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AULA 3 GESTÃO DA MUDANÇA E TRANSFORMAÇÃO ORGANIZACIONAL Profª Maura Vello 2 CONVERSA INICIAL Olá! Bem-vindo à nossa terceira aula da disciplina! Para inciarmos nossa conversa, vamos lembrar um pouquinho do que falamos até aqui. Trabalhamos com alguns conceitos teóricos sobre organizações e suas formações, para entender as motivações e necessidades que levam aos estudos desses complexos cenários e sua interação com o ambiente e as pessoas. Também vimos, em seguida, alguns conceitos de mudança e transformação organizacional e a importância quanto ao entendimento de que ela deve ser considerada uma variável constante na gestão e no planejamento das organizações. A complexidade dos ambientes, tanto internos quanto externos, em que as organizações se encontram instaladas exige adaptações e inovações constantes. Seja para sua manuntenção no mercado, criando condições de competitividade, por meio da melhoria ou da oferta de novos produtos, serviços e atendimento de qualidade, seja oferecendo um ambiente interno que proporcione aos seus colaboradores possibilidade de desenvolvimento e crescimento profissional, intelectual e pessoal, pois eles se convertem em acúmulo de conhecimentos que são transformados em aprendizagem e inteligência organizacional, assunto que ainda veremos mais adiante nesta diciplina. Para esta aula, vamos ver um pouco mais sobre como as organizações buscam se planejar e implantar processos de mudança e transformação organizacional. Para entendermos como todo esse complexo mecanismo transitório funciona, vamos tratar também dos papéis dos agentes envolvidos nos processos de mudança e a importância de seu engajamento em cada uma das suas funções num cenário de transformação organizacional. Outros elementos importantes que abordaremos nesta aula serão a cultura como forte influência em ambientes de mudança, bem como os agentes motivadores, as resistências à mudança e os desafios impostos à superação. “A arte do progresso consiste em manter a ordem durante as mudanças e promover mudanças no período de estabilidade” Alfred Whitehead (1861-1947), filósofo e matemático britânico. 3 CONTEXTUALIZANDO Na aula 2, tratamos das mudanças que foram tão bem-sucedidas em algumas organizações que, muitas vezes, colaboradores e até mesmo clientes esqueceram como as empresas e suas marcas eram no passado. Agora, vamos pensar no longo e complexo caminho percorrido para chegar a esse bem- sucedido final. Transformações organizacionais envolvem gestão, planejamento, estudo, olhar crítico e honesto para dentro e para fora da organização, bem como previsão e estratégia. Ainda, envolve correr riscos, usar-se de redimensionamento, quando necessário, e redirecionamento, se preciso. É possível planejar e fazer previsões sobre aspectos e contextos que podem e estão sobre o domínio da organização, por exemplo, níveis de investimento e escolha de mercado-alvo. Porém, também é preciso lidar com questões que não podem ser dominadas pela organização e que podem vir a afetar direta ou indiretamente suas decisões, como conjunturas econômicas e de mercado com as quais se pode trabalhar com previsões, mas não há certezas. No entanto, mudanças e transformações organizacionais envolvem, antes de qualquer coisa, engajar pessoas, pois são elas que farão com que as coisas aconteçam, em todos os níveis hierárquicos e departamentos, independentemente de seu tamanho ou atividade. Qualquer mudança ou planejamento precisa ser abraçado por todos os envolvidos ou poderá não alcançar os objetivos propostos, e até mesmo poderá falhar e não acontecer. Não são poucos os casos de planejamentos estratégicos orquestrados muitas vezes pelas diretorias e cúpulas das empresas que, quando chegam à fase de implementação, esbarram em problemas que não foram previstos, pois eles não conhecem as rotinas do dia a dia da organização, ou seja, planejar mudanças sem ouvir aqueles que as vão implementá-las já é um grande equívoco, e muito cometido no mundo corporativo. O inverso também pode acontecer. Vamos pensar como? Lembre-se de quantas vezes você já percebeu que a empresa em que trabalha precisava promover ajustes, contudo, os seus dirigentes tinham uma visão conservadora, que não pensava em mudanças. Será que nesse momento você pode estar vivendo uma situação assim? É provável que sim, pois mudanças precisam e 4 devem fazer parte do cotidiano das organizações devido à velocidade em que as coisas ocorrem atualmente no mundo. Diante dessa primeira conversa, convido você a assistir a um vídeo da empresa Natura que reflete muito bem o que estamos falando aqui. Acesse o vídeo abaixo e boa reflexão! Vídeo No vídeo “Thymus – Natura: Contexto de Mundo”, Ricardo Guimarães aborda sobre o cenário, a transição e a evolução da sociedade, das empresas e do trabalho. Disponível em: <https://youtu.be/EdPS5LjT6Ts>. TEMA 1 – FASES QUE COMPÕEM A MUDANÇA ORGANIZACIONAL Vamos trabalhar agora sob uma visão mais prática do processo de mudança. Vamos ver como ele ocorre dentro das organizações, independentemente de ser um processo planejado previamente, como vemos muitas vezes acontecer no mercado, por exemplo, em grandes fusões ou nos lançamentos de novos produtos ou marcas que são desenvolvidos por anos pelas empresas. Isso aconteceu com o Grupo Boticário, que, ao longo dos últimos anos, lançou novas marcas com apelo a diferentes tipos de públicos, como a “Quem disse, Berenice?” e a “The Beauty Box”, ampliando o alcance de público do grupo. Outros fatores, ainda, podem levar as empresas a mudarem por pressões sofridas e vindas do ambiente, como a entrada de novos concorrentes no mercado ou a adaptabilidade a momentos econômicos em resposta a questões políticas e fiscais. Outro exemplo bem claro desse último aspecto, que obriga as organizações a promoverem mudanças, já num contexto bem diferente do que ocorreu com o Grupo Boticário, é o relacionado à Política Nacional dos Resíduos Sólidos. Atualmente, em alguns setores da indústria, como as de “linha branca”, é obrigatório trazer de volta para a fábrica a sucata gerada no descarte de seus produtos pós-consumo, e dar a elas destinação adequada, inserindo os componentes do produto novamente no processo produtivo sem gerar descarte algum, ou fazendo o descarte sem gerar poluição ambiental. Essa lei fez com que as empresas precisassem lidar com um novo processo que antes não existia. Com isso, houve a necessidade de mudança e transformação no modo de produção delas, e de repensar o processo pós- produção, surgindo nessas organizações as áreas de logística reversa. Além 5 disso, elas buscaram novas tecnologias que permitam o reaproveitamento dos componentes dos produtos, gerando, assim, o menor volume possível de descarte, ou seja, menos lixo e todo um processo de logística para trazer de volta à indústria os produtos descartados pós-consumo. Esse foi apenas um exemplo, mas você consegue imaginar a complexidade do processo dentro das organizações para se adequar a essas exigências? Obviamente, houve um tempo para que todas essas adequações fossem feitas, e elas ainda estão acontecendo dentro das empresas. À medida que se aprimoram, essas organizações evoluem, modificam-se e transitam de um modo de fazer as coisas a uma novo modo melhorado de fazê-las, o que chamamos de um novo paradigma. Temos então, um contexto, uma fase transitória e um novo modelo organizacional ou de processos. Parece tão simplista falando assim, não é mesmo? Vejamos no esquema a seguir de forma mais clara. Figura 1 – O processo de transição das mudanças organizacionais Fonte: A autora. Na Figura 1, o importante é perceber que há um processo transitório que envolve a organizaçãocomo um todo. Exatamente nessa transição é que a gestão do processo de mudanças se torna mais delicada. O que antecede esse processo envolve mais planejamento, pois as coisas ainda estão em fase de estudo e não de implantação. Nessa fase de planejamento deve haver muito cuidado, e o importante é estar munido do maior número de informações e variáveis possíveis que venham a afetar o processo de mudança. Porém, a implantação do que foi planejado, precisa ser bem executada para que haja sucesso no processo como um todo. 6 É exatamente na fase de execução que a organização está exposta as variáveis sobre as quais não têm domínio, ainda que busque trabalhar com previsões. Kotter (2017) apresenta um direcionamento de oito etapas no processo de mudança, que veremos a seguir. Quadro 1 – O Processo de mudança em oito etapas, de Kotler Fonte: Adaptado de Kotler, 2017, p. 21. 1.ª etapa – ESTABELECIMENTO DE UM SENSO DE URGÊNCIA Exame do mercado e dos concorrentes. Identificação e discussão das crises potenciais ou oportunidades fundamentais. 2.ª etapa – CRIAÇÃO DE UMA COALISÃO ADMINISTRATIVA Formação de um grupo com autoridade suficiente para liderar a mudança. Motivação do grupo para que trabalhe com o time. 3.ª etapa – DESENVOLVIMENTO DE UMA VISÃO ESTRATÉGICA Criação de uma visão para direcionar o esforço de mudança. Desenvolvimento de estratégias para concretizar essa visão. 4.ª etapa – COMUNICAÇÃO DA VISÃO DA MUDANÇA Uso de cada veículo possível para comunicar constantemente e de forma clara a nova visão e estratégias. Reorganização e remodelação do comportamento esperado dos colaboradores. 5.ª etapa – INVESTIR NO EMPODERAMENTO DOS COLABORADORES Eliminação de obstáculos. Mudança de sistemas ou estruturas que minem a visão de mudança. Encorajamento para correr riscos, promover ideias e ações inovadoras. 6.ª etapa – REALIZAÇÃO DE CONQUISTAS DE CURTO PRAZO Planejamento de melhorias visíveis no desempenho, ou “conquistas”. Criação e percepção dessas conquistas. Visível reconhecimento e recompensa dos que tornaram as conquistas possíveis. 7.ª etapa – CONSOLIDAÇÃO DE GANHOS E PRODUÇÃO DE MAIS MUDANÇAS Uso de maior credibilidade para mudar sistemas, estruturas e políticas incompatíveis e que não se adequam à visão de transformação. Contratação, promoção e desenvolvimento de pessoal para implementação da mudança. Revigoramento do processo com novos projetos, temas e agentes de mudança. 8.ª etapa – ESTABELECIMENTO DE NOVOS MÉTODOS NA CULTURA Articulação das conexões entre os novos comportamentos e o sucesso organizacional. Desenvolvimento de meios para garantir a continuidade dos processos implantados e constantes revisões para ajustes, se necessários. 7 O autor ainda contribui orientando que as primeiras quatro etapas promovem o descongelamento do status quo, ou seja, desacomodam as coisas. Por isso, mudanças são tão difíceis e provocam tanto desconforto aos colaboradores nas organizações. Depois vem a fase intermediária, que corresponde às etapas cinco, seis e sete, em que ocorre a implantação de novas práticas e processos. São fases trabalhosas, mas nas quais começam a surgir as percepções de ganhos e melhorias, criando credibilidade para dar andamento às mudanças. Por fim, vem a fase final de consolidação, na qual acontecerá a sedimentação de novos comportamentos e a incorporação à cultura, surgindo assim um novo modelo corporativo. É importante perceber que o elemento fundamental em qualquer uma das fases, envolvido em todo o processo de mudança, e que fará com que ele ocorra e alcance seus objetivos é o capital humano. São as pessoas, seja em cargos de gestão, seja envolvidas no planejamento e desenvolvimento de projetos ou na execução e implantação dos processos que promovem a transformação organizacional. TEMA 2 – ELEMENTOS MOTIVADORES NO PROCESSO DE MUDANÇA E TRANSFORMAÇÃO Falamos até aqui sobre fases e etapas nas quais as organizações transitam quando se encontram em processos de mudanças. Agora, vamos ampliar um pouco esse horizonte olhando para os elementos que pressionam as organizações e que as motivam a buscar mudanças. Nas aulas anteriores, já tratamos de algumas pressões sofridas pelas empresas e que as impulsionam na direção da transformação, e comentamos também que elas podem ocorrer de forma planejada ou em resposta reativa a algumas situações. Existe uma infinidade de combinações e variáveis que podem motivar as organizações a mudar, até mesmo porque cada uma delas terá necessidades e razões únicas. Porém, aqui, vamos tratar mais diretamente de alguns elementos que, combinados, podem precipitar os processos de mudanças e transformação nas organizações. 8 Para Pettigrew (1987), essas variáveis que levam as organizações aos processos de mudanças podem ser divididas em externas e internas. Veremos a seguir alguns desses elementos mais presentes nas organizações em transformação. 2.1 Elementos motivadores externos às organizações Obviamente que, em um ambiente cada vez mais fluído, complexo e interconectado em que estamos inseridos dentro e fora das organizações, não é difícil imaginar que as próprias empresas precisam se tornar adaptáveis e ágeis às intempéries desse cenário. Vamos pensar um pouco. Como pessoas, precisamos rapidamente nos adaptar a mudanças ambientais das mais variadas, desde as mais simples, por exemplo, as roupas que usamos, que se tornam cada vez mais variadas em termos de conforto, tecidos, modelagem, até as mais complexas tecnologias, sejam nossos objetos pessoais, como um celular, aos aplicativos usados, inclusive no ambiente de trabalho. Imagine, então, a projeção desse contexto para as organizações. Quão complexo se transforma para as empresas essa conexão e interação com todo esse enredamento com o ambiente e seus desdobramentos. Nesse sentido, vejamos alguns desses elementos externos motivadores ou impulsionadores dos processos de mudanças nas organizações. Expectativas e alterações de hábitos de consumo: as tendências de mercado se modificam e as organizações precisam ser ágeis e estar atentas a essas mudanças para se adaptar e acompanhar as expectativas e necessidades de seus clientes. Alterações legais e fiscais: são frequentes e precisam ser respeitadas pelas organizações. Já falamos sobre algumas anteriormente, como a recente mudança na Legislação Trabalhista brasileira e na responsabilidade de alguns setores sobre a geração de resíduos com a Política Nacional de Resíduos Sólidos. Impactos econômicos: sejam eles positivos ou negativos, motivam as empresas na direção da mudança. Pensemos juntos: se há um momento de crise, as organizações devem se adaptar e se reinventar para enfrentar dias difíceis, como os que temos vivido no Brasil. Porém, se o momento é de expansão econômica, também há a necessidade de adaptar-se para 9 atender a um mercado em pleno desenvolvimento, como ocorreu com a China e com a retomada do crescimento econômico nos Estados Unidos. Derrubada de fronteiras: com o processo de globalização, há uma grande aproximação entre os mercados internacionais, o que torna a concorrência e a oferta de produtos cada vez mais forte. Isso aumenta a exigência dos clientes e também os esforços das empresas para se manter no mercado. Existem ainda muitos outros elementos externos que podem pressionar as organizações a promover mudanças. Tratamos aqui de alguns dos mais vistos e comentados na maioria das organizações e pelos autores que discutem tais conceitos. 2.2 Elementos motivadores internos às organizações Além dos fatores externos que pressionam as empresas, dando direcionamento a novos rumos, ainda precisamos considerar aqueles vindos da própria organização, necessidadesinternas que também a impulsionam e motivaram a mudança. Vejamos quais e de que forma influenciam as organizações. Alteração estrutural: quando ocorrem modificações estruturais, seja em processos e sistemas, ou, por exemplo, em novas divisões de projetos, a mudança é inevitável. Surgem novas necessidades, adaptações e adequações físicas e também de preparação das pessoas, com a provável possibilidade de treinamento e desenvolvimento para novas tarefas e cargos, independentemente de suas áreas. Novos dirigentes: a entrada de um novo CEO e de novos diretores, ou ainda, de novos sócios e acionistas numa organização promove, na grande maioria das vezes, uma reorientação e mudança na forma de se fazer as coisas. Ainda, mudanças vindas da cúpula para a organização como um todo afetam a todos. Aquisições e fusões: quando uma organização compra outra, ou ainda, quando duas marcas decidem fazer uma fusão, obviamente as mudanças fazem parte do contexto e do processo como um todo. Não há como se fazer um dos dois processos sem passar por grandes mudanças que afetaram as organizações envolvidas, suas marcas, colaboradores, suas culturas e o mercado. 10 Obsolescência tecnológica: a desatualização tecnológica diante do cenário atual, de alta rotatividade de inovações tecnológicas, de novas versões de programas que já são usadas ao serem lançadas e que são necessárias para o bom andamento das empresas, faz com que seja contínua a necessidade de atualização. Nesse aspecto, as mudanças são uma constante já integrada aos processos de trabalho. Chiavenato (2008, p. 366) comenta que “a mudança organizacional é muito importante para ser deixada ao acaso ou ao sabor das circunstâncias, do mercado ou da concorrência”. O recado do autor é claro no que tange à importância que a gestão das mudanças tem dentro das organizações. Os elementos motivadores podem promover as pressões, sejam eles internos ou externos, mas cabe à organização perceber os sinais e dar direcionamento às mudanças dentro dos seus interesses, observando as expectativas dos seus públicos internos e externos. TEMA 3 – AS PESSOAS, A CULTURA ORGANIZACIONAL E SUA INFLUÊNCIA EM AMBIENTE DE MUDANÇA Já tratamos anteriormente de forma rápida a definição de cultura organizacional, que é construída a partir do desenvolvimento de crenças, valores, condutas éticas e morais compartilhadas, respeitadas e praticadas pelos colaboradores de todos os níveis dentro de uma organização. Assim, o ambiente organizacional obviamente está impregnado desses aspectos comportamentais que refletem sua identidade cultural, desenvolvida pelas pessoas que constroem o dia a dia da empresa. Chiavenato contribui com essa visão comentando que: Para mudar, a empresa precisa transformar-se em um verdadeiro ambiente propício às mudanças, onde as pessoas se sintam encorajadas para inovação e criatividade. E um ambiente de mudança, por incrível que pareça exige um minucioso planejamento. E esse planejamento precisa ser feito em equipe, por todas as gerências, e se possível, envolvendo todas as pessoas. Tudo precisa ser bem transmitido e comunicado intensivamente às pessoas para que elas se comportem como agentes ativos e pró-ativos e não meramente passivos da mudança que se pretende impulsionar. As pessoas precisam ser atores e protagonistas e não simplesmente espectadores dos esforços de mudança organizacional. (Chiavenato, 2008, p. 366). 11 Saindo um pouco da teoria e trazendo os conceitos para a vida prática, vamos refletir sobre aspectos simples do cotidiano que precisam ser observados pelas organizações em processos de mudança. Primeiramente, não existem transformações organizacionais que não afetem diretamente as pessoas, pois, como acabamos de ver, são elas que promovem as mudanças. Em segundo lugar, a partir das ações de transformação, é inevitável o surgimento de um novo desenho comportamental. A organização se modifica, as pessoas também mudam a forma de ver a empresa, de trabalhar, ou seja, nada mais será como foi antes da mudança, e, desses processos, surge um novo modelo cultural. Um exemplo que pode refletir bem o que estamos vendo aqui, e que aconteceu recentemente foi a aquisição da GVT pela Telefônica-Vivo no ano de 2015. Obviamente que a fusão dessas duas grandes marcas gerou uma profunda e significativa transformação para ambas as marcas e para o mercado. Tais mudanças foram estruturais, de processos, sistemas, pessoas, culturas, gestão, dirigentes, entre tantas outras. Ocorreu todo um planejamento durante meses, envolvendo as áreas e pessoas das organizações para que a junção das duas empresas acontecesse. Assim, a partir de toda uma etapa de transição, as marcas GVT e Telefônica foram deixando de existir, dando lugar à nova organização que surge, agora sob a marca conhecida no mercado como “Vivo Tudo”. Pode-se dizer que, durante todo esse período transitório, ocorreram processos de perdas e ganhos, programas de demissões voluntárias e reestruturação, mudanças tecnológicas significativas, adaptações e transformações comportamentais, escolhas difíceis do que seria ou não mantido em termos de estrutura, rotinas e processos e muito mais. Tudo isso foi necessário para fazer surgir de toda essa movimentação uma nova formação organizacional, outra cultura, por meio da construção de novos valores, hábitos e crenças compartilhadas por todos e para todos, refletindo também uma nova identidade da organização para o mercado. Todo esse processo ainda permanece e deve ser contínuo, pois o impacto de uma mudança tão grande como essa se reverbera por muitos anos dentro e fora da organização, fazendo com que haja a necessidade de cuidados e ajustes constantes. 12 Um dos aspectos mais marcantes dessa fusão foi o fato de que a gestão da empresa comprada, a GVT, era muito mais ágil e eficiente que a da empresa compradora, Telefônica; assim, o modelo de gestão que prevaleceu foi o da GVT. Uma das primeiras providências adotadas pelo então CEO da GVT quando assumiu o desafio de fazer a transição, foi o de envolver a área de gestão de pessoas como parte fundamental do processo e promover mais autonomia dentro da organização para criar agilidade, decentralizando as decisões. Isso demonstra que a visão de que são as pessoas que fazem as coisas acontecerem dentro das organizações para promover o envolvimento, o empoderamento e autonomia tem sido o caminho adotado pelos gestores no reconhecimento dos valores das pessoas para as empresas. Leitura complementar Leia o artigo “Como a Telefônica mudou para que tudo ficasse como está”, que trata um pouco do processo de fusão da GVT com a Telefônica e das principais ações adotadas. Disponível em: <https://exame.abril.com.br/revista- exame/como-a-telefonica-mudou-para-que-tudo-ficasse-como-esta/>. Também se faz relevante lembrar que a cultura dentro das empresas pode ser um elemento o qual pode promover um entrave em momentos de mudança. Robbins (2004, p. 242) comenta que, apesar da cultura na maioria das vezes promover o comprometimento das pessoas com as organizações e aumentar a consistência de comportamentos dos grupos dentro delas, não devemos ignorar seus aspectos disfuncionais, quando os valores compartilhados não estão em conformidade com os interesses da empresa, ou ainda, em necessidade de implantação de rápidos processos de mudança, em que a cultura não acompanha e permite que haja o dinamismo esperado, tornando-se um problema e estagnando processos importantes na transformação organizacional. TEMA 4 – FATORES QUE PODEM PROMOVER A RESISTÊNCIA A MUDANÇAS Vamos tratar agora dos fatores que podem gerar resistência aos momentos de mudança nas organizações. Nesse momento, observe se, nos últimos tempos, seja na organização em que você trabalha atualmente ou nas últimas duasem que esteve, houve ocasiões em que você participou e presenciou mudanças. 13 Provavelmente você se recordará de algumas. Os contextos podem mudar em função das necessidades e da extensão das mudanças, bem como do tamanho e das características próprias das empresas. Porém, um aspecto é comum a todas e já faz parte de suas rotinas, que são as transformações e melhorias constantes. Nessa caminhada organizacional, os desafios são enormes. Kotter (2017) contribui afirmando que “todos os métodos adotados nas transformações organizacionais bem-sucedidas baseiam-se em um critério essencial: o de que a mudança fundamental não acontecerá facilmente por uma longa lista de razões”. Na lista das diversas razões que podem dificultar o processo de mudança, podemos ver que elas poderão variar dependendo do tipo de estrutura organizacional e até mesmo da reestruturação proposta. O autor comenta algumas delas, por exemplo, custos altos, produtos que não atendem devidamente ao mercado, culturas e políticas enraizadas que podem estagnar processos de mudança, baixo nível de confiança no trabalho em equipe, despreparo de gestores para comandar os processos, resistência à mudança pelo medo do desconhecido e disputas de poder. Segundo Robbins (2004, p. 262), as resistências à mudança podem ser geradas a partir do grupo como um todo, sendo então consideradas organizacionais, ou ainda, de forma individual, sendo consideradas resistências pessoais, sob o ponto de vista das inseguranças geradas diretamente no indivíduo. Vejamos agora, de forma mais clara, quais são esses fatores. Quadro 2 – Fatores de resistência à mudança Individuais Organizacionais Hábito – A regularidade do que se faz diariamente. Representa a resistência à mudança desse status quo. Inércia estrutural – Imobilismo organizacional, principalmente nas grandes organizações em que há menor agilidade para as mudanças. Segurança – A necessidade que as pessoas têm de se sentirem seguras nos seus empregos. Foco limitado para mudança – Mudanças que são feitas parcialmente e não são comunicadas de forma clara para toda a empresa. Processo seletivo de informações – Indica a resistência a orientações novas que modifiquem o modo atual de executar as tarefas. Inércia do grupo – Resistência motivada pelo grupo ou por normas organizacionais desalinhadas às mudanças. Medo do desconhecido – A implantação de novos processos ou tecnologias pode gerar insegurança e sensação de incapacidade. Ameaças a especialização – Resistência aos processos de terceirização de áreas especializadas, como as áreas de TI. Fatores econômicos e financeiros – Relacionados a mudanças que reduzam a produtividade ou alterem políticas de remuneração. Ameaças às relações de poder – Reestruturação de dirigentes, introdução de processos decisórios participativos. 14 Fonte: Adaptado de Robbins, 2014. Robbins (2004) ainda afirma que “nem sempre a resistência aparece de forma padronizada. Ela pode ser aberta, implícita, imediata, ou protelada”. Identificar o tipo de resistência que se enfrenta nos momentos de mudança é fundamental para dar direcionamento e administrar tais barreiras, ou pelo menos entender suas causas. Esses são apenas alguns dos fatores que podem dificultar processos de mudança e transformação organizacional. Geralmente surgem em variadas combinações nos processos de transformação, e não é tarefa fácil para as empresas identificá-los de forma clara para, então, superá-los. TEMA 5 – O DESAFIO DE SUPERAR AS RESISTÊNCIAS E O PAPEL DA GESTÃO DE PESSOAS NOS MOMENTOS DE MUDANÇAS Falamos anteriormente de alguns fatores de resistência com os quais as organizações precisam lidar quando se encontram em processos transitórios de mudança. Muitas planejam cuidadosamente esse momento, revisam processos, avaliam riscos. No entanto, também é preciso prever as resistências que poderão ser enfrentadas e como superá-las. Mudanças sem planejamento prévio tendem ao fracasso. Da mesma forma, se não forem bem monitoradas, podem falhar na implementação, e é justamente nesse processo transitório que as resistências se tornam mais perceptíveis e precisam ser tratadas. Chiavenato (2008, p. 294) comenta que “as pessoas podem aceitar as mudanças de formas diferentes.” Elas podem ir do extremo de aceitar positivamente as mudanças e adotar uma postura proativa de engajamento, tomando iniciativas para que as mudanças aconteçam, ou ainda, simplesmente se adaptarem aceitando as novas condições propostas, também passando a fazer parte do processo de mudança por meio de estímulos vindos da organização. Outra possibilidade é a de permanecerem alheias ou então se posicionarem de forma totalmente contrária às mudanças. Vejamos, a seguir, de forma mais clara. 15 Figura 2 – Possíveis tipos de aceitação de mudança organizacional Fonte: Adaptado de Chiavenato, 2008, p. 294. Assim, para gestores de todas as áreas em conjunto com a área de gestão de pessoas, identificar os diferentes estágios de resistência comportamental auxilia nas tomadas de decisão gerencial para mitigação dos processos de resistência em diferentes níveis, com também diferentes tipos de ações a serem adotadas. Borges e Marques (2011, p. 98) comentam que “a mudança pode ser um sucesso ou um problema, dependendo da habilidade com a qual foi gerenciada para minimizar as resistências”. Essa habilidade gerencial normalmente envolverá um esforço conjunto tanto dos gestores de áreas, em perceber e moderar os problemas encontrados nas suas equipes, quanto da direção da empresa, em apoiar o processo e buscar trabalhar em conjunto com a gestão de pessoas para promover ações diferenciadas que atendam às diferentes necessidades para superar as resistências. Robbins (2004, p. 264) esclarece que, embora “inúmeras forças alimentem a resistência às mudanças, existem ações das quais os agentes de mudança podem lançar mão para minimizar os efeitos por ela gerados”. Vamos falar sobre algumas dessas ações adotas pelas organizações para superar as resistências à mudança comentadas pelo autor. 16 Quadro 3 – Ações para superação da resistência a mudanças Fonte: Adaptado de Robbins, 2004, p. 264. Se observarmos as ações anteriormente mencionadas pelo autor, podemos concluir que, na sua grande maioria, é preciso sincronismo entre áreas da organização e a gestão de pessoas, colocando a área em posição estratégica para que as resistências sejam vencidas e as mudanças implementadas de forma adequada, sendo monitoras e mantidas. Chiavenato (2014) comenta que a gestão de pessoas nas organizações sofre uma evolução histórica e passa a ter uma função estratégica. Comunicação eficaz – Uma das falhas mais comuns é a de comunicação. Se ela for efetiva e clara, ajudando as pessoas a compreender os motivos e objetivos da mudança, bem como qual a sua contribuição efetiva, minimizará as resistências. Participação – As pessoas, quando envolvidas em decisões dos processos de mudanças, frequentemente se sentem comprometidas com o processo de mudança e seus resultados. Facilitação e apoio – Nesse aspecto, os gestores da mudança, de áreas e de gestão de pessoas podem reduzir as resistências apresentando suporte tanto no tocante às questões de conforto emocional, demonstrando às pessoas que o processo não as coloca em risco, como promovendo o desenvolvimento de habilidades e treinamentos técnicos necessários para que a mudança aconteça. Criação de uma organização que aprende – A resistência à mudança é menor em organizações intencionalmente adaptáveis e dinâmicas no seu dia a dia, ou seja, a mudança faz parte do seu cotidiano de forma contínua. Esse tipo de estrutura é denominado “organização que aprende”.17 Quadro 4 – Os desdobramentos históricos da gestão de pessoas Fonte: Chiavenato, 2014, p. 86. Cesar et al. (2006) considera que essa visão estratégica da área de gestão de pessoas é fundamental para que a organização possa fazer diagnósticos adequados de desempenhos, habilidades e competências, e relacionar esses aspectos a mudanças em curso, aproveitando bem todos os potenciais já disponíveis e buscando desenvolver habilidades e competências ainda necessárias. Assim, além de alocar melhor as capacidades já desenvolvidas, será possível identificar necessidades de desenvolvimento e treinamento dos colaboradores, minimizando resistências e promovendo o aprendizado e a inteligência organizacional. Além da superação das resistências à mudança, o momento de transição pode oferecer a possiblidade de realocação de competências e de desenvolvimento de talentos dentro da organização. FINALIZANDO Bem, vamos relembrar agora de forma resumida o aprendizado desta aula. Trabalhamos aqui com as fases que compõem a transição a que as organizações estão expostas nos processos de mudanças. São momentos complexos e que precisam de planejamento prévio, monitoramento e envolvimento da organização como um todo para que cheguem aos resultados esperados. 18 Vimos também que existe uma variedade de elementos que podem motivar ou promover resistências aos processos de mudanças nas organizações, além do fator fundamental de que as mudanças são feitas pelas pessoas e precisam ser orientadas para não esbarrem em questões culturais, de forma a criar barreiras que impeçam as transformações. Por fim, trabalhamos conceitos relacionados à importância da integração entre as áreas da empresa e do papel estratégico da gestão de pessoas no desafio de vencer as resistências organizacionais e individuais que as organizações encontram em ambientes de mudanças. 19 REFERÊNCIAS BORGES, R. S. G.; MARQUES, A. L. Gestão da mudança: uma alternativa para a avaliação do impacto da mudança organizacional. Faces: Revista de Administração, Belo Horizonte, v. 10, p. 95-113, 2011. CESAR, A. M. R. V. C.; CODA, R.; GARCIA, M. N. Um Novo RH? Avaliando a atuação e o papel da área de RH em organizações brasileiras. Facef Pesquisa, Franca, v. 9, n. 2, p. 151-165, 2006. Disponível em: <http://periodicos.unifacef. com.br/index.php/facefpesquisa/article/view/72/138>. Acesso em: 28 fev. 2018. CHIAVENATO, I. Os novos paradigmas: como as mudanças estão mexendo com as empresas. 5. ed. rev. atual. Barueri: Manole, 2008. ______. Comportamento organizacional: a dinâmica do sucesso das organizações. 3. ed. Barueri: Manole, 2014. FILGUEIRAS, M. L. Como a Telefônica mudou para que tudo ficasse como está. Exame, São Paulo, 17 ago. 2016. Disponível em: <https://exame.abril.com.br/revista-exame/como-a-telefonica-mudou-para-que- tudo-ficasse-como-esta/>. Acesso em: 28 fev. 2018. KOTTER, J. Liderando mudanças: transformando empresas com a força das emoções. São Paulo: Eselvier, 2017. GUIMARÃES, R. Thymus – Natura: Contexto de Mundo. Disponível em: <https://youtu.be/EdPS5LjT6Ts>. Acesso em: 28 fev. 2018. PETTIGREW, A. M. Context and action in the transformation of the firm. Journal of Management Studies, p. 649-670, nov. 1987. ROBBINS, S. P. Fundamentos do comportamento organizacional. 7. Ed. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2004. WHITEHEAD, A., A arte do progresso. Disponível em: <http://www.gestaohoje.com.br/blog_gh/wp-content/uploads/2016/07/TGI.Frase- da-Semana.2016-028-11-07-2016-Aprovada.png>. Acesso em: 28 fev. 2018.
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