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Gabriela Bordignon – UFMS CPTL (T5) Prof. Joara, GASTRO – FPM VII DEFINIÇÃO DOENÇA DO REFLUXO GASTROESOFÁGICO - DRGE • É o refluxo do conteúdo gástrico para o esôfago MEDCURSO: o retorno do conteúdo gástrico através do esfíncter esofagiano inferior (EEI) é chamado de refluxo gastroesofágico. O RGE casual, de curta duração (que geralmente ocorre durante as refeições), é dito FISIOLÓGICO, sendo tipicamente assintomático. Já o refluxo interprandial recorrente, de longa duração, costuma originar sintomas (como pirose e regurgitação) que resultam da agressão à mucosa esofágica promovida pelo material refluído. Estes episódios de refluxo são ditos PATOLÓGICOS, e caracterizam a DOENÇA do refluxo gastroesofágico (DRGE) PIROSE = queimação retroesternal ascendente EPIDEMIOLOGIA • Prevalência no Brasil 12% -20% (sintomáticos) • Problema de saúde pública, dado o elevado custo em exames complementares e medicamentos • A DRGE pode aparecer em qualquer faixa etária (inclusive em crianças), porém, sabemos que sua prevalência aumenta com a idade. Não há preferência por sexo, mas os sintomas tendem a ser mais frequentes e intensos na vigência de obesidade (o IMC é fator de risco independente para DRGE, apresentando correlação direta com sua gravidade), bem como durante a gestação (relaxamento do EEI promovido pela progesterona + aumento da pressão intra-abdominal exercido pelo útero gravídico) FATORES DE RISCO • Idade, gestação, mulheres, obesidade, tabagismo, etilismo e hérnia de hiato MECANISMOS • Relaxamento transitório do esfíncter inferior do esôfago não associados a deglutição • Hipotonia do esfíncter inferior do esôfago (EIE) • Alteração na barreira anti-refluxo gastroesofágico decorrente da hérnia hiatal por deslizamento • Peristaltismo esofagiano inadequado • Lesão da mucosa esofagiana Os relaxamentos transitórios do EEI não relacionados à deglutição representam o mecanismo patogênico mais comum de DRGE (60-70% dos pacientes), sendo característicos dos indivíduos sem esofagite ou com esofagite leve (o motivo desta última associação é: o refluxo tende a ser menos intenso e menos prolongado por este mecanismo). Acredita-se que tais relaxamentos sejam mediados por um reflexo vagovagal anômalo (o vago é ao mesmo tempo aferência e eferência do reflexo) estimulado pela distensão gástrica... Ao contrário dos relaxamentos desencadeados pela deglutição, os relaxamentos patológicos são mais duradouros (> 10 segundos) e não são seguidos de peristalse esofagiana eficaz (a peristalse ajudaria a "limpar" os conteúdos refluídos, diminuindo a exposição da mucosa) A pressão média do EEI costuma ser normal (entre 10-30 mmHg) em indivíduos com DRGE cujo mecanismo patogênico é o já citado relaxamento transitório não associado à deglutição. Entretanto, alguns pacientes de fato possuem um esfíncter constantemente hipotônico (< 10 mmHg). Na grande maioria das vezes, nenhuma etiologia é identificada, porém, as seguintes condições podem justificar uma hipotonia verdadeira do EEI: esclerose sistêmica (pela fibrose e atrofia da musculatura esofagiana), lesão cirúrgica do EEI (ex.: após esofagomiotomia de Heller), tabagismo, uso de drogas com efeito anticolinérgico ou miorrelaxante (ex.: agonistas beta- adrenérgicos, nitratos, antagonistas do cálcio) e a gestação. A própria esofagite erosiva é capaz de reduzir o tônus do EEI Doença do refluxo gastroesofágico Gabriela Bordignon – UFMS CPTL (T5) Prof. Joara, GASTRO – FPM VII (agressões repetidas resultam em fibrose e atrofia da musculatura), gerando um ciclo vicioso Hormônios como a colecistocinina (CCK) e a secretina também reduzem o tônus do EEI... A hipotonia do EEI é o principal mecanismo patogênico de DRGE em pacientes que apresentam esofagite erosiva grave. O motivo desta associação é: o refluxo ocasionado por este mecanismo tende a ser mais intenso e mais prolongado (levando a uma maior exposição da mucosa e, consequentemente, maior dano) As hérnias de hiato favorecem o refluxo na medida em que o EEI passa a não contar mais com a ajuda da musculatura diafragmática como reforço mecânico à sua função de barreira. A posição inapropriada do EEI (que passa a ficar dentro da cavidade torácica, local onde a pressão externamente exercida sobre ele é menor) facilita a ocorrência do chamado "re- refluxo", a partir do material contido no saco herniário. Esse fenômeno, inclusive, costuma ocorrer durante os relaxamentos fisiológicos do EEI induzidos pela deglutição. Apesar de seu papel indiscutível na gênese do problema, a hérnia de hiato nem sempre se acompanha de DRGE, logo, seu encontro NÃO deve levar a um diagnóstico automático de DRGE!!! De modo análogo, para ter DRGE não é obrigatório ter hérnia de hiato...O fato é que, em geral, quando um portador de hérnia de hiato faz DRGE, esta tende a ser mais grave (ex.: maior probabilidade de esofagite erosiva e esôfago de Barrett) São mecanismos de DEFESA contra o refluxo: (1) bicarbonato salivar, que neutraliza a acidez do material refluído; (2) peristalse esofagiana, que devolve esse material para o estômago. Logo, contribuem para a ocorrência e a gravidade da DRGE, a coexistência de disfunção das glândulas salivares (ex.: síndrome de Sjögren, medicamentos com efeito anticolinérgico) e/ou distúrbios motores primários do esôfago SINTOMAS PIROSE E REGURGITAÇÃO ÁCIDA • Sintomas no mínimo duas vezes por semana, em período de quatro a oito semanas ou mais → AVALIAR DRGE • Avaliar: duração, intensidade, frequência, fatores desencadeantes e de alívio, padrão de evolução no decorrer do tempo e impacto na qualidade de vida PIROSE • Sensação de queimação retroesternal que se irradia do manúbrio esternal até a base do pescoço. Ela ocorre, em geral, 30-60 min após a ingestão de alimentos • FATORES DESENCADEANTES → alimentos gordurosos ou picantes, cítricos, café, refrigerantes, álcool, refeições volumosas, tabaco, medicamentos e o hábito de se deitar imediatamente após as refeições • Os fatores de alívio são → ingestão de leite, água ou antiácidos REGURGITAÇÃO ÁCIDA • A regurgitação ácida é o retorno do conteúdo ácido até a cavidade oral • Sintomas dispépticos associados → plenitude pós- prandial, sensação de empachamento, eructações, menos comumente, náuseas, sialorreia e soluços COMPLICAÇÕES • ESÔFAGO DE BARRET 10-15% dos refluidores crônicos Há substituição do epitélio escamoso esofágico, em geral, de sua porção distal, por um epitélio colunar glandular contendo células caliciformes • ESTENOSE PÉPTICA • HEMORRAGIA • ÚLCERA • NEOPLASIA SINTOMAS DE ALARME • Anemia, hemorragia digestiva, perda ponderal, disfagia, odinofagia, sintomas de grande intensidade e de início recente em idosos, história familiar de câncer e vômitos recorrentes DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL • Úlcera péptica, gastrite e câncer gástrico • MANIFESTAÇÕES ATÍPICAS Gabriela Bordignon – UFMS CPTL (T5) Prof. Joara, GASTRO – FPM VII Portadores de DRGE podem se queixar também de disfagia (1/3 dos casos), o que sugere a ocorrência de complicações como estenose péptica ou adenocarcinoma, mas pode resultar apenas do edema inflamatório na parede do esôfago ou da coexistência de um distúrbio motor associado Uma queixa menos frequente – mas que assusta bastante o paciente – é a dor precordial, que pode ser indistinguível da dor coronariana, fazendo diagnóstico diferencial com angina pectoris (a DRGE é uma das principais etiologias de "dor torácica não cardíaca") Certos pacientes têm ainda sintomas extraesofagianos, os chamados "sintomas atípicos", que podem ser relacionados ao refluxo ácido para a boca (erosão do esmalte dentário), faringe (irritação da garganta, sensação de globus), laringe (rouquidão, granuloma de corda vocal), cavidadenasal (sinusite crônica, otite média) e árvore traqueobrônquica (tosse crônica, broncoespasmo, pneumonite aspirativa) A anemia ferropriva por perda crônica de sangue aparece nos pacientes que desenvolvem esofagite erosiva grave, com formação de úlceras profundas. Raramente estes indivíduos evoluem com perfuração do esôfago SINTOMAS PULMONARES • TOSSE CRÔNICA → mais de 8 semanas • As quatro causas mais comuns de tosse em não fumantes, com RX de tórax normal e sem uso de i- ECA, são: DRGE, asma, bronquite crônica e gotejamento pós nasal • Cerca de 50% dos pacientes com tosse crônica são diagnosticados como portadores de DRGE, que pode ser implicada como fator causal ou apenas um agravante da tosse DRGE +TOSSE Estudo recente demonstrou que os portadores de DRGE e tosse que irão se beneficiar do tratamento com IBPs são os que apresentam sintomas típicos de refluxo associados (pirose e regurgitação), hernias hiatais volumosas (maiores que 4cm) e com exposição ácida à pHmetria superior a 12% do tempo total de exposição ácida. A DRGE pode causar ou exacerbar episódios de broncoespasmo através de dois possíveis mecanismos: reflexo esofagobrônquico mediado pelo nervo vago; microaspiração de ácido para a árvore brônquica MÉTODOS DIAGNÓSTICOS Na maior parte das vezes o diagnóstico de DRGE pode ser feito somente pela anamnese, quando o paciente refere pirose pelo menos uma vez por semana, por um período mínimo de quatro a oito semanas. A resposta à prova terapêutica (redução sintomática > 50% após 1-2 semanas de uso de IBP) é considerada o principal teste confirmatório! Perceba, então, que é perfeitamente possível estabelecer o diagnóstico de DRGE sem pedir exames complementares... Não obstante, a realização de exames está indicada em certas situações específicas. Os principais métodos utilizados são: (1) endoscopia digestiva alta; (2) pHmetria de 24h (com ou sem impedanciometria); (3) esofagomanometria; (4) esofagografia baritada QUADRO CLÍNICO • Doença do refluxo não erosiva • Doença do refluxo erosiva DIAGNÓSTICO CLÍNICO • Abordagem do diagnóstico inicial sem necessidade de investigação: Idade < 45 anos Manifestações típicas Sem sinais de alerta ➔ TESTE TERAPÊUTICO EXAMES COMPLEMENTARES Gabriela Bordignon – UFMS CPTL (T5) Prof. Joara, GASTRO – FPM VII • Sintomas crônicos, idade > 45 anos e com sintomas de alarme, tais como disfagia, odinofagia, perda de peso, hemorragia digestiva, náusea, vômitos e história familiar de câncer • ENDOSCOPIA DIGESTIVA ALTA (EDA) Método de escolha para lesões causadas pelo refluxo Classificação: DRGE erosiva e não erosiva Identificar complicações (esôfago de Barret, úlceras, estenoses e neoplasias de esôfago) Realização de biópsias ENDOSCOPIA DIGESTIVA ALTA (EDA) PERMITE VISUALIZAR • Erosões – soluções de continuidade limitadas à mucosa, com pelo menos 3mm de extensão, com deposito de fibrina e permeação neutrofílica do epitélio, caracterizando a esofagite • Úlceras – soluções de continuidade que atingem pelo menos a camada muscular da mucosa • Estenose péptica de esôfago de Barret 10% têm pirose funcional – sem alteração na endoscopia CLASSIFICAÇÃO DA ESOFAGITE DE REFLUXO • Diagnóstico de esofagite é observado em apenas 40% dos pacientes com DRGE e a gravidade da esofagite não mostra correlação com a intensidade dos sintomas Dizemos que o paciente tem esofagite de refluxo quando ele desenvolve alterações inflamatórias na mucosa esofagiana visíveis pela endoscopia. Curiosamente, nem sempre essas alterações possuem correspondência direta com as manifestações clínicas: a maioria dos pacientes sintomáticos apresenta EDA normal, enquanto outros, a despeito de uma esofagite grave, podem não referir qualquer queixa. Entenda que é justamente por este motivo que tal exame NÃO É obrigatório para o diagnóstico de DRGE (ao contrário do que muita gente pensa) – a EDA geralmente é normal, e isso não descarta a existência da doença! A esofagite de importância clínica é aquela que possui erosões (definidas como soluções de continuidade limitadas à mucosa, com pelo menos 3 mm de extensão). A classificação de Los Angeles é a mais utilizada na atualidade para estadiar a gravidade da esofagite de refluxo CLASSIFICAÇÃO DE LOS ANGELES (1994) GRAU A → uma (ou mais) solução de continuidade da mucosa confinada às pregas mucosas, não maiores que 5mm cada GRAU B → pelo menos uma solução de continuidade da mucosa com mais de 5mm de comprimento, confinada às pregas mucosas e não contíguas entre o topo de duas pregas GRAU C→ pelo menos uma solução de continuidade da mucosa contígua entre o topo de duas (ou mais) pregas Gabriela Bordignon – UFMS CPTL (T5) Prof. Joara, GASTRO – FPM VII mucosas, mas não circunferencial (ocupa menos que 75% da circunferência do esôfago) GRAU D → uma mais solução de continuidade da mucosa circunferencial (ocupa no mínimo 75% da circunferência do esôfago) QUANDO FAZER BIÓPSIA? • Nos casos de complicações do refluxo gastroesofágico (úlceras, estenose péptica e esôfago de Barret) A biópsia esofágica não deve ser realizada aleatoriamente e deve seguir a seguinte preposição: Não ser indicada em pacientes que se apresentam para realização do exame endoscópico na fase aguda da esofagite erosiva sem úlcera, estenose ou suspeita de metaplasia colunar EXAME RADIOLÓGICO CONTRASTADO DO ESÔFAGO (EED) • Baixa sensibilidade e especificidade para o diagnóstico da DRGE • Paciente com disfagia ou odinofagia • Avalia a morfologia do esôfago • Hérnia hiatal por deslizamento e ângulo esofágico gástrico anormal MANOMETRIA ESOFÁGICA COMPUTADORIZADA • Não é utilizada para fins diagnósticos • Avalia o tônus pressórico dos esfíncteres esofagianos e a atividade motora do corpo esofágico • Indicações: a) Localização dos esfíncteres esofagianos, informação indispensável para o correto posicionamento dos sensores de pHmetria b) Diagnóstico de distúrbios motores específicos: acalasia, doenças do colágeno, aperistalse e hipocontratilidade acentuada c) Análise da atividade motora no pré-operatório: fundoplicatura CINTILOGRAFIA • Este exame demonstra o refluxo gastroesofágico após ingestão de contraste marcado com técnesio 99. É a técnica não invasiva que pode ser utilizada para diagnóstico da DRGE em crianças PHMETRIA ESOFÁGICA PROLONGADA • INDICAÇÕES: a) Diagnóstico da DRGE em pacientes com endoscopia normal b) Caracterização do padrão do refluxo gastroesofágico c) participação do refluxo ácido nas manifestações atípicas do refluxo ácido nas manifestações atípicas do RGE d) estudo da recidiva de sintomas no pós-operatório e) avaliação da eficácia do tratamento clínico PHMETRIA • o refluxo é considerado patológico quando o pH intra- esofágico se mantém abaixo de quatro por mais de 4% do tempo total da duração do exame • pHmetria normal, porém com resposta favorável aos inibidores da bomba de prótons → diagnóstico de doença do refluxo não erosiva • pHmetria normal, índice de sintomas negativo e falta de resposta aos inibidores da bomba de prótons → pirose funcional pHmetria de 24h: trata-se do método PADRÃO-OURO para confirmação diagnóstica de DRGE (sensibilidade e especificidade acima de 90%)! Contudo, lembre-se que na maioria dos pacientes não é preciso realizar qualquer exame complementar (logo, uma pHmetria não é feita de rotina)... Gabriela Bordignon – UFMS CPTL (T5) Prof. Joara, GASTRO – FPM VII TRATAMENTO • Individualizado • Alívio dos sintomas • Cicatrização das lesões • Prevenção de complicações • Teste diagnóstico terapêutico TRATAMENTO – MEDIDAS COMPORTAMENTAIS • Perda ponderal • Evitar deitar-se durante o período de 2h após a refeição • Evitar refeições copiosas • Cessar usode álcool e tabagismo • Elevar cabeceira da cama em 15cm • Evitar alimentos e medicamentos que reduzam a pressão do IEI e irritantes da mucosa TRATAMENTO FARMACOLÓGICO - As classes de medicamentos empregadas no tratamento da DRGE são: (1) Bloqueadores do receptor H2 de histamina (BH2); (2) Inibidores da Bomba de Prótons (IBP); (3) antiácidos. Os procinéticos (ex.: bromoprida, domperidona, metoclopramida) não são mais indicados de rotina... Antigamente, os procinéticos eram sempre prescritos como adjuvantes ao tratamento antissecretor, com o intuito de melhorar o tônus e a motilidade da região esofagogástrica, mas nunca foi demonstrado um benefício consistente para a maioria dos pacientes. Todavia, os procinéticos podem ser prescritos para pacientes que, além dos sintomas típicos de refluxo, apresentam outras queixas dispépticas sugestivas de gastroparesia associada (ex.: náuseas, saciedade precoce, plenitude pós-prandial)... TESTE TERAPÊUTICO • <40 anos, com queixas típicas de DRGE e sem manifestações de alarme (e tempo de sintomas <4semanas) • Tratamento com inibidores de bomba de prótons em dose plena por 4 semanas + medidas comportamentais • o teste é considerado positivo quando os sintomas são abolidos, sugerindo fortemente o diagnóstico de DRGE Gabriela Bordignon – UFMS CPTL (T5) Prof. Joara, GASTRO – FPM VII INIBIDOR DE BOMBA DE PRÓTONS (IBP) • Elevado índice de cicatrização • Eficazes para o tratamento prolongado • Sintomas típicos e EE grau A e B de Los Angeles – dose plena, 4-8 semanas na fase aguda da doença • Sintomas atípicos, EE grau C e D de Los Angeles, presença de úlcera, estenose ou Barret – dose dobrada, 2-6 meses Inibem aH+ /K+ ATPase ("bomba de prótons") bloqueando a via final para a secreção de ácido pelas células parietais do estômago. Constituem as drogas de escolha quando o paciente é muito sintomático, e também quando apresenta esofagite ou outras complicações da DRGE. A melhora da pirose é observada em 80-90% dos pacientes, desaparecendo por completo em cerca de 50%. A resolução da esofagite é esperada em > 80% quando a dose padrão é utilizada (1x ao dia, 30min antes do café da manhã), e quase todo o restante melhora quando a dose é "dobrada" (2x ao dia, 30min antes do café da manhã e 30min antes do jantar). Não parece haver diferenças significativas em termos de eficácia clínica entre as formulações, ficando a escolha mais por conta do potencial de interações medicamentosas e do custo (o omeprazol é o que tem maior número de interações, mas é também o mais barato) Raramente os IBP produzem efeitos adversos... cefaleia, diarreia e dor abdominal são os paraefeitos AGUDOS mais comuns, e podem ser resolvidos com uma simples troca da medicação (ex.: trocar omeprazol por pantoprazol). Em relação aos paraefeitos CRÔNICOS, os mais importantes são: (1) maior risco de enterocolite infecciosa, incluindo infecção por Clostridium difficile; (2) maior risco de pneumonia (por enteropatógenos Gram- negativos que passam a colonizar a mucosa gástrica e podem ser aspirados para a via aérea); (3) má absorção intestinal de ferro, cálcio, magnésio e vitamina B12, provocando anemia (ferropriva e/ou megaloblástica), hipomagnesemia e fraturas osteoporóticas, especialmente fraturas de quadril... Usuários crônicos de IBP também estão mais propensos a desenvolver pólipos gástricos fúndicos, porém, o significado clínico deste achado ainda é incerto (não há evidências definitivas de que o risco de tumores de estômago como adenocarcinoma ou carcinoide esteja aumentado). A causa da maior ocorrência desses pólipos é a hipergastrinemia (que exerce estímulo trófico sobre as glândulas fúndicas), decorrente da hipo/acloridria gerada pelos IBP MANUTENÇÃO • Pacientes sintomáticos após a descontinuação do IBP • Esofagite erosiva • Esôfago de Barret PROCINÉTICOS → bromoprida ou domperidona 10mg, 3x ao dia, 30 min antes das refeições ANTIÁCIDOS, ALGINATOS E SUCRAFALTO → alívio sintomático e temporário os antiácidos (ex.: hidróxido de alumínio e/ou magnésio, como o Mylanta Plus® 10-20 ml VO) neutralizam diretamente a acidez do suco gástrico, sem interferir na secreção cloridropéptica das células parietais. Logo, NÃO são úteis no tratamento prolongado da DRGE, pois seu efeito é de curta duração (cerca de 2h): seriam necessárias muitas tomadas diárias a fim de manter o pH gástrico controlado, uma conduta simplesmente inviável na prática (até porque, durante a noite, o paciente ficaria desprotegido)... Não obstante, podem ser utilizados como "SOS" para alívio imediato! Seja como for, antiácidos isolados não têm eficácia na cicatrização da esofagite erosiva, tampouco na presença de outras complicações. É importante lembrar que formulações contendo magnésio devem ser evitadas em portadores de doença renal crônica, pelo risco de causar hipermagnesemia... O alginato é um polímero de ocorrência natural que, quando tomado por via oral após uma refeição, possui a propriedade de formar uma película isolante sobre o acid pocket (bolsão ácido que se acumula no fundo gástrico, por cima do bolo alimentar), impedindo seu contato com o esôfago! Quando combinado ao bicarbonato (Gaviscon®), torna-se particularmente útil no controle da pirose pós-prandial de portadores de DRGE que também possuem grandes hérnias de hiato BLOQUEADORES H2 DE HISTAMINA → bloqueiam os receptores H2 de histamina nas células parietais gástricas, inibindo, desse modo, uma das três vias de estímulo neuroendócrino à secreção ácida (as outras duas são mediadas por acetilcolina e gastrina). São comprovadamente menos eficazes do que os IBP, não devendo, por conseguinte, ser prescritos na vigência de esofagite grave ou outras complicações (ex.: esôfago de Barrett). Os BH2 devem sempre ser tomados 2x ao dia DELINEANDO A ESTRATÉGIA TERAPÊUTICA • Sintomas leves e intermitentes Gabriela Bordignon – UFMS CPTL (T5) Prof. Joara, GASTRO – FPM VII As medidas antirrefluxo devem ser indicadas, como vimos, de forma individualizada. Quando os sintomas aparecem com frequência < 1x/semana, podemos optar pelo "tratamento sob demanda", isto é, os medicamentos são usados apenas conforme a necessidade... As drogas de escolha são os antiácidos ou os BH2. Os antiácidos promovem alívio quase que imediato da pirose, porém, sua ação dura no máximo 2h. Já os BH2 demoram um pouco mais para começar a agir (cerca de 30min), porém, seu efeito é prolongado (cerca de 8h). Quando o paciente é capaz de prever o início dos sintomas (ex.:quando ele sabe que vai comer algum desencadeante de pirose), os BH2 devem ser tomados 30min antes da refeição • Sintomas mais graves e frequentes TRATAMENTO INICIAL. As drogas de escolha são os IBP em dose padrão (1x ao dia), mantidos por 4-8 semanas. Cerca de 10-20% dos pacientes não melhoram com a dose padrão após as primeiras 2-4 semanas, situação que autoriza o médico a "dobrar a dose" empiricamente (2x ao dia). Na ausência de resposta à dose dobrada (5% dos casos), o paciente deve ser submetido a exames complementares (ver adiante). Pacientes virgens de tratamento, que porventura recebem o diagnóstico já com complicações da DRGE (ex.: esofagite erosiva grave, esôfago de Barrett, estenose péptica), podem começar com a dose dobrada! TRATAMENTO DE MANUTENÇÃO. Pacientes que respondem de forma satisfatória ao IBP na dose padrão devem tentar suspender a medicação após o tratamento inicial... Cerca de 80% evoluem com recidiva dos sintomas, geralmente dentro dos primeiros três meses, e para estes indivíduos as seguintes opções são válidas: (1) reintroduzir o IBP na dose padrão e mantê-lo indefinidamente; (2) utilizar o IBP na dose padrão, mas de forma intermitente (cursos alternantes de 2-4 semanas); (3) utilizar o IBP"sob demanda" (isto é, somente para resolver sintomas eventuais). Alguns autores também consideram válido tentar manter o paciente em uso contínuo de BH2 (2x ao dia), desde que não haja história de esofagite erosiva ou complicações. O fato é que a estratégia a ser adotada dependerá da frequência e do impacto dos sintomas na qualidade de vida do paciente, bem como de suas preferências pessoais... Para pacientes que necessitaram de IBP em dose dobrada durante o tratamento inicial, bem como para aqueles diagnosticados com complicações da DRGE, recomenda-se NÃO TENTAR A SUSPENSÃO DA MEDICAÇÃO, devendo o tratamento ser mantido indefinidamente com a menor dose efetiva possível ESÔFAGO DE BARRET • Risco potencial de adenocarcinoma de esôfago (risco 0,2% a 2,1% ao ano em pacientes sem displasia) • Realização de endoscopia a cada 1-3 anos, sem displasia • Não há nenhum tratamento eficaz para regredir o esôfago de Barret • Tratamento controla o refluxo, diminuindo, consequentemente, o processo inflamatório • DISPLASIA DE BAIXO GRAU precisa de acompanhamento a cada 6 meses • DISPLASIA DE ALTO GRAU deve ter o diagnostico confirmado por outro patologista, sendo indicada intervenção cirúrgica • Para o controle clínico do esôfago de Barret, o tratamento adequado é obtido com IBP • Barret curto → IBP em dose plena • Demais casos de Barret → IBP em dose dupla em duas tomadas diárias ESTENOSE → geralmente o tratamento é cirúrgico! Recomenda-se que o paciente seja submetido a uma avaliação prévia do refluxo Os pacientes com estenose também podem ser tratados com IBP e dilatação Gabriela Bordignon – UFMS CPTL (T5) Prof. Joara, GASTRO – FPM VII ÚLCERA E SANGRAMENTO ESOFÁGICO • O sangramento esofágico na DRGE costuma ser lento e insidioso e, muitas vezes, é o responsável por quadros de anemia crônica • O tratamento clínico constitui a melhor opção terapêutica • IBP em dose dupla por um período de pelo menos 8 semanas. Após a cicatrização, deve ser instituído um tratamento de manutenção QUESTÕES - MEDCURSO 01. 2020 UNICAMP Homem, 32a, procura a Unidade Básica de Saúde com queixa de queimação retroesternal há vários meses, do estômago à base do pescoço, de intensidade moderada, principalmente à noite, de 2-3 vezes por semana. Também refere tosse crônica e rouquidão. Endoscopia digestiva alta: sem alterações. A CONDUTA É: A) Realizar pHmetria para definição diagnóstica. B) Realizar broncoscopia. C) Repetir endoscopia digestiva alta com biópsia da mucosa esofágica. D) Prescrever inibidor de bomba de prótons, medidas dietéticas e comportamentais. 02. 2020 USP - SP Homem, 48 anos, com queixa de azia, tosse noturna e broncopneumonias de repetição. Encaminhado pela equipe de otorrinolaringologia para avaliação. Já está em uso de 40 mg de omeprazol 1 vez por dia, com melhora clínica da azia e tosse. Com relação ao caso apresentado, assinale a melhor alternativa: A) A melhora da sintomatologia contraindica prosseguimento da investigação. B) Não se deve propor tratamento cirúrgico do refluxo gastroesofágico, já que houve melhora do quadro clínico. C) O tratamento cirúrgico do refluxo gastroesofágico é uma boa proposta terapêutica, tendo como preditor de bom resultado a boa resposta ao tratamento clínico. D) A cirurgia somente estaria indicada após confirmação da presença de hérnia hiatal através do estudo radiológico contrastado de esôfago e estômago. 03. 2020 UNIFESP Mulher, 30 anos de idade, apresenta história de dor epigástrica e queimação retroesternal, que piora após alimentação, e empachamento com determinados alimentos. Exame físico: sem alterações relevantes. Diante da principal suspeita diagnóstica, qual é o tratamento medicamentoso inicial mais adequado? A) Lansoprazol 30 mg em duas tomadas diárias por 4 semanas B) Esomeprazol 40 mg ao dia tomado durante a primeira refeição por 12 semanas C) Rabeprazol 10 mg ao dia tomado 2 horas antes da primeira refeição por 6 semanas D) Omeprazol 20 mg ao dia tomado 30 minutos antes da primeira refeição por 8 semanas E) Pantoprazol 40 mg em duas tomadas diárias junto com as refeições por 8 semanas 04. Mulher de 52 anos apresenta queimação retroesternal e regurgitação há 5 anos, inicialmente cerca de 3 vezes na semana, e há 1 ano diariamente. O quadro é desencadeado minutos após a alimentação ou quando fica “estressada” e melhora com o uso de antiácidos, os quais utiliza sob demanda desde o início dos sintomas. Relata rouquidão recorrente há mais de 10 anos. AP; tabagismo ativo (20 anos-maço). Exame físico: IMC: 30,4 kg/m2, sem demais alterações. Além de orientações dietéticas e comportamentais, a conduta inicial mais adequada é A) prescrição de inibidor de bomba de prótons; pHmetria de 24 horas. B) prescrição de inibidor de bomba de prótons; endoscopia digestiva alta. C) manometria convencional; pHmetria de 24 horas. D) manometria alta resolução; endoscopia digestiva alta. 05. 2020 HNMD Qual o padrão-ouro para o diagnóstico e quantificação do refluxo gastroesofágico? A) Esofagografia. B) Endoscopia digestiva alta. C) Manometria esofagiana. Gabriela Bordignon – UFMS CPTL (T5) Prof. Joara, GASTRO – FPM VII D) pHmetria de 24 horas. E) Ultrassonografia endoscópica. RESPOSTAS COMENTADAS - MEDCURSO 01. Paciente com quadro de pirose há meses, sintoma este que sugere fortemente doença do refluxo gastroesofágico (DRGE). A tosse crônica e a rouquidão, certamente, estão relacionadas à mesma condição – tais achados são ditos “sintomas atípicos de DRGE”. Com essa ideia em mente, vamos pensar nas alternativas. Em pacientes com forte suspeita de DRGE, deve-se, em princípio, iniciar prova terapêutica com inibidores de bomba de prótons, além de medidas comportamentais e dietéticas – a perda ponderal é importante. A pHmetria de 24h é desnecessária aqui – está indicada em pacientes com indicação cirúrgica para DRGE ou, por exemplo, naqueles cujos sintomas não respondem aos inibidores de bomba protônica (A errada). A realização de broncoscopia seria necessária, por exemplo, em tabagistas mais velhos, para investigar doenças malignas das vias aéreas (B errada). Nosso paciente não tem sinais de alarme, portanto, não necessita de endoscopia digestiva alta no momento (C errada). Resposta: D. 02. A- INCORRETA: A melhora da sintomatologia não significa resolução do quadro, pois a maioria dos pacientes responde bem inicialmente a terapia com Inibidor de Bomba de Prótons (IBP) mas retorna a sintomatologia com a suspensão do medicamento. B- INCORRETA: Paciente jovem apresentando refluxo com sintomatologia extra-esofagiana. Ainda que responda bem ao tratamento com IBP, estes pacientes necessitam manter a terapia medicamentosa pelo resto da vida, com seus riscos inerentes como por exemplo adenocarcinoma gástrico. C- CORRETA: Pacientes com sintomas extra- esofagianos já são uma boa indicação para o tratamento cirúrgico. Aliado ao fato do paciente ser jovem, onde vários trabalhos mostram benefício do tratamento cirúrgico quanto ao controle do refluxo e menos complicações em médio e longo prazo. D- INCORRETA: A presença de hérnia hiatal por si só não causa a doença do refluxo gastroesofágico Resposta: C 03. O quadro clínico é de uma paciente jovem com sintomas dispépticos (dor epigástrica, plenitude pós- prandial) e pirose, esse último tipicamente relacionado à doença do refluxo gastroesofágico. O tratamento empírico da DRGE é feito com inibidores da bomba de próton por 8 semanas, em dose plena, uma vez ao dia. Se os sintomas não melhorarem nas duas primeiras semanas, a dose deve ser dobrada. Dentre as alternativas, a única que cita corretamente essa posologia é a letra D - omeprazol, 20 mg/dia, respeitando-se o tempo de jejum adequadode pelo menos 30 minutos antes da refeição. Resposta: D. 04. Pirose e regurgitação são os dois sintomas típicos de DRGE e temos ainda outro sintoma dito como “atípico” dessa condição, a rouquidão. O fato de os sintomas melhorarem parcialmente com o uso de antiácidos corrobora para o diagnóstico, mas a persistência dos mesmos e a piora recente nos obrigam a tratar com um medicamento mais eficaz, ou seja, um inibidor da bomba de próton (ex.: omeprazol, pantoprazol, etc.). O exame inicial de escolha para qualquer paciente com DRGE é a endoscopia digestiva alta (EDA), para avaliar a presença de esofagite e de suas possíveis complicações. A indicação de EDA nesse caso torna- se ainda mais precisa, pois a paciente possui indicação para rastreio de esôfago de Barrett - idade > 50 anos, obesidade e tabagismo. Resposta: B. 05. A pHmetria de 24 horas é o exame padrão-ouro para detecção do refluxo gastroesofágico patológico! Contudo, é um exame dispendioso e desconfortável, pois o paciente deve permanecer com um cateter nasoesofágico durante 24 horas... Entretanto, o exame vem se tornando mais aceitável devido às inovações tecnológicas. Novos cateteres sem fio (wireless) permitem uma monitorização mais confortável que pode até se estender por mais de 24 horas! Os inibidores de bomba de próton devem ser descontinuados antes da realização do exame. Como a inibição da bomba de hidrogênio é irreversível, a suspensão deve ser realizada de quatro a cinco dias antes do teste, que é o tempo de vida da célula parietal.
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