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A teoria histórico-cultural parte do pressuposto de que, na presença de condições adequadas de vida e de educação, as crianças desenvolvem intensamente, e desde os primeiros anos de vida, diferentes atividades práticas, intelectuais e artísticas e iniciam a formação de idéias, sentimentos e hábitos morais e traços de personalidade (CARRARA, 2004). A teoria histórico-cultural, mais conhecida no Brasil como Escola de Vygotsky, constituiu-se como uma vertente da psicologia que surgiu no século XX, e que se diferenciou de forma substancial de outras correntes da época, uma vez que, grande parte delas preconizava apenas o comportamento na maioria das vezes (CARRARA, 2004). Lev Semenovich Vygotsky, psicólogo soviético, insatisfeito com as explicações e teorias da época, retomou os estudos de Karl Marx, realizados no século XIX, que apontavam para a ideia de que os homens não são dotados de muita ou pouca inteligência, e não tem mais ou menos aptidões para as artes e para a ciência por um dom divino, mas devido às suas condições materiais de vida e de educação, que são condicionadas pelo lugar que ocupam nas suas relações sociais. De acordo com a concepção de ser humano dessa teoria histórico- cultural, nos tornamos humanos pela inserção na cultura, que se dá por meio de outros seres humanos; sendo assim, o ser humano e seu mundo interno (subjetividade) são construções históricas e sociais. O homem age sobre o mundo, transformando-o, e ao mudar o mundo, o homem transforma-se, supera seus limites (CARRARA, 2004). A aprendizagem depende das relações entre as pessoas, visto que a relação do indivíduo com o mundo se dá mediada pelo outro, assim, o processo de aprendizado determina o processo de desenvolvimento desse indivíduo (este não é um resultado das estruturas orgânicas). O desenvolvimento infantil é visto a partir de três aspectos gerais o aspecto instrumental, cultural e histórico na teoria de Vigotsky: Diz respeito a natureza mediadora das funções psicológicas complexas. Nos não apenas respondemos aos estímulos do ambiente mas os alteramos e usamos como instrumento. meios socialmente estruturados pela forma que a sociedade organiza os tipos de tarefa que a criança enfrenta e os tipos de ins trumento (sendo a sua linguagem a principal). funde-se com o cultural pois os instrumentos foram criados e modificados ao longo da história social da civilização Na teoria histórico-cultural, o papel da educação é garantir a criação de aptidões que são inicialmente externas aos indivíduos e que estão dadas como possibilidades nos objetos materiais e intelectuais da cultura. Para garantir a criação de aptidões nas novas gerações, é necessário que as suas condições de vida e educação possibilitem o acesso desses indivíduos formadores das novas gerações à essa cultura acumulada (CARRARA, 2004). O educador é o mediador da relação da criança com o mundo que ela irá conhecer, pois os objetos da cultura só fazem sentido quando aprendemos seu uso social, e só pode ensinar quem já sabe usá-las. Ou seja, a tarefa do ser educador, na verdade é garantir a reprodução, em cada criança, das aptidões humanas que são produzidas pelo conjunto dos homens (CARRARA, 2004). Para Vygotsky, o bom ensino é aquele que garante aprendizagem e impulsiona o desenvolvimento; este, acontece em um processo colaborativo entre o educador e a criança: o educador não deve fazer as atividades pela criança nem para a criança, mas com ela, atuando como parceiro mais experiente, não no lugar da criança. Quando a criança realiza atividades com a ajuda de um educador, ela se prepara para realizá-las sozinha, pois o aprendizado cria processos de desenvolvimento que, aos poucos, vão se tornando parte de suas possibilidades reais; por fim, o que queremos dizer, é que o bom ensino é aquele que incide sobre o que a criança ainda não sabe (CARRARA, 2004). É dirigir o trabalho educativo para estágios de desenvolvimento ainda não alcançados pela criança. Ou seja, o trabalho educativo deve impulsionar novos conhecimentos e novas conquistas aos estudantes, a partir do nível real de desenvolvimento da criança. O processo de aprendizagem é sempre colaborativo, ou seja, resulta da ação conjunta entre o educador ou parceiro mais experiente e aquele que aprende. A aprendizagem exige a atuação do adulto junto com a criança, mas, precisa realizar, ela mesm a as atividades, e não o educador O fazer compartilhado entre o educador e a criança é a garantia para que ela mantenha uma atitude ativa em relação ao conhecimento e que, ao mesmo tempo, conheça o novo. Assim, essa participação ativa e consciente da criança, em nenhum momento desqualifica o trabalho intencional do educador; ao contrário, qualifica-o ainda mais, uma vez que esse trabalho compartilhado possibilita a atuação do aprendiz em níveis que são cada vez mais elevados (CARRARA, 2004). Em cada etapa do seu desenvolvimento, a criança adota um tipo de atividade que vai permitir, dentro das suas particularidades e do seu desenvolvimento, a ampliação de suas qualidades humanas (CARRARA, 2004). Assim, as situações nas quais garantem mais aprendizado são aquelas que envolvem intensamente as crianças (CARRARA, 2004). Próximo aos três anos, o interesse da criança recai sobre a utilização dos objetos tal como ela vê os adultos utilizarem, passando assim, a imitar os adultos em suas relações sociais e com a inserção ao mundo da cultura, próximo aos seis anos de idade, o faz de conta será a atividade principal da criança para o seu desenvolvimento escolar. Se o resultado da tarefa responde a uma necessidade, motivo ou interesse da pessoa que a realiza, percebemos que a pessoa está inteiramente envolvida em seu fazer, sabendo por que realiza a tarefa e querendo chegar ao seu resultado. Nesse caso, dizemos que ela realiza uma atividade e, ao realizar essa atividade, está se apropriando das aptidões, habilidades e capacidades envolvidas nela. Devemos envolver, sempre que possível, a criança no processo de planejamento, seja de forma direta, quando ela participa das decisões do que fazer e também de como fazer, seja de forma indireta, quando apontamos para ela o objetivo da tarefa proposta na perspectiva de criar ou responder a uma necessidade, motivo ou interesse que é seu As atividades artificiais criadas apenas para ensinar a criança a ler e escrever, e que não vão utilizar essa leitura e a escrita para o fim verdadeiro para o qual foram criadas, não geram necessidades de leitura e escrita na criança, nem buscam sua iniciativa. Desse modo, não faz sentido para a criança que aprende, ler apenas para ler, ou para aprender a ler e a escrever apenas para aprender a escrever tornam-se tarefas que até podem fazer sentido para o adulto que ensina, mas não para a criança (CARRARA, 2004). O papel da escola, é formar cada criança para ser um dirigente, um cidadão preparado para ser o presidente da república ou mesmo para escolher de forma autônoma e crítica os caminhos de sua própria vida. Devemos criar nas crianças o máximo de habilidades, capacidades e também aptidões disponíveis no momen to histórico e momento social em que elas vivem (CARRARA, 2004). Na escola, podemos criar novos motivos que contribuam para o desenvolvimento de aptidões e capacidades humanizadoras que tornem a criança um ser humano mais completo. Sabendo que, os motivos que as crianças ou alunos trazem para a escola são aprendidos nas diferentes situações que vivem, então o papel da instituição escolar é criar novas necessidades (CARRARA, 2004). É preciso que a criança tenha oportunidades de experiênciasdiversificadas para que assim, possa vir a fazer delas atividades carregadas de sentido, ou seja, essas experiências precisam ser propostas de forma tal que a criança envolva-se inteiramente com sua realização e que o objetivo da atividade se torne o motivo que move o fazer real da criança na atividade (CARRARA, 2004). O aprender, é estar com o outro, e qualquer dificuldade nesse processo dá-se devido aos problemas na relação entre (aprendiz e mediador). No processo educativo temos as seguintes zonas: Essa zona, refere-se à distância que existe entres o nível de desenvolvimento real e o nível de desenvolvimento potencial do aluno (CARRARA, 2004). Diz respeito aquilo que o aluno já sabe fazer,aquilo que ele já tem conhecimento (CARRARA, 2004). Diz respeito aquilo que o aluno pode fazer dependendo da ajuda do outro, é o conhecimento que depende ainda da mediação do outro (CARRARA, 2004). CARRARA, Kester. Introdução à psicologia da educação. 1. ed., 6ª reimpressão: São Paulo: Avercamp, 2004.
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