª Região, com sede em Campinas. Segundo o art. 115, da CF/88, Os Tribunais Regionais do Trabalho compõem-se de, no mínimo, sete juízes, recrutados, quando possível, na respectiva região, e nomeados pelo Presidente da República dentre brasileiros com mais de trinta e menos de sessenta e cinco anos, sendo: I – um quinto dentre advogados com mais de dez anos de efetiva atividade profissional e membros do ministério Público do Trabalho com mais de dez anos de efetivo exercício, observado o disposto no art. 94; II – os demais, mediante promoção de juízes do trabalho por antiguidade e merecimento, alternadamente. O art. 670, da CLT, devidamente atualizado, traz a composição de todos os TRTs. A organização de cada TRT encontra-se prevista nos seus respectivos regimentos internos. Vale deixar registrado que os TRTs não estão submetidos administrativa e jurisdicionalmente ao TST uma vez que cada tribunal do País é livre para se auto-organizar, conforme preceito constante do art. 96, I, a e b, da CF/88. É também de se registrar que, atualmente, diante da obrigação imposta aos juízes do trabalho, incluindo-se aí os membros dos TRTs, de observar o entendimento consagrado nas súmulas, nas orientações jurisprudenciais, nos acórdãos proferidos em incidente de assunção de competência ou de resolução de demandas repetitivas e em julgamento de recursos de revista repetitivos do TST, por imposição do art. 927, do CPC, a independência jurisdicional dos TRTs ficou mitigada. As principais competências dos TRTs são: 1ª) Julgar os recursos ordinários interpostos perante as varas do trabalho (Art. 895, I, da CLT) e 2ª) Julgar os dissídios coletivos quando estes ocorrerem no território que está sob sua jurisdição (Art. 677, da CLT). Como os TRTs estão alocados em um local específico, onde é a sua sede, e que é onde os processos são julgados, como, por exemplo, no caso do TRT da 10ª Região, cuja sede fica em Brasília e a jurisdição do TRT alcança todo o Distrito Federal e o Estado do Tocantins, a CF/88 passou a possibilitar que os TRTs criassem as chamadas câmaras regionais, dispondo que: Os Tribunais Regionais do Trabalho poderão funcionar descentralizadamente, constituindo Câmaras regionais, a fim de assegurar o pleno acesso do jurisdicionado à justiça em todas as fases do processo (§ 2º, do art. 115, da CF/88). O objetivo da criação das câmaras regionais foi e de aproximar os TRTs dos jurisdicionados, especialmente nos TRTs cujas sedes estão intransponivelmente distantes dos jurisdicionados, como ocorre com os jurisdicionados que vivem em Macapá, Santarém, Altamira etc. em relação ao TRT da 8ª Região, cuja sede é em Belém. Essas cidades são tão distantes de Belém que é praticamente impossível, ou pelo menos excessivamente dispendioso, para que os jurisdicionados possam se deslocar até a sede do Tribunal para acompanhare, se for o caso, participar – por meio de sustentações orais – dos julgamentos dos órgãos do TRT citado. Isso ocorre, obviamente, com quase todos os TRTs do País, daí a importância e a possibilidade de criação das câmaras regionais. Por fim, chegamos aos juízes do trabalho. Os juízes do trabalho são os agentes públicos competentes para dar solução aos conflitos individuais de trabalho, além de outras ações às quais nos referiremos quando tratarmos da análise do art. 114, da CF/88, mais abaixo. Os juízes do trabalho atuam nas varas do trabalho, sendo estas criadas por lei, nos termos do art. 112, da CF/88. Em cada vara do trabalho, como departamento que é dos respectivos TRTs, atuam dois juízes do trabalho: o juiz do trabalho titular e o juiz do trabalho substituto. Apesar de serem dois cargos de juiz do trabalho, cada um atua em sua função jurisdicional singularmente, consoante dispõe o art. 116, da CF/88. Assim é que o juiz do trabalho titular é o responsável pelo bom funcionamento da Vara do Trabalho. Já o juiz do trabalho substituto atua ora como efetivamente substituto do juiz titular, quando, por exemplo, o juiz titular tira férias, ora como juiz auxiliar, ajudando o juiz titular a dar andamento aos processos que tramitam na vara do trabalho. Para facilitar o acesso do jurisdicionado à Justiça do Trabalho, podem os TRTs implantar a justiça do trabalho itinerante, dispondo o art. 115, § 1º, da CF/88 que Os Tribunais Regionais do Trabalho instalarão a justiça itinerante, com a realização de audiências e demais funções de atividade jurisdicional, nos limites territoriais da respectiva jurisdição, servindo-se de equipamentos públicos e comunitários. Por fim, em teoria, um juiz de direito, que é um juiz estadual, pode atuar fazendo às vezes de juiz do trabalho. Isso ocorrerá sempre que a lei federal atribuir a competência jurisdicional trabalhista ao juiz de direito que atua em determinada comarca não abrangida por jurisdição das varas do trabalho. Nesse sentido, reza o art. 112, da CF/88 que: a lei criará varas da Justiça do Trabalho, podendo, nas comarcas não abrangidas por sua jurisdição, atribuí-la aos juízes de direito, com recurso para o respectivo Tribunal Regional do Trabalho [grifo nosso]. Como vimos acima, é a lei que cria o TRT e define a sua jurisdição, ou seja, o território sobre o qual terá por função aplicar o direito ao caso concreto. Pode ocorrer que, em função da imensa extensão territorial do País, uma lei, ao criar um TRT, disponha que em determinado território, muito distante da sede do TRT, a justiça estadual atue fazendo a função de Justiça do Trabalho. Essa possibilidade é complementada pelo art. 668, da CLT, que tem a seguinte redação: Nas localidades não compreendidas na jurisdição das Juntas de Conciliação e Julgamento, os Juízos de Direito são os órgãos de administração da Justiça do Trabalho, com a jurisdição que lhes for determinada pela lei de organização judiciária local. Caso isso ocorra, ou seja, de a lei dar competência trabalhista a um juiz de direito e posteriormente houver a instalação de vara do trabalho nessa localidade que estava sob a jurisdição da justiça estadual, instalada a vara do trabalho, cessa a competência do Juiz de Direito em matéria trabalhista, inclusive para a execução das sentenças por ele proferidas, conforme Súmula n. 10 do STJ. Os seja, os processos ali em curso deverão ser imediatamente remetidos à Justiça do Trabalho independentemente da fase em que se encontrarem. Por fim, não há mais juntas de conciliação e julgamento na Justiça do Trabalho, pois todas foram extintas, dando-se lugar às varas do trabalho, por meio da EC n. 24, de 2000. 2.1– Detalhamento da Competência da Justiça do Trabalho A competência é a medida da jurisdição (juris = direito + dictio = dizer), considerada esta o poder imanente a todos os juízes para dizer o direito aplicável ao caso concreto. Em função da impossibilidade de um único juiz dizer o direito em todo território nacional, há a necessidade de se distribuir essa função. À distribuição dessa função, dá-se o nome de competência. Assim, pode-se conceituar competência como a medida da função jurisdicional distribuída a cada juízo em virtude da necessidade de se dizer o direito no caso concreto, conforme as limitações estipuladas em lei. A distribuição da função jurisdicional por cada órgão do poder judiciário faz- se pela observância dos seguintes critérios: 1º) Material: em função da matéria a ser julgada. Por isso, há no Brasil a Justiça do Trabalho e a Justiça Eleitoral, que foram criadas, em princípio, para julgar apenas causa de determinada matéria – a trabalhista, no caso da Justiça do Trabalho e a eleitoral, no que concerne à Justiça Eleitoral. 2º) Funcional: relativa à função, imanente à hierarquia, de cada órgão da justiça. Já fizemos alusão acima sobre as mais importantes competência dos TRTs e do TST. A competência dada pela lei a esses órgão é imanente a função por eles exercida na hierarquia jurisdicional da Justiça do Trabalho ou em virtude da extensão territorial do conflito, como ocorre com os conflitos coletivos de trabalho; 3º) Pessoal: importância deferida a certas pessoas, que ocupam determinados cargos. É o que ocorre com o julgamento de juiz do trabalho que seja acusado de cometimento de um crime comum. A competência, nesse caso, é originariamente do TRF em que tenha competência territorial sobre a área de jurisdição do juiz do trabalho, nos termos do art. 108, I, a, da CF/88. 4º) Territorial: leva em consideração a extensão territorial na qual deverá atuar cada órgão da Justiça do Trabalho. Logo, definida a atuação de uma vara do trabalho em determinado território, não poderá, em princípio, o juiz que atua nessa vara do trabalho solucionar demandas concernentes a conflitos trabalhistas cuja competência seja de outra vara do trabalho de outro território. O mesmo exemplo pode ser citado em relação aos TRTs, cuja competência territorial é limitada pela lei que os criam, não podendo um se imiscuir na solução de conflitos que ocorrem no território do outro. 5º) Valor da Causa: por fim, o último critério levado em consideração na distribuição da função jurisdicional é o valor da causa. Na seara cível, as causas de menor complexidade são de competência dos Juizados Especiais, na Justiça Comum Estadual, até o valor de 40 salários mínimo e, na Justiça Comum Federal, até 60 salários mínimos. Na Justiça do Trabalho esse critério não foi adotado. Portanto, não existem juizados especiais trabalhistas. Os critérios material, funcional e pessoal são absolutos, excluindo qualquer outro juízo da possibilidade de julgar a causa. Os critérios do valor da causa e territorial são relativos. Por isso, a competência prorroga-se para o juízo anteriormente incompetente, quando a lei autoriza, como ocorre na incompetência territorial, e desde que a parte prejudicada não se insurja contra a transmissão da competência ao juízo que era anteriormente incompetente. 2.2- Competência da Justiça do Trabalho Consoante Critérios Adotados pelo art. 114, da CF/88 A Justiça do Trabalho, até a Emenda Constitucional – EC – n. 45, de 2004, tinha competência bem restrita. Rezava o art. 114, da CF/88, em seu texto original, que: Compete à Justiça do Trabalho conciliar e julgar os dissídios individuais e coletivos entre trabalhadores e empregadores, abrangidos os entes de direito público externo e da administração pública direta e indireta dos Municípios, do Distrito Federal, dos Estados e da União, e, na forma da lei, outras controvérsias decorrentes da relação de trabalho, bem como os litígios que tenham origem no cumprimento de suas próprias sentenças, inclusive coletivas. Como se vê, a competência da Justiça do Trabalho resumia-se a dar solução aos conflitos entre trabalhadores - entenda-se: empregados - e empregadores, além de outras controvérsias que lhe fossem atribuídas por lei. Com o advento da EC n. 45, de 2004, muitas outras demandas foram carreadas para a competência da Justiçado Trabalho, tendo sido sua competência significativamente ampliada. Passemos, então, à análise de todas as hipóteses de competência da Justiça do Trabalho, constantes do atual art. 114, da CF/88. 1ª) As ações oriundas da relação de trabalho – dispõem o caput e inciso I, do art. 114, da CF/88, que: Art. 114. Compete à Justiça do Trabalho processar e julgar: I - as ações oriundas da relação de trabalho, abrangidos os entes de direito público externo e da administração pública direta e indireta da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios. Inicialmente, deixamos consignado que, apesar de não constar mais no caput do art. 114 a expressão conciliar, continua a Justiça do Trabalho tendo o papal de sempre tentar conciliar as partes, quer nos dissídios individuais, quer nos dissídios coletivos de trabalho, por princípio previsto no art. 764, da CLT. Como vimos no texto original do art. 114, da CF/88, a competência originária da Justiça do Trabalho era a de conciliar e julgar as demandas entre empregados e empregadores, ou seja, decorrentes da relação de emprego. Essa competência remanesce. Logo, qualquer ação entre empregado e empregador discutindo questões relativas ao PIS, seguro desemprego, FGTS etc. será de competência da Justiça do Trabalho. Agora, contudo, com o novo texto do art. 114, da CF/88, a competência da Justiça do Trabalho passou a ser a de processar e julgar, inclusive conciliar, as ações oriundas da relação de trabalho. Mas, o que é relação de trabalho? Veja-se que relação de trabalho não se confunde com relação de emprego, constituída entre empregado e empregador. Segundo Giglio e Corrêa (2007, p. 121), “relação de trabalho consiste no vínculo resultante da prestação pessoal de serviços em proveito de outrem, pessoa física ou jurídica, que os remunera”. Para Leite (2015, cap. 2.1.1.2): Relação de trabalho é aquela que diz respeito, repise-se, a toda e qualquer atividade humana em que haja prestação de trabalho, como a relação de trabalho autônomo, eventual, de empreitada, avulso, cooperado, doméstico, de representação comercial, temporário, sob a forma de estágio etc. Há, pois, a relação de trabalho pela presença de três elementos: o prestador do serviço, o trabalho (subordinado ou não) e o tomador do serviço. Pode-se dizer, então, que a relação de trabalho é a relação existente entre uma pessoa natural e uma pessoa natural, jurídica ou ente despersonalizado destinada à prestação de um serviço remunerado. Se esse conceito, tão elástico, é aceito pelos autores trabalhistas, na prática, ele vem sendo mitigado paulatinamente. Assim é que não se tem admitido a competência da Justiça do Trabalho para julgar as seguintes demandas decorrentes das algumas relações de trabalho, que passamos a arrolar: 1) Militar – por ser regido por legislação própria, a relação entre os militares e a respectiva corporação é excluída da competência da Justiça do Trabalho. As eventuais causas decorrentes de questionamentos sobre verbas não recebidas ou direitos desrespeitados pelas corporações são de competência da justiça comum, federal ou estadual. 2) Religiosos – aquele que procura se dedicar à vida religiosa, devotando sua vida a uma instituição religiosa, não é considerado prestador se serviço em sentido estrito. Isso se dá por que não pretende auferir sustento dessa relação, não se dedica à instituição religiosa pelo salário ou ganhos financeiro, mas tão somente por vocação. É óbvio que essas pessoas recebem valores suficientes para que possam sobreviver. Isso não quer dizer que fazem disso sua profissão, não! Dedicam- se à vida religiosa por vocação. Desse modo, preenchidos os requisitos normais de uma relação vocacional entre o religioso e a instituição religiosa, essa prestação de serviço não é considerada relação de trabalho, pelo menos para os efeitos de competência da Justiça do Trabalho. 3) Voluntários – voluntário é aquele que presta atividade não remunerada [...] à entidade pública de qualquer natureza ou à instituição privada de fins não lucrativos que tenha objetivos cívicos, culturais, educacionais, científicos, recreativos ou de assistência à pessoa, nos termos do art. 1º, da Lei n. 9.608/98. Portanto, a atividade exercida pelo trabalhador voluntário é de cunho meramente altruístico. Não almeja o trabalhador voluntário receber qualquer retorno financeiro pela atividade exercida, podendo, no entanto, ser ressarcido pelas despesas que comprovadamente realizar no desempenho das atividades voluntárias. 4) Consumidor – consumidor é todo aquele que adquire ou utiliza produto ou serviço como destinatário final (art. 2º, do CDC) de um fornecedor de produtos ou serviço (art. 3º, do CDC), considerado como tal toda pessoa física ou jurídica, pública ou privada, nacional ou estrangeira, bem como os entes despersonalizados, que desenvolvem atividade de produção, montagem, criação, construção, transformação, importação, exportação, distribuição ou comercialização de produtos ou prestação de serviços. Desse modo, o vínculo formado entre o consumidor e o seu fornecedor faz surgir uma relação de consumo e não uma relação de trabalho. São exemplos de relação de consumo: a do advogado e seu cliente; a do odontólogo e seu paciente; a do médico e seu paciente etc. Assim, se a relação mantida entre o prestador do serviço e o cliente for de consumo, a competência não será da justiça do trabalho (Súmula n. 363, do STJ). 5) Relação de caráter administrativo com a Administração Pública Direita, Autárquica e Fundacional – apesar de estar expresso no texto do inciso I, do art. 114, da CF/88, que é da competência da Justiça do Trabalho processar e julgar as ações oriundas da relação de trabalho, abrangidos os entes [...] da administração pública direta e indireta da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, o STF entendeu por bem no julgamento da ADIN nº 3.395-6, excluir da competência da Justiça do Trabalho a “... apreciação... de causas que ... sejam instauradas entre o Poder Público e seus servidores, a ele vinculados por típica relação de ordem estatutária ou de caráter jurídico administrativo”. Apenas para esclarecermos a questão dos servidores públicos, relembrem-se de que a Administração Pública direta, autárquica e fundacional pode contratar pessoal para lhe prestar serviços permanentemente mediante duas formas legais distintas: como empregado, chamado de empregado público, regido pelas leis trabalhistas ou como funcionário público, regido por lei própria, que estabelece o estatuto destinado a reger a relação entre o funcionário público e a Administração Pública, denominado, por isso, de servidor público estatutário. O Direito do Trabalho não é aplicável ao funcionário público só aos empregados públicos. Vale deixar consignado que inúmeras prefeituras ainda se mantêm regidas sob o regime celetista. Portanto, para os casos em que os servidores são contratados pelo regime celetista e para as empresas públicas e sociedades de economia mista, a competência da Justiça do Trabalho se mantém. Caso, no entanto, o ente da federação passe a ser regido sob o regime estatutário, cessará a competência da Justiça do Trabalho, de acordo com o entendimento do STJ, consagrado na Súmula 97 – Compete a Justiça do Trabalho processar e julgar reclamação de servidor público relativamente a vantagens trabalhistas anteriores a instituição do Regime Jurídico Único. Assim, se o exercício do exame de ordem se referir a servidor público contratado sob o regime estatutário, para o exercício de cargo efetivo ou comissionado (Súmulas n. 137 e 218, do STJ) ou de vínculo jurídico administrativo, a competência será da justiça comum, estadual ou federal, conforme o ente contratante. O TST cancelou a Súmula 123 e as OJs, da SDI-1, 205 e 263 que dispunham sobre a competência da Justiça do Trabalho para julgamento das demandas dos servidores públicos contratados para atender a necessidade temporária de excepcional interesse público – função temporária ou de natureza técnica, uma vezque os servidores contratados nesses casos constituem uma relação de caráter jurídico-administrativo com a Administração Pública, o que dá competência à Justiça Comum, federal ou estadual, conforme o ente contratante, conforme decisão do STF acima citada. 6) Relação entre o prestador de serviços e ente de direito público externo – os entes de direito público externo são os estados estrangeiros e as organizações internacionais (ONU, OIT, OEA etc.) que têm direito à imunidade de jurisdição. Para Giglio e Corrêa (2007), essa imunidade é extensiva aos agentes diplomáticos e todos os demais que estejam a serviço do estado estrangeiro, salvo no que tange aos atos de sua vida privada, com fundamento na Convenção de Viena, aprovada, no Brasil, pelo Decreto Legislativo n. 103/64, sendo que essa imunidade, inclusive dos agentes diplomáticos, continua sendo do estado estrangeiro e não do agente. Assim, a renúncia do agente diplomático só é válida se ratificada pelo estado estrangeiro e deverá ocorrer em duas oportunidades, tal como ocorre com a renúncia do estado estrangeiro: para a ação e para os atos de execução, nos termos do art. 32.4, da Convenção de Viena: a renúncia à imunidade de jurisdição no tocante às ações cíveis ou administrativas não implica renúncia quanto às medidas de execução da sentença, para as quais nova renúncia é necessária. Para esta corrente, seguida pelo citado autor, decorre da imunidade diplomática que a justiça do trabalho só poderá julgar as ações decorrentes de relação de trabalho propostas em face de entes de direito público externos ou organismos internacionais se estes renunciarem duplamente a imunidade de jurisdição. Logo, sem a renúncia, não poderá o Estado Brasileiro exercer seu poder jurisdicional. Contudo, após o advento da CF/88, que dá competência à Justiça do Trabalho para julgar as ações decorrentes de relação de trabalho em face dos Estados estrangeiros e de organismos internacionais, o STF, conforme ensina Leite (2015), passou a admitir o processamento das ações em face dos Estados estrangeiros, porque o ato praticado, na contratação de pessoal, é mero ato de gestão. No entanto, não se admite que se inicie a fase de execução, por exigir renúncia expressa. No mesmo sentido, segundo a Consolidação dos Provimentos da Corregedoria-Geral da Justiça do Trabalho, os órgãos da Justiça do Trabalho deverão observar o que preceituam os artigos 56 e 96, que dispõem, respectivmanete: Art. 56. As secretarias das varas do trabalho velarão para que nas ações ajuizadas em desfavor de entes públicos (Decreto-lei 779/69), inclusive Estado estrangeiro ou organismo internacional, observe-se lapso temporal para preparação da defesa de, no mínimo, 20 (vinte) dias entre o recebimento da notificação citatória e a realização da audiência. Art. 96. Relativamente ao Sistema BACEN JUD, cabe ao juiz do trabalho: I - abster-se de emitir ordem judicial de bloqueio promovida em face de Estado estrangeiro ou organismo internacional. Logo, em face de Estado estrangeiro, não há dúvida, podem ser processados, porém, não podem ser executados sem que renunciem a sua imunidade de jurisdição. A eventual cobrança de créditos decorrentes de empregados contratados por esses Estados deverá ser feita pela via diplomática. Por fim, vale citar a OJ n. 47, da SDI1, DO TST, que consagra o entendimento da corrente defendida por Giglio e Corrêa (2007), quando o empregador é organismo internacional: OJ 416, da SDI1 - IMUNIDADE DE JURISDIÇÃO. ORGANIZAÇÃO OU ORGANISMO INTERNACIONAL. As organizações ou organismos internacionais gozam de imunidade absoluta de jurisdição quando amparados por norma internacional incorporada ao ordenamento jurídico brasileiro, não se lhes aplicando a regra do Direito Consuetudinário relativa à natureza dos atos praticados. Excepcionalmente, prevalecerá a jurisdição brasileira na hipótese de renúncia expressa à cláusula de imunidade jurisdicional. Para encerrar, podemos fazer o seguinte resumo: Em se tratando de Estado estrangeiro: imunidade apenas de execução. Em se tratando de organização ou organismo internacional quando amparados por norma internacional incorporada ao ordenamento jurídico brasileiro: imunidade plena. Os atos da vida privada praticados pelos agentes diplomáticos não são resguardados pela imunidade de jurisdição. 2ª) As ações que envolvam o exercício do direito de greve – dispõe o caput e o inciso II, do art. 114, da CF/88, que: compete à Justiça do Trabalho processar e julgar: [...] II - as ações que envolvam exercício do direito de greve. A competência para julgar as ações que envolvem o exercício do direito de grave foi trazida para a Justiça do Trabalho pela EC n. 45, de 2004. Dispõe o art. 9º, da CF/88, que é assegurado o direito de greve, competindo aos trabalhadores decidir sobre a oportunidade de exercê-lo e sobre os interesses que devam por meio dele defender. A greve encontra-se regida pela Lei n. 7.783/89. Do exercício do direito de greve podem advir algumas demandas específicas, tais como ações possessórias diante de ameaça, turbação ou esbulho possessório por parte dos empregados em relação aos bens do empregador – interdito proibitório, ação de manutenção ou de reintegração de posse. Deflagração de dissídio coletivo para que a Justiça do Trabalho julgue as demandas dos empregados que deram sustentação para a deflagração da greve etc. Todas as ações decorrentes, portanto, do exercício do direito de greve são atualmente de competência da Justiça do Trabalho. 3ª) As ações sobre representação sindical, entre sindicatos, entre sindicatos e trabalhadores, e entre sindicatos e empregadores – dispõem o caput e inciso III, do art. 114, da CF/88, que: compete à Justiça do Trabalho processar e julgar: [...] III - as ações sobre representação sindical, entre sindicatos, entre sindicatos e trabalhadores, e entre sindicatos e empregadores. Por mais estapafúrdio que possa parecer, antes da EC n. 45, de 2004, a competência sobre questões decorrentes do sindicalismo era da Justiça Comum, mesmo em se tratando de sindicatos de empregados e empregadores. Com a EC n. 45/2004, qualquer ação envolvendo empregados, empregadores, entidades sindicais dos empregados e entidades sindicais dos empregadores em que esteja em curso demanda relativa à organização, ao custeio e ao funcionamento das entidades sindicais, são de competência da Justiça do Trabalho. 4ª) Mandado de segurança, habeas corpus e habeas data – dispõem o caput e inciso IV, do art. 114, da CF/88, que: compete à Justiça do Trabalho processar e julgar: [...] IV - os mandados de segurança, habeas corpus e habeas data, quando o ato questionado envolver matéria sujeita à sua jurisdição. Acima vimos que os tribunais têm a função precípua de julgar recursos. Assim é que a principal competência dos TRTs é a de julgar recursos interpostos em face das sentenças dos juízes do trabalho e a do TST é a de julgar recursos interpostos em face dos acórdãos dos órgãos dos TRTs. Essa competência recursal é denominada de competência derivada. Ou seja, competência para rever decisão de outro órgão. Além da competência derivada, os tribunais também têm competência para julgar causas que são diretamente propostas perante os próprios tribunais. São as causas de sua competência originária. Daí decorre o termo competência originária. Entre as causas de competência originária, encontram-se as destinadas a requerer ao tribunal competente que julgue mandado de segurança, habeas corpus ou habeas data quando o ato questionado envolver matéria sujeita à sua jurisdição, ou seja, no caso, em matéria trabalhista. 5ª) os conflitos de competência entre órgãos com jurisdição trabalhista – dispõem o caput e inciso V, do art. 114, da CF/88, que: compete à Justiça do Trabalho processar e julgar: [...] V - os conflitos de competência entre órgãos com jurisdição trabalhista, ressalvado o disposto no art. 102, I, o. Deixaremos para examinar os conflitos de competência mais abaixo, após falarmos da competência territorialda Justiça do Trabalho. 6ª) as ações indenizatórias decorrentes da relação de trabalho – dispõem o caput e inciso VI, do art. 114, da CF/88, que: compete à Justiça do Trabalho processar e julgar: [...] VI - as ações de indenização por dano moral ou patrimonial, decorrentes da relação de trabalho. As ações indenizatórias decorrentes da relação de trabalho são de competência da Justiça do Trabalho, inclusive se decorrentes de acidente do trabalho desde que propostas pelo empregado em face do empregador, nos termos da súmula n. 15, do STJ. Contudo, caso a ação seja para discutir direito do segurado ao auxílio acidente, a ação deverá ser proposta na justiça comum estadual, conforme art. 109, I, da CF/88; art. 129, II, da Lei n. 8.213/91 e Súmulas 501, do STF. 7ª) as ações decorrentes das multas aplicada pelos auditores fiscais do trabalho – dispõem o caput e inciso VII, do art. 114, da CF/88, que: compete à Justiça do Trabalho processar e julgar: [...] VII - as ações relativas às penalidades administrativas impostas aos empregadores pelos órgãos de fiscalização das relações de trabalho. A aplicação correta da legislação trabalhista é fiscalizada pelo Ministério do Trabalho[2], por meio de seus agentes, que são os auditores fiscais do trabalho. É nesse sentido que dispõe o art. 626, caput, da CLT: incumbe às autoridades competentes do Ministério do Trabalho a fiscalização do fiel cumprimento das normas de proteção ao trabalho. A fiscalização das empresas é feita pelo agente de fiscalização, que são os Auditores Fiscais do Trabalho - AFT. O Ministério do Trabalho atua em todo território nacional por meio de Superintendências Regionais do Trabalho, que estão instaladas nas Capitais dos Estados Brasileiros. Em algumas cidades do Interior e em alguns bairros das grandes cidades, existem as Gerências Regionais do Trabalho, órgão também de fiscalização do Ministério do Trabalho, vinculado a uma Superintendência Regional do Trabalho. O AFT está vinculado a uma chefia que lhe determina, por meio de nota de serviço, quais as empresas que deverão ser por ele fiscalizadas. Da atuação dos AFTs poderá advir uma mera notificação ao empregador para que se ajuste às normas trabalhistas ou a aplicação de multa de caráter administrativo. Diante dessa situação, o empregador poderá recorrer administrativamente ou contestar a ação dos fiscais do Mistério do Trabalho na Justiça do Trabalho. Além disso, a Justiça do Trabalho será a competente para a cobrança da dívida se o empregador, multado, não pagar a multa. Essa cobrança se faz por um procedimento especial chamado de executivo fiscal, que é o procedimento a ser observado pela União para cobrança judicial de seus créditos. 8ª) a execução de contribuições previdenciárias – dispõem o caput e inciso VIII, do art. 114, da CF/88, que: compete à Justiça do Trabalho processar e julgar: [...] VIII - a execução, de ofício, das contribuições sociais previstas no art. 195, I, a, e II, e seus acréscimos legais, decorrentes das sentenças que proferir. O art. 195, I, a, e II, da CF/88, preceitua que: Art. 195. A seguridade social será financiada por toda a sociedade, de forma direta e indireta, nos termos da lei, mediante recursos provenientes dos orçamentos da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, e das seguintes contribuições sociais: I - do empregador, da empresa e da entidade a ela equiparada na forma da lei, incidentes sobre: a) a folha de salários e demais rendimentos do trabalho pagos ou creditados, a qualquer título, à pessoa física que lhe preste serviço, mesmo sem vínculo empregatício; [...] II - do trabalhador e dos demais segurados da previdência social, não incidindo contribuição sobre aposentadoria e pensão concedidas pelo regime geral de previdência social de que trata o art. 201; Em suma, os incisos citados tratam de algumas das receitas destinadas ao financiamento da seguridade social, especificamente da contribuição previdenciária a ser recolhida pelo empregador e da contribuição previdenciária que deverá ser paga pelo empregado ou prestador individual de serviço, que a CF/88 denomina de trabalhador. Pois bem, a Justiça do Trabalho não é ilimitadamente competente para efetuar a cobrança dessas contribuições, posto que o art. 114, VIII, da CF/88, limita sua competência às sentenças que proferir. Por isso, a Justiça do Trabalho só será competente quando proferir uma sentença de cunho condenatório em face de um empregador e que preveja a condenação do empregador ao pagamento de verbas sobre as quais tenham incidência as contribuições previdenciárias devidas pelo empregador e pelo empregado. Caso contrário, não lhe assiste qualquer outra competência para cobrar contribuições previdenciárias. Assim, por exemplo, se as partes fazem acordo nos autos de um processo trabalhista, esse acordo, devidamente homologado, tem a natureza jurídica de sentença, nos termos do art. 487, III, b, do CPC, e como tal é tratado para os efeitos da cobrança das contribuições previdenciárias pela Justiça do Trabalho. Por outro lado, não sofrerão incidência de contribuições previdenciárias as sentenças proferidas pelos juízes do trabalho que sejam meramente declaratórias, como a que se limita a reconhecer vínculo empregatício, e a que reconhece o pagamento de salários pagos por fora – o chamado salário clandestino. Contudo, incidirá sobre os reflexos do salário clandestino nas verbas de natureza trabalhista, desde que pedidos. Para espantar qualquer dúvida, a Lei n. 13.467/2017 alterou a redação do parágrafo único do art. 876, da CLT, para assim dispõe: A Justiça do Trabalho executará, de ofício, as contribuições sociais previstas na alínea a do inciso I e no inciso II do caput do art. 195 da Constituição Federal, e seus acréscimos legais, relativas ao objeto da condenação constante http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituicao.htm#art195i http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituicao.htm#art195i http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituicao.htm#art195i das sentenças que proferir e dos acordos que homologar. SÚMULA 368, do TST. DESCONTOS PREVIDENCIÁRIOS E FISCAIS. COMPETÊNCIA. RESPONSABILIDADE PELO PAGAMENTO. FORMA DE CÁLCULO. I. A Justiça do Trabalho é competente para determinar o recolhimento das contribuições fiscais. A competência da Justiça do Trabalho, quanto à execução das contribuições previdenciárias, limita-se às sentenças condenatórias em pecúnia que proferir e aos valores, objeto de acordo homologado, que integrem o salário de contribuição. II. É do empregador a responsabilidade pelo recolhimento das contribuições previdenciárias e fiscais, resultante de crédito do empregado oriundo de condenação judicial, devendo ser calculadas, em relação à incidência dos descontos fiscais, mês a mês, nos termos do art. 12-A da Lei n.º 7.713, de 22/12/1988, com a redação dada pela Lei nº 12.350/2010. III. Em se tratando de descontos previdenciários, o critério de apuração encontra- se disciplinado no art. 276, §4º, do Decreto n º 3.048/1999 que regulamentou a Lei nº 8.212/1991 e determina que a contribuição do empregado, no caso de ações trabalhistas, seja calculada mês a mês, aplicando-se as alíquotas previstas no art. 198, observado o limite máximo do salário de contribuição. OJ 363, da SDI, do TST. DESCONTOS PREVIDENCIÁRIOS E FISCAIS. CONDENAÇÃO DO EMPREGADOR EM RAZÃO DO INADIMPLEMENTO DE VERBAS REMUNERATÓRIAS. RESPONSABILIDADE DO EMPREGADO PELO PAGAMENTO. ABRANGÊNCIA. A responsabilidade pelo recolhimento das contribuições social e fiscal, resultante de condenação judicial referente a verbas remuneratórias, é do empregador e incide sobre o total da condenação. Contudo, a culpa do empregador pelo inadimplemento das verbas remuneratórias não exime a responsabilidade do empregado pelos pagamentos do imposto de renda devido e da contribuição previdenciária que recaia sobre sua quota-parte. SÚMJULA VINCULANTE 53, do STF. A competência da Justiça do Trabalho prevista no art. 114, VIII, da ConstituiçãoFederal alcança a execução de ofício das contribuições previdenciárias relativas ao objeto da condenação constante das sentenças que proferir e acordos por ela homologados. Por fim, e não menos importante, é de se lembrar que a Justiça do Trabalho não tem competência para reconhecer tempo de serviço para efeito de aposentadoria. Quando a Justiça do Trabalho reconhece a existência de vínculo de emprego e determina que haja a assinatura da CTPS do empregado, mesmo que pela própria secretaria da vara do trabalho, esse reconhecimento vale como início de prova documental perante o INSS. Por isso, dispõe a OJ n. 57, da SDI2, que: MANDADO DE SEGURANÇA. INSS. TEMPO DE SERVIÇO. AVERBAÇÃO E/OU RECONHECIMENTO Conceder-se-á mandado de segurança para impugnar ato que determina ao INSS o reconhecimento e/ou averbação de tempo de serviço. 9ª) outras controvérsias decorrentes da relação de trabalho – dispõem o caput e inciso IX, do art. 114, da CF/88, que: compete à Justiça do Trabalho processar e julgar: [...] IX - outras controvérsias decorrentes da relação de trabalho, na forma da lei. Essa última previsão do art. 114, da CF/88, deve ser interpretada como uma regra que põe nas mãos do legislador o poder de transportar ou não outras controvérsias decorrentes de relação de trabalho para a competência da Justiça do Trabalho. Assim, por exemplo, nada obsta que, futuramente, o legislador possa determinar que a Justiça do Trabalho passe a conciliar e julgar as ações decorrentes de relação de consumo quando estivermos lidando com prestador de serviço, profissional autônomo, e seu cliente. Veja-se que nessa situação, da relação jurídica que se constitui entre o profissional liberal e seu cliente, é muitíssimo difícil saber se há ou não aí uma relação de trabalho, mesmo havendo relação de consumo. 10ª) complementação de aposentadoria – entidade de previdência complementar privada – no Brasil, existem dois regimes que tratam da previdência do empregado: o regime geral de previdência pública – RGPP e o regime de previdência privada. O RGPP é gerido pelo INSS e a filiação do empregado a ele é obrigatória. Qualquer ação do segurado em face do INSS, salvo as acidentárias, é de competência da Justiça Federal, nos termos do art. 109, I, da CF/88. O regime de previdência complementar é opcional. Pode a ele aderir o empregado ou não. As entidades de previdência complementar são classificadas em fechadas e abertas (art. 4º, da LC n. 108/2001). São consideradas entidades abertas as constituídas unicamente sob a forma de sociedades anônimas e têm por objetivo instituir e operar planos de benefícios de caráter previdenciário concedidos em forma de renda continuada ou pagamento único, acessíveis a quaisquer pessoas físicas (art. 36, da LC n. 109/2001). As entidades fechadas são fundações e sociedades civis, organizadas sem fins lucrativos, nos termos dos incisos I e II e § 1º, do art. 31, da LC n. 108/2001: Art. 31. [...] § 1º. acessíveis, na forma regulamentada pelo órgão regulador e fiscalizador, exclusivamente: I - aos empregados de uma empresa ou grupo de empresas e aos servidores da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, entes denominados patrocinadores; e II - aos associados ou membros de pessoas jurídicas de caráter profissional, classista ou setorial, denominadas instituidores. Pois bem, pode ocorrer de haver litígio entre o empregado ou ex-empregado e seu empregador pelo não recolhimento adequado dos valores descontados a título de complemento de aposentadoria, provocando o recebimento a menor do benefício de complementação de aposentadoria do que o esperado pelo empregado ou ex-empregado quando se aposenta. Nesse caso, a competência continua com a Justiça do Trabalho. Contudo, se o empregado ou ex-empregado se sentir prejudicado no seu direito ao recebimento das prestações contratadas por qualquer motivo que diga respeito à entidade de previdência privada e, por isso, propuser ação em face da entidade de previdência privada, a ação será de competência da justiça comum. Nesse sentido, O STF, segundo Cisneiros (2017) no julgamento dos Recursos Extraordinários 586453 e 583050, que ocorreu no dia 20/02/2013, passou a entender que a Justiça do Trabalho não tem competência para julgar ações entre ex-empregados e o fundo de previdência complementar privada, pois a demanda não tem natureza trabalhista. Por isso, determinou que os processos já sentenciados até 20/02/2013 fossem mantidos na Justiça do Trabalho e os demais fossem remetidos à Justiça Comum. 11ª) competência penal – durante muito tempo, questionou-se sobre a competência penal da Justiça do Trabalho. O CP prevê, nos artigos, 197 a 207, os crimes contra a organização do trabalho. Além disso, há no CP outras figuras típicas que podem ser encaixadas como trabalhistas, como a do art. 149, que versa sobre a submissão de alguém à condição análoga à de escravo. Diante disso, uma questão tormentosa pairava no ambiente trabalhista: tinha a Justiça do Trabalho competência para processar e julgar os infratores penalmente quando o juiz do trabalho verificasse a ocorrência de algum desses fatos típicos? Essa questão foi levada ao STF, que concedeu liminar, com efeito ex tunc, na ADIN nº 3.684-0, declarando que à Justiça do Trabalho não se atribui competência para processar e julgar ações penais. 12ª) competência normativa – no Brasil, os sindicatos são formados por categorias profissionais, econômicas ou diferenciadas. A categoria profissional representa todos os trabalhadores de um determinado segmento, tal como ocorre com os empregados do comércio, que pertencem à categoria dos comerciários; com os empregados que trabalham em bancos, que representam a categoria dos bancários etc. Para cada categoria profissional há uma categoria econômica. Na verdade é a categoria econômica que gera a categoria profissional. Exemplo: não haveria comerciário se não houvesse comércio; não haveria bancários se não se explorasse a atividade bancária etc. Os sindicatos dos empregados existem para, pelo menos, tentar buscar melhorias nas condições sociais de seus membros. Daí porque a CF/88, impõe a sua participação nas negociações coletivas (art. 8º, VI). A bem da verdade, a participação dos sindicatos, tanto profissional quanto patronal, nas negociações coletivas é um dever que lhe é imposto pelo art. 616, da CLT. Desse modo, instados a negociar melhorias nas condições sociais dos membros da categoria ou dos empregados da empresa ou das empresas envolvidas na negociação, as partes poderão chegar a um acordo. Quando esse acordo se dá entre os sindicatos – profissional e econômico – esse acordo é firmado por meio de um instrumento – documento – chamado de convenção coletiva de trabalho. Quando esse acordo ocorre entre o sindicato representativo dos empregados e a empresa ou o grupo de empresas, o documento assinado recebe o nome de acordo coletivo de trabalho. Enfim, por meio desses instrumentos, as partes antes conflitantes põem fim ao conflito decorrente do anseio da categoria profissional por melhores condições de trabalho. Pode ocorrer, contudo, de não haver acordo. Nesse caso, as partes poderão recorrer a duas formas de solução do conflito, ambas excludentes uma da outra: à arbitragem ou à justiça do trabalho. Nesse sentido, dispõem os parágrafos 1º e 2º, do art. 114, da CF/88, que: Compete à Justiça do Trabalho processar e julgar: [...] § 1º - Frustrada a negociação coletiva, as partes poderão eleger árbitros. § 2º Recusando-se qualquer das partes à negociação coletiva ou à arbitragem, é facultado às mesmas, de comum acordo, ajuizar dissídio coletivo de natureza econômica, podendo a Justiça do Trabalho decidir o conflito, respeitadas as disposições mínimas legais de proteção ao trabalho, bem como as convencionadas anteriormente. O parágrafo primeiro citado prevê a arbitragem e o parágrafo segundo o dissídio coletivo, que é o nome do procedimento previsto na CLT para se dar solução ao conflito coletivo de trabalho (arts. 856 a 875).Em todas as formas de solução do conflito coletivo – acordo direto ou por meio de solução imposta por terceiro – criar-se-á uma norma jurídica que preverá o direito estabelecido a favor dos membros da categoria econômica. Exemplo: fica assegurado a todos os empregados do comércio do DF o direito ao recebimento de uma cesta básica composta dos seguintes alimentos: .... Veja-se que esse direito será criado por qualquer das formas de solução do conflito coletivo de trabalho. Ora, se o conflito é submetido à Justiça do Trabalho, o que se terá é que, tal como ocorre nas outras hipóteses, a Justiça do Trabalho deverá criar esse direito. Logo, quando a Justiça do Trabalho soluciona o conflito coletivo de trabalho ela cria uma norma jurídica a ser aplicada a todos os empregados da respectiva categoria. Por isso se diz que a Justiça do Trabalho tem competência normativa – competência para criar normas jurídicas aplicáveis à categoria profissional em conflito, ou seja, aplicável a todos os empregados pertencentes à categoria profissional independentemente de serem associados ou não do sindicato. 2.3- Processos Anteriores à EC n. 45, de 2004 Como vimos, com o advento da ampliação da competência da Justiça do Trabalho pela EC n. 45, de 2004, a primeira questão levantada logo que a EC n. 45 entrou em vigor relacionava-se ao que deveria ser feito com os processos que já se encontravam em curso perante outros órgãos do Poder Judiciário. O STJ firmou o seguinte entendimento, consagrado na Súmula n. 367: a competência estabelecida pela EC n. 45/2004 não alcança os processos já sentenciados. Portanto, os processo que não haviam sido sentenciados foram remetidos à Justiça do Trabalho e o já sentenciados, permaneceram em curso perante o órgão da justiça onde tramitava. 2.4- Competência Territorial da Justiça do Trabalho Por competência territorial deve-se entender o órgão julgador que deverá julgar a causa em determinado local. Ou seja, como existem inúmeras varas do trabalho no País, já que são 24 TRTs, é de se saber identificar qual o órgão terá competência considerando onde o processo deverá tramitar. Para tanto, devemos dividir os conflitos trabalhistas em dissídios individuais do trabalho e dissídios coletivos do trabalho. 2.4.1- Competência territorial em razão de conflito individual (art. 651): o conflito individual do trabalho é da competência das varas do trabalho, portanto, devendo ser julgados pelos juízes do trabalho. A regra básica sobre a competência territorial para julgamento dos dissídios individuais está no caput do art. 651, da CLT, que dispõe o seguinte: a competência das Juntas de Conciliação e Julgamento (atuais varas do trabalho) é determinada pela localidade onde o empregado, reclamante ou reclamado, prestar serviços ao empregador, ainda que tenha sido contratado noutro local ou no estrangeiro. Portanto, a vara do trabalho que será competente é aquela do local da prestação dos serviços independentemente do local da contratação. Imaginemos a seguinte situação: João é contratado em Brasília pela rede de supermercados Preço Bom Ltda. para trabalhar em uma de suas filiais em Marimbondinho, local onde permanece trabalhando até a época de sua dispensa. Logo, a competência será da vara do trabalho de Marimbondinho, ou da vara do trabalho que tiver jurisdição sobre Marimbondinho, ou, ainda, do juiz de direito com competência jurisdicional sobre o Município de Marimbondinho, caso a lei tenha atribuído a jurisdição trabalhista nessa localidade à justiça estadual. Encaixa-se na regra, igualmente, a situação do empregado que é transferido de uma localidade para outra: no mesmo caso acima, imaginemos que do município de Marimbondinho, João tenha sido transferido, posteriormente, para outras filiais do citado mercado, tendo passado 2 anos em Manaus, 1 ano em Goiânia, 3 anos em Itapipoca e mais 2 anos em Suçuarana. Pergunta-se: qual é a vara do trabalho competente: a vara do trabalho de Suçuarana, por ter sido o último local de prestação de serviço de João. Essa hipótese é às vezes denominada de competência sucessiva, uma vez que a prestação de serviço ocorreu em localidades sucessivas. Pode ocorrer, igualmente, de o empregado prestar serviços em duas localidades ao mesmo tempo e que têm cada uma delas vara do trabalho, nesse caso, diz-se haver competência simultânea das varas do trabalho das localidades onde simultaneamente o empregado prestava serviço. Há três situações que excepcionam essa regra e constam dos §§ 1º, 2º e 3º, do art. 651, da CLT. 1ª exceção: dispõe o art. 651, § 1º, da CLT, que: Quando for parte no dissídio agente ou viajante comercial, a competência será da Junta da localidade em que a empresa tenha agência ou filial e a esta o empregado esteja subordinado e, na falta, será competente a Junta da localização em que o empregado tenha domicílio ou a localidade mais próxima. Portanto, se um empregado for contratado para trabalhar como agente ou viajante comercial – entenda-se: vendedor externo que percorre grande extensão territorial – a competência da vara se apura da seguinte forma: Se houver vara do trabalho na localidade onde está localizada a matriz (agência) ou a filial à qual o empregado está subordinado, a competência será da vara do trabalho dessa localidade. Se não houver vara do trabalho na localidade onde está localizada a matriz (agência) ou a filial à qual o empregado está subordinado, abrem-se duas opções: 1ª) na vara do trabalho da localidade onde o empregado tenha domicílio ou 2ª) caso na localidade onde o empregado tenha domicílio não tenha vara do trabalho, na vara do trabalho mais próxima à localidade onde o empregado tem domicílio. 2ª exceção: dispõe o art. 651, § 2º, da CLT, que: A competência das Juntas de Conciliação e Julgamento, estabelecida neste artigo, estende-se aos dissídios ocorridos em agência ou filial no estrangeiro, desde que o empregado seja brasileiro e não haja convenção internacional dispondo em contrário. Para que haja competência da vara do trabalho no Brasil, entendemos ter de haver o preenchimento dos seguintes requisitos: o empregado ser brasileiro, ter o empregado sido contratado no Brasil para trabalhar no estrangeiro ou ter sido transferido para o estrangeiro e, finalmente, não haver tratado internacional que confira a competência à justiça da localidade onde os serviços foram prestados. 3ª exceção: por fim, dispõe o art. 651, § 3º, da CLT, que: Em se tratando de empregador que promova realização de atividades fora do lugar do contrato de trabalho, é assegurado ao empregado apresentar reclamação no foro da celebração do contrato ou no da prestação dos respectivos serviços. Quando o empregado for contratado por empregador que promove a realização de suas atividades fora do lugar da celebração do contrato, faculta- se ao empregado apresentar a reclamação trabalhista na vara do trabalho da localidade onde foi contratado ou na do local da prestação dos serviços. Não se pode confundir o disposto no o art. 651, § 3º, da CLT, com o disposto no caput. A competência prevista nesse § 3º está vinculada à realização, pelo empregador, de suas atividades normais fora do lugar da contratação dos empregados. Ou seja, é específica para aqueles tipos de negócio cujas atividades não são exercidas no local da sede da empresa. Imaginemos a seguinte situação: um empresário pretende montar uma construtora. Por exigência legal, toda empresa no Brasil precisa ter uma sede. Então esse empresário aluga uma sala, um galpão, enfim, algum lugar que entenda conveniente para ser a sede da construtora. Regularizada, a construtora prestará serviços em diversas localidades, podendo, e muitas vezes ocorre, prestar serviços até no exterior. Enfim, o único lugar onde não vai obrigatoriamente construir é no local de sua sede, onde normalmente faz a seleção e a contratação de seus empregados. A mesma coisa ocorre com empresas que exploram as atividades circenses, de parque de diversões, de reflorestamento, de auditoria etc. 2.4.2 – Prorrogação
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