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Avaliação Psicologia do Cotidiano - 05K 2021.1 Laura Jacob - 31970613 Maria Clara Palazzi - 31909612 Análise do texto Estrutura da vida cotidiana de Agnes Heller Não tem como fugir da vida cotidiana. Agnes Heller em sua obra Estrutura da vida cotidiana afirma que a vida cotidiana é a vida de todo homem, ou seja, todas as pessoas vivem a vida cotidiana. Não tem como escapar. É impossível desligar-se completamente da cotidianidade pois o homem já nasce inserido nela e absorvido por ela e o amadurecimento do homem significa que ele já é capaz de viver por si mesmo a sua cotidianidade. A vida cotidiana é a vida do homem inteiro. Nela, o homem participa com todos os aspectos de sua personalidade. E a vida cotidiana é composta por tudo que faz parte da vida do homem, seu trabalho, sua vida privativa, lazer, atividades sociais, etc.. Na vida cotidiana, o homem coloca em movimento todas as suas habilidades, capacidades, sentimentos, projetos e paixões sem que ele viva e absorva todos esses aspectos. Além disso, a vida cotidiana é heterogênea. Ela solicita todas as nossas forças e capacidades, o "homem por inteiro", mas sem exigir com maior intensidade qualquer uma dessas forças. Trata-se, então, do "homem inteiramente", que concentra todas as suas forças e habilidades conscientemente e autonomamente em determinadas atividades, exercendo sua função de ser social livre. Ao mesmo tempo, a vida cotidiana é a vida do indivíduo particular e do indivíduo genérico. A particularidade está na forma específica que o indivíduo processa a sociabilidade e como ele responde a ela. O homem, afinal, é relativamente livre, pois ele sempre estará sob a manipulação social. O desenvolvimento do indivíduo depende de sua liberdade que envolve suas habilidades individuais e das condições sociais externas. O humano-genérico é o homem por inteiro. A busca pelo humano-genérico exige iniciativas que tendam para além da vida cotidiana e é estimulada pelo desejo que orienta nessa direção sustentada nas capacidades individuais e condições materiais, buscando derrubar as barreiras sociais. Ele está inserido no desenvolvimento da humanidade. O homem é um ser genérico, já que é produto das relações sociais, realizador do desenvolvimento humano. Agnes Heller destaca a possibilidade da particularidade triunfar sobre o humano-genérico. O cotidiano privilegia a particularidade, restringindo a consciência do humano-genérico, e promove uma unidade silenciosa entre a particularidade-individual e a genericidade-humana. A vida cotidiana é espontânea, possui ritmo fixo, repetição e regularidade, e tende a estimular os sujeito a se moverem a partir de probabilidades. O pensamento cotidiano se orienta para as atividades cotidianas, estimulando a unidade entre pensamento e ação cotidiana. A práxis, ação reflexiva e transformadora, só pode existir quando há atividade humano-genérica consciente, renovando as coisas ao seu redor. A vida cotidiana, por ser completamente pragmática, tende a exigir que os homens contem com a fé e a confiança. e ainda assim eles são incapazes de dominar a vida na sua totalidade. A confiança e a fé são necessárias porque o conhecimento no cotidiano é limitado. Outra característica da vida cotidiana é o estímulo de juízos ultrageneralizadores, se sustentando em juízos provisórios que nos oriental para que não façamos qualquer contestação. Juízos provisórios são inevitáveis assim como a vida cotidiana é. O problema ocorre quando esses juízos se cristalizam, na verdade ou em preconceitos, e são utilizados plenamente para guiar a individualidade. Recorremos às ultrageneralizações porque não temos tempo para avaliar cuidadosamente todos os aspectos da vida cotidiana. Sem elas, não conseguiríamos nos orientar. A vida cotidiana estimula a imitação. Não há vida cotidiana sem imitação. Ela é necessária para assimilarmos a realidade social. O problema está em produzir e criar para superar a imitação e configurar novos procedimentos e atitudes. Além disso, a vida cotidiana possui uma entonação que é fundamento para construir a individualidade e fazer o debate com outros tons. Esse tom, fechado a si mesmo, não aberto para debate, é um tom que ultrageneraliza. A alienação-estranhamento na vida cotidiana aparece quando as características da vida se cristalizam, e envolvem o ser, sua individualidade, impedindo que ele se movimente e crie para além da cotidianidade. Desta forma, o nível da vida cotidiana é certamente propenso à alienação- estranhamento, pois naturalmente separa o ser e a sua essência, rompe com o ponto de vista da totalidade. Entretanto, a vida cotidiana não é, em si, alienada. O problema está em compreender sob quais condições ela se desenvolve e se os seres humanos possuem algum controle sobre ela. Em geral, existe alienação-estranhamento quando há um abismo entre o desenvolvimento humano-genérico e as possibilidades de desenvolvimento dos indivíduos humanos, ou seja, quando existem barreiras sociais – certamente impostas por dada sociabilidade - que impedem que a produção humano-genérica seja feita e apropriada conscientemente pelo indivíduo. Em suma, a condução da vida não supõe eliminar o cotidiano e a cotidianidade, mas reposicionar a coexistência entre a particularidade e a genericidade como uma relação consciente do indivíduo com o humano-genérico. Essa relação deve ordenar e organizar, livremente, as heterogêneas atividades da vida. Não é impossível dedicar-se à condução da vida, mesmo enquanto as condições econômico-sociais ainda favorecem a alienação e o estranhamento. Essa atitude-postura é fundamental e representativa e funciona como provocação e desafio à desumanização. "A homogeneização contribui com a superação dialética da particularidade, a saída provisória da cotidianidade e a elevação ao humano-genérico". HELLER, Agnes. O cotidiano e a história. 11º ed. São Paulo / Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2016. Análise do texto Trabalho e obra de Hannah Arendt No desenvolvimento do texto ”trabalho, obra e ação”, Hannah Arendt realiza uma análise a respeito do que é específico e genérico na condição humana através da compreensão das atividades, já que caracteriza a condição humana como algo mais complexo do que as condições nas quais a vida foi dada ao homem na terra. Para análise, utiliza a expressão "vita activa" que corresponde, portanto, mais à ocupação, desassossego, sendo carregada de muitos significados. É a vida humana na medida em que um indivíduo se empenha ativamente em fazer algo, ou seja, é um modo de viver fora da alienação social, o homem não deve apenas subsistir, mas viver plenamente, interagindo com os seus pares, influenciando as alterações do mundo. A “vita activa'' tem seus fundamentos em um ambiente essencialmente humano ou de coisas criadas pelos homens, pode ainda ser extraído de um agrupamento fundamental de atividades humanas, que, inclusive, são marcas características da própria condição humana. A partir disso, Hannah pretende designar três atividades humanas fundamentais, sendo elas o labor (obra), o trabalho e a ação; e as compreende como atividades fundamentais, pois a cada uma delas corresponde uma das condições básicas mediante as quais a vida foi dada ao homem na Terra e realiza sua definição. Segundo Arendt, obra consiste na atividade que corresponde ao processo biológico do corpo humano, cujo crescimento espontâneo e metabolismo tem a ver com as necessidades vitais produzidas pelo labor no processo da vida, uma vez que o mesmo corresponde ao movimento circular de nascimento, desenvolvimento e perecimento, ele é o espaço natural da manutenção da vida, que tem por objetivo garantir a conservação da espécie humana. Assim, tendo em vista que a ação visa assegurar a preservação do gênero humano, a suaatividade consiste em satisfazer as necessidades fisiológicas da existência humana. Hannah diz que o ciclo da vida biológica, inclusive a humana, é sustentado pelo consumo e pela atividade. O que provê os meios de consumo é a atividade, neste caso, o trabalho. O Trabalho seria a atividade correspondente ao artificialismo da existência humana, produzindo um mundo artificial de coisas diferentes do ambiente natural. O trabalho visa produzir para facilitar e estabilizar a vida humana, é a condição humana do materialismo, ao que é concreto ao homem, suas criações, suas marcas no mundo; é uma atividade da “vita activa'' que permite o contato e a troca de informações entre os seres humanos. Segundo Hannah Arendt, a partir do trabalho o homem pratica a troca em todos os sentidos para cumprir sua permanência na terra. A condição humana do trabalho é a mundanidade. Uma das qualidades vista dessa condição humana é a criação, e o registro, em código próprio, da informação e de sua representação, já que, com a apropriação e elaboração gera-se o conhecimento. O último dos elementos da “vita activa'' abordado por Arendt é a ação, esta é a única atividade que se exerce diretamente entre os homens sem a mediação de coisas, corresponde à condição humana da pluralidade, caracterizada pela vida política, é o elemento da interpessoalidade e o ambiente da intersubjetividade, ou seja, ocorre entre os homens, visto que a ação exige uma diversidade interativa, ela particulariza os homens. Ela promove a aparição de individualidades e possibilita a construção de identidades. Ora, o homem jamais poderá manifestar a sua singularidade no isolamento. Dentre todas as atividades necessárias e que estavam presentes nas comunidades humanas, somente a ação e o discurso eram consideradas políticas, logo, em razão de ser desenvolvida entre pessoas, a ação é observada de forma destacada da obra e do trabalho, tais elementos não a influenciam. Segundo Hannah, em sua qualidade humana, a ação, o discurso e o pensamento têm muito mais relações entre si do que qualquer um deles tem com o trabalho ou a obra. a ênfase deixou de ser na ação e passou para o discurso, como meio de persuasão e forma humana de responder, replicar e enfrentar os acontecimentos ou o que é feito. O ser político, o viver numa polis, significava que tudo era decidido, não através de força ou violência, mas sim mediante palavras e persuasão, ou seja, através do discurso, pois é através do discurso e da ação que os seres humanos se manifestam uns com os outros. Ou seja, é através do discurso e da ação que os seres humanos se distinguem e se conhecem uns aos outros. Por meio das narrativas da autora pode-se perceber que os três eixos principais da condição humana (obra, trabalho e ação) atuam interligados no cotidiano da vida dos trabalhadores, não sendo possível entendê -los de forma fragmentada. Isso se deve porque o ser humano não se baseia em apenas uma perspectiva, mas sim, por um conjunto de fatores que se complementam, como as atividades correspondentes a necessidades vitais, a necessidades mecânicas, de se movimentar e de criar objetos, e a necessidade de agir na busca de criar um ambiente propício para a condição humana em toda sua dimensão. Portanto, o labor em demasia gera uma sociedade sem profundidade e fadada ao esquecimento, a partir do momento em que o indivíduo decide viver apenas para satisfazer seus prazeres e suas necessidades, esquecendo o coletivo, cria-se uma estagnação, uma morosidade social, visto que sem trocas entre os indivíduos de uma sociedade, não há desenvolvimento político. Já o trabalho em excesso pode condicionar o homem de forma prejudicial, visto que a mundanidade, ou seja, a criação do meio ambiente artificial, das utilidades, dos bens pode ir contra o próprio homem, tornando sua vida alienada e moralmente improdutiva. A ação é a atividade que deve ser desenvolvida em uma sociedade que busca se perpetuar, uma vez que a subjetividade, as relações entre os indivíduos trazem avanços sociais e políticos, que podem ser observados em sentido macro dentro de um grupo social em construção. Por fim, como evidenciado, labor e trabalho devem ser contidos, pois seus excessos acarretam danos à sociedade, conforme já analisado. O balanceamento das três atividades precisa ser bem administrado e, para isso, é necessário a união de esforços entre o Estado brasileiro (poder público) e a sociedade civil. ARENDT, Hannah. A Condição Humana. 10ª ed. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2007. Primeira Avaliação Intermediária 1) Com base nos conceitos desenvolvidos por Agnes Heller (cotidiano, particularidade-individual e genericidade-humana, juízos ultrageneralizadores, preconceito, fé, confiança e arte), analise o poema “Da aparência”, escrito por Bertolt Brecht. Da aparência Bertolt Brecht Desconfie do mais comum. Examine o que parece habitual. Não aceite o óbvio como coisa natural, pois em tempo de desordem, de confusão organizada, de arbitrariedade consciente, de humanidade desumanizada, nada deve parecer natural, nada deve parecer impossível de mudar. Estranhe o que não for estranho. Tome por inexplicável o habitual. Sinta-se perplexo ante o cotidiano. Trate de achar um remédio para o abuso, mas não se esqueça de que o abuso é sempre a regra. O cotidiano, segundo Agnes Heller, é o espaço e tempo no qual todos os homens vivem. Não tem como fugir, pois ele absorve a todos de forma predominante. No poema "Da aparência", o autor Bertolt Brecht descreve situações comuns do cotidiano, onde devemos desconfiar das coisas, examinar, questionar e até estranhar. Todo indivíduo é, ao mesmo tempo, um ser particular-individual, ou seja, que busca a satisfação das necessidades do eu, e um ser humano-genérico, que é a consciência do nós, do coletivo. Isso faz com que o homem, simultaneamente, busque suprir suas necessidades e desejos, e que também tenha consciência de que vive em sociedade. Porém, muitas vezes esses dois pólos são conflitantes. Todo o ser está na possibilidade de se elevar o máximo possível no plano da humanidade genérica, porém estas situações se tornam cada vez mais complexas na sociedade. E são nessas situações complexas e conflitantes que se aplica o verso do autor "nada deve parecer impossível de mudar". Os juízos ultrageneralizadores facilitam o dia-a-dia do homem orientando-o, pois este não tem tempo de examinar cuidadosamente todos os aspectos da vida cotidiana. Ao mesmo tempo que esses juízos ajudam o indivíduo, eles também podem gerar conflitos pois não são baseados em algo concreto e acabam resultando em conformidade e preconceito. O autor traz uma solução para isso nos versos "não aceite o óbvio como coisa natural", falando em relação com conformismo, e "estranhe o que não for estranho, tome por inexplicável o habitual", falando sobre os preconceitos. Falando mais especificamente sobre o preconceito, este possui dimensão afetiva e por conta disso é impossível eliminá-lo recorrendo apenas à razão. Crer nesses preconceitos é cômodo para o indivíduo, olhando pelo lado particular-individual, pois o protege de conflitos. Mas, olhando pelo lado humano-genérico, isso traz muitos problemas para a sociedade como um todo. Diante disso, o indivíduo deve seguir a orientação do autor: "sinta-se perplexo ante o cotidiano. Trate de achar um remédio para o abuso mas não se esqueça que o abuso é sempre a regra". Esse final "o abuso é sempre a regra" faz referência ao fato de que nunca vamos nos livrar dos juízos ultrageneralizadores, do conformismo e dos preconceitos, mas devemos sempre questionar cada um deles para buscar o que realmente é verdade e o que não é. Segundo Heller, a vida cotidiana é baseada na fé e na confiança mais do que em evidências empíricas,e isso só destaca a importância de questionarmos, examinarmos, e estranharmos a vida cotidiana, como sugere o autor. 2) Utilize os conceitos de trabalho, obra e ação para interpretar o texto “A distopia ambiental a um passo”, produzido por Roberto Andrés e publicado pelo site “Outras Palavras”. Há uma tragédia ambiental em curso no planeta e o Brasil está na vanguarda. Os impactos são tremendos, mas não recebem a atenção devida. E não estamos falando de um mundo pior para os nossos netos: os efeitos da destruição acelerada das condições de vida na Terra já estão aí e se intensificarão nos próximos anos. Um exemplo: os surtos de doenças como dengue e febre amarela em Minas Gerais podem ter relação direta com os crimes da Vale em Mariana e Brumadinho, apontam especialistas da Fiocruz. O mar de lama matou milhares de animais, dentre eles predadores dos mosquitos. Com os rios contaminados, a população passa a armazenar água em condições precárias. Os mosquitos se proliferam e as doenças e mortes vão às alturas. As condições de vida na Terra dependem de um fino equilíbrio. Se começamos a sentir os efeitos destrutivos do rompimento de barragens de rejeitos, o que dizer de processos extensivos e continuados como a emissão excessiva de gás carbônico, o desmatamento e o envenenamento das terras e águas?Somente nos primeiros cinco meses deste ano, o Brasil liberou 169 novos agrotóxicos – mais do que em todo o ano de 2015. No nosso país são permitidos agrotóxicos altamente perigosos para a saúde, que já foram proibidos na maior parte dos países da Europa – onde estão os donos de boa parte das fabricantes dos pesticidas. Sabe-se que esses agrotóxicos causam doenças como depressão, câncer e Parkinson, e que há pouco controle de sua contaminação pela infiltração no solo e nas águas. Segundo dados oficiais, ao menos oito pessoas são contaminadas diariamente por agrotóxicos no Brasil, mas este dado tende a ser muito maior graças a subnotificação e contaminação indireta. O desmatamento na Amazônia nos primeiros quinze dias de maio foi o maior da última década. A gravidade da destruição da floresta Amazônica para as condições climáticas no Brasil é enorme. Em um artigo brilhante, o climatologista Antonio Nobre demonstra que a Amazônia funciona como um importante regulador do clima na parte sul do continente, garantindo as chuvas e protegendo a região de eventos extremos. O pesquisador demonstra como a floresta bombeia água do solo para a atmosfera, criando rios voadores que irrigam o continente: “se a floresta for removida, o continente terá muito menos evaporação do que o oceano contíguo, o que determinará uma reversão nos fluxos de umidade, que irão da terra para o mar, criando um deserto onde antes havia floresta”. A conclusão do autor é de que “o caos climático previsto tem o potencial de ser incomensuravelmente mais danoso do que a Segunda Guerra Mundial. O que é impensável hoje pode se tornar uma realidade incontornável em prazo menor do que esperamos”. E a tragédia não termina aí. Quem acompanha o debate das mudanças climáticas sabe que o aquecimento do planeta acirrará problemas de escassez de https://www.brasildefato.com.br/2019/05/14/surto-de-dengue-pode-ter-sido-agravada-por-crime-da-vale-em-brumadinho/ https://www.brasildefato.com.br/2019/05/14/surto-de-dengue-pode-ter-sido-agravada-por-crime-da-vale-em-brumadinho/ https://reporterbrasil.org.br/2018/12/agrotoxicos-proibidos-europa-sao-campeoes-de-vendas-no-brasil/ https://br.noticias.yahoo.com/bolsonaro-desmatamento-amazonia-213242929.html https://piseagrama.org/o-futuro-da-amazonia/ recursos naturais, desigualdade social, doenças e tragédias “naturais”, de modo impossível de se prever – como ninguém previa que o rompimento de barragens de minérios levaria a epidemias de dengue. Os governantes autoritários mundo afora, com seu desprezo ignorante pelo aquecimento do planeta e pela destruição ambiental, têm mostrado que dominam muito bem as fórmulas capazes de destruir as condições de vida que conhecemos, tão dependentes dos ciclos das águas. A ação é considerada por Arendt como a única das três atividades relacionadas com as condições da existência humana que compõem a vida ativa que ocorre diretamente entre os homens, uma vez que ela corresponde à condição humana da pluralidade. Em relação ao texto de Andrés, dentre todas as características que favorecem distopias, a maior delas parece ser o nosso empenho em converter o planeta em um lugar inóspito para nós mesmos, pois Infelizmente, temos sido muito dedicados na construção de uma sociedade distópica, a despeito de nossas condições naturais positivas. Tendo em vista que a ação é a forma política pela qual os homens podem manifestar a liberdade humana, por meio da expressão de suas opiniões, suas histórias e experiências comuns, por meio das palavras e atos, a ação consiste em estabelecer novas relações. Isto, tomado como uma imposição da sociedade por meio de normas e regras através das quais espera que seus respectivos integrantes adotem um modo de vida em que a ação espontânea não mais aconteça. Com isso, a sociedade espera reduzir o ser humano a um todo uniforme, gerando o conformismo. Uma possível consequência do comportamento conformista perante as regras ditadas pela sociedade contemporânea é a de que o integrante desse atual modelo de sociedade toma o consumo como algo para além das suas necessidades básicas, a saber, como modo de estar transversal a todas as dimensões da vida, sendo cada vez mais incentivado pelo forte apelo das propagandas e influências midiáticas. Para Arendt, o trabalho está diretamente relacionado com a atividade que corresponde ao processo biológico do corpo humano e assegura não apenas a sobrevivência do indivíduo, mas a vida da espécie. Já a obra tem como condição humana a mundanidade, na qual os recursos para a existência humana são conquistados por meio da fabricação de objetos mais duráveis do que aqueles que o trabalho produz, tendo em vista que estes últimos são feitos para serem consumidos. Para mais, são eleitas duas características distintas entre o animal laborans e o homo faber; para o animal laborans a vida social é incapaz de construir ou habitar o domínio público, mundano; e o homo faber é descrito como dotado da capacidade de ter um domínio público próprio, embora não possa ser um domínio político propriamente dito. O domínio público próprio do homo faber consiste no mercado de trocas, no qual esse exibe o produto de sua mão para a estima, barganha ou permuta, impulsionando o que é chamado de sociedade comercial. Nessa atividade, em que produtos adquirem algum tipo de valor, acaba prevalecendo o econômico ou o privado, em detrimento ao que é público. Acontece nesse movimento uma inversão daquilo que pertence ao âmbito do que é privado e do que é público. Por conta disso, Arendt sustenta que a Era Moderna é vitória do animal laborans sobre o homo faber, tendo em vista o triunfo do consumo sobre o uso. Desse modo, o homem moderno vive numa sociedade de consumidores marcada por dois estágios de um mesmo processo: o trabalho e o consumo. Dentro deste processo ocorre a apropriação da atividade do labor como um processo natural, por conta da satisfação das necessidades e desejos, e da expropriação dos objetos adquiridos. Ou seja, os objetos fabricados, feitos através da obra, ficam mais parecidos com os objetos do trabalho, tendo em vista que são facilmente utilizados, descartados e rapidamente substituídos. Assume-se, assim, uma atitude de consumo sobre todo o tipo de coisas, pois não se considera mais a durabilidade dos objetos. Essa impermanência dos objetos aponta para o descuido com o mundo como espaço para habitação. Diante disso, encontram-se aspectos que remetem à sociedade contemporânea, uma vez que os objetosde consumo não apresentam, em sua maioria, a característica da durabilidade. Soma-se a isso a https://edition.cnn.com/2019/05/28/politics/new-york-times-trump-administration-climate-change-report/index.html oferta massiva de produtos que prometem atender aos desejos humanos, ditados pelas normas da sociedade, como também a diminuição dos recursos naturais do planeta. Acerca da relação do conceito de sociedade de consumo para atuação junto da ética ambiental, toma-se como elo a afirmativa de que o consumo excessivo é considerado como a principal causa de danos ambientais. Isso ocorre porque envolve a produção e o uso de bens materiais que possuem no ambiente natural sua fonte de matéria prima, causando deste modo o esgotamento dos recursos naturais. Além disso, o mesmo ambiente serve como espaço para o descarte quase sempre realizado de modo incorreto dos resíduos oriundos dos referidos bens, o que acaba provocando desastres ambientais pesarosos. Esse desinteresse pelo mundo comum, num modelo de comportamento individualista, proporciona ao indivíduo uma nova alienação do mundo, dessa vez, para dentro de si mesmo; pois ele é sempre e a todo momento preocupado consigo mesmo. Em vista disso, cabe trazer a crítica que Arendt faz à sociedade de consumo, ao considerar que não há bens de consumo suficientes para satisfazer o apetite crescente dessa sociedade negligente.
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