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Trabalho Final - Economia Política da Regulação e da Concorrência - Lucas Ribeiro

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Universidade Federal do Rio de Janeiro
Programa de Pós-Graduação em Políticas Públicas, Estratégias e Desenvolvimento (PPED/IE/UFRJ) - Mestrado
Curso de Economia Política da Regulação e da Concorrência
LUCAS GUIMARÃES RIBEIRO
ATIVIDADE: Trabalho Final de Curso
......................................................................................................................................
1. Qual é a relação entre o Estado e o Mercado? 
Adam Smith se opunha à ideia dos pensadores econômicos que o antecederam de que o Estado seria o salvador dos impactos negativos do interesse pessoal no Mercado. Pelo contrário, o autor sugere que a força do interesse pessoal é suficientemente poderosa e positiva para superar algum grau de inabilidade gerencial de políticos. 
Em sua visão, o Mercado seria bem sucedido ao viabilizar o crescimento da riqueza nacional e a interferência do governo nesse processo tenderia a ser mais prejudicial do que útil. 
Nesse contexto, para o autor só haveria três papéis a serem cumpridos pelo Estado: (i) proteger a sociedade da violência e invasão de outras sociedades independentes; (ii) proteger os membros da sociedade da injustiça e opressão dos demais membros, administrando a justiça; e (iii) o dever de construir e manter algumas obras e instituições públicas voltadas ao interesse de um grande número de indivíduos. 
Ocorre que essas obras e instituições públicas podem ser entendidas em um sentido muito amplo, de modo que há uma série de atividades admitidas por Smith como papel do Estado necessário ao bem comum e funcionamento do mercado. Entrariam aí, por exemplo, a proteção de indústrias fundamentais à defesa nacional, a regulamentação sobre a qualidade de determinados produtos e a taxação para desincentivar o uso excessivo de determinados produtos danosos à saúde da população, como bebidas alcoólicas. 
Nesse sentido, é possível dizer que Smith compreendia perfeitamente a relação entre governo e economia, dedicando sua análise na verdade à identificação das políticas adequadas que, trabalhando em sintonia com o interesse pessoal que ele acreditava governar o comportamento no campo do mercado, auxiliariam no crescimento da riqueza nacional. 
Em uma construção sobre esse pensamento clássico, Frank Knight, em The Ethics of Competition, aponta que a principal função do governo (Estado) no mundo moderno é fornecer e garantir uma estrutura de regras para a garantir liberdade e as condições necessárias ao exercício da liberdade na vida econômica. 
Em outras palavras, o Estado atua para constituir a estrutura sobre a qual o Mercado se desenvolve. Assim, a política econômica do Estado tem o papel de estruturar o processo decisório inerente ao Mercado, garantindo a liberdade de escolha dos agentes e resolvendo problemas econômicos básicos. O escopo da participação na política inclui a interação dos participantes do processo decisório, ou, por assim dizer, do Mercado. 
Consequentemente, a economia de mercado em seus diferentes graus e formas pode ser entendida como uma criatura do Estado soberano e uma expressão de sua política.
Autores da Nova Economia Institucional argumentariam que a regulação estatal é justamente um instrumento para facilitar o funcionamento da economia de mercado, através da melhor determinação dos direitos de propriedade e da redução dos custos de transação. 
Sendo assim, a regulamentação econômica – que nada mais é do que a intervenção do Estado no Mercado - tem sido justificada para tornar as instituições mais funcionais e os direitos de propriedade mais executáveis, ampliando o espaço para atuação empresarial. 
Referências bibliográficas utilizadas:
· KNIGHT, Frank Hyneman. The ethics of competition. Routledge, 2017.
· LIMA, Najara. Concorrência: Intervenção do Estado como base de efetividade atrelada à justiça. Disponível em: https://najaralima.jusbrasil.com.br/artigos/398429088/concorrencia-intervencao-do-estado-como-base-de-efetividade-atrelada-a-justica Acesso: 10/03/2022
· MEDEMA, Steven G. – The Hesitant Hand, Taming Self-Interest in the History of Economic Ideas, Princeton University Press, 2009, chapter one. 
· PRADO, Luiz Carlos Delorme. Relações Entre Estado e Mercado: Reformas e Agências Reguladoras no Brasil, 1991-2013. In: Como vai o Brasil? Earp, F. S.; Bastian, E. F.; Modenesi, A.M. (org.). Imã Editorial, 2014. 
· SAMUELS, Warren J. – Essays in the Economic Role of the Government, McMillan, 1992.
2. O que justifica a intervenção do Estado para promover a concorrência? 
Segundo Patrick Aspers, mercados são estruturas sociais para a troca de direitos na qual ofertas são avaliadas, precificadas e competem umas com as outras. Para funcionarem, requerem um entendimento compartilhado de um produto, uma cultura comum como regra de comportamento e um acordo sobre o valor econômico de uma oferta. Na linha da lição de Adam Smith, seria através da mediação desse mercado livre, e não do Estado, que a busca dos interesses pessoais mediante a concorrência levaria ao maior bem-estar possível à sociedade como um todo. A intervenção do governo tenderia a causar uma alocação ineficiente de recursos e prejudicar esta concorrência. 
Novos pensadores econômicos, no entanto, desafiaram a postulação de Smith, demonstrando que o Estado deve, sim, intervir em nome da sociedade quando o mercado falha. E a ideia de competição perfeita no mercado é comumente irrealista. Em um mercado livre a concorrência pode ser prejudicada, por exemplo, quando firmas adquirem poder de monopólio, o que viabiliza que estabeleçam preços maiores aos consumidores. Nesse contexto, a regulação econômica do monopólio, através do Estado, é justificada ao levar a menores preços e maior eficiência econômica. Trata-se de um caso no qual a existência do monopólio, por definição, impossibilita a existência da concorrência.
Em situação com efeitos similares, empresas podem se unir formal ou informalmente para aumentar seu poder e controle em determinado setor. Esse movimento, denominado truste, pode ser combatido através do Estado via a implementação de uma legislação contrária a fatores que possam prejudicar a livre concorrência. Trata-se de um movimento de defesa da concorrência, sempre combatendo assimetrias e o poder exagerado de uma ou mais organizações empresariais. 
A intervenção do Estado, assim, justifica-se justamente ao garantir a liberdade de concorrência, de modo a evitar falhas de mercado que prejudiquem a premissa de melhor alocação de recursos e bem-estar coletivo possível à sociedade. A liberdade de concorrência é importante ao desenvolvimento econômico e social e a defesa estatal desse princípio, nesse sentido, equilibra a liberdade econômica para garantir o bem comum.
Referências bibliográficas utilizadas:
· STIGLER, George T. - “Perfect Competition, Historically Contemplated”, The Journal of Political Economy, Vol. 65, No. 1, (Feb., 1957), pp. 1-17
· SIDAK, Gregory & Teece, David J.- Dynamic Competition and Antitrust Law, Journal of Competition Law & Economics, 5(4), 581–631, November 2009
· PETTINGER, T. “Should the government intervene in the economy?”, Economics Help, https://www.economicshelp.org/blog/5735/economics/should-the-government-intervene-in-the-economy/. 
3. Quais são os efeitos das concentrações econômicas sobre o Bem-Estar dos Consumidores? 
A maior parte dos regimes jurídicos vigentes define objetivos econômicos e sociais para a promoção da eficiência econômica por maio da competição e o bem estar dos consumidores (Baker). Neste sentido, ordenamento jurídico brasileiro explicitamente incluiu a defesa dos consumidores como um dos ditames de orientação da ordem econômica e do Sistema Brasileiro de Defesa da Concorrência(Lei 12.529/2011, art. 1º, art. 45, V, bem como a Constituição Federal, art. 170, V). Assim sendo, cabe às entidades formadoras do Sistema Brasileiro de Defesa da Concorrência atuar de forma preventiva, repressiva e educativa, em prol do mercado, dos consumidores e da economia nacional.
Pfeiffer vai adiante ao afirmar que éamplamente comprovado na experiência internacional e brasileira que a proteção do bem-estar do consumidor é um dos objetivos da política de defesa da concorrência, ainda que indiretamente. Esta relação, para o pesquisador, se dá de forma indireta pois apesar de a relação de consumo não ser diretamente afetada pela política antitruste, ela é automaticamente e concretamente beneficiada por seus efeitos. 
Portanto, a maior preocupação com o monopólio e tipos semelhantes de concentração, segundo Viscusi, não é, necessariamente, o tamanho ou grau de concentração dos agentes, mas sim, a sua capacidade e atuação no controle sobre o preço sobre um produto, em especial, quando há perdas de eficiência econômica para a sociedade, ou prejuízo na qualidade e a diversidade do produto.
Portanto, cabe às autoridades antitruste averiguar se, nos casos concretos, a sociedade poderia estar em melhor situação se fossem impostas limitações à operação de um monopólio ou de um tipo similar de indústria concentrada. Neste sentido, Anders explica que a política de defesa da concorrência procura viabilizar a possibilidade de escolha, pelo consumidor, entre fornecedores de serviços e produtos sujeitos a regras que garantam que estes se comportem de forma justa, de forma a evitar a dominação indevida, de forma a verificar se uma determinada operação induzirá o desenvolvimento econômico e o fortalecimento da competitividade ou causará prejuízos à concorrência e à coletividade .
De acordo com o próprio CADE (2016) não é possível definir, a priori, se a concentração será benéfica ou prejudicial, sendo necessária a análise específica caso a caso, com a ponderação das eficiências específicas da operação vis-à-vis seus efeitos negativos derivados de uma maior probabilidade do exercício do poder de mercado.
O desafio, portanto, se dá em diferenciar comportamentos de concentração capazes de distorcer o mercado e excluir concorrência e atos de competição legítimos, por méritos. Neste sentido, Vicker explica que, diferentemente do que acontece o regime estadunidense, a melhor a jurisprudência européia em materias antitruste já consolidaram que empresas dominantes: (i) tem uma responsabilidade especial de não permitir que sua conduta prejudique uma concorrência genuína e não distorcida; (ii) não podem eliminar um concorrente ou fortalecer sua posição ao"recorrer a outros meios que não aqueles baseados na competição pelo mérito"; e (iii) atuam em abuso quando “recorrem a métodos diferentes daqueles que condicionam a concorrência normal". 
É possível que os benefícios da concentração sejam superiores aos prejuízos da eliminação da concorrência – assim, a operação não diminuirá o bem-estar do consumidor, tendo em vista que parte relevante dos benefícios será transferida aos consumidores. Por exemplo, se os custos fixos de entrada forem maiores em relação ao tamanho do mercado, a adição de concorrentes pode reduzir o bem-estar dos consumidores. Para Baker, esse resultado justificaria uma possível eficiência na concentração de uma indústria com altos custos fixos e baixos custos marginais. 
Nesta hipótese, autoridades antitruste poderiam aprovar o ato de concentração sem restrições. O mesmo poderá acontecer caso o CADE identifique que, mesmo que os benefícios não superem os prejuízos à eliminação da concorrência, a imposição de restrições restabelecerá o bem-estar dos consumidores e a eficiência econômica. 
Assim, é possível que sejam impostas medidas restritivas, que podem tanto ser estruturais como comportamentais. Medidas estruturais eliminando a necessidade de controles futuros a partir do reestabelecimento da dinâmica concorrência. Por outro lado, as medidas comportamentais visam a restabelecer a dinâmica concorrencial nos mercados relevantes definidos com base em intervenções e compromissos assumidos pelas partes envolvidas na operação em não abusar de certos ativos disponíveis. 
Contudo, quando o dano causado pela eliminação da concorrência não puder ser saneado por nenhum tipo de restrição/remédio, o CADE deverá reprovar a operação de concentração. 
Ao CADE, portanto, cabe atuar por meio do controle de concentrações com o objetivo de proteger o mercado e consumidores contra abusos possivelmente decorrentes das concentração, em especial, pelo aumento indevido ou excessivo do poder de mercado de uma empresa ou da exclusão de competidores. 
A defesa da concorrência possui uma preocupação com a liberdade e com a viabilização e opções que permitam a criação de um mercado competitivo e justo, no qual consumidores podem exercer suas escolhas livremente. O controle das estruturas e dos atos de concentração pelas autoridades antitruste, portanto, beneficia diretamente os consumidores, por preservar não só o excedente do consumidor, mas também as condições imprescindíveis ao seu direito de escolha (Pfeiffer, 2010). Assim, atos de concentração que afetem materialmente a concorrência não podem ser aprovados, ainda que gerem eficiência econômica, uma vez que prejuízos sejam causados aos consumidores. 
Referências bibliográficas utilizadas:
· ANDERS, Eduardo Caminati (org.) et al. Comentários à nova lei de defesa da concorrência: Lei 12.529, de 30 de novembro de 2011. São Paulo: MÉTODO, 2012, p. 197.
· BAKER, Jonhathan B. & Bresnahan, Thimothy, “Economic Evidence in Antitrust: Defining Markets and Measuring Market Power” em Bucciorossi, Paolo, Handbook of Antitrust Economics, MIT Press, Cambridge, Massachusetts, 2008.
· CADE. "Guia para análise de atos de concentração horizontal." (2016).
· PFEIFFER, Roberto Augusto Castellanos. Defesa da concorrência e bem-estar do consumidor. 2010. Tese (Doutorado em Direito Econômico e Financeiro) - Faculdade de Direito, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2010. doi:10.11606/T.2.2010.tde-26092011-104134. Acesso em: 2022-03-20.
· VICKER, John – “Abuse of Market Power” em Bucciorossi, Paolo, Handbook of Antitrust Economics, MIT Press, Cambridge, Massachusetts, 2008.
4. Quais são os efeitos das condutas contra à ordem econômica para o Bem-Estar dos Consumidores? 
Na lição de Spagnolo, cartéis são uma forma de atividade ilegal onde diferentes agentes econômicos trabalham juntos, de forma coordenada, para atuar e restringir a legítima concorrência, seja por meio da fixação de preços, separação de fatias de mercado ou bloqueando o acesso de agentes menores ao mercado. É imediatamente evidente que a proibição de abuso de posição dominante abrange uma ampla e diversificada gama de comportamentos corporativos. 
Segundo Vicker, a diminuição da concorrência pode, por diferentes meios, afetar negativa e diretamente o bem estar do mercado consumidor. Isto ocorre, por exemplo, quando empresas dominantes adotam preços predatórios, ou seja, preços baixos (geralmente abaixo dos níveis de custos aplicáveis), de modo que a maximização de lucros ocorra apenas pela exclusão de concorrentes. 
Nestes casos, as autoridades antitruste adotam, por regra, uma postura cautelosa quando a política de preços baixos é adotada, especialmente, por empresas dominantes no mercado, realizando uma análise comparativa da precificação vs. custos aplicáveis. 
Um exemplo de conduta contra a ordem econômica pode ser a adoção de cortes seletivos de preços. Em caso julgado na Europa em 2000, houve a discussão sobre a possibilidade de a condenação de tal prática incentivar ou proteger empresas não competitivas na concorrência ou, de fato, configurar uma conduta anticompetitivas. Assim, foi observado que a proibição de reduções seletivas de preços poderia até ter efeitos reduzidos em um cenário de cenário contestável, mas faria com que o preço no mercado não contestável caísse significativamente o que, apesar de bom para os consumidores, impactaria diretamente na eficiência produtiva 
Estas práticas abusivas podem prejudicar diretamente o bem-estar dos consumidores ao: (a) impor, de forma direta ou indireta, preços de compra ou de venda ou outras condições de transação não equitativas; (b) limitar a produção, a distribuição ou o desenvolvimentotécnico em de produtos prejuízo dos consumidores; (c) aplicar, relativamente a parceiros comerciais, condições desiguais no caso de prestações equivalentes colocando-os, por esse facto, em desvantagem na concorrência; (d) subordinar a celebração de contratos à aceitação, por parte dos outros contraentes, de prestações suplementares que, pela sua natureza ou de acordo com os usos comerciais, não têm ligação como objeto desses contratos ou possam prejudicar os consumidores.
Referências bibliográficas utilizadas:
· VICKER, John – “Abuse of Market Power” em Bucciorossi, Paolo, Handbook of Antitrust Economics, MIT Press, Cambridge, Massachusetts, 2008.
· SPAGNOLO, Giancarlo - “Leniency and Whistleblowers in Antitrust” em Bucciorossi, Paolo, Handbook of Antitrust Economics, MIT Press, Cambridge, Massachusetts, 2008.
5. O que é regulação econômica e qual é sua relação com Defesa da Concorrência? Como o desenho de mercados de interesse público é usado para objetivos de políticas públicas? 
Segundo Levi-Faur, a regulação é constituída por um conjunto de regras prescritivas e de práticas relacionadas ao monitoramento e aplicação destas regras por agentes sociais, comerciais e políticos. A regulação, portanto, é uma forma de controle e criação de regras burocrático-administrativas – o autor deixa claro que isso não pode se confundir com análises legislativas ou judiciais. Cabe, portanto, às agências reguladoras econômicas lidar com o funcionamento dos mercados e empregar uma variedade de ferramentas para constituí-los, gerenciá-los e supervisioná-los, em especial no que tange a questões de concorrência e custos dos serviço em condições de poder de mercado concentrado.
Como explicado por Viscusi, a necessidade de regulação econômica é inerente à complexidade da realidade em que vivemos, que é clara e amplamente afetada pela participação de um enorme números de agentes econômicos e influenciada por uma miríade de externalidades. Assim, na realidade, muitas industrias são dominadas por um pequeno número de empresas, ocorrendo até mesmo monopólios. Assim, Viscusi ressalta que os governos geralmente possuem duas principais armas para lidar com as disfunções inerentes ao modelo econômico. A primeira seria o incentivo por meio da criação de um mecanismo capaz de afetar preços da produção, como, por exemplo, a adoção de impostos para produtos específicos. 
A outra forma seria a partir da regulação da forma como se dá a concorrência, em uma tentativa de controlar o comportamento dos agentes econômicos. 
Assim, políticas de defesa da concorrência são aplicadas quando governos buscam agir para evitar concentrações que podem ameaçar a competitividade de um mercado. Em outros casos, por razões de eficiência econômica (como, por exemplo, nos monopólios naturais), a concentração monopolista é justificada. 
Assim, Viscusi chama a atenção para o fato de que estes grandes conglomerados econômicos devem ser domados de modo a não prejudicarem o bem-estar dos consumidores, em especial, ao cobrarem preços excessivos. 
A ação de políticas antitruste tem impactos diretos sobre a adoção de políticas públicas relacionadas a precificação de serviços. Neste caso, cabe trazer o exemplo levantado por Viscusi, sobre a prevenção, por meio da regulação antitruste, da adoção de preços excessivos em tarifas elétricas, mesmo em locais onde empresas de energia tenham o seu mercado cativo. A mesma lógica se espalha para setores essenciais como saúde, segurança e educação, que demandam uma ação regulatória por parte do estado. Outros tipos de regulação econômica podem, por exemplo, afetar níveis do salário mínimo. 
Para Levi-Faur, a expansão do número de agências reguladoras e do escopo e capacidades de regulação destas agências tem se manifestado em crescimento desde a década de 1990, o que sugere que os estados modernos estão dando mais ênfase ao uso de sua autoridade regulatória por meio da criação de regras e padrões de conduta, ante a possibilidade de influenciar diretamente,, seja pela criação de subsídios ou prestação direta dos serviços. 
Viscusi trata sobre a abundância de exemplos sobre como a regulação econômica pode promover interesses públicos e das indústrias. Dentre eles, ele menciona o caso da regulamentação das tarifas aéreas onde seria possível fornecer um piso para as tarifas aéreas que permita que empresas obtenham lucros maiores do que se houvesse concorrência de preços. Da mesma forma, o autor ressalta que é possível garantir padrões mínimos de qualidade para produtos de forma a promover os interesses das empresas mais estabelecidas e avançadas do setor, que usarão esses padrões de qualidade obrigatórios para espremer os produtores com capacidades tecnológicas menos avançadas. Assim, Interesses privados, bem como interesses públicos, podem afetar a sobrevivência política das autoridades reguladoras.
Referências bibliográficas utilizadas:
· Viscusi, W.K; Harrington, Joseph E.; Vernon, John M. – Economics of Regulation and Antitrust, The MIT Press, 2005.
· Levi-Faur, David– “Regulation and Regulatory Governance” em Levi-Faur, David (org), Handbook of Politics of Regulation, Edgard Elgar, 2011
6. Quais as principais diferenças entre os modelos de defesa da concorrência nos EUA, na Europa e em outras partes do mundo?
Em primeiro lugar, é importante ressaltar que, como explicado por Vicker, os Estados Unidos tem uma tradição antitruste muito maior do que a Europa. A primeira medida para coibir atos de concentração indevidas se deu nos Estados Unidos ainda em 1890, por maio da promulgação do Sherman Act, que proibia a constituição ou o conluio para constituir monopólios.
Já o principal embasamento jurídico antitruste europeu é o título VII do Tratado sobre o Funcionamento da União Europeia, que trata das regras comuns relativas à concorrência, à fiscalidade e à aproximação das legislações. De acordo com o art. 101 do dispositivo “São incompatíveis com o mercado interno e proibidos todos os acordos entre empresas, todas as decisões de associações de empresas e todas as práticas concertadas que sejam suscetíveis de afetar o comércio entre os Estados-Membros e que tenham por objetivo ou efeito impedir, restringir ou falsear a concorrência no mercado interno”.
A principal diferença entre as práticas antitrustes se dá no tratamento dos casos de concentração e práticas monopolistas. Segundo Viscusi, os Estados Unidos tem se demonstrado muito mais lenientes com atos de concentração do que a Europa. Por outro lado, a União Europeia tem sido mais propensa a considerar tais práticas inerentemente abusivas. Um exemplo disso seria o caso da fusão entre General Electric e Honeywell, que foi aprovado nos EUA e vetado pela União Europeia. Viscusi ainda ressalta o aumento do protagonismo de outras agências concorrenciais como a chinesa, que tem demonstrado um nível de rigor com atos de concentração ainda maior que o seu equivalente europeu. Contudo, Viscusi ressalta que muito do rigor visto na regulação antitruste chinesa pode ser justificado por uma preocupação mais protecionista, em benefício das industrias nacionais, do que competitiva, em si. 
Enquanto o sistema antitruste americano é mais voltado à identificação do nexo causal entre a conduta e os efeitos decorrentes do poder de mercado, a maioria dos casos relacionados a condutas anticoncorrenciais julgadas na União tratariam da concentração econômica focada no viés da exclusão de competidores, ao invés de focarem em comportamentos abusivos aos consumidores. 
Desta forma, a regulação europeia só é aplicada nos casos em que há poder de mercado que que as condutas derivem deste poder, ainda que não contribuam para a sua manutenção. Assim, na Europa, ao contrário dos Estados Unidos, a pura exploração do poder de mercado já seria suficiente para violar as leis antitruste.
No entanto, Viscusi ressalta que, nos últimos vinte e cinco anos, a União Europeia tem caminhado em direção a um sistema que mais se assemelha ao dos Estados Unidos ao dar mais relevância aos efeitos causadospelos atos de concentração, ou seja, apenas proibindo práticas que tenham efeitos prejudiciais. Ao mesmo tempo, os Estados Unidos tornaram-se cada vez mais não intervencionistas, o que resultou no DOJ e na FTC perseguindo muito menos casos de monopolização.
Também existem diferenças significativas nos programas de leniência adotados nos EUA e na Europa. A principal diferença pode ser o tratamento dado às demais participantes dos cartés após uma primeira empresa decida delatar. Enquanto na Europa, lenientes atrasados podem celebrar seus próprios acordos, desde que novas informações sejam prestadas e valiosas, o programa dos EUA não está disponível para outras levas de empreasas lenientes. A segunda diferença é sobre o nível de anistia automaticamente dado às empresas lenientes. Enquanto este nos EUA é automatico, na Europa, a anistia total depende do nível de volumes e de novidade das informações relatadas (Spagnolo, 2008). 
De acordo com Viscusi, as diferenças são justificáveis dada a grande preocupação dos Estados Unidos em compatibilize a legislação antitruste com um grau adequado de intervenção que não afete, de forma indevida, a competitividade. Por outro lado, a União Europeia se mostra mais preocupada em evitar que a concentração e dominação de mercado não corrompa a competitividade do mercado. Deste modo, a interação e regulação pelas diferentes agências ao redor do mundo se torna um desafio considerável à empresas inseridas em um contexto de globalização e com atuação transnacional. 
Referências bibliográficas utilizadas:
· VICKER, John – “Abuse of Market Power” em Bucciorossi, Paolo, Handbook of Antitrust Economics, MIT Press, Cambridge, Massachusetts, 2008.
· VISCUSI, W.K; HARRINGTON, Joseph E.; VERNON, John M. – economics of regulation and antitrust, the MIT Press, 2005.
· SPAGNOLO, Giancarlo - “Leniency and Whistleblowers in Antitrust” em Bucciorossi, Paolo, Handbook of Antitrust Economics, MIT Press, Cambridge, Massachusetts, 2008.
7. Quais são as principais características do sistema Brasileiro de Defesa da Concorrência?
Apesar de o Brasil já ter provisões legais sobre a prevenção de condutas anticoncorrenciais desde a década de 1930, em especial, penais, voltados à proibição de trustes, e das discussões desde então sobre o tema, passando por diversas tentativas de regulação da atividade antitruste, o tema só passou a contar com maior respaldo a partir da promulgação da Constituição Federal de 1988, que dedicou um título inteiro à ordem econômica. Paralelamente às prementes discussões, o CADE também vinha, até o começo da década de 1990, de um período de baixa atividade e alta desconfiança. 
Com o crescimento do endividamento externo durante a década de 1980, o Brasil foi submetido a uma agenda de austeridade e reformas como exigência dos organismos internacionais credores. Tais medidas englobaram tanto medidas macroeconômicas quanto mudanças institucionais voltadas à adequar a estrutura legal e regulatória e o aumento da eficiência do Estado brasileiro. Como bem pacificado, a agenda imposta tinha um objetivo claro de aumentar a participação do mercado, em especial, de empresas estrangeiras na economia e na criação de um sistema institucional que facilitasse tal participação. 
Como explicado por Prado, a defesa da concorrência foi elencada, portanto, como um dos principais temas desta agenda, em especial para a criação de agências estatais capazes de regular os serviços prestados por agentes privados. Assim, “uma legislação para sua aplicação e com uma forte agência antitruste, seria fundamental para promover a ordem econômica desejada e, ainda, impedir a excessiva concentração empresarial e práticas anticompetitivas por empresas com grande poder de mercado” (Prado, 2014).
Neste sentido, o Governo Itamar Franco criou o Sistema de Defesa da Concorrência, formado pela a Secretaria de Defesa Econômica (SDE) do Ministério da Justiça e a Secretaria de Acompanhamento Econômico do Ministério da Fazenda, que atuavam como órgãos de instrução, e o CADE, que atuava como tribunal administrativo. 
Prado acrescenta à análise o fato de Itamar Franco enxergar a aprovação de uma legislação antitruste como fator necessário à estabilização do Plano Real, em especial, para garantir uma base institucional que permitisse a garantia de preços por meio do controle da concorrência, sem a necessidade de um controle direto de preços. O autor, assim, ressalta que a defesa de concorrência seria uma alternativa liberal, fortemente influenciada pela Escola de Chicago, aos mecanismos intervencionistas de administração de preços. Nesta ocasião, houve uma aproximação maior dos economistas das questões antitrustes e da análise de defesa de concorrência.
Desde a sua última reformulação, em 2011, por meio da Lei 12.529/2011, o SBDC é formado pelo Conselho Administrativo de Defesa Econômica - CADE e pela Secretaria de Acompanhamento Econômico do Ministério da Fazenda. O CADE atualmente é constituído: (i) pelo Tribunal Administrativo de Defesa Econômica, que, entre outras atribuições, é responsável por decidir os processos administrativos para imposição de sanções administrativas por infrações à ordem econômica instaurados pela Superintendência-Geral e por aprovar os termos do compromisso de cessação de prática e do acordo em controle de concentrações; (ii) a Superintendência-Geral, que, entre outras atribuições, é responsável por acompanhar, permanentemente, as atividades e práticas comerciais de pessoas físicas ou jurídicas que detiverem posição dominante em mercado relevante de bens ou serviços, para prevenir infrações da ordem econômica; e (iii) o Departamento de Estudos Econômicos, que é dirigido por um economista-chefe responsável por elaborar estudos e pareceres econômicos, com o objetivo de zelar pelo rigor e atualização técnica e científica das decisões do CADE.
Referências bibliográficas utilizadas:
· BRASIL, Lei 12.529/2011 e documentos do CADE. 
· CADE – Guia dos Remédios Antitruste, 2018 
· PRADO, L.C.D – “Defesa da Concorrência e Desenvolvimento: Notas sobre o Debate e sua aplicação no Caso Brasileiro”, em Monteiro Filha, Prado & Lastres, Estratégias de Desenvolvimento, Política Industrial e Inovação, BNDES, 2014]
8. Como foram criadas no Brasil as Agências Reguladoras e qual sua relação com as Políticas de Defesa da Concorrência?
Prado explica que, as reformas econômicas têm sido associadas a crises econômicas e/ou políticas ao longo da história recente do Brasil e que, até os anos 1990, as reformas econômicas ligadas apenas à agenda liberal eram uma raridade. Antes disso, havia uma visão dominante na sociedade brasileira de que as empresas públicas e a intervenção governamental eram necessárias para o desenvolvimento do país e que a intervenção governamental em questões econômicas era, geralmente, de alta qualidade.
Contudo, a partir da década de 1990, o vento da agenda neoliberal atingiu fortemente o Brasil, alterando a forma em que a atuação estatal e as empresas eram enxergadas. Desta forma, empresas estatais, que antes eram admiradas por sua gestão competente e eficiência, tornaram-se associadas à interferência ineficaz do governo, o que sucedeu em uma série de privatizações de empresas antes controladas e geridas pelo poder público.
Desta forma, e como explicado por Pacheco, a partir de 1995, o governo federal pôs em prática um amplo programa de reformas, elaborado pelo ministro Luiz Carlos Bresser-Pereira, com o objetivo de descentralizar a prestação de serviços públicos (para esferas subnacionais e para o setor público não-estatal) e ao fortalecimento do núcleo estratégico do Estado responsável pela formulação das políticas públicas. Assim, até a conclusão do Governo FHC, foram implementadas políticas de reformas de Estado, com maiores ou menores graus sucesso. 
Prado ressalta, que, no Governo FHC, foi percebido que a reforma do Estado demandaria a criação de novas agências estatais que deveriam regular serviços privatizados, seja pelo viés da concorrência, por meio da criaçãode um sistema antitruste eficiente, seja pela regulação e fiscalização dos novos mercados dos novos serviços públicos privatizados, por meio da criação de agências reguladoras. 
Assim, as primeiras agências reguladoras foram criadas nos setores de infraestrutura, com o propósito de descentralizar a ação do Estado e dar maior flexibilidade e agilidade em áreas específicas. Contudo, cabe ressaltar o aparte feito por Prado ao explicar que, de forma equivocada, a criação das agências se deu de forma posterior ao processo de privatização. 
Tais agências, como ressaltado para Pacheco, deveriam ser dotadas das duas formas de autonomia propostas Bresser-Pereira: autonomia administrativa (voltada à eficiência e aos resultados); e a autonomia política (voltada à continuidade e credibilidade decisória) por atuarem em áreas sensíveis e, até então, como setores de infra-estrutura — telecomunicações, energia e petróleo.
As agências reguladoras que foram criadas no Brasil ao final da década de 1990 seguiram um modelo próprio, diferente da figura da autarquia já existente no ordenamento brasileiro, bem como das agências reguladoras norte-americanas que tinham uma história institucional e um sistema legal muito diferente no nosso. 
Para Prado, este também é um ponto de atenção, considerando que, na experiência estadunidense, a criação das agências decorreu de um movimento intervencionista do Estado, o que iria na direção contrária ao que se via no Brasil, enquanto, no Brasil, a independência das agências visava reduzir incertezas para os investidores, advindas da grande tradição intervencionista do Estado brasileiro (Pacheco). 
Prado divide as dez agências criadas a partir de 1990 em quatro grupos distintos: (i) as grandes agências de infraestrutura, que adquiriram maior prestígio e destaque; (ii) – as agências de infraestrutura de menor porte, ou seja, as que tratam de transporte e portos (ANTAQ, ANTT, ANAC) e do uso dos recursos hídricos (ANA); (iii) as que tratam de serviços, com forte implicações na esfera social; e, finalmente, (iv) a ANCINE, que tem uma função hibrida de fomento e regulação, o que a colocaria em uma categoria específica.
Vale ainda fazer referência à crítica de Pacheco sobre a implementação de agências focadas na infraestrutura e na área social sob o mesmo modelo de autarquia especial. Isso porque, segundo a autora, “nos setores de infra-estrutura, a regulação visa promover a universalização do acesso aos serviços e a competição em áreas de monopólios naturais, corrigindo falhas de mercado. Já na área social, a regulação abrange os direitos dos usuários e a qualidade dos serviços. A natureza das atividades parece indicar muito mais uma atuação fiscalizadora do Estado, do que propriamente a regulação de mercados ou a promoção da concorrência”.
Por fim, é importante mencionar que o Governo Lula, ao final de 2002, implementou um arranjo político com o objetivo de reformar a estruturação das agências reguladoras tendo em vista a visão vigente de que as agências gozavam de autonomia excessiva, que permitia inclusive ao ente regulador assumir a formulação da política para seu setor de atuação (Pacheco). Para Prado, isso mostra que a reforma do Estado proposta pelo governo FHC foi continuada pelo primeiro governo Lula.
Referências bibliográficas utilizadas:
· PACHECO, Regina Sílvia – “Regulação no Brasil: Desenho das Agências e Formas de Controle”,
· PRADO, L.C.D – “Relações Entre Estado e Mercado: Reformas e Agências Reguladoras no Brasil, 1991-2013”, em Earp, Bastian e Modenesi, Como vai o Brasil? A Economia Brasileira no Terceiro Milênio, Imã Editoria, 2014.

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