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Transtorno de Acumulação


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Transtorno de 
Acumulação 
Profª. Simone Biangolino 
Transtorno de Acumulação 
▪ A ACUMULAÇÃO COMPULSIVA ou disposofobia (fobia 
por se disfazer das coisas), consiste na aquisição ou 
recolha ilimitada de objetos de pouca ou nenhuma 
utilidade, muitas vezes já deixados no lixo por outras 
pessoas. 
A ACUMULAÇÃO 
COMPULSIVA também 
é conhecida como 
Síndrome de Miséria 
Senil, por muitas 
vezes (mas nem 
sempre) acometer 
pessoas de mais 
idade ou Síndrome de 
Diógenes, devido ao 
filósofo grego que 
vivia como um 
mendigo recolhia da 
rua inúmeros objetos 
sem valor. 
 
Transtorno de Acumulação 
▪ A ACUMULAÇÃO 
COMPULSIVA é um 
transtorno emocional com 
fortíssima repercussão 
comportamental e cognitiva 
caracterizado por 
recolhimento excessivo e 
incapacidade para 
descartar coisas, 
geralmente sem utilidade. 
▪ O comportamento de ACUMULAÇÃO COMPULSIVA 
geralmente causa, para a pessoa que sofre da doença e para 
membros da família, prejuízo emocional, social, financeiro, 
físico e até mesmo legal. 
▪ Os acumuladores compulsivos juntam grande quantidade 
de coisas, geralmente em completa desordem, ocupando 
áreas excessivas da casa ou do local de trabalho que fazem 
falta às demais pessoas. 
Nos casos graves o paciente 
começa enchendo um quarto de 
quinquilharias, depois outro, a sala, 
cozinha e logo não sobra espaço 
para mais nada na casa. 
▪ Algumas pessoas acumuladoras compulsivas podem não ter 
senso crítico da anormalidade e morbidade de sua atitude, mas, 
não obstante, seu comportamento costuma ser angustiante 
para outras pessoas, como por exemplo familiares, vizinhos, 
amigos. 
▪ Muitas vezes a pessoa 
acumuladora compulsiva perde 
o controle para organizar e 
selecionar seus objetos 
acumulados gastando todo seu 
tempo disponível nessa 
atividade completamente estéril. 
Dessa forma as coisas acumuladas passam a 
dominar sua vida, a qual parece fazer sentido apenas 
para adquirir compulsivamente mais coisas sem 
jamais conseguir se libertar delas. 
 
Existe uma clara separação entre o acumulador 
compulsivo e o colecionador. 
▪ Mesmo que o colecionador seja compulsivo para adquirir objetos de sua coleção, como selos, carros, 
borboletas, bonecas, games, bichos de estimação, relógios, etc., ele tende a organizar os objetos 
racionalmente, respeita sensatamente o espaço, os valores e as possibilidades práticas de aquisição. 
▪ Os acumuladores compulsivos, por sua vez, são incapazes de organizar o seu espaço de convivência, 
perdem o autocontrole para adquirir ou de se desfazer das coisas. 
 
 
COLECIONADOR 
COMPULSIVO 
ACUMULADOR 
COMPULSIVO 
Acumulação Compulsiva e TOC 
▪ Há uma tendência em aceitar a hipótese da acumulação 
compulsiva ser uma síndrome separada do Transtorno 
Obsessivo-Compulsivo (TOC), mas com alta comorbidade com ele 
e com outras patologias emocionais, como por exemplo, quadros 
fóbicos-ansiosos e depressivos (Samuels et al, 2007). 
▪ O TOC tende a aumentar e 
a diminuir, enquanto o 
COMPORTAMENTO DE 
ACUMULAÇÃO pode 
começar cedo na vida e 
piorar a cada década que 
passa (Ayers, Saxena, Golshan e Wetherell, 
2010). 
▪ Os ACUMULADORES COMPULSIVOS e os portadores de TOC com 
sintoma de colecionismo são os pacientes que menos 
respondem ao tratamento, especialmente quando os sintomas 
são graves, com insight pobre ou ausente. 
Esses pacientes respondem muito pouco 
tanto à Terapia Cognitivo Comportamental 
como aos tratamentos farmacológicos 
 
▪ Grisham (2007) entre outros pesquisadores, identificou que 
pacientes com acumulação compulsiva grave nem sempre 
satisfaziam os critérios diagnósticos para o TOC. 
 
▪ Por outro lado, a ACUMULAÇÃO COMPULSIVA pode ser de um 
sintoma de certos casos de TOC, quando recebe o nome de 
“colecionismo”, aparecendo em 15% a 40 % dos pacientes. 
 
▪ Em cerca de 5% dos casos de Transtorno de Acumulação 
Compulsiva a doença é incapacitante (Rasmussen, 1993). 
1. Aquisição excessiva de coisas; 
2. Dificuldade de descartar qualquer coisa; 
3. Viver em desordem excessiva em condições mais 
bem caracterizadas como desorganização grave 
 
Características Clínicas 
As três características principais desse problema são: 
▪ Segundo critérios de diagnóstico da DSM.5, os sintomas da 
doença são suficientes para causar sofrimento significativo ou 
prejuízo no funcionamento social, ocupacional ou outras áreas 
importantes de funcionamento, incluindo a incapacidade para 
manutenção de um ambiente satisfatório para si e/ou para os 
outros. 
▪ Estimativas de prevalência variam entre 2% a 5% da população, o 
que é duas vezes mais do que a prevalência de TOC. 
 
▪ A manifestação clínica não parece estar relacionada à questões 
culturais, uma vez que tem o seu registro de ocorrência em várias 
partes do mundo e nas mais variadas culturas. 
2-5% 
▪ A maioria dos pacientes com acumulação compulsiva tende a ser 
de mulheres e em idade mais madura. 
 
 
 
 
 
▪ Embora outro grupo de pesquisadores (Frost, Steketee & Tolin, 2012) refiram 
que os números de ocorrências entre homens e mulheres são 
quase iguais. 
▪ Na psiquiatria da infância e adolescência observa-se a mesma 
predileção, com 53% de meninas versus 36% de meninos (Mataix e 
cols., 2008). 
▪ A idade média em que essas pessoas procuram tratamento é de 
aproximadamente 50 anos, depois de muitos anos de 
acumulação (Grisham, Norberg & Certoma, 2012; Grisham, Frost, Steketee, Kim & Hood). 
Diagnóstico 
▪ Alguns sinais da Acumulação Compulsiva de utilidade para o 
diagnóstico seriam: 
Recolher e acumular excessivamente bens e objetos que a maioria das pessoas joga fora, tais como sucatas ou lixo, 
embalagens, jornais velhos, etc. e amontoá-los em pilhas. 
Incapacidade ou grande dificuldade, angústia e indecisão ansiosa associado às tentativas e solicitações para 
descartar os objetos acumulados. 
Viver em condições precárias de salubridade e em desorganização por conta do acumulo excessivo de bens e objetos, 
além de não permitir que alguém arrume ou limpe essa desorganização. 
Desvirtuar o espaço da casa da real finalidade a que se destina (cozinha para cozinhar, banheiro para tomar banho, 
quarto para dormir…) para ocupá-lo pelos objetos acumulados. 
Em alguns casos, ter muitos animais de estimação e não cuidar deles da melhor maneira — transtorno de acumulação 
de animais. 
Negar que seja exagerado o acúmulo compulsivo, ter vergonha e constrangimento deste hábito e, mesmo assim, não 
conseguir controlar o impulso. 
Os sintomas causam sofrimento significativo ou prejuízo em áreas sociais, ocupacionais ou outras importantes de 
funcionamento da pessoa. 
▪ Uma das recomendações dos manuais de classificação com a 
finalidades de avaliar a gravidade do quadro é sobre o juízo crítico 
e noção da morbidade que o portador do transtorno tem sobre 
sua situação. 
 
▪ A ausência de insight ou percepção pobre da morbidade da 
doença é um dos fatores consistentemente associados ao 
insucesso do tratamento, ao abandono dos medicamentos e da 
terapia, ou seja, à não-resposta aos tratamentos tanto 
farmacológicos como psicoterápicos (Catapano, 2010). 
▪ Obviamente, se o paciente não acredita que seu comportamento 
seja bizarro, anômalo, doentio, mórbido e que ele precisa de 
ajuda, até mesmo para benefício e alívio das pessoas que 
convivem com ele, então ele jamais acreditará que precisa de 
tratamento. 
Não haverá disposição ou motivação para 
empenhar-se em ser uma pessoa melhor. 
 
▪ Um outro requisito para o diagnóstico de ACUMULAÇÃO 
COMPULSIVA é que todos esses sintomas não fazem parte do 
quadro sintomático de outro transtorno mental, como por 
exemplo a demência, estados confusionais e, inclusive, o TOC. 
Nesse último caso, por exemplo, o 
diagnóstico seria de TOC com 
sintoma de colecionismo. 
 
▪ No caso da ACUMULAÇÃO DE ANIMAIS avalia-se, da mesma 
forma, o juízo crítico sobre o controle do espaço, os eventuais 
problemas sanitários envolvidos, a qualidadede cuidados 
dispensada aos animais, entre outros. 
 
▪ Além de possuir um número 
excepcionalmente elevado de 
animais, acumuladores de 
animais são caracterizados pela 
insuficiência ou incapacidade 
de cuidar dos animais e 
fornecer alojamentos 
adequados, o que resulata em 
ameaças e à segurança, devido 
às condições insalubres 
associadas aos resíduos 
animais acumulados 
▪ Há casos em que alguns animais são até mesmo encontramos 
“guardados” mortos, dispostos no chão ou a céu aberto ou 
armazenados no freezer. 
 
▪ Alguns critérios de insucesso no tratamento do TOC se aplicam 
também no caso dos Acumuladores Compulsivos. Um desses 
critérios mais importante de sucesso está atrelado à autocrítica, 
aqui sistematizada em três possibilidades. 
1. Visão boa ou razoável: Quando o paciente reconhece que as crenças e comportamentos 
referentes à dificuldade de descartar objetos recolhidos, à desordem, a ocupação do espaço ou 
aquisição excessiva são realmente problemáticas e gostaria que não fosse assim. 
2. Percepção Pobre (insight pobre): É quando o paciente acredita, sem muita convicção, de que 
as crenças e comportamentos referentes a dificuldade para descartar objetos, a desordem ou 
aquisição excessiva não são problemáticas, apesar das evidências em contrário. 
3. Percepção Delirante: Quando o paciente está completamente convencido de que as crenças e 
comportamentos referentes a dificuldade para descartar objetos, a desordem ou aquisição 
excessiva não são problemáticas, apesar das evidências em contrário. 
▪ Com frequência a perturbação 
conduz o paciente ao 
isolamento, restringe sua 
mobilidade social e chega a 
interferir na realização das 
tarefas básicas do dia-a-dia, tais 
como a alimentação, a higiene, 
a forma de se vestir e a 
utilização mais saudável de seu 
tempo. 
▪ Embora a ACUMULAÇÃO 
COMPULSIVA não seja 
uma perturbação mental 
presente desde sempre 
na vida da pessoa, 
alguns traços de 
personalidade 
cumulativa, e comuns 
nesse transtorno, podem 
ter existido 
precocemente. 
▪ Casas e quintais de alguns 
pacientes, com frequências 
considerável, chamam a 
atenção das autoridades de 
saúde pública (Tolin, 2011). 
Psicodinâmica 
▪ Fazer compras em excesso ou colecionar coisas 
compulsivamente, podem ser respostas à sentimentos de tristeza 
(até mesmo com aspectos depressivos). 
 
 
Mas ao contrário da maioria das pessoas que gostam de 
fazer compras ou colecionar objetos, esses indivíduos 
sofrem de FORTE ANSIEDADE e ANGÚSTIA relativa a não 
jogar nada fora, porque tudo tem algum potencial de uso 
ou valor sentimental em suas mentes, ou simplesmente 
se torna uma extensão de sua própria identidade. 
▪ Alterações cognitivas e 
emocionais associadas à 
acumulação incluem 
uma ligação emocional 
extraordinariamente forte 
com posses, um desejo 
exagerado de controle 
sobre os bens e déficits 
marcantes decidir 
quando a posse deve ser 
mantida ou descartada. 
Neurofisiologia 
▪ Pessoas com distúrbio de acumulação compulsiva apresentam 
diferenças na função cerebral quando comparadas à população 
geral. 
Segundo Tolin, o cérebro dos acumuladores compulsivos 
responde de maneira diferente em relação à outras 
pessoas quando estimuladas a descartar objetos, 
geralmente manifestando ativação excessiva no córtex 
cingulado anterior, região do cerebral envolvida na 
tomada de decisões, principalmente decisões que 
envolvam informações conflituosas e falta de certeza. 
▪ A atividade também se mostrou elevada na ínsula, região que 
monitora o estado emocional e físico. Essa região está envolvida 
em sensações como nojo, vergonha e outras emoções negativas 
fortes. Juntas, essas regiões ajudam o indivíduo a decidir a 
importância dos objetos (Tolin, 2012). 
▪ Um estudo analisou os mecanismos neurológicos da tomada de 
decisão sobre o que manter ou descartar entre os indivíduos com 
TRANSTORNO DE ACUMULAÇÃO, e foram encontradas diferenças 
específicas em áreas do cérebro relacionadas com problemas ao 
identificar o significado emocional de um objeto e a geração de 
respostas emocionais adequadas (Tolin et al, 2012 – “Neuronal mechanisms of 
decision making in hoarding disord”).