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Excelentíssimo Senhor Doutor Juiz de Direito da ____ Vara Criminal da Comarca de XXXXXX do Estado XXXXXXX Processo nº: 0000000 RENATO, já qualificado nos autos da ação penal em epígrafe que lhe move o Ministério Público, por meio de seu Advogado que a esta subscreve, vem, tempestivamente, à presença de Vossa Excelência, não se conformando com a sentença condenatória encartada nos autos d, com espeque no artigo 593, inciso I, do Código de Processo Penal, interpor: RECURSO DE APELAÇÃO CRIMINAL Para a Colenda Câmara Criminal do Tribunal de Justiça do Estado, requerendo, desde já, seja recebido, autuado o presente recurso com as inclusas razões de apelação, pugnando pela válida intimação da parte recorrida para apresentação de contrarrazões, bem como que seja encaminhado, posteriormente à Câmara Criminal do Tribunal de Justiça, para apreciação. Termos em que pede deferimento. Estado - XX, 15 de junho de 2021. Advogado OAB/XX nº RAZÕES DE APELAÇÃO APELANTE: RENATO APELADO: MINISTÉRIO PUBLICO Egrégio Tribunal de Justiça, Colenda Câmara Criminal, Senhores Desembargadores. Em que pese o notório saber jurídico do Magistrado sentenciante, merece reforma a sentença condenatória encartada nos autos, conclusão a que chegará esta colenda câmara criminal após análise das razões fáticas e jurídicas a seguir: DOS FATOS Renato foi denunciado por roubo (art. 157 do Código Penal). A denúncia foi recebida, tendo o réu sido citado e apresentado resposta à acusação, na qual foram arroladas cinco testemunhas de defesa. Na audiência de instrução e julgamento, a vítima reconheceu Renato na mesa da audiência. Foram ouvidas sete testemunhas da acusação, que afirmaram que SOUBERAM DO ROUBO, mas não o presenciaram, nem conheciam o acusado. Foram ouvidas cinco das testemunhas arroladas pela defesa, tendo todas elas somente feito referência à boa personalidade e ao bom comportamento de Renato. Ao final, foi interrogado o acusado. Em alegações finais, o Ministério Público pleiteou a condenação, ao passo que a defesa postulou pela absolvição. Na sentença, o juiz condenou Renato, fixando, respectivamente, a pena-base no mínimo legal de 4 anos de reclusão e 10 dias-multa, e cada dia-multa, em um trigésimo do salário mínimo. Em análise ao processo em epígrafe, percebe-se que a r. sentença condenatória fundou-se em conjunto probatório frágil, não devendo, de forma alguma, ter ensejado em condenação, não nos termos descritos, visto a ausência de autoria no crime que lhe foi imputado, ferindo o Princípio da Presunção de Inocência. PRELIMINARMENTE DA NULIDADE DO RECONHECIMENTO POR DESACORDO COM A FORMALIDADE INDICADA NO ART. 226 CPP O ponto merecedor de análise por Vossas Excelências, a respeito da produção de provas, é sobre a afronta direta ao artigo 226, Código de Processo Penal. O reconhecimento do reu, conforme apresentado no caso em comento, ocorreu quando a vítima reconheceu Renato na mesa da audiência, algo no mínimo espantoso, pois o procedimento de reconhecimento do réu, é claro e objetivo, na sua realização, vejamos o art. em comento: Art. 226. Quando houver necessidade de fazer-se o reconhecimento de pessoa, proceder-se-á pela seguinte forma: I - a pessoa que tiver de fazer o reconhecimento será convidada a descrever a pessoa que deva ser reconhecida; Il - a pessoa, cujo reconhecimento se pretender, será colocada, se possível, ao lado de outras que com ela tiverem qualquer semelhança, convidando-se quem tiver de fazer o reconhecimento a apontá-la; III - se houver razão para recear que a pessoa chamada para o reconhecimento, por efeito de intimidação ou outra influência, não diga a verdade em face da pessoa que deve ser reconhecida, a autoridade providenciará para que esta não veja aquela; IV - do ato de reconhecimento lavrar- se-á auto pormenorizado, subscrito pela autoridade, pela pessoa chamada para proceder ao reconhecimento e por duas testemunhas presenciais. Parágrafo único. O disposto no no III deste artigo não terá aplicação na fase da instrução criminal ou em plenário de julgamento. Após leitura do referido, observa-se que não foi feito a descrição do réu pela vitima, não foram colocados em local apropriado, ao lado de outras pessoas que tivessem características parecidas e ato continuo, não foi feito lavratura de auto pormenorizado, pois nada disso seria possível, uma vez que o mesmo foi reconhecido em mesa de audiência. Ademais, o ato de reconhecimento lavrado, sequer detém duas testemunhas presenciais, conforme preleciona o inciso IV do artigo 226 do CPP, o que reitera a falta de cuidado e comprometimento na produção de provas. O STJ inclusive julgou recentemente o HC Nº 598.886/SC 92020/0179682-3), o qual leciona acerca da necessidade de observância do procedimento previsto no art. 226, CPP, não se tratando de mera recomendação do legislador, vejamos: O reconhecimento de pessoas deve, portanto, observar o procedimento previsto no art. 226 do Código de Processo Penal, cujas formalidades constituem garantia mínima para quem se vê na condição de suspeito da prática de um crime, não se tratando, como se tem compreendido, de "mera recomendação" do legislador. Em verdade, a inobservância de tal procedimento enseja a nulidade da prova e, portanto, não pode servir de lastro para sua condenação, ainda que confirmado, em juízo, o ato realizado na fase inquisitorial, a menos que outras provas, por si mesmas, conduzam o magistrado a convencer-se acerca da autoria delitiva. Nada obsta, ressalve- se, que o juiz realize, em juízo, o ato de reconhecimento formal, desde que observado o devido procedimento probatório. Doutos julgadores, a única possibilidade que deve ocorrer no caso do réu, é anulação do ato de reconhecimento, uma vez que esse não se ateve ao devido procedimento, que deve ser preconizado em sede de audiência, sendo assim, roga por sua nulidade. DO DIREITO INSUFICIÊNCIA DE PROVAS E DESCONSIDERAÇÃO TESTEMUNHAL Amparou-se a sentença exarada exclusivamente em um conjunto probatório frágil, pois não demonstrou com clareza a participação do apelante na empreitada criminosa. De fato, o caso em comento apresentado, trata-se de uma acusação, baseada em um reconhecimento nulo e testemunhas que afirmaram que SOUBERAM DO ROUBO, mas não o presenciaram, nem conheciam o acusado. Ora, doutos julgadores, não se pode referendar, uma sentença que se baseou em “fofocas” (jargão popularmente usado), e um reconhecimento nulo, para manter o uma condenação. A bem da verdade, doutos julgadores, devem ser desconsideradas tais testemunhas arroladas pelo MP, uma vez que estas não participaram do fato, não tiveram observância in loco e nem sequer conheciam da pessoa do acusado. Devendo assim, serem desconsideradas as provas, outro reconhecidas pelo magistrado sentenciante, que fez uso das mesmas para que baseasse, a condenação do réu. Havendo, pois, dúvida sobre a autoria, incerteza quanto à participação do apelante no delito, deve esta corte abraçar-se ao princípio do in dubio pro reo, para garantir a absolvição do apelante. Sobre o tema, vide lição de Nestor Távora e Rosmar Rodrigues Alencar, em sua obra Curso de Direito Processual Penal, 11ª Edição, Editora Juspodivm, págs. 87 e 88, in verbis: “A dúvida sempre milita em favor do acusado (in dubio pro reo). Em verdade, na ponderação entre o direito de punir do Estado e o status libertatis do imputado, este último deve prevalecer. Como mencionado, este princípio mitiga, em parte, o princípio da isonomia processual, o que se justifica em razão do direito à liberdade envolvido – e dos riscosadvindos de eventual condenação equivocada. Neste contexto, o inciso VII, do art. 386, CPP, prevê como hipótese de absolvição do réu a ausência de provas suficientes a corroborar a imputação formulada pelo órgão acusador típica positivação do favor rei (também conhecido como favor inocentiae e favor libertatis).” Neste sentido também caminha a jurisprudência, conforme se verifica dos julgados abaixo, todos com grifo da defesa: TJ-AC - Apelação: APL Nº 0001088- 42.2009.8.01.0006 PENAL. PROCESSO PENAL. APELAÇÃO CRIMINAL. CRIME CONTRA A DIGNIDADE SEXUAL. ESTUPRO DE VULNERÁVEL. RETRATAÇÃO DA VÍTIMA EM JUÍZO. DEMAIS ELEMENTOS DE PROVA QUE NÃO DÃO CERTEZA DA MATERIALIDADE DELITIVA. DÚVIDA INSTAURADA. APLICAÇÃO DO IN DUBIO PRO REO. ABSOLVIÇÃO QUE SE IMPÕE. RECURSO PROVIDO. No processo penal, a dúvida não pode militar em desfavor do réu, haja vista que a condenação, como medida rigorosa e privativa de uma liberdade pública constitucionalmente assegurada (Art. 5º, XV, LIV, LV, LVII e LXI, da CF), requer a demonstração cabal da autoria e materialidade, pressupostos autorizadores da condenação. Na hipótese de constarem nos autos elementos de prova que conduzam à dúvida acerca da ocorrência do crime, a absolvição é medida que se impõe, em observância ao princípio do in dubio pro reo. Recurso provido. TJ-MG - Apelação Criminal APR 10145140035208001 MG (TJ-MG) Data de publicação: 24/03/2017 Ementa: EMENTA APELAÇÕES CRIMINAIS - RECURSO DEFENSIVO: CRIME DE RESISTÊNCIA - ABSOLVIÇÃO - NECESSIDADE - AUSÊNCIA DE PROVA - http://www.jusbrasil.com.br/topicos/10641516/artigo-5-da-constitui%C3%A7%C3%A3o-federal-de-1988 http://www.jusbrasil.com.br/topicos/10730517/inciso-xv-do-artigo-5-da-constitui%C3%A7%C3%A3o-federal-de-1988 http://www.jusbrasil.com.br/topicos/10728364/inciso-liv-do-artigo-5-da-constitui%C3%A7%C3%A3o-federal-de-1988 http://www.jusbrasil.com.br/topicos/10728312/inciso-lv-do-artigo-5-da-constitui%C3%A7%C3%A3o-federal-de-1988 http://www.jusbrasil.com.br/topicos/10728238/inciso-lvii-do-artigo-5-da-constitui%C3%A7%C3%A3o-federal-de-1988 http://www.jusbrasil.com.br/topicos/10728090/inciso-lxi-do-artigo-5-da-constitui%C3%A7%C3%A3o-federal-de-1988 http://www.jusbrasil.com.br/legislacao/155571402/constitui%C3%A7%C3%A3o-federal-constitui%C3%A7%C3%A3o-da-republica-federativa-do-brasil-1988 PRINCÍPIO DO IN DUBIO PRO REO - ROUBOS - REDUÇÃO DAS PENAS-BASE - POSSIBILIDADE - APELO MINISTERIAL: PREPONDERÂNCIA DA AGRAVANTE DA REINCIDÊNCIA EM DETRIMENTO DA ATENUANTE DA CONFISSÃO ESPONTÂNEA - VIABILIDADE - FIXAÇÃO DA PENA DE MULTA CONFORME O ARTIGO 72 DO CÓDIGO PENAL - INVIABILIDADE - RECONHECIMENTO DA CAUSA DE AUMENTO DA PENA DO EMPREGO DE ARMA - POSSIBILIDADE. Se não houver prova segura e judicializada da prática do crime descrito no artigo 329, caput, do Código Penal, é necessário absolver o acusado, pois a dúvida o favorece, conforme o princípio do in dubio pro reo. Se quase todas as circunstâncias judiciais do artigo 59 do Codex forem favoráveis ao réu, é necessário reduzir as penas-base, mas não ao mínimo legal. É viável preponderar a agravante da reincidência em detrimento da atenuante da confissão espontânea se o réu for reincidente específico. Conforme jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça, o artigo 72 do Código Penal, que prevê a aplicação distinta e integral da pena pecuniária, se aplica somente nos casos de concursos material e formal, afastada a incidência do referido artigo na hipótese de crime continuado (HC 221.782/RJ, REsp 909327/PR, REsp 858741/PR, HC 124398/SP, HC 120.522/MG, HC 95641/DF). O emprego de arma de brinquedo (réplica) no crime de roubo caracteriza a majorante prevista no artigo 157, § 2º, inciso I, do Código Penal, uma vez que reduz substancialmente a capacidade de resistência da vítima. TJ-MT - Apelação APL 00079053020128110042 134331/2015 (TJ-MT) Data de publicação: 21/03/2017 Ementa: APELAÇÃO CRIMINAL – TRÁFICO DE ENTORPECENTES – CONDENAÇÃO – INCONFORMISMO DA DEFESA – ANELA A ABSOLVIÇÃO OU A DESCLASSIFICAÇÃO DA IMPUTAÇÃO PELO DELITO DE TRÁFICO DE DROGAS PARA A DE PORTE DE ENTORPECENTES PARA USO – PARCIAL POSSIBILIDADE – DESTINAÇÃO MERCANTIL NÃO CABALMENTE CARACTERIZADA – INSUFICIÊNCIA DE PROVAS ACERCA DA TRAFICÂNCIA – PRINCÍPIO DO “IN DUBIO PRO REO” – http://www.jusbrasil.com.br/topicos/10631338/artigo-72-do-decreto-lei-n-2848-de-07-de-dezembro-de-1940 http://www.jusbrasil.com.br/legislacao/1033702/c%C3%B3digo-penal-decreto-lei-2848-40 http://www.jusbrasil.com.br/topicos/10597668/artigo-329-do-decreto-lei-n-2848-de-07-de-dezembro-de-1940 http://www.jusbrasil.com.br/legislacao/1033702/c%C3%B3digo-penal-decreto-lei-2848-40 http://www.jusbrasil.com.br/topicos/10631338/artigo-72-do-decreto-lei-n-2848-de-07-de-dezembro-de-1940 http://www.jusbrasil.com.br/legislacao/1033702/c%C3%B3digo-penal-decreto-lei-2848-40 http://www.jusbrasil.com.br/topicos/10619340/artigo-157-do-decreto-lei-n-2848-de-07-de-dezembro-de-1940 http://www.jusbrasil.com.br/topicos/10619245/par%C3%A1grafo-2-artigo-157-do-decreto-lei-n-2848-de-07-de-dezembro-de-1940 http://www.jusbrasil.com.br/topicos/10619207/inciso-i-do-par%C3%A1grafo-2-do-artigo-157-do-decreto-lei-n-2848-de-07-de-dezembro-de-1940 http://www.jusbrasil.com.br/legislacao/1033702/c%C3%B3digo-penal-decreto-lei-2848-40 APELO PARCIALMENTE PROVIDO. Imperiosa a desclassificação da imputação pelo delito de tráfico de drogas para o de porte de entorpecentes para uso quando – a despeito do afastamento da instância por absolvição – presentes dúvidas objetivas a respeito da destinação mercantil da substância ilícita, mormente diante de meras conjecturas, despidas de substrato probatório e, pois, inidôneas à comprovação cristalina da traficância [in dubio pro reo!]. (Ap 134331/2015, DES. ALBERTO FERREIRA DE SOUZA, SEGUNDA CÂMARA CRIMINAL, Julgado em 15/03/2017, Publicado no DJE 21/03/2017) DA EMENDATIO LIBELLI O instituto da emendatio libelli é aplicado quando ocorre equívoco Ministerial quanto a real tipificação da conduta, o dispositivo permite ao magistrado atribuir ao fato uma nova tipificação, sem que haja modificação na narrativa fática dos fatos. E leciona (Avena, Norberto, 2019): “com efeito, o art. 383 do CPP que “o juiz, sem modificar a descrição do fato contida na denúncia ou queixa, poderá atribuir-lhe definição jurídica diversa, ainda que, em consequência, tenha de aplicar pena mais grave”. E o autor dar Exemplo de aplicação do instituto: Exemplo: denunciado o agente por crime de roubo capitulado no art. 157 do CP, sobrevém, no curso da instrução, a prova de que não houve violência nem grave ameaça. Diante disso, o juiz, suprimindo da inicial a referência à violência e à ameaça, condena o réu por furto simples. Ainda no mesmo entendimento, temos o voto do ministro Gilmar mendes, vejamos: O Supremo Tribunal Federal possui entendimento quanto à possibilidade de realização de emendatio libelli em segunda instância mediante recurso exclusivo da defesa, contanto que não gere reformatio in pejus, nos termos do art. 617 do Código de Processo Penal (v.g. HC nº 103.310/SP, Relator para acórdão o Ministro Gilmar Mendes, DJe de 8/5/15). De modo Excelência que, diante do conjunto probatório demonstrado nos autos, deve Vossa Excelência aplicar o instituto e desclassificar o delito de roubo para furto, pois finda a instrução processual não restou demonstrada a violência ou a grave ameaça. DA DESCLASSIFICAÇÃO DO DELITO DO ART. 157, PARA O CAPUT DO ART. 155 O réu é acusado do delito de tentativa de roubo com o uso de arma, todavia é notória a deficiência probatória, pois mesmo finda a fase de instrução não restou provado, tampouco há nos autos apresentação de materialidade de arma, haja vista a inexistente pericial realizada na arma,como também não houve em momento algum demonstração efetiva de uso de arma, pois se a própria vítima, nem as testemunhas arroladas mencionam em seus depoimentos nada a este mérito, não pode ser um acusado em processo penal apenas por conjecturas, pois se revela falta de justa causa e contrário aos princípios do direito penal, de modo que é injusto que responda nas tenazes do diploma 157, mas sim àquele preceituado no art. 155, caput, do mesmo diploma legal, assim contemplando a aplicação da proporcionalidade entre a aplicação da sanção e do fato cometido, pois sequer houve ameaça ou violência contra a vítima, haja vista que os fatos não foram demonstrados. E assim leciona (Nucci, 2020) sobre o exposto acima: “Significa que as penas devem ser harmônicas à gravidade da infração penal cometida, não tendo cabimento o exagero, nem tampouco a extrema liberalidade na cominação das penas nos tipos penais incriminadores. EMENTA: APELAÇÃO CRIMINAL – ROUBO CIRCUNSTANCIADO PELO CONCURSO DE AGENTES, ROUBO SIMPLES E FURTO SIMPLES – CONDENAÇÃO – IRRESIGNAÇÃO DEFENSIVA – DESCLASSIFICAÇÃO DOS DELITOS DE ROUBO PARA FURTOS SIMPLES – AUSÊNCIA DE COMPROVAÇÃO DA EFETIVA AMEAÇA OU VIOLÊNCIA CONTRA A PESSOA – PARCIAL PERTINÊNCIA EM RELAÇÃO A APENAS UMA DAS CONDUTAS DELITIVAS – ROUBO SIMPLES – AUSÊNCIA DE PROVAS JUDICIAIS – INTELIGÊNCIA DO ART 155 DO CPP – IN DUBIO PRO REO – MANTIDA CONDENAÇÃO EM RELAÇÃO AO CRIME DE ROUBO MAJORADO – PALAVRAS SEGURAS E COERENTES DA VÍTIMA EM AMBAS AS FASES PROCESSUAIS SE SOBRESSAEM E COMPROVAM O EMPREGO DE EFETIVA AMEAÇA – INTIMIDAÇÃO CAPAZ DE SUBJUGÁ-LA – APELO PARCIALMENTE PROVIDO. Conquanto a vítima do delito de roubo simples tenha se mostrado coerente na fase inquisitorial, o fato de não ter comparecido em juízo para confirmar suas declarações, bem como nenhuma testemunha foi ouvida na fase judicial para dar amparo a suas declarações extrajudiciais, não há como prevalecer a acusação a respeito da efetiva ameaça empregada na conduta delitiva, consoante inteligência do art 155 do Código de Processo Penal, de sorte que merece ser desclassificado o delito para a figura do furto simples. Não há falar em desclassificação do delito derobo majorado pelo concurso de agentes para o furto simples quando as evidências dos autos demonstram que o apelante abordou a vítima, e mediante emprego de grave ameaça exercida, ainda que apenas por palavras e gestos, subjugou-a, retirando-lhe qualquer possibilidade de resistência, a ponto de permitir que fosse subtraído seu aparelho de telefone celular. (TJ-MT- APL: 00047667820178110015 MT, Relator: PEDRO SAKAMOTO, Data de Julgamento: 11/04/2018, SEGUNDA CÂMARA CRIMINAL, Data de Publicação: 17/04/2018) Assim roga pela desclassificação do crime de roubo, para furto. DA POSSIBILIDADE DE CONVERSÃO DE PENA PRIVATIVA DE LIBERDADE EM PENA RESTRITIVA DE DIREITOS É cediço no ordenamento jurídico brasileiro, das garantias asseguradas a todos em curso em processos judiciais e administrativos. Então conforme o art. 44 do Código Penal, poderá ser substituída a pena privação de liberdade pelas restritivas de direito atendidos os requisitos legais. “O regime inicial é estabelecido pela análise de dois dispositivos legais: o art. 33, § 2.o, alíneas a, b e c, combinado com o art. 59, III, do CP. O art. 33, § 2.o, apresenta uma tabela considerando a pena da condenação e a primariedade do condenado: Nas situações em que o juiz, com base na tabela, tem mais de uma opção de regime inicial deve-se privilegiar o regime mais benéfico, iniciando o regime pelo menos rigoroso. Assim, como o réu faz jus a este benefício, requer pela concessão. DA DOSIMETRIA DA PENA EVENTUALMENTE APLICADA Neste diapasão, vossa excelência, traz a baila a pena base há que ser fixada no mínimo legal, posto que nos autos não há elementos concretos que fundamentam o posicionamento diverso. Deverás ser observadas circunstâncias intrínsecas do réu para a sua aplicação, não podendo Vossa Excelência julgar de modo genérico a conduta o réu frente a tipicidade do delito e de seu comportamento, devendo atender de modo cumulativo os requisitos do art. 59 do Cp. A culpabilidade é dimensionada pelo grau de intensidade da reprovação penal. De modo Excelência, que no caso em epígrafe a culpabilidade é regular, pois não denota uma conduta de maior desaprovação. A conduta social do agente é percebida através do seu relacionamento social, fator que não se comprova frente à existência a favor de provas testemunhais, arroladas pela defesa, uma vez que todos, sem a exceção, alegam e atestam que o réu é pessoa de boa conduta e boa índole. Entende-se então por circunstância do delito, os elementos do fato delitivo, tais como a maior ou menor sensibilidade ou arrependimento do agente. De modo que no caso em tela resta que as circunstâncias são comuns, não ensejando valoração maior. Por fim, as consequências do delito são medidas pelo grau de sua intensidade de lesividade causada, que podem ser materiais ou morais, todavia no caso em tela sequer houve consequência relevante. DOS PEDIDOS 1. Que esse Tribunal, competente para a jurisdição de Segundo Grau, dê provimento ao recurso ora interposto; 2. Que seja ANULADO reconhecimento da vítima, em razão do desrespeito ao roteiro normativo previsto no artigo 226 do Código de Processo Penal, não havendo que se dizer em reconhecimento certeiro do autor do ilícito narrado na inicial acusatória; 3. Que seja ABSOLVIDO, em razão da fragilidade do conjunto probatório, tendo em vista a ausência de provas judicializadas e das imputações nas quais fora condenado, sob pena de violação aos artigos 386, incisos V e VII, do CPP, sob pena de violação ao artigo 155, do CPP; http://www.jusbrasil.com.br/topicos/10643765/artigo-386-do-decreto-lei-n-3689-de-03-de-outubro-de-1941 http://www.jusbrasil.com.br/topicos/10643497/inciso-vii-do-artigo-386-do-decreto-lei-n-3689-de-03-de-outubro-de-1941 http://www.jusbrasil.com.br/legislacao/1028351/c%C3%B3digo-processo-penal-decreto-lei-3689-41 http://www.jusbrasil.com.br/topicos/10667014/artigo-155-do-decreto-lei-n-3689-de-03-de-outubro-de-1941 http://www.jusbrasil.com.br/legislacao/1028351/c%C3%B3digo-processo-penal-decreto-lei-3689-41 4. caso vossas excelências, discordem das teses absolutórias, o que se admite apenas por amor ao debate, que nesta hipótese, levem em consideração as seguintes teses: 5. Que seja feita a emendatio libelli, conforme entendimento do STF, nos moldes do Art. 617, CPP; 6. Que seja desclassificado o crime do Art. 157, para o crime do Art. 155, ambos do CP, pois não ficam demostrados nos autos, conjunto probatório, para imputação do crime ao qual foi condenado; 7. Caso vossas excelências, entendam pela desclassificação, que seja aplicada a densitometria da pena de acordo com o crime do Art. 155; 8. Entendendo vossas excelências pela aplicabilidade da menor pena, que o réu cumpra pena em regime menos gravoso; Termos em que pede deferimento. Estado - XX, 15 de junho de 2021. Advogado OAB/XX nº