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Variação Citogenética : Considerações Gerais Os fenótipos de muitos organismos são afetados por variações no número de cromossomos em suas células; às vezes, até mesmo alterações em parte de um cromossomo podem ser significativas. Essas diferenças numéricas geralmente são descritas como variações da ploidia do organismo. Organismos com conjuntos completos, ou normais, de cromossomos são euploides. Organismos que têm conjuntos adicionais de cromossomos são poliploides e o nível de poliploidia é descrito referindo-se a um número básico de cromossomos, geralmente designado por n. Assim, diploides, com dois conjuntos básicos de cromossomos têm 2n cromossomos; os triploides, com três conjuntos, têm 3n; os tetraploides, com quatro conjuntos, têm 4n; e assim por diante. Os organismos nos quais há deficiência ou excesso de determinado cromossomo, ou segmento de cromossomo, são aneuploides. Portanto, esses organismos sofrem de um desequilíbrio genético específico. Quanto à distinção entre aneuploidia e poliploidia, a aneuploidia é uma alteração numérica em parte do genoma, geralmente em um único cromossomo, enquanto a poliploidia é uma alteração numérica em um conjunto completo de cromossomos. A aneuploidia implica desequilíbrio genético, mas a poliploidia, não. Os citogeneticistas também catalogaram vários tipos de alterações estruturais nos cromossomos dos organismos. Por exemplo, um fragmento de um cromossomo pode ser fundido a outro cromossomo, ou um segmento dentro de um cromossomo pode ser invertido em relação ao restante desse cromossomo. Essas alterações estruturais são denominadas rearranjos. A segregação irregular de alguns rearranjos durante a Numéricas meiose torna possível associá-los à aneuploidia. Poliploidia são conjuntos extras de cromossomos que podem afetar a aparência e a fertilidade de um organismo. A poliploidia , presença de conjuntos extras de cromossomos, é bastante comum em vegetais, mas muito rara em animais. Muitas dessas espécies têm reprodução assexuada. Em animais, nos quais a reprodução é basicamente sexuada, a poliploidia é rara, provavelmente porque interfere no mecanismo de determinação sexual. Um efeito geral da poliploidia é o aumento do tamanho da célula. Com frequência, o aumento de tamanho é relacionado com o aumento geral de tamanho do organismo. As espécies poliploides tendem a ser maiores e mais robustas que as diploides correspondentes. Essas características têm um significado prático para os seres humanos, cuja alimentação depende de muitas espécies vegetais poliploides. Tais espécies tendem a produzir sementes e frutos maiores, portanto, têm maior rendimento agrícola. Trigo, café, batata, banana, morango e algodão são vegetais poliploides, assim como muitas plantas ornamentais cultivadas , entre elas rosas, crisântemos e tulipas. Poliploides Estéreis Apesar da aparência física robusta, muitas espécies poliploides são estéreis. Conjuntos extras de cromossomos têm segregação irregular na meiose, com a produção de gametas muito desequilibrados (i.e, aneuploides). Caso haja união desses gametas na fertilização, os zigotos produzidos quase sempre morrem. A iniviabilidade dos zigotos explica por que muitas espécies poliploides têm fertilidade reduzida. Como exemplo, vamos considerar uma espécie triploide com três conjuntos idênticos de n cromossomos. Portanto, Poliploidia o número total de cromossomos é 3n. Durante a meiose, cada cromossomo tenta formar par com seu homólogo. Uma possibilidade é de que haja pareamento de dois homólogos ao longo de todo o comprimento, deixando o terceiro sem par; esse cromossomo solitário é denominado univalente. Outra possibilidade é a sinapse dos três homólogos, formando um trivalente, no qual há pareamento parcial de cada membro com os dois outros. Ambos os casos gerarão células aneuploides quando os cromossomos se separarem durante a anáfase da primeira divisão meiótica. Uma vez que esse problema se aplica a cada trio de cromossomos na célula, o número total de cromossomos nos gametas de uma espécie triploide será amplamente variado, sendo a maioria aneuploide. É quase certa a morte dos zigotos formados por fertilização desses gametas; assim, a maioria dos triploides é totalmente estéril. Na agricultura e na horticultura, essa esterilidade é contornada pela propagação assexuada das espécies. Os muitos métodos de propagação assexuada incluem cultivo a partir de estacas (bananas), enxertos (maçãs Winesap, Gravenstein e Baldwin) e bulbos (tulipas). Na natureza, as plantas poliploides também podem se reproduzir de maneira assexuada. Um mecanismo é a apomixia, no qual há meiose modificada com produção de oosferas não reduzidas; essas oosferas formam sementes que germinam e dão origem a novas plantas. O dente-de- leão, uma planta poliploide muito produtiva, reproduz-se dessa maneira. Poliploides Férteis As incertezas meióticas que ocorrem em triploides também ocorrem em tetraploides, que têm quatro conjuntos idênticos de cromossomos e, portanto, também são estéreis. Alguns tetraploides, porém, são capazes de gerar prole viável. Essas espécies contêm dois conjuntos distintos de cromossomos e que cada conjunto foi duplicado. Os tetraploides férteis parecem ter se originado por duplicação cromossômica em híbrido produzido pelo cruzamento de duas espécies diploides diferentes, mas aparentadas; na maioria das vezes, essas espécies têm números de cromossomos iguais ou muito semelhantes. Suponhamos que dois organismos diploides, A e B, são cruzados e produzem um híbrido que recebe um conjunto de cromossomos de cada espécie parental. Esse híbrido provavelmente será estéril porque não é possível o pareamento dos cromossomos A e B. Contudo, se houver duplicação dos cromossomos desse híbrido, a meiose prosseguirá em ordem razoável. Evidentemente, essa situação de hibridização entre espécies diferentes, mas relacionadas, seguida por duplicação dos cromossomos ocorreu muitas vezes durante a evolução dos vegetais. Em alguns casos, o processo ocorreu repetidas vezes, gerando poliploides complexos com diferentes conjuntos de cromossomos. Um dos melhores exemplos é o trigo moderno, Triticum aestivum. Os citogeneticistas identificaram cereais primitivos no Oriente Médio que podem ter participado desse processo evolutivo. Em 2010, grande parte do DNA do genoma do trigo foi sequenciada. Esse genoma é muito grande, corresponde a aproximadamente o quíntuplo do tamanho do genoma humano. A análise de todas essas sequências de DNA ajudará a compreender a história evolutiva do trigo. Por ser menor a probabilidade de que cromossomos de espécies diferentes interfiram na segregação um do outro durante a meiose, é muito maior a chance de fertilidade de poliploides originados de hibridizações entre espécies diferentes que a de poliploides originados da duplicação de cromossomos de uma única espécie. Os poliploides criados por hibridização entre diferentes espécies são denominados alopoliploides , nesses poliploides, os genomas formadores são qualitativamente diferentes. Os poliploides criados por duplicação de cromossomos na mesma espécie são denominados autopoliploides, nesses poliploides, houve multiplicação de um genoma para criar conjuntos extras de cromossomos. A duplicação dos cromossomos é um processo essencial na formação de poliploides. Um possível mecanismo é a entrada da célula em mitose sem que haja citocinese. Essa célula terá o dobro do número habitual de cromossomos. Por meio de divisões subsequentes, pode originar um clone de células poliploides, que contribuíram paraa propagação assexuada do organismo ou para a formação de gametas. Em vegetais, é preciso lembrar que a linhagem germinativa não é separada no início do desenvolvimento, como ocorre em animais. Na verdade, os tecidos reprodutivos só se diferenciam depois de muitos ciclos de divisão celular. Se houve duplicação acidental dos cromossomos durante uma dessas divisões celulares, os tecidos reprodutivos desenvolvidos mais tarde podem ser poliploides. Outra possibilidade é a alteração da meiose de maneira a produzir gametas não reduzidos (com o dobro do número normal de cromossomos). Se esses gametas participarem da fertilização, os zigotos serão poliploides. Esses zigotos podem dar origem a organismos maduros que dependendo da natureza da poliploidia, podem ser capazes de produzir gametas. Poliplodia e Politenia Tecido – Específica Em alguns organismos, determinados tecidos tornam-se poliploides durante o desenvolvimento. A poliploidização provavelmente é uma resposta à necessidade de várias cópias de cada cromossomo e dos genes nele existentes. A endomitose, processo que produz células poliploides, requer duplicação do cromossomo, seguida por separação das cromátides-irmãs resultantes. No entanto, por não haver divisão celular associada, ocorre acúmulo de cromossomos extranumerários no núcleo. No fígado e no rim humanos, por exemplo, um ciclo de endomitose produz células tetraploides. Às vezes, a poliploidização ocorre sem a separação das cromátides-irmãs. Nesses casos, os cromossomos duplicados acumulam-se próximos uns dos outros, formando um feixe de filamentos paralelos alinhados. Os cromossomos resultantes são denominados politênicos. Os exemplos mais espetaculares de cromossomos politênicos são encontrados nas glândulas salivares de larvas de Drosophila. Cada cromossomo passa por nove ciclos de replicação, produzindo um total aproximado de 500 cópias em cada célula. Os cromossomos politênicos de Drosophila são retidos na intérfase do ciclo celular. Assim, embora a maioria das análises citológicas seja feita em cromossomos mitóticos, as análises mais completas e detalhadas são realizadas em cromossomos interfásicos politenizados. Esses cromossomos são encontrados em muitas espécies da ordem de insetos Diptera, inclusive em moscas e mosquitos. Infelizmente, os seres humanos não têm cromossomos politênicos; assim, a análise citológica de alta resolução que é possível em Drosophila não é possível em nossa própria espécie. Aneuploidia A aneuploidia é a representação insuficiente ou excessiva de um cromossomo ou um segmento de cromossomo pode afetar o fenótipo. Aneuploidia é a alteração numérica de parte do genoma, geralmente a alteração na dose de um único cromossomo. Indivíduos que têm um cromossomo a mais , um cromossomo a menos ou uma combinação dessas anomalias são aneuploides. Essa definição também inclui segmentos de cromossomos. Assim, um indivíduo com deleção do braço de um cromossomo também é considerado aneuploide. A aneuploidia foi estudada em vegetais, nos quais se demonstrou que o desequilíbrio cromossômico geralmente tem efeito fenotípico. O estudo clássico foi o de Albert Blakeslee e John Belling, que analisaram anomalias cromossômicas no estramônio, Datura stramonium. Examinando os cromossomos das plantas mutantes, Belling constatou a presença de um cromossomo extranumérico em todos os casos. A análise detalhada verificou que o cromossomo extra era diferente em cada linhagem mutante. Ao todo, eram 12 mutantes diferentes, cada um deles correspondente à triplicação de um dos cromossomos de Datura. Essas triplicações são chamadas trissomias. As irregularidades de transmissão desses mutantes eram consequência do comportamento anômalo do cromossomo durante a meiose. Belling também descobriu o motivo da transmissão preferencial dos fenótipos trissômicos pelo sexo feminino. Durante o crescimento do tubo polínico, o pólen aneuploide – em especial, o pólen com n + 1 cromossomos – não compete bem com o pólen euploide. Desse modo, vegetais trissômicos quase sempre herdam o cromossomo extra do genitor de sexo feminino. O trabalho de Belling com Datura demonstrou a necessidade de que cada cromossomo esteja presente na dose apropriada para o crescimento e o desenvolvimento normais. Desde o trabalho de Belling, identificaram-se aneuploides em muitas espécies, inclusive a nossa. Um organismo com ausência de um cromossomo, ou um segmento de cromossomo, é hipoploide. Um organismo com um cromossomo, ou um segmento de cromossomo, a mais é hiperploide. Esses termos abrangem uma grande variedade de anormalidades. Trissomia em Seres Humanos A anormalidade cromossômica mais conhecida e mais comum em seres humanos é a síndrome de Down, distúrbio causado por um cromossomo 21 extranumérico. Essa síndrome foi descrita pela primeira vez em 1866, por Langdon Down, médico britânico, mas a base cromossômica só foi compreendida com clareza em 1959. As pessoas com síndrome de Down geralmente são baixas e têm hipermobilidade articular, sobretudo nos tornozelos , crânio largo, narinas amplas, língua grande com sulcos característicos, mãos curtas e largas com prega palmar e comprometimento mental. A expectativa de vida das pessoas com síndrome de Down é muito menor que das outras pessoas. Além disso, quase sempre elas desenvolvem doença de Alzheimer, um tipo de demência bastante comum em idosos. As pessoas com síndrome de Down, porém, desenvolvem essa doença na quarta ou quinta década de vida, muito mais cedo que as outras pessoas. O cromossomo 21 a mais na síndrome de Down é um exemplo de trissomia. Existem ao todo 47 cromossomos, entre eles dois cromossomos X além do cromossomo 21 extra. Portanto, o cariótipo é 47, XX, +21. A trissomia do 21 pode ser causada por não disjunção do cromossomo em uma das divisões meióticas. O evento de não disjunção pode ocorrer em qualquer um dos pais, porém é mais provável no sexo feminino. Além disso, a frequência de não disjunção aumenta com a idade materna. Assim, nas mulheres com menos de 25 anos, o risco de ter um filho com síndrome de Down é aproximadamente 1 em 1.500, enquanto nas mulheres de 40 anos, é de 1 em 100. Esse aumento do risco é causado por fatores que afetam adversamente o comportamento meiótico do cromossomo à medida que a mulher envelhece. Nas mulheres,a meiose começa na vida fetal, mas só é concluída depois da fertilização do ovócito. Durante o longo período antes da fertilização, as células meióticas permanecem na prófase da primeira divisão. Nesse estado de pausa, os cromossomos podem perder o par. Quanto maior é a duração da prófase, maior é a chance de que não haja pareamento nem disjunção subsequente do cromossomo. Portanto, as mulheres mais velhas são mais propensas a produzir ovócitos aneuploides. Também há relato de trissomias dos cromossomos 13 e 18. No entanto, são raras , os indivíduos afetados apresentam anormalidades fenotípicas graves e vivem pouco, geralmente morrendo nas primeiras semanas de vida. Outra trissomia viável observada em seres humanos é o cariótipo triplo- X, 47, XXX. Esses indivíduos sobrevivem porque dois ou três cromossomos X são inativados, reduzindo a dose do cromossomo X, de maneira que se aproxime do nível normal de um. Os indivíduos triplo-X são do sexo feminino e tem fenótipo normal, ou quase; às vezes há leve comprometimento mental e diminuição da fertilidade. O cariótipo 47, XXY, também é uma trissomia viável em seres humanos. Esses indivíduos tem três cromossomos sexuais, dois X e um Y. Tem fenótipo masculino, mas também podem apresentar algumascaracterísticas sexuais secundárias femininas e geralmente são estéreis. Em 1942, H. F. Klinefelter descreveu as anormalidades associadas a esse distúrbio, agora denominado síndrome de Klinefelter, inclui testículos pequenos, mamas aumentadas, membros longos, genuvalgo e menor desenvolvimento dos pelos corporais. O cariótipo XXY pode originar-se pela fertilização de um ovócito excepcional XX por um espermatozoide Y ou pela fertilização de um ovócito X por um espermatozoide excepcional XY. O cariótipo XXY representa cerca de três quartos de todos os casos de síndrome de Klinefelter. Outros casos têm cariótipos mais complexos. Todos os indivíduos com síndrome de Kleinefelter têm um ou mais corpúsculos de Barr nas células, e aqueles que têm mais de dois cromossomos X geralmente têm algum grau de comprometimento mental. O cariótipo 47, XYY é outra trissomia viável em seres humanos. Esses indivíduos são do sexo masculino e, exceto pela tendência a serem mais altos que os homens 46, XY, não apresentam uma síndrome constante de características. Todas as outras trissomias em seres humanos são letais no período embrionário, mostrando a importância da dose correta do gene. Ao contrário do que ocorre em Datura, no qual todas as trissomias possíveis são viáveis, os seres humanos não toleram muitos tipos de desequilíbrio cromossômico. Monossomia A monossomia ocorre quando há ausência de um cromossomo em indivíduo diploide. Em seres humanos, só existe um monossômico viável, o cariótipo 45, X. Esses indivíduos têm um só cromossomo X e um complemento diploide de autossomos. O fenótipo é feminino, mas, por terem ovários rudimentares, são quase sempre estéreis. Os indivíduos 45,X geralmente são baixos; têm pescoço alado, deficiência auditiva e anormalidades cardiovasculares significativas. Henry H, Turner foi o primeiro a descrever o distúrbio em 1938; por isso, agora é denominado síndrome de Turner . Os indivíduos 45, X podem originar- se de ovócitos ou espermatozoides sem um cromossomo sexual ou da perda de um cromossomo sexual na mitose algum tempo depois da fertilização. Muitos indivíduos com síndrome de Turner são mosaicos somáticos. Essas pessoas têm dois tipos de células no corpo; algumas são 45, X e outras, 46,XX. Obviamente, esse mosaicismo do cariótipo surge quando há perda de um cromossomo X durante o desenvolvimento de um zigoto 46,XX. Todos os descendentes da célula em que houve perda são 45,X. Se a perda ocorrer no início do desenvolvimento, uma fração considerável das células do corpo será aneuploide e o indivíduo apresentará características de síndrome de Turner. Se a perda ocorrer mais tarde, a população de células aneuploides será menor, a intensidade da síndrome tende a ser menor. As pessoas com cariótipo 45,X não tem corpúsculos de Barr nas células, indicando que o único cromossomo X presente não foi inativado. Por que, então, as pacientes com síndrome de Turner, que têm o mesmo número de cromossomos X ativos que as mulheres XX normais, têm anormalidades fenotípicas ? A resposta provável é que um pequeno número de genes permanece ativo nos dois cromossomos X em mulheres 46,XX normais. Aparentemente, esses genes não inativados são necessários em dose dupla para o crescimento e o desenvolvimento apropriados. A constatação de que pelo menos alguns desses genes especiais ligados ao X também estão presentes no cromossomo Y explicaria por que os homens XY crescem e se desenvolvem normalmente. Além disso, o cromossomo X que foi inativado nas mulheres 46,XX é reativado durante a ovocitogênese.
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