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Imaginologia Miriãn Ferrão Maciel Fiuza Agentes mutagênicos Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: � Listar os principais efeitos celulares e moleculares da radiação na clínica médica. � Reconhecer efeitos determinísticos, estocásticos e somáticos (gené- ticos e hereditários) das radiações. � Diferenciar agentes mutagênicos físicos, químicos e biológicos. Introdução O dano ao material genético é intrínseco às diversas exposições que o organismo é submetido, podendo ocorrer por clivagem das ligações químicas, pela reação com substâncias genotóxicas ou por agentes am- bientais, como a radiação. Neste capítulo, você vai estudar os principais efeitos celulares e mole- culares da radiação, bem como seus efeitos determinísticos, estocásticos e somáticos. Também vai estudar a diferença entre os agentes mutagênicos, físicos, químicos e biológicos. Efeitos celulares e moleculares da radiação O dano ao material genético é intrínseco aos diversos processos aos quais o organismo está submetido. Ele pode ocorrer de várias formas, como pela clivagem espontânea das ligações químicas do DNA, pela reação com subs- tâncias genotóxicas (que são subprodutos do metabolismo celular normal ou que ocorrem no ambiente) e pela ação de agentes ambientais, como radiações ultravioleta e ionizante. As radiações ionizantes são radiações de alta energia e pequeno compri- mento de onda, que podem danificar o DNA de forma direta ou indireta, sendo capazes de tornar as moléculas altamente instáveis e suscetíveis a reações químicas. Como a energia da radiação é inversamente proporcional ao seu comprimento de onda, a radiação ionizante penetra mais profundamente nos tecidos do que a ultravioleta, provocando ionização das moléculas encontradas em seu trajeto (LODISH et al., 2014; KLUG et al., 2009). Na forma de ação indireta, a radiação ionizante penetra na célula, e os átomos das moléculas são ejetados. Desse modo, átomos e moléculas es- táveis são transformados em radicais livres, que são substâncias químicas que contêm um ou mais elétrons alterados, como pode ser visto na Figura 1. Essas substâncias se combinam com o material genético, gerando erros no pareamento das bases durante a duplicação e rompendo as ligações açúcar- -fosfato, causando assim quebras cromossômicas, deleções, translocações e fragmentação de cromossomos. Além disso, as alterações em purinas ou pirimidinas podem resultar em mutações pontuais, aquelas em que ocorre a troca de um único par de bases. Já na forma de ação direta, a radiação ionizante pode atacar diretamente, ou seja, ionizar a desoxirribose no esqueleto de DNA. A sensibilidade a radiações difere conforme o tipo celular, o lócus gênico, o sexo e os fatores ambientais, sendo que os cromossomos são mais suscetíveis do que os genes. Deve-se levar em consideração que a dose de radiação tem resultado cumulativo no organismo, sendo assim, toda vez que um indivíduo estiver exposto à radiação, a dose da última radiação deve ser somada à quantidade já recebida (BORGES- -OSÓRIO; ROBINSON, 2000; KLUG et al., 2009). Figura 1. (a) Molécula estável e normal; (b) radicais livres com elétron ausente. Fonte: Adaptada de Tefi/Shutterstock.com. (a) (b) Agentes mutagênicos2 No processo de ionização, forma-se um par de um íon negativo (elétron ejetado) e um íon positivo (átomo que perdeu um elétron). A radiação ionizante tem capacidade de arrancar qualquer elétron se tiver energia superior à energia de ligação do elétron ao átomo. Entre o espectro das ondas eletromagnéticas, somente os raios X e gama são radiação ionizante, quer dizer, somente eles têm energia suficiente para ionizar os átomos. Os fótons dessas radiações perdem sua energia a partir de uma única interação com átomos, ejetando elétron deles. Além disso, eles também podem transpassar um meio sem interagir. Não há material nem forma de blindar todos os fótons, sendo essa uma das razões da necessidade de proteção radiológica que define regras quanto à quantidade de exposição à radiação que as pessoas podem receber. Os átomos do corpo humano estão unidos por forças elétricas. Sendo assim, quando uma partícula ionizante arranca um elétron de um dos átomos do organismo, pode resultar em quebra de molécula por desestabilização (BORGES-OSÓRIO; ROBINSON, 2000; OKUNO, 2013). A célula tem várias macromoléculas; no entanto, as estruturas sensíveis à radiação estão localizadas no núcleo celular. Se uma molécula-chave, como o DNA, for danificada, poderá ocorrer morte celular. Inclusive, esse tipo de lesão é a principal causa de morte celular provocada pela radiação. A radiação ionizante acarreta diversas alterações estruturais na célula. Entre os seus principais efeitos moleculares está a quebra das fitas de hidrogênio, a quebra ou degradação molecular e o cruzamento inter e intramolecular. As quebras de fita simples são mais facilmente reparadas de que as de fita dupla. Além do mais, as quebras de fita dupla são lesões bastante genotóxicas, que podem gerar anomalias cromossômicas. A instabilidade genética ocasionada pela quebra persistente ou pelo mau emparelhamento da fita dupla pode resultar em carcinogênese. Os cruza- mentos que podem ocorrer são entre duas moléculas de DNA, entre DNA e proteína e entre dois pares de base dentro da dupla hélice de DNA. A perda ou alteração de uma base nitrogenada resulta em uma mutação. Embora essas possam ter importantes implicações, alterações no DNA são discretas e podem não resultar em alterações estruturais dos cromossomos (MOREIRA, 2011; STRACHAN; READ, 2016). Conforme a Lei de Bergonié e Tribondeau, a sensibilidade à radiação é maior nas células que têm elevada taxa mitótica e são indiferenciadas. Além desses pesquisadores, Rubin e Casarett diferenciaram cinco tipos celulares, conforme as particularidades que afetam a sua sensibilidade radiológica. São elas: 3Agentes mutagênicos � células intermitóticas vegetativas, com sensibilidade radiológica muito grande; � células intermitóticas diferenciadas, com sensibilidade radiológica grande; � células do tecido conjuntivo multipotencial, com sensibilidade radio- lógica intermediária; � células reversoras pós-mitóticas, com sensibilidade radiológica grande; � células fixas pós-mitóticas, com sensibilidade radiológica muito grande. Em relação ao ciclo celular, o estágio do ciclo reprodutivo afeta muito a sensibilidade da célula. Normalmente, as células são mais sensíveis durante a mitose (fase M) e a síntese de RNA (G2). São menos sensíveis no período de preparação para a síntese de DNA (G1), e menos ainda durante a síntese de DNA (fase S) (MOREIRA, 2011; KLUG et al., 2009). Os efeitos celulares da radiação podem ser diversos, pois a resposta dos sistemas à radiação depende não só da dose, mas também da sensibilidade radiológica das células e do estroma de suporte. O período de início de resposta do organismo após a exposição à radiação é inversamente proporcional à dose. Quanto mais alta a dose, menor é o espaço de tempo até que apareçam manifestações fisiológicas, chamado de período de latência. Na maior parte dos casos, não se pode diferenciar a lesão ou patologia provocada pela radiação da que ocorre naturalmente. As reações teciduais surgem somente acima da dose limiar, valor que varia conforme o tipo de radiação e o tecido irradiado. Já vimos que um dos principais efeitos da radiação é a morte celular. Nesse caso, se poucas células morrerem, o efeito pode passar despercebido; no entanto, se um grande número de células de um órgão morrer, o seu desempenho pode ser afetado. Além da morte celular, podem ocorrer mutações celulares que causam impacto nas divisões celulares subsequentes. Os primeiros efeitos biológicos da radiação surgem na pele exposta, pois o calor emitido é tão forte que, normalmente, queima mais do que a exposição prolongada ao sol. Os efeitos aparecem sob a forma deeritema e dermatite por radiação aguda, sendo que a pele pode ficar totalmente danificada, visto que as células não resistem ao calor emitido pela reação. Além dos fatores citados anteriormente, a intensidade do dano depende também da localização e extensão da exposição (MOREIRA, 2011; LODISH et al., 2014). Agentes mutagênicos4 Segundo a Comissão Internacional de Proteção Radiológica, a dose limiar é a dose estimada que causa incidência de reações teciduais em 1% dos tecidos irradiados, e seu valor é dependente do tipo de radiação e do tecido exposto. A unidade de dose absorvida de radiação é representada por Gray, ou, de forma abreviada, Gy, e corresponde à energia média da radiação ionizante depositada por unidade de massa da matéria. O limiar de dose para induzir catarata e doenças circulatórias foi estabelecido em 0,5 Gy, para exposição aguda e crônica ou morbidade e mortalidade, respectiva- mente. A dose absorvida em um tumor durante uma sessão de radioterapia é de 2 Gy. A dose letal, que causa a morte de 50% dos seres humanos irradiados no corpo todo, aproximadamente 30 dias após a irradiação, é de 4 Gy. Entretanto, em relação aos efeitos biológicos agudos, há possibilidade de desenvolvimento de anemia e leucopenia com doses limiares de 1 Gy (OKUNO, 2013). Efeitos determinísticos, estocásticos e somáticos das radiações Os efeitos biológicos da radiação dependem de vários fatores, como a fonte de radiação e o sistema que é irradiado. Em relação à radiação, a dose, o tipo de energia, a taxa e as circunstâncias sob as quais a dose é administrada podem influenciar. O intervalo para aparecimento de sintomas, também depende desses fatores. Os efeitos biológicos podem ser classificados em determinísticos e estocásticos (AZEVEDO, 2012; SEARES; FERREIRA, 2002; OKUNO, 2013): � Efeitos biológicos determinísticos: necessitam de altas doses para induzir alterações. São caracterizados pela imediata relação “causa e efeito” entre a exposição de um sistema a uma elevada dose de radiação ionizante e os sintomas atribuídos à perda das funções de um tecido biológico. Na maior parte dos órgãos e tecidos, há um processo constante de perda e substituição das células. A exposição à radiação aumenta essa destruição celular, que pode ser compensada por um aumento na taxa de reparo e reposição, sem consequências importantes ao organismo. Se houver grande redução no número de células, surgem os efeitos clínicos, que podem ser de natureza funcional e reversível ou letal, 5Agentes mutagênicos podendo levar à morte. Desde que a dose não seja muito alta, as células permanecem em funcionamento depois de irradiadas, até tentarem se multiplicar. Em tecidos com elevada taxa de divisão celular, os danos ao material genético, frequentemente, impedem a reposição do tecido lesado. Esses tipos de tecidos, de revestimento, medula óssea e células germinativas, são os mais afetados após irradiações agudas, exibindo efeitos precoces. Já em tecidos formados por células nervosas, hepáticas e tecido muscular, as divisões celulares não são frequentes, e alguns danos no material genético podem ocorrer sem grandes consequências. Desse modo, nes- ses tecidos os efeitos determinísticos surgem mais tardiamente, sendo observados em menor frequência. Tecidos diferenciados apresentam menor grau de reparação quando são gravemente danificados. Por requererem altas doses para provocar efeitos, os determinísticos são produzidos acima do limar, em que a severidade da lesão aumenta com a dose aplicada. A possibilidade de efeito determinístico é nula para valores de dose abaixo do limiar, pois a perda de células é incapaz de prejudicar o tecido ou órgão de forma detectável. Como mencionado, o limiar difere entre os indivíduos, órgãos e sistemas devido à diferença de sensibilidade entre eles. A gravidade da lesão é proporcional à dose, a partir do limiar. Como exemplo, sintomas de eritema, descamação úmida e necrose epitelial surgem com doses de 3 a 5 Gy, 20 Gy e 50 Gy, respectivamente. Em doses maiores do que 0,5 Gy, o efeito da radiação é chamado de determinístico ou não estocástico, sendo que, frequentemente, ocasiona morte celular. � Efeitos biológicos estocásticos: os efeitos estocásticos se referem a uma alteração aleatória no material genético de poucas ou uma única célula, que continua a se multiplicar, levando à alteração celular. Nesse tipo de efeito, a probabilidade do seu aparecimento aumenta com a dose e não se relaciona com a gravidade. Desse modo, os efeitos são consi- derados cumulativos, pois, quanto maior a dose, maior a probabilidade de ocorrência. A principal alteração é o desenvolvimento de câncer. Como a lesão em algumas ou em uma única célula pode resultar em doença, considera-se que os efeitos estocásticos podem ser induzidos Agentes mutagênicos6 por qualquer dose. Sendo assim, pequenas exposições consideradas insignificantes, incluindo dose por radiação natural, podem resultar em aumento do risco. Não há o estabelecimento de um limite abaixo do qual o risco deixe de existir; desse modo, as exposições devem ser as menores e em níveis mais baixos possíveis durante exames de diag- nóstico radiológico e medicina nuclear. A gravidade é relacionada ao tipo e à localização do tumor. Entretanto, os mecanismos de reparo do organismo são muito eficientes e a maior parte das alterações neoplásicas não evolui para câncer. Somente na presença de falha de reparo, após um período de latência, o câncer se estabelece. Quanto ao nível de dano, os efeitos determinísticos são sempre somáticos, enquanto os efeitos estocásticos podem ser somáticos, mas também genéticos ou hereditários. Efeitos somáticos são aqueles que atingem somente o indivíduo irradiado, não podendo ser transmitido para os seus descendentes. Podem ainda ser classificados em imediatos, que aparecem em horas ou semanas após a irradiação, e tardios, que surgem após vários meses ou anos após a exposição. A gravidade dos sintomas depende da dose recebida e da região afetada, pois diferentes regiões do corpo podem responder de diferentes formas a radiação. Os efeitos imediatos pela exposição aguda aparecem no sistema hema- topoiético, com a presença de leucopenia, anemia e trombocitopenia — no sistema vascular com a obstrução dos vasos, e no sistema gastrointestinal com o surgimento de lesões na mucosa. Já os efeitos tardios podem ser difíceis de diferenciar, pois, como demoram a aparecer, não se sabe se a patologia se deve à exposição à radiação ou ao processo de envelhecimento natural do corpo humano. Nos efeitos genéticos, ocorrem danos às células reprodutivas que podem resultar em defeitos ou malformações na descendência. Sua probabilidade de ocorrência é dependente da dose. A radiação ionizante pode induzir mutações nos espermatozoides e ovócitos, sendo que, para que ocorram as mutações, a irradiação deve acontecer nos testículos e ovários. As alterações hereditárias podem variar desde alterações metabólicas até graves problemas mentais e morte precoce (STRACHAN; READ, 2016; VELUDO, 2011). 7Agentes mutagênicos Em resumo, os efeitos biológicos podem ser classificados quanto: � ao tempo de manifestação (imediato ou tardio); � ao nível de dano (somático ou genético); � à dose absorvida (estocásticos ou determinísticos); � à taxa de exposição (crônica ou aguda); � à forma de exposição (corpo inteiro ou de forma localizada); � à dose absorvida (alta ou baixa). Os efeitos estocásticos e determinísticos podem ser distinguidos, principalmente, quanto à dose limiar, pois, nos efeitos estocásticos, não há existência de limiar, e a possibilidade de ocorrência é proporcional à dose. Por outro lado, para que haja efeitos determinísticos, é preciso que o organismo seja exposto a altas doses de radiação, acima de um valor limiar, que varia conforme o tecido (OKUNO, 2013; VELUDO, 2011). Agentes mutagênicos físicos, químicos e biológicos Os agentes mutagênicossão substâncias capazes de danificar o DNA e causar mutações induzidas. Eles podem ser classificados em físicos, químicos e biológicos, conforme a natureza da substância ou composto. No Quadro 1, você encontra um resumo sobre esses agentes mutagênicos. A seguir, veremos mais sobre cada um deles. Fonte: Adaptado de Borges-Osório e Robinson (2000). Físicos Radiação ionizante e ultravioleta Químicos Análogos de bases, compostos com ação direta, agentes alquilantes e corantes de acridina Biológicos Vírus e bactérias Quadro 1. Tipos de agentes mutagênicos Agentes mutagênicos8 Agentes mutagênicos físicos Os principais mutagênicos físicos são as radiações ionizantes e as ultravioleta. As radiações ionizantes são radiações de alta energia e pequeno comprimento de onda, como os raios X, gama e cósmicos. Essas radiações se intercalam com o DNA, provocando erros de pareamento de bases durante a duplicação e rompendo as ligações fosfodiéster. A radiação ionizante pode ter fontes naturais ou artificiais. As naturais incluem os raios cósmicos, a radiação externa de materiais radioativos em algumas rochas e a interna de materiais radioativos em tecidos. As fontes artificiais se encontram na radiologia tera- pêutica e diagnóstica, na exposição ocupacional e na precipitação radioativa proveniente de exposições nucleares (BORGES-OSÓRIO; ROBINSON, 2000; LODISH et al., 2014). As radiações ultravioleta, ou raios UV, têm maior comprimento de onda e menor energia do que as radiações ionizantes. Dos efeitos causados por essa radiação, um dos principais é a formação de dímeros de pirimidina, que são constituídos de duas pirimidinas idênticas. Esses dímeros têm potencial de distorcer a conformação do DNA e assim inibir a sua replicação normal. Como resultado, podem ser introduzidos erros na sequência de bases do DNA ao longo da sua replicação. Em caso de dimerização extensa, pode ocorrer morte celular por radiação UV. Apesar de causar mutações pontuais, os raios UV causam poucas alterações estruturais. Tendo em vista que são absorvidos na pele, não são prejudiciais para as células reprodutivas, porém podem induzir mutações somáticas e câncer de pele (DÜSMAN et al., 2012; LODISH et al., 2014). O espetro da radiação ultravioleta é subdividido, de acordo com o com- primento de onda, em UVA, UVB e UVC. A radiação UVA induz processos oxidativos; os raios UVB provocam dano direto no DNA; e os raios UVC são carcinogênicos e contêm o pico de absorção pelo DNA puro. A exposição excessiva ao sol é a principal causadora de câncer de pele, sendo assim, as pessoas que moram em países tropicais, como o Brasil, estão mais susceptíveis a esse tipo de doença. Além disso, devido à destruição da camada de ozônio, a incidência de raios UVB, relacionados ao câncer de pele, tem aumentando de forma progressiva, permitindo, inclusive, que raios UVC estejam mais próximos da atmosfera terrestre. Os raios UVA independem da camada de ozônio, desse modo, provocam câncer de pele em indivíduos que se expõem ao sol (principalmente durante períodos de alta incidência) de forma constante e por muitos anos. 9Agentes mutagênicos Quando atinge a pele exposta, a radiação UV origina um processo associado a reações químicas e morfológicas. Podem ocorrer formação de radicais livres, espessamento da camada espinhosa, correção da junção dermoepidérmica e alterações histoquímicas de distintas gravidades. Entre as várias moléculas que podem absorver a radiação UV, o DNA é uma das principais, conse- quentemente, podem ocorrer transformações malignas da célula. Além disso, a radiação UV pode ativar componentes do sistema imune da pele, provocando uma resposta inflamatória por diferentes mecanismos, como ativação direta de queratinócitos e redistribuição e liberação de autoantígenos sequestrados de células lesionadas pela radiação (BALOGH et al., 2011; LODISH et al., 2014). Agentes mutagênicos químicos Os mutagênicos químicos agem de maneira mais variada sobre o material genético do que as radiações, resultando em diversos efeitos. Os principais, dentro dessa classe, são os análogos de bases, os compostos com ação direta, os agentes alquilantes e os corantes de acridina. Os mutagênicos químicos podem causar não disjunção meiótica, quebras cromossômicas e mutações pontuais. Os análogos de bases são compostos com estruturas químicas extre- mamente semelhantes a das bases nitrogenadas. Por essa razão, podem ser incorporados ao DNA, substituindo-as durante o processo de replicação. Ao contrário disso, os compostos de ação direta não são incorporados ao DNA, porém alteram de forma direta a estrutura das bases nitrogenadas. Os agentes alquilantes são considerados os mais potentes agentes mutagênicos químicos. Eles são capazes de doar um grupo alquila, como CH3 ou CH3CH2, para os grupos amino ou cetona dos nucleotídeos. Os corantes de acridina se intercalam entre as bases adjacentes, por ligação ao DNA. A cafeína também é considerada um mutagênico químico, pois interfere no sistema de reparo do DNA, inibindo a síntese de purinas, resultando em quebras cromossômicas. Além dessas substâncias, devemos levar em consideração os efluentes de indústrias têxteis, contaminantes oriundos de refinarias de petróleo e indústrias de tingimento, compostos organoclorados provenientes da siderurgia e metalurgia e o estireno, composto químico frequentemente utilizado na produção de plásticos, pois essas substâncias demonstraram ter ações mutagênicas ou carcinogênicas pela indução de danos ao material genético do organismo (BORGES-OSÓRIO; ROBINSON, 2000; DÜSMAN et al., 2012). Agentes mutagênicos10 Agentes mutagênicos biológicos Os agentes mutagênicos biológicos são os organismos que possuem capacidade de introduzir parte de seu material genético em seus hospedeiros — por exem- plo, vírus e bactérias. Quando ocorre a inoculação, os materiais genéticos podem se integrar, resultando em mutações originadas por falhas genéticas. Vários agentes mutagênicos podem induzir carcinogênese, como os chama- dos vírus oncogênicos ou oncovírus. Esses são vírus capazes de induzir tumor em células animais, sendo responsáveis por aproximadamente 10% dos casos de câncer. Os oncovírus integram o seu material genético ao DNA da célula hospedeira e se replicam junto aos cromossomos celulares. As células tumorais passam por processo de transformação, e muitas passam a apresentar na sua superfície um antígeno-vírus específico, denominado antígeno de transplante tumor-específico, ou um antígeno no núcleo, denominado antígeno T. As células que são transformadas adquirem formato irregular e algumas anormalidades cromossômicas, em comparação com células normais. Os vírus podem ser de DNA ou RNA. Várias famílias de vírus com genoma de DNA possuem oncovírus, como Adenoviridae, Herpesviridae, Poxviridae, Papovaviridae e Hepadnaviridae. A maior parte dos casos de cânceres cer- vical e anal são causados por papilomavírus humano (HPV). Além desses, o vírus Epstein-Barr e o vírus da hepatite B são associados à carcinogênese. No grupo dos vírus de RNA, apenas os oncovírus da família Retroviri- dae podem causar câncer. Um exemplo são os vírus da leucemia de células T humanas, HTLV-1 e HTLV-2, pois são retrovírus que causam linfoma e leucemia de células T em adultos (BORGES-OSÓRIO; ROBINSON, 2000; TORTORA; FUNKE; CASE, 2012). Os HPVs são vírus capazes de infectar a pele e as mu- cosas, sendo responsáveis pelo câncer cervical e anal. Para impedir a evolução da infecção, recomenda-se a administração de uma vacina para crianças entre 9 e 14 anos de idade. Acesse o link a seguir se quiser ver mais informações sobre a vacina, que está disponível pelo Sistema Único de Saúde (SUS). https://qrgo.page.link/E4HdC 11Agentes mutagênicos AZEVEDO, A. C. P. de. Radioproteção em serviços de saúde: radioproteção em serviços de saúde. Rio de Janeiro: Fundação Oswaldo Cruz, 2012. BALOGH, T. S. et al. Proteção à radiaçãoultravioleta: recursos disponíveis na atualidade em fotoproteção. Anais Brasileiros de Dermatologia, v. 86, n. 4, p. 732−742, 2011. Dispo- nível em: http://www.scielo.br/pdf/abd/v86n4/v86n4a16.pdf. Acesso em: 6 out. 2019. BORGES-OSÓRIO, M. R.; ROBINSON, W. M. Genética humana. Porto Alegre: Artmed, 2000. DÜSMAN, E. et al. Principais agentes mutagênicos e carcinogênicos de exposição humana. SaBios-Revista de Saúde e Biologia, v. 7, n. 2, p. 66−81, 2012. Disponível em: http://revista2.grupointegrado.br/revista/index.php/sabios2/article/view/943/438. Acesso em: 6 out. 2019. KLUG, W. S. et al. Conceitos de genética. Porto Alegre: Artmed, 2009. LODISH, H. et al. Biologia celular e molecular. 7. ed. Porto Alegre: Artmed, 2014. MOREIRA, J. V. de A. Radiobiologia: efeito das radiações ionizantes na célula e formas de protecção das radiações ionizantes. 2011. Dissertação (Mestrado) – Universidade da Beira Interior, Covilhã, 2011. Disponível em: https://ubibliorum.ubi.pt/bitstream/10400.6/987/1/ Disserta%c3%a7%c3%a3o%20Mestrado%20Final%20Jo%c3%a3o%20Moreira.pdf. Acesso em: 5 out. 2019. OKUNO, E. Efeitos biológicos das radiações ionizantes: acidente radiológico de Goiâ- nia. Estudos Avançados, v. 27, n. 77, p. 185−200, 2013. Disponível em: http://www.scielo. br/pdf/ea/v27n77/v27n77a14.pdf. Acesso em: 5 out. 2019. SEARES, M. C.; FERREIRA, C. A. A importância do conhecimento sobre radioproteção pelos profissionais da radiologia. Florianópolis, [2002?]. Disponível em: http://www. spenzieri.com.br/wp-content/uploads/2011/10/Radioprote%C3%A7%C3%A3o-para- -Radiologistas.pdf. Acesso em: 6 out. 2019. STRACHAN, T.; READ, A. Genética molecular humana. 4. ed. Porto Alegre: Artmed, 2016. TORTORA, G. J.; FUNKE, B. R.; CASE, C. L. Microbiologia. 10. ed. Porto Alegre: Artmed, 2012. VELUDO, P. C. Efeitos da radiação X e níveis de exposição em exames imagiológicos. 2011. Dissertação (Mestrado em Saúde Pública) – Faculdade de Medicina, Universidade de Coimbra, Coimbra, 2011. Disponível em: https://eg.uc.pt/bitstream/10316/20124/1/ Efeitos%20da%20Radia%C3%A7%C3%A3o-X%20e%20Niveis%20de%20 Exposi%C3%A7%C3%A3o%20em%20Exames%20Imagiol%C3%B3gicos.pdf. Acesso em: 6 out. 2019. Agentes mutagênicos12
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