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LEI 13.869/19 
– ABUSO DE 
AUTORIDADE
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LEI 13.869/19 – ABUSO DE AUTORIDADE
1. ASPECTOS GERAIS
1.1 – INTRODUÇÃO
Contexto da lei. Em setembro de 2019 tivemos a publicação da Lei 13.869/19, nossa nova Lei 
de Abuso de Autoridade, a qual revogou expressamente a Lei 4.898/65 – antiga Lei de Abuso 
de Autoridade - além de alterar diversos dispositivos de outras leis em vigor.
Finalidade da lei. Estudamos em Direito Administrativo que o Estado e seus agentes possuem 
algumas prerrogativas não extensíveis aos particulares, como por exemplo a presunção de 
legitimidade de seus atos (são, a princípio, considerados praticados de acordo com a lei). 
Contudo, não raro temos a ocorrência de condutas praticadas por agentes estatais que extra-
polam ou se desviam dos limites da lei, caracterizando-se em verdadeiro abuso da autoridade 
legitimamente conferida a eles.
Com isso, surge a necessidade de contenção e punição desses atos praticados em desconformi-
dade com a legislação. Várias são as normas, administrativas, cíveis e penais, que visam punir 
o agente público que abusa de seu poder. Temos como exemplo os crimes do Código Penal, 
notadamente os cometidos contra a Administração Pública, que buscam, mesmo que de forma 
indireta quanto ao abuso, punir tais atos praticados por agentes públicos. Da mesma forma, 
há normas administrativas, como a Lei de Improbidade, que sancionam administrativamente 
tais condutas.
Ao lado dessas normas, tínhamos a Lei 4.898/65, a qual, como vimos, foi revogada pela nova 
Lei de Abuso de Autoridade - Lei 13.869/19 – atualmente em vigor e que, nas palavras de 
Greco e Sanches, tem por finalidade: modernizar a prevenção e repressão aos comportamen-
tos abusivos de poder no trato dos direitos fundamentais do cidadão, colocando em mira a 
conduta de autoridades e agentes públicos1.
Organização. Vale ressaltar ainda que a Lei 13.869/19 é dividida nos seguintes Capítulos:
Capítulo I DISPOSIÇÕES GERAIS
Capítulo II DOS SUJEITOS DO CRIME
Capítulo III DA AÇÃO PENAL
Capítulo IV DOS EFEITOS DA CONDENAÇÃO E DAS PENAS RESTRITIVAS DE DIREITOS
Capítulo V DAS SANÇÕES DE NATUREZA CIVIL E ADMINISTRATIVA
Capítulo VI DOS CRIMES E DAS PENAS
Capítulo VII DO PROCEDIMENTO
Capítulo VIII DISPOSIÇÕES FINAIS
1  GRECO, Rogério. CUNHA, Rogério Sanches. Abuso de Autoridade Lei n° 13.869/2019 comentada artigo 
por artigo. Salvador: Juspodivm, 2020, p. 12.
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1.2 – SUJEITOS DO CRIME E CARACTERÍSTICAS GERAIS – ART. 1° E 2°
Art. 1º Esta Lei define os crimes de abuso de autoridade, cometidos por agente público, 
servidor ou não, que, no exercício de suas funções ou a pretexto de exercê-las, abuse do 
poder que lhe tenha sido atribuído.
§ 1º As condutas descritas nesta Lei constituem crime de abuso de autoridade quando 
praticadas pelo agente com a finalidade específica de prejudicar outrem ou beneficiar a si 
mesmo ou a terceiro, ou, ainda, por mero capricho ou satisfação pessoal.
§ 2º A divergência na interpretação de lei ou na avaliação de fatos e provas não configura 
abuso de autoridade.
Art. 2º É sujeito ativo do crime de abuso de autoridade qualquer agente público, servidor 
ou não, da administração direta, indireta ou fundacional de qualquer dos Poderes da União, 
dos Estados, do Distrito Federal, dos Municípios e de Território, compreendendo, mas não 
se limitando a:
I - Servidores públicos e militares ou pessoas a eles equiparadas;
II - Membros do Poder Legislativo;
III - membros do Poder Executivo;
IV - Membros do Poder Judiciário;
V - Membros do Ministério Público;
VI - Membros dos tribunais ou conselhos de contas.
Parágrafo único. Reputa-se agente público, para os efeitos desta Lei, todo aquele que exerce, 
ainda que transitoriamente ou sem remuneração, por eleição, nomeação, designação, con-
tratação ou qualquer outra forma de investidura ou vínculo, mandato, cargo, emprego ou 
função em órgão ou entidade abrangidos pelo caput deste artigo.
Sujeitos Ativo. Quanto ao sujeito ativo (quem pratica o crime), como se extrai da leitura do art. 
1°, caput c/c art. 2°, os crimes da Lei 13.869/19 são próprios (exigirão uma condição especial 
do sujeito ativo), os quais somente poderão ser cometidos por AGENTE PÚBLICO.
Mas qual o conceito “Agente Público” para os fins da mencionada Lei?
É um conceito bastante amplo. Resumindo e esquematizando o disposto no art. 2°, temos 
que se trata:
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O art. 2°, em seus incisos, traz um rol exemplificativo de sujeitos ativos, sem prejuízo de vários 
outros exemplos: servidores públicos; empregados públicos; agentes políticos; militares, etc.
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AUTORIDADE
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1. ASPECTOS GERAIS
1.2 – SUJEITOS DO CRIME E CARACTERÍSTICAS GERAIS – ART. 1° E 2°
No exercício de suas funções ou a pretexto de exercê-las. Segundo o art. 1°, os crimes da Lei 
poderão ser cometidos por agente público: que estiver no exercício da sua função pública (ex: 
policial em serviço); bem como por aquele que, embora não esteja no exercício da função (ex: 
policial de folga), cometer o ato invocando a sua condição de autoridade pública, ou seja, a 
pretexto de exercê-la. Exige-se, portanto, que a conduta cometida guarde relação com a função 
pública do sujeito ativo para que tenhamos a configuração de crime contido na lei (que pode 
estar exercendo-a efetivamente ou mesmo atuando a pretexto de exercê-la).
Agente público de férias ou licença. Poderá ser sujeito ativo de crime da Lei 13.869/19. Isso 
porque quando está de férias ou licença o agente público conserva o seu vínculo com a Admi-
nistração Pública e, como vimos, é possível que o abuso seja cometido não só no exercício da 
função, mas também a pretexto de exercê-la.
Agente público aposentado ou demitido. Nesses casos, o sujeito não mais possui vínculo 
funcional com a Administração Pública (não é mais “agente público” para fins da lei), não 
podendo cometer, em regra, crime de abuso de autoridade.
Múnus Público. Aquele que exerce múnus público (um tipo de encargo imposto pela lei) - como 
por exemplo o tutor, curador, inventariante - não é “agente público” para os fins da Lei de 
Abuso de Autoridade, não podendo assim ser considerado sujeito ativo dos delitos tipificados 
na mencionada norma.
Concurso de pessoas. Como são crimes próprios, os delitos da Lei 13.869/19 admitem tanto 
coautoria quanto participação.
Assunto interessante diz respeito à possibilidade de o particular cometer crime da nova Lei de 
Abuso de Autoridade: via de regra não cometerá, haja vista que não é “agente público” para 
os fins do mencionado art. 2°. Contudo, existe uma possibilidade de o particular responder 
pelo delito: quando pratica-lo conjuntamente com um “agente público”, ou seja, atuando 
como coautor ou partícipe (concurso de pessoas). Dessa forma, sozinho, o particular nunca 
cometerá crime da Lei de Abuso de Autoridade.
E por qual razão o particular também responderá por crime da Lei 13.869/19, nesse caso de 
concurso de pessoas? Explicamos. O art. 30 do Código Penal dispõe que não se comunicam 
as condições de caráter pessoal, salvo quando elementares do crime. Ou seja, quando houver 
uma elementar, essa irá se comunicar (aos coautores e partícipes do delito). Elementares são, 
basicamente, os dados fundamentais/principais de uma conduta criminosa. Nos crimes da Lei 
13.869/19, a condição de “agente público” é uma elementar, portanto ela irá se comunicar, 
se transmitir do agente público ao particular, respondendo, ambos, por crime de Abuso de 
Autoridade. Obviamente se o particular desconhecer a condição de agente público do seu 
parceiro, não responderá por crime de abuso.
Bem Jurídico e Sujeito Passivo. Os bens jurídicos tutelados, ou seja, os valores fundamentais 
que a Lei 13.869/19 buscou proteger ao criminalizar as condutas de abuso de autoridade 
são dois: o regular funcionamento da Administração Pública, a qual não pode admitir que as 
condutas de seus agentes estejam em desconformidade com a lei; os direitos fundamentaisdas vítimas, as quais sofreram o ato de abuso por parte do agente estatal.
Analisando os bens jurídicos protegidos pela Lei, teremos que, à semelhança, são dois os sujei-
tos passivos (vítimas) do crime de abuso: tanto o Estado, responsável pela “máquina pública”, 
quanto a pessoa (física ou jurídica) que sofreu a conduta ilegal por parte do agente estatal.
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Elemento Subjetivo. Todos os crimes previstos na Lei 13.869/19 são dolosos - não há delito 
de abuso de autoridade culposo - e exigem, além do dolo genérico (presente em todo crime 
doloso), um especial fim de agir, o qual encontra-se previsto no art. 1°, §1°.
Portanto, pelo menos em regra, sem a existência de alguma dessas finalidades específicas 
não há que se falar em crime da Lei de Abuso de Autoridade. Ok! Então para a caracterização 
dos delitos da Lei 13.869/19 é necessário que se alcance alguma das finalidades citadas? Não 
é necessário que se alcance, mas apenas que haja a pretensão, a intenção, o fim específico 
de abusar de seu poder, praticando alguma das condutas tipificadas na lei, para se chegar a 
qualquer dessas finalidades (mesmo que ela não seja alcançada).
Divergência na interpretação de lei ou na avaliação de fatos e provas. É certo que o opera-
dor do Direito, rotineiramente, se vê diante da necessidade de interpretar leis ou dispositivos 
de leis, bem como avaliar fatos e provas nas mais diversas situações. É comum que existam 
divergências entre os operadores quanto a interpretação ou avaliação desses fatos, isso é 
inclusive muito salutar. A divergência leva ao aprofundamento da questão, o que poderá gerar 
um raciocínio melhor construído, uma tese melhor trabalhada.
Atento a isso, o legislador previu no art. 1°, §2° que:
Art. 1°, § 2º A divergência na interpretação de lei ou na avaliação de fatos e provas não 
configura abuso de autoridade.
Dessa forma, não que se falar em crime de abuso de autoridade no caso de mera divergência 
na interpretação de lei ou na avaliação de fatos e provas.
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1. ASPECTOS GERAIS
1.3 – AÇÃO PENAL E COMPETÊNCIA – ART. 3°
Art. 3º Os crimes previstos nesta Lei são de ação penal pública incondicionada.
§ 1º Será admitida ação privada se a ação penal pública não for intentada no prazo legal, 
cabendo ao Ministério Público aditar a queixa, repudiá-la e oferecer denúncia substitutiva, 
intervir em todos os termos do processo, fornecer elementos de prova, interpor recurso e, 
a todo tempo, no caso de negligência do querelante, retomar a ação como parte principal.
§ 2º A ação privada subsidiária será exercida no prazo de 6 (seis) meses, contado da data 
em que se esgotar o prazo para oferecimento da denúncia.
Ação Penal. Todos os crimes da Lei de Abuso de Autoridade serão processados e julgados 
mediante ação penal pública incondicionada.
O art. 3°, em seus parágrafos 1° e 2°, traz a chamada ação penal privada subsidiária da pública, 
que consiste na possibilidade de admissão da ação penal privada para crimes que se proces-
sam originariamente sob ação penal pública, caso essa não seja intentada no prazo legal1 pelo 
Ministério Público (titular dessa espécie de ação penal). Aqui a lei praticamente repetiu o já 
previsto no Código de Processo Penal, o qual aborda essa temática com mais detalhamento.
Observe que, mesmo no caso de admissão da ação penal privada subsidiária da pública, o 
Ministério Público continua tendo um amplo poder de gerência, podendo: aditar ou repudiar a 
queixa (oferecendo denúncia substitutiva); intervir em todos os termos do processo; fornecer 
elementos de prova; interpor recurso; e, a todo tempo, no caso de negligência do querelante, 
retomar a ação como parte principal. Além disso, note que o prazo de exercício dessa espé-
cie de ação será de 6 meses, a contar da data em que se esgotar o prazo para oferecimento 
da denúncia. Transcorrido o prazo mencionado sem que a vítima tenha oferecido a queixa 
subsidiária, opera-se a decadência do direito de ação (o MP continua legitimado a oferecer a 
denúncia enquanto não extinta a punibilidade do crime, ex. prescrição).
Competência. A competência para julgamento dos crimes de abuso de autoridade é, via de 
regra, da Justiça Comum Estadual.
Poderemos ter também o julgamento pela Justiça Comum Federal se vislumbrarmos, no caso 
concreto, alguma das hipóteses previstas no art. 109 da CF, com destaque para o inciso IV 
(ofensa a algum bem, serviço ou interesse da União, suas autarquias ou empresas públicas). Ex: 
crime de abuso de autoridade cometido no interior de órgão público federal (bem da União).
E o crime da Lei 13.869/19 praticado por militar? De qual Justiça é a competência? Segundo a 
melhor doutrina, se praticado por militar no exercício de suas funções/em serviço, competência 
da Justiça Militar. Vamos explicar melhor. Esse é um ponto que tem que ficar bem claro, pois 
trata-se de uma novidade introduzida pela Lei 13.491/2017.
Antes da edição da Lei 13.491/2017, mesmo praticado por militar, os crimes previstos nas leis 
penais especiais seriam sempre de competência da Justiça Comum. Isso porque a Justiça Militar 
julga apenas crimes militares e, anteriormente à lei citada, crime militar era definido como aquele 
contido no Código Penal Militar. Porém, a partir da vigência da mencionada norma, houve alteração 
no conceito de crime militar (em tempo de paz), de forma que atualmente os crimes militares são, 
além dos previstos no CPM: aqueles contidos nas leis penais especiais e também no Código Penal 
(comum), desde que sejam praticados em alguma das situações elencadas no art. 9°, II do CPM.
1  O prazo para oferecimento da denúncia encontra-se previsto no art. 46 do CPP: 5 dias estando o réu 
preso; 15 dias estando o réu solto ou afiançado.
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Dessa forma, o crime de abuso de autoridade cometido por militar, em alguma das situações 
do art. 9, II do CPM (ex: em serviço), será julgado pela Justiça Militar (haja vista se tratar de crime 
militar por extensão/equiparação).
1.4 – EFEITOS DA CONDENAÇÃO E PENAS RESTRITIVAS DE DIREITOS - 
ARTS. 4° E 5°
Art. 4º São efeitos da condenação:
I - Tornar certa a obrigação de indenizar o dano causado pelo crime, devendo o juiz, a reque-
rimento do ofendido, fixar na sentença o valor mínimo para reparação dos danos causados 
pela infração, considerando os prejuízos por ele sofridos;
II - A inabilitação para o exercício de cargo, mandato ou função pública, pelo período de 1 
(um) a 5 (cinco) anos;
III - a perda do cargo, do mandato ou da função pública.
Parágrafo único. Os efeitos previstos nos incisos II e III do caput deste artigo são condiciona-
dos à ocorrência de reincidência em crime de abuso de autoridade e não são automáticos, 
devendo ser declarados motivadamente na sentença.
Efeitos da condenação. No art. 4° da Lei estão previstos os efeitos extrapenais aplicáveis a quem 
for condenado por crime de abuso de autoridade. É interessante pontuar que alguns desses 
efeitos são automáticos, não necessitando de fundamentação pelo juiz quando da prolação 
da sentença condenatória (inciso I2) – uma vez condenado por crime da lei, automaticamente 
lhe será imposto tal efeito, quando for o caso.
Contudo, outros deles exigirão a devida fundamentação pelo magistrado para a sua caracteri-
zação (incisos II e III) – se o juiz, na sentença condenatória, nada diz a respeito desses efeitos, 
eles não serão impostos ao condenado. Quanto a esses, também é obrigatória a presença de 
reincidência específica, ou seja, que o condenado seja reincidente em crime da Lei 13.869/19 
(foi condenado definitivamente por delito da Lei de Abuso de Autoridade e, posteriormente).
Para além do mencionado, o desafio do futuro aprovado aqui é memorizar o texto legal. Dessa 
forma, segue um esquema com as principais informações a serem gravadas:
2  Sendo mais específico, doutrina especializada entende que a primeira parte do inciso Ié efeito automá-
tico da condenação, enquanto a segunda parte do dispositivo (devendo o juiz, a requerimento do ofendido, 
fixar na sentença o valor mínimo para reparação dos danos causados pela infração, considerando os prejuí-
zos por ele sofridos) exigirá requerimento do ofendido para sua incidência (efeito não automático). Nesse 
sentido: GRECO, Rogério. CUNHA, Rogério Sanches. Abuso de Autoridade Lei n° 13.869/2019 comentada 
artigo por artigo. Salvador: Juspodivm, 2020, p. 34.
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Art. 5º As penas restritivas de direitos substitutivas das privativas de liberdade previstas 
nesta Lei são:
I - Prestação de serviços à comunidade ou a entidades públicas;
II - Suspensão do exercício do cargo, da função ou do mandato, pelo prazo de 1 (um) a 6 
(seis) meses, com a perda dos vencimentos e das vantagens;
III - (VETADO).
Parágrafo único. As penas restritivas de direitos podem ser aplicadas autônoma ou 
cumulativamente.
Penas restritivas de direitos. O art. 5° traz as penas restritivas de direitos substitutivas das 
penas privativas de liberdade específicas para crimes da lei de abuso de autoridade, as quais 
podem ser aplicadas de forma autônoma (apenas uma delas) ou cumulativa (as duas em con-
junto). Embora a lei anuncie quais são as penas substitutivas possíveis, nada diz a respeito 
dos requisitos para se operar essa substituição (quanto a esse ponto, deveremos observar o 
previsto no art. 44 do Código Penal).
Da mesma forma que o art. 4°, para provas de concursos a memorização do dispositivo é 
fundamental. Portanto, saiba:
1.5 – SANÇÕES DE NATUREZA CIVIL E ADMINISTRATIVA - ARTS. 6° A 8°
Art. 6° As penas previstas nesta Lei serão aplicadas independentemente das sanções de 
natureza civil ou administrativa cabíveis.
Parágrafo único. As notícias de crimes previstos nesta Lei que descreverem falta funcional 
serão informadas à autoridade competente com vistas à apuração.
Art. 7° As responsabilidades civil e administrativa são independentes da criminal, não se 
podendo mais questionar sobre a existência ou a autoria do fato quando essas questões 
tenham sido decididas no juízo criminal.
Art. 8° Faz coisa julgada em âmbito cível, assim como no administrativo-disciplinar, a sen-
tença penal que reconhecer ter sido o ato praticado em estado de necessidade, em legítima 
defesa, em estrito cumprimento de dever legal ou no exercício regular de direito.
Princípio da independência das instâncias. Via de regra, quanto à diversidade de punições a 
um ato ilícito vigora o princípio da independência das instâncias: as esferas cível, administrativa 
e penal são autônomas, ou seja, não guardam qualquer relação de dependência entre si. Por 
exemplo, para que se apure a responsabilização criminal de um ato de abuso de autoridade, 
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não é necessário aguardar a instauração ou mesmo o encerramento do processo administrativo 
disciplinar (e vice-versa). É nesse sentido o teor do art. 6°, caput da Lei.
Além disso, é possível que um único ato de abuso de autoridade dê ensejo a três espécies 
diferentes de responsabilização: ADMINISTRATIVA + CIVIL + PENAL (as quais, em regra, são 
independes).
Contudo, pela leitura dos dispositivos seguintes – art. 7° e 8° - inferimos que o princípio men-
cionado não é absoluto, comportando duas exceções positivadas na Lei 13.869/19:
Ou seja, o que foi decidido na esfera criminal em relação a existência ou autoria do fato, por 
meio de sentença penal condenatória (ou absolutória), torna-se imutável para as demais, 
retirando parcela da “independência” dessas instâncias.
A sentença penal que reconhecer alguma das causas de exclusão da ilicitude do art. 23 CP, de 
igual modo, é imodificável nas demais esferas, esvaziando também parte da “independência” 
das mesmas.
Notificação falta funcional. Conforme disposto no art. 6°, p.ú, no caso de notícia de crime que 
descreva também alguma falta funcional (âmbito administrativo), tal fato será comunicado 
à autoridade competente com vistas à respectiva apuração da responsabilidade disciplinar.
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1. ASPECTOS GERAIS
1.6 – PROCEDIMENTO – ART. 39
Art. 39. Aplicam-se ao processo e ao julgamento dos delitos previstos nesta Lei, no que cou-
ber, as disposições do Decreto-Lei nº 3.689, de 3 de outubro de 1941 (Código de Processo 
Penal), e da Lei nº 9.099, de 26 de setembro de 1995.
Diferentemente do previsto na antiga lei de abuso de autoridade (4.898/65), a qual previa um 
procedimento especial aos seus crimes, a Lei 13.869/19 dispõe em seu art. 39 que aplicam-se 
aos delitos as normas de processo e julgamento contidas no Código de Processo Penal ou na 
Lei 9.099/95 (Juizados Especiais Criminais).
De forma objetiva, saiba que a nova Lei de Abuso de Autoridade traz um padrão quanto à 
sanção penal privativa de liberdade, de modo que os delitos são punidos de duas uma:
. Ou detenção de 6 meses a 2 anos (menor potencial ofensivo) – nesse caso, aplicar-se-ão as 
disposições da Lei 9.099/95: procedimento sumaríssimo, institutos despenalizadores e demais 
disposições da lei.
. Ou detenção de 1 a 4 anos (médio potencial ofensivo) – para esses, aplicar-se-ão as disposi-
ções do CPP. Sendo mais específico, em regra incidirá o procedimento especial reservado ao 
processo e julgamento dos crimes de responsabilidade dos funcionários públicos (arts. 513 a 
518 do CPP), aplicando-se subsidiariamente as normas do procedimento ordinário. Ressaltamos, 
por fim, a possibilidade de aplicação da Lei 9.099/95 (no que for compatível), em especial o 
instituto da suspensão condicional do processo (pois todos os crimes da nova lei de abuso de 
autoridade possuem pena mínima igual ou inferior a 1 ano).
2. CRIMES EM ESPÉCIE – ARTS. 9° A 38
A partir do art. 9° nós temos a previsão dos crimes em espécie da nova lei de abuso de autori-
dade. Certamente a maior parte das questões irão exigir do candidato o conhecimento da letra 
da lei, principalmente nesse momento inicial, no qual são escassas as decisões jurisprudenciais 
sobre o tema e as discussões doutrinárias ainda embrionárias.
Inicialmente, como forma de sistematizar os temas, elencaremos aqui ensinamentos sobre os 
seguintes pontos (alguns já abordados anteriormente, mas que merecem atenção do futuro 
aprovado, pois aproveitam a todos os crimes da lei): elemento subjetivo; modalidades da 
conduta; objeto material.
Elemento subjetivo. Os crimes previstos na lei são todos dolosos (não há abuso de autoridade 
culposo). Além disso, não basta o chamado “dolo genérico” (ou simplesmente “dolo”), pois, 
como já estudado, os delitos exigirão também uma finalidade específica (dolo específico), 
constante no art. 1°, §1° da Lei.
Modalidades comissiva e omissiva. Em regra, os crimes da lei serão cometidos mediante 
ação (crimes comissivos), contudo, alguns outros delitos exigirão uma omissão por parte do 
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agente público para sua caracterização (crimes omissivos). Saiba, portanto, que a Lei prevê 
tanto crimes comissivos quanto omissivos.
Objeto material. É a pessoa ou coisa sob a qual recai a conduta do agente, no caso dos delitos 
da Lei 13.869/19, cuida-se da pessoa física ou jurídica que sofreu o ato consistente em crime 
de abuso de autoridade.
2.1 – CRIME DO ART. 9°
Art. 9º Decretar medida de privação da liberdade em manifesta desconformidade com as 
hipóteses legais:
Pena - detenção, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa.
Parágrafo único. Incorre na mesma pena a autoridade judiciária que, dentro de prazo razoá-
vel, deixar de:
I - Relaxar a prisão manifestamente ilegal;
II - Substituir a prisão preventiva por medida cautelar diversa ou de conceder liberdade 
provisória, quando manifestamente cabível;
III - deferir liminar ou ordem de habeas corpus, quando manifestamente cabível.
Conduta Típica. Estamos diante da conduta de agente público que decreta medida de privação 
da liberdade em manifesta1 desconformidade com a lei. O conceitode “medida de privação de 
liberdade” é amplo, abrangendo a prisão cautelar (flagrante, preventiva, temporária), prisão 
definitiva (em razão de sentença condenatória transitada em julgado), prisão civil (dívida de 
alimentos) e internação de menor infrator (Lei 8.069/90).
Portanto, trata-se da situação na qual o sujeito ativo, em manifesta desconformidade com 
o previsto em lei e abusando de seu poder, ordena a privação de liberdade de uma pessoa.
Ex.: juiz que decreta a prisão temporária de um sujeito em razão do cometimento 
do crime de ameaça (art. 147 CP). Tal ordem é manifestamente ilegal, haja vista que 
o delito do art. 147 CP não consta no rol da Lei 7.960/89 (prisão temporária).
Figuras equiparadas. No parágrafo único nós temos algumas figuras equiparadas, ou seja, 
cada inciso constitui um crime autônomo, mas que receberá a mesma consequência penal 
da conduta prevista no caput, incorrendo na mesma pena a autoridade judiciária que, dentro 
de prazo razoável, deixar de:
ͫ	 Relaxar prisão manifestamente ilegal:
Ex.: juiz que ao receber o preso em flagrante, na audiência de custódia, e verificada nítida 
ilegalidade na prisão, deixa de relaxa-la, convertendo-a em prisão preventiva.
ͫ	 Substituir a prisão preventiva por medida cautelar diversa ou de conceder liberdade 
provisória, quando manifestamente cabível:
1  Cuida-se de um elemento normativo a ser esclarecido pelo intérprete. Os mesmo acontece em relação aos termos “dentro 
de prazo razoável”, “manifestamente cabível”, presentes no parágrafo único e incisos.
4
Ex: conduta do juiz que ao receber preso em flagrante na audiência de custódia - sendo 
caso de flagrante lícito - e diante da evidente ausência dos requisitos para decretação da 
prisão preventiva (art. 312 c/c art. 313 do CPP), mesmo assim decide ordena-la, deixan-
do de conceder a liberdade provisória manifestamente cabível.
ͫ	 Deferir liminar ou ordem de habeas corpus, quando manifestamente cabível:
Ex.: imagine que um juiz esteja há vários meses com um pedido liminar ou de habeas 
corpus concluso para seu julgamento em processo criminal e, ainda, é manifestamente 
cabí�vel o pleiteado pela defesa. Mesmo diante de tal situação, o juiz dolosamente se 
mantém inerte, não deferindo o pedido nitidamente cabí�vel.
Sujeitos do crime. Sujeito ativo: em relação ao caput, poderá ser qualquer agente público, na 
forma do art. 2°, pois todo agente estatal é passível de decretar medida de privação de liber-
dade em manifesta desconformidade com a lei; quanto ao p.ú, será apenas quem se enquadrar 
na qualidade de autoridade judiciária: Juiz, Desembargador, Ministro. Sujeito passivo: tanto o 
Estado quanto a pessoa que sofreu a conduta ilegal por parte do agente público.
Modalidades comissiva e omissiva. O verbo “decretar” (caput) exige uma ação por parte do 
sujeito ativo (crime comissivo). Contudo, no tocante ao verbo “deixar” (p.ú.) temos delito 
praticado por omissão (crime omissivo próprio).
2.2 – CRIME DO ART. 10
Art. 10. Decretar a condução coercitiva de testemunha ou investigado manifestamente 
descabida ou sem prévia intimação de comparecimento ao juízo:
Pena - detenção, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa.
Conduta Típica. Em breves palavras, condução coercitiva consiste em levar alguém, ainda que 
contra a sua vontade, à presença de determinada autoridade para que possa realizar algum ato 
proveitoso à persecução penal. Segundo o CPP, existe a possibilidade de condução coercitiva 
em relação aos seguintes sujeitos: vítima (art. 201, §1°); acusado (art. 260); testemunha (art. 
218); perito (art. 278).
Embora haja todas essas possibilidades, teremos o crime do art. 10 quando o agente público 
legitimado decretar condução coercitiva, de testemunha ou investigado (apenas esses), em 
uma de duas situações:
ͫ	 Quando manifestamente descabida a medida:
Ex.: citamos como exemplo uma condução coercitiva do investigado para interrogatório 
em sede policial. O STF recentemente reconheceu a impossibilidade de condução coerci-
tiva de investigado ou réu objetivando a realização de interrogatório na fase investigatória 
ou judicial, considerando não recepcionada a parte do art. 260 do CPP que dispõe sobre 
a possibilidade de aplicação da medida “para interrogatório”.
ͫ	 Quando não tenha havido prévia intimação de comparecimento ao juízo. Portanto, sem 
intimação prévia e o subsequente não comparecimento na data agendada de forma 
injustificada, a condução coercitiva de testemunha ou investigado configurará o crime 
do art. 10.
LEI 13.869/19 – ABUSO DE AUTORIDADE 5
ͫ	 Sujeitos do crime. Sujeito Ativo: para melhor doutrina, a condução coercitiva pode ser 
determinada por várias autoridades, como por exemplo: juiz; autoridade policial; membro 
do Ministério Público. Dessa forma, não só o juiz como também qualquer agente público 
com atribuição para determinar a medida poderá ser sujeito ativo do crime
LEI 13.869/19 
– ABUSO DE 
AUTORIDADE
2
LEI 13.869/19 – ABUSO DE AUTORIDADE
2. CRIMES EM ESPÉCIE
2.3 – CRIME DO ART. 12
Art. 12. Deixar injustificadamente de comunicar prisão em flagrante à autoridade judiciária 
no prazo legal:
Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e multa.
Parágrafo único. Incorre na mesma pena quem:
I - Deixa de comunicar, imediatamente, a execução de prisão temporária ou preventiva à 
autoridade judiciária que a decretou;
II - Deixa de comunicar, imediatamente, a prisão de qualquer pessoa e o local onde se 
encontra à sua família ou à pessoa por ela indicada;
III - deixa de entregar ao preso, no prazo de 24 (vinte e quatro) horas, a nota de culpa, assi-
nada pela autoridade, com o motivo da prisão e os nomes do condutor e das testemunhas;
IV - Prolonga a execução de pena privativa de liberdade, de prisão temporária, de prisão 
preventiva, de medida de segurança ou de internação, deixando, sem motivo justo e excep-
cionalíssimo, de executar o alvará de soltura imediatamente após recebido ou de promover 
a soltura do preso quando esgotado o prazo judicial ou legal.
Conduta Típica. Os delitos do art. 12 criminalizam o descumprimento de certos deveres legais, 
inerentes ao momento da prisão ou à execução da pena e de observância obrigatória pelos 
agentes públicos encarregados. Não se trata de discutir a legalidade da prisão em si, mas sim 
o cumprimento ou não de deveres correlatos, previstos em lei.
O art. 12, inicialmente, pune o agente público que deixa injustificadamente1 de comunicar 
prisão em flagrante à autoridade judiciária no prazo legal. Esse dever de comunicação encon-
tra-se previsto no art. 306, caput do CPP (bem como no art. 5°, LXII, CF) que anuncia, dentre 
outros, a exigência de comunicação imediata da prisão em flagrante de qualquer pessoa ao 
juiz competente, o qual, uma vez descumprido, caracterizará o crime em questão.
Perceba que o prazo legal dessa comunicação - conforme extraído da letra do art. 306, caput, 
CPP - é imediatamente. Contudo, ressaltamos que para boa parte da doutrina é lícito que a 
comunicação da prisão se dê no prazo de 24 horas (aplicando-se, por extensão, o prazo para 
remessa do auto de prisão em flagrante ao juiz - art. 306, §1°, CPP), sem que haja crime algum.
Por outro lado, também encontramos entendimento que interpreta literalmente o art. 306, 
caput, CPP, assim se a comunicação da prisão ao juiz não ocorrer imediatamente haverá o 
delito do art. 12, caput da Lei 13.869/19. Para prova objetiva, recomendamos essa interpre-
tação literal do dispositivo.
1  Se houver justo motivo, por exemplo falha nos sistemas de comunicação, não há crime.
LEI 13.869/19 – ABUSO DE AUTORIDADE 3
Figuras equiparadas. No parágrafo único nós temos algumas figuras equiparadas, ou seja, 
cada inciso constitui um crime autônomo, mas que receberá a mesma consequência penal da 
conduta prevista no caput, incorrendo na mesma pena quem:
ͫ	 Deixa de: comunicar, imediatamente, a execução de prisão temporária ou preventiva à 
autoridade judiciária que a decretou. Cuida-se de um dever prescrito peloart. 289-A, §3° 
do CPP. Quanto ao alcance da expressão “imediatamente” – aqui e no inciso II - valem as 
mesmas observações feitas ao caput.
Ex.: autoridade policial que cumpre prisão preventivamente legalmente autorizada por juiz, porém não o comu-
nica imediatamente sobre a execução da medida.
ͫ	 Deixa de: comunicar, imediatamente, a prisão de qualquer pessoa e o local onde se encon-
tra à sua família ou à pessoa por ela indicada. Esses também são deveres, à semelhança 
do caput, previstos no art. 306 do CPP (bem como no art. 5°, LXII, CF).
ͫ	 Deixa de: entregar ao preso, no prazo de 24 (vinte e quatro) horas, a nota de culpa, assi-
nada pela autoridade, com o motivo da prisão e o nome do condutor e das testemunhas. 
O dever de entrega da nota de culpa no prazo de 24 horas encontra-se previsto no art. 
306, §2° do CPP.
ͫ	 Deixa: sem justo e excepcionalíssimo motivo, de executar imediatamente alvará de soltura 
de preso ou promover a sua soltura quando esgotado o prazo judicial ou legal, prolon-
gando, dessa forma, a execução de pena privativa de liberdade, de prisão temporária ou 
preventiva, de medida de segurança ou de internação. É certo que se houver justo motivo 
para a não execução imediata do alvará/não promoção de soltura, não há crime (ex: atraso 
em virtude de rebelião no presídio ou diante de falha nos sistemas de comunicação, etc).
Sujeitos do crime. Sujeito ativo: será qualquer agente público com atribuição de praticar as 
condutas previstas nos tipos penais.
Modalidade omissiva. O crime do art. 12 (caput ou p.ú) reclama conduta omissiva por parte 
do sujeito ativo (crime omissivo próprio). Excepcionalmente aqui, não há modalidade comis-
siva do delito.
2.4 – CRIME DO ART. 13
Art. 13. Constranger o preso ou o detento, mediante violência, grave ameaça ou redução 
de sua capacidade de resistência, a:
I - Exibir-se ou ter seu corpo ou parte dele exibido à curiosidade pública;
II - Submeter-se a situação vexatória ou a constrangimento não autorizado em lei;
III - produzir prova contra si mesmo ou contra terceiro:
Pena - detenção, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa, sem prejuízo da pena cominada à 
violência.
Conduta Típica. O crime do art. 13 objetiva tutelar a integridade física e moral do preso ou 
detento, a qual encontra respaldo em dispositivos constitucionais (art. 5°, XLIX - é assegurado 
aos presos o respeito à integridade física e moral) e legais (art. 41, VIII, LEP - constituem direitos 
do preso: proteção contra qualquer forma de sensacionalismo). Nesse sentido, o mencionado 
4
delito tipifica a conduta do agente público que constrange/obriga o preso ou detento, mediante 
violência, grave ameaça ou redução de sua capacidade de resistência (violência imprópria), a:
ͫ	 Exibir-se ou ter seu corpo ou parte dele exibido à curiosidade pública: essa última 
expressão indica a ausência de finalidade pública na exibição da pessoa presa ou detida, 
ou seja, o objetivo é saciar a curiosidade de terceiros e não uma efetiva e razoável con-
tribuição à persecução penal.
Ex.: policial que coloca pessoa presa em flagrante dentro do “baú” da viatura (bagageiro adaptado) e comunica à 
imprensa para que possam fotografá-lo e exibi-lo à curiosidade pública. Nessa situação, o constrangimento foi 
realizado mediante violência imprópria, pois o preso, subjugado na parte traseira da viatura, encontrava-se com 
sua capacidade de resistência reduzida.
Ressaltamos que a exposição da imagem de pessoa presa, mesmo que contra sua vontade, 
mas com o objetivo de auxiliar na elucidação do delito e desde que dentro de limites razoáveis e 
proporcionais ao atingimento da finalidade pública, não configurará o delito em questão. Podemos 
citar a divulgação à imprensa das fotos de pessoa presa suspeita de cometer vários delitos contra a 
dignidade sexual, para que seja possível a identificação de outras possíveis vítimas.
ͫ	 Submeter-se a situação vexatória ou a constrangimento não autorizado em lei:
Ex.: policial que, mediante grave ameaça, constrange pessoa presa a gravar um vídeo de desculpas, chorando e 
se auto ofendendo, em razão dos delitos praticados.
Vale ressaltar que se a situação causar vexame ou constrangimento, porém for autorizada 
pela lei, não há crime (ex: prisão preventiva lícita, decretada pelo juiz e executada na empresa do 
detido, na presença de seus funcionários).
ͫ	 Produzir prova contra si mesmo ou contra terceiro: O tipo penal consagra o princípio do 
nemo tenetur se detegere ou direito a não auto incriminação, o qual garante ao réu o 
direito de não praticar nenhum comportamento ativo que possa auto incriminá-lo. Tipifica 
também o constrangimento à produção de prova contra terceiro.
Ex.: escrivão de polícia que constrange pessoa detida, mediante grave ameaça, a fornecer um fio de seu cabelo 
para que se realize exame de DNA, necessário a comprovar a materialidade de um crime de estupro (art. 213 CP).
Sem prejuízo da pena cominada à violência. Observe que, se para cometer o delito do art. 
13 o agente público se valer do emprego de violência à vítima, teremos concurso de crimes - por 
expressa disposição legal: detenção, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa, sem prejuízo da pena 
cominada à violência.
Sujeitos do crime. Sujeito ativo: é o agente público que praticar a conduta prevista no tipo 
penal (não se enquadram como sujeito ativo do delito, os profissionais da imprensa que, porventura, 
venham a capturar imagens do preso ou detento – não são “agentes públicos”).
LEI 13.869/19 
– ABUSO DE 
AUTORIDADE
2
LEI 13.869/19 – ABUSO DE AUTORIDADE
2. CRIMES EM ESPÉCIE
2.3 – CRIME DO ART. 12
Art. 12. Deixar injustificadamente de comunicar prisão em flagrante à autoridade judiciária 
no prazo legal:
Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e multa.
Parágrafo único. Incorre na mesma pena quem:
I - Deixa de comunicar, imediatamente, a execução de prisão temporária ou preventiva à 
autoridade judiciária que a decretou;
II - Deixa de comunicar, imediatamente, a prisão de qualquer pessoa e o local onde se 
encontra à sua família ou à pessoa por ela indicada;
III - deixa de entregar ao preso, no prazo de 24 (vinte e quatro) horas, a nota de culpa, assi-
nada pela autoridade, com o motivo da prisão e os nomes do condutor e das testemunhas;
IV - Prolonga a execução de pena privativa de liberdade, de prisão temporária, de prisão 
preventiva, de medida de segurança ou de internação, deixando, sem motivo justo e excep-
cionalíssimo, de executar o alvará de soltura imediatamente após recebido ou de promover 
a soltura do preso quando esgotado o prazo judicial ou legal.
Conduta Típica. Os delitos do art. 12 criminalizam o descumprimento de certos deveres legais, 
inerentes ao momento da prisão ou à execução da pena e de observância obrigatória pelos 
agentes públicos encarregados. Não se trata de discutir a legalidade da prisão em si, mas sim 
o cumprimento ou não de deveres correlatos, previstos em lei.
O art. 12, inicialmente, pune o agente público que deixa injustificadamente1 de comunicar 
prisão em flagrante à autoridade judiciária no prazo legal. Esse dever de comunicação encon-
tra-se previsto no art. 306, caput do CPP (bem como no art. 5°, LXII, CF) que anuncia, dentre 
outros, a exigência de comunicação imediata da prisão em flagrante de qualquer pessoa ao 
juiz competente, o qual, uma vez descumprido, caracterizará o crime em questão.
Perceba que o prazo legal dessa comunicação - conforme extraído da letra do art. 306, caput, 
CPP - é imediatamente. Contudo, ressaltamos que para boa parte da doutrina é lícito que a 
comunicação da prisão se dê no prazo de 24 horas (aplicando-se, por extensão, o prazo para 
remessa do auto de prisão em flagrante ao juiz - art. 306, §1°, CPP), sem que haja crime algum.
Por outro lado, também encontramos entendimento que interpreta literalmente o art. 306, 
caput, CPP, assim se a comunicação da prisão ao juiz não ocorrer imediatamente haverá o 
delito do art. 12, caput da Lei 13.869/19. Para prova objetiva,recomendamos essa interpre-
tação literal do dispositivo.
1  Se houver justo motivo, por exemplo falha nos sistemas de comunicação, não há crime.
LEI 13.869/19 – ABUSO DE AUTORIDADE 3
Figuras equiparadas. No parágrafo único nós temos algumas figuras equiparadas, ou seja, 
cada inciso constitui um crime autônomo, mas que receberá a mesma consequência penal da 
conduta prevista no caput, incorrendo na mesma pena quem:
ͫ	 Deixa de: comunicar, imediatamente, a execução de prisão temporária ou preventiva à 
autoridade judiciária que a decretou. Cuida-se de um dever prescrito pelo art. 289-A, §3° 
do CPP. Quanto ao alcance da expressão “imediatamente” – aqui e no inciso II - valem as 
mesmas observações feitas ao caput.
Ex.: autoridade policial que cumpre prisão preventivamente legalmente autorizada por juiz, porém não o comu-
nica imediatamente sobre a execução da medida.
ͫ	 Deixa de: comunicar, imediatamente, a prisão de qualquer pessoa e o local onde se encon-
tra à sua família ou à pessoa por ela indicada. Esses também são deveres, à semelhança 
do caput, previstos no art. 306 do CPP (bem como no art. 5°, LXII, CF).
ͫ	 Deixa de: entregar ao preso, no prazo de 24 (vinte e quatro) horas, a nota de culpa, assi-
nada pela autoridade, com o motivo da prisão e o nome do condutor e das testemunhas. 
O dever de entrega da nota de culpa no prazo de 24 horas encontra-se previsto no art. 
306, §2° do CPP.
ͫ	 Deixa: sem justo e excepcionalíssimo motivo, de executar imediatamente alvará de soltura 
de preso ou promover a sua soltura quando esgotado o prazo judicial ou legal, prolon-
gando, dessa forma, a execução de pena privativa de liberdade, de prisão temporária ou 
preventiva, de medida de segurança ou de internação. É certo que se houver justo motivo 
para a não execução imediata do alvará/não promoção de soltura, não há crime (ex: atraso 
em virtude de rebelião no presídio ou diante de falha nos sistemas de comunicação, etc).
Sujeitos do crime. Sujeito ativo: será qualquer agente público com atribuição de praticar as 
condutas previstas nos tipos penais.
Modalidade omissiva. O crime do art. 12 (caput ou p.ú) reclama conduta omissiva por parte 
do sujeito ativo (crime omissivo próprio). Excepcionalmente aqui, não há modalidade comis-
siva do delito.
2.4 – CRIME DO ART. 13
Art. 13. Constranger o preso ou o detento, mediante violência, grave ameaça ou redução 
de sua capacidade de resistência, a:
I - Exibir-se ou ter seu corpo ou parte dele exibido à curiosidade pública;
II - Submeter-se a situação vexatória ou a constrangimento não autorizado em lei;
III - produzir prova contra si mesmo ou contra terceiro:
Pena - detenção, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa, sem prejuízo da pena cominada à 
violência.
Conduta Típica. O crime do art. 13 objetiva tutelar a integridade física e moral do preso ou 
detento, a qual encontra respaldo em dispositivos constitucionais (art. 5°, XLIX - é assegurado 
aos presos o respeito à integridade física e moral) e legais (art. 41, VIII, LEP - constituem direitos 
do preso: proteção contra qualquer forma de sensacionalismo). Nesse sentido, o mencionado 
4
delito tipifica a conduta do agente público que constrange/obriga o preso ou detento, mediante 
violência, grave ameaça ou redução de sua capacidade de resistência (violência imprópria), a:
ͫ	 Exibir-se ou ter seu corpo ou parte dele exibido à curiosidade pública: essa última 
expressão indica a ausência de finalidade pública na exibição da pessoa presa ou detida, 
ou seja, o objetivo é saciar a curiosidade de terceiros e não uma efetiva e razoável con-
tribuição à persecução penal.
Ex.: policial que coloca pessoa presa em flagrante dentro do “baú” da viatura (bagageiro adaptado) e comunica à 
imprensa para que possam fotografá-lo e exibi-lo à curiosidade pública. Nessa situação, o constrangimento foi 
realizado mediante violência imprópria, pois o preso, subjugado na parte traseira da viatura, encontrava-se com 
sua capacidade de resistência reduzida.
Ressaltamos que a exposição da imagem de pessoa presa, mesmo que contra sua vontade, 
mas com o objetivo de auxiliar na elucidação do delito e desde que dentro de limites razoáveis e 
proporcionais ao atingimento da finalidade pública, não configurará o delito em questão. Podemos 
citar a divulgação à imprensa das fotos de pessoa presa suspeita de cometer vários delitos contra a 
dignidade sexual, para que seja possível a identificação de outras possíveis vítimas.
ͫ	 Submeter-se a situação vexatória ou a constrangimento não autorizado em lei:
Ex.: policial que, mediante grave ameaça, constrange pessoa presa a gravar um vídeo de desculpas, chorando e 
se auto ofendendo, em razão dos delitos praticados.
Vale ressaltar que se a situação causar vexame ou constrangimento, porém for autorizada 
pela lei, não há crime (ex: prisão preventiva lícita, decretada pelo juiz e executada na empresa do 
detido, na presença de seus funcionários).
ͫ	 Produzir prova contra si mesmo ou contra terceiro: O tipo penal consagra o princípio do 
nemo tenetur se detegere ou direito a não auto incriminação, o qual garante ao réu o 
direito de não praticar nenhum comportamento ativo que possa auto incriminá-lo. Tipifica 
também o constrangimento à produção de prova contra terceiro.
Ex.: escrivão de polícia que constrange pessoa detida, mediante grave ameaça, a fornecer um fio de seu cabelo 
para que se realize exame de DNA, necessário a comprovar a materialidade de um crime de estupro (art. 213 CP).
Sem prejuízo da pena cominada à violência. Observe que, se para cometer o delito do art. 
13 o agente público se valer do emprego de violência à vítima, teremos concurso de crimes - por 
expressa disposição legal: detenção, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa, sem prejuízo da pena 
cominada à violência.
Sujeitos do crime. Sujeito ativo: é o agente público que praticar a conduta prevista no tipo 
penal (não se enquadram como sujeito ativo do delito, os profissionais da imprensa que, porventura, 
venham a capturar imagens do preso ou detento – não são “agentes públicos”).
LEGISLAÇÃO PENAL 
ESPECIAL
2
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL
TORTURA
ASPECTOS INICIAIS – NOÇÕES HISTÓRICAS
Ao final da Segunda Guerra Mundial, iniciou-se um movimento de proteção da dignidade da 
pessoa humana, direito esse que passou a ocupar status de valor constitucional supremo. Isso se 
deu principalmente em razão dos atos desumanos praticados tanto na Segunda Guerra Mundial, 
quanto na Primeira Guerra Mundial.
Após esses episódios históricos, a sociedade passou a demandar que aqueles atos cruéis pratica-
dos nunca mais se fossem repetidos, o que ensejou o surgimento de diversas normas internacionais 
que visavam à proteção e prevalência da dignidade da pessoa humana, bem como a coibição da 
tortura, atos cruéis e desumanos.
A Constituição Federal de 1988 foi a primeira a prever expressamente a prática de tortura em 
seu texto, conforme ensina a doutrina. Leiam-se algumas normas internas de vedação à tortura:
 » Constituição Federal de 1988 – art. 5º, III e XLIII.
 » Art. 233, Lei nº 8.069/90 – já revogado.
 » Lei nº 9.455/97.
Observe-se o que diz o art. 5º da CF:
Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se 
aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à 
liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:
III – ninguém será submetido a tortura nem a tratamento desumano ou degradante;
XLIII – a lei considerará crimes inafiançáveis e insuscetíveis de graça ou anistia a prática da 
tortura, o tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, o terrorismo e os definidos como 
crimes hediondos, por eles respondendo os mandantes, os executores e os que, podendo 
evitá-los, se omitirem;
Ressalta-se que a CF/88 foi a primeira a prever expressamente a prática de tortura, mas ela 
não tipifica o ato, haja vista que essa não é a função dela. A sua previsão se trata de um mandado 
constitucionalvoltado ao legislador ordinário para que ele tipifique determinadas condutas, o que 
foi feito primeiramente com o art. 233 do Estatuto da Criança e do Adolescente (já revogado):
Art. 233. Submeter criança ou adolescente sob sua autoridade, guarda ou vigilância a tortura:
Pena – reclusão de um a cinco anos.
§ 1º Se resultar lesão corporal grave:
Pena – reclusão de dois a oito anos.
§ 2º Se resultar lesão corporal gravíssima:
Pena – reclusão de quatro a doze anos.
§ 3º Se resultar morte:
Pena – reclusão de quinze a trinta anos.
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL 3
Tratava-se da tipificação da conduta de tortura, mas somente quando praticada contra criança 
ou adolescente. Sendo assim, não cumpria exatamente com o mandado constitucional por não 
abranger a todo tipo de pessoa.
Em seguida, houve a edição da Lei nº 9.455/97 – a atual Lei de Tortura no Brasil, a qual cum-
priu de forma ampla e satisfatória o mandado constitucional e, ainda, revogou expressamente o 
art. 233 do ECA.
Quanto ao tema, podemos pensar em duas possíveis questões de prova:
É certo dizer que a CF trouxe o crime de tortura, tipificando-o? ERRADO! Não é papel da Constituição tipificar 
condutas. Ela trouxe um mandado constitucional de criminalização direcionado ao legislador ordinário.
É certo que o art. 233 do ECA continua em vigor, mas apenas quando a vítima for criança ou adolescente. 
ERRADO! O art. 233 do ECA foi revogado expressamente no ano de 1997, com o advento da Lei nº 9.455/97.
ESQUEMATIZAÇÃO
Os artigos da Lei de Tortura que todo aluno deve conhecer são os arts. 1º e 2º, sobre os quais 
será apresentado um panorama geral, a seguir:
Portanto, o art. 1º – incisos I, II, §1° e §2° – da Lei nº 9.455/97 prevê as seguintes condutas 
criminosas:
a) TORTURA PROVA: Com o fim de obter informação, declaração ou confissão da vítima ou de terceira pessoa.
b) TORTURA CRIME: Para provocar ação ou omissão de natureza criminosa.
c) TORTURA DISCRIMINATÓRIA: Em razão de discriminação racial ou religiosa.
e) TORTURA CASTIGO: Submeter alguém, sob sua guarda, poder ou autoridade, com emprego de violência ou 
grave ameaça, a intenso sofrimento físico ou mental, como forma de aplicar castigo pessoal ou medida de 
caráter preventivo.
f) TORTURA POR EQUIPARAÇÃO: Submeter pessoa presa ou sujeita a medida de segurança a sofrimento físico 
ou mental, por intermédio da prática de ato não previsto em lei ou não resultante de medida legal.
4
g) TORTURA OMISSÃO: Aquele que se omite em face dessas condutas, quando tinha o dever de evitá-las ou 
apurá-las.
CARACTERÍSTICAS
BEM JURÍDICO E COMPETÊNCIA
O bem jurídico nada mais é do que o valor fundamental que a norma buscou proteger ao 
criminalizar determinadas condutas. Diante disso, qual foi o valor que a Lei nº 9.455/97 visou 
tutelar? A dignidade da pessoa humana, mais especificamente em sua integridade física e psíquica. 
Veremos que todos os delitos comissivos previstos admitem tanto sofrimento físico quanto mental.
Com relação à competência, temos que a Justiça Estadual será aquela competente para proces-
sar e julgar os crimes de tortura (em regra). No entanto, existe a possibilidade de a Justiça Federal 
processar e julgar crimes dessa natureza, quando estiverem configurados os requisitos do art. 109, 
inciso IV da Constituição Federal:
Art. 109. Aos juízes federais compete processar e julgar:
IV – os crimes políticos e as infrações penais praticadas em detrimento de bens, serviços 
ou interesse da União ou de suas entidades autárquicas ou empresas públicas, excluídas as 
contravenções e ressalvada a competência da Justiça Militar e da Justiça Eleitoral;
Ainda existe a possibilidade de a Justiça Militar ser a competente para processar e julgar os 
crimes da Lei de Tortura. Para a melhor compreensão desse tema, é necessário analisar alguns 
aspectos da Lei nº 13.491/2017.
Lembre-se de que a Justiça Militar é a competente para julgar crimes militares. Posto isso, 
antes da Lei nº 13.491/2017, os crimes militares eram aqueles previstos somente no Código Penal 
Militar, e os crimes de tortura não estão previstos neste código.
Com o advento da lei mencionada, foram estendidas as hipóteses de crimes militares, incluin-
do-se os crimes previstos no Código Penal ou em Legislações Penais Extravagantes. Contudo nessas 
hipóteses o delito apenas será militar se cometido na forma do art. 9º, inciso II do CPM (militar em 
serviço ou no exercício de sua função).
Vejamos o seguinte exemplo:
Um militar, após o advento da Lei nº 13.491/2017, comete um crime contido na Lei de Tortura (ou seja, um crime 
previsto em legislação especial) enquanto estava em serviço. Nessa situação existe um crime militar, o qual será 
processado e julgado pela Justiça Militar.
PRESCRITIBILIDADE
Os crimes contidos na Lei de Tortura são prescritíveis (podem prescrever), aplicando-se os 
prazos prescricionais previstos no Código Penal.
ͫ	 Lembrando que os únicos crimes imprescritíveis no ordenamento brasileiro são: racismo 
e ação de grupos armados civis ou militares contra a ordem constitucional e o Estado 
democrático.
Atenção! Quando às ações de reparação (âmbito cível) decorrentes de atos de tortura prati-
cados durante o Regime Militar, elas são imprescritíveis, conforme firmado entendimento do STJ.
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL 5
HEDIONDEZ
A doutrina entende que os crimes de tortura não são hediondos propriamente ditos, mas sim 
equiparados/assemelhados a hediondo. Na prática não existe diferença, pois esses crimes sofrerão 
as mesmas consequências rígidas dispensadas aos delitos hediondos.
Apesar disso, existe a exceção do art. 1º, § 2º, da Lei nº 9.455/97 (tortura por omissão), o qual 
não é considerado crime equiparado a hediondo (e nem mesmo hediondo).
Portanto, é correto afirmar que apenas os crimes de tortura comissivos são assemelhados a 
hediondo, aplicando-se a disciplina da Lei nº 8.072/90.
LEGISLAÇÃO PENAL 
ESPECIAL
2
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL
TORTURA
PROVA DA TORTURA
De início, a tortura é um crime que pode ou não deixar vestígios. Para melhor condução dos 
estudos, faremos uma subdivisão. Crime transeunte é aquele que não deixa vestígios. Uma dica 
para memorização é perceber que o crime transeunte é aquele cujos vestígios transitam, ou seja, 
eles não permanecem.
Sendo assim, a tortura pode ser um crime transeunte (que não deixa vestígios), principalmente 
naqueles casos em que ela causa um sofrimento mental no indivíduo. Ou seja, tais sofrimentos 
permanecem apenas na psique da vítima, e não no mundo material. Nessas situações, como esse 
delito poderá ser provado?
Utilizando-se das ferramentas trazidas pelo Código de Processo Penal, o delito de tortura pode 
ser provado por meio de qualquer meio de prova admitido – prova testemunhal, prova documental, 
entre outras.
Por outro lado, existem os delitos caracterizados como não transeuntes, ou seja, aqueles que 
deixam vestígios. Nesse caso, os vestígios não transitam, mas permanecem. É o caso, por exemplo, 
da tortura física em que o autor constrange alguém fisicamente mediante violência para que um 
indivíduo confesse a prática de um crime (configuração do crime previsto no art. 1º, inciso I, alínea 
“a” da Lei nº 9.455/97).
Em tais situações, quando o crime de tortura deixa vestígios, a prova é obrigatoriamente 
obtida por meio do exame de corpo de delito, nos termos do art. 158 do Código de Processo Penal.
Art. 158. Quando a infração deixar vestígios, será indispensável o exame de corpo de delito, 
direto ou indireto, não podendo supri-lo a confissão do acusado.
Nota-se que o CPP expressamente determina que a confissão do acusado não pode substituir 
o exame de corpo de delito quando o crime deixa vestígios, sendo ele obrigatório nesses casos.
Agora, vamos pensar na seguinte situação:
ͫ	 A vítima de tortura registra o boletim de ocorrência somente 20 dias após o crime, sendo 
que os vestígios dele desapareceram nesse lapso temporal. Ainda é possível que ela faça 
o registro do boletim de ocorrência?
Sim! Nadaimpede que a vítima proceda com o registro, mesmo considerando o espaço tem-
poral. Nessas situações e em outras similares, aplica-se o teor do art. 167 do CPP.
Art. 167. Não sendo possível o exame de corpo de delito, por haverem desaparecido os 
vestígios, a prova testemunhal poderá suprir-lhe a falta.
Veja que a prova testemunhal é a adequada para suprir o exame de corpo de delito no caso 
de desaparecimento dos vestígios.
TEORIA DA BOMBA RELÓGIO
Trata-se de uma teoria de origem norte-americana, sendo aplicada no contexto de práticas 
terroristas. No Brasil, no âmbito do Direito Constitucional, estudamos que não há direito absoluto, 
nem mesmo o direito à vida – na hipótese de guerra declarada, a Constituição autoriza a pena 
de morte. Por outro lado, existe doutrina que entende que o direito a não ser torturado seria um 
LEGIsLAçãO PEnAL EsPEcIAL 3
exemplo de direito absoluto, pois não haveria qualquer situação em que se poderia pensar em 
autorizar a prática de tortura.
A Teoria da Bomba Relógio vem justamente refletir entre os pontos acima mencionados. Para 
melhor compreensão da teoria, imaginemos a seguinte situação hipotética:
Um perigoso terrorista instala uma bomba-relógio na Estação da Sé, em São Paulo. O terrorista instala a bomba 
na estação às 17h e o timer do artefato é de 1 hora (explodindo, portanto, às 18h). A polícia toma conhecimento do 
fato, mas não sabe onde está o explosivo. Às 17h30, a polícia apreende o criminoso, passando a indagá-lo sobre a 
localização da bomba, sendo que ele se nega a revelar o local.
Em tal situação extrema, a Teoria da Bomba Relógio entende que é possível sacrificar o direito à integridade 
física do terrorista, prevalecendo o bem jurídico vida das várias pessoas que estão correndo risco dentro da 
estação. Sendo assim, é possível que os agentes públicos submetam o terrorista à tortura, objetivando que ele 
revele a localização do explosivo e a vida de pessoas inocentes seja preservada.
Ou seja, trata-se do emprego da tortura de forma legítima pelos agentes do Estado, autorizada em situações 
extremas, principalmente no contexto de atos terroristas.
Vários doutrinadores rechaçam a Teoria da Bomba Relógio, pois entendem que é inaceitável 
a prática da “tortura institucionalizada” por parte do Estado, mesmo frente a situações extremas. 
Além disso, o emprego de tortura seria uma regressão quanto à tutela da dignidade da pessoa 
humana, conquistada a duras penas ao longo da história.
No contexto brasileiro, como não há recorrência da prática de atos terroristas, não existe a 
prevalência de um ou de outro entendimento. Sendo assim, para as provas de concursos basta saber 
o conceito da teoria e, também, que vários juristas a rechaçam por completo.
OBSERVAÇÕES
AçãO PEnAL
Para os crimes de tortura, a ação penal cabível é a pública incondicionada. Sendo assim, 
quando o Delegado de Polícia toma conhecimento da prática de tortura, ele imediatamente dá 
início às diligências e à instauração de inquérito policial (se for o caso).
cOnDUTA E ELEMEnTO sUBJETIVO
Quanto à conduta, os crimes de tortura podem ser cometidos por ação (comissivo) ou omissão 
(omissivos). Quanto ao elemento subjetivo, nos crimes de tortura é o dolo. Ou seja, não existe a 
forma culposa para a prática de tortura, sendo dolosos todos os crimes previstos na Lei nº 9.455/97.
Destaca-se que alguns delitos exigem o dolo específico, como é o caso daqueles previstos no 
art. 1º, incisos I (a, b, c) e II da Lei nº 9.455/97. Ou seja, todos os crimes previstos na Lei de Tortura 
requerem o dolo (genérico), mas alguns deles exigem um dolo específico (finalidade específica) 
do agente.
Art. 1º Constitui crime de tortura:
I – constranger alguém com emprego de violência ou grave ameaça, causando-lhe sofri-
mento físico ou mental:
a) com o fim de obter informação, declaração ou confissão da vítima ou de terceira pessoa;
b) para provocar ação ou omissão de natureza criminosa;
c) em razão de discriminação racial ou religiosa;
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II – submeter alguém, sob sua guarda, poder ou autoridade, com emprego de violência ou 
grave ameaça, a intenso sofrimento físico ou mental, como forma de aplicar castigo pessoal 
ou medida de caráter preventivo.
Os delitos de tortura por equiparação (art. 1°, § 1°) e tortura omissão (art. 1°, § 2°) não exigem 
dolo específico. Portanto, se uma questão de prova afirma: todos os crimes previstos da Lei de 
Tortura exigem o dolo específico, isso está errado.
sUJEITO ATIVO
Para a compreensão do tema de sujeito ativo nos crimes de tortura, cabe relembrar os con-
ceitos de crime comum e crime próprio.
ͫ	 Crime comum: aquele que pode ser cometido por qualquer pessoa e que não exige 
qualquer qualidade especial do sujeito ativo. Na Lei de Tortura, tais crimes estão previstos 
no art. 1º, I, alíneas “a”, “b” e “c” (tortura prova, tortura crime e tortura discriminatória).
ͫ	 Crime próprio: aquele que exige uma qualidade especial do sujeito ativo e que não 
podem ser cometidos por qualquer pessoa. Na Lei de Tortura estão previstos no art. 1º, 
II e §§ 1º e 2º.
Ademais, a Lei de Tortura, quando traz os delitos do art. 1º, inciso I (crimes comuns), destoa 
de vários documentos internacionais, bem como de normas internas de outros países. Isso porque, 
na maioria dos documentos internacionais e nas normas de outros países, só pode cometer o crime 
de tortura o sujeito ativo que seja agente público – ou seja, crimes próprios.
Nota-se que a lei pátria trouxe uma ampliação no espectro de proteção às vítimas. Por essa 
razão, alguns doutrinadores a denominam de “lei jabuticaba”, tendo em vista que o fruto jabuti-
caba é próprio do Brasil, assim como a lei em estudo, que, quanto ao sujeito ativo, tem previsões 
praticamente exclusivas do Brasil.
ART. 1º, INCISO I
No que diz respeito ao inciso I, faz-se necessário estabelecer uma linha de raciocínio para, 
posteriormente, avançarmos para os delitos previstos nas alíneas.
Art. 1º Constitui crime de tortura:
I – constranger alguém com emprego de violência ou grave ameaça, causando-lhe sofri-
mento físico ou mental: (...).
LEGISLAÇÃO PENAL 
ESPECIAL
2
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL
TORTURA
ART. 1º, INCISO I
Art. 1º Constitui crime de tortura:
I – constranger alguém com emprego de violência ou grave ameaça, causando-lhe sofri-
mento físico ou mental:
A primeira observação importante é que as bancas cobram muito a literalidade da Lei de Tor-
tura, sendo essencial que o aluno memorize o que traz os artigos da lei para realizar as provas, em 
todas as suas fases, inclusive a fase oral.
O inciso I reflete o denominado dolo genérico. Quanto a isso pode-se questionar: o indivíduo 
que constrange alguém com emprego de violência ou grave ameaça e causa sofrimento físico ou 
mental à vítima comete crime da Lei de Tortura? Não necessariamente. Nota-se que a disposição do 
inciso I traz somente o dolo genérico (ou somente dolo) e as alíneas, além do dolo genérico exigem 
o cumprimento de um dolo específico pelo agente para a caracterização do delito.
Art. 1º
(…)
a) com o fim de obter informação, declaração ou confissão da vítima ou de terceira pessoa;
b) para provocar ação ou omissão de natureza criminosa;
c) em razão de discriminação racial ou religiosa;
Alínea “a”: tortura prova.
Alínea “b”: tortura crime.
Alínea “c”: tortura discriminatória ou preconceito.
Ou seja, para configurar um crime da Lei de Tortura é necessário que o sujeito ativo pratique 
o dolo genérico (descrito no inciso I), bem como alguma das alíneas do inciso, onde estão descritas 
as finalidades específicas (dolo específico).
Além disso, destaca-se que não é necessário que o agente alcance efetivamente alguma das 
finalidades previstas nas alíneas, basta que ele dirija a sua conduta para alcançá-las, ou seja, é 
necessário que o agente dê início à conduta visando a consubstanciação de alguma das finalidades 
descritas nas alíneas do inciso I do art. 1º.
ALÍNEA “A” – TORTURA PROVA OU TORTURA CONFISSÃO
A tortura prova, além dessa denominação,também pode ser chamada de tortura confissão, 
tortura inquisitorial, institucional, persecutória ou acusatória.
Continuando, para se caracterizar o crime descrito na alínea “a” do inciso I, do art. 1º, é 
necessário que o agente constranja alguém com a finalidade de obter informação, declaração ou 
confissão da vítima ou de terceira pessoa – esta é a finalidade específica para este crime. Vejamos 
o seguinte exemplo:
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL 3
Imagine que um credor, o qual não possui documento de confissão de dívida, possui um devedor que não 
lhe paga. Um certo dia, o credor apreende o seu devedor, amarrando-o em uma cadeira e dá-lhe choques 
elétricos, causando ao devedor um sofrimento físico para que ele assine o documento de confissão de 
dívida e assim possa executá-lo em juízo. Nessa situação, o credor cometeu o crime previsto na alínea “a”.
Tal crime se consuma no momento em que o agente constrange alguém mediante o emprego 
de violência ou grave ameaça e causa o sofrimento físico ou mental na vítima. Pouco importa se 
ele efetivamente conseguiu ou não a confissão, bastando que desde o início o agente esteja com 
essa pretensão (crime formal).
Imagine que o sujeito ativo comece a desferir socos na vítima, com o intuito de obter a confissão de um 
delito, ou seja, já está constrangendo a vítima e lhe causando sofrimento. Ocorre que a vítima ainda não 
confessou e nesse momento a polícia chega no local e prende o agente em flagrante. Nessa situação, o 
crime está consumado? SIM! Perceba que o agente estava constrangendo a vítima, mediante violência e 
causando sofrimento físico, com a pretensão de que ela confessasse um crime.
Sendo assim, quando o sujeito ativo atinge a finalidade pretendida, trata-se de mero exauri-
mento do crime, ou seja, isso influenciará na dosagem da pena, mas não diretamente na consu-
mação do delito.
Uma observação importante diz respeito às provas obtidas mediante tortura. Quando estuda-
mos o Direito Processual Penal, temos que as provas ilícitas são inadmissíveis e devem ser desen-
tranhadas do processo, conforme preleciona o art. 157 do CPP.
Aprofundando um pouco mais, a doutrina e jurisprudência admitem a chamada prova ilícita pro 
reo. Ou seja, a prova que for ilícita, mas que for útil para provar a inocência do réu ou para algum 
fato importante à sua defesa, pode ser utilizada e mantida no processo, aplicando-se o princípio 
da proporcionalidade.
ͫ	 Por exemplo: uma interceptação telefônica ilegal pode excepcionalmente ser utilizada 
no processo? Pode! Se essa prova em específico servir para provar a inocência do réu, 
ela poderá ser utilizada, caracterizando uma exceção à regra da inadmissibilidade das 
provas ilícitas.
No entanto dentro das provas ilícitas pro reo existe outra exceção (um meio de prova que 
nunca poderá ser admitido). Trata-se da prova obtida mediante tortura para provar a inocência do 
réu; ou seja, quando o réu, para provar a sua inocência se utiliza da tortura para que alguém for-
neça determinada declaração. Este meio de prova jamais será aceito no processo penal, conforme 
ensinam os doutrinadores Renato Brasileiro e Norberto Avena, por se tratar de uma regressão na 
proteção dos direitos fundamentais e da dignidade da pessoa humana.
ALÍNEA “B” – TORTURA CRIME
Neste crime, a finalidade é provocar ação ou omissão de natureza criminosa. Para a melhor 
compreensão, vamos analisar o exemplo abaixo.
Marcelo possui um antigo amigo, João, que costumava ser seu companheiro nas aulas de tiro. Atual-
mente, não são mais amigos, mas antigamente praticavam tiro esportivo juntos. Certo dia, Marcelo liga 
para João dizendo que ele está com sua esposa e filho na mira de um fuzil e que sabe que ambos estão 
em determinado parque, sendo que João tinha o conhecimento de que naquele dia e horário, sua esposa 
e filho estavam naquele parque. Marcelo encaminha uma foto dos familiares de João sob a mira do fuzil, 
dizendo que ele deverá matar a pessoa de Roberto dentro de 15 minutos e, caso contrário, sua esposa e 
filhos serão mortos.
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Ademais, João sabe que Marcelo é um exímio atirador e que sofre de problemas psicológicos, ou seja, não 
tem dúvidas de que Marcelo poderá fazer o que promete. Sendo assim, João não vê outra alternativa a 
não ser tirar a vida de Roberto. Portanto, nessa situação hipotética, Marcelo cometeu o crime previsto na 
alínea “b”.
Novamente, estamos diante de um delito formal, que admite a tentativa.
A consumação da tortura crime também ocorre com o sofrimento causado mediante constran-
gimento praticado com violência ou grave ameaça. Sendo assim, no exemplo apresentado, apenas 
com o sofrimento mental causado a João por Marcelo já configura o crime de tortura previsto na 
alínea “b”, não importando se João matou ou não Roberto.
Por fim, resta-nos estudar a hipótese de o delito para o qual a vítima foi constrangida a come-
ter (ação ou omissão) ter sido efetivamente praticado. No exemplo, a hipótese de João ter matado 
Roberto, conforme determinou Marcelo mediante grave ameaça.
Diante disso, devemos analisar primeiramente se existe a culpabilidade da vítima da tortura 
(João). Não existe, visto que a vítima de tortura não será responsabilizada pelo crime praticado, 
pois nesta ocasião ele agiu sob coação moral irresistível – prevista no art. 22 do Código Penal, a 
qual isenta o agente de pena.
Art. 22. Se o fato é cometido sob coação irresistível ou em estrita obediência a ordem, não 
manifestamente ilegal, de superior hierárquico, só é punível o autor da coação ou da ordem.
O raciocínio que deve ser feito é que não era exigível de João que ele adotasse conduta diversa 
daquela que foi perpetrada por ele, pois era muito provável que ele sacrificasse a sua família caso 
não cumprisse a ordem de Marcelo.
Lembre-se que a exigibilidade de conduta diversa é um dos elementos da culpabilidade. Então, 
quando não se pode exigir outra conduta do agente, exclui-se a própria culpabilidade, não podendo 
ser aplicada pena a ele.
Por sua vez, o torturador responderá tanto pela tortura quanto pelo crime cometido pela 
vítima da tortura, a mando de si mesmo. Ou seja, no exemplo citado, Marcelo responderá pelo 
crime de tortura praticado contra a pessoa de João em concurso com a conduta praticada por João 
(homicídio). Quanto à tortura, será considerado autor imediato, enquanto pela conduta criminosa 
de João, Marcelo será considerado autor mediato.
Outra observação importante é que para a configuração do delito previsto na alínea “b”, exi-
ge-se que a ação ou omissão seja para a prática de um crime, não podendo ser uma contravenção 
penal. No caso de cometimento de uma contravenção penal estaríamos diante do crime de cons-
trangimento ilegal, previsto no art. 146 do Código Penal.
Note que na alínea “b” está descrito expressamente a finalidade de praticar a ação ou omissão 
de natureza criminosa. Ressalta-se que esse tema também já foi abordado em questões de prova.
ALÍNEA “C” – TORTURA DISCRIMINATÓRIA
Esse delito também pode receber as denominações de “tortura preconceito” ou “tortura 
racismo”. Nele, a prática de tortura ocorre em razão de discriminação racial ou religiosa. Vejamos 
o seguinte exemplo:
Determinado sujeito que é adepto das ideologias nazistas avista um judeu e começa a espan-
cá-lo, causando-lhe sofrimento físico, em razão de sua raça e religião. Neste caso está caracterizada 
a tortura prevista na alínea “c”.
De forma majoritária, classifica-se o crime de tortura discriminatória como um crime formal 
e que admite tentativa.
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL 5
A observação que se faz importante quanto à alínea “c” é que esse delito não admite analogia. 
Ou seja, a motivação/finalidade do crime deve ser racial ou religiosa, de modo que não são admitidas 
outras formas de discriminação para a sua caracterização, sob pena de analogia in malam partem 
(vedada pelo Código Penal).
Sendo assim, não é possível a caracterização da tortura discriminatória quando a motivação é 
a discriminação pela idade oupelo sexo (admite-se somente a discriminação pela raça ou religião).
Quanto a isso, pode surgir a dúvida com relação à decisão do STF na ADO 26/DF e no MI 4733, 
que entendeu ser possível a discriminação em relação à orientação sexual como apta a configurar 
crimes da Lei de Preconceito de raça ou de cor (Lei nº 7.716/89).
ͫ	 O STF entendeu que condutas consideradas homofóbicas ou transfóbicas podem carac-
terizar os crimes da Lei de Preconceito, bem como que o Congresso Nacional não abrangeu 
a proteção desses indivíduos.
Destaca-se que esse entendimento não é aplicado à Lei de Tortura, mas apenas na Lei de 
Preconceito. Ou seja, não se aplica o mesmo entendimento jurisprudencial para a configuração do 
crime de tortura discriminatória, que só pode ocorrer em razão da raça ou religião.
Ainda, tal entendimento é defendido pelo Professor Filipe Ávila e a professora Claudia Barros, 
no livro de Legislação Criminal, e ainda pelo professor Renato Brasileiro e Guilherme de Souza 
Nucci, embora esse último não discorra muito sobre essa questão. Sendo assim, pelo menos por 
enquanto, esse é o posicionamento mais adequado para o nosso concurso.
LEI Nº 9.455/97 – 
TORTURA
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LEI Nº 9.455/97 – TORTURA
TORTURA CASTIGO (ART. 1º, II)
A tortura castigo também recebe o nome de punitiva, intimidatória, vingativa ou tortura pena. 
Qualquer dessas denominações poderão ser cobradas em prova.
Art. 1º Constitui crime de tortura:
(…)
II – submeter alguém, sob sua guarda, poder ou autoridade, com emprego de violência 
ou grave ameaça, a intenso sofrimento físico ou mental, como forma de aplicar castigo 
pessoal ou medida de caráter preventivo.
Cuidado com o advérbio “intenso”, pois no inciso I do mesmo artigo não é mencionado intenso 
sofrimento físico ou mental, mas apenas sofrimento físico ou mental. O “intenso” foi acrescentado 
somente na tortura castigo, demonstrando que existe um sofrimento além da média.
Observe que na prática é difícil diferençar sofrimento de intenso sofrimento, contudo, como 
a norma traz essa diferenciação, é importante saber que o intenso apenas se aplica ao inciso II. A 
nossa impressão é que o legislador almejou diferenciar esse delito do de maus tratos, previsto no 
art. 136 do Código Penal.
Atente-se também à parte gravada em vermelho no texto da lei: “(…) como forma de aplicar 
castigo pessoal ou medida de caráter preventivo.”. Aqui, como nas alíneas do inciso I, há a exis-
tência do dolo específico, que estará preenchido com a presença de algumas dessas finalidades.
Visualize o seguinte exemplo: “João tem um filho de 9 anos de idade que é muito ativo, brin-
calhão. Certo dia, essa criança chega suja em casa. João, ao visualizar essa cena, fica muito irritado, 
coloca seu filho em uma cadeira, pega uma bituca de cigarro acesa e começa a pressionar contra 
a pele da criança, causando-lhe, mediante violência, intenso sofrimento físico, como forma de 
aplicar um castigo”.
Esse exemplo se encaixa perfeitamente no inciso II. João cometeu o crime de tortura castigo.
TORTURA CASTIGO X MAUS TRATOS (ART. 136, CP)
É importante saber a diferenciação entre o delito de tortura castigo e o de maus tratos, previsto 
no art. 136 do Código Penal.
No delito de maus tratos, há uma intenção de disciplina, entretanto ocorreu um excesso no 
uso dos meios de correção. Já na tortura castigo, existe a intenção de torturar, e ocorre o intenso 
sofrimento físico e mental. São condutas distintas, que possuem intensões igualmente distintas.
O crime de tortura castigo é muito mais grave, pois ocorre o intenso sofrimento físico ou 
mental. Já para os maus tratos há um excesso nos meios de correção.
Maus-tratos
Art. 136. Expor a perigo a vida ou a saúde de pessoa sob sua autoridade, guarda ou vigilân-
cia, para fim de educação, ensino, tratamento ou custódia, quer privando-a de alimentação 
ou cuidados indispensáveis, quer sujeitando-a a trabalho excessivo ou inadequado, quer 
abusando de meios de correção ou disciplina:
LEI Nº 9.455/97 – TORTURA 3
MAUS TRATOS TORTURA CASTIGO
Aqui a intenção dos maus tratos/da cor-
reção excessiva é o de disciplinar, ou seja, é 
a educação, ensino, tratamento ou custódia.
Ocorre que os meios utilizados na correção 
foram desproporcionais, expondo a perigo a 
ví�tima.
Aqui temos uma conduta mais grave. Não há 
a intenção de disciplina.
Desde o iní�cio o objetivo do agente é o in-
tenso sofrimento físico ou mental, como 
forma de castigo ou medida preventiva. Há o 
“sangue no olho”, a intenção de torturar.
Aqui existe um excesso nos meios de 
correção, expondo a ví�tima a perigo (mais 
leve).
Aqui existe o intenso sofrimento caracteri-
zando a tortura (mais grave).
Veja agora um exemplo prático que ajudará a visualizar com clareza a distinção entre os dois 
delitos. Certo dia, em uma Delegacia especializada em combater crimes sexuais contra crianças e 
adolescentes, uma mãe realizou um Boletim de Ocorrência, informando que sua filha de 13 anos de 
idade estava mantendo relações sexuais com um adolescente de 18 anos da região. Em decorrência 
disso foi instaurado um inquérito. Realizou-se exame de corpo de delito na menor, ficando constado 
a existência de marcas/lesões em sua perna. Em certo ponto foi necessário realizar a oitiva da mãe 
da menor, tendo sido questionado qual era a causa das marcas constatadas na perna da filha. Ela 
relatou que quando soube que a filha estava mantendo relações sexuais, ficou muito nervosa e 
agrediu a sua filha com um cabo de telefone. Afirmou ainda que tinha ciência que havia se excedido 
nos meios de correção, contudo a sua intensão era disciplinar a filha.
Observe que esse contexto fático nos leva a concluir que aquela mãe praticou o crime de maus 
tratos do art. 136 do Código Penal.
SUJEITOS DO CRIME
Com relação ao sujeito ativo, não é qualquer pessoa que poderá cometer esse delito. Esse é 
um crime próprio, que exige uma condição especial do agente. Essa condição é possuir a guarda, 
poder ou autoridade sobre a vítima.
Atente-se ao fato de que, embora esse crime seja próprio, não é cometido necessariamente 
por agente público, podendo ser realizado por um particular.
Com relação ao sujeito passivo, a vítima também não poderá ser qualquer pessoa. Só poderá 
ser vítima desse delito quem está sujeito à guarda, ao poder ou à autoridade do sujeito ativo.
Ficou claro que esse crime é próprio. Alguns doutrinadores, entretanto, vão além e o classificam 
como bipróprio, pois ele é próprio tanto em relação ao sujeito ativo quando ao passivo.
ATENÇÃO!
Se a sua prova trouxer que o crime do inciso II é um crime próprio, está correto. Mas se o examinador resolver 
aprofundar o tema, e informar que esse crime é bipróprio, também estará correto.
Há um julgado importante sobre esse tema, que diz respeito à desnecessidade de vinculo 
duradouro entre o sujeito ativo e o passivo para caracterização do crime de tortura castigo:
(…) O policial militar que auxilia a polícia civil na contenção de rebelião em estabelecimento 
prisional, durante a operação, detém, legitimamente, guarda, poder e autoridade sobre os 
4
detentos, podendo, nessa condição, ainda que momentânea, responder, em tese, pelo crime 
de tortura preconizado no art. 1º, inciso II da Lei nº 9.455/97 (…). 6ª Turma STJ. REsp 1738264/
DF, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, julgado em 23/08/2018, inf. 533).
Portanto, a guarda, o poder e a autoridade poderão ser exercidos de maneira momentânea 
para caracterização do delito, não necessitando ser um vínculo que demonstre ser duradouro ou 
permanente.
Devemos ainda apontar que esse crime é material, ou seja, deve existir o resultado naturalístico 
para consumação do delito, sendo possível a tentativa.
Para Guilherme de Souza Nucci e Cláudia Barros, esse delito é material, pois ao ocasionar um 
intenso sofrimento físico ou mental, fatalmente já se atingiu a finalidade de castigo pessoal ou 
medida de caráter preventivo.
TORTURA POR EQUIPARAÇÃO (ART. 1º, § 1º)
A tortura por equiparação é denominada por Renato

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