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Montes Claros/MG - 2015
Ângela Cristina Borges
Letícia Aparecida Ferreira Lopes Rocha
Culturas e tradições 
Religiosas
2015
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Maria Ângela lopes Dumont Macedo
Coordenadora Adjunta da UAB/Unimontes
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Autoras
Ângela Cristina Borges
Mestre em Ciências da Religião pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, 
atualmente doutorando-se na mesma área e universidade. É professora do curso de 
Ciências da Religião da Unimontes e coordenadora do curso de Ciências da Religião 
UAB/Unimontes. É tutora do Programa de Educação Tutorial de Ciências da Religião 
PETCRE-Unimontes/CAPES onde orienta projetos na área.
Letícia Aparecida Ferreira Lopes Rocha
Graduada em Ciências da Religião pela Unimontes 
Pós-graduação em Neuropsicologia Educacional e Ciências da Religião.
Professora de Educação Religiosa na Educação Básica.
Professora formadora e conteudista UAB-Unimontes
Sumário
Apresentação. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .9
Unidade 1 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .11
Conceituação de Cultura . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .11
1.1 Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .11
1.2 Colônia, Culto e Cultura . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .11
1.3 Cultura Erudita e Cultura Popular . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .13
1.4 Cultura Popular . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .14
1.5 Estudos Culturais. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .16
Referências. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .18
Unidade 2 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .19
O Fenômeno Religioso e suas Instituições no Substrato das Culturas: Direito, Política e 
Educação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .19
2.1 Introdução. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .19
2.2 Secularização-Conceito e suas Implicações na Vida da Sociedade. . . . . . . . . . . . . . . . .19
Referências. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .26
Unidade 3 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .27
Procissões e Peregrinações no Mundo e no Brasil . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .27
3.1 Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .27
3.2 Procissões . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .27
Referências. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 34
Resumo. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .35
Referências Básicas, Complementares e Suplementares. . . . .37
Atividades de Aprendizagem - AA . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .39
9
Ciências da Religião - Culturas e Tradições Religiosas
Apresentação
Prezados cursistas, apresentamos o caderno didático cuja temática é Culturas e tradições 
religiosas. O material está estruturado em três unidades, onde, em cada uma dessas, estaremos 
desenvolvendo assuntos atinentes ao tema geral. 
Vamosentrar em contato com o tema da cultura e suas peculiaridades no cerne da socie-
dade, entraremos em contato com o conceito e as formas de culturas e, também, os estudos 
culturais empreendidos após a Segunda Guerra, que culminaram numa nova forma de conce-
ber o termo. Nesse sentido, veremos os estudos acerca de cultura que foram estabelecidos na 
pós-modernidade. Após, veremos o fenômeno religioso em relação com algumas instâncias da 
sociedade que nos propomos a verificar, mas, antes de entrar nessas categorias, faremos um rá-
pido passeio pelo conceito de secularização, pois nos parece importante uma olhada sobre esse 
fenômeno que é a secularização. Para encerrar, discutiremos sobre as procissões e peregrinações 
que ocorrem no Brasil e também, em várias partes do mundo.
Caros cursistas, podem ver que os temas deste caderno em muito contribuirão para a for-
mação de cientistas da religião e como docente da disciplina Educação Religiosa, uma vez que os 
temas abordados neste estudo são atuais e fazem parte do cotidiano.
Tenham bons estudos!
As autoras.
11
Ciências da Religião - Culturas e Tradições Religiosas
UnidAde 1 
Conceituação de Cultura 
Ângela Cristina Borges
1.1 Introdução
É sabido que a Ciência da Religião tem como seu objeto o fenômeno religioso. O que a di-
fere dos aportes teológicos na abordagem sobre tal fenômeno é o fato de “ler” o que é passível 
de ser verificado, ou seja, o fenômeno tal qual ele aparece. Outra diferença entre a Teologia e a 
Ciência da Religião é que toda teologia traz suas afirmações sobre o sagrado e a religião a qual 
sustenta teoricamente, um conceito de religião. Sobre o conceito de religião, no senso comum, 
é comum ouvirmos que, para sermos politicamente corretos, ou demonstrarmos atitudes mais 
tolerantes, usarmos pelo menos três conceitos. Ora, isso se aplica ao senso comum, àquele que 
não possui atitudes científicas diante da(s) religião(ões) não serve para a Ciência da Religião. Po-
demos dizer que, para a abordagem científica, é preciso ter claro que religião é sistema cultural, 
é produção do homem, produção resultante da sua vivência, de ser homem no mundo e para o 
mundo. É claro que, uma vez compreendido que religião é um sistema cultural, cada cientista da 
religião, a partir da sua tendência na abordagem religiosa, pode e deve apresentar o conceito de 
religião que a teologia da religião que investiga possui. Mas também deve deixar claro que este é 
apenas um dos muitos conceitos e, de modo nenhum, pode ser comprovado como o verdadeiro.
Nesta parte, apresentaremos os conceitos de cultura que historicamente foram construídos, 
e o conceito que se colocou como aceito a partir de meados do século XX. Terminaremos esta 
parte retomando o conceito de religião já contemplado no caderno didático Introdução à Ciên-
cia da Religião.
1.2 Colônia, Culto e Cultura
Alfredo Bossi inicia seu livro A Dialética da Colonização (1992), demonstrando a importância 
da linguagem enquanto espaço onde os fenômenos deixam marcas. Ele chama a atenção para 
as palavras: cultura, culto e colonização enquanto derivadas do mesmo verbo: colo. O sentido 
básico desta palavra é Tomar conta de. Colo tem como particípio passado a palavra cultus e como 
particípio futuro a palavra culturus (BOSSI, 1992, p.11). Em Roma, continua o autor, colo se referia 
à ação de ocupar a terra, o que, por extensão, significava trabalho no campo, cultivo o campo. A 
expressão colo denota algo em trânsito, movimento que passa o agente da terra para o objeto 
terra e desta palavra surgiu o conceito de colônia, ou seja, espaço onde se está “ocupando a terra 
ou povo que se pode trabalhar e sujeitar” (BOSSI, 1992, p.11). Daí surgir também o significado de 
colonus, aquele “que cultiva uma propriedade rural em vez do seu dono” (BOSSI, 1992, p.11). Na 
dominação colo toma onde Tomar conta de toma o sentido de cuidar, mandar. 
A palavra cultus era atribuída ao campo que já fora plantado, a terra que se lavrou, seu femi-
nino, culta, tem sentido cumulativo, a terra que se cuidou, cultivando e desenvolvendo tarefas 
associadas ao cultivo. Culta torna a palavra cultus mais complexa, com sentido mais denso, pois 
ultrapassa o ato presente ao ser cumulativo, ou seja, naquele campo, naquela terra ocorreram 
inúmeros atos para o plantio durante anos. Nesse sentido, a relação à luta e ao labor entre o su-
jeito e seu objeto, a terra, se encerram na palavra cultus que é “sinal de que a sociedade que pro-
duziu seu alimento já tem memória” (BOSSI, 1992, p.13). No mesmo signo cultus, o que foi, o que 
se passou e o que se passa se encerram.
Enquanto substantivo, cultus, us, significava também o culto aos mortos, primeira expressão 
de religião, chamamento daqueles que se foram. Reforça este significado o fato de a terra for-
diCA
Sobre os diversos con-
ceitos de religião, reto-
me o Caderno Didático 
Introdução à Ciência da 
Religião.
12
UAB/Unimontes - 4º Período
necer o alimento e para onde os mortos são encaminhados pelos outros homens. É fato que o 
homem associava os espíritos dos seus antepassados ao cultivo da terra, os antepassados eram 
considerados como cooperadores no processo de produção de alimentos. A terra é, ao mesmo 
tempo, o solo de onde germinam as plantas para o sustento, e o solo que recebe os mortos. O 
culto à fertilidade para garantir a produção certamente foi importante no neolítico, período em 
que o homem já enterrava seus mortos. Figuras talhadas em pedra deste período foram encon-
tradas com seus órgãos genitais acentuados, indicando a associação destes com a fertilidade.
Bosi amarra os dois significados de cultus: cultus nome-verbo que indica o 
ser humano preso à terra e nela abrindo covas que o alimentam vivo e abrigam 
morto. Cultus: o que foi trabalhado sobre a terra; cultivado; cultus: o que trabalha 
sob a terra; culto; enterro dos mortos; ritual feito em honra dos antepassados 
(BOSI, 1992, p.14).
Segundo Bosi (1992, p.14), a possibilidade de atrelar ao passado a experiência atual de uma 
sociedade se faz pelas mediações simbólicas como a dança, o rito, a oração, a palavra que evo-
ca e que invoca, “no mundo arcaico tudo isto é fundamentalmente religião, vínculo do presen-
te com o outrora-tornado-agora”, aqui religião surge como o “laço da comunidade com as forças 
que a criaram em outro tempo”.
O futuro de colo é cul-turus, “o que se vai trabalhar, o que se quer cultivar” (BOSSI, 1992, 
p.15). Enquanto substantivo, o termo se refere ao trabalho no solo, a agri-cultura, ao trabalho no 
homem desde a infância (educação). Lembra Bosi que 
seu significado mais geral conserva-se até os nossos dias. Cultura é o conjunto 
das práticas, das técnicas, dos símbolos e dos valores que se devem transmitir às 
novas gerações para garantir a reprodução de um estado de coexistência social. 
A educação é o momento institucional marcado do processo (BOSSI, 1992, p.15).
Cultura sugere consciência de grupo ativa que retira do presente os planos para o futuro, 
cultura enquanto projeto.
Dessa forma, a palavra cultura está associada à ideia de cuidado com a terra, educação e 
memória. A terminação “urus” insinua a ideia de porvir, de acordo com Bosi, nas
sociedades densamente urbanizadas cultura foram tomando também o sentido 
de condição de vida mais humana, digna de almejar-se, termo final de um pro-
cesso cujo valor é estimado [...] por todas as classes e grupos (BOSSI, 1992, p.15).
Dessa forma, é vista nestas sociedades como ideal de status e em Roma é associada à Pai-
déia. No século XVIII, a noção de cultura se articula com as teorias de evolução social e cultura é 
vislumbrada enquanto oposta à natureza e, equivocadamente, associada àqueles que possuem 
a educação institucional. Homem com cultura é o homem que estudou. Sem estudo, o homem 
não tem cultura. Essa noção acirrou e demarcou as diferenças sociais e, de certaforma, indicava 
o “homem superior” e o “homem inferior”. Apesar de esta noção tomar conta do senso comum, o 
pensamento filosófico produzido durante o Iluminismo apresentava a ideia de cultura enquanto 
resultante da formação humana, o produto desta formação, o modo de viver e pensar, a forma-
ção coletiva de um grupo social a partir de suas instituições permanecendo a ideia de movimen-
to, de porvir e de futuro.
A ideia de cultura a partir do senso comum permaneceu durante muito tempo em muitas 
instâncias, mas permaneceu também enquanto produção humana cumulativa e memória. As 
palavras colo e cultus, e o que elas evocam, ainda são vivas dentro do termo cultura, gerando 
visões de dominação como também visões que rompem com qualquer forma de totalitarismo.
Durante o colonialismo iniciado no século XVI, ou seja, com a Modernidade, percebe-se que 
o significado mais forte da palavra colo é Tomar conta de, mandar com a ideia de que o povo que 
ocupa a terra tem que se sujeitar. Aliado a isso a ideia de que quem tem a educação institucio-
nalizada é superior. Tudo isso auxiliou na emergência do autorrelato europeu, ou seja, a ideia de 
que a cultura europeia é superior a todas as outras culturas.
O Império Britânico surge como a personificação da superioridade mundial. Dona de quase 
todo o território habitado do planeta, a Inglaterra serve enquanto civilização modelo, ou seja, en-
quanto Outro a quem todos os Outros devem reverenciar e copiar e assim tornarem-se mesmos/
outros. A sujeição à forma de vida europeia praticamente significava sujeição ao modo de vida 
inglês e, depois, aos modos de vida inglês e francês. Dentro da própria Inglaterra, a diferença so-
13
Ciências da Religião - Culturas e Tradições Religiosas
cial fazia-se realidade, a noção de cultura intrínseca à educação estabelecia diferenças entre os 
ingleses instruídos em uma escola e os ingleses sem instrução escolar. A diferença acirra-se ainda 
mais com o advento do capitalismo na forma industrial. Com a Revolução Industrial e a urbaniza-
ção, surgiu a classe operária considerada pela academia e setores mais altos da sociedade britâ-
nica como dotada de cultura inferior. Estabelecem-se diferenças entre o que a elite produzia e o 
que as classes baixas produziam. Esta diferença é vislumbrada no binômio Alta Cultura e Cultura 
de Massa. Alta cultura era toda a produção e memória aristocrata, cultura de massa eram a pro-
dução e memória operária.
1.3 Cultura Erudita e Cultura 
Popular
A palavra erudita é utilizada para designar amplo conhecimento adquirido pela leitura e 
conhecimentos de história do mundo. A cultura erudita é a cultura produzida pela elite social, 
econômica, política e cultural de uma sociedade. Seu conhecimento provém do conhecimento 
científico, dos estudos e pesquisas universitárias, da cultura universitária e dos estudos gerais. 
Em geral, esta cultura está associada ao conhecimento da arte e sua difícil interpretação.
Em função de necessitar de longos anos de instrução e hábitos de leitura, a cultura erudita 
acaba sendo mais sofisticada, mais bem elaborada pelo intelecto humano.
Centrada nas academias, ou seja, nas universidades, acaba sendo uma cultura produzida por 
intelectuais das mais variadas áreas e saídos da classe média e classe alta. Dessa forma, acaba es-
tando associada à elite. Nos tempos atuais, o fato de pertencer à cultura da elite, a cultura erudita 
está subordinada ao capital, pois é este que viabiliza que, de possibilidade, torne-se real. Enquan-
to cultura que exige estudo e este exige tempo e financiamento não pode ser uma cultura da 
maioria.
GLoSSáRio
Paidéia: termo advindo 
do grego, que se refere 
ao sistema de educação 
e formação educacional 
das culturas grega e 
helenistas greco-roma-
na, que incluía várias 
temáticas, como: 
matemática, filosofia, 
história, entre outras.
Figura 1: Orquestra 
Ballet.
Fonte: Disponível em 
<http://cultura-eruditasoc.
blogspot.com.br>. Acesso 
em 25 out. 2014.
Figura 2: Orquestra 
Beethoven.
Fonte: Disponível em 
<http://cultura-eruditasoc.
blogspot.com.br>. Acesso 
em 25 out. 2014.
14
UAB/Unimontes - 4º Período
1.3.1 Cultura Universitária
No Brasil, até meados dos anos 40, a vida cultural acontecia fora das universidades. Saraus 
de poesia, recitais de piano e violino, peças de teatro e óperas faziam parte do lazer da nossa eli-
te social. O povo produzia cultura, promovendo saraus de poesia, rodas de viola e saltimbancos. 
Nesses espaços, observavam-se, respectivamente, a erudição e o popular.
Com a implantação da Universidade, esta absorve a vida intelectual profissionalizando-a e, 
de certa forma, contribuindo para o gradativo desaparecimento dos eventos culturais antes cor-
riqueiros.
A cultura universitária, de acordo com Bosi (1992, p. 309), é meta prioritária dos jovens das 
classes alta e média deste país. Sua força é espantosa, é ela que está nas carreiras burocráticas do 
Brasil.
Nessa perspectiva, vale a pena ressaltar sobre as tendências desta cultura que se reflete na 
visão de mundo da sociedade brasileira e acaba por influenciar todas as outras instituições. São 
elas:
1. Decréscimo dos estudos humanísticos tradicionais (Grego, Latim, Filologia, Francês) que 
levaram ao desaparecimento de uma formação clássica anteriormente presente no Ensino 
Médio, que contribuía principalmente para a carreira religiosa e para a magistratura. Como 
consequência, acabou a relação íntima entre cultura clássica e status social e perda da ca-
pacidade de interpretação histórica concreta. O relativismo se instaura. Lê-se o que não po-
deria estar historicamente no texto, isto é, não se lê o que historicamente está presente no 
texto e isso é uma grande desvantagem científica, pois falta rigor metodológico. Por outro 
lado, procura-se ver no texto e seu passado algo inteligível para interpretar o presente, in-
clusive textos que não eram interpretados, por se acreditar que não havia erudição possível 
para isso.
2. A substituição da Geografia Geral, História Geral, História do Brasil e Geografia do Brasil pela 
disciplina Ciências Sociais, que foram sendo apartadas do seu lugar no curso secundário. Tal 
substituição acarretou também uma acirrada competição no mercado de trabalho entre li-
cenciados e bacharéis em Ciências Sociais e historiadores e geógrafos.
3. Diminuição do espaço da disciplina Filosofia no Ensino Médio e nos cursos de graduação. Du-
rante duas décadas, esta disciplina desaparece dos currículos escolares. Enquanto reflexão 
teórica e crítica, capaz de levar ao entendimento da significação das ciências da natureza, das 
ciências humanas, do movimento da cultura e das ideologias que nela emergem, a Filosofia 
é expulsa da formação do adolescente, homem biologicamente impulsionado à busca e in-
quietações. O desinteresse político, ético e moral é a grande consequência desta tendência 
da Universidade brasileira. Este é considerado o maior golpe à educação brasileira.
4. Exclusão do Francês e crescimento do Inglês, em função do domínio econômico dos Esta-
dos Unidos. Para as Faculdades de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, tal exclusão foi um 
grande golpe, em função de as traduções em inglês não serem da mesma qualidade que as 
tradições em inglês. Uma cultura letrada humanística sem o Francês equivale a uma cultura 
clássica sem o latim.
5. O vestibular unificado orientou nossas escolas a um ensino meramente informativo, dimi-
nuindo o espaço para o axiológico.
Tais tendências estão presentes em nossa sociedade e possui seus reflexos não apenas na 
universidade. Devemos lembrar que a força reprodutora desta instituição é absurda e se refletem 
nas outras instituições sociais. E na cultura. 
1.4 Cultura Popular
A cultura popular não está associada ao conhecimento científico. O conhecimento produ-
zido nesta cultura é o conhecimento do senso comum produzidono dia a dia, de forma espon-
tânea, pelo povo, em geral as classes excluídas. Simultaneamente ligada às tradições e às ino-
vações, a cultura popular traz uma ambiguidade sedutora. Grandes eventos como o carnaval, 
considerado mecanismo de conservação da cultura popular é custeado pelos setores sociais 
mais altos. 
15
Ciências da Religião - Culturas e Tradições Religiosas
Em geral, seus conhecimentos não alcançam a legitimidade institucional, a exemplo da cul-
tura erudita que é transmitida nas escolas. Outra diferença se deve ao fato de os produtores da 
cultura popular não terem a consciência de que o que fazem é cultura popular e os produtores 
da Já cultura erudita, em geral os intelectuais, possuem a consciência de que o que os produ-
tores da cultura popular fazem é cultura popular. São os eruditos que investigam e estudam a 
cultura popular.
Podemos elencar como cultura popular, além do carnaval, o congado, festas regionais, fes-
tas juninas, etc.
O interessante na cultura popular é que ela retrata a 
identidade do povo, seu ethos, isto é, sua visão de mundo e 
sentido da vida. Então, é possível vislumbrar pela cultura po-
pular as crenças, os anseios e entendimento que o homem 
tem da vida, do mundo e até mesmo sua concepção de trans-
cendente. É possível ver na cultura popular, inclusive, a desobediência institucional do homem, 
no que se refere à moral, à educação e à religião. O homem do povo produz cultura a partir do 
seu entendimento do mundo, do que percebe como verdade, o que rejeita e o que realmente 
valoriza. Em muitas festas populares, é possível ao homem contradizer as instituições. Há santos 
que o catolicismo não reconhece, mas que são reconhecidos pelo homem em eventos popula-
res, como o caso de Padre Cícero em Juazeiro do Norte.
Figura 3: Carnaval
Fonte: Disponível em <ht-
tps://www.google.com.br/
search?q=carnaval+antiga
mente&rlz>. Acesso em 25 
out. 2014.
Figura 4: Catopês
Fonte: Disponível em <ht-
tps://www.google.com.br/
search?q=congado&rlz=1
C2KMZB_
enBR567BR567&b>. Aces-
so em 25 out. 2014.
Figura 5: Catopês 
Fonte: Disponível em <ht-
tps://www.google.com.br/
search?q=congado&rlz=1
C2KMZB_
enBR567BR567&biw>. 
Acesso em 25 out. 2014.
16
UAB/Unimontes - 4º Período
Como visto anteriormente, a cultura produzida pelos setores populares foi historicamente 
considerada inferior. Diferente e, em alguns aspectos, divergente da cultura Erudita, a cultura 
produzida pelo povo sempre sofreu discriminação e preconceito. 
Agora, veremos como gradativamente, esta situação se modifica.
1.5 Estudos Culturais
Como dito anteriormente, a separação entre cultura produzida pelo povo e a cultura produ-
zida pela elite social levou ao preconceito em relação à cultura popular. No entanto, esta situação 
mudou, de forma que a cultura popular hoje se coloca também como relevante, pois erudição ou 
não tudo é produção humana, tudo é cultura. Vejamos como isso se deu nas academias.
Uma movimentação intelectual pós-guerra surge no panorama político da Inglaterra em 
meados do século XX. Um aspecto a ser observado neste movimento foi a emergência de uma 
revolução na teoria cultural em função das problematizações em torno do termo e do significado 
de cultura. Ocorreu uma reorganização do campo das relações culturais em decorrência do im-
pacto no capitalismo do surgimento de novas formas culturais: TV, publicidade, jornais e revistas 
de grande tiragem e circulação, a música rock. Como consequência do surgimento destas novas 
formas culturais, podemos apontar a perda do poder cultural das elites. Outra causa foi o colapso 
do Império Britânico cujo mapa territorial diminui, revirando o imaginário social da Inglaterra. 
Muitas colônias inglesas proclamam sua independência desmistificando a Inglaterra enquanto 
país que possui uma civilização superior. A ideia de superioridade cultural, progressivamente, vai 
caindo nas academias e, posteriormente, nas escolas e outras instituições inglesas e no mundo. 
Podemos afirmar que, antes desta revolução cultural, havia uma visão etnocêntrica e eurocêntri-
ca da cultura. Era clara a distinção entre alta cultura e cultura de massa, entre cultura burguesa e 
cultura operária, entre cultura erudita e cultura popular. Apesar da distinção, o termo cultura se 
aplicava primordialmente à alta cultura, cultura burguesa e cultura erudita.
Nesta visão, o termo cultura significa máxima expressão do espírito humano. Estado culti-
vado do espírito (visão essencialista do homem). Para Arnold (2006), cultura é o melhor que se 
Figura 6: Imagem 
Padre Cícero
Fonte: Disponível em 
<http://www2.opovo.
com.br/museujuazeiro/
padre-cicero>. Acesso em 
25 out. 2014.

17
Ciências da Religião - Culturas e Tradições Religiosas
pensou e disse no mundo, cultura de massa, cultura operária e cultura popular eram vistas como 
expressões menores e sem relevância no cenário elitista dos séculos XVIII, XIX e XX. Harmonia e 
beleza eram prerrogativas de uma cultura verdadeira: a alta cultura, a cultura burguesa e a cultu-
ra erudita. As culturas popular, operária e de massa pertenciam à classe trabalhadora vista como 
bárbara, ignorante e anárquica. Nessa concepção, somente a “verdadeira” cultura poderia apazi-
guar os ânimos desta classe.
Diante do crescimento das culturas popular, operária e de massa, defensores da “verdadei-
ra cultura” no século XX, pretenderam fazer frente ao suposto “declínio cultural”, à padronização 
da cultura e ao nivelamento por baixo. Movimentos em prol de uma universidade e escolas que 
atuariam em defesa da “verdadeira cultura” surgiram como forma de ensinar crianças e adultos a 
resistirem à cultura de massa.
Para Arnold (2006), cultura é uma expressão clássica do pensamento não igualitário. Este au-
tor defende a criação de uma cultura nacional homogênea para controlar a ameaça de violência, 
se fosse mantida a heterogeneidade cultural dos grupos minoritários. A proposta contribui para 
um projeto de modernidade europeia que reconhece e nega existência da heterogeneidade lin-
guística e cultural dentro de uma mesma nação. Em resumo, havia uma visão deste estudioso da 
cultura é preconceituosa, impregnada de distinções, hierarquias e elitismos segregacionistas. A 
cultura era vista como domínio exclusivo da erudição, da tradição literária e artística, de padrões 
estéticos elitizados.
1.5.1 Surgimento dos Estudos Culturais como Fator de Mudança na 
Concepção de Cultura
Após as duas guerras, parte do mundo encontrava-se em momento de questionamentos de 
ideologias, da relação entre nações ricas e pobres, das formas de dominação e, na academia das 
epistemologias dominadoras. O choque bélico, os milhões de mortos chamam a atenção para o 
conceito elitista de cultura. Será que esta pode ser conceituada a partir de pressupostos onde a 
dominação é considerada um paradigma a partir do qual sociedades devem ser construídas? 
Os E. C. surgem em meio à movimentação de grupos insatisfeitos com a ausência de demo-
cracia e com a falta de acesso à educação pela classe popular. Tais grupos buscam se apropriar 
de instrumentos conceituais, de saberes que emergem de suas leituras de mundo, repudiando 
conceitos e visões de mundo que se interpõem aos anseios por uma cultura democrática, assen-
tada na educação de livre acesso. Uma educação em que as pessoas comuns pudessem ter seus 
saberes valorizados e seus interesses contemplados.
Dessa forma, os Estudos Culturais fazem frente, desde seu início, às tradições elitistas que 
persistem na distinção e hierarquia entre cultura erudita e popular, alta cultura e cultura de mas-
sa, cultura burguesa e cultura operária. Cultura transmuta-se de um conceito impregnado de 
distinção, hierarquia e elitismos segregacionistas para, gradativamente, deixar de ser domínio ex-
clusivo da erudição, da tradição literária e artística, de padrõesestéticos elitizados e passa a con-
templar, também, o gosto das multidões. No plural – culturas – e adjetivado, o conceito incorpo-
ra novas e diferentes possibilidades de sentido. É assim que podemos nos referir, por exemplo, à 
cultura de massa, típico produto da indústria cultural ou da sociedade techno contemporânea, 
bem como às culturas juvenis, à cultura surda, à cultura empresarial, ou às culturas indígenas, ex-
pressando a diversificação e a singularização que o conceito comporta. Cultura deixa de ser algo 
que separa pessoas, grupos, etnias e passa a ter um sentido mais amplo.
Torna-se um conceito diversificado e, de certa forma, fragmentado. Qualquer grupo produz 
cultura, que é expressão de ser humano. Cada grupo possui especificamente sua forma de ex-
pressar sua humanidade. 
1.5.2 O Conceito Diversifica
Cada grupo tem sua singularidade cultural. A diversidade existe e o estudo sobre a cultu-
ra pode nos mostrar mais do que comportamentos habituais, que, à primeira vista, parecem dar 
identidade a um grupo. Pode nos orientar para o que se encontra velado e oculto, aquilo que nos 
foge da percepção. Nessa perspectiva, entendemos como Geertz (1989, p.15) vislumbra cultura, 
18
UAB/Unimontes - 4º Período
como um conjunto de significados e a sua análise. O homem, diz ele, encontra-se “amarrado a 
teias de significados que ele mesmo teceu”. Inferimos, portanto, que o homem se constrói mo-
ralmente, sua identidade é construída considerando as maneiras e modos como se relacionam e 
se amarram essas teias de significados. Não é possível pensar o processo de construção cultural 
como ausente de encontros conflituosos. O homem, ser dinâmico e mutável, significa e ressigni-
fica a realidade dialeticamente, dando-lhe sentido.
Sendo assim, sua cultura e identidade se processam em movimentos reais, em devir, em vir 
a ser. Em um movimento de difícil percepção, mas que o real causa mudanças e transformações.
1.5.3 Abordagem sobre a Cultura Na Pós-Modernidade
As complexidades do momento atual impedem que interpretações acerca da cultura e de 
seus universos ocorram de forma simples. A constante gama de informações, proveniente dos 
diversos cantos do mundo, produz encontros culturais frequentemente. Todas as vezes que nos 
conectamos com regiões do planeta distantes de nós, participamos de um encontro cultural. E, 
no momento do encontro, estranhamentos, identificações e reconhecimentos ocorrem. Cada vez 
mais frequentes os encontros culturais desafiam fronteiras que outrora eram claras e demarcadas.
Não há mais possibilidade de perceber onde culturalmente algo começa e termina. O mo-
mento atual é momento de continuun cultural, momento que contradiz noções de essencializa-
ção em relação à identidade. 
Dessa forma, falar de universos culturais somente considerando situações de misturas, mes-
tiçagens, sincretismos, diásporas, É preciso pensar em tradução e hibridismos. Cultura agora se 
vê considerada, como afirma Burke (2003, p.6), “em um sentido razoavelmente amplo de forma 
a incluir atitudes, mentalidades e valores e suas expressões, concretizações ou simbolizações em 
artefatos, práticas e representações”. Isto é, o termo cultura deve ser visto em toda sua dinâmica 
de elementos multiplicados nos encontros entre tradições.
Referências
ARNOLD, Matthew. [1869] Culture and Anarchy. London: Oxford World Classics, 2006.
BOSSI, A. A dialética da Colonização. São Paulo: Editora Ática, 1992.
BURKE, P. Uma História Social do Conhecimento: de Gutenberg a Diderot. Rio de Janeiro: Jorge 
Zahar, 2003.
GEERTZ, C. A interpretação das culturas. Rio de Janeiro: Guanabara, 1989.
AtividAde
Procure na cidade onde 
você mora manifesta-
ções da cultura popular, 
que se comemoram 
anualmente. Socialize 
suas descobertas no 
fórum de discussão 
correspondente.
19
Ciências da Religião - Culturas e Tradições Religiosas
UnidAde 2
O Fenômeno Religioso e suas 
Instituições no Substrato das 
Culturas: Direito, Política e 
Educação
Letícia Aparecida Ferreira Lopes Rocha
2.1 Introdução
Prezados (as) acadêmicos (as), na unidade 1 vocês estudaram o conceito de cultura e os ti-
pos de cultura construídos por mãos e mentes humanas, e também a religião como parte da cul-
tura, construção simbólica e humana. Pois bem, agora vamos imiscuir e ver a relação do fenôme-
no religioso com algumas instâncias da cultura e como se estabelecem essas relações. Para tal, 
dialogaremos com três instituições culturais: Direito, Política e Educação. Pontuaremos questões 
atuais concernentes a estas três instâncias que em muito contribuirão para a sua formação de 
cientista da religião e, também, como profissional de Educação Religiosa.
Nosso ponto de partida para analisar as instâncias às quais nos referimos será uma olhada 
sobre o termo secularização. Este tema é muito discutido e falado em nossa sociedade. Adver-
timos de antemão que não é um tema fácil, porém, instigante e atual, conforme veremos adian-
te. O estudo sobre a secularização nos permitirá perceber o espaço que a religião ocupa nesse 
tempo que alguns chamam de modernidade ou pós-modernidade ou, ainda, como o sociólogo 
britânico Antonny Giddens (1991) hiper-modernidade. 
Dessa forma, dividimos a unidade da seguinte forma: primeiro momento- Secularização e 
suas implicações na vida da sociedade. Segundo momento-Relação com o Direito. Terceiro mo-
mento-Relação com a Política. E quarto momento- Relação com a Educação.
2.2 Secularização-Conceito e suas 
Implicações na Vida da Sociedade
Talvez não seja demasiado dizer que a Ciência da Religião tem como característica princi-
pal o estudo do fenômeno religioso e suas peculiaridades. Lembrando que a religião nesse curso 
não se estuda dentro dos critérios da fé, mas, sim, da cientificidade. Entre os muitos fenômenos 
em nossa sociedade, o fenômeno religioso exerce grande fascínio e grandes especulações, so-
bretudo nos estudiosos que se dedicam a tal. Alguns fatores aumentam os estudos acerca do 
fenômeno religioso: o crescimento das mais variadas formas religiosas, o crescimento dos cha-
mados Novos Movimentos Religiosos, a busca das pessoas pela religião, e outros aspectos. 
Não temos notícias e nem conhecimento de alguma cultura, povo e sociedade que não 
houve alguma forma de expressão do fenômeno religioso. Dessa forma, podemos definir o fenô-
meno religioso como aquilo que aparece, fato, concreto, aquilo que está acontecendo. Assim, en-
tendemos que este fenômeno é expressão do ser humano, como já foi dito em outros momen-
tos, a religião é vivida e experimentada pela pessoa humana, é uma dimensão humana. Nesses 
GLoSSáRio
novos Movimentos 
Religiosos: Também 
utilizam-se as iniciais 
NMRs. Os NMRs são 
extremamente diversos. 
Considera-se NMRs 
este movimento que se 
tornou visível a partir da 
Segunda Guerra Mun-
dial, e como religioso se 
oferece não apenas um 
estamento teológico 
sobre a existência e 
sobre as coisas sobrena-
turais, mas se propõe a 
responder, no mínimo, 
a algumas questões 
últimas que, tradicio-
nalmente, têm sido 
endereçadas às grandes 
religiões. 
Fonte: GUERRIERO, Silas. 
novos Movimentos 
Religiosos. O quadro 
brasileiro. São Paulo: 
Paulinas, 2006.
20
UAB/Unimontes - 4º Período
termos, afirmamos que o elemento religioso é um produto que o próprio ser humano produz, re-
produz e vivencia. Nesse sentido, o fenômeno religioso se apresenta como um fenômeno plural 
e dinâmico, ou seja, acompanha os processos de mudança ocorridos em sociedade, uma vez que 
estão enraizados e são expressões das visões de mundo determinadas de um povo ou cultura.
Embora coloquemos a religião como um elemento humano, este também encontra-se nas 
esferas da sociedade e, como tal, se compreende como um fenômeno sociocultural, incutido em 
toda sociedade, não é possível estudar uma sociedade sem ater-se ao fenômenoreligioso exis-
tente em tal povo. No campo da sociologia, ciência que estuda a sociedade, encontramos as fi-
guras dos clássicos Émile Durkheim (1858-1917), Karl Marx (1818-1883), Max Weber (1864-1920) 
e Auguste Comte (1798-1857); este último considerado o fundador desta ciência. Temos outros 
pensadores modernos da sociologia, como o americano Peter Berger (1985); apoiaremo-nos em 
sua obra para a construção do conceito de secularização, conforme veremos posteriormente. To-
dos os sociólogos citados, cada um em seu tempo, contribuíram sobremaneira para entender a 
relação entre religião e sociedade, entre outros aspectos que envolvem a sociedade, todos fica-
ram convictos de que a religião ocupa um espaço significativo no meio social. Vale lembrar que 
não somente a sociologia debruçou em torno do fenômeno religioso, mas todas as ciências hu-
manas. Nesse estudo, privilegiamos o olhar da sociologia para analisarmos as questões que nos 
propomos a discutir.
Pois bem, munidos dessas considerações sobre o fenômeno religioso entramos no tema o 
qual apontamos no início desta unidade, a secularização.
Esses autores citados acima iniciaram suas reflexões sobre a sociedade, a partir da realida-
de europeia, exceto o sociólogo Peter Berger, que é americano. Os autores citados assistiram, no 
início da Idade Moderna, ao fenômeno da perda de hegemonia e da influência da religião nos 
meios da sociedade europeia. Alguns autores começaram a pensar que, com a chegada da mo-
dernidade, a religião acabaria por desaparecer da sociedade. A modernidade trouxe uma serie 
de inovações na vida da sociedade, grandes avanços inimagináveis antes, exemplos: tecnologia, 
indústrias, entre outros. A sociedade cada vez mais diferenciada no âmbito da política, da edu-
cação, da economia e da ciência. A todo este processo dá-se o nome de secularização. A mo-
dernidade trouxe consigo o fenômeno da secularização. Enfim, vamos entender o conceito deste 
termo, para que possamos prosseguir na discussão.
Secularização vem de mundo, mundanização. É um processo histórico que remonta ao sé-
culo XVI e XVII, período das chamadas guerras de religião, que desencadeou a Reforma Protes-
tante com as figuras de Martin Lutero (1483-1546), João Calvino (1509-1564) e Ulrico Zwinglio 
(1484-1531), que iniciaram um processo de protestos e denúncias aos abusos exercidos pela 
Igreja Católica. Vejamos, também, a definição proposta pelo sociólogo da religião Peter Berger,
Por secularização entendemos o processo pelo qual setores da sociedade e da 
cultura são subtraídos à dominação das instituições e símbolos religiosos. Quan-
do falamos sobre a história ocidental moderna, a secularização manifesta-se na 
retirada das Igrejas cristãs de áreas que antes estavam sob seu controle ou in-
fluência: separação da Igreja e do Estado (BERGER, 1985, p.119). 
Podemos perceber, a partir desta definição oferecida por Berger, que a secularização é um 
fenômeno global das sociedades modernas, ou seja, ocorre em todos os espaços, de modo prá-
tico podemos entender que as tradições religiosas e, sobretudo, o cristianismo, em sua versão 
católica, esteve atrelada ao Estado, com o processo de secularização essa denominação religioso 
perde sua hegemonia diante da sociedade e outras instâncias terão maior validade e visibilidade. 
Esse processo de secularização afetou todo o modo de vida no Ocidente, interferindo nas ações 
das tradições religiosas inseridas nesse universo. Religiões tradicionais, como o cristianismo cató-
lico e protestante, e o judaísmo sofreram maiores impactos e efeitos desse processo, devido ao 
processo de universalização dessas religiões, que ofereceu um sistema exclusivo de explicação 
para as realidades sociais e o sentido último da vida, o mesmo perdurou mais de um milênio. 
Com evento da secularização, estas verdades foram sendo questionadas, e o cristianismo começa 
a perder seu domínio e predomínio diante das esferas da sociedade. Como bem enfatizou Berger 
(1985), há uma ausência de conteúdos religiosos nas artes, na filosofia, na literatura e, sobretudo, 
nas ciências, isso diz respeito à autonomia do mundo secular.
Precisamos entender que o processo de secularização não afeta simplesmente o espaço 
das tradições religiosas, mas também a cultura vigente e, mais, a dimensão subjetiva da pessoa. 
No tocante ao subjetivo, Berger (1985, p.119) concebe o nome de secularização da consciência. 
Vejamos em que consiste a secularização da consciência, conforme o pensamento bergueriano 
(1985, p.119), “o Ocidente moderno tem produzido um número crescente de indivíduos que en-
21
Ciências da Religião - Culturas e Tradições Religiosas
caram o mundo e suas próprias vidas sem o recurso às interpretações religiosas”. Ou seja, as re-
ligiões assumem o segundo plano na vida da sociedade e das pessoas, tornando-se, assim, algo 
de foro íntimo e não mais coletivo, recolhe-se para a subjetividade. A religião, em meio a esse 
processo de secularização, torna-se algo estritamente pessoal, é preferência, escolha pessoal. Es-
clarecemos que, com a secularização, a religião institucionalizada entra em declínio, e as mais va-
riadas formas de crença encontram espaços, como é o caso dos Novos Movimentos Religiosos.
Uma conseqüência gerada pela secularização foi o pluralismo, chamado por Berger (1985) 
de pluralismo religioso, ou seja, as religiões não possuem mais o monopólio sobre a sociedade e 
suas esferas, dessa forma, surge o pluralismo, que possibilita às pessoas transitar pelas mais va-
riadas formas de expressão religiosa. Assim, cresce o mercado e a oferta religiosa, podemos ver 
isto nitidamente em nossas cidades, quantas igrejas abrem-se e fecham-se todos os dias, movi-
mentos religiosos na esteira dos Novos Movimentos Religiosos, conforme sinalizamos acima, o 
pluralismo religioso é uma realidade em nosso país. 
Após discorrermos sobre o fenômeno da secularização seu desafios e efeitos na sociedade e, 
também, no cerne das tradições religiosas, vamos discutir sobre algumas instituições da socieda-
de, a saber: Direito, Política e Educação e como essas se relacionam com a religião.
2.2.1 Religião e Direito
Em se tratando de direito, podemos afirmar que possui uma relação ora distante, ora pró-
xima, com a religião desde a antiguidade. Atribui-se o direito aos romanos, foi em Roma que se 
instituiu essa forma de orientar a conduta das pessoas em sociedade. A partir do século II a.C, 
ocorreu uma cisão entre religião e direito, este último auferiu autonomia, tornando-se assim um 
aparato jurídico. Passa, então, a ser reconhecido como área do conhecimento. Os povos e culturas 
que antecederam esse tempo não puderam experimentar qualquer forma de direito. Essa sepa-
ração realizada pelos povos romanos acompanhou a civilização Ocidental, até hoje percebemos 
nitidamente esse distanciamento entre religião e direito. Estão distantes, porém, sempre há cons-
tantes questões que entram em embates com esses dois binômios. Essa situação é bastante co-
nhecida e delimitada no Ocidente, no entanto, no Oriente podemos perceber que religião e di-
reito encontram-se entrelaçados, por exemplo, no Islamismo, para esta tradição religiosa não há 
separação entre Religião e Direito, ambos encontram-se juntos, no que diz respeito a orientar a 
vida e o agir dos adeptos, o livro sagrado, o alcorão, funciona como apêndice jurídico, é onde se 
extraem as normas de como viver em sociedade, relações familiares, questões financeiras e outras.
As normas jurídicas foram sendo instituídas e incrementadas por filósofos gregos, por filóso-
fos cristãos da Idade Média, como Santo Agostinho (354 d.C- 430 d.C) e Santo Tomás de Aquino 
(1225-1274). A religião pauta seus estudos em questões de ordem jurídica como meio, também, 
de justificar ações do divino. Nesse período não havia distinção e nem separação; o direito estava 
intimamente ligado à moral e também, ligadoa uma ideia religiosa. Com o advento do Renas-
cimento, a ideia do direito, conforme gerado pela Idade Média, adquire novos contornos, agora 
mais racionalista, ou seja, parte da razão. Nesse sentido, o direito começa ter novos ares, passa a 
◄ Figura 7: Secularização 
- a sociedade poderá 
viver sem Deus?
Fonte: Disponível em 
<http://www.paroquiasbj.
com.br>. Acesso em 25 
out. 2014.
AtividAde
Faça uma pesqui-
sa na cidade onde 
mora, na religião que 
você professa ou em 
outra, tente perceber 
traços do processo de 
secularização ocorridos 
nesses espaços, observe 
os discursos, trajes, 
tecnologia utilizada, a 
estrutura do ambiente, 
enfim, observe tudo o 
que considerar impor-
tante efeito de seculari-
zação no meio religioso. 
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experiência no fórum de 
discussão destinado.
22
UAB/Unimontes - 4º Período
ser reconhecido como lei. Na ótica da lei, o direito contribui para estabelecer ordem e harmonia 
na sociedade e entre as pessoas. Alguns fatos ocorridos na sociedade no século XX, como, por 
exemplo, o extermínio dos judeus, a 2ª Guerra Mundial, revolução sexual e feminina, movimen-
tos sócias. Estes fatos colocaram em cheque os direitos humanos. Dessa forma, o direito, na atua-
lidade, possui duas bases que são Os Direitos Humanos e a Constituição, ambos são o esteio que 
rege a sociedade, assegura a vida do ser humano em todas as suas fases.
Em se tratando de ser humano, as tradições religiosas possuem uma palavra de defesa. En-
tão, podemos depreender, a partir dessa breve exposição, a estreita relação entre o direito e a 
religião. A primeira parte de um aparato jurídico da lei para defender a vida, em contrapartida, o 
segundo parte de um princípio religioso para defender a vida. Essa relação por vezes é abalada 
diante de situações que, para algumas formas religiosas, fere a vida humana. Veremos no boxe 
abaixo um fato concreto de aborto de anencéfalos, ocorrido no Brasil, para percebemos essa re-
lação, e como a religião posiciona-se diante de tais questões.
BOX 1
Aborto de Anencéfalos
Um ano após decisão do StF, aborto de anencéfalos esbarra em entraves.
Gravidez de anencéfalos é considerada de alto risco. Passado um ano desde que o Supre-
mo Tribunal Federal autorizou o aborto em casos de gravidez de fetos anencéfalos- sem cére-
bro, pacientes brasileiras estão tendo acesso mais fácil ao procedimento, mas ainda há impor-
tantes deficiências a serem resolvidas, dizem médicos consultados pela BBC Brasil.
A decisão do STF- tomada em abril de 2012 e detalhada no mês seguinte em resolução 
do Conselho Federal de Medicina-tem forte oposição de grupos religiosos, que a vêem como 
um retrocesso das garantias do direito à vida.
Antes, mulheres grávidas de fetos sem cérebro tinham de pedir à justiça autorização para 
interromper a gestação, algo que podia ou não ser concedido pelo juiz.
“Em São Paulo, isso poderia levar de uma semana a dois ou três meses”, afirma o gineco-
logista Cristião Rosas, da Federação Brasileira de Ginecologia e obstetrícia. Atualmente, esse 
período foi reduzido há dias, caso a mulher decida pelo procedimento.
“Mas a rapidez não vem em primeiro lugar”, complementa o ginecologista Thomaz Gol-
lop, coordenador de um grupo de estudos sobre o aborto”. A paciente deve receber orienta-
ção psicológica e ter tempo de amadurecer sua decisão.
A dona de casa pernambucana Elisa-nome fictício, de 23 anos, descobriu estar grávida de 
um bebê anencéfalo no mês passado, seu quinto de gestação.
“Era uma menina, uma filha que eu desejei muito”, diz Elisa. “Chorei tanto. Fiz de novo o 
ultrassom e o médico falou que eu poderia interromper a gravidez. Decido interromper”.
 Mas o hospital procurado por Elisa, a 680 km de Recife, é dirigido por religiosos católicos, 
que negaram o procedimento. Elisa recorreu a uma prima, enfermeira em um hospital em Re-
cife, onde a jovem fez a antecipação terapêutica do parto.
Fonte: Paula Adamo Idoeta da BBC Brasil em São Paulo, 27 mai. 2013.
2.2.2 Religião e Política
Parece interessante evocar o significado genuíno da palavra política para que possamos com-
preender dentro dessa discussão a relação entre religião e política. Dessa forma, busquemos as ori-
gens da palavra política, vejamos o que nos oferece o Dicionário de Pensamento Contemporâneo,
Político (a) é o relativo a polis, termo com que os gregos designam a comunidade 
(koinonía) mais ampla, última, não englobada em outra posterior e superior, re-
sultante e condição da plena realização humana. Assim, a pólis reveste-se estru-
tural e formalmente de notas (autossuficiência, independência) que podem ser 
vistas em outras sociedades últimas, materialmente muito diferente. A idéia de 
pólis contém, em todo caso, um sentido de plenitude de convivência que já está 
ausente dos termos latinos civitas, civis, civilis, com os quais, literal e respectiva-
mente, traduzem-se: pólis, polités, politikós. Substantivando-se o termo política, 
(a política) será o conjunto, ordem ou esfera de todas as atividades e instituições, 
saberes e fazeres, que se referem especificamente, de um ou outro modo, à pólis 
(VILLA, 2000, p. 604).
23
Ciências da Religião - Culturas e Tradições Religiosas
O termo política carrega consigo a ideia de pólis que se traduz como comunidade, ou tam-
bém, sociedade. Em termos práticos e no âmbito do senso comum, diz respeito ao espaço públi-
co, ao bem comum. Quando direcionamos para o campo do conhecimento na chamada ciência 
política, esse termo significa forma de atuação de um governo em nível municipal, estadual ou 
na esfera federal, que é responsável por administrar as questões sociais, segurança, habitação, 
ambiental, saneamento básico, infraestrutura das cidades, enfim, tudo o que diz respeito ao bem 
público.
Mas a palavra política, no decorrer do tempo, foi angariando várias conotações negativas, 
e o sentido primeiro, de certa forma, é deturpado devido a ações ocorridas e manipulação, no 
que se refere ao bem público. No que concerne à relação entre religião e política, afirmamos que 
se apresenta como um desafio para as sociedades e, sobretudo no Brasil, pois historicamente o 
Estado possuía uma relação intrínseca com o poder público. Sobre esta questão, vejamos o que 
os historiadores Del Priore e Venâncio (2001, p.40) afirmaram: “O Brasil nasceu à sombra da cruz”. 
Para entendermos um pouco mais essa relação, vamos apresentar brevemente o regime de pa-
droado que foi estabelecido no Brasil através de um tratado entre a Igreja Católica e os reinos de 
Portugal e Espanha. O regime de padroado começa em Portugal no século no IV, chega ao Brasil 
no período da colonização e permanece até a Proclamação da República, em 1889; a partir desse 
momento, o Brasil passa a ser considerado um país laico, ou seja, sem existência e a influência de 
qualquer natureza religiosa. Afirmamos que o país laico não é um país ateu. Este regime consis-
tia no total domínio da Igreja Católica por meio do Rei ou Imperador. Era o rei responsável pelas 
construções de igrejas, nomear os bispos e padres.
O Estado brasileiro, ao tornar-se laico a partir da Proclamação da República em 1889, ocorre 
um distanciamento da esfera religiosa. Mas percebemos em vários períodos da história do Brasil 
resquícios dessa relação entre religião e o poder. Na história recente, acompanhamos a Assem-
bleia Constituinte ocorrida em 1988, onde foi perceptível essa relação e a influência de grupos 
religiosos, conforme veremos a seguir. 
A Assembleia Nacional Constituinte de 1988, marco na história do país, onde após 21 anos 
de ditadura militar, elaboram a constituição reconhecida como democrática. Neste período hou-
ve uma movimentação de evangélicos na assembleia contava com 26 deputados evangélicos, 
de variadas denominações religiosas, começando a formar a bancada evangélica. A Igreja Cató-
lica, que fora demasiadamenteinfluente na política do país nesse período, é considerada pou-
co atuante, se comparada à força dos evangélicos que temiam que a nova constituição pudesse 
declarar o Brasil como um país oficialmente católico. Até então, os evangélicos não se envolviam 
com política, eram, até então, avessos ao que se refere ao poder público. A partir desse momen-
to, foi crescendo cada vez mais a participação de evangélicos na política partidária, o envolvi-
mento nos meios de comunicação favoreceu o fortalecimento político. A Renovação Carismática 
Católica também tem se despontado e se lançado no âmbito da política partidária, cresceu o nú-
mero de adeptos que se lançam a cuidar do bem público. Vejamos box 2, onde consta a votação 
deste ano e o número de evangélicos eleitos.
BOX 2
Bancada evangélica
Bancada evangélica tem votação expressiva e cresce 14%
O resultado das urnas demonstrou que a comunidade evangélica se conscientizou em 
exercer a sua cidadania e buscou sua representatividade na política nacional. Segundo maté-
ria no site ‘O Globo’ desta quarta-feira (7/10), a bancada evangélica na Câmara crescerá 14% a 
partir do ano que vem, com os 80 deputados federais eleitos.
◄ Figura 8: Bancada 
Evangélica tem 
votação expressiva
Fonte: Disponível em 
<www.verdade Gospel.
com.br>. Acesso em 26 
out. 2014. 
24
UAB/Unimontes - 4º Período
Atualmente são 70 representantes, entre bispos, pastores e seguidores de igrejas. O au-
mento, ainda que menor que os 30% esperados pela Frente Parlamentar Evangélica, deverá 
tornar ainda mais difícil a aprovação de projetos ligados a causas de homossexuais ou em de-
fesa do aborto.
São Paulo, o maior colégio eleitoral do país, e Rio de Janeiro, o terceiro, elegeram a maior 
parte dos candidatos evangélicos: cada um dos estados terá 14 deputados. O Paraná vem em 
seguida, com oito. Ao todo, 39 deputados federais que hoje integram a Frente Parlamentar 
Evangélica não se reelegeram, mas alguns conseguiram fazer de parentes seus sucessores.
Entre os novos parlamentares, vários são apadrinhados por nomes de peso dentro de 
suas igrejas. Como é o caso de Sóstenes Cavalcante (PSD-RJ), eleito deputado federal, que 
contou com o apoio do pastor Silas Malafaia, líder da Assembleia de Deus Vitória em Cristo 
(Avec), em sua campanha.
“Dou cidadania há 28 anos, ensino como é o voto. Falo para o pessoal que é o voto da 
representação do segmento. Converso com esses caras e com vários deputados que não con-
taram com minha participação na campanha, que, mesmo assim, ligam para mim, agradecen-
do”, disse à reportagem o pastor Silas.
Alguns dos candidatos eleitos
Dos oito candidatos apoiados pelo pastor Silas Malafaia seis foram eleitos. São eles: (ree-
leito) deputado estadual Samuel Malafaia (PSD-RJ), com 140.148 votos, sendo 4º mais vota-
do; e demais deputados estaduais Lula Cabral (PSB-PE), com 50.886 votos, e Albert Dickson 
(PP-RN), com 37.461 votos. Para deputado federal: Sóstenes Cavalcante (PSD-RJ), com 104.697 
votos; Gilberto Nascimento (PSC-SP), com 120.044 votos, e Fábio Souza (PSDB-GO), com 
82.204 votos.
Pastor Silas agradece aos que votaram nos candidatos apoiados por ele e também aos 
irmãos que votaram em outros candidatos que nos representam.
Em Minas Gerais, pastor Flamarion Rolando, líder da Igreja Evangelho Quadrangular em 
Governador Valadares, apoiou dois candidatos que também foram eleitos. São eles: deputado 
federal Stefano Aguiar (PSB-MG), com 144.153 votos, e para deputado estadual Leandro Gena-
ro (PSB-MG), com 127.868 votos, sendo o 3º mais votado.
Deixe o seu comentário no verdade Gospel.
Fonte: TSE
2.2.3 Religião e Educação
Historicamente, falar de religião, educação é pensar o que cada uma dessas realidades re-
presenta na sociedade atual, em termos de relação individual, coletiva e, por que não dizer, trans-
cendental. Visto que cada uma destas perpassa a vida humana em suas várias dimensões. No 
tocante ao processo de educação nas sociedades, conceitua Brandão (1982, p.11): “a educação 
participa do processo de produção de crenças e idéias, de qualificações e especialidades que en-
volvem as trocas de símbolos, bens e poderes que, em conjunto, constroem tipos de sociedades”. 
A partir do pensamento proposto por Brandão, podemos perceber a importância do processo 
educacional na vida em sociedade. Este se apresenta como construtor de símbolos e poderes e 
podemos dizer até que é construtor de identidades. O Brasil participa desse processo de constru-
ção de identidade por meio da educação, conforme podemos perceber desde os primórdios da 
história do país. Os primeiros passos na área da educação se dão por meio da evangelização em-
preendida pelos padres jesuítas, estritamente ligada a catequizar os habitantes desta terra. De-
preendemos, a partir do exposto, que os binômios religião e educação caminham juntos, porém, 
atrelados ao cristianismo católico romano. Esta relação acompanha o desenvolvimento da edu-
cação, sobretudo, no âmbito da Educação Religiosa, que é área que nos interessa por ora; nesse 
sentido, apresentaremos alguns pontos e desdobramentos da relação entre Religião e Educação. 
Se você quer saber mais sobre a Educação Religiosa no Brasil, retome o caderno didático Meto-
dologia da Educação Religiosa I, onde encontrarão um abrangente histórico desta disciplina no 
Brasil. 
A educação, com seus inúmeros desafios e complexidades na atual conjuntura, exige cada 
vez mais profissionais que estejam em sintonia, ou melhor, comprometidos com a prática edu-
cacional dos educandos. Nesse sentido, a Educação Religiosa com a marca da Ciência da Reli-
25
Ciências da Religião - Culturas e Tradições Religiosas
gião quer ser um caminho de mudança na forma de conduzir os estudos acerca do fenômeno 
religioso no nível da educação básica. A Educação Religiosa firmada sobre as bases da Ciência da 
Religião supõe um estudo que visa à diversidade/pluralidade religiosa da qual vive nosso país, 
conforme apontou o último censo de 2010. Não há tendência para nenhum credo religioso, é 
um estudo sobre o fenômeno religioso e suas variantes na realidade na qual vivem os estudan-
tes. Ademais, a Educação Religiosa quer ser um espaço de construção e de aguçar o pensamento 
crítico de nossos adolescentes e jovens acerca de assuntos da atualidade que exigem uma com-
preensão e uma reflexão. Em consonância com esta discussão, trouxemos para este estudo, a tí-
tulo de exemplo, a Lei 10.639 do governo federal, sancionada em 9 de janeiro de 2003, que diz 
respeito à inclusão nos currículos do Ensino Fundamental e Médio das escolas públicas e priva-
das o estudo sobre a História da África e Africanos, como meio de entender e valorizar a cultura 
afro-brasileira.
BOX 3
Lei 10.639
Presidência da República Casa Civil Subchefia para Assuntos Jurídicos 
Lei no 10.639, de 9 de JAneiRo de 2003.
Mensagem de veto
Altera a Lei no 9.394, de 20 de dezembro de 1996, que 
estabelece as diretrizes e bases da educação nacional, 
para incluir no currículo oficial da Rede de Ensino a 
obrigatoriedade da temática "História e Cultura Afro
-Brasileira", e dá outras providências.
        o PReSidente dA RePÚBLiCA Faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu 
sanciono a seguinte Lei:
        Art. 1o A Lei no 9.394, de 20 de dezembro de 1996, passa a vigorar acrescida dos se-
guintes arts. 26-A, 79-A e 79-B:
“Art. 26-A. Nos estabelecimentos de ensino fundamental e médio, oficiais e particulares, 
torna-se obrigatório o ensino sobre História e Cultura Afro-Brasileira.
§ 1o O conteúdo programático a que se refere o caput deste artigo incluirá o estudo da 
História da África e dos Africanos, a luta dos negros no Brasil, a cultura negra brasileira e o ne-
gro na formação da sociedade nacional, resgatando a contribuição do povo negro nas áreas 
social, econômica e política pertinentes à História do Brasil.
§ 2oOs conteúdos referentes à História e Cultura Afro-Brasileira serão ministrados no âm-
bito de todo o currículo escolar, em especial nas áreas de Educação Artística e de Literatura e 
História Brasileira.
§ 3o (VETADO)”
“Art. 79-A. (VETADO)”
“Art. 79-B. O calendário escolar incluirá o dia 20 de novembro como ‘Dia Nacional da 
Consciência Negra’.”
Art. 2o Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação.
        Brasília, 9 de janeiro de 2003; 182o da Independência e 115o da República.
LUIZ INÁCIO LULA DA SILVA
Cristovam Ricardo Cavalcanti Buarque
Este texto não substitui o publicado no D.O.U. de 10.1.2003
Fonte: Disponível em <www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2003/l10.639.htm>. Acesso em 26 out. 2014. 
Esta lei surge para valorizar o legado da cultura africana em nossa cultura brasileira, além de 
contribuir para o conhecimento e a valorização, ademais, reconhece o dia 20 de novembro como 
o Dia Nacional da Consciência Negra, dia em que celebramos a morte de Zumbi dos Palmares-lí-
der quilombola, este dia é considerado de luta contra a discriminação e o preconceito racial. A 
inclusão da história da África no currículo escolar é uma oportunidade de reconhecer que a cul-
tura africana foi importante na construção e formação da sociedade brasileira. O estudo não se 
restringe somente à disciplina de história e demais áreas, conforme aponta a lei, mas também a 
26
UAB/Unimontes - 4º Período
disciplina de Educação Religiosa tem muito a dizer sobre a cultura afro-brasileira, e pode contri-
buir com valiosas reflexões em vários aspectos concernentes a esta, mas, sobretudo, as religiões 
de origem afro existentes no Brasil, e, também, contribuir para um entendimento dessa tradição 
religiosa, e diminuição da intolerância religiosa ocorrida com pessoas adeptas dessas religiões. 
Referências
BERGER, P. o dossel sagrado. elementos para uma teoria sociológica da religião. São Paulo: 
Paulus, 1985.
BRANDÃO, C. R. o que é educação. 5. ed. São Paulo: Brasiliense, 1982.
DEL PRIORE, M; VENÂNCIO, R. P. o livro de ouro da história do Brasil: do descobrimento à glo-
balização. Rio de Janeiro: Ediouro, 2001, p. 40.
GIDDENS, A. Conseqüências da modernidade. São Paulo: UNESP, 1991. 
GUERRIERO, S. novos Movimentos Religiosos. o quadro brasileiro. São Paulo: Paulinas, 2006.
VILLA, M. M. dicionário de Pensamento Contemporâneo. São Paulo: Paulus, 2000.
diCA
Uma boa sugestão 
de leitura é a coleção 
História Geral da África 
para compreensão des-
ta temática, o mesmo 
está disponível on line 
para download gratuito 
em <http://www.domi-
niopublico.gov.br>.
27
Ciências da Religião - Culturas e Tradições Religiosas
UnidAde 3
Procissões e Peregrinações no 
Mundo e no Brasil
Ângela Cristina Borges
Letícia Aparecida Ferreira Lopes Rocha
3.1 Introdução
Nesta unidade, estaremos abordando sobre as procissões e peregrinações, práticas religio-
sas que expressam não somente a pertença religiosa, mas, sobretudo, as religiosidades indivi-
duais e coletivas. Estas práticas retratam, em certa medida, a crença no homem de que o(s) sa-
grado(s) percebe(m) a dedicação e o sacrifício humano. A resposta do(s) sagrado(s), acredita o 
homem, muito provavelmente será em forma de benesses para o homem. No entanto, não po-
demos reduzir ritos como este apenas a uma troca entre homem e sagrado(s). Necessário é dizer 
que o homem religioso, adepto de tais práticas, necessita do desprendimento espiritual, físico, 
emocional e psicológico exigidos por tais ritos como forma de reviver a si mesmo e ao sagrado.
Nesse sentido, o presente texto nos conduzirá a conhecer as expressões de fé realizadas por 
adeptos do Brasil e do mundo expressas por meio das procissões e peregrinações. Acompanhe-
mos o estudo!
3.2 Procissões
O termo procissão vem do verbo latino procedere e carrega os significados de “ir adiante”, 
avançar, caminhar. Enquanto rito religioso e nas tradições cristãs, as procissões fazem parte da 
religiosidade popular não prevista no texto sagrado. Sua origem é moderna. Apesar de não pre-
vista na Bíblia (2008), um dos textos sagrados, isto é, apesar de não exigida enquanto obrigato-
riedade, no texto bíblico existem narrativas sobre as mesmas, como a entrada de Jesus em Jeru-
salém, a condução da Arca da Aliança por Davi para Jerusalém. Esses são exemplos que podem 
ser encarados como procissões. Talvez a interpretação popular cristã tenha enxergado nestes ou 
em outros exemplos legitimidade a ponto de transformar marchas e caminhadas em ritos reli-
giosos. Vejamos algumas passagens bíblicas que concedem à religiosidade popular legitimidade 
para institucionalizar as procissões, considerando, neste caso, institucionalização enquanto há-
bito constante: “Que alegria quando me disseram: vamos à casa do Senhor” (Salmo 122:1). 
“dentro de mim derramo a minha alma ao lembrar-me de como eu ia com a multidão, 
guiando-a em procissão à casa de deus..” (Salmo 42:4) (BÍBLIA, 2008).
Sobre ritos coletivos, Durkheim (1954) chamou a atenção para o entusiasmo, o delírio e a 
força que as emoções coletivas exercem no comportamento dos indivíduos. As procissões, en-
quanto práticas religiosas, retratam a subjetividade humana grata pelo pedido atendido e se ex-
pressa de forma tal que pode levar à Histeria. O comportamento nas procissões é contagiante e 
coletivamente determina como o indivíduo deve se comportar. É necessário demonstrar o louvor 
com fervor.
Dessa forma, os indivíduos sentem-se ligados. Há uma coesão social, um consenso em tor-
no do mesmo objeto que proporciona totalidade, proporciona o sentimento de pertencimento 
à mesma sociedade. No entanto, é importante ressaltar que, por mais popular que seja uma pro-
cissão, ela reflete o estado de divisão social. Há nelas hierarquias religiosa e civil, povo e autorida-
des forma uma massa não tão ligada como parece. De posse e conhecimento do significado de 
procissão, vamos conhecer algumas dessas praticadas entre nós.
28
UAB/Unimontes - 4º Período
3.2.1 Procissões mais Conhecidas
Folia de Reis: a Folia de Reis é um festejo do catolicismo popular, são “danças, procissões 
e cortejos que representam a viagem feita pelos três Reis Magos do Oriente em busca do Meni-
no Jesus, guiados pela estrela-guia” (CORTES, 2000, p.34). Trazida pelos colonizadores, a Folia de 
Reis em Portugal caracterizava-se pela doação de presentes ao povo, regada por cantos e danças, 
marcando o fim das festividades do Natal. Com a Folia de Reis, os presépios de natal são desmon-
tados, marujos e pastorinhas se apresentam entoando cantigas e executando danças.
No Brasil, é uma festa rural, mas cada vez observa-se que grandes centros têm procurado 
resgatá-las. Está cada vez mais presente nas comunidades rurais, nos interiores das fazendas. Mi-
nas Gerais, Goiás e estados do Nordeste são os lugares onde é possível encontrar a Folia de Reis. 
No grupo de foliões em procissão, destacam-se homens mascarados (Três reis magos), palhaços 
(Herodes). Segue-os o mestre, os tocadores, os cantores e o porta-bandeira.
A participação no grupo de foliões segue algumas regras: ser homem, participar durante 
sete anos de comemorações e, quem sair antes, acredita-se, receberá castigos. Após sete anos, o 
folião pode se tornar mestre.
Em geral, o participante almeja “pagar uma promessa” ou realizar pedidos. Na Folia de Reis, 
o Menino Jesus é o grande símbolo. Em torno de sua representação religiosa, a festa se realiza, 
sendo as procissões e peregrinações ocorridas durante a noite. As procissões ocorrem com os 
foliões visitando casas de moradores que acreditam receberem bênçãos com as visitas. Os cantos 
são pedidos de proteção e benção aos moradores da casa visitada. Após a procissão, inicia-se o 
lado profano da festa que ,dependendo da região o lundu, o batuque de viola e a chula são gran-
des atrações. 
Pode-se dizer que a festaem procissão é instrumento de permanência da cultura popular. 
Instrumentos cada vez menos utilizados são resgatados, como a viola caipira de 12 cordas, as cai-
xas de folias e o cavaquinho. Por outro lado, são garantia de permanência religiosa, uma vez que 
grande parte das músicas são extraídas do Novo Testamento.
A marcha para Jesus: evento patrocinado pela Igreja Renascer em Cristo, fundada em São 
Paulo em 1986. A Marcha para Jesus cresceu nos últimos anos se estendendo a diversas cidades 
brasileiras. É um evento evangélico interdenominacional com uma grande passeata acompanha-
da de shows gospel.
Os evangélicos dizem se fundamentar em textos bíblicos para justificar a grande passeata. 
Acreditam que o evento é um ato de obediência a Deus e realização de sua vontade. Para a igre-
ja Renascer, a Marcha acaba por ser uma declaração teológica, isto é, uma declaração de que a 
Igreja de Jesus está forte e viva. Publicamente assumem serem discípulos de Deus. Espontânea e 
alegre, expressa declarações de amor e dedicação a Deus. 
No entanto, traz uma ideologia da conversão, o que não retira de sua substancialidade a 
ideia de consciência espiritual. Ao conseguir concentrar um maciço número de pessoas, a Mar-
Figura 9: Folia de Reis
Fonte: Disponível em <ht-
tps://www.google.com.
br/search?q=folias+de+r
eis&biw=1366&>. Acesso 
em 30 out. 2014.

29
Ciências da Religião - Culturas e Tradições Religiosas
cha impõe, em certa medida, ideais evangélicos ao declarar que Jesus é o Senhor do Brasil. Nesse 
sentido, ignora a diversidade religiosa, apesar, de nos últimos anos, ter adquirido características 
que acolhem pessoas de outras religiões. 
Na verdade, a Marcha também tem cunho político, uma vez que lança na mídia imagens dos 
evangélicos projetando-os a nível nacional. Consegue reunir pessoas de várias denominações 
cristãs, que são aconselhadas a, durante a Marcha, não discutirem questões doutrinárias.
O alcance nacional deste evento tem chamado a atenção para o mesmo, que tem sido usa-
do para afirmação de posições doutrinárias, como a não aceitação de uniões homoafetivas. 
Círio de nazaré - É uma das procissões da tradição cristã católica mais populares e conheci-
das no Brasil e, também, no mundo, por sua grandiosidade e alcance no número de fiéis. Ocorre 
na cidade de Belém do Pará, região norte do país, no segundo domingo do mês de outubro, ca-
minham 3,6 quilômetros a pé, carregando a imagem da santa. Neste trajeto há diversas manifes-
tações de devoções, cantos, rezas, palmas, pedido de orações, as ruas por onde percorre a procis-
são são ornamentadas pelas pessoas. Segue na procissão junto à imagem da santa, uma corda 
que mede entre 350 a 400 metros e pesa mais ou menos uma tonelada. Segundo os fiéis, segurar 
quer dizer que há um elo de ligação entre a Nossa Senhora e o devoto que participa daquele ato 
religioso.
◄ Figura 11: Festa Círio 
de Nazaré.
Fonte: Disponível em 
<http://www.troppos.
worpress.com>. Acesso 
em 30 out. 2014.
◄ Figura 10: Marcha para 
Jesus
Fonte: Disponível em 
<http://ultimosegun-
do.ig.com.br/brasil/
marcha+para+Jesus>. 
Acesso em 30 out. 2014.
30
UAB/Unimontes - 4º Período
Procissão do Fogaréu - Esta tradicional procissão ocorre no âmbito cristianismo católico na 
sexta-feira chamada pelos adeptos de santa, sendo o dia em foi morto a figura de Jesus. Há al-
guns lugares que realizam a procissão na quarta ou quinta-feira santa. Nesse sentido, a procissão 
tem a função de reviver os últimos momentos de vida de Jesus, sua condenação e prisão. Para 
tal, os participantes vestem traje especial, são sempre homens e utilizam capuz branco na ca-
beça, representando os soldados romanos, confira o traje na figura seguir, e assim encenam os 
momentos finais de Jesus.
Tem origem no Estado de Goiás e se espalha por outros Estados brasileiros, com uma ex-
pressiva participação de fiéis, estipula que participam um número aproximado de 10 mil pes-
soas. Todos acompanham com muita devoção e também emoção, pois para muitos reviver esse 
momento é entrar em sintonia com Deus e pedir perdão pelos pecados cometidos, durante a 
procissão são entoados cantos e orações. 
3.2.2 Peregrinações no Mundo e no Brasil
Houve, nos últimos tempos, um aumento e interesse de especialistas nos estudos acerca das 
peregrinações religiosas ocorridas em nível nacional e internacional, isso justifica o aumento no 
número de pessoas que procuram por essa forma de experiência religiosa. Exatamente falamos 
de experiência religiosa, as peregrinações empreendidas pelas pessoas adeptas de determina-
do credo religioso caracteriza-se pelo desejo e anseio de contato com uma realidade que supera 
a própria existência. E, nesse momento da história humana, quando a experiência religiosa está 
em alta, e as pessoas buscam por diversas formas de experiência com o sagrado, é interessante 
lançarmos um olhar para as peregrinações que ocorrem em muitas partes do mundo. 
É comum em nossas cidades vermos anúncios com ofertas de viagens a lugares conside-
rados sagrados. O Porquê destas ofertas? O que pode proporcionar aos crentes tal prática? O 
que significa peregrinação, de onde surge tal forma de contato com o sagrado? Qual a relação 
deste com o turismo? Quais são as rotas de peregrinações mais visitadas no Brasil e no mun-
do? Caros acadêmicos, essas são algumas questões que nos propomos a discutir neste item, 
acompanhemos.
Mas, para entendermos o momento presente das peregrinações, convido vocês a voltar-
mos alguns séculos atrás para buscarmos as possíveis (pois não encontramos relatos sobre a ori-
gem das peregrinações, mas sabemos que existe desde a Pré-história; em várias culturas e povos 
ocorre esse evento, e é recorrente em todas as tradições religiosas). Mais precisamente, voltare-
mos à Idade Média, século XI e XII, ao movimento que ficou conhecido como as Cruzadas.
As Cruzadas foram um movimento empreendido pelos cristãos no período citado acima, 
com o intuito de retomar a Terra Santa. Em toda a Idade Média, a peregrinação de fiéis cristãos 
aos locais onde a personalidade Jesus nasceu, viveu e executou sua missão considerada salvífica 
foi uma prática recorrente. A partir do ano 638, essa prática começou a ser ameaçada em função 
da expansão dos povos árabes que eram muçulmanos, e tempos depois, os turcos que também 
eram muçulmanos, estabeleceram-se em Jerusalém. Esses dois grupos instalados na terra santa 
começaram a perseguir os cristãos que faziam visitas aos locais sagrados. Essa situação foi um 
fator de tensão e preocupação entre os cristãos, em certa medida, causou instabilidade na supre-
AtividAde
Apresentamos aqui ape-
nas alguns exemplos de 
procissões que ocorrem. 
Verifique, na sua cidade, 
quais são as procis-
sões que acontecem 
anualmente, faça uma 
pesquisa e socialize no 
fórum de discussão.
Figura 12: Procissão do 
Fogareú
Fonte: Disponível em 
<http://cljornal.com.br>. 
Acesso em 25 out. 2014.

31
Ciências da Religião - Culturas e Tradições Religiosas
macia cristã. O papa Urbano II convocou uma 
expedição para realizar a tomada da Palestina 
dos turcos que, nesse momento, haviam con-
quistado o espaço. O Papa alegava, entre ou-
tras questões, incentivar os cristãos do Ociden-
te à guerra, uma vez que as Cruzadas saem do 
Ocidente em direção às terras do Oriente.
Em suma, as Cruzadas foram um movi-
mento que envolveu homens, mulheres, crian-
ças, camponeses, mendigos, europeus de to-
dos os níveis, com o único intuito de defender 
a fé cristã. Essa prática foi responsável pela ex-
pansão das sociedades, o aumento do comér-
cio, contato com povos diversos, e fim da socie-
dade feudal. 
Prezados cursistas, após conhecermos e 
buscarmos uma possível fonte originária de 
onde emana essa forma de contato com o sa-
grado, que é a peregrinação, voltemos às ques-
tões

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