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2018 História Econômica GEral Prof. Diego Boehlke Vargas Profª.Tatiane Thaís Lasta Copyright © UNIASSELVI 2018 Elaboração: Prof. Diego Boehlke Vargas Profª. Tatiane Thaís Lasta Revisão, Diagramação e Produção: Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri UNIASSELVI – Indaial. 330.98109 V297h Vargas, Diego Boehlke História econômica geral / Diego Boehlke Vargas; Tatiane Thaís Lasta. Indaial: UNIASSELVI, 2018. 183 p. : il. ISBN 978-85-515-0124-5 1.Economia – História – Brasil. I. Centro Universitário Leonardo Da Vinci. III aprEsEntação Olá, caro acadêmico! É um prazer tê-lo como leitor do Livro de Estudos História Econômica Geral. Ao longo das páginas, você descobrirá fatos e acontecimentos históricos relacionados à economia. Para que a formação do profissional da Economia seja mais completa é fundamental que o conhecimento do passado seja utilizado para influir no presente e projetar o futuro. Vamos estudar e compreender a história econômica mundial e buscar perceber de que forma os processos sociais e econômicos foram importantes para a formação social no período mais recente. Um dos caminhos a ser descoberto está na influência e na importância de algumas economias mundiais sobre outras. Quais foram os primeiros sistemas econômicos que existiram no mundo? Como ocorreu a passagem da organização tipicamente feudalista para a capitalista? O imperialismo é um conceito relevante para entendermos a economia mundial contemporânea? Quais foram as repercussões da crise de 1929 para a economia mundial? O que se passou no mundo após a Guerra Fria? O presente Livro de Estudos pretende desvelar estes questionamentos de forma clara e objetiva, de modo que, didaticamente, organiza-se da seguinte maneira: Na Unidade 1, você estudará desde o período da Antiguidade até o fim do Feudalismo. Para isso, dividiu-se a unidade em três tópicos: inicialmente, você estudará os primeiros sistemas econômicos, posteriormente, um tópico dedicado ao estudo da transição entre a economia feudal e a capitalista. Por fim, entenderemos o que foi o mercantilismo e o impacto trazido pela expansão ultramarina. Ao longo da Unidade 2, você terá oportunidade de conhecer temas ligados às origens e à formação do sistema capitalista. Aqui, os tópicos foram divididos de forma que você conheça mais sobre o sistema fabril de produção, a Revolução Industrial e a consolidação do modo de produção capitalista, mas, também, sobre o imperialismo durante a passagem dos séculos XIX e XX. Na última unidade deste Livro, a ênfase será sobre a economia do século XX e seus desdobramentos do ponto de vista econômico. O primeiro tópico aborda os estudos relacionados às repercussões da crise de 1929; o segundo, traz apontamentos sobre a Guerra Fria e a crise do socialismo; já o terceiro tópico traz reflexões sobre a globalização e a financeirização da economia no mundo. IV Você já me conhece das outras disciplinas? Não? É calouro? Enfim, tanto para você que está chegando agora à UNIASSELVI quanto para você que já é veterano, há novidades em nosso material. Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos os acadêmicos desde 2005, é o material base da disciplina. A partir de 2017, nossos livros estão de visual novo, com um formato mais prático, que cabe na bolsa e facilita a leitura. O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura interna foi aperfeiçoada com nova diagramação no texto, aproveitando ao máximo o espaço da página, o que também contribui para diminuir a extração de árvores para produção de folhas de papel, por exemplo. Assim, a UNIASSELVI, preocupando-se com o impacto de nossas ações sobre o ambiente, apresenta também este livro no formato digital. Assim, você, acadêmico, tem a possibilidade de estudá-lo com versatilidade nas telas do celular, tablet ou computador. Eu mesmo, UNI, ganhei um novo layout, você me verá frequentemente e surgirei para apresentar dicas de vídeos e outras fontes de conhecimento que complementam o assunto em questão. Todos esses ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos nas pesquisas institucionais sobre os materiais impressos, para que você, nossa maior prioridade, possa continuar seus estudos com um material de qualidade. Aproveito o momento para convidá-lo para um bate-papo sobre o Exame Nacional de Desempenho de Estudantes – ENADE. Bons estudos! O conteúdo apresentado neste livro trata do principal subsídio para a disciplina de História Econômica Geral, contudo, ao longo das páginas preparamos algumas bibliografias e vídeos didáticos que serão úteis para que você amplie seus conhecimentos sobre o tema estudado. Além disso, ao final de cada tópico, existem atividades sobre os conteúdos abordados para você fixar os conhecimentos – não deixe de resolvê-los e tirar as dúvidas junto aos tutores! Esperamos que este livro de estudos possibilite plena compreensão dos principais acontecimentos históricos mundiais relacionados à economia. Desejamos a você um ótimo aprendizado! Bons estudos e um forte abraço! Prof. Diego Boehlke Vargas Profª. Tatiane Thaís Lasta NOTA V VI VII UNIDADE 1 – DA ANTIGUIDADE AO FIM DO FEUDALISMO................................................ 1 TÓPICO 1 – OS PRIMEIROS SISTEMAS ECONÔMICOS ........................................................... 3 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 3 2 A REVOLUÇÃO NEOLÍTICA ............................................................................................................ 4 3 AS CIVILIZAÇÕES HIDRÁULICAS ............................................................................................... 5 3.1 MESOPOTÂMIA .............................................................................................................................. 7 3.2 EGITO ................................................................................................................................................ 9 4 CIVILIZAÇÕES COMERCIAIS......................................................................................................... 14 4.1 A CIVILIZAÇÃO MINOICA DE CRETA ..................................................................................... 14 4.2 AS CIDADES FENÍCIAS ................................................................................................................. 16 RESUMO DO TÓPICO 1 ....................................................................................................................... 21 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 22 TÓPICO 2 – DA ECONOMIA FEUDAL ÀS ORIGENS DO CAPITALISMO............................. 23 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 23 2 O SISTEMA FEUDAL ......................................................................................................................... 23 3 DISSOLUÇÃO DO SISTEMA FEUDAL E ORIGENS DE UM NOVO MODO DE PRODUÇÃO ......................................................................................................................................... 27 3.1 A IMPORTÂNCIA DO COMÉRCIO ............................................................................................ 27 3.2 A FORMAÇÃO DAS PRIMEIRAS CIDADES ............................................................................ 30 3.3 AS NOVAS IDEIAS E A POSIÇÃO DA IGREJA ........................................................................ 32 4 A TRANSIÇÃO PARA O MODO DE PRODUÇÃOCAPITALISTA ......................................... 33 4.1 CAMPONESES ROMPEM AS AMARRAS... NOVO REGIME DE TRABALHO... ............... 34 RESUMO DO TÓPICO 2 ....................................................................................................................... 37 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 38 TÓPICO 3 – A EXPANSÃO ULTRAMARINA E O MERCANTILISMO ..................................... 39 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 39 2 A EXPANSÃO ULTRAMARINA ....................................................................................................... 40 2.1 O MERCANTILISMO...................................................................................................................... 48 RESUMO DO TÓPICO 3 ....................................................................................................................... 56 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 57 UNIDADE 2 – FORMAÇÃO DO SISTEMA CAPITALISTA .......................................................... 59 TÓPICO 1 – A RETOMADA DO CRESCIMENTO ECONÔMICO E O SISTEMA FABRIL DE PRODUÇÃO ................................................................................................................ 61 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 61 2 A RECUPERAÇÃO ECONÔMICA DO SÉCULO XVIII............................................................... 62 3 FUNDAMENTOS PARA A FORMAÇÃO DO SISTEMA ECONÔMICO CAPITALISTA ... 71 RESUMO DO TÓPICO 1 ....................................................................................................................... 73 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 74 sumário VIII TÓPICO 2 – DA REVOLUÇÃO INDUSTRIAL À CONSOLIDAÇÃO DO MODO DE PRODUÇÃO CAPITALISTA ........................................................................................ 75 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 75 2 A REVOLUÇÃO INDUSTRIAL INGLESA ..................................................................................... 75 3 A SEGUNDA REVOLUÇÃO INDUSTRIAL................................................................................... 86 4 A INDUSTRIALIZAÇÃO FORA DA INGLATERRA ................................................................... 92 4.1 ALEMANHA .................................................................................................................................... 93 4.2 ITÁLIA ............................................................................................................................................... 94 4.3 ESTADOS UNIDOS ......................................................................................................................... 95 4.4 JAPÃO ............................................................................................................................................... 97 RESUMO DO TÓPICO 2 ....................................................................................................................... 99 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................100 TÓPICO 3 – O IMPERIALISMO E O CAPITALISMO PERIFÉRICO .........................................101 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................101 2 AS TRANSFORMAÇÕES TRAZIDAS PELO IMPERIALISMO ..............................................101 3 O ESTÁGIO IMPERIALISTA ..........................................................................................................106 3.1 A FASE “CLÁSSICA” DO IMPERIALISMO ..............................................................................111 3.2 OS “ANOS DOURADOS” DA ECONOMIA IMPERIALISTA ................................................113 LEITURA COMPLEMENTAR .............................................................................................................118 RESUMO DO TÓPICO 3 .....................................................................................................................121 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................122 UNIDADE 3 – ECONOMIA DO SÉCULO XX E SEUS DESDOBRAMENTOS MUNDIAIS ..................................................................................................................123 TÓPICO 1 – A CRISE DE 1929 E SUAS REPERCUSSÕES ............................................................125 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................125 2 ANTECEDENTES: O CONTEXTO HISTÓRICO DA PRIMEIRA GUERRA MUNDIAL ...126 3 A DÉCADA DE 1920 ..........................................................................................................................129 4 A GRANDE DEPRESSÃO DE 1929 E SEUS DESDOBRAMENTOS ......................................132 5 CRISE, RECESSÃO, DEPRESSÃO: NEOLIBERALISMO COMO SOLUÇÃO .....................139 RESUMO DO TÓPICO 1 .....................................................................................................................141 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................142 TÓPICO 2 – O PÓS-CRISE: A SEGUNDA GUERRA, GUERRA FRIA E O SOCIALISMO ..143 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................143 2 REAÇÃO À DEPRESSÃO: SEGUNDA GUERRA MUNDIAL ................................................143 3 GUERRA FRIA ....................................................................................................................................150 4 SOCIALISMO COMO ALTERNATIVA ........................................................................................156 4.1 DA RÚSSIA À UNIÃO SOVIÉTICA NA PRIMEIRA GUERRA MUNDIAL ......................157 4.2 A URSS NA SEGUNDA GUERRA MUNDIAL E A RECONSTRUÇÃO .............................160 RESUMO DO TÓPICO 2 .....................................................................................................................164 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................166 IX TÓPICO 3 – GLOBALIZAÇÃO E FINANCEIRIZAÇÃO DA ECONOMIA ..............................167 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................167 2 OS PROCESSOS DE GLOBALIZAÇÂO .......................................................................................167 3 COMÉRCIO GLOBAL ......................................................................................................................172 4 A MUNDIALIZAÇÃO DO CAPITAL E O MERCADO FINANCEIRO .................................176 RESUMO DO TÓPICO 3 .....................................................................................................................179 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................180 REFERÊNCIAS......................................................................................................................................181 X 1 UNIDADE 1 DA ANTIGUIDADE AO FIM DO FEUDALISMO OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM PLANO DE ESTUDOS Nesta primeira unidade do livro, os objetivos a serem alcançados são: • conhecer os primeiros sistemas econômicos que existiram no mundo para que você possa interpretar a dinâmica de comércio entre eles; • caracterizar a economia feudal e entender as origens do modo de produção capitalista; • examinar a expansão ultramarina do século XV e as práticas econômicas mercantilistas. Esta unidade está organizada em três tópicos. Ao final de cada um deles, você encontrará o resumo e a atividade, que darão maior compreensão dos temas abordados. TÓPICO 1 – PRIMEIROS SISTEMAS ECONÔMICOS TÓPICO 2 – A ECONOMIA FEUDAL E AS ORIGENS DO CAPITALISMO TÓPICO 3 – O MERCANTILISMO E A EXPANSÃO ULTRAMARINA 2 3 TÓPICO 1 UNIDADE 1 OS PRIMEIROS SISTEMAS ECONÔMICOS 1 INTRODUÇÃO Olá, caro acadêmico! É um prazer tê-lo como leitor do livro de História Econômica Geral. Ao longo das próximas páginas, você descobrirá em quais contextos históricos a economia mundial se desenvolveu. O período a ser estudado abrangerá desde as civilizações da Antiguidade até a dinâmica da globalização ao final do século XX. Atualmente, a economia faz parte do nosso cotidiano sem mesmo que percebamos, e quase não paramos para pensar que, em muitos momentos da História, as relações sociais criadas não foram presididas fundamentalmente por aspectos econômicos. Dito de outra forma, a “invenção” da economia ocorre justamente quando a organização das pessoas em sociedade se altera sobremaneira em direção à Idade Moderna. Por meio desta contextualização, cabe-nos perguntar: quais foram os fatos que levaram à organização econômica da sociedade? Quais foram as primeiras civilizações a se beneficiarem com as relações econômicas? De que forma as trocas comerciais entre os povos evoluíram? Como podemos caracterizar os primeiros sistemas econômicos que existiram? Respostas para estas e outras perguntas serão encontradas com a leitura das páginas subsequentes, que contam com ilustrações, informações adicionais e dicas para aprofundar seu estudo. Aqui no Tópico 1, a ênfase se dará no entendimento da chamada Revolução Neolítica; das civilizações hidráulicas, como a mesopotâmica e a egípcia; e das civilizações comerciais: a Minoica de Creta e as cidades fenícias. UNIDADE 1 | DA ANTIGUIDADE AO FIM DO FEUDALISMO 4 2 A REVOLUÇÃO NEOLÍTICA Um dos principais marcos para a formação dos primeiros sistemas econômicos no mundo foi a chamada Revolução Neolítica, que consistiu na domesticação dos animais para os mais diversos usos e no aparecimento da agricultura. O fato é que ao longo do período neolítico, entre 7.000 e 3.000 a.C., a organização humana sofre mudanças radicais quanto ao seu relacionamento com a natureza. O comportamento até então predominante de caça, pesca, coleta de frutos e plantas comestíveis, tipicamente predatório, que resultava numa dificuldade para o crescimento da população e numa formação nômade dos povos, foi substituído por uma organização voltada para o suprimento de suas necessidades por meio da produção. Desta forma, o homem modifica a seleção natural das espécies tanto animais quanto vegetais ao optar pela produção daquelas culturas que poderiam servir e eram mais viáveis para sua alimentação. “Foi a atividade agrícola, principalmente, que permitiu que o homem passasse a viver em comunidades estáveis, sedentarizando-o, e introduzindo a noção de trabalho coletivo e regular”. (REZENDE FILHO, 2010, p. 12). NOTA A ação da seleção natural consiste em selecionar espécies mais adaptadas a determinada condição ecológica, eliminando aquelas desvantajosas para essa mesma condição. A expressão “mais adaptado” refere-se à maior probabilidade de determinado indivíduo sobreviver e deixar descendentes em determinado ambiente. (FONTE: Disponível em: <http://www. sobiologia.com.br/conteudos/Evolucao/evolucao17.php>. Acesso e: 4 set. 2017. Uma vez controlada a fonte de alimentação, tanto a partir do tipo de alimento quanto do período pelo qual as pessoas teriam alimento disponível, o homem passa a conduzir também o crescimento da população. A formação de uma população, espacialmente localizada, permite o aparecimento de diferentes formas sociais de trabalho a partir do desenvolvimento de novas técnicas, como a cerâmica, a tecelagem, a fabricação de instrumentos de pedra polida, a moagem, a cestaria (ver imagem a seguir). Este aspecto transforma e garante a prosperidade das nascentes comunidades, além de contribuir para o início das trocas comerciais, elemento precursor das atividades comerciais. TÓPICO 1 | OS PRIMEIROS SISTEMAS ECONÔMICOS 5 FIGURA 1 – TÉCNICAS E INSTRUMENTOS DO PERÍODO NEOLÍTICO OU IDADE DA PEDRA POLIDA FONTE: Disponível em: <http://3.bp.blogspot.com/... /s1600/Novas+t%C3%A9cnicas.png>. Acesso em: 4 set. 2017. A revolução trazida pelas mudanças no período neolítico se estenderá à formação de diferentes ritmos de produção, em distintos espaços, e à acumulação de bens econômicos, resultando na ideia de propriedade e na segmentação interna dos povos devido à posse de propriedades. É justamente neste contexto que se formam os primeiros sistemas econômicos: surge a necessidade de demarcação com maior precisão dos lotes de terras, do tamanho dos rebanhos e do volume da produção agrícola, que, por sua vez, induzem à invenção da escrita. O surgimento da escrita marca a transição da Pré-história para a História (REZENDE FILHO, 2010). 3 AS CIVILIZAÇÕES HIDRÁULICAS O surgimento da agricultura traz uma transformação ampla à organização humana de diferentes formas. A prática de trabalhos regulares a partir de tarefas que passaram a ser divididas no coletivo leva à escolha dos lugares mais propícios para a produção agrícola: às margens dos grandes rios. Desta forma, nascem as primeiras civilizações ao fim do período neolítico que se fixaram nos vales dos rios Tigre e Eufrates, na Mesopotâmia; do rio Nilo, no Egito; do rio Ganges e do Indo, na Índia; e do rio Amarelo, na China. IMPORTANT E O controle das fontes de alimento alterou drasticamente a organização das comunidades, resultando num homem sedentário e munido de novas técnicas de produção. UNIDADE 1 | DA ANTIGUIDADE AO FIM DO FEUDALISMO 6 A área da Mesopotâmia e do Egito, denominada de Crescente Fértil, era naturalmente fértil devido às cheias dos rios fertilizarem anualmente o solo, possibilitando uma produção contínua (ver imagem a seguir). DICAS Assista ao vídeo “O que é Crescente Fértil” para melhor entender esta importante característica presente nestas civilizações. Disponível em: <https://youtu.be/GEB1399R5H4>. FIGURA 2 – O CRESCENTE FÉRTIL NAS CIVILIZAÇÕES DA MESOPOTÂMIA E DO EGITO FONTE: Disponível em: <https://martinhumanities.files.wordpress.com/2015/09/map01-02.jpg>. Acesso em: 4 set. 2017. Contudo, a ênfase no desenvolvimento de uma alta produção agrícola leva à formação de sociedades urbanizadas e bastante complexas, devido à necessidade constante de grande volume de trabalho coletivo para a construção e manutenção de diques, barragens, canais e reservatórios que eram fundamentais para abastecer os sistemas de irrigação daquelas regiões (REZENDE FILHO, 2010). TÓPICO 1 | OS PRIMEIROS SISTEMAS ECONÔMICOS 7 Nos próximos sub tópicos veremos um pouco mais sobre estas duas civilizações “hidráulicas”. 3.1 MESOPOTÂMIA A Mesopotâmia foi uma civilização que se desenvolveu na chamada “região entre rios”, correspondente ao atual Iraque, a partir de uma alta produtividade agrícola e de uma densa população, resultando numa urbanização crescente e no surgimento de prósperas cidades-Estados desde finais do quarto milênio antes de Cristo. Seus impérios de maior amplitude podem ser vistos no mapa anterior: Lagash, 2.500-2.360 a.C.;Assur, 1.800-1.375 a.C.; e, Babilônia, 1.728-1.686 a.C. A base de sua economia sempre foi a produção agrícola, dependendo de constante e numeroso trabalho coletivo para as obras de irrigação em suas plantações. Para esta região prosperar era preciso levar em conta dois aspectos relevantes: a hostilidade de populações vizinhas, que frequentemente invadiam seu território, obrigando o aprimoramento de mecanismos de defesa por meio de atividades bélicas e a formação de exércitos profissionais, e a dependência do comércio exterior para a obtenção de matérias-primas não encontradas na região, como madeiras, pedras e metais, o que obrigou ao incentivo à produção artesanal como meio de troca para estas matérias-primas (REZENDE FILHO, 2010). Esta dinâmica procurava garantir a sobrevivência de camadas urbanas importantes, tais como os burocratas, os militares, os artesãos, os militares, os sacerdotes e os comerciantes, bem como os grupos dominantes: a família real, os chefes militares e os altos sacerdotes. Esta organização social resultava numa monarquia-teocrática relativamente bem definida. Os sistemas econômicos oriundos desta organização procuravam impor períodos de trabalho compulsórios à população local e a requisição de produtos às aldeias que também abrigavam boa parte da população. A economia deste período envolvia terras, rebanhos, barcos, granjas, estábulos, celeiros e oficinas de trabalhadores escravos e daqueles que cumpriam os trabalhos compulsórios. “Quanto ao seu comércio interno, centrado nas grandes cidades, sempre foi muito ativo e diversificado, oferecendo desde produtos alimentícios até ferramentas e demais utensílios do uso cotidiano” (REZENDE FILHO, 2010, p. 15). Cabe lembrar que a população escrava ainda era muito reduzida devido ao alto custo frente ao excelente sistema de extração de um excedente econômico imposto à quase toda a população mesopotâmica, seja de forma compulsória ou pela apropriação de parcela da produção (REZENDE FILHO, 2010). UNIDADE 1 | DA ANTIGUIDADE AO FIM DO FEUDALISMO 8 FIGURA 3 – CIDADE DE LAGASH, NA MESOPOTÂMIA FONTE: Disponível em: <http://4.bp.blogspot.com/.../AAAAAAAAADs/Fcm5lv9nrSU/ s1600/Lagash.jpg>. Acesso em: 4 set. 2017. NOTA Lagash foi uma das mais importantes cidades da Mesopotâmia e considerada o berço da civilização atual. A cidade torna-se a capital do reino, do qual faziam parte 17 cidades e 40 vilas em um espaço de 1.600 km². (FONTE: Disponível em: <http://knoow.net/ historia/historiaantiga/lagash>. Acesso em: 4 set. 2017. Trata-se de um período em que a monetarização avançou consideravelmente, uma vez que este sistema econômico era composto por muitos homens livres que trabalhavam em grandes complexos de produção, mas deviam horas trabalhadas não remuneradas, chamadas de corveia real, pagas anualmente a partir de fatias de sua produção para o palácio real e os templos. Portanto, desde fins do quarto milênio antes de Cristo o conceito de moeda passa a ser utilizado como instrumento de medida comum e como meio de troca que, neste período, era representado pela cevada. A utilização deste elemento padrão como meio de troca avançaria para o uso dos metais, como o ouro e a prata, em períodos posteriores. TÓPICO 1 | OS PRIMEIROS SISTEMAS ECONÔMICOS 9 Não é à toa que os bancos também fizeram parte da civilização mesopotâmica já em 3.400 a.C. Na cidade de Uruk, no sudeste do Crescente Fértil (ver mapa anterior), os recursos podiam ser reunidos e guardados, além de emprestados a juros para agricultores e comerciantes. A atividade econômica evoluiu de tal modo que por volta de 800 a.C. o sistema bancário já realizava operações básicas como empréstimos a juros, pagamento de juros a depósitos, débitos em conta corrente, e transferências de recursos para sistemas bancários de outras praças (REZENDE FILHO, 2010). Para termos ideia do desenvolvimento do grau de diversificação da economia na civilização mesopotâmica, tomemos o relato de Rezende Filho (2010, p. 15): Esta economia mesopotâmica bastante monetarizada foi fundamentalmente de base agrícola, dependendo do cultivo de cevada, trigo e centeio; e seu artesanato pujante deve ser visto como uma atividade complementar à economia rural, uma vez que as matérias- primas transformadas eram basicamente de origem vegetal e animal: da cevada fazia-se cerveja; da seiva da tamareira fermentada obtinha- se o vinho; da palha fazia-se móveis, cestos, esteiras e demais objetos afins; da semente de sésamo extraía-se o óleo utilizado para cozimento e iluminação; das fibras do linho e da lã dos ovinos produziam-se tecidos; e do leite, produziam-se laticínios. Um dos fatores negativos é que a Mesopotâmia era desprovida de minérios, pedras e madeira – já que o tipo de palmeira existente não era adequado para a construção. Uma matéria-prima bastante abundante e muito utilizada foi a argila, que, além de resultar em objetos de uso diário como potes e jarros de cerâmica, era misturada à palha picada e posta para secar ao sol, transformando- se em resistentes tijolos, empregados em construções de diversas camadas sociais, desde edifícios e muralhas a templos e palácios. Desta forma, sua infraestrutura, que internamente limitava-se à utilização da argila, fortalecia o comércio exterior na compra de marfim e ouro da África; madeiras, mármore e basalto da Síria e do Líbano; prata, cobre e ferro da Ásia menor; madeiras, cobre e estanho da Pérsia e do Elam; e ouro, pedras preciosas e marfim da Arábia e da Índia. 3.2 EGITO A civilização egípcia localizava-se às margens do rio Nilo, que corre por cerca de 1.200 km, desde o Sul até o Norte do Egito, por volta de 3.000 a.C. As faixas de terras marginais ao rio eram extremamente férteis, possibilitando que 20 km de largura ao longo de todo o Rio Nilo fossem destinados fortemente à agricultura. Nos últimos 150 km do rio Nilo, ao desaguar no Mar Mediterrâneo por meio de seus sete braços, forma-se o chamado Delta do Nilo, uma região repleta de canais naturais, charcos e pântanos. UNIDADE 1 | DA ANTIGUIDADE AO FIM DO FEUDALISMO 10 Todos os anos, entre julho e dezembro, o movimento das cheias do rio Nilo garantia ao Egito o desenvolvimento intenso da economia por meio da agricultura. Ao transbordar o leito, suas águas traziam às margens uma grande quantidade de nutrientes e de húmus que ficavam depositados no fundo do rio e continham alto poder fertilizador. Assim, o material orgânico era transportado para o deserto de forma natural, formando um grande oásis (REZENDE FILHO, 2010). Embora a civilização egípcia tenha semelhanças com a mesopotâmica, sobretudo em compartilharem a mesma localização econômica de “fertilidade”, suas características são muito distintas. Em primeiro lugar, as cheias do rio Nilo são regulares, diferentemente das dos rios Tigre e Eufrates, resultando em terras aptas ao plantio sem a necessidade de irrigação artificial constante, o que fez com que o sistema de irrigação egípcia demorasse mais para ser desenvolvido e não ser tão complexo quanto aquele da Mesopotâmia. Na imagem a seguir é possível perceber a organização econômica esquemática do território egípcio. TÓPICO 1 | OS PRIMEIROS SISTEMAS ECONÔMICOS 11 FIGURA 4 – A ECONOMIA NO EGITO ANTIGO FONTE: Disponível em: <http://3.bp.blogspot.com/-OnY5Rtr28lw/VC1PUc4XpiI/ AAAAAAAAKjM/I0e5pZA5wbo/s1600/egitogebmaia.jpg UNIDADE 1 | DA ANTIGUIDADE AO FIM DO FEUDALISMO 12 Outro aspecto diz respeito às invasões de outras civilizações. Cercado por desertos, o Egito protegia-se de conflitos externos de forma natural, tornando-se uma sociedade mais isolada e conservadora. Uma terceira diferença entre a Mesopotâmia e a civilização egípcia estava na dependência do setor externo. O Egito não dependia exclusivamente das trocas comerciais, pois em seu território havia ouro, cobre, estanho e pedras para a construção. Desta forma, também não houve um fortalecimento da produção e da diversificação econômica internaque fosse específica às trocas com outras civilizações – como existia na Mesopotâmia. E, consequentemente, não levou à monetarização de sua economia, pois os objetos eram trocados diretamente por outros objetos, inibindo o desenvolvimento interno da economia. Por fim, cabe destacar as diferenças em sua organização política. O desenvolvimento do Egito não ocorreu por meio de cidades-Estados independentes, mas através da unificação do Estado já em 2.850 a.C., centralizando a administração de todo o território egípcio. Consequentemente, suas relações econômicas eram extremamente centralizadas na pessoa do rei-deus, o faraó. As civilizações egípcias e mesopotâmicas possuem similaridades, mas muitas diferenças relacionadas à organização econômica de seus territórios. ATENCAO A unificação do Estado egípcio é considerada precoce, pois acontece antes do processo de urbanização e da completa divisão social do trabalho. Esta dinâmica resulta num sistema econômico altamente centralizado pelo Estado, na figura do faraó, com ênfase no trabalho coletivo e organizado (REZENDE FILHO, 2010). Quanto à organização política e econômica, cabe destacar as camadas sociais que constituíam este território. A economia do Egito antigo foi orientada no sentido de assegurar a sobrevivência do faraó e das camadas superiores da sociedade, como a família real, os sacerdotes, e os milhares de funcionários administrativos. O artesanato egípcio, por exemplo, tinha sua produção destinada fundamentalmente ao Estado para a decoração dos palácios e templos ou para o consumo da família real. Na imagem a seguir destacam-se as camadas sociais presentes na civilização do Egito. TÓPICO 1 | OS PRIMEIROS SISTEMAS ECONÔMICOS 13 FIGURA 5 – CAMADAS SOCIAIS DA CIVILIZAÇÃO EGÍPCIA FONTE: Disponível em: <https://artedagracinha.files.wordpress.com/2014/11/e12.png>. Acesso em: 4 set. 2017. Assim como na Mesopotâmia, o número de escravos era bastante reduzido no Egito, por serem considerados supérfluos no sistema econômico estabelecido pela corveia real. Toda a terra disponível para plantio era de propriedade do faraó, mas cultivada por trabalhadores livres (camponeses) que deviam entregar parcelas da produção e a corveia real ao Estado. Por sua vez, a propriedade privada nunca se constituiu plenamente no Egito, pois dependia da ratificação do faraó. Embora, muitas vezes, partes de extensões de terra eram concedidas a alguém durante sua vida. UNI “No sistema altamente estatizado do Egito, a economia era de base agrária. Cultivavam-se cereais, principalmente trigo e cevada, frutas, verduras e legumes, o linho, e o papiro, largamente utilizado. Dada a exiguidade de terras férteis, os rebanhos de bovinos não foram numerosos, prevalecendo os de gado, suíno, ovino e caprino, bem como a sistemática criação em cativeiro de aves (patos, gansos, pombos e codornas)” (REZENDE FILHO, 2010, p. 18). Pirâmide social Egito Faraó Nobres e sacerdotes Soldados Escribas Comerciantes Artesãos Componeses Escravos UNIDADE 1 | DA ANTIGUIDADE AO FIM DO FEUDALISMO 14 Entretanto, quanto ao comércio exterior é preciso destacar que ele nunca foi muito ativo no Egito. Como já dito, uma das características da civilização egípcia foi a autossuficiência de matérias-primas necessárias à sua economia, fato que contribuiu para o avanço lento das trocas mercantis entre outros territórios. Suas importações restringiam-se à madeira vinda das cidades fenícias e de algumas mercadorias de luxo, como ébano, marfim e incenso, que vinham da Somália, além de ouro, pedras preciosas e marfim da Núbia. 4 CIVILIZAÇÕES COMERCIAIS As relações econômicas mais primitivas também se desenvolveram nas chamadas civilizações comerciais. Ao longo dos próximos itens estudaremos a Civilização Minoica de Creta e as cidades fenícias. 4.1 A CIVILIZAÇÃO MINOICA DE CRETA Os sistemas econômicos mais primitivos formaram-se a partir da organização em sociedade de cada civilização e, como se viu, o fortalecimento da agricultura foi uma característica importante para este processo. Contudo, existiram civilizações pouco propícias para o desenvolvimento da produção agrícola, nas quais a economia também se desenvolveu. Nestes casos, tais civilizações voltaram-se para o comércio exterior como meio de obter recursos alimentícios que não podiam ser produzidos localmente, dando origem a cidades de economia artesanal e extremamente comerciais. Um dos povos que se inseriu neste contexto foi o da Civilização Minoica, estabelecida na Ilha de Creta, por volta de 5.000 a.C. Neste espaço desenvolveu- se a primeira economia concentrada na produção artesanal voltada para a exportação e no comércio para longas distâncias. O motivo é que a Ilha de Creta era rica em madeiras e contava com correntes marítimas e ventos muito favoráveis à navegação, que possibilitou um acelerado ritmo de comércio com o exterior. No centro da imagem a seguir é possível visualizar a localização da Ilha de Creta, atualmente parte do território da Grécia. TÓPICO 1 | OS PRIMEIROS SISTEMAS ECONÔMICOS 15 FIGURA 6 – LOCALIZAÇÃO GEOGRÁFICA DA ILHA DE CRETA FONTE: Disponível em: <http://www.guiageo-europa.com/mapas/mapa/mediterraneo- mapa.gif>. Acesso em: 4 set. 2017. A pesca e a produção agrícola suplementavam a economia dos minoicos, mas riquezas naturais da ilha eram muito bem exploradas, como o cobre e as madeiras. Com o cultivo de vinhas e oliveiras, esta civilização criou fortes condições para a consolidação de comunidades urbanas em torno de seus portos naturais – uma das grandes vantagens para o período. Tais comunidades eram povoadas principalmente por marinheiros e comerciantes, mas também por ferreiros, carpinteiros e artesãos. A população local passou a produzir vinho, azeite e objetos de cerâmica, como potes e jarros finamente decorados, que serviam de moeda de troca nas ilhas do Mar Egeu, na Grécia, no Egito e na Ásia Menor (REZENDE FILHO, 2010). UNIDADE 1 | DA ANTIGUIDADE AO FIM DO FEUDALISMO 16 DICAS Os detalhes históricos da civilização Minoica, como suas origens e seu alfabeto, são temas de pesquisa até os dias de hoje. Acesse a seguinte notícia para ficar por dentro. Disponível em: <http://www2.uol.com.br/sciam/noticias/a_civilizacao_minoica_teve_ origem_na_europa_nao_no_egito.html>. Acesso em: 4 set. 2017. Suas principais cidades eram Cnossos, Phaitos, Mallia, Gournia e Hagiha Triada, que se desenvolveram por volta de 1.600 a.C. Economicamente eram voltadas para a produção artesanal de exportação, contando com um elevado grau de divisão social do trabalho e com espaços específicos para armazenagem e distribuição da produção por meio de grandes depósitos e armazéns localizados nos centros urbanos. A Ilha de Creta, considerada a primeira economia puramente comercial, teve seus anos dourados aproximadamente entre 1570 e 1425 a.C. Deteve as rotas comerciais marítimas do Mediterrâneo Oriental, suprimiu a pirataria e regulou a concorrência nas ilhas Cíclades (Mar Egeu). Contudo, em inícios de 1.400 a.C. os minoicos são conquistados pela invasão dos aqueus, tendo fim sua civilização e dando origem aos micênicos. DICAS Conheça um pouco mais sobre a civilização minoica assistindo ao documentário “Os minoicos - ascensão e queda”, com legendas em português. Disponível em: <https:// youtu.be/0wmCGRa8W70>. 4.2 AS CIDADES FENÍCIAS A população da Fenícia se estabelece no território atualmente pertencente ao Líbano e Síria por volta de 3.000 a.C. Esta região também pertencia ao chamado Crescente Fértil, mas com faixas agriculturáveis menores e relevo bastante acidentado, dependendo quase exclusivamente dos períodos de chuva como fonte de irrigação. Desta forma, a primeira atividade econômica a ser desenvolvida para garantir sua sobrevivência foi a pesca. TÓPICO 1 | OS PRIMEIROS SISTEMAS ECONÔMICOS 17 Ao longo do tempo, os fenícios passaram a extrair madeira de suas grandes florestas de cedros e dedicar-se à construção naval,aproveitando, assim, seus portos naturais para implementar a atividade comercial por meio do cultivo de vinhas e oliveiras – culturas pouco exigentes quanto à fertilidade do solo –, mas, também, pelo transporte de mercadorias obtidas em outros territórios em rotas no Mar Mediterrâneo. Isto é, os fenícios tornaram-se, já neste período, grandes intermediários de comércio entre civilizações, pois transportavam e comercializavam mercadorias que vinham de todo o Mediterrâneo. Desta forma, criaram muitas técnicas de navegação marítima e tornaram-se os maiores navegadores deste período, sempre procurando esconder de outras civilizações novas rotas marítimas descobertas. NOTA Os fenícios foram responsáveis pela criação de um alfabeto próprio formado por 22 letras, com caracteres muito mais simples que os dos sumérios e egípcios. Este método de escrita foi adotado pelos gregos em períodos posteriores e serviu de base para o alfabeto romano que utilizamos atualmente (FONTE: Disponível em: <http://mundoestranho.abril. com.br/historia/quem-foram-os-fenicios>. Do ponto de vista de sua organização política, a Fenícia não constituiu um Estado unificado – uma característica que a distingue dos demais povos da região que organizaram grandes impérios –, mas foi formada por cidades-Estados independentes situadas em pontos dispersos do litoral, formando populações no entorno dos portos naturais existentes em seu território. Estas cidades tiveram seu auge entre 1.200 e 900 a.C., destacando-se Ugarit, Aradus, Trípoli, Biblos, Sidon e Tiro, e constituindo-se como importantes centros comerciais e manufatureiros – aproveitando a queda da civilização minoica de Creta após 1.400 a.C. Outro aspecto importante foi o domínio pelos comerciantes das rotas marítimas, a talassocracia, uma elite mercantil altamente organizada em repúblicas e/ou monarquias para a administração do espaço de navegação e comércio. A imagem a seguir apresenta a localização dos fenícios, bem como as principais rotas comerciais marítimas desenvolvidas nas regiões costeiras ao Mar Mediterrâneo. UNIDADE 1 | DA ANTIGUIDADE AO FIM DO FEUDALISMO 18 FIGURA 7 – LOCALIZAÇÃO DA CIVILIZAÇÃO FENÍCIA E SUAS ROTAS MARÍTIMAS FONTE: Disponível em: <https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/thumb/7/78/ Rutas_comerciales_fenicias-pt.svg/1200px-Rutas_comerciales_fenicias-pt.svg.png>. Acesso em: 4 set. 2017. Alguns dos produtos comercializados pelos fenícios tiveram até uma produção em série, como os objetos de cerâmica e de metal. Contudo, o principal produto de exportação foi o corante de púrpura, obtido de um molusco comum em seu litoral, o múrex, que permitia o tingimento de tecidos desde tons de rosa até o roxo. O corante de púrpura foi uma das mercadorias mais caras e procuradas da Antiguidade – chegando até mesmo a ter sua produção limitada a imperadores em séculos posteriores –, cujas técnicas de tingimento foram muito dominadas pelos fenícios (REZENDE FILHO, 2010). IMPORTANT E O corante de púrpura foi o principal produto de exportação dos fenícios, por ser considerado um item de luxo entre as classes reais e até mesmo de titularidade real. Com o fim de fortalecer as transações de seu comércio de trocas, os fenícios procuraram fundar feitorias, consideradas pontos de apoio situados nas regiões onde havia comércio para facilitar os enlaces com o setor externo. Algumas destas feitorias ou colônias também estão dispostas na imagem anterior. TÓPICO 1 | OS PRIMEIROS SISTEMAS ECONÔMICOS 19 Pode-se destacar a construção de cidades para estes fins, como Palermo, na Sicília, e Cádiz e Málaga, na Espanha, mas, especialmente uma destas feitorias carece de maior atenção, que deu origem à cidade de Cartago. Cartago tornou- se uma grande potência econômica de controle do Mar Mediterrâneo entre os séculos IX e II a.C., até ser derrotada por Roma nas guerras púnicas. A imagem a seguir retrata a pujança econômica que se tornou esta feitoria fenícia. FIGURA 8 – REPRESENTAÇÃO DO PORTO DE CARTAGO FONTE: Disponível em: <https://br.pinterest.com/pin/461407924295231582/>. Acesso em: 4 set. 2017. Por outro lado, embora o comércio de trocas tenha sido largamente desenvolvido pelos fenícios, suas cidades não conheceram a monetarização. As primeiras cunhagens de moedas ocorrem apenas no século V a.C., primeiramente na cidade de Tiro, depois em Sidon, Biblos e Cartago. Um dos motivos para o atraso na monetarização está na forma de comércio realizado pelos fenícios, que se baseava nas trocas comerciais de produtos escassos e abundantes em determinados territórios. A difusão da moeda facilita o comércio, mas não é um pré-requisito para o seu pleno funcionamento, portanto, o processo de monetarização depende da estrutura e da dinâmica interna presente em cada sistema econômico específico. Na Mesopotâmia, por exemplo, a moeda foi importante devido às suas trocas com outras civilizações, mas no Egito a centralização pelo Estado, com ênfase no trabalho coletivo, pouco incentivou a monetarização (REZENDE FILHO, 2010). UNIDADE 1 | DA ANTIGUIDADE AO FIM DO FEUDALISMO 20 IMPORTANT E Os fenícios não conheceram a monetarização da economia devido ao fato de sua dinâmica interna econômica ter privilegiado as trocas comerciais entre produtos escassos e abundantes para o comércio exterior. Sobretudo, é importante destacar que os fenícios não produziram um grande volume de produtos, mas atuaram fortemente como importadores e exportadores de mercadorias na Antiguidade. Isto é, compravam joias, ferro, ouro, prata, cereais de diferentes regiões para serem revendidos àquelas civilizações que possuíam escassez de acesso a estes produtos. Como resultado, viu-se a formação de rotas terrestres e marítimas densas e complexas entre o Egito, a Ilha de Creta, o norte da África, o Sul da atual Itália e Espanha, chegando até às Ilhas Britânicas. DICAS Para um resumo bastante didático sobre o povo fenício, não deixe de assistir a este vídeo: Fenicios_Povos da antiguidade. Disponível:>www.youtube.com/watclu?u=193_ VCe1IJ8 21 Neste tópico, você aprendeu que: • A Revolução Neolítica foi importante para a formação dos primeiros sistemas econômicos, pois permitiu o desenvolvimento da agricultura. • O comportamento predatório do homem é substituído para uma organização social voltada à produção de produtos necessários com a Revolução Neolítica. • A Mesopotâmia e o Egito desenvolveram suas cidades ao longo do chamado Crescente Fértil. • O crescimento da Mesopotâmia dependeu da defesa de suas fronteiras e do comércio exterior em busca de matérias-primas. • O conceito de moeda já era utilizado há muito tempo na Mesopotâmia, favorecendo o avanço da monetarização. • A economia agrícola pôde desenvolver-se intensamente no Egito devido às cheias anuais do rio Nilo. • As cheias do rio Nilo eram regulares; o Egito era protegido de ataques por causa do deserto; o Egito não dependia das trocas comerciais com outros territórios; as decisões políticas eram centralizadas no faraó. • A Civilização Minoica e os fenícios possuem suas economias caracterizadas pelo desenvolvimento do comércio exterior. • As principais cidades minoicas tiveram seu crescimento orientado para a produção artesanal de exportação. • Os fenícios tornaram-se grandes intermediários comerciais devido às muitas técnicas de navegação criadas, originando uma talassocracia. • O principal produto de exportação dos fenícios foi o corante de púrpura, considerado muito valioso. • As trocas comerciais realizadas pelos fenícios não produziram um território monetarizado. RESUMO DO TÓPICO 1 22 1 O que podemos entender por civilizações hidráulicas? Escreva sobre os dois exemplos mais expressivos. 2 A Revolução Neolítica consistiu na domesticação dos animais para os mais diversos usos e no aparecimento da agricultura entre 7.000 e 3.000 a.C. Com base no contexto das mudanças oriundas do período neolítico, julgue as seguintes afirmações: I - Uma dastransformações importantes para a formação dos sistemas econômicos foi a passagem do comportamento humano predatório para o de produção. II- A Revolução Neolítica se refere ao período do início da Idade Moderna, no qual o comércio entre países estava bastante avançado. III- O crescimento das populações está muito ligado ao controle das fontes de alimentação do período neolítico. IV- O período neolítico é importante para a formação das sociedades, mas pouco para os sistemas econômicos, pois tratou-se de uma mera revolução das técnicas. Agora, assinale a alternativa correta: a) ( ) Somente a afirmativa II está correta. b) ( ) As afirmativas I e III estão corretas. c) ( ) As afirmativas III e IV estão corretas. d) ( ) As afirmativas I e IV estão corretas. 3 Escreva sobre as formas de comércio exterior presentes na Civilização Minoica e nos fenícios. AUTOATIVIDADE 23 TÓPICO 2 DA ECONOMIA FEUDAL ÀS ORIGENS DO CAPITALISMO UNIDADE 1 1 INTRODUÇÃO Prezado acadêmico! Bem-vindo ao segundo tópico do livro de estudos de História Econômica Geral. A partir de agora vamos estudar desde a economia feudal até as origens do capitalismo. Mais especificamente, veremos: o sistema feudal, sua estrutura e funcionamento e sua dissolução. Estudaremos também a formação das primeiras cidades, a importância do comércio e como ocorreu a transição do sistema feudal para o sistema capitalista. Bons estudos! 2 O SISTEMA FEUDAL No tópico anterior conhecemos os sistemas econômicos que predominaram antes do feudalismo. Quando se trata de sistemas econômicos, o momento histórico do feudalismo, ou desta organização econômica, é um ponto crucial para compreender a evolução do modo de produção que se instalou aos poucos pelo mundo, que foi o modo de produção capitalista. Antes, porém, é preciso recapitular com cuidado: o que foi o sistema feudal? Sabe-se que o feudalismo foi um sistema econômico que predominou na Europa e que antecedeu o modo de produção capitalista. Mas, como se dava a organização da produção no sistema feudal? É importante frisar que neste período ainda não existiam as fábricas. O trabalho resumia-se à terra, na agricultura, nos grãos e cultivos para alimentação e no pastoreio, no rebanho para a lã do vestuário. A sociedade medieval era essencialmente agrária. A hierarquia social baseava-se nos vínculos que os indivíduos mantinham com a terra; as atividades agrícolas eram as que sustentavam todo o sistema social (HUNT, 2005; HUBERMANN, 1986). Havia uma divisão das terras neste período que se dava pelos chamados “feudos”. Um feudo era uma aldeia, com uma considerável extensão de terra arável, própria para o plantio das culturas necessárias à sobrevivência, nas quais a maior parte do povo trabalhava. Na encosta da terra cultivada encontravam-se pastos, terrenos e bosques. Os feudos variavam de tamanho e de organização, muito embora as características gerais não se diferenciavam consideravelmente. UNIDADE 1 | DA ANTIGUIDADE AO FIM DO FEUDALISMO 24 FIGURA 9 – ESTRUTURA DO FEUDO FONTE: Disponível em: <https://reinodeavila.files.wordpress.com/2011/03/feudinho1. jpg?w=460&h=300>. Acesso em: 4 set. 2017. Em cada um dos feudos havia um senhor que vivia com sua família em uma casa grande ou em um castelo, como se pode observar na figura acima. As pastagens, os campos e as florestas eram utilizados em comum e divididos em duas partes. Uma terça parte do todo pertencia ao senhor feudal, nesta terça parte o que ali se cultivava se dirigia apenas ao senhor feudal. Quanto à outra parte, ficava dividida entre vários arrendatários que trabalhavam naquelas terras. Importante observar que os arrendatários trabalhavam em sua terra e também nas terras do senhor feudal (HUBERMANN, 1986). As condições de sobrevivência dos camponeses eram miseráveis, trabalhavam por várias horas no dia dividindo-se entre o trabalho nas suas terras e nas do senhor feudal como forma de pagamento. De todo trabalho do camponês restava apenas o suficiente para sobreviver miseravelmente. Importante frisar que as terras do senhor feudal sempre eram prioridade em épocas de plantio e colheita, o mesmo acontecia com os produtos a serem postos à venda no mercado, os produtos melhores e mais valorizados eram do senhor feudal. Outro exemplo das prioridades é que, no caso das estradas, como eram de terra, se estivessem malconservadas, o camponês deveria deixar o seu campo (plantio e colheita) e trabalhar na manutenção das estradas e vias. Se o camponês desejasse moer seu trigo ou mesmo utilizar moedores, ele devia um pagamento ao senhor feudal, já que a ele tudo pertencia (HUBERMANN, 1986). TÓPICO 2 | DA ECONOMIA FEUDAL ÀS ORIGENS DO CAPITALISMO 25 Os camponeses eram mais ou menos dependentes. Acreditavam os senhores que existiam para servi-los. Jamais se pensou em termos de igualdade entre senhor e servo. O servo trabalhava a terra e o senhor manejava o servo. E no que se relacionava ao senhor, esta pouca diferença fazia entre o servo e qualquer cabeça de gado de sua propriedade. Na verdade, no século XI, um camponês francês estava avaliado em 38 soldos, enquanto um cavalo valia 100 soldos! Da mesma forma que o senhor ficaria aborrecido com a perda de um boi, pois dele necessitava para o trabalho da terra, também o aborrecia a perda de qualquer de seus servos – gado humano necessário ao trabalho na terra (HUBERMANN, 1986, p. 17). O camponês também era conhecido como “servo” e, na sua maioria, eram os arrendatários e trabalhadores do campo. O servo não se tratava de um escravo propriamente, já que minimamente possuía um lar, uma família e podia se utilizar de parte da terra cedida pelo senhor feudal. Muito embora existissem vários níveis de servidão nos feudos. Os historiadores afirmam que existiam os chamados “servos de domínio”, os quais viviam ligados à casa do senhor feudal executando tarefas em suas próprias propriedades. Havia também os chamados “fronteiriços”, que eram os camponeses mais desprovidos e tinham uma pequena quantidade de terra que não alcançava um hectare. Estes se situavam à encosta da aldeia. Outra forma de servidão eram os chamados “aldeães”, estes nem mesmo possuíam terra, apenas uma cabana, e trabalhavam para o senhor feudal em troca do alimento de seu sustento. Outra classe destacada pelos historiadores são os “vilões”. Estes eram servos que pareciam ter certa liberdade econômica e pessoal. Estes tinham maior liberdade e privilégios se comparados aos demais, e menos deveres para com o senhor feudal. Alguns deles podiam inclusive cultivar livremente a terra e outros não desempenhavam tarefa alguma e apenas pagavam ao senhor feudal uma parcela de sua produção. Alguns até gozavam de liberdades como homens livres e podiam arrendar terras do senhor feudal. Existia assim, de um lado, cidadãos que eram livres e independentes e pagavam taxas ao senhor feudal, e de outro, os servos, aldeães que sobreviviam a duras penas. Os chamados “vassalos” eram os que negociavam algum benefício com um nobre ou soberano e em troca a este juravam fidelidade. Geralmente recebiam terras, cargos nobres e outros benefícios e, em troca, forneceriam benefícios (HUBERMANN, 1986). É importante ressaltar ainda o papel da Igreja neste período, maior proprietária de terras do período feudal. Muitos senhores feudais doavam terras para o clero, pois acreditavam que esta era uma forma de “encontrar Deus”. Era um costume, quando um senhor feudal ganhava uma guerra e dominava novas terras inimigas, doar parte destas à igreja. Tanto é fato que a Igreja chegou a somar mais de um terço e metade das terras da Europa ocidental. Os bispos e sacerdotes localizavam-se na mesma estrutura que duques e condes. “O clero e a nobreza constituíam as classes governantes. Controlavam a terra e o poder que delas provinha. A Igreja prestava ajuda espiritual, enquanto a nobreza, proteção militar. Em troca, exigiam pagamento das classes trabalhadoras, sob a formade cultivo das terras” (HUBERMANN, 1986, p. 24). UNIDADE 1 | DA ANTIGUIDADE AO FIM DO FEUDALISMO 26 Assim, a estrutura da sociedade feudal separava-se por classes distintas: o rei, considerado o elemento mais importante do sistema feudal. Na sequência, teríamos a alta nobreza, na qual se incluirá a Igreja, duques e condes; em seguida o chamado baixo clero: monges sacerdotes junto com barões e cavalheiros, e por fim, como base de suporte que faziam o sistema funcionar, ficavam os camponeses, servos que se obrigavam a viver e a trabalhar nas terras do senhor feudal em troca de alimentos e condições para sobrevivência. Assim, cada andar desta pirâmide ia sucessivamente sustentando o outro (HUBERMANN, 1986). FIGURA 10 – ESTRUTURA DA SOCIEDADE FEUDAL FONTE: Disponível em: <http://www.miniweb.com.br/historia/Artigos/i_ media/imagens/7_grupos.gif>. Acesso em: 4 set. 2017. REI POVO NOBREZA SENHORES DAS TERRAS, TUDO LHES PERTENCE NÃO PAGAM IMPOSTOS MAS RECEBEM-NOS DO POVO. SUSTENTA O CLERO E A NOBREZA, TRABALHA, PAGA IMPOSTOS A TODOS, TRABALHA PARA O REI NAS OBRAS E NA GUERRA. CLERO A economia deste período se resumia a trocas. Praticamente todas as necessidades eram supridas pelo feudo, alimentação, vestuário, as aldeias eram autossuficientes e o dinheiro não era uma ferramenta usual. O camponês ou servos produziam os alimentos que necessitava, assim como alguma mobília que fosse necessária. O senhor feudal buscava aqueles servos que demonstrassem alguma habilidade mais elaborada para fazer estes serviços para ele. A sociedade feudal era de certa forma completa em si, já que fabricava o que tinha necessidade de consumir e consumia todos os produtos. Vale lembrar que a produção de excedentes não era estimulada. Havia, no entanto, o escambo de mercadorias. TÓPICO 2 | DA ECONOMIA FEUDAL ÀS ORIGENS DO CAPITALISMO 27 Caso alguma família tivesse excesso de trigo, trocava com outra família por algum produto que tivesse em falta e que o outro necessitasse. Assim, o comércio nesta sociedade não tinha muita importância e nem era algo normal (HUBERMANN, 1986). No próximo ponto vamos estudar a dissolução do sistema feudal. IMPORTANT E Caro acadêmico! O feudalismo foi uma forma de organização social e econômica da Idade Média. No feudalismo, a organização da sociedade se dava por meio de feudos, que eram grandes propriedades de terra que pertenciam à nobreza e ao clero e trabalhadas pelos servos, numa economia agrária e de subsistência. DICAS Sugerimos que assista o vídeo sobre feudalismo. Disponível em: <https://www. youtube.com/watch?v=b_dj58jAO2c>. 3 DISSOLUÇÃO DO SISTEMA FEUDAL E ORIGENS DE UM NOVO MODO DE PRODUÇÃO Neste ponto serão abordados os principais momentos que impulsionaram a dissolução do sistema feudal. Uma série de fatores fez com que o regime feudal fosse aos poucos dando lugar a outro modo de produção. Vejamos os principais momentos dessa dissolução neste tópico. 3.1 A IMPORTÂNCIA DO COMÉRCIO Como mencionado anteriormente, no período feudal vivia-se por meio das trocas. O dinheiro, na forma como se conhece hoje, não era algo que parecia fazer sentido na Idade Média. Mas o que se fazia então com os recursos provenientes do pagamento de impostos e taxas ao rei e o dízimo que era pago para a Igreja? Na Idade Média, como as trocas e o escambo de mercadorias era o que predominava, o dinheiro não era investido como ocorre hoje. Este capital que os ricos, nobres, reis e o clero possuíam era inativo, improdutivo. A Igreja, por exemplo, era dona de cofres de ouro, prata e muitas peças utilizadas como enfeites em altares. Mas era um capital que estava parado, sem qualquer tipo de movimentação. UNIDADE 1 | DA ANTIGUIDADE AO FIM DO FEUDALISMO 28 Semanalmente, nos feudos, castelo ou mosteiro acontecia o mercado. Os mercadores, como eram chamados, eram controlados pelos bispos, ou pelo senhor feudal, e ali se efetuavam algumas trocas. Este era o momento de trocar alguma mercadoria excedente por outra de que se tivesse necessidade. É importante lembrar que o excedente da produção não era estimulado e que o que se produzia era unicamente para a sobrevivência. Só se fabricava ou cultivava aquilo que fosse consumido. Desta maneira, o comércio não era muito intenso e era mais local (HUBERMANN, 1986). Outra questão que impedia a expansão do comércio eram as péssimas condições das estradas. Podemos imaginar uma Europa essencialmente rural com estradas malconservadas, de barro e lama dificultando qualquer viagem. Além disso, bandidos e saqueadores estavam à espreita esperando comerciantes, ou mesmo o senhor feudal, que exigia que se pagasse um imposto para transitar pela sua estrada. O comércio e transporte de mercadorias seguiu com dificuldades por algum tempo, já que trafegar em longas distâncias era arriscado e com uma série de dificuldades. Por isso o comércio se restringia apenas aos feudos. Todavia, foi no século XI que o comércio passou a evoluir com maior força e a partir daí começaram as transformações, afetando bruscamente toda a vida do período feudal. É por meio das Cruzadas que o comércio é impulsionado fortemente. Durante as Cruzadas, milhares de europeus foram impulsionados pela Igreja católica a buscar Deus na terra prometida. Estas pessoas necessitavam alimentar-se, vestir-se pelo caminho, e os mercadores as acompanhavam fazendo o papel de fornecedor de diferentes mercadorias. Aqueles que retornavam do Ocidente voltavam com um gosto mais requintado, tanto em relação aos alimentos, quanto ao vestuário que conheceram durante as Cruzadas. A procura por diferentes tipos de produtos acabou gerando uma oportunidade aos mercadores. Neste período também houve um aumento significativo da população. Com este aumento, houve dificuldades de produzir alimentos para atender às necessidades de toda essa nova população que chegava, necessitando de produtos e mercadorias. Além disso, as Cruzadas foram um importante momento para as cidades italianas como Veneza, Genova e Pisa, que encaravam isto como um momento de obter privilégios com o comércio (HUBERMANN,1986). As primeiras feiras em cidades da Inglaterra, França, Bélgica, Alemanha e Itália foram o passo inicial ao comércio permanente que até antes não existia. Existiam assim os mercados semanais e as grandes feiras dos séculos XII e XV. Os mercados eram formados por pequenos produtores rurais, artesãos, negociando seus produtos locais, geralmente agrícolas. Já as feiras, ao contrário, eram imensas, negociavam mercadorias por atacado, e vinham mercadores de todos os cantos do mundo. Nas feiras, encontravam-se grandes mercadores que se diferenciavam dos pequenos revendedores de produtos locais. As feiras eram realizadas com vários preparativos, convidando mercadores de todos os lugares e oferecendo a eles um guarda para ir e voltar, já que os saques e roubos eram frequentes. Os mercadores também eram isentos de impostos e pedágios que os senhores feudais geralmente cobravam. Tais incentivos deviam-se ao fato de que o senhor TÓPICO 2 | DA ECONOMIA FEUDAL ÀS ORIGENS DO CAPITALISMO 29 feudal também lucrava e proporcionava riqueza aos seus domínios e pessoal. Havia a necessidade de se pagar uma taxa de entrada e de saída da cidade, havia também uma taxa de venda e uma taxa para utilizar um local na feira, as quais o mercador deveria pagar ao senhor feudal para usufruir do espaço e da atividade comercial. Com o passar do tempo, as feiras começaram a se tornar importantes não somente pelo comércio em expansão, mas pela presença de transações financeiras. Começou a se tornar difícil a troca e o escambo de determinada mercadoria. É nesse momento que surge em cena a moeda, o dinheiro como meio de troca de mercadorias. Por exemplo: como mensurar a troca de um casaco de lã por galões de vinho? Além disso, era necessário procurar e encontrar quem tivesse o produto disponível e que desejasse trocar por aquilo que se tinha para oferecer.O que ocorre é que a moeda agora passaria a mediar essas trocas comerciais. O processo de trocas torna-se facilitado, já que o dinheiro, as moedas eram aceitas por todos. Quando se tem a moeda (o dinheiro) não há necessidade de procurar quem aceite a trocar galões de vinho por lã. Basta que se procure quem deseja vender a lã e trocá-la por dinheiro, e com esse dinheiro o dono da lã poderá comprar outro produto ou especiaria de que tenha necessidade. Com a introdução do dinheiro, facilitou-se o processo de trocas de mercadorias, além de incentivar o comércio. Após a introdução e utilização do dinheiro no século XII, a economia foi transformada de feudal em uma economia de vários mercados, com expansão do comércio em escala mundial (HUBERMANN, 1986). UNI Caro acadêmico! Você sabe o que foram as Cruzadas? Foram movimentos militares cristãos com sentido à Terra Santa, com o intuito de manter o domínio cristão e impedir que os mulçumanos ocupassem as terras. O significado do nome “Cruzadas” se deve ao fato de que os partícipes utilizavam uma cruz em suas vestimentas e se consideravam soldados de Cristo. DICAS Para saber mais sobre as Cruzadas assista ao Filme “As cruzadas: a meia lua e a cruz”: Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=joDNebrXyhk>. UNIDADE 1 | DA ANTIGUIDADE AO FIM DO FEUDALISMO 30 UNI “As Cruzadas foram movimentos militares cristãos em sentido à Terra Santa com a finalidade de ocupá-la e mantê-la sob domínio cristão. No século VII surgiu no Oriente Médio uma religião também monoteísta que conquistaria muitos adeptos com o passar do século. O islamismo foi difundido através do profeta Maomé e o seu crescimento criaria grandes embates com o cristianismo. No final do século XI, a religião já havia se tornado grande o suficiente para clamar por seus lugares sagrados, que, no entanto, eram coincidentes com os lugares sagrados dos cristãos. A cidade de Jerusalém é o principal local sagrado para essas duas religiões monoteístas e também para o judaísmo. A ocupação da cidade e das regiões próximas que compõem a chamada Terra Santa foi motivo de muitos conflitos entre essas religiões na Idade Média e ainda é uma das causas da instabilidade no Oriente Médio”. Fonte: <http://valfranspp.blogspot.com.br/2015/05/as-cruzadas.html>. Acesso em: 20 set. 2017. 3.2 A FORMAÇÃO DAS PRIMEIRAS CIDADES A expansão do comércio resultou em uma importante consequência: o crescimento das cidades. Antes do início do comércio, as cidades possuíam um formato diferente. Nos grandes centros, onde se localizavam os centros importantes como os militares e judiciais de um país, era onde se realizavam julgamentos e onde havia, portanto, bastante movimento. Boa parte das cidades tinha uma característica e uma essência rural. Todavia, as novas cidades que passaram a se desenvolver com a expansão do comércio, aos poucos passaram a ter características diferenciadas. Na Idade Média, durante o período feudal, as cidades cresceram muito, onde o comércio teve uma expansão rápida. Cidades da Itália e da Holanda foram os primeiros centros de comércio importantes da Europa. Onde a expansão comercial se dava, as cidades começavam a surgir. Geralmente surgiam no encontro de duas estradas, próximas a um rio, próximas a declives. Eram estes os lugares mais procurados pelos mercadores. Próximos a estes lugares geralmente havia uma igreja ou o que se chamava de “burgo”, que era uma espécie de proteção em caso de ataques (HUBERMANN, 1986). O povo passa a deixar as vilas e os feudos e partir para esses novos centros em busca de novas condições de vida. A expansão do comércio, para muitos, parecia significar trabalho e, por conta disso, se deslocavam até as novas cidades com esta finalidade. Se pensarmos na estrutura inicial da sociedade feudal descrita no item anterior, e que esta sociedade agora passava a expandir o comércio e como consequência disso o crescimento das cidades, esses dois modelos de sociedade logo entrariam em conflito. TÓPICO 2 | DA ECONOMIA FEUDAL ÀS ORIGENS DO CAPITALISMO 31 O modelo da sociedade feudal era sem qualquer tipo de liberdade, o senhor feudal tinha o domínio de todas as terras. As cidades, por outro lado, pareciam ser a promessa de liberdade comercial. Embora as terras das cidades também pertencessem aos senhores feudais e ao clero, aos nobres e reis, estes não viam diferença entre as terras das cidades e do feudo. A finalidade dos senhores feudais era a de lucrar o que pudessem com impostos e taxas, de igual modo como faziam nos feudos. Todavia, essas práticas se aplicavam aos feudos e às propriedades rurais, essas leis deveriam ser diferentes para se aplicar nas cidades. O comércio em constante mudança não conseguia se adequar à sociedade feudal, já que a vida nos feudos era diferente da vida que se levava nas cidades. Assim, novos padrões deveriam ser criados, este era um pensamento dos mercadores e não demorou em ser posto em prática (HUBERMANN,1986). O que exatamente eram esses novos padrões e anseios dos mercadores? Neste período, o perigo de saqueadores e roubos nas estradas era muito grande e os mercadores passaram a viajar em grandes grupos. Quando participavam das feiras, sempre avaliavam para ter um melhor desempenho nos negócios a fim de buscar as melhores oportunidades e aumentar seus lucros. Não demorou muito para perceberem que os padrões da sociedade feudal se tornavam um empecilho para os seus negócios. Ao notarem que a sociedade feudal reprimia seus negócios, os mercadores buscaram alternativas, e uma delas foi a criação das chamadas “corporações” ou “ligas”, que tinham como grandes objetivos conquistar a liberdade para que o comércio continuasse se expandindo (HUBERMANN,1986). As populações desejavam a liberdade e também a liberdade da terra. O ato de arrendar a terra no feudo já não agradava mais às populações das cidades. O homem de negócios via a terra desde uma perspectiva diferente daquela do senhor feudal. Caso fosse necessário capital para investir nos negócios, poderiam vender parte da terra ou hipotecá-la e sem a necessidade de pedir permissão para um senhor. As populações urbanas desejavam proceder a seus próprios julgamentos, em seus próprios tribunais. Eram contrárias às cortes vagarosas, que se destinavam a tratar dos casos de uma comunidade estática, e totalmente inadequada aos novos problemas que surgiam numa cidade comercial dinâmica (HUBERMANN,1986, p. 29). O povo das cidades passou a exigir “novas regras”. Não aceitavam mais que um senhor feudal ditasse as regras e que, como era de costume, tirasse vantagem de tudo o que se passava. As populações das cidades queriam criar suas próprias leis, regras e propostas de soluções para seus problemas, já que um senhor feudal não estaria apto para tratar dos negócios de comércio. Estas populações queriam estabelecer seus próprios impostos e taxas, opondo-se às regras e aos pagamentos de impostos e taxas do feudo. Essa liberdade que as cidades proporcionavam foi construída aos poucos. O senhor feudal vendia parte das suas posses aos cidadãos, e aos poucos as cidades passavam a ser independentes. Importante frisar que isto nem sempre foi um processo pacífico, UNIDADE 1 | DA ANTIGUIDADE AO FIM DO FEUDALISMO 32 ao passo que muitos senhores feudais estariam abrindo mão de suas regalias e riquezas. Tudo indica que, ao que parece, este processo de mudança social não foi possível de ser barrado pelos senhores feudais e, obviamente percebendo isto, muitos deles resistiram e enfrentaram a violência das cidades, enquanto outros tiraram proveito desta situação para lucrar ainda mais (HUBERMANN,1986). Essa liberdade e os direitos conquistados pelos mercadores nas cidades refletem a importância crescente do comércio e deste como fonte de riqueza. Na sociedade feudal a riqueza era medida por meio das posses de terras, mas com a expansão do comércio passa a surgir uma nova forma de riqueza: o dinheiro. O dinheiro,como mencionado anteriormente, não tinha utilidade dentro do feudo, pois na economia de subsistência vivia-se de trocas e escambo de mercadorias, mas agora assume papel de protagonista como o principal mediador das trocas do comércio nas cidades. A organização da sociedade no feudo pertencia aos senhores feudais e sacerdotes, que viviam do trabalho dos servos e camponeses. Eis que agora a organização da sociedade feudal aos poucos vai se modificando e dá lugar a uma nova classe que ia surgindo, uma classe que vivia do comércio: a classe média! 3.3 AS NOVAS IDEIAS E A POSIÇÃO DA IGREJA Hoje, para fazer boa parte dos negócios da forma como conhecemos, é necessário o dinheiro como mediador. Para efetuar grandes negócios, se o indivíduo não possuir, pode buscá-lo na forma de empréstimos, nos quais terá um determinado prazo para pagar, além de uma quantia a mais pelo período, que são os juros. Hoje é tão natural esta ação de tomar dinheiro em forma de empréstimos e pagar juros que parece natural, mas nem sempre foi assim. Houve um tempo em que cobrar juros era considerado um gravíssimo crime. Na Idade Média, como já se mencionou aqui, a Igreja era uma das instituições mais poderosas e protagonistas sobre o que era o certo e errado naquela sociedade. Assim, a Igreja afirmava que cobrar juros pelo dinheiro era pecado. Não apenas a Igreja condenava a “usura”, o fato de se tomar dinheiro emprestado e cobrar juros era para a Igreja um pecado gravíssimo, tanto que até os governos baixaram uma lei na Inglaterra, a qual tinha os seguintes dizeres: “Fica determinado que nenhuma pessoa ou pessoas de qualquer classe, estado, qualidade ou condição, por qualquer meio corrupto, artificioso ou disfarçado, ou outro, emprestem, deem, entreguem ou passem qualquer soma ou somas de dinheiro... para qualquer forma de usura, aumento, lucro, ganho ou juro a ser tido, recebido ou esperado, acima da soma ou somas dessa forma emprestadas... sob a pena de confisco da soma ou somas emprestadas... bem como a usura... e ainda a da punição de prisão”. (HUBERMANN, 1986, p. 37). TÓPICO 2 | DA ECONOMIA FEUDAL ÀS ORIGENS DO CAPITALISMO 33 A Igreja era instituição que ensinava o que era certo e errado em todas as atividades humanas, para que o homem pudesse usufruir do paraíso. Ensinava que os lucros eram a ruína da alma e que o mais importante era o bem-estar espiritual, ao qual se deveria dar prioridade. Tanto que a famosa passagem bíblica até hoje é conhecida: “mais fácil um camelo passar pelo buraco de uma agulha do que um rico entrar no reino dos céus”. Portanto, para a Igreja o empréstimo e a cobrança de juros eram um pecado condenável. Além disso, emprestar dinheiro e receber de volta o valor mais os juros permitia a possibilidade de viver sem trabalhar, e isto, para a Igreja da Idade Média, não era um ato correto! Todavia, esta pregação da Igreja era válida para o povo, mas não para ela. O que defendia e afirmava ser pecado condenável, na prática da instituição era bem diferente, “embora os bispos e reis combatessem e fizessem leis contra os juros e usura, estavam entre os primeiros a violar tais leis” (HUBERMANN, 1986, p. 39). A contradição estava dada: apesar de aquela que por boas maneiras do indivíduo lhe entregava a chave do céu, por não ter pecados, era a maior das pecadoras. E aos poucos, com o contínuo crescimento do comércio, o dinheiro passa a ter um papel de protagonista importante nos negócios dos comerciantes, e as leis de usura passam a se tornar um empecilho aos negócios, já que a lei proibia que se tomasse empréstimos e o comerciante necessitava de mais dinheiro. Com os comerciantes pressionando, aos poucos a Igreja passou a ceder em relação às leis que cediam minimamente, como esta, que dizia: “A usura é um pecado – mas, sob certas circunstâncias”, ou mesmo sendo pecado “em casos específicos”. Tudo isso foi aos poucos sendo modificado para atender às novas condições que se apresentavam. As leis de usura foram desaparecendo e as práticas de comércio passaram a fazer parte da rotina das cidades. Tudo passou a ser modificado quando a sociedade entra em uma nova fase de desenvolvimento (HUBERMANN, 1986). É justamente o que vamos estudar na seção a seguir. 4 A TRANSIÇÃO PARA O MODO DE PRODUÇÃO CAPITALISTA Com a expansão do sistema de comércio, fortaleceram-se as cidades industriais e comerciais para justamente servir a este comércio. Com esse crescimento, as mudanças na agricultura foram grandes, ocorrendo um enfraquecimento das relações com a terra e, por consequência, com as estruturas feudais. Por volta do século XV, as feiras aos poucos eram substituídas por cidades comerciais, onde florescia um mercado permanente. Nesse período, novas leis com relação ao comércio foram criadas. É daí inclusive que surgem as leis que regem o sistema capitalista, baseadas nos negócios, contratos, representações comerciais, leilões etc. UNIDADE 1 | DA ANTIGUIDADE AO FIM DO FEUDALISMO 34 As indústrias que começaram a aparecer nas cidades eram basicamente de exportação. Os artesãos vendiam seus produtos aos comerciantes e estes os transportavam e os revendiam. Uma diferença ainda a ser considerada era a de que os artesãos no sistema feudal eram também agricultores, e os artesãos das cidades vão desistir da sua posse de terra para dedicar-se única e exclusivamente ao trabalho com o qual possam ter uma renda em dinheiro, podendo utilizá-lo para satisfazer suas necessidades. Com o comércio prosperando, se expandia também a necessidade de haver uma maior produtividade, e nesse momento passa-se a ter maior controle do processo produtivo. Por volta do século XVI, as indústrias que existiam eram de um artesão proprietário de sua oficina e de suas ferramentas e matérias-primas e funcionava como um pequeno produtor independente. Inicialmente, o capitalista fornecia ao artesão a matéria-prima e lhe pagava uma quantia para transformá-la em produto final, num sistema doméstico de trabalho (HUNT, 2005). Muitos historiadores afirmam que o capitalismo já existia quando ocorreu essa expansão e domínio do comércio na Europa. Os mercados, na busca de lucro monetário, substituíram os costumes e a tradição do sistema hierárquico do feudalismo na determinação de quem executaria certa tarefa, como era neste regime de castas. O capitalismo enquanto sistema econômico só se tornou dominante no momento em que as relações entre os capitalistas e os trabalhadores existentes, por conta das indústrias de exportação, foram estendidas a várias outras indústrias da economia daquela época. Para esse sistema se desenvolver, os resquícios do sistema feudal deveriam ser destruídos. O século XVI é um "divisor de águas” na história de toda a Europa. Nesse período marca-se a linha divisória entre as ruínas feudais e o novo sistema que surgia: o capitalismo. Ocorreram uma série de mudanças por conta disso, mas a principal é que a partir deste momento cria-se uma classe trabalhadora que era privada dos meios de produção e forçada à situação de vender o seu próprio trabalho como única possibilidade de sobrevivência. 4.1 CAMPONESES ROMPEM AS AMARRAS... NOVO REGIME DE TRABALHO... Com o crescimento das chamadas vilas e das cidades conduziu-se também o crescimento da especialização rural-urbana. A produção de bens manufaturados cresceu muito e aos poucos o que era essencialmente agrário e rural começa a ganhar outras feições, com trabalhadores rompendo os laços com a terra. Nesse processo de crescente produção manufatureira especializam-se as atividades e a produtividade aumenta, e o que aumenta em consonância com isso são as relações de comércio internacional. TÓPICO 2 | DA ECONOMIA FEUDAL ÀS ORIGENS DO CAPITALISMO 35 Para muitos pensadores, essa disseminação do comércio internacional foi a mais importante força para a desintegração do feudalismo medieval. Obviamente isso não deve ser posto em dúvida, todavia, convém lembrar que um dos fatores desse comércio
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