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Aula 09 Receita Federal (Auditor Fiscal) Direito Comercial - 2022 (Pré-Edital) Autor: Cadu Carrilho 10 de Janeiro de 2022 Material adquirido em http://tiny.cc/RTCursos2021 1 Sumário TÍTULOS DE CRÉDITO ................................................................................................................................... 4 1. Conceitos Iniciais..................................................................................................................................... 4 2. Princípios .................................................................................................................................................. 5 2.1. Cartularidade .................................................................................................................................... 5 2.2. Literalidade ....................................................................................................................................... 6 2.3. Autonomia ......................................................................................................................................... 7 2.4. Abstração .......................................................................................................................................... 9 2.5. Inoponibilidade das Exceções Pessoais aos Terceiros de Boa-fé ........................................... 9 3. Características dos Títulos de Crédito ............................................................................................... 11 3.1. Formalismo ..................................................................................................................................... 11 3.2. Bem Móvel ...................................................................................................................................... 12 3.3. Obrigação Quesível ....................................................................................................................... 12 3.4. Natureza Pró-Solvendo ................................................................................................................. 12 3.5. Negociabilidade ............................................................................................................................. 13 3.6. Executividade ................................................................................................................................. 13 4. Classificação ........................................................................................................................................... 14 4.1. Quanto ao Modelo ........................................................................................................................ 14 4.2. Quanto à Estrutura......................................................................................................................... 15 4.3. Quanto à Forma de Circulação ou de Transferência ............................................................... 15 4.4. Quanto à Hipótese de Emissão ................................................................................................... 16 ATOS CAMBIÁRIOS ...................................................................................................................................... 18 Cadu Carrilho Aula 09 Receita Federal (Auditor Fiscal) Direito Comercial - 2022 (Pré-Edital) www.estrategiaconcursos.com.br 1843093Material adquirido em http://tiny.cc/RTCursos2021 2 1. Saque ...................................................................................................................................................... 19 2. Aceite ...................................................................................................................................................... 19 3. Endosso .................................................................................................................................................. 20 3.1. Definição ......................................................................................................................................... 20 3.2. Assinatura ........................................................................................................................................ 21 3.3. Endosso X Cessão Civil de Crédito ............................................................................................ 21 3.4. Endosso Sem Garantia .................................................................................................................. 21 3.5. Endosso em Branco e em Preto .................................................................................................. 22 3.6. Endosso Parcial .............................................................................................................................. 22 3.7. Endosso Impróprio ........................................................................................................................ 22 3.8. Endosso Póstumo ou Tardio ........................................................................................................ 23 4. Aval .......................................................................................................................................................... 23 4.1. Aval X Fiança .................................................................................................................................. 24 5. Protesto .................................................................................................................................................. 25 5.1. Procedimento ................................................................................................................................. 27 5.2. Pagamento em Cartório ............................................................................................................... 28 5.3. Cancelamento ................................................................................................................................ 28 5.4. Protesto Indevido Súmula STJ ..................................................................................................... 29 5.5. Cláusula Sem Protesto .................................................................................................................. 29 TÍTULOS DE CRÉDITO NO CÓDIGO CIVIL ............................................................................................. 30 1. Disposições Gerais ................................................................................................................................ 31 1.1. Formalidades dos Títulos ............................................................................................................. 31 Cadu Carrilho Aula 09 Receita Federal (Auditor Fiscal) Direito Comercial - 2022 (Pré-Edital) www.estrategiaconcursos.com.br 1843093Material adquirido em http://tiny.cc/RTCursos2021 3 1.2. Títulos Eletrônicos.......................................................................................................................... 34 1.3. Assinatura de Mandatário em Título ........................................................................................... 35 1.4. Título que Representa Mercadoria ............................................................................................. 36 1.5. Outras Regras ................................................................................................................................. 36 2. Aval no Código ..................................................................................................................................... 37 3. Transferência dos Títulos ..................................................................................................................... 40 3.1. Ao Portador.....................................................................................................................................41 3.2. À Ordem .......................................................................................................................................... 41 3.3. Nominativo...................................................................................................................................... 45 Questões Comentadas ................................................................................................................................. 47 Lista de Questões .......................................................................................................................................... 87 Gabarito ........................................................................................................................................................ 105 Cadu Carrilho Aula 09 Receita Federal (Auditor Fiscal) Direito Comercial - 2022 (Pré-Edital) www.estrategiaconcursos.com.br 1843093Material adquirido em http://tiny.cc/RTCursos2021 4 TÍTULOS DE CRÉDITO É um assunto amplo, envolve um conteúdo considerável e exige de nós uma boa dose de dedicação, em função do fato de que sempre tem questões sobre títulos de crédito nos concursos que contemplam esse assunto. Nesse tópico veremos os conceitos iniciais, as características gerais e os princípios aplicáveis aos títulos de crédito no ordenamento jurídico brasileiro, servindo de base para todo o nosso estudo e que fundamentam cada título de crédito específico que veremos. 1. Conceitos Iniciais A atividade econômica precisa de muitas variáveis para se desenvolver de maneira eficiente e proveitosa, por exemplo, as atividades devem ter como característica a rapidez, a segurança e o crédito. Os negócios devem acontecer de maneira rápida, pois todas as coisas estão muito dinâmicas e se a atividade econômica não for célere tende ao fracasso. A segurança da atividade tem a ver com o fomento ao desenvolvimento e ao empreendedorismo, sabemos que toda atividade econômica é feita com o risco inerente, porém, cabe ao ordenamento jurídico proporcionar à sociedade o amparo legal para dirimir essas circunstâncias, proporcionando, na medida do possível, a segurança jurídica adequada ao desenvolvimento da atividade econômica. Por último, e que é um fator fundamental para a economia, temos o crédito que proporciona a circulação da riqueza e a maior quantidade de negócios a serem feitos em função de negociações celebradas hoje a serem quitadas no futuro, com base na confiança. O crédito trata da movimentação de valores futuros e da confiança de que o crédito será quitado. O crédito é algo essencial para o desenvolvimento de qualquer economia. É nesse contexto que entram os títulos de crédito. Eles são instrumentos fundamentais para o desenvolvimento da atividade econômica, uma vez que proporcionam aos agentes da economia a possibilidade com mais facilidade da circulação de riqueza, com alta negociabilidade e com boa margem de segurança jurídica do pagamento do título em função das ferramentas legais que circundam os títulos de crédito e que aprenderemos a seguir. Dentro do Direito Empresarial temos um ramo de estudo específico que é o chamado Direito Cambiário, onde estudamos os títulos de crédito. Veja, Direito Cambiário porque os títulos de crédito são documentos feitos para serem cambiados, ou seja, trocados, circulados, com o fim de fazer a riqueza circular. Há várias definições para títulos de crédito, a mais usada é a do italiano Cesare Vivante. Essa reconhecida definição foi adotada pelo nosso Código Civil e serve de base para aprendermos o assunto em tela. Definição de Títulos de Crédito por Cesar Vivante: “Título de crédito é o documento necessário para o exercício do direito, literal e autônomo nele mencionado." Já o Código Civil vai dizer: Art. 887. O título de crédito, documento necessário ao exercício do direito literal e autônomo nele contido, somente produz efeito quando preencha os requisitos da lei. Cadu Carrilho Aula 09 Receita Federal (Auditor Fiscal) Direito Comercial - 2022 (Pré-Edital) www.estrategiaconcursos.com.br 1843093Material adquirido em http://tiny.cc/RTCursos2021 5 (CONSULPLAN/TJ-MG/Notário/2015) O título de crédito, documento necessário ao exercício do direito literal e autônomo nele contido, somente produz efeito quando preencha os requisitos da lei. Comentário: Reprodução literal da definição de título de crédito prevista no Artigo 887 do CC. Gabarito: Correta 2. Princípios Há uma certa divergência doutrinária no que tange aos princípios aplicáveis aos títulos de crédito, vou usar como base a posição majoritária e usarei os mesmos critérios utilizados pelas bancas de concurso. 2.1. Cartularidade Esse princípio decorre da própria definição do instituto que nos diz que o título é um documento necessário ao exercício do direito. Os direitos inerentes aos títulos de crédito serão exercidos com a apresentação do título. Quem é o titular de um título de crédito deve exibir o título para satisfazer seus direitos. Então, credor que quer cobrar o título deve apresentar ao devedor o documento, assim como quem deseja executar ou protestar um título deve apresentar o próprio documento, deve levar o título original para o cartório do protesto ou para o juízo na petição inicial da ação de execução, não podendo apresentar cópia simples ou autenticada para pleitear os direitos. Se eu quero endossar um título a alguém, ou seja, transferir a titularidade do crédito a outra pessoa, além de assinar o título, para findar o endosso, eu preciso entregar o papel ao novo dono, pois o papel carrega os direitos inerentes ao direito cambiário. Não adianta o dono do título, e também credor, ir até o devedor cobrar o pagamento devido e dizer que esqueceu o título em casa, mas que depois traz. Se aceitar essas condições, o devedor corre o risco de pagar e depois aparecer um outro credor com o título em mãos e ter que pagar novamente, já que esse último credor é quem tem razão. Por isso que dizem que os títulos de crédito são documentos de apresentação. O título de crédito é: um documento necessário ao exercício de um direito literal e autônomo que somente produz efeitos quando preenche os requisitos da lei Cadu Carrilho Aula 09 Receita Federal (Auditor Fiscal) Direito Comercial - 2022 (Pré-Edital) www.estrategiaconcursos.com.br 1843093Material adquirido em http://tiny.cc/RTCursos2021 6 Cartularidade é um termo que deriva de “cártula” que quer dizer pedaço de papel. Esse princípio também é chamado de incorporação na medida em que o documento, o papel, o título, incorpora em si os direitos inerentes ao regime jurídico cambiário. Transferido o título a outro, todos os direitos vão juntos, pois estão incorporados ao pedaço de papel. Por esse princípio temos que o direito incorporado ao título pressupõe a sua posse legítima. Exceções ao princípio da cartularidade: Uma das formas de exceção ao princípio da cartularidade é chamada pela doutrina de desmaterialização dos títulos de créditos, que decorre basicamente dos chamados títulos eletrônicos ou virtuais. Como exemplo temos as duplicatas virtuais. Outra exceção ao princípio também ocorre com as duplicatas, pois podem ser protestadas por um tipo de protesto chamado de protesto por indicação, no qual não é apresentado o título original, mas são feitas indicações de que o título realmente existe e que há realmente a dívida. Essas exceções não excluem totalmente o princípio em tela, apenas mitigam e relativizam sua aplicação nos casos especificados. O Código Civil autoriza a emissão de título de crédito em forma eletrônica. Precisamos nos ater a essa regra que vale como regra geral para os títulos. Art. 889 - § 3o O título poderá ser emitido a partir dos caracteres criados em computador ou meio técnico equivalente e que constem da escrituração do emitente, observados os requisitos mínimos previstos neste artigo.(CESPE/TJ-RO/Analista/2012) A afirmação de que só quem exibe o título pode pretender a satisfação da obrigação nele representada corresponde ao princípio da: a) autonomia. b) pessoalidade. c) literalidade. d) representação. e) cartularidade. Comentário: A pessoa que queira cobrar a obrigação prevista no título de crédito deve apresentar esse título, deve exibir o título, essa situação é amparada pelo princípio da cartularidade. Gabarito: E 2.2. Literalidade Vimos que título de crédito é o documento necessário ao exercício do direito literal nele mencionado. O título representa o direito literal nele expresso. Vale o que está escrito no título. O conteúdo do que está escrito no título de crédito é o que define os limites dos direitos e deveres inerentes ao título. Desde o momento em que a pessoa tem o título em mãos é possível conhecer a natureza, o conteúdo, os devedores, as garantias, os avais, o vencimento, o local do pagamento, o local de emissão, os endossantes da cadeia de endossos, o valor e o tipo de título, pois, todas essas informações devem estar expressas no título de crédito de modo que o princípio da literalidade dá ao titular do título a certeza do quanto vale e dos direitos do título. Apenas o que está escrito no título de crédito deve produzir os efeitos jurídicos devidos. Cadu Carrilho Aula 09 Receita Federal (Auditor Fiscal) Direito Comercial - 2022 (Pré-Edital) www.estrategiaconcursos.com.br 1843093Material adquirido em http://tiny.cc/RTCursos2021 7 O credor não pode exigir dos devedores do título mais do que está previsto e o devedor não tem obrigação de assumir ou arcar com algo além do que está expresso no título. Exemplo: um título emitido com o valor de 200 reais, porém as partes desse negócio combinaram que no dia de pagar o título seria feito um acerto de contas e que o devedor deveria pagar só 180 reais, sendo que esse acerto não foi escrito no título. O credor desse título passa-o a outra pessoa que passa a ser o titular do crédito, no dia de cobrar do devedor o valor devido, o devedor diz que só pagaria 180 em função do acordo de cavalheiros feito entre os primeiros negociadores, ele não poderá fazer isso já que o que está escrito no título é que ele deve pagar 200. Pelo princípio da literalidade poderá o credor cobrar o valor integral, pois assim o direito cambiário lhe garante. Por causa desse princípio, basta que o credor leia o que está expressamente escrito no título para ter a real noção do que ele está recebendo como crédito. Só não precisa estar escrito no título aquilo que a própria lei já estabelece como um direito ou um dever das partes e que não precisa estar contido no título para que valha, já que está previsto na lei. Por exemplo, a lei diz que o aval pode ser feito com a simples assinatura na frente do título, então, mesmo que o assinante não escreva a palavra “aval”, sabe-se que, se um estranho assinou na frente do título, é por que ele está avalizando o título sem que isso conste expressamente no título. (FCC/SEFAZ-PE/Julgador Tributário/2015) Nos títulos de crédito, ensina-se que o devedor não é obrigado a mais, nem o credor pode querer outros direitos, que não aqueles declarados só expressamente no título. Esta lição refere-se aos efeitos da a) literalidade. b) autonomia. c) abstração. d) incorporação. e) causalidade. Comentário: Vimos que essa é uma boa descrição do alcance trazido pelo princípio da literalidade. Gabarito: A 2.3. Autonomia Mais uma vez a definição de título de crédito traz em seu bojo o princípio citado. Título de crédito é um documento necessário ao exercício do direito autônomo nele contido. Esse é considerado o principal princípio, inclusive é o princípio que nos faz compreender melhor as características inerentes aos títulos de crédito. O princípio da autonomia nos diz que as relações jurídicas de um título de crédito são autônomas e independentes entre si. Aprenderemos que um título de crédito comporta diversas relações jurídicas diferentes. Existe a relação entre quem emite o título e a quem ele é endereçado, a relação jurídica entre o avalista e o devedor, entre o avalista e o credor, existe ainda a hipótese de um título ser emitido por uma pessoa e ser aceito por outra pessoa diferente, como na letra de câmbio. Cadu Carrilho Aula 09 Receita Federal (Auditor Fiscal) Direito Comercial - 2022 (Pré-Edital) www.estrategiaconcursos.com.br 1843093Material adquirido em http://tiny.cc/RTCursos2021 8 Temos também as relações jurídicas que surgem quando o título entra em circulação por meio do endosso em que há a troca de titularidade de credor do título, onde o título pode ser endossado a uma pessoa que depois pode endossar a outra que pode endossar a outra, seguindo assim sem um limite definido em lei, acontecendo o que se chama de cadeia de endossos, esses endossantes também podem ter avalistas. Repare que há várias relações jurídicas envolvendo várias pessoas diferentes que podem surgir com a emissão e a circularização de um título de crédito. De acordo com o princípio da autonomia cada relação jurídica dessas é autônoma em relação a outra. Então, se algum desses vínculos obrigacionais estiver eivado de vício, não há que se falar em anulação ou influência desse vício nas outras relações, claro que isso só vale se esse vício não for um vício que faça parte do título como os vícios formais. Exemplo: Digamos que uma nota promissória foi emitida para pagar parte da compra de um carro de uma outra pessoa. O negócio original é a compra e venda de um carro, só que na hora de receber o carro o comprador não tinha o dinheiro todo, deu uma entrada em dinheiro e emitiu uma nota promissória que é um título de crédito em que ele promete que pagará a quantia ali do título no dia do vencimento. O vendedor do carro entrega o carro e recebe a nota promissória. A nota somente vencerá daqui a alguns dias, porém, o vendedor do carro que está com a nota em mãos, e é o credor dessa nota, está querendo comprar um celular, ele vai a outra pessoa e compra o celular dessa terceira pessoa que aceita receber na negociação a nota promissória, mas pede que seja feita alguma garantia para reforçar o crédito, então, eles arrumam uma quarta pessoa que será o avalista. Temos aqui a relação entre o emitente da nota, que é o principal devedor da nota e o vendedor do carro, temos outra relação entre o credor da nota e o dono do celular, e temos uma outra relação entre esses e o avalista. Cada uma dessas relações é autônoma, pois caso o carro tenha sido vendido com defeito, estará constatado um vício no negócio da compra e venda do carro, porém, o atual possuidor da nota não tem nada a ver com essa relação da compra e venda do carro e poderá cobrar o crédito da nota promissória sem nenhum problema. A pessoa que aceita a nota promissória como pagamento pelo celular não precisa se preocupar com as relações anteriores a dela, se há vício, e nem com quem foi que ocorreu o vício, já que o princípio da autonomia garante a ela os direitos inerentes aos títulos de crédito como executividade e poder cobrar a nota em função da natureza autônoma da relação que o fez ser o credor final do título. É exatamente o princípio da autonomia que enseja a importância que os títulos de crédito têm para a rapidez, confiança, segurança e negociabilidade do crédito para o desenvolvimento de uma economia no que tange a circulação da riqueza. As palavras que nos ajudam a lembrar desse princípio são: relações jurídicas, autônomas, independentes, cadeia de endossos, responsabilidades de avalistas autônomas. (PUC-PR/TJ-RO/Juiz/2011) Pelo princípio da autonomia das obrigações cambiais, os vícios que comprometem a validade de uma relação jurídica, documentada em título de crédito, não se estendem às demais relações abrangidas no mesmo documento. Comentário: Como as relações de um título de crédito são autônomas, o vício de uma relação nãocompromete outra relação do mesmo título em função do princípio da autonomia. Gabarito: Correta Cadu Carrilho Aula 09 Receita Federal (Auditor Fiscal) Direito Comercial - 2022 (Pré-Edital) www.estrategiaconcursos.com.br 1843093Material adquirido em http://tiny.cc/RTCursos2021 9 2.4. Abstração Segundo alguns autores, esse princípio é apenas uma subdivisão do princípio da autonomia e, por isso, considerado um subprincípio. Tem banca que também considera assim. Veremos que realmente dá a impressão de que ele é uma derivação do princípio da autonomia. Outras bancas têm usado esses princípios separadamente, e alguns autores assim o fazem também, então, para facilitar nosso entendimento, fiz essa separação também considerando a abstração um princípio por si só. O princípio da abstração consiste em que o título de crédito, uma vez posto em circulação, desvincula-se da relação jurídica que deu lhe deu origem. Não está tratando de todas as relações de um título e nem da independência entre todas as relações que podem surgir de um título de crédito, mas apenas da desvinculação entre o título emitido em função de uma relação jurídica originária, também chamada de subjancente, e a relação jurídica que deu origem ao título. Esse princípio só se aplica quando o título entra em circulação. Ou seja, enquanto o título emitido continuar no poder da pessoa que é o credor da relação original, não há desvinculação, mas no momento em que esse passa o título a terceiro por endosso, esse título perde o vínculo com a relação original. No nosso exemplo: a nota promissória foi emitida para pagar a compra de um carro, a relação jurídica que deu origem a emissão do título foi a compra e venda do carro, se o carro estiver com defeito e o título de crédito continua na mão do vendedor do carro, não há desvinculação e o vício do carro pode anular o negócio jurídico e ensejar o não pagamento pelo devedor, mas se o título for passado a outra pessoa por endosso, e essa pessoa nada tem a ver com a relação de compra e venda do carro, que seria o caso do vendedor de celular, o princípio da abstração garante que ele não precisará se preocupar com a relação que deu ensejo a emissão do título. Veja que, enquanto o princípio da autonomia é mais abrangente e envolve todas as relações jurídicas de um título de crédito, a abstração é mais específica, pois trata apenas da desvinculação da relação original, a relação inicial que fez com que o título fosse emitido. É mais uma garantia às pessoas que negociam riqueza e capital com títulos de crédito. As palavras que nos ajudam a lembrar desse princípio são: relação jurídica originária ou subjacente, desvinculação, circulação do título. (CESPE/IFB/Professor – Direito/2011) De acordo com princípio da abstração, se o título de crédito é posto em circulação, ele se desvincula do negócio jurídico subjacente, do qual se originou. Comentário: A característica da abstração é a desvinculação do negócio jurídico que deu origem à emissão do título quando posto em circulação. Negócio subjacente é o negócio original que vem antes. Gabarito: Correta 2.5. Inoponibilidade das Exceções Pessoais aos Terceiros de Boa-fé Sei que o “nome” desse princípio é feio, mas sei também que você é capaz de aprender e se acostumar com ele. Esse sim é um princípio que, quando adotado por algum autor, é reconhecidamente um subprincípio da autonomia. Na verdade, é considerado a faceta processual da autonomia, pois é invocado em algum litígio judicial. Cadu Carrilho Aula 09 Receita Federal (Auditor Fiscal) Direito Comercial - 2022 (Pré-Edital) www.estrategiaconcursos.com.br 1843093Material adquirido em http://tiny.cc/RTCursos2021 10 Uma vez que o princípio da autonomia garante e assegura que as relações jurídicas são autônomas, conclui- se que o devedor original do título não pode opor (inoponibilidade alegada em juízo) ao portador de boa-fé as exceções (defesas) que ele tenha contra o credor original. O devedor deve respeitar o princípio da inoponibilidade das exceções pessoais aos terceiros de boa-fé. Exemplo: lembra do carro vendido e a emissão da nota promissória, depois essa nota foi para o terceiro que vende o celular. O carro estava com defeito, então, surgiu uma exceção ao que foi combinado na compra e venda inicial, sendo que essa exceção só maculou o negócio jurídico entre o comprador e vendedor do carro, é, então, uma exceção pessoal entre esses dois, o vendedor do celular recebeu a nota promissória sem saber de nada sobre o defeito do carro e, por isso, ele é considerado um terceiro de boa-fé. Quando o credor do título, que é esse terceiro, for cobrar o título, ele deve ser pago pelo devedor em função do que vimos sobre a autonomia, porém se mesmo assim o devedor não pagar, o caso poderá ir parar na justiça em sede de cobrança da execução do título não pago. O principal devedor e emitente do título vai se opor a pagar o título alegando defeito do carro, porém, o cobrador do título e credor final é um terceiro de boa-fé, portanto, a exceção pessoal não poderá ser oposta ao terceiro de boa-fé, caberá ao juiz afastar esse argumento do devedor e fazer com que seja pago de acordo com a lei, em outras palavras, os títulos de crédito seguem o princípio da inoponibilidade das exceções pessoais aos terceiros de boa-fé. A contrário senso, se o credor do título sabia das exceções pessoais, dos vícios, da irregularidade ou da nulidade da relação original e, portanto, estava de má-fé, o devedor poderá se opor. A má-fé, nesse caso, não se caracteriza apenas pelo conluio entre as partes, mas o simples fato de o credor, que recebeu o título, saber do vício, enseja a não aplicação do princípio e a possibilidade de oposição ao pagamento pelo devedor. Encontramos a regra que ampara a aplicação desse princípio no Código Civil que vai dizer a mesma coisa com as palavras invertidas, dizendo que só pode opor exceção pessoal se o título estiver com um credor de má-fé e sabia do vício anterior. CC - Art. 916. As exceções, fundadas em relação do devedor com os portadores precedentes, somente poderão ser por ele opostas ao portador, se este, ao adquirir o título, tiver agido de má-fé. E temos a regra na LUG também no que se refere à letra de câmbio. LUG - Artigo 17: As pessoas acionadas em virtude de uma letra não podem opor ao portador exceções fundadas sobre as relações pessoais delas com o sacador ou com os portadores anteriores, a menos que o portador ao adquirir a letra tenha procedido conscientemente em detrimento do devedor. Atente, mais uma vez, que as defesas ou exceções podem ser alegadas quando se tratar de vício de forma do título, ou seja, que está aparente, que basta ter o título em mãos para perceber que algo não foi feito de acordo com a lei, por exemplo, um cheque que não seja um daqueles papéis impressos pelo banco com as formalidades da lei, nesses casos, a alegação para não pagar o título poderá ser válida. Cadu Carrilho Aula 09 Receita Federal (Auditor Fiscal) Direito Comercial - 2022 (Pré-Edital) www.estrategiaconcursos.com.br 1843093Material adquirido em http://tiny.cc/RTCursos2021 11 3. Características dos Títulos de Crédito 3.1. Formalismo Exatamente por ser um documento, é que podemos dizer que os títulos de crédito possuem a caraterística do formalismo, ou seja, são documentos formais que seguem as regras previstas em lei, conforme a própria regra legal que nos diz que os títulos de crédito somente produzem efeitos quando preencham os requisitos da lei. Pela lei, o título de crédito deve seguir o formalismo e seguir as regras da lei. Os títulos de crédito previstos em lei são chamados títulos típicos. E os não previstos em lei e que poderiam ser criados por particulares seriam os títulos atípicos. É essa discussão sobre a possibilidade de emissão de títulos atípicos que não está pacificada na doutrina, em relação ao fato de esses títulos atípicos, ao serememitidos, ficariam ou não sujeitos ao direito cambiário. A maioria dos concursos pedem em seu edital as regras gerais previstas no Código Civil, além de letra de câmbio, nota promissória, cheque e duplicata. Então, iremos aprender, de acordo com o seu edital, as regras legais para os títulos de crédito e que estão distribuídos da seguinte maneira: - Regras Gerais dos Títulos de Crédito - Código Civil – Arts. 887 a 926 - Letra de Câmbio – Lei Uniforme de Genebra – LUG de 1930 – Incorporada pelo Decreto 57.663/66 – Subsidiariamente Decreto 2.044 de 1908. - Nota Promissória - Lei Uniforme de Genebra – LUG de 1930 – Incorporada pelo Decreto 57.663/66 – Subsidiariamente Decreto 2.044 de 1908. Autonomia Literalidade Princípios dos Títulos de Crédito Cartularidade Abstração Inoponibilidade das Exceções Pessoais aos Terceiros de Boa-fé Cadu Carrilho Aula 09 Receita Federal (Auditor Fiscal) Direito Comercial - 2022 (Pré-Edital) www.estrategiaconcursos.com.br 1843093Material adquirido em http://tiny.cc/RTCursos2021 12 - Duplicata – Lei das Duplicatas – Lei 5.474 de 1968 - Cheque – Lei dos Cheques – Lei 7.357 de 1985 - Conhecimento de Depósito e Warrant – Decreto 1.102 de 1903 - Cédulas de Crédito e Notas de Crédito que podem ser Rural, Imobiliário, Industrial, Comercial, Exportação e Bancário e Letras de Crédito. As regras previstas no Código Civil são usadas como regras gerais para os títulos de crédito e também podem ser usadas nos casos em que a lei específica for omissa, ou fazer uma aplicação subsidiária dos títulos que possuem leis próprias. Art. 903. Salvo disposição diversa em lei especial, regem-se os títulos de crédito pelo disposto neste Código. 3.2. Bem Móvel Os títulos de crédito são considerados bens móveis e sujeitos aos regimes aplicáveis aos bens móveis como a posse, a propriedade e transferem-se pelo endosso seguido da tradição, que é a entrega do documento. 3.3. Obrigação Quesível Também chamada de “quérable”. É a obrigação em que o credor deve se dirigir ao devedor para receber o crédito devido. O título de crédito é uma obrigação quesível, em regra, o credor de um título de crédito, deve procurar o devedor no vencimento para que pague o valor que está no título. Exemplo: pense em uma nota promissória, que pode circular livremente, passando de mão em mão, e essa circulação não precisa ser comunicada ao principal devedor emitente da nota. No dia do vencimento, o credor, titular da nota, deve procurar o devedor que emitiu a nota para cobrá-la, se fosse o contrário, seria difícil, até porque o devedor nem saberia quem é o credor final da nota. A obrigação quesível é diferente ou o contrário de obrigação portável. 3.4. Natureza Pró-Solvendo Quase sempre o título de crédito surge de algum outro negócio jurídico feito entre as partes que dá origem ao título. As obrigações em geral podem ser classificadas como pró-soluto ou pró-solvendo. Pró-soluto é aquela obrigação que se extingue desde o momento em que é feita a negociação, ocorre a quitação. A regra é a de que os títulos de crédito são pró-solvendo, ou seja, a entrega do título não caracteriza a extinção da obrigação, ficando pendente do pagamento futuro. Porém, as partes podem acordar que um determinado título seja emitido pró-soluto. Cadu Carrilho Aula 09 Receita Federal (Auditor Fiscal) Direito Comercial - 2022 (Pré-Edital) www.estrategiaconcursos.com.br 1843093Material adquirido em http://tiny.cc/RTCursos2021 13 Exemplo: vendo meu celular para você por 500 reais, te dou o celular e você me dá um cheque no valor de 500 reais, o negócio é definitivo, mas não está quitado, já que o cheque é em regra pró-solvendo e só será extinta a obrigação no dia em que os 500 reais virarem dinheiro. Entretanto, posso acordar com você que a entrega do cheque é pró-soluto, ou seja, uma vez passado o cheque a obrigação estará quitada. 3.5. Negociabilidade Os títulos de crédito podem circular, na verdade eles existem exatamente para proporcionar a circulação de riqueza. Essa característica é bem entendida depois que aprendemos os princípios da autonomia e abstração. Você precisa saber que os títulos podem ser emitidos e o credor que tem ele em mãos pode passar para outra pessoa, que se torna o credor e essa pessoa pode passar para outro, e por causa das características e dos princípios inerentes aos títulos, haverá uma boa segurança jurídica do credor que receber esse título, quanto a liquidez e certeza do título e com uma boa dose de garantia de que o título será pago. A circulação do título é feita de maneira fácil e é protegida pelo nosso ordenamento jurídico. É a tal cambiaridade, por facilitar e dar mais segurança a transferência do título e do respectivo credor. Os títulos de crédito são negociáveis e servem de importante instrumento de troca de valores. Exemplo: eu devo a um amigo 150 reais e não tenho dinheiro para pagar, mas tenho em mãos uma letra de câmbio na qual eu sou o credor e que vencerá em dois dias no valor de 150 reais, posso negociar com meu amigo o endosso dessa letra a ele, que passa a ser o credor da letra e, no dia do vencimento, poderá cobrar os 150 do principal devedor da letra. A riqueza circulou por meio do título de crédito. 3.6. Executividade O titular do crédito de um título de crédito possui em mãos um documento com um direito próprio, líquido e certo consignado no documento. Então, se o devedor não cumprir sua obrigação prevista no título de pagar determina quantia no dia especificado e a pessoa devida, esse título poderá ser executado, pois está, de acordo com a lei, revestido de executividade inerente. Geralmente, uma pessoa que queira cobrar alguma obrigação de outra pessoa, quando não cumprida, deve entrar com uma ação na justiça chamada ação de conhecimento. Essa ação de conhecimento serve para que um juiz sentencie e dê força executiva à essa dívida. Porém, quando estivermos falando de um título de crédito não pago, não será necessário que o credor entre com uma ação de conhecimento, o credor poderá se valer dessa característica de executividade e protocolar diretamente uma ação de execução do título, o que proporciona ao credor uma maior celeridade no recebimento do valor devido e uma maior segurança de negociação dos títulos no mercado. Os títulos de crédito são títulos executivos extrajudiciais. Novo Código de Processo Civil - Art. 783. A execução para cobrança de crédito fundar-se- á sempre em título de obrigação certa, líquida e exigível. Art. 784. São títulos executivos extrajudiciais: I - a letra de câmbio, a nota promissória, a duplicata, a debênture e o cheque; Cadu Carrilho Aula 09 Receita Federal (Auditor Fiscal) Direito Comercial - 2022 (Pré-Edital) www.estrategiaconcursos.com.br 1843093Material adquirido em http://tiny.cc/RTCursos2021 14 (ESAF/PGFN/Procurador/2015) Os títulos de crédito são documentos representativos de obrigações pecuniárias ─ de origem cambial ou extracambial ─ e, como regra, têm natureza “pro soluto”. Comentário: Vimos que a regra é que os títulos de crédito têm natureza pró-solvendo. Gabarito: Errada 4. Classificação Veremos as classificações feitas pela doutrina em relação aos títulos de crédito. Essas divisões têm um bom efeito didático, já que, em todas elas, vamos dar exemplos de quais títulos se encaixam em cada uma das classificações, o que permitirá uma melhor identificação quando entrarmos nos títulos em espécie. Essa classificação não segue uma pacificação pelos doutrinadores, pois há algumas divergências, então, usarei aqui a mais aceita e, claro, o que mais comumente é cobrado nos concursos públicos. 4.1. Quanto ao Modelo - livres - vinculados CARACTERÍSTICAS DOS TÍTULOS DE CRÉDITO Executividade Negociabilidade Natureza Pró-solvendo Formalismo Bem móvel Obrigação Quesível Cadu Carrilho Aula 09 Receita Federal (Auditor Fiscal) Direito Comercial - 2022(Pré-Edital) www.estrategiaconcursos.com.br 1843093Material adquirido em http://tiny.cc/RTCursos2021 15 Os títulos de crédito podem ser de modelo livre ou de modelo vinculado. Os títulos de modelo vinculados são os que devem seguir os requisitos previstos em lei e, ainda, devem ser feitos de acordo com um padrão, um modelo estabelecido. Títulos como o cheque e a duplicata são excelentes exemplos, já que só podem ser emitidos de acordo com o padrão estipulado pelo Conselho Monetário Nacional, só pode ser cheque aquele papel fornecido pelo banco, esses são os títulos de modelo vinculado. Os títulos de modelo livre são os que devem seguir os requisitos mínimos previsto na lei, mas que não existe um padrão definido de como deve ser esse título. Exemplo são as notas promissórias e as letras de câmbio. A nota promissória deve ter o nome “nota promissória” por lei, mas aquele modelo vendido na papelaria é apenas um exemplo, você pode agora, criar uma nota promissória no seu computador, já que ela é um tipo de título de modelo livre, basta que você veja os requisitos exigidos por lei que caracterizam que um determinado pedaço de papel será considerado uma nota promissória. Esses são títulos de modelo livre, já que não há um padrão definido e seu emitente tem essa liberdade. 4.2. Quanto à Estrutura - ordem de pagamento - promessa de pagamento Ordem de pagamento é um tipo de estrutura do título que enseja três relações jurídicas diferentes. O emitente do título é a pessoa que dá a ordem, essa ordem é direcionada para que outra pessoa pague o que está no título e temos o beneficiário que é o principal credor que deve receber o valor do título. Quem emite o título e dá a ordem é chamado de SACADOR, quem deve pagar o título e que é a pessoa que recebe a ordem é o SACADO, e o principal credor é chamado de TOMADOR. São exemplos de ordem de pagamento o cheque, a duplicata e a letra de câmbio. Pense em um cheque emitido em que a pessoa que assina o cheque é o sacador e dá a ordem de pagamento para que o banco, sacado, cumpra essa ordem e pague o valor devido no cheque a esse credor, tomador. A promessa de pagamento é uma estrutura em que o título consiste em uma promessa feita pelo próprio emitente que pagará o valor devido ao beneficiário. Temos nesses títulos duas figuras, a do promitente e a do beneficiário. O promitente é o sacador e quem promete pagar, o beneficiário é o tomador e principal credor do título. Exemplo é a nota promissória e, também, as cédulas de crédito. 4.3. Quanto à Forma de Circulação ou de Transferência - ao portador - nominativos - nominais à ordem - nominais não à ordem Cadu Carrilho Aula 09 Receita Federal (Auditor Fiscal) Direito Comercial - 2022 (Pré-Edital) www.estrategiaconcursos.com.br 1843093Material adquirido em http://tiny.cc/RTCursos2021 16 Analisamos, agora, os títulos quanto a maneira com que eles trocam de mãos, ou seja, como eles podem ser classificados de acordo com a circulação, já que há diferentes maneiras de um título passar de um para outro credor, chamando essa troca de circulação. Os títulos podem ser ao portador. Na verdade, é um tipo de título que caiu em desuso em função da pouca segurança. Não há, nesses tipos de título, a identificação de quem é o titular do crédito, então, o titular do crédito do título ao portador será a pessoa que estiver portando o título. Circulam por tradição, pela entrega do documento a outra pessoa. Passou o título, passa a titularidade do crédito. Nenhum dos títulos estudados são ao portador, mas há previsão no Código Civil para esses tipos de títulos, vamos ver essas regras do código oportunamente. Os títulos de créditos são nominativos quando é possível identificar a pessoa titular do crédito, mas essa identificação fica registrada nos livros de controles do emitente do título. A pessoa que emite o título vai lá no livro de registros ou em outro tipo de registro e coloca lá o nome do credor. Se esse credor quiser transferir o título a outra pessoa tem que fazer essa alteração no registro do emitente, geralmente, tendo que ter a assinatura de quem passa o título e a assinatura de quem assume o título. Além, é claro, da entrega do título. Títulos nominais são títulos que possuem o nome de seu titular ou do seu credor no próprio título, isso faz com que sejam nominais, palavra que deriva de nome. Identificam expressamente o seu titular. Títulos nominais à ordem têm como característica a sua transferência por meio do endosso. Veremos ainda o que é o endosso, mas saiba que o título nominal à ordem é a regra no nosso ordenamento. Letra de câmbio, nota promissória, cheque e duplicata são títulos nominais à ordem, pois essa é a regra, e, por isso, a sua transferência, de uma pessoa para outra, se dará por meio do endosso, que é a assinatura do titular, passando o título de crédito para outra pessoa. Títulos nominais não à ordem são em regra feitos para não circularem e, por isso, a sua transferência se dá por meio da cessão civil de crédito, o que acarreta algumas diferenças em relação à transferência por endosso. A cessão civil de crédito é a forma de transferência dos títulos de crédito não à ordem e não transferem todos os direitos inerentes ao título, além de serem regidos pelas regras do direito civil quanto a cessão de crédito e não são regidos pelas regras do endosso que segue o direito empresarial. Como são títulos nominais, concluímos que o nome do titular está no título, mas tem uma cláusula expressa dizendo “não à ordem” e por isso deixa de seguir a regra do endosso e passa a seguir a regra da cessão civil de crédito. Observação: Os títulos “à ordem” podem ser transformados em “não à ordem” pela inclusão da cláusula “não à ordem” no próprio título. 4.4. Quanto à Hipótese de Emissão - causais - abstratos Cadu Carrilho Aula 09 Receita Federal (Auditor Fiscal) Direito Comercial - 2022 (Pré-Edital) www.estrategiaconcursos.com.br 1843093Material adquirido em http://tiny.cc/RTCursos2021 17 Os títulos de crédito podem ser causais ou abstratos. Essa classificação tem relação com o motivo que ocasionou a emissão do título. Essa é uma parte da matéria que não tem um entendimento pacífico por parte dos doutrinadores e é preciso entendermos o que as bancas cobram sobre isso. Os títulos causais são os que só podem ser emitidos quando acontece o motivo previsto em lei. Há uma causa que enseja a emissão do título e, por lei, o título só poderá ser emitido quando essa causa acontecer. Exemplo desse tipo de título é a duplicata. A duplicata só pode ser emitida quando ocorrer compra e venda mercantil ou a prestação de serviços, nenhum outro motivo, ou nenhuma outra causa pode ensejar a emissão da duplicata. Então, é o tipo de título que tem uma causa para ser emitido. Há uma relação entre o título e o negócio que lhe deu origem. Os títulos abstratos são os que não dependem de nenhuma causa ou motivo específico para serem emitidos. Podem ser emitidos em qualquer hipótese, já que a lei não exige determinado título. Exemplo de títulos com hipótese de emissão abstrata ou não causais são os cheques, as notas promissórias e as letras de câmbio. Eu posso emitir um cheque para comprar um carro, ou pagar uma dívida, ou para pagar o almoço, ou para dar a alguém, ou até mesmo para uma compra venda mercantil. Entenda, na compra e venda mercantil não há obrigatoriedade de emissão de duplicata, é possível o pagamento de uma compra e venda por todos os meios admitidos no direito, o pensamento é inverso, eu só posso emitir a duplicata para uma operação de compra e venda mercantil. Observação: Existe uma certa divergência doutrinária quanto ao entendimento sobre a abstração como princípio, em que o título de crédito se desvincula do negócio que lhe deu origem, e a abstração como classificação do título de crédito. Alguns autores entendem que os títulos causais não são abstratos e, por isso, não se sujeitam ao princípioda abstração e sempre vão circular associados ao negócio de origem. Enquanto outros entendem que o princípio da abstração é aplicado a todos os títulos, inclusive os que se classificam como causais, já que mesmo havendo uma ligação entre o negócio de origem e o título, eles perdem essa ligação no momento que circulam. Vamos ficar com esse segundo entendimento, já que a maioria das bancas têm pensado assim também. Portanto, não confunda princípio da abstração com títulos classificados como abstratos quanto a hipótese de emissão. Os tribunais também têm se posicionado no sentido de aplicar o princípio da abstração a todos os títulos, inclusive os causais como as duplicatas. (CESPE/PGE-BA/Procurador/2014) A duplicata é um título causal, emitido exclusivamente com vínculo a um processo de compra e venda mercantil ou a um contrato de prestação de serviços e, por isso, é considerada um título cambiforme, ao qual não se aplica o princípio da abstração. Comentário: A duplicata é um título classificado como causal, já que há, inicialmente, um vínculo entre o negócio e o título, mas, mesmo os títulos causais, estão sujeitos aos princípios cambiais, e por isso até a esses será aplicado o princípio da abstração. Gabarito: Errada Cadu Carrilho Aula 09 Receita Federal (Auditor Fiscal) Direito Comercial - 2022 (Pré-Edital) www.estrategiaconcursos.com.br 1843093Material adquirido em http://tiny.cc/RTCursos2021 18 ATOS CAMBIÁRIOS A situação ideal de um título de crédito seria aquela em que uma pessoa emite o título e no dia do vencimento esse título é pago, mas sabemos que no mundo real não é tão simples assim. O legislador, então, precisou estipular regras de atos que derivam do título, e que podem ocorrer e acontecer ao longo da existência de um título. São atos que estipulam direitos e obrigações e que acarretam situações jurídicas para os envolvidos. Veremos mais para frente os títulos em espécie e os atos aplicáveis a cada título especificamente, mas acho bem interessante que, nesse momento, possamos ter uma visão geral em relação a cada ato cambiário. Exemplo: veremos agora o que é o endosso e suas características, porém quando estudarmos cheque, aprenderemos especificamente sobre as regras do endosso aplicáveis ao cheque. Classificação dos Títulos de Crédito Quanto ao modelo Quanto à estrutura Quanto à Forma de Circulação ou de Transferência Quanto à Hipótese de Emissão Livres Vinculados Ordem de pagamento Promessa de pagamento Ao portador Nominativos Nominais à ordem Nominais não à ordem Abstratos Causais Cadu Carrilho Aula 09 Receita Federal (Auditor Fiscal) Direito Comercial - 2022 (Pré-Edital) www.estrategiaconcursos.com.br 1843093Material adquirido em http://tiny.cc/RTCursos2021 19 1. Saque Saque é a emissão do título, é a criação do título, e o ato que faz nascer o título. Assim como no jogo de tênis ou de vôlei, o saque dá início ao ponto e coloca a bola em jogo, o saque no título de crédito dá início a uma relação jurídica e coloca o título em “jogo”. O título de crédito é um ato unilateral, pois é feito, preenchido e assinado por uma única pessoa. Diferente de um contrato onde a relação jurídica se estabelece pela vontade das partes e suas respectivas assinaturas, no título de crédito, no momento da criação, apenas a pessoa que faz o saque é quem assina o título. Os outros atos cambiários também ensejam o surgimento de novas relações jurídicas. Essa emissão, esse saque, em regra, fazem surgir algumas relações jurídicas específicas. No saque temos o sacador, o sacado e o tomador. O sacador é quem faz o saque, ou seja, a pessoa que emite o título e assina como emitente e é quem dá a ordem para que o título seja pago pelo sacado. Sacado é quem recebe a ordem para efetuar o pagamento. Tomador é o beneficiário, o credor desse título. A letra de câmbio, por ser uma ordem de pagamento, segue essa sistemática. Quem saca ou emite a letra é o sacador, não é o principal devedor, mas responde pelo pagamento da letra. O sacado será o destinatário da ordem e aceitando a ordem será o principal devedor. O tomador é o credor da letra. Na nota promissória o saque é feito pelo próprio principal devedor, ele faz uma promessa ao tomador que pagará o título de acordo com os dizeres da própria nota. Aqui não temos sacado já que é uma promessa de pagamento e não uma ordem. No cheque o sacador é a pessoa que emite e assina o cheque, o sacado, a quem a ordem é direcionada, é o banco e o tomador é o credor que consta no cheque. O sacador é o principal responsável e devedor no caso do cheque, o banco não tem responsabilidade sobre o pagamento do cheque se o devedor não tiver fundos na conta do banco. No cheque o termo “saque” é empregado de maneira diferente, saque no cheque é o ato de ir ao banco e retirar o dinheiro. Na duplicata o saque é feito pelo próprio credor. As partes fazem um determinado negócio jurídico que ensejará a emissão da duplicata. O próprio credor emite a duplicata e manda para o devedor aceitar, devolver e, no dia devido, pagar. O saque da duplicata é a emissão da duplicata. Familiarize-se com os termos saque, sacador, sacado e tomador, pois serão importantes para o aprendizado da matéria. 2. Aceite O título é emitido pelo sacador, mas nesse momento, o sacado, ou seja, a pessoa a quem a ordem é endereçada, ainda nem sabe da existência do título. Então, no momento que o título é emitido, o sacado ainda não tem nenhuma obrigação. O aceite é ato em que o sacado se compromete a pagar o título. O sacador emite o título e entrega ao credor, o credor leva esse título até o sacado para que esse sacado coloque a sua assinatura no título dizendo que aceita pagar a ordem, o sacado, então, aceita e devolve o título ao credor. Nesse momento, ele passa a ser o principal devedor do título. Aceite, portanto, é a declaração de vontade do sacado, assumindo o compromisso de cumprir o que está estipulado no título. O aceite caracteriza-se pela assinatura do aceitante no próprio título. Na letra de câmbio o aceite é facultativo. O sacado é o aceitante e no momento que assina, ele se obriga a efetuar o pagamento no vencimento ao credor. Se ele não aceitar, o credor pode voltar ao sacador e cobrar o pagamento. Na nota promissória não se fala em aceite já que o próprio emitente do título será o principal devedor, então, quem assina o título já tem o compromisso de pagar, pois fez essa promessa. Cadu Carrilho Aula 09 Receita Federal (Auditor Fiscal) Direito Comercial - 2022 (Pré-Edital) www.estrategiaconcursos.com.br 1843093Material adquirido em http://tiny.cc/RTCursos2021 1 20 No cheque não existe o aceite, já que o banco não tem que se responsabilizar pelo pagamento se o emitente do cheque não tiver fundos disponíveis cobrir o valor do cheque, então, o principal devedor do cheque é o próprio emitente também. Na duplicata o aceite é obrigatório, pois, pela lei, deve ser assim, a não ser que aconteça alguma das situações previstas em lei que permita ao devedor a não aceitação da duplicata. Nos casos em que o aceite é facultativo ele pode ser recusado, já que o sacado não é obrigado e essa recusa pode ser feita sem um motivo específico, quando o aceite é obrigatório, a recusa ao aceite deve ser devidamente motivada por alguma das causas previstas na lei. O aceite pode ser aceito parcialmente ou aceito com modificações das cláusulas do título, essa situação de aceite é considerada uma recusa parcial do aceite. A recusa do aceite faz com que o vencimento do título seja antecipado. 3. Endosso 3.1. Definição O endosso é um dos atos cambiários mais importantes, pois ele permite a circulação do título e faz surgir novas relações jurídicas. O endosso é o ato cambiário que transmite a titularidade do título de crédito à ordem. O endosso é a forma própria, prevista em lei, para a transferência do título de crédito à ordem de uma pessoa para outra.O endosso é a transferência de propriedade de um título. O credor do título transfere a outra pessoa com todos os direitos inerentes ao título de crédito. O endosso ocorre com a assinatura do credor no título e depois de assinar ele entrega o título. A pessoa que faz o endosso e passa o título é chamada de endossante e a pessoa que recebe o endosso e passa a ser o novo credor do título é chamada de endossatário. O endosso, ato sujeito às regras do direito cambiário, quando feito, produz alguns efeitos. O primeiro e mais importante é a transmissão do título, do crédito, juntamente com todos os direitos inerentes. Tem também o efeito de que o endossante passa a ser responsável pelo pagamento do título, nos casos em que o principal devedor não o fizer. O endossante passa a ser codevedor do título ou coobrigado. Então, quem passa o título por endosso pode ser responsabilizado pelo pagamento do título. Muita atenção, pois essa é a regra de responsabilidade do endossante prevista em todas as legislações especiais de título de crédito, menos no Código Civil que prevê algo diferente, aprenderemos. Imagina agora uma cadeia de endossos, onde o credor de um título faz um endosso, esse que recebe o título endossa para outro, que endossa para outro, que endossa para outro. Todos os endossantes são corresponsáveis pelo pagamento do título no caso em que o devedor principal não pague. Cada endossante tem uma responsabilidade independente e autônoma do outro endossante. Se o devedor principal não pagar, o credor final pode cobrar de qualquer endossante, sendo que os endossantes posteriores na cadeia de endossos podem cobrar em regresso dos endossantes anteriores. De modo que, se o primeiro endossante pagar o valor devido, ele só poderá cobrar em regresso do principal devedor. Se o último endossante pagar ele pode cobrar a dívida em regresso de qualquer endossante antes dele na cadeia. Cadu Carrilho Aula 09 Receita Federal (Auditor Fiscal) Direito Comercial - 2022 (Pré-Edital) www.estrategiaconcursos.com.br 1843093Material adquirido em http://tiny.cc/RTCursos2021 c 21 3.2. Assinatura Em regra, o endosso é feito na parte de trás do título, mas é possível também que o endosso seja feito na parte da frente. Se a assinatura do endossante for no verso do título, fica caracterizado o endosso, desde que essa assinatura seja do titular do crédito, mesmo que não escreva nada que se trata de um endosso. Se a assinatura for no anverso (frente), será necessário que se escreva que é um endosso. 3.3. Endosso X Cessão Civil de Crédito O endosso é o ato cambiário feito nos títulos de crédito à ordem. Os principais títulos de crédito brasileiro são títulos à ordem. A nota promissória, a letra de câmbio, o cheque e a duplicata são títulos de crédito à ordem e circulam por meio de endosso. Os títulos não à ordem circulam por meio de outro instituto que á a cessão civil de crédito. Pode, um título de crédito à ordem, ser transformado em um título não à ordem, quando o titular do crédito, antes de transferir, coloca expressamente a cláusula “não à ordem” no título, ou escreve alguma coisa dizendo que proíbe um novo endosso como “não endossável” ou “não transferível”. Nesses casos, o título pode até circular, mas essa transmissão será feita, não mais pelo endosso, e sim pela cessão civil de crédito. É interessante que você entenda a diferença entre o endosso e a cessão civil de crédito. O endosso é aplicável no direito cambiário e a cessão no direito civil. O endosso transfere todos os direitos inerentes ao regime jurídico cambiário, como a responsabilidade pelo pagamento, o direito de regresso contra os endossantes anteriores, a cobrança do avalista, a autonomia, a desvinculação com o negócio jurídico que deu origem ao título e a o fato de não poder invocar a exceção pessoal contra o credor de boa- fé. Já a transferência pela cessão civil não carrega esses direitos, o cedente não responde pelo pagamento do título, o cedente responde apenas com a existência do débito, mas não pelo seu pagamento. Portanto, o endossatário tem um crédito bem mais seguro do que o cessionário. Os títulos de crédito não à ordem são transmitidos pela cessão civil de crédito. 3.4. Endosso Sem Garantia Assim como é possível acrescentar a cláusula “não à ordem” ou a cláusula “proibido novo endosso”, é possível também que o endossante insira no título a cláusula “sem garantia”, isso faz com que ele não seja responsável pelo pagamento do título deixando de ser codevedor do título. Então, quem endossa, mas, antes de endossar, escreve no próprio título que não garante o pagamento, deixa de ser corresponsável ou coobrigado pelo pagamento do título. Cadu Carrilho Aula 09 Receita Federal (Auditor Fiscal) Direito Comercial - 2022 (Pré-Edital) www.estrategiaconcursos.com.br 1843093Material adquirido em http://tiny.cc/RTCursos2021 1 22 3.5. Endosso em Branco e em Preto O endosso pode ser em branco ou em preto. O endosso em branco é aquele em que o endossante assina o título, mas não coloca o nome de ninguém como endossatário, ou seja, o campo “endossatário” fica em branco. Endosso em branco é o que não identifica o seu beneficiário. Quando isso acontece, a pessoa que tem o título em mãos se torna o portador do título e credor, já que o título passa a ser um título ao portador. Esse portador pode até repassar esse título a outra pessoa por simples tradição. O endosso em preto é aquele em que o nome do endossatário, pessoa que recebe o título, consta expressamente no título. 3.6. Endosso Parcial As legislações sobre endosso proíbem o endosso parcial, já que ficaria bem complicado passar apenas parte do crédito a outra pessoa, em função do princípio da cartularidade. O endosso condicional também é proibido. Não há um limite estabelecido na lei para a quantidade de endosso. Concluindo, não pode ser feito endosso parcial, pois será considerado nulo; o endosso não pode ser feito sob condição já que deve ser puro e simples; não há limite para número de endossos em um mesmo título. 3.7. Endosso Impróprio O endosso próprio é o que acabamos de aprender, é o que transfere e transmite todos os direitos inerentes ao título, inclusive o de ser titular do crédito, além de cobrar o devedor. O endosso impróprio é diferente, já que é um tipo de endosso que faz com que o título troque de mãos, mas não é transferido todos os direitos do título. Quem recebe um título por endosso impróprio não é o titular do direito, mas tem a posse do título. Serve para legitimar a posse do título sem transferir o direito creditício. O endosso impróprio serve para as situações em que não se quer transferir o crédito, mas a pessoa que tem o título em mãos não é o beneficiário e titular, e esse endosso servirá para dar legitimidade a posse do título por essa pessoa, para que possa exercer alguns dos direitos que esse tipo de endosso vai proporcionar e que estão previstos na lei. O primeiro endosso impróprio é o endosso mandato. Só lembrar que mandato é feito por meio de procuração, ou seja, podemos dizer endosso procuração. O endosso mandato é aquele em que o titular do título de crédito assina o título dando poderes a outra pessoa para cobrar o valor devido no título do principal devedor. Pense no caso em que o dono do título não poderá ir até o devedor no dia do vencimento para cobrar o valor devido, então, é feito um endosso mandato para que seja possível entregar o título a outra pessoa, que, de posse do título e com o nome no endosso, possa cobrar o valor devido. Geralmente é feito assim: “pague-se, por procuração, a Fulano...” ou “valor a cobrar”, ou “para cobrança”. Muito usado para transferência do título ao banco, para que esse cobre o valor devido do principal devedor. Os bancos de posse de um título que receberam por endosso mandato vão usar todos os direitos permitidos para cobrar o valor devido. Se o devedor principal não pagar ao banco que tem o títuloe recebeu esse título por endosso mandato, o banco pode protestar. Essa situação de cobrança de bancos gerou muito problemas, pois muitos bancos excederam os poderes que tinham e várias ações chegaram ao STJ que sumulou o entendimento que vamos explicar agora. Cadu Carrilho Aula 09 Receita Federal (Auditor Fiscal) Direito Comercial - 2022 (Pré-Edital) www.estrategiaconcursos.com.br 1843093Material adquirido em http://tiny.cc/RTCursos2021 f 23 Imagina que na verdade uma duplicata foi emitida com problemas ou foi um título indevido, ou ainda, que o protesto feito foi indevidamente, pelo fato de o título já ter sido pago. Nesses casos, o credor do título responderá pelos danos sofridos pelo devedor, principalmente nos casos de protesto indevido. Só que se o banco não tem conhecimento que o crédito é indevido, ele não pode ser responsabilizado. O STJ já entendeu que nos casos em que o banco, ou qualquer endossatário de endosso mandato, protestem um título, mas depois esse protesto for constatado indevido, não cabe responsabilidade a esse endossatário. Claro que, não cabe responsabilidade se o banco que protestou não sabia que se tratava de um protesto indevido, se o banco souber que o título já foi pago e mesmo assim protestar, caberá sim a sua responsabilidade também. Ou seja, o endossatário de um título por endosso mandato só responde pelos danos causados por um protesto indevido se extrapolar os poderes conferidos pelo mandante ou pela lei. Súmula 476 do STJ: “O endossatário de título de crédito por endosso-mandato só responde por danos decorrentes de protesto indevido se extrapolar os poderes de mandatário”. O outro endosso impróprio é o endosso caução. Ou endosso garantia, ou ainda endosso pignoratício. É o endosso passado a uma pessoa como forma de transferir o título em garantia a algum empréstimo. A pessoa tem um título de crédito, pega um dinheiro emprestado com outra pessoa, quem empresta quer uma garantia para conceder esse empréstimo, e o dono do título entrega o título, mas a simples tradição do título não seria suficiente, então, coloca-se um endosso penhor no título que fica na posse de quem emprestou o dinheiro como garantia pelo pagamento da dívida. Esse endosso se escreve: “pague-se, por garantia, a Beltrano...” ou “valor em garantia” ou “em penhor” ou “por caução”. É apenas uma maneira de se constituir um penhor sobre o documento, é um tipo de endosso que transfere a posse do título como garantia de alguma obrigação. As pessoas que possuem um título por endosso impróprio não podem transferir o título a outra pessoa, só podem usar os direitos e poderes transferidos pelo tipo de endosso que lhes é passado. 3.8. Endosso Póstumo ou Tardio É o endosso feito após o protesto do título ou após o prazo para protestar. Ou seja, é um endosso que caracteriza uma transferência de um crédito “ruim”, feito muito tarde. A lei permite que esse tipo de endosso seja feito, mas ele não terá os mesmos efeitos que um endosso normal, pois foi feito fora do tempo e, por isso, sofrerá as consequências de ser considerado uma cessão civil de crédito. Não confunda com o endosso passado após o vencimento do título, esse pode ser feito sem acarretar essas consequências nefastas, o endosso após o vencimento do título vale como endosso normal. O endosso para ser chamada de póstumo ou tardio, como gosta a doutrina, é o que é feito após o título já estar protestado ou o que é feito após o prazo para que o protesto seja feito. 4. Aval Aval é uma garantia pessoal dada por terceiro no próprio título. Aval é um ato cambiário em que uma pessoa se obriga a pagar o título nas mesmas condições que a pessoa que está sendo por ela garantida. O aval é um reforço, uma garantia, dada ao credor para que o título seja pago. Cadu Carrilho Aula 09 Receita Federal (Auditor Fiscal) Direito Comercial - 2022 (Pré-Edital) www.estrategiaconcursos.com.br 1843093Material adquirido em http://tiny.cc/RTCursos2021 9 24 Visualize uma situação em que o credor do título de crédito não confia no devedor ou acha que o devedor talvez não tenha condição de pagar o título, esse credor pode pedir uma garantia, essa garantia é feita pelo aval, é uma garantia pessoal, já que uma outra pessoa, que não tem nada a ver com essa relação original, passa a fazer parte da relação cambiária. A pessoa que garante o pagamento por meio do aval se chama avalista. A pessoa garantida, ou seja, o devedor que recebe a garantia se chama avalizado. O avalizado pode ser tanto do principal devedor como pode ser de um endossante que é um codevedor do título. Entenda, o aval pode ser dado para garantir o pagamento do sacador, do sacado, do aceitante, ou ainda do endossante. O aval é feito por meio de uma assinatura do avalista no próprio título. Essa assinatura pode ser feita na frente do título, nesse caso não precisa escrever mais nada, já que a simples assinatura na frente do título caracteriza um aval. Um aval pode ser dado com a assinatura no verso também, mas, nesse caso, será preciso escrever no título “por aval” ou “bom para aval” ou ainda “por aval de Fulano”. O avalista, ao assinar o título, assume uma obrigação autônoma e solidária com seu avalizado em relação ao pagamento do título. Ou seja, não há benefício de ordem para a cobrança do título, o credor pode cobrar, no vencimento, tanto do credor como do seu avalista. E, mesmo que o devedor principal tenha bens suficientes para cobrir tal dívida, ainda assim, o avalista não pode se eximir dessa responsabilidade. Caberá ao avalista que pagar o título, ação de regresso contra seu avalizado em caso de pagamento. E é uma obrigação autônoma porque a possível anulação da obrigação do devedor principal não anula a obrigação do aval. Além de ser uma obrigação que precisa constar no próprio título em função dos outros princípios cambiais. É uma obrigação solidária, mas trata-se de uma solidariedade cambiária que difere um pouco da solidariedade civil, em função da impossibilidade de cobrança em regresso sobre as pessoas que vieram depois na cadeia, é uma solidariedade em que qualquer dos devedores pode ser acionado a pagar o título, mas apenas quem vem depois na cadeia pode fazer a cobrança de regresso contra os antecessores. Observação: Nas regras específicas de cada legislação é possível um aval parcial, seria o caso em que alguém aceita ser garantidor apenas de parte do valor no título. No entanto, o Código Civil proíbe aval parcial. O aval quando é feito com o nome da pessoa que será garantida, o avalizado, chama-se aval em preto e não gera maiores problemas. Entretanto, há casos em que o aval é feito, mas não se identifica quem é o avalizado, pois pode ser o sacador, o sacado, ou algum dos endossantes caso haja uma cadeia de endossos, é o aval em branco. A lei define que se o aval for em branco presume-se feito ao sacador na letra de câmbio; presume-se ao emitente na nota promissória; ao emitente no cheque e ao sacado na duplicata. O aval pode ser sucessivo ou pode ser simultâneo, são duas modalidades diferentes de avais. Aval sucessivo é o aval do aval, é um aval feito por uma quarta pessoa garantindo o pagamento sobre o aval do terceiro, é o aval do aval. Já o aval simultâneo é aquele em que há mais de um aval para o mesmo devedor, duas pessoas diferentes avalizando a mesma pessoa. No Direito Civil há um instituto que também se caracteriza por ser uma garantia pessoal dada por terceiros, é a fiança. É preciso entender as diferenças entre eles. 4.1. Aval X Fiança O aval é uma garantia do Direito Cambiário e a fiança é uma garantia do Direito Civil. O aval só é usado nas obrigações referentes aos títulos de crédito e a fiança pode ser usada nas obrigações contratuais. O aval deve ser feito no próprio título enquanto a fiança pode ser feita em ato separado. Cadu Carrilho Aula 09 Receita Federal (Auditor Fiscal) Direito Comercial - 2022 (Pré-Edital) www.estrategiaconcursos.com.br 1843093Materialadquirido em http://tiny.cc/RTCursos2021 5 25 A obrigação do avalista é autônoma em relação a do avalizado, ou seja, mesmo que nula ou viciada a obrigação do devedor, o avalista continua tendo que pagar o título e na fiança a obrigação do fiador não é autônoma, é uma obrigação acessória, que depende da obrigação principal, se a principal for nula, a fiança também será nula. No aval a responsabilidade é solidária e o avalista responde sem se falar em benefício de ordem, e nem ser levantada a questão de o devedor avalizado ter bens, já na fiança o fiador, em regra, invoca o benefício de ordem, já que é uma obrigação subsidiária e não solidária, e pode nomear e listar bens do devedor principal para pagar a obrigação antes que ele tenha que arcar. Na fiança o benefício de ordem pode ser mitigado pelas partes, o que vem acontecendo muito na prática nos contratos de locação de imóveis com fiador. Observação: Uma regra um tanto quanto controversa é em relação ao aval e a participação do cônjuge no aval. A doutrina critica essa regra, estabelece inclusive mecanismos de melhorar a prática dessa regra e o STJ já se pronunciou no sentido favorável a essa regra. Não vamos entrar nessa discussão. A regra é que o cônjuge não pode fazer um aval sem a autorização do outro cônjuge, só pode apor aval sem precisar pedir autorização nos casos de casamento no regime de separação absoluta. CC - Art. 1.647. Ressalvado o disposto no art. 1.648, nenhum dos cônjuges pode, sem autorização do outro, exceto no regime da separação absoluta: III - prestar fiança ou aval; 5. Protesto Protesto é um ato praticado pelo credor do título de crédito que, insatisfeito com o descumprimento de alguma obrigação no título, leva-o ao cartório, para que seja incorporado ao título a prova de fato relevante da relação cambial. Protesto é um ato formal e solene, pois deve ser feito nos parâmetros e exigências previstos em lei. É o ato que faz prova a favor do credor em relação a inadimplência e descumprimento de obrigação originada em título de crédito. Na verdade, o protesto pode ser usado para outros tipos de títulos, documentos e dívidas, mas veremos aqui as questões cambiais do protesto. Mais uma vez, vamos aprender as regras gerais do protesto previstas na Lei 9.492 de 1997 que define competência, regulamenta os serviços concernentes ao protesto de títulos e outros documentos de dívida e dá outras providências, e depois, em cada título veremos as regras específicas do protesto aplicáveis ao título em espécie. A definição da lei sobre o que é protesto é essa: Lei 9.492 de 1997 - Art. 1º Protesto é o ato formal e solene pelo qual se prova a inadimplência e o descumprimento de obrigação originada em títulos e outros documentos de dívida. Os órgãos e entidades do Poder Público também se utilizam do instrumento do protesto para fazer prova e materializar suas cobranças. Cadu Carrilho Aula 09 Receita Federal (Auditor Fiscal) Direito Comercial - 2022 (Pré-Edital) www.estrategiaconcursos.com.br 1843093Material adquirido em http://tiny.cc/RTCursos2021 26 Parágrafo único. Incluem-se entre os títulos sujeitos a protesto as certidões de dívida ativa da União, dos Estados, do Distrito Federal, dos Municípios e das respectivas autarquias e fundações públicas. O protesto pode ser feito por falta de aceite, por falta de devolução ou por falta de pagamento. A falta de aceite caracteriza-se pela entrega do título ao sacado e esse devolve o título sem aceitar, por não querer ou não concordar com os termos do título, esse protesto só pode ser feito até o dia do vencimento do título ou do prazo legal para a aceitação. A falta de devolução ocorre quando a pessoa que, deveria devolver o título com o aceite, resolve reter o título e não o devolve. Por fim, o protesto por falta de pagamento é o mais comum e poderá ser feito sempre que o principal devedor não pagar o título no dia do vencimento, já que esse tipo de protesto só pode ser feito após o vencimento do título. Art. 21. O protesto será tirado por falta de pagamento, de aceite ou de devolução. § 1º O protesto por falta de aceite somente poderá ser efetuado antes do vencimento da obrigação e após o decurso do prazo legal para o aceite ou a devolução. § 2º Após o vencimento, o protesto sempre será efetuado por falta de pagamento, vedada a recusa da lavratura e registro do protesto por motivo não previsto na lei cambial. O protesto por falta de pagamento é classificado pela doutrina em dois tipos, pode ser obrigatório ou pode ser facultativo. Um dos principais efeitos do protesto é a possibilidade de poder cobrar o título dos codevedores ou coobrigados, como endossantes e seus avalistas. Se um título não for pago e o credor não fizer o protesto no prazo legal, os coobrigados ficam livres de qualquer obrigação. Essa liberação já não acontece com o devedor principal que pode ser cobrado mesmo que o título não seja protestado. O protesto obrigatório é aquele feito dentro do prazo legal e que dá condão para que seja feita a cobrança também dos codevedores, sacador, endossantes e avalistas desses. Ou seja, para que os demais coobrigados pelo título sejam demandados, o protesto é requisito fundamental. O protesto preserva o direito de ação contra os devedores indiretos. O protesto facultativo é o que é feito fora do prazo legal, e que nem é necessário para que se cobre o principal devedor, mas poderá ser feito mesmo assim para dar mais força probante na cobrança do título. Observação: O prazo para o protesto obrigatório vai variar de acordo com o título. Em relação a letra de câmbio e a nota promissória temos a previsão na LUG que dá ao credor dois dias úteis após o vencimento. No cheque o prazo é até que se expire o prazo de apresentação ou primeiro dia útil seguinte a esse prazo. Nas duplicatas temos um prazo mais largo que é de trinta dias do vencimento. Em relação aos efeitos do protesto já falamos sobre o primeiro e mais importante que é a possibilidade de poder cobrar o título dos devedores indiretos, também chamados de coobrigados ou codevedores. O outro efeito do protesto é a interrupção da prescrição, afinal, o protesto é um ato inequívoco de que o credor não está parado, de que ele tem a intenção de cobrar o valor devido e não pago, então, quando o protesto é feito, o prazo de prescrição é interrompido, para de contar e volta a contar do início. Cadu Carrilho Aula 09 Receita Federal (Auditor Fiscal) Direito Comercial - 2022 (Pré-Edital) www.estrategiaconcursos.com.br 1843093Material adquirido em http://tiny.cc/RTCursos2021 27 O protesto também dá ao credor a possibilidade de pedir a falência do devedor, pois fica configurada a impontualidade injustificada ensejadora do pedido de falência. Por fim, o protesto tem como efeito a inscrição do devedor no cadastro de inadimplentes o que gera ao credor uma restrição ao crédito no mercado econômico. 5.1. Procedimento A lei prevê um procedimento específico no protesto tanto em relação ao credor insatisfeito do título como o que deve ser adotado pelo Tabelião. O Tabelião do Cartório do Protesto de Títulos é o competente para fazer o protesto. Art. 3º Compete privativamente ao Tabelião de Protesto de Títulos, na tutela dos interesses públicos e privados, a protocolização, a intimação, o acolhimento da devolução ou do aceite, o recebimento do pagamento, do título e de outros documentos de dívida, bem como lavrar e registrar o protesto ou acatar a desistência do credor em relação ao mesmo, proceder às averbações, prestar informações e fornecer certidões relativas a todos os atos praticados, na forma desta Lei. Primeiramente é feito o PEDIDO, depois a INTIMAÇÃO e então a LAVRATURA. O credor com o título, se quiser protestar, deve levá-lo ao cartório competente, caracterizando o pedido a ser instruído com o título original, em regra, há exceções quanto a essa questão do título original, pois tem título que pode ser protestado
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