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Júlia Figueirêdo – LOCOMOÇÃO E APREENSÃO MORFOFISIOLOGIA E SEMIOLOGIA DA COLUNA LOMBOSSACRA A coluna vertebral é um conjunto de 33 vértebras articuladas entre si, tendo importante papel na sustentação do corpo, além de proteger a medula espinhal, inserida no canal medular (“túnel” formado pela sobreposição óssea). Anatomicamente, a coluna pode ser dividida em cervical, torácica, lombar, sacral e coccígea, cada parte com suas peculiaridades morfofisiológicas. Segmentações anatômicas da coluna vertebral A porção lombar da coluna é a que possui vértebras maiores e mais fortes, uma vez que deve suportar o peso de toda a porção superior do corpo. Essa condição torna os discos intervertebrais especialmente vulneráveis a lesões. As principais características dessa região são a presença de processos costiformes e mamilares, além de processos espinhosos longos e horizontalizados, permitindo movimentos de extensão e flexão. Principais componentes das vértebras lombares (L1- L5) O sacro, por sua vez, é um osso formado pela fusão de 5 vértebras, processo que se conclui na idade adulta. Diversos nervos e vasos permeiam essa região, passando pelos forames sacrais. Disposição de vértebras sacrais não fundidas O cóccix (união de 4 vértebras), ao final da coluna, sofreu grande regressão no desenvolvimento humano, guardando poucas reações com as outras regiões. Todos esses componentes ósseos são amparados por uma série de ligamentos, tais como: Ligamento longitudinal anterior: se estende medialmente desde a base do crânio até o sacro, auxiliando, com seu Júlia Figueirêdo – LOCOMOÇÃO E APREENSÃO formato laminar, a estabilizar anteriormente as vértebras e a restringir a extensão das costas; Ligamento longitudinal posterior: apresenta a mesma origem da estrutura acima, porém está fixado à parte posterior dos discos vertebrais; Ligamentos interespinal e supraespinal: promovem a interação entre os processos espinhosos de toda a coluna (C7-S5), relacionando-se intimamente ao ligamento da nuca (conecta o osso occipital às vértebras cervicais). Auxiliam a conter movimentos de flexão; Ligamento amarelo: elástico, se situa entre as lâminas vertebrais, conectando corpos ósseos diretamente adjacentes. Sua principal função é a limitação da flexão da coluna, protegendo os discos intervertebrais; Ligamentos intertransversais: se estendem entre os processos transversos (porção lateral) de vértebras contíguas, promovendo assim a regulação da flexão lateral da coluna; Ligamentos ileolombares: são um conjunto de fibras fortes (anterior, posterior, superior e inferior), organizadas de forma a potencializar a estabilidade lombossacral. Interações ósteo-ligamentares na coluna lombar (principais estruturas em destaque) A musculatura associada a coluna lombar pode ser segmentada em grupamentos anterior e posterior, responsáveis, respectivamente, pela flexão e extensão da região: Músculos anteriores: frequentemente denominados como abdominais, não guardam relações diretas com a coluna, ainda que possam reduzir a carga aplicada a ela durante exercícios. o M. reto abdominal: se estende verticalmente pelo abdome, sendo separado em lados direito e esquerdo pela linha alba. Pode ser ativado uni e bilateralmente, nesse último caso provocando flexão lateral; o M. oblíquos interno e externo: realizam a cobertura das porções anterior e lateral da parede abdominal, tendo fibras que se organizam de forma perpendicular. Essa particularidade faz com que a contração unilateral ative movimentos de flexão da coluna lombar, flexão lateral e rotação do tronco para o lado oposto (somente musculatura externa); o M. transverso do abdome: é a estrutura mais profunda do grupo, não possuindo função motora, porém se relacionam anatomicamente aos músculos anteriores, criando bainhas aponeuróticas. Disposição topográfica dos músculos lombares anteriores Músculos posteriores: descrevem um grande conjunto de fibras dispostas em Júlia Figueirêdo – LOCOMOÇÃO E APREENSÃO diferentes profundidades, sendo que aqueles músculos ditos como propriamente dorsais se encontram em áreas mais inferiores, pós- vertebrais. o Camada superficial: abrange os eretores espinhais, que se estendem lateralmente desde o íleo até a última costela, a partir da qual são formadas a coluna ileocostal (músculos lombar, torácico e cervical) e o músculo dorsal longo (m. longuíssimos do tórax, pescoço e da cabeça); Topografia dos músculos eretores da espinha e seus derivados o Camada intermediária: de organização complexa, é formada pelos músculos multífido (prolonga-se desde a lombar, onde é mais espesso, até a cervical), semiespinhal do tórax (estendendo-se entre os processos transversos das vértebras torácicas às vértebras cervicais inferiores); o Camada profunda: contempla os músculos interespinhais (união entre processos espinhosos cervicais e lombares), intertransversais (ligação entre os processos transversos dessa região), rotadores curtos (apresentam disposição oblíqua, conectando processos transversos e se dirigem às lâminas da vértebra superior) e rotadores longos (mesma origem e trajeto, porém se inserem na segunda vértebra acima). Integrantes da musculatura profunda do dorso Cada segmento da medula espinhal forma um par de nervos espinhais bilaterais, identificando-se com a mesma nomenclatura da vértebra de onde partiram. Durante o período fetal, a assimetria no crescimento entre a coluna vertebral e a medula espinhal propriamente dita, leva à atrofia dos prolongamentos coccígeos, com a “ponta” do cone medular atingindo o nível de L4-L5. Esse “desequilíbrio” faz com que ocorra um deslocamento oblíquo cada vez maior entre a vértebra e sua raiz nervosa, de forma que as estruturas lombares e sacrais apresentem maior comprimento. Júlia Figueirêdo – LOCOMOÇÃO E APREENSÃO Nervos segmentares da coluna lombossacra Os feixes remanescentes à elevação da medula se organizam de forma especial, sendo denominados por cauda equina, em cuja porção terminal se fixam as meninges espinais. Porção terminal do cone medular e cauda equina, destacando-se a fixação terminal da dura-máter EXAME CLÍNICO DA COLUNA LOMBOSSACRA: A análise da histórica clínica é imprescindível para a investigação da lombalgia e lombociatalgia. Durante a anamnese, os principais pontos de interesse são a idade, sexo e, principalmente, aspectos sobre o trabalho e as atividades de lazer praticadas pelo paciente. O tabagismo e e sobrepeso ou obesidade também são condições que interferem negativamente sobre a susceptibilidade individual à dor lombar. Quanto às características da dor, é necessário avaliar os seguintes critérios: Intensidade; Momento do dia no qual se inicia; Fatores de melhora ou piora (possíveis relações com o repouso/movimento); Presença de red flags (sintomas sistêmicos indicativos de etiologias secundárias graves); Principais sinais de alerta durante a investigação de lombalgias Irradiação (determina o envolvimento de raízes nervosas); Características psicossomáticas da dor. O exame físico é iniciado pela inspeção, na qual o paciente é observado, inicialmente de costas, enquanto o médico busca por assimetrias entre os ombros, seios e pelve, e por mudanças no ângulo entre o braço e o tronco (ângulo do talhe). A seguir, o indivíduo deve ser analisado lateralmente, detectando condições como cifose ou lordose. Alterações do trajeto da coluna Júlia Figueirêdo – LOCOMOÇÃO E APREENSÃO Durante a palpação, por sua vez, buscam- se por pontos dolorosos na região paravertebral que possamauxiliar a localizar o epicentro da lombalgia, além de se realizar a identificação dos processos espinhosos, pontuando áreas onde ocorrem alterações na continuidade da coluna, sugestivas de espondilolistese. Por vezes há um desequilíbrio entre a musculatura abdominal, enfraquecida, e os flexores do quadril, excessivamente tensionados, resultando em dor ao inclinar a pelve para a frente. Principais métodos de inspeção e palpação na avaliação da dor lombar A pesquisa da mobilidade da coluna lombar conta com análise da extensão e da flexão (tentar tocar os pés mantendo os joelhos estendidos), promovendo a ativação antagônica do ligamento longitudinal anterior e do complexo ligamentar posterior. Nos testes de inclinação lateral e rotação toracolombar, o examinador precisa estabilizar a pelve do paciente, solicitando que ele realize movimentos de forma ativa. O exame neurológico parte primeiramente da avaliação do nível sensitivo, estimulando a coxa em suas regiões anteroposterior, abaixo do ligamento inguinal (L1), anterior e medial (L2), acima do joelho, em trajeto oblíquo (L3) e posterolateral, anteriormente ao joelho e na porção medial da perna. O nível L5, por outro lado, se estende pela porção anterolateral da perna em direção ao dorso do pé e do hálux. O maléolo lateral e o calcanhar, cuja sensibilidade associa-se a S1, também devem ser analisados. Avaliação de reflexos, motricidade e sensibilidade dos níveis neurológicos da coluna lombossacra A organização do exame motor é dividida em grupos musculares, tal como descritos anteriormente: Flexor do quadril (ileopsoas, inervado por T2 a L3): o paciente deve elevar a coxa da maca, partindo da posição sentada; Extensor do joelho (quadríceps femoral, associado a L2-L4): requer que o indivíduo vença resistência imposta A escoliose pode ser identificada pelo sinal de Adams, no qual há uma elevação assimétrica do tórax, com proeminência de um dos grupamentos paravertebrais Júlia Figueirêdo – LOCOMOÇÃO E APREENSÃO pelo examinador ao elevar a perna, também inicialmente sentado; Adutores do quadril (inervados pelo nervo obturatório, com raízes entre L2 e L4): testados com o paciente em decúbito dorsal, pedindo que ele realize adução da perna contra resistência, enquanto as mãos do profissional fixam a parte medial da coxa. Durante a análise dos reflexos do plexo lombossacral, são investigados: Reflexo patelar (raiz L4): o examinador promove um estímulo ao tendão patelar, observando a extensão involuntária da perna, com o paciente sentado na maca; Áreas de influência da raiz nervosa de L4 Reflexo aquileu (raiz S1): mediado pelo músculo gastrocnêmio, é identificado pela flexão plantar involuntária após percutir o tendão de Aquiles com o pé em dorsoflexão. Segmentos motores, sensoriais e reflexos associados a S1 Outro importante reflexo nessa região é o superficial abdominal, examinado com um estímulo aos quadrantes do abdome com um instrumento pontudo, avaliando a ocorrência de desvios da cicatriz umbilical (os músculos abdominais são inervados por fibras de T1 a L1). O reflexo cremastérico também pode ser obtido a partir da estimulação da face medial superior da coxa, a partir da qual há elevação da bolsa escrotal. Quando abolido bilateralmente, há possível lesão de L12, ao passo que alterações unilaterais refletem comprometimento de L1 e L2. Os reflexos patológicos que refletem alterações lombossacras são o Babinski (extensão dos dedos à provocação plantar) e o de Oppenheim (mesma resposta, porém à estimulação da crista tibial). Em caso de trauma, é obrigatória a pesquisa do reflexo bulbocavernoso, realizada por meio da compressão da glande ou do clitóris, que levam à contração do esfíncter anal (raízes S2- S3) Júlia Figueirêdo – LOCOMOÇÃO E APREENSÃO Pesquisa do reflexo de Oppenheim Alguns testes específicos devem ser executados frente à presença de lombalgia, de forma a delimitar possíveis etiologias. Os principais são: Teste de Lasegue (elevação da perna): feito com o paciente em decúbito dorsal, com o examinador elevando passivamente um dos membros inferiores pelo calcanhar, mantendo o joelho estendido. Quando positivo para compressão de L4-L5, o paciente sente dor quando a perna atinge 30 a 70º de elevação. Caso o incômodo ocorra acima dessa angulação, sua causa pode ser relacionada ao encurtamento dos músculos isquiotibiais. Características álgicas associadas ao resultado do teste de Lasègue Sinal de Bragard: é investigado logo após a conclusão do teste acima, abaixando o membro até que desapareçam os sintomas álgicos, ponto a partir do qual se faz a dorsoflexão passiva do tornozelo. Quando esse sinal é presente, o paciente volta a se queixar de dor. A relevância dessa etapa é a diferenciação entre irritações radiculares e doenças por encurtamento muscular, que são fatores confundidores no teste de Lasègue. Teste de Kernig: visa simular a dor referida por compressão da medula, produzida pela flexão passiva da cabeça do paciente, que se encontra em decúbito dorsal; Teste de Kernig, com representação de achado positivo à direita Teste de Hoover: tem por finalidade determinar se o paciente está simulando a incapacidade de erguer a perna, ao pedir que ele faça a elevação do membro estendido, enquanto o calcanhar do outro é segurado pelo examinador. Quando há tentativa ativa para o movimento, observa-se que o pé oposto pressiona a maca; Realização do teste de Hoover Teste de Milgram: permite a avaliação de compressão dural ao pedir que o paciente, em decúbito, erga suas pernas a cerca de 5 cm da maca, forçando o uso Júlia Figueirêdo – LOCOMOÇÃO E APREENSÃO de músculos que elevam a pressão intradural, possivelmente causando dor; Sinal de Ganslen: o indivíduo é posicionado com os joelhos fletidos sob o tórax e uma das nádegas fora da maca. Ao soltar o membro do lado comprometido, diminuindo a sustentação muscular, o paciente se queixa de dor na região sacroilíaca; Procedimento para realização do teste de Ganslen Manobra de Patrick (FABERE): usada na busca por lesões articulares sacroilíacas ou pélvicas. Nesse teste, o examinador conduz o pé do membro acometido ao joelho oposto, onde apoia uma das mãos; Execução da manobra de Patrick (FABERE – flexão, abdução e rotação externa) Sinal das pontas de “De Sèze”: m caso de compressão das raízes de L4 e L5, o paciente não consegue andar sobre os calcanhares (incapacidade de fazer dorsoflexão do tornozelo), ao passo que, em distúrbios de S1, há dificuldade em caminhar nas pontas dos pés (problemas com a flexão plantar do tornozelo).
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