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286-antropologia-filosofica-e-sociologica

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A
Antropologia 
Filosófi ca e 
Sociológica
José Adir Lins Machado
Wilson Sanches
Edson Elias de Morais
Maria Eliza Correa Pacheco
Antropologia filosófica 
e sociológica
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) 
A636 Antropologia filosófica e sociológica / José Adir Lins 
 
 ISBN 978-85-8482-171-6
 1. Antropologia. 2. Antropologia filosófica. 3. 
Antropologia sociológica. I. Machado, José Adir Lins. II. 
Título
 CDD 306
Machado ... [et al.]. – Londrina: Editora e Distribuidora 
Educacional S. A., 2015.
 186 p.
© 2015 por Editora e Distribuidora Educacional S.A 
Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida 
ou transmitida de qualquer modo ou por qualquer outro meio, eletrônico ou mecânico, 
incluindo fotocópia, gravação ou qualquer outro tipo de sistema de armazenamento e 
transmissão de informação, sem prévia autorização, por escrito, da Editora e 
Distribuidora Educacional S.A.
Presidente: Rodrigo Galindo
Vice-Presidente Acadêmico de Graduação: Rui Fava
Diretor de Produção e Disponibilização de Material Didático: Mario Jungbeck
Gerente de Produção: Emanuel Santana
Gerente de Revisão: Cristiane Lisandra Danna
Gerente de Disponibilização: Nilton R. dos Santos Machado
Editoração e Diagramação: eGTB Editora
2015
Editora e Distribuidora Educacional S. A. 
Avenida Paris, 675 – Parque Residencial João Piza
CEP: 86041 -100 — Londrina — PR
e-mail: editora.educacional@kroton.com.br 
Homepage: http://www.kroton.com.br/
Unidade 1 | O surgimento da antropologia filosófica
Seção 1 - Surgimento e evolução do homem
1.1 | A origem das instituições
Seção 2 - Antropologia antiga e medieval
2.1 | Sócrates e a psique, o logos
2.2 | Platão: o homem, corpo e alma acidental
2.3 | Aristóteles, o homem é unidade
2.4 | O homem segundo a visão cristã
2.5 | A contribuição de Agostinho de Hipona
Seção 3 - Antropologia moderna e contemporânea
3.1 | Subjetividade e existencialismo
3.2 | Kierkegaard e o homem angustiado
3.3 | Nietzsche e o Übermensch
3.4 | Martin Heidegger: o homem é um ser para a morte
3.5 | Sartre: a existência precede a essência
3.6 | Max Scheler e o homem que se projeta
Unidade 2 | O surgimento da antroplogia sociológica
Seção 1 - Especificidade da ciência antropológica
1.1 | O que é isto que chamamos de Antropologia?
Seção 2 - Antropologia física
2.1 | Antropologia e biologia para compreensão do homem
Seção 3 - Antropologia cultural e social
3.1 | Relação entre antropologia cultural e antropologia social
3.2 | Evolucionismo cultural
3.3 | Difusionismo cultural
3.4 | Funcionalismo
3.5 | Estruturalismo
3.6 | Antropologia da prática e a visão de Marshal Sahlins
3.7 | Desafios de uma antropologia histórica
Seção 4 - Antropologia brasileira
4.1 | Algumas contribuições teóricas da antropologia brasileira:
Gilberto Freyre e a contribuição luso-brasileira à humanidade
4.2 | Algumas contribuições teóricas da antropologia brasileira:
Darcy Ribeiro e o povo brasileiro
Sumário
7
11
14
19
20
22
25
26
28
31
31
33
36
38
40
41
53
57
57
65
65
71
71
72
75
76
78
80
80
85
85
88
Unidade 3 | Os principais problemas antropológicos
Seção 1 - O desenvolvimento da pesquisa de campo como condição 
e método antropológico
1.1 | O problema do método antropológico
Seção 2 - A Antropologia e seus problemas
2.1 | Diversidade cultural
2.2 | Natureza versus cultura
2.3 | Cultura, ação e estrutura
99
103
103
113
113
122
129
Unidade 4 | O ser humano e suas manifestações
Seção 1 - O ser humano e suas manifestações significativas
1.1 | Processos e manifestações culturais
Seção 2 - Antropologia: pós-colonialismo e pósmodernidade
2.1 | Antropologia contemporânea
Seção 3 - Manifestações culturais contemporêneas – etnicidade
3.1 | Etnicidade
145
149
149
161
161
173
173
Apresentação
Olá pessoal! No livro “Antropologia Filosófica e Sociológica”, nós estudaremos, 
na Unidade I, os aspectos da Antropologia Filosófica. Neste sentido teremos 
como objeto de estudo a origem, a natureza e o destino do homem, bem como 
o seu lugar no universo. O desafio está em se tentar descobrir qual é a essência 
humana, sob a ótica filosófica. Quando falamos de essência humana, estamos 
nos referindo à natureza de cada coisa. A interrogação sobre o que é o homem 
é algo que se questiona desde os primórdios da cultura ocidental. Foi Sócrates 
um dos primeiros filósofos a estudar o homem. Para ele o homem é alguém que 
pode responder com racionalidade a uma indagação racional. Nesta perspectiva 
perpassaremos pelas questões como o surgimento e evolução do homem; a 
Antropologia antiga e medieval, ou seja, estudaremos o modo como os primeiros 
filósofos, sobretudo Sócrates, Platão e Aristóteles, refletiram sobre o homem, 
seus problemas, seus valores e como definiram e entenderam o ser humano e 
sua essência. Contemplaremos pensadores que vão de Descartes à Heidegger e 
Sartre, e as contribuições de Kierkegaard e Nietzsche e finalizando, a compreensão 
antropológica contemporânea de acordo com Max Scheler.
Na Unidade II estudaremos a Especificidade da Ciência Antropológica, a 
Antropologia Física; a Antropologia Social e Cultural, cuja discussão contemplará 
as diversas correntes teóricas da antropologia dentro desta área. Finalizando esta 
unidade perpassaremos pela Antropologia Brasileira em que veremos os principais 
pressupostos da antropologia e seu caminho teórico percorrido no Brasil.
Na Unidade III perpassaremos pelos principais problemas antropológicos. 
Tendo a Antropologia como uma chave para a compreensão do homem e 
consequentemente, considere-se este como um emaranhado de problemas que 
interessam a muitos campos de estudos, passaremos assim, a referir-se à natureza 
e aos questionamentos sobre sua própria essência.
Na Unidade IV, a proposta do livro de antropologia é iniciá-lo na jornada das principais 
tendências de análise do pensamento sobre as diversidades culturais e também, propiciar 
um breve panorama das reflexões e pesquisas da antropologia contemporânea.
Desejamos um excelente estudo aos nossos estudantes e leitores desta obra 
cujos autores do livro alvitram a ampliação dos conhecimentos dentro da Filosofia 
Antropológica e Sociológica.
Prof. Sergio de Goes Barboza
Unidade 1
O SURGIMENTO DA 
ANTROPOLOGIA FILOSÓFICA
Contextualizaremos, dentro das descobertas apresentadas pelos estudos 
da evolução humana, o aparecimento do homem de acordo com uma 
perspectiva racional, biológica e evolutiva visando compreender a formação 
psicológica, afetiva e cognitiva da nossa espécie, bem como os seus avanços 
e retrocessos no processo evolutivo e na configuração atual do mundo e da 
vida dos seres humanos.
Apresentaremos o modo como os primeiros filósofos, sobretudo 
Sócrates, Platão e Aristóteles, refletiram sobre o homem, seus problemas, 
seus valores e como definiram e entenderam o ser humano e sua essência. 
Também apresentaremos a compreensão cristã acerca do homem e sua 
realidade e as contribuições mais relevantes, sobretudo ao que concerne à 
Seção 1 | Surgimento e evolução do homem
Seção 2 | Antropologia antiga e medieval
Objetivos de aprendizagem: 
Nesta unidade pretendemos apresentar as noções gerais acerca da 
antropologia, o seu surgimento e a pertinência da reflexão sobre esse tema 
desde a Grécia antiga até os dias atuais e também os principais problemas 
tratados por essa esfera, bem como as contribuições mais relevantes dos 
grandes filósofos ligados ao assunto, ao longo da história e do desenvolvimento 
dessa disciplina. Estaremos, portanto, tratando do homem, sua evolução, os 
desdobramentos e os impactos da cultura e a relevância do contexto sobre 
a vida humana.
José Adir Lins Machado
O surgimento da antropologia filosófica
U1
8
Abordaremos o panorama da antropologia contemporânea com ênfase 
às questões existenciais, passando pelo subjetivismo e existencialismo, de 
Descartes a Heidegger e Sartre – e ascontribuições de Kierkegaard e Nietzsche 
– e encerraremos com a abordagem acerca da compreensão antropológica 
contemporânea de acordo com o pensamento de Max Scheler.
Seção 3 | Antropologia moderna e contemporânea
valorização da subjetividade, com o intuito de percebermos uma 
crescente na concepção de homem e, posteriormente, do conceito de 
pessoa humana.
O surgimento da antropologia filosófica
U1
9
Introdução à unidade
A palavra homem em língua grega se diz anthropos (άνθρωπος); e a palavra razão 
se diz logos (λόγος). O vocábulo logos também tem o sentido de estudo, descrição, 
narrativa e palavra. Portanto, a palavra antropologia é, etimologicamente, o estudo do 
homem. Diante disso, buscaremos abordar esta área, mesmo que superficialmente, 
desde o surgimento do fenômeno humano até a reflexão mais elaborada sobre a 
existência humana e os principais problemas a ela pertinentes.
“Homem, conhece-te a ti mesmo” era o lema socrático e mote de suas indagações 
e reflexões filosóficas. Essa sentença encontrava-se no pórtico do templo de 
Delfos e foi adotada por Sócrates (470-399 a. C.) como guia de suas buscas pelo 
conhecimento verdadeiro. Tal recomendação tem sentido de ser, pois segundo Carl 
Gustav Jung (1875-1961), psiquiatra e psicoterapeuta suíço, 95% das pessoas passa 
95% de suas vidas de modo inconsciente. Além disso, podemos perceber que em 
situações extremas não temos clareza de nossos atos ou de nossas reações. Em 
determinadas situações, é comum ouvirmos as pessoas alegarem que não entendem 
porque agiram como agiram. Um exemplo clássico pode ser as pessoas que reagem 
aos assaltos, mesmo tendo sempre sustentado que não se deve reagir. Ou seja, o 
homem foi, é e talvez sempre seja um mistério; e a primeira demonstração disso é 
que, apesar de tanta evolução, ainda não conseguimos entender e explicar de onde 
viemos, quando viemos e porque viemos; até quando ficaremos aqui e para onde 
iremos, se é que iremos para algum lugar.
Alguns filósofos procuraram definir o homem e vejam o que conseguiram: 
Protágoras de Abdera (480-410 a. C.) dizia que “o homem é a medida de todas as 
coisas”; Platão (428-347 a. C.) nos deu uma definição bastante estranha “o homem 
é um bípede implume”; Ludwig Feuerbach (1804-1872) nos lembra que “o homem 
é aquilo que come”; José Ortega y Gasset (1883-1955) sustentava que “o homem é 
ele e suas circunstâncias; Para Martin Heidegger (1889-1976) “o homem é um ser 
para a morte”. 
Fugindo um pouco à linha dos pensadores temos também um grande poeta 
que se refere ao ser humano alegando que “somos feito da mesma matéria de 
nossos sonhos”, estamos nos referindo a William Shakespeare (1564-1616), o qual, 
possivelmente sinaliza que a nossa essência não se reduz ao aspecto material, mas 
vai além e se encontra naquilo que temos de mais genuíno, a nossa personalidade, 
nossos pensamentos, sentimentos, sonhos e projetos.
O surgimento da antropologia filosófica
U1
10
Porém, a definição clássica nos foi legada por Aristóteles (364-322 a. C.): “o 
homem é um animal racional”. Além dessa definição, o Estagirita (apelido de 
Aristóteles) também afirmou que o homem é um animal político, zoon politikon 
(Πολιτική ζώων). Diante de tudo isso não seria exagero afirmar que o homem é à 
medida que pensa; ou seja, o homem é aquilo que tem em sua mente.
O surgimento da antropologia filosófica
U1
11
Seção 1
Surgimento e evolução do homem
Prezado(a) leitor(a)! Nessa seção vamos buscar apresentar como o homem 
chegou onde chegou; as fases pelas quais passou, como a evolução foi acontecendo 
ao longo de séculos e até milênios e como foi se formando a nossa cultura e o nosso 
modo de compreender o mundo, bem como as cidades e instituições e os maiores 
legados e conquistas humanas. 
Inicialmente é bom lembramos que até chegar ao ponto de definir a si próprio, 
o homem teve uma longa caminhada desde o seu surgimento. Entende-se que o 
homem surgiu como tantos outros animais, mas aos poucos e muito lentamente foi 
evoluindo até chegar ao que hoje conhecemos. O homem é um dos animais mais 
frágeis – se não o mais frágil – da natureza, no sentido de que não foi dotado de garras 
e presas, ou força física descomunal para enfrentar os outros animais. Além disso, é 
muito mais dependente de seus progenitores do que qualquer outro animal. Nossos 
filhos não sobrevivem por si como os filhotes de tantos outros animais.
Porém, paradoxalmente, nós somos os animais que conseguem a maior assimilação 
de informações e conhecimentos e com isso alcançamos alturas inimagináveis aos 
outros animais. Vamos tentar entender o ser humano desde a sua origem.
Gráfico 1.1 | Do surgimento da terra aos nossos dias
Fonte: Arquivo do autor.
O surgimento da antropologia filosófica
U1
12
É bastante curioso saber que a terra ficou 90% de sua existência sem nenhuma 
forma de vida sobre ela, nem mesmo a vida unicelular; e que o nosso planeta tem 
4,5 bilhões de anos; e a vida unicelular (no fundo do mar) surgiu há 450 milhões de 
anos. Do surgimento da terra ao desaparecimento dos primeiros répteis, a terra passou 
por 94,61% do seu tempo. Dos primeiros primatas (Era Mesozoica) aos primeiros 
prossímios (Paleoceno) 98,57%. Primeiros macacos 99,03%; primeiros símios 99,30%; 
primeiros hominídeos 99,70%; Homo Sapiens 99,80%.
De acordo com a teoria evolucionista, o primeiro ancestral do homem teria 
surgido por volta de sete milhões de anos atrás, mas somente próximo de cinco 
milhões de anos começa a surgir uma espécie mais parecida com a nossa. Ainda 
não era chamado de Homo, mas de Australopithecus (essa palavra significa homem-
macaco do sul). Seria, aparentemente, muito parecido com o macaco, porém já era 
bípede ou ereto. Desde esse tempo até dois milhões de anos atrás, aproximadamente, 
teria havido uma proliferação de espécies bípedes, a qual ficou conhecida como 
irradiação adaptativa. Próximo de dois milhões de anos surgiu uma espécie com 
desenvolvimento cerebral maior, a qual recebeu o nome de Homo Erectus. Várias 
raças surgiram e desapareceram e apenas uma delas sobreviveu até os dias atuais, a 
nossa raça, o Homo Sapiens.
Segundo estudiosos, nós surgimos muito recentemente se comparados com as 
demais raças. O Homo Sapiens deve ter surgido entre cem e cento e cinquenta mil 
anos atrás. Contudo, o Homo sapiens é considerado o ápice da evolução das espécies. 
Apenas há trinta e cinco mil anos o homem aprendeu a falar e há oito mil anos parou 
de andar pelo planeta e se tornou sedentário originando as tribos, preferencialmente 
próximo do mar ou de lagos, onde além da pesca havia também o clima mais ameno.
Muito embora o senso comum afirme que descendemos dos macacos, a afirmação 
mais correta é que temos com o macaco um ancestral comum. Temos diferenças 
morfológicas e comportamentais muito acentuadas, podendo-se destacar entre elas: 
(1) O fato de andarmos sobre as duas pernas, devido a modificações em nossa coluna 
vertebral, pelve, pernas e pés; (2) O cérebro consideravelmente aumentado, com 
face e mandíbulas mais curtas; (3) Modificações nos dentes e na forma parabólica da 
arcada dentária; (4) Diferenças estruturais nos braços e nas mãos; e (5) Capacidade de 
linguagem e de outros comportamentos mais bem elaborados (SOUZA, s/d, p. 14). 
Para podermos compreender melhor o desenvolvimento humano sob o prisma da 
aparência, ou da morfologia, consideremos que o cérebro de uma Australopithecus 
tinha 400 cm³, enquanto o do Homo Habilis tinha de 600 a 700 cm³ e o do Homo 
Erectus tinha 900 cm³. O nosso cérebro tem 1.350 cm³. E para melhor ilustrar a nossa 
capacidade cerebral vamos lembrar que nascemos com cerca de 100 bilhões de 
neurônios, sendo que cada neurônio consegue estabelecer em média 10 mil ligações 
com os outros neurônios. Cinco meses antes de nascermos já temos praticamente 
todos os nossos neurônios já formados.
O surgimento da antropologia filosófica
U1
13
Gráfico 1.2 | Do surgimento da vida (450 milhões de anos) ao surgimento do homem (5,2milhões de anos)
Fonte: Arquivo do autor.
Curiosamente lugares áridos do continente africano já foram leitos de rios 
caudalosos. Lagos imensos de outrora, hoje não existem mais, mas deixaram marcas 
perceptíveis, sobretudo, via satélite. Isso deve ter acontecido ocasionado pela elevação 
da cordilheira do Himalaia, a qual provocou bloqueio de correntes de ar e muita seca 
na África. Com as modificações geográficas, as árvores – principal fonte de alimento 
para nossos ancestrais – diminuíram seu número, as matas foram ficando mais ralas 
e os hominídeos foram obrigados a descer das árvores e correr de uma mata à outra 
atrás de alimentos. Entende-se, portanto, que, muito provavelmente, o que levou o 
homem a desenvolver o hábito de andar sobre as duas pernas foi essa necessidade de 
deslocamento rápido.
Rogério F. de Souza (s/d, p. 15) afirma que:
Durante muitas décadas, várias foram as propostas formuladas 
para tentar explicar a evolução desse modo de locomoção em 
nossa linguagem ancestral. Uma das mais aceitas era a de que a 
retração das florestas e o surgimento das savanas, ocorrida devido 
a mudanças climáticas no leste africano, favoreceu o surgimento 
dessa forma de locomoção. Por exemplo, Lovejoy em 1981, propôs 
que o bipedalismo teria permitido que os machos sustentassem 
as fêmeas nesse ambiente com maior carência de recursos. E, 
fêmeas bem alimentadas teriam uma prole com maior chance de 
sobrevivência. Isso implicaria na formação de casais estáveis, sem 
haver disputa entre os machos para terem acesso às fêmeas.
O surgimento da antropologia filosófica
U1
14
O autor do texto, Rogério F. de Souza, se refere a Claude Owen 
Lovejoy (1943), um antropólogo americano bastante conhecido por 
seus trabalhos sobre o evolucionismo humano, de modo especial às 
questões relacionadas à locomoção do Australopithecus e as origens 
do bipedalismo. O artigo referido é A origem do homem, publicado em 
1981, na Revista Science.
1.1 A origem das instituições
Como tantas outras espécies de animais, também nós, logo que surgimos 
nos ligamos profundamente à coletividade, ou seja, preferimos (Preferência talvez 
não seja o termo mais apropriado, pois muitos estudiosos sustentam a vivência 
em coletividade é uma necessidade; é parte intrínseca da nossa natureza) viver 
em grupos, pois assim nos tornamos mais fortes, nos sentimos mais seguros, nos 
alimentamos mais e melhor e conseguimos dar continuidade à nossa espécie através 
do acasalamento e da procriação. 
Porém, como todo bando normalmente tem um líder, conosco não foi diferente. 
Talvez o primeiro critério de liderança tenha sido a força física e assim os homens 
passaram a ser vistos como os chefes, possivelmente de uma família e depois, com 
a junção de várias famílias, veio também a liderança de um grupo ou bando. O passo 
Figura 1.1 | Jericó, considerada a cidade mais antiga do mundo ainda habitada, fundada 
há 11 mil anos
Fonte: Disponível em:<http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/thumb/f/f6/Jericho.jpg/800px-Jericho.jpg>. Acesso 
em: 31 mar. 2015. 
O surgimento da antropologia filosófica
U1
15
Os antropólogos entendem que o fato de os homens saírem para a 
caça acabou por condicionar-lhes a ter uma visão de profundidade 
mais aguçada, ou seja, o homem procura enxergar mais longe, mais 
distante; e acabou também por forçar-lhe a ser mais calado, pois um 
caçador tagarela não teria muito êxito na empreitada. Por outro lado, as 
mulheres têm visão lateral melhor do que os homens e conversam mais, 
pois a princípio o barulho servia, inclusive, para afugentar animais que 
pudessem rondar a habitação.
Ao falarmos de datas na escala de milhões de anos, é possível que não tenhamos 
muita clareza dessa abrangência. Por esse motivo, apresentamos a seguir uma tabela 
para ajudá-los a ter uma melhor compreensão. Se pudéssemos reduzir toda a idade 
do nosso universo em um ano, veja como ficaria. Note principalmente quando surge 
a terra, a vida na terra e o Homo Sapiens.
seguinte pode ter sido de modo espontâneo, a divisão das tarefas. Sabe-se que há 
aproximadamente dez mil anos o homem, ao fixar-se em um determinado território, 
passou a explorar a agricultura, tarefa delegada às mulheres, pois ficavam em casa, 
enquanto os homens se dedicavam à caça, um serviço mais perigoso e pesado.
Com a possibilidade de boas colheitas, abundância de alimentos e estocagem, 
surgiu a necessidade de se vigiar os alimentos para que outras tribos não furtassem 
ou saqueassem; e assim surgiu a classe dos guardiães, ou guerreiros. Ao lado do 
surgimento dessa classe veio a classe sacerdotal responsável de oferecer culto 
às divindades pelas farturas recebidas. Resumidamente temos já o surgimento da 
Política (organizar a vida comunitária e garantir segurança militar) e da Religião 
(apresentar as oferendas aos deuses e cultuá-los). O passo seguinte à organização 
social será a elaboração de leis e decretos de modo a evitar conflitos violentos.
Claude Lévi-Strauss (1908-2009), filósofo e antropólogo 
estruturalista francês, ao referir-se ao ser humano, disse: 
“esse homem que está nesse planeta há dois minutos, não 
ficará mais dois”. Se reduzirmos a idade do universo em 
um ano, a nossa raça surgiu há apenas dois minutos. Esses 
dois minutos representam 100 mil anos, aproximadamente. 
Quanto tempo você acha que ainda ficaremos nesse planeta? 
E como estaremos daqui a milhares de anos?
O surgimento da antropologia filosófica
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16
Quadro 1.1 | Compressão da história do universo em um ano terrestre
DIA E HORA FATO
1 jan. (0h) Criação do universo
8 maio Via Láctea
1 out. Terra
29 out. Vida
21 dez. Peixes
24 dez. Anfíbios
26 dez. Répteis
28 dez. (8h) Mamíferos
28 dez. (18h) Aves
31 dez. (17h27min) Ramapithecus
31 dez. (22h7min) Australopithecus afarensis
31 dez. (22h41min) Australopithecus africanus
31 dez. (23h7min) Homo habilis
31 dez. (23h27min) Homo erectus
31 dez. (23h55min) Homo sapiens neanderthalensis
31 dez. (23h58min) Homo sapiens sapiens
31 dez. (23h59min e 13 segundos) Homem na América
31 dez. (23h59min e 54 segundos) Abraão
31 dez. (23h59min e 56,9 segundos) Jesus Cristo
31 dez. (23h59min e 58,9 segundos) Francisco de Assis
31 dez. (23h59min e 59,2 segundos) Descobrimento do Brasil
31 dez. (23h59min e 59,69 segundos) Revolução Francesa
31 dez. (23h59min e 59,74 segundos) Independência do Brasil
31 dez. (23h59min e 59,80 segundos) Darwin e a “Origem das espécies”
31 dez. (23h59min e 59,85 segundos) Proclamação da República no Brasil
31 dez. (23h59min e 59,92 segundos) Revolução Russa
31 dez. (23h59min e 59,96 segundos) Brasília
31 dez. (24h) Hoje
TEMPO REAL TEMPO COMPRIMIDO
20 bilhões/anos 1 ano
1,67 bilhão/anos 1 mês
1 bilhão/anos 18 dias e 6 horas
55,55 milhões/anos 1 dia
2,31 milhões/anos 1 hora
1 milhão/anos 26 minutos 17segundos
38580 anos 1 minuto
O surgimento da antropologia filosófica
U1
17
Fonte: FREIRE-MAIA, Newton. Criação e evolução. Deus, o acaso e a necessidade. Petrópolis: Vozes, 1986.
1000 anos 1 segundo 58 centésimos
643 anos 1 segundo
100 anos 106 centésimos de segundo
Esse quadro se encontra no livro Criação e Evolução (Veja mais informações nas 
referências). Esclarecemos que o autor toma por base que o Big Bang, a origem do 
universo, tenha ocorrido há 20 bilhões de anos, mas uma das datas mais comumente 
aceita é de 13,7 bilhões de anos.
Prezado estudante! A nossa pretensão, com essa breve reflexão acerca do 
surgimento da nossa espécie, foi apenas a de situar o ser humano dentro de um 
contexto racional e evolutivo, bem como nos apercebermos como mais uma espécie 
dentro de tantas que a natureza propiciou. Deste modo, talvez fique mais claro o 
quanto o homem é fruto de construções sociais e visões de mundo construídas com 
bases em situações contextualizadas de modo histórico, social, cultural, econômico, 
religioso etc. Muitas foram as espécies humanas que passaram por este planeta, 
mas apenas a nossa subsiste. O biólogo e paleontólogo americano StephenJay 
Gould (1941-2002) afirmou que 99% das espécies que passaram por esse planeta 
foram extintas. Ou seja, todas as mais diversas formas de vida que temos hoje em dia 
representam apenas 1% de tudo o que já existiu.
1. Costuma-se admitir que o continente africano é o berço 
da raça humana, mas por questões adversas o homem se viu 
obrigado a abandonar aquele continente. 
Entre essas condições, podemos citar:
a) Grandes inundações com devastação total das plantações.
b) Pestes advindas da convivência com animais venenosos.
c) Mudanças climáticas e diminuição de árvores, matas e florestas.
d) A violência provocada pelos conflitos entre as tribos rivais.
2. Entende-se que homens e mulheres começaram a dividir 
suas tarefas desde há muito tempo e que essa divisão teria 
sido elementar na formação dos traços característicos que 
distinguirão a personalidade masculina da personalidade 
feminina.
O surgimento da antropologia filosófica
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Considere:
I – Por ter de afugentar as feras que rondavam as casas, as 
mulheres se tornaram mais violentas.
II – Por ter de primar pela acuidade visual ao sair para caçar 
o homem desenvolveu maior visão de profundidade.
III – Por não poder afugentar a caça o homem tornou-se 
mais recolhido e calado.
IV – Por ter de cuidar dos arredores da casa a mulher adquiriu 
mulher visão lateral.
Estão corretas apenas as alternativas:
a) I, II e III.
b) II, III e IV.
c) I, II e IV.
d) I, III e IV.
O surgimento da antropologia filosófica
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Seção 2
Antropologia antiga e medieval
Comumente se entende que o conhecimento do modo como se encontra 
estruturado atualmente, deve ter tido o seu início na Grécia antiga com os filósofos 
pré-socráticos, os Jônicos, ou Milésios: Tales de Mileto (625-558 a. C.), Anaximandro 
de Mileto (610-547 a. C.) e Anaxímenes de Mileto (585-528 a.C.). Eles também ficaram 
conhecidos como físicos, fisicistas ou naturalistas, em virtude de sua busca por um 
possível elemento natural (arquê, ou arché) que teria dado origem a tudo o que 
existe. Apenas após cento e vinte anos, aproximadamente, do início da reflexão sobre 
o mundo, foi que um grupo chamado de sofistas, começou a se preocupar com a 
temática relacionada ao ser humano.
Justiça seja feita! Muito embora, os sofistas não sejam bem vistos pela grande 
maioria dos filósofos, ainda assim devemos reconhecer que a antropologia tem 
seu início com eles. Na visão dos sofistas fazia mais sentido refletir sobre o homem, 
sua existência, seus desafios e, sobretudo, a possibilidade de se alcançar ou não a 
felicidade, do que refletir sobre a origem do mundo.
Para os sofistas a felicidade humana ocorreria caso o homem conseguisse desfrutar 
dos prazeres ao máximo, ter muita riqueza e poder sobre os demais. Sócrates iniciou 
os seus estudos com os sofistas, porém acabou discordando desta afirmação, pois 
segundo ele havia pessoas que tinham, ou desfrutavam, de prazer, poder e riqueza 
e mesmo assim não eram felizes. Portanto, segundo Sócrates, a felicidade não seria 
necessariamente garantida pela aquisição dos bens propostos pelos sofistas.
Podemos até admitir que seja mais fácil ser feliz tendo 
prazer, poder e riqueza; contudo, é possível ter tudo isso 
e não ser feliz. Por vezes, parece que a felicidade está mais 
vinculada às questões internas do que às questões externas. 
Tente refletir profunda e criticamente sobre o que lhe faz 
feliz e analise o motivo. Antes, porém, saiba que felicidade 
não é o mesmo que alegria. Felicidade pode ser entendida 
como viver bem e gostar de viver, mesmo que não estejamos 
alegres em alguns momentos. Uma pessoa triste pode ser 
feliz e uma pessoa alegre pode ser infeliz, pois alegria e 
tristeza são momentâneas.
O surgimento da antropologia filosófica
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A partir de então Sócrates rompe com os sofistas e passa a estudar com outro 
filósofo chamado Anaxágoras de Clazômena (500-428 a.C.). A ruptura não significou 
distanciamento e frequentemente Sócrates e os sofistas acabaram conversando e 
discordando sobre alguns pontos. A discordância foi tanta que os sofistas entraram 
pejorativamente para a história, chegando até mesmo a serem conhecidos como 
pseudofilósofos, ou, falsos filósofos. Vale lembrar que a palavra sofista se origina da 
palavra sophos (σοφός), que em grego significa sábio e que os próprios sofistas se 
autodenominavam sábios, numa atitude, possivelmente de arrogância. Daí talvez 
o fato de terem angariados muitos adversários, com destaque para Sócrates e, 
principalmente, Platão. 
Uma das frases mais conhecidas dos sofistas, pronunciada por Protágoras de Abdera, 
conforme já assinalamos, é “o homem é a medida de todas as coisas”. Porém, Sócrates 
entendia que as coisas tinham a sua essência, a sua razão de ser, e que nem tudo era 
definido conforme determinações humanas; pois se o homem fosse a medida de 
todas as coisas, então nada seria medida para o homem e aqui surgiriam problemas 
relacionados à ética, às leis e à verdade. Essa é a postura conhecida como relativismo, 
ou seja, tudo é relativo ao homem. Via de regra, os filósofos são contra o relativismo.
2.1 SÓCRATES E A PSIQUE, O LOGOS
Segundo Sócrates, tudo o que existe tem a sua razão de ser, de existir, ou seja, 
tem a sua essência (a palavra “essência” vem de essere, que em língua latina significa 
ser), e a essência do homem é a sua alma, que em grego se diz psique (ψυχή). E a 
alma, para ele é a razão (a consciência), que em grego se diz logos (λόγος). A busca 
do bem, do belo e do verdadeiro, segundo Sócrates, seria a essência da alma, ou a 
razão de ser, o motivo de sermos possuidores de pensamento, de consciência.
O motivo pelo qual estamos nesse mundo, a razão de vivermos, para Sócrates, 
era para vivermos bem (sermos felizes), desfrutando das coisas boas, belas e 
verdadeiras. Sócrates acreditava e afirmava que quem conhece o bem, pratica-o 
e que só age mal, quem ignora o bem. Essa tese é conhecida como racionalismo 
ético, ou intelectualismo moral. O homem que conhece o bem pratica o bem, 
busca a virtude. 
A virtude é a excelência e a excelência é a concretização daquilo que algo, ou 
alguém, é essencialmente (para conhecermos a essência de alguma coisa, devemos 
perguntar: “por que isso existe?”). Uma borracha, por exemplo, tem a virtude se 
excelentemente apaga, ou apaga bem; um ventilador se ventila bem; um avião se 
voa bem. Portanto, ser excelente é desempenhar bem a própria essência, a razão de 
ser. E o ser humano, quando é virtuoso, quando tem a excelência? Quando supera a 
A essência (razão de ser) do homem é... ... a psique (alma: logos, razão, consciência).
A essência (razão de ser) da alma é... ... a busca do bem, do belo e do verdadeiro.
O surgimento da antropologia filosófica
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ignorância, tem autodomínio, autonomia e é feliz, através do uso da razão.
Segundo Sócrates, “não é das riquezas que nascem as virtudes, mas das virtudes 
nasce a riqueza”. (PESSANHA, 1999, p. 57). As virtudes da alma se manifestam na 
força, no autocontrole, ou autodomínio, “no domínio de si mesmo nos estados de 
prazer, dor e cansaço, no urgir das paixões e dos impulsos” (REALE, 1990, p. 91). A 
saúde da psique, da alma, é a sua ordem. O ignorante é injusto, o injusto é malvado e 
o malvado é infeliz. Trata-se de fazer a racionalidade prevalecer sobre a animalidade, 
tornar a alma senhora do corpo. Somente quando age desta maneira o homem 
estaria, segundo Sócrates, sendo verdadeiramente livre e feliz.
Sócrates foi acusado por Meleto, Ânito e Lícon, de corromper a juventude e não 
cultuar os deuses da cidade, ou seja, o crime político-social da impiedade. Depois de 
condenado, Sócrates ficou um mês na prisão esperando a morte e numa madrugada 
foi acordado por Críton, um discípulo rico que, após subornar os guardas, o incitava 
a fugir. Mesmo tendo sido injustamente condenado ele se recusou a fugir, alegando 
que não conseguiria conviver com a consciência de ter agido mal.
A execução da pena foi tomar, pelas próprias mãos, um veneno chamadocicuta, 
extraído da raiz de uma planta nativa da bacia mediterrânica, que vai paralisando 
o corpo das extremidades ao coração. Tomou o copo de cicuta (a condenação 
ao autoenvenenamento era para ampliar o sofrimento psicológico da pena) na 
presença de grande parte de seus discípulos e, com a mesma lucidez com que tinha 
vivido, morreu. 
Antes de morrer, porém, deixou para os seus discípulos um consolo e para os 
acusadores uma dúvida, conforme relata Platão: "E agora chegou a hora de nós 
irmos, eu para morte e vocês para vida, quem de nós fica com a melhor parte 
ninguém sabe, exceto o Deus".
Figura 1.2 | A morte de Sócrates, quadro de 1787
Fonte: Disponível em: <http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/9/9b/Socrates-1-.jpg>. Acesso em: 31 mar. 2015. 
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Há pessoas, inclusive, que buscam traçar um paralelo entre Sócrates e 
Jesus Cristo, lembrando que ambos sofreram morte injusta, ambos não 
deixaram nada por escrito e nos últimos momentos de vida dos dois 
aparece a figura de um animal, o galo. Quando Pedro disse que seguiria 
Jesus por onde ele fosse, Jesus respondeu “antes que o galo cante, você 
já terá me negado três vezes”. E quando Sócrates se preparava para 
tomar o veneno fez um pedido: “Críton, antes que eu me esqueça, devo 
um galo no Templo de Asclépio, por favor, pague essa promessa, pois 
não quero morrer em dívida com os deuses”.
2.2 Platão: o homem, corpo e alma acidental
Uma das características mais marcantes do pensamento platônico é o dualismo 
e dentro dessa perspectiva a sua concepção de homem também aparece de modo 
dual. Para ele o homem não seria uma unidade, mas uma dualidade psicossomática 
(psique, alma; soma [σώμα], corpo). Corpo e alma não precisariam necessariamente 
estar juntos. Tanto não precisavam que não estavam antes do nosso nascimento. 
Para Platão a alma vivia livre no Hiperurânio (ou mundo das ideias), e momentos 
antes do nascimento, por intermédio 
do Demiurgo (o deus que plasma a 
humanidade) a junção é feita. A alma desce 
do Hiperurânio, passa pelo Rio Lethes (em 
grego λήθη significa - esquecimento) toma 
a água desse rio e se une ao corpo depois 
de ter esquecido tudo o que contemplou 
no mundo das ideias.
A união do corpo com a alma é 
acidental, ou seja, por acaso, pois a alma 
não necessita do corpo; sobrevive sem 
ele. A alma é a essência do homem; 
é ela que dá movimento ao homem 
(movimento, em linguagem filosófica 
significa movimento interno, ou seja, 
crescimento, mudança, transformação). 
O corpo é apenas o receptáculo da 
alma e a ela devedor de sua vida, da 
sua animosidade; ele é a sua tumba, o 
cárcere da alma, o lugar onde ela cumpre 
suas penas.
Figura 1.3 | Busto de Platão
Fonte: Disponível em: <http://goo.gl/ZfuLt7>. Acesso 
em: 31 mar. 2015. 
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Platão trata da questão da alma em diversas obras, mas entre 
elas se destacam o Timeu, onde se aborda a criação do mundo e 
o Fédon, em que ele expõe a sua teoria sobre a imortalidade da 
alma. Inicialmente apenas a alma existia, no mundo das ideias, no 
Hiperurânio. E, então, Demiurgo delegou aos deuses menores a 
criação do corpo, dizendo: “Filhos dos deuses de quem sou o autor 
[...] escutai o que minhas palavras ensinar-vos-ão [...] aplicai-vos, 
conforme a vossa natureza, a fabricar seres vivos [...] adicionando 
a esta parte imortal uma parte mortal, fabricai viventes, fazei-os 
nascer, dai-lhes sustento, fazei-os crescer, e quanto perecerem 
recebei-os de novo junto a vós”. E mais adiante o Demiurgo ordenou: 
“que as almas sejam pela ação da necessidade, implantadas nos 
corpos”. (MACHADO, 2013, p. 12).
Platão afirma que o verdadeiro filósofo trabalha durante toda a sua vida, na 
preparação da sua morte, pois fundamentalmente somos a nossa alma, porém 
ela está presa ao corpo, assim que o corpo morre a alma se liberta. “O corpo é 
raiz de todo mal, fonte de amores insensatos, de paixões, inimizades, discórdias, 
ignorância e loucura. E tudo isso representa precisamente fatores de morte para a 
alma”. (REALE, 1990, p. 154).
As características do corpo são materialidade, mutabilidade, corruptibilidade 
e mortalidade (corrupção, ou corruptibilidade, tem o sentido de envelhecer, 
degenerar); enquanto as características da alma são espiritualidade, imutabilidade, 
incorruptibilidade e imortalidade. Na alma reside a racionalidade e por isso ela 
deseja as realidades divinas enquanto o corpo é a sede dos desejos, instintos e 
paixões. “Contudo, a alma poderá, segundo a doutrina pitagórica assumida por 
Platão, tanto esquecer-se de sua origem divina e apegar-se aos bens corporais, 
quanto desprezar o corpo e sujeitar-se às purificações ascéticas”. (MACHADO, 
2013, p. 12).
Por entender a alma como a causa do movimento (aquilo que nos leva a fazer 
algo), Platão acaba por defender que o homem possui três almas. E ele vai além, 
diz onde cada uma dessas almas se encontra em nossos corpos. Na cabeça se 
encontra a alma racional, cuja tarefa (usamos o termo tarefa para que a linguagem 
fique mais próxima da usual, mas Platão usa o termo virtude) é levar-nos a agir pela 
razão, ou como dizemos hoje em dia, não nos deixar fazer loucuras, fazer apenas 
aquilo que é correto e permitido. Em nosso tórax se encontra a alma irascível, ou 
colérica (aquela que sente cólera ou ira), cuja tarefa é nos dar coragem (coragem 
mais no sentido de determinação, firmeza de propósito, dominar o impulso). E 
no abdômen fica a alma concupiscível ou, desejante cuja tarefa é nos permitir a 
temperança (não cometer excessos, dominar os desejos).
O surgimento da antropologia filosófica
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Um homem justo é aquele que tem as três almas em harmonia sob o comando 
da racional. A alma racional não pode se deixar dominar pelas outras duas, mas 
ao contrário, deve dominá-las. Além de cada alma ter a sua tarefa, cada uma delas 
também tem um metal próprio. O metal da alma racional é o ouro, da alma irascível 
é a prata e da alma concupiscível é o bronze. Nos homens sábios prevalece a alma 
de ouro; os guerreiros possuem a alma de prata de modo mais destacado, e nos 
trabalhadores prevalece a alma de bronze.
Para Platão o comportamento humano se origina de três fontes: desejo, emoção 
e conhecimento. O desejo nasce do baixo-ventre, a emoção surge do coração e o 
conhecimento tem sua sede na cabeça. Enquanto certos homens não passam da 
personificação do desejo, existem outros que são templos de sentimento e coragem e, 
por último, uns poucos que se deliciam com a meditação e a compreensão, estes são 
os homens de sabedoria. Notem que até hoje pensamos como Platão nos ensinou.
Em linhas gerais, as questões que julgamos mais importantes acerca da 
compreensão que Platão tinha do homem estão relatadas nestas breves ideias.
Falando alegoricamente da alma, no Fedro Platão apresenta 
o mito da biga alada, na qual o cocheiro tenta controlar dois 
cavalos alados que a puxam. Um deles bom e o outro é mau, e 
este puxa a biga para baixo. O cocheiro é a alma racional (nous, 
logos), imortal, inteligente, de natureza divina. O cavalo bom é a 
alma irascível (Thymós), fonte das paixões nobres, mortal por ser 
inseparável do corpo e situa-se no tórax. O cavalo mau e a alma 
apetitiva (Epithymia), fonte de paixões pouco nobres, mortal 
também e situa-se no abdômen. A peleja entre os dois cavalos faz 
que algumas almas consigam contemplar o Ser e outras não. No 
auge da disputa, as asas dos cavalos se quebram e eles caem sobre 
a Terra. Nem todas as almas caem, algumas continuam a viver na 
presença dos deuses. (MACHADO, 2013, p. 13).
Estudos indicam que Platão já havia percebido que o nosso 
cérebro tem dois hemisférios. Ele não se referia a hemisférios, 
apenas dizia que nós temos dois cérebros aos quais ele chamou 
de logistikon (racional) e nous (intuitivo). Estudiosos entendem 
que as pessoas que têm mais afinidade com disciplinas exatas 
utilizam o lado esquerdo do cérebro (o nous) e quem tem verve 
artísticautiliza o lado direito (o logistikon).
O surgimento da antropologia filosófica
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Como já assinalamos, Aristóteles nos fornece a definição de homem que acabou 
se tornando clássica: o homem é um animal racional. Contudo, é bom lembrar que 
ele também acabou por afirmar que o homem é um animal político, no sentido da 
dependência humana, bem como da mais plena realização do ser humano dentro de 
um espaço coletivo. O homem depende de seus pais para se alimentar, para andar, 
para aprender a falar e, enfim, para aprender praticamente tudo. Nós somos aquilo que 
a educação faz de cada um de nós.
Para Aristóteles o homem não era união acidental de corpo e alma, mas união 
essencial, sendo o corpo a matéria e a alma a forma. Ao tratar da questão da alma, 
Aristóteles estabelece um vínculo entre a alma e o intelecto, ou seja, para ele a alma é a 
enteléquia, forma primordial de um corpo que possui vida em potência (pode possuir 
vida). A alma é a essência do corpo, enquanto o intelecto é algo divino que existe 
antes e depois do corpo, (ARISTÓTELES, 2001, p. 17). A alma é a sede do movimento. 
Em De anima ele diz: “na eventualidade de ser, por conseguinte, necessária uma 
definição geral a ser aplicada a toda a espécie de alma, podemos nós afirmar que é ela 
a enteléquia primeira de um corpo natural orgânico” (Ibidem, p. 52).
2.3 Aristóteles, o homem é unidade
Figura 1.4 | Platão e Aristóteles em detalhe do quadro Escola de Atenas, de Rafael Sanzio, 
de 1509.
Fonte: Disponível em: <http://www.scaruffi.com/museums/raphael/raph6.jpg>. Acesso em: 31 mar. 2015.
A enteléquia é, em outras palavras, a realização plena e completa 
dessa essência, potencialidade ou finalidade natural primeira, um 
processo transformativo em curso em qualquer um dos seres vivos 
do universo e que, no ser humano, eleva-se à condição volitiva, 
emocional, política, pensante, cognitiva ou racional, num exercício 
atual da própria racionalidade, isto é, a reflexão, a consciência do 
conhecimento. (MACHADO, 2013, p. 18).
O surgimento da antropologia filosófica
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Aristóteles é considerado o fundador da psicologia (MONDIN, 1982, p. 99) e, 
embora não encontremos nele os dois grandes problemas da psicologia da época: 
a liberdade do arbítrio e a imortalidade da alma, ele enfatiza, pela primeira vez, a força 
do hábito, sendo chamado de “segunda natureza”. “Ele distingue três níveis na alma, 
[...] a alma vegetativa (função de alimentação e reprodução), a alma animal (função de 
percepção e movimento) e a alma pensante ou intelectiva, da qual somente o homem 
participa” (HELFERICH, 2006, p. 48). Enfim, para Aristóteles, o princípio da vida é a 
alma, é ela que dá vida ao corpo. 
Após a morte de Aristóteles em 322 a.C., a filosofia se difundiu pelo mundo 
chegando até ao Império Romano. Contudo, o que ela ganhou em extensão perdeu 
em profundidade e limitou-se a tratar, quase que exclusivamente, da questão da 
felicidade. Estamos falando do período que ficou conhecido como Helenismo. É nesse 
contexto que surge uma nova maneira de compreender o mundo, o Cristianismo. 
Embora o Cristianismo não seja apenas uma filosofia, ele é também uma filosofia e 
como tal carrega muito das visões de mundo com as quais se defrontou. Entre elas 
estão, sobretudo, o Estoicismo e o Neoplatonismo. O grande responsável pela síntese 
entre religião cristã e filosofia foi Agostinho de Hipona (354-430).
Embora muita gente 
entenda que, desde a morte 
de Cristo, o cristianismo tenha 
se difundido pelo mundo, essa 
visão não é bem verdadeira. 
Inicialmente os cristãos foram 
perseguidos e somente no 
ano 313 tiveram liberdade de 
culto. No ano 325 foi feito o 
primeiro concílio e começou-
se a elaborar o credo; e no ano 
390, o Imperador Teodósio, 
com o Edito de Tessalônica, 
tornou o cristianismo religião 
oficial do Império. Portanto, 
poderíamos dizer que a Igreja 
Católica foi soberana na 
Europa desde o ano 400 até 
ao 1.400, aproximadamente; 
pois a partir daí começaram as 
fragmentações política, religiosa 
2.4 O homem segundo a visão cristã
Figura 1.5 | Pietá de Michelangelo
Fonte: Disponível em: <http://upload.wikimedia.org/wikipedia/
commons/thumb/8/8a/Michelangelo%27s_Pieta_5450_cropncleaned.
jpg/640px-Michelangelo%27s_Pieta_5450_cropncleaned.jpg>. Acesso 
em: 31 mar. 2015.
O surgimento da antropologia filosófica
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e científica.
A visão antiga de homem era essencialmente cosmocêntrica, pois via o homem 
dentro de um universo mais abrangente, como uma peça de uma engrenagem maior. 
Já a visão cristã, ou medieval, vê o homem dentro de uma perspectiva teocêntrica, ou 
seja, o homem é compreendido e definido a partir da sua essência: ser filho de Deus. 
Essa visão também é chamada de essencialista. 
A visão cristã é influenciada pelo platonismo e, por isso, também apresenta o 
homem como constituído de corpo e alma, sendo que a alma sobrevive à morte do 
corpo. Ou seja, o cristianismo defende a imortalidade da alma. Mais do que isso, por 
influência do judaísmo (para o judaísmo o homem era uma unidade, corpo e alma; não 
se concebia o homem separado do corpo), o cristianismo vai além da imortalidade da 
alma e prega a ressurreição do corpo, ou ressurreição da carne. Embora não seja o 
corpo como conhecemos, mas um corpo transformado, como nos relata a primeira 
carta aos Coríntios (15, 42ss) onde Paulo de Tarso afirma que:
Ao nos apresentar esse texto a Bíblia de Jerusalém (1985, p. 2170) traz uma nota de 
rodapé onde busca esclarecer que:
O mesmo acontece com a ressurreição dos mortos: o corpo é 
semeado corruptível, mas ressuscita incorruptível; é semeado 
desprezível, mas ressuscita glorioso; semeado na fraqueza, 
mas ressuscita cheio de força; é semeado corpo animal, mas 
ressuscita corpo espiritual. [...] Eu lhes digo, irmãos, que a carne e 
o sangue não podem receber em herança o Reino de Deus, nem 
a corrupção herdar a incorruptibilidade. Vou dar a conhecer a 
vocês um mistério: nem todos morreremos, mas todos seremos 
transformados, num instante, num abrir e fechar de olhos, ao som 
da trombeta final. Sim, a trombeta tocará e os mortos ressurgirão 
incorruptíveis; e nós seremos transformados. De fato, é necessário 
que este ser corruptível seja revestido da incorruptibilidade, e que 
este ser mortal seja revestido da imortalidade.
Para Paulo, como para a tradição bíblica, a psyché é o princípio 
vital que anima o corpo humano. É a “vida” do corpo, a alma viva 
do corpo. A mesma palavra pode designar o homem inteiro. A 
psyché, porém, fica sendo um princípio de vida natural que deve 
apagar-se diante do pneuma, para que o homem encontre de 
novo a vida divina. Esta substituição, que se inicia já durante a vida 
O surgimento da antropologia filosófica
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mortal pelo dom do Espírito, atinge a sua plenitude após a morte. 
Ao passo que a filosofia grega só professava a sobrevivência imortal 
da alma superior (nous), liberta do corpo, o cristianismo concebe a 
imortalidade estritamente como restauração integral do homem, 
ou seja, como ressurreição dos corpos pelo Espírito (grifo nosso), 
princípio divino que Deus retirou do homem em consequência do 
pecado e que lhe devolve pela união ao Cristo ressuscitado, homem 
celeste e Espírito vivificante. De “psíquico” o corpo se tornará então 
“pneumático”, incorruptível, imortal glorioso, liberto das leis da 
matéria terrestre e das suas aparências. Em sentido mais amplo, a 
psyché pode designar, por oposição ao corpo, a sede da vida moral 
e dos sentimentos, e até mesmo a alma espiritual e imortal.
É claro que aqui estamos num 
universo linguístico que pressupõe 
uma análise mais apurada dos 
termos, supõe uma hermenêutica 
teológica. A linguagem bíblica possui 
uma chave de interpretação própria 
e, por que não dizer, complexa. 
Um dos primeiros intérpretes dessa 
linguagem foi Agostinho de Hipona, 
filósofo antigo que foi maniqueísta e, 
posteriormente, neoplatônico, tendo 
se tornado adepto do cristianismo 
e grande estudioso de suas ideias 
adaptando-asà filosofia grega.
No livro Confissões, possivelmente 
a sua obra mais conhecida, Agostinho 
diz que o ser humano é um “grande 
abismo” e um “grande problema” a 
se descobrir, um “grande mistério” 
(Confissões, IV, 14). Na tentativa 
de resolver essa questão, ele se 
vale muito de toda a sua formação 
intelectual e aproveita elementos das 
Figura 1.6 | Santo Agostinho em óleo na 
madeira, no Museu do Louvre
Fonte: Disponível em: <http://upload.wikimedia.org/wikipedia/
commons/thumb/5/59/Giusto_di_Gand_%28Joos_van_
Wassenhove%29%2C_sant%27agostino.jpg/640px-Giusto_di_
Gand_%28Joos_van_Wassenhove%29%2C_sant%27agostino.
jpg>. Acesso em: 31 mar. 2015.
2.5 A contribuição de 
Agostinho de Hipona
O surgimento da antropologia filosófica
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mais diversas correntes filosóficas que conheceu. Agostinho percebe que o homem 
é um mistério, pois não se conhece a si próprio. Uma frase bem representativa dessa 
mentalidade pode ser encontrada no livro A verdadeira Religião (§ 39), onde ele afirma: 
“Não saia fora, entra dentro de ti; a verdade mora no interior do homem”.
Platão havia estabelecido na obra Alcebíades: “O homem é uma alma que se serve 
de um corpo”. Mas é preciso lembrar que o homem cristão não podia compartilhar 
da visão dualista de Platão e assim a visão de homem também deveria ser purificada 
de qualquer dualismo, pois para o cristianismo o homem é uma unidade. E essa foi a 
tarefa que Agostinho assumiu pra si.
O argumento usado por Agostinho vai partir da ideia de Verdade Eterna. Diz ele 
(Solilóquios, II, C13):
Agostinho morreu sem ter contato com as obras de Aristóteles e talvez por isso seja 
um platônico. O que não significa dizer que o simples contato com as obras de Aristóteles 
fosse suficiente para ele se tornasse aristotélico, pois ele poderia não concordar com o 
Estagirita. As obras de Aristóteles, exceto uma delas chamada Organon (ou Analíticos, 
em latim), não eram conhecidas na Europa até aproximadamente o ano de 1200, pois 
tais obras eram posse dos árabes. Ao ocuparem a Europa, os árabes também trouxeram 
os livros de Aristóteles e um dos maiores nomes da Universidade de Paris, Tomás de 
Aquino (1225-1274), ao conhecê-las fez com elas o mesmo que Agostinho havia feito 
com Platão, cristianizou-as.
Dentro da reflexão antropológica, e mais especificamente na questão de corpo e 
alma; vida, morte e ressurreição, Tomás de Aquino vai tomar por base a ideia de que 
o homem possui um desejo natural de sobrevivência (ressurreição) e de não morrer 
jamais (imortalidade da alma). Diz ele que o homem naturalmente anseia por perdurar 
perpetuamente e que é impossível que uma tendência natural seja vã (Summa Contra 
Gentiles, II, C79). 
Em suma, para a antropologia medieval o homem é, por essência, um filho de 
Deus; e a sua existência tem por finalidade cumprir com tal essência. O homem é um 
A alma, no conhecimento intelectivo, atinge a verdade. Ora, enquanto 
sede da verdade, a alma é imortal, da mesma forma que aquela. Com 
efeito, se o que se encontra num sujeito é eternamente duradouro, 
é necessário que o próprio sujeito seja eternamente duradouro. Mas, 
visto que cada ciência reside sempre num sujeito, é preciso que a 
alma dure para sempre. Dado que a ciência é verdade, e a verdade 
dura para sempre a alma também dura para sempre, nem se poderá 
nunca dizer que ela morre (HIPONA, s/d, 103).
O surgimento da antropologia filosófica
U1
30
composto de corpo e alma e, além da imortalidade da alma, surge também a ideia de 
ressurreição do corpo. O homem que vive segundo as leis divinas ressuscita no céu, 
quem se distancia destas leis, perecerá no inferno.
1. Sócrates foi tão importante para a filosofia que acabou por 
receber o título de pai da filosofia; além disso, também dividiu a 
filosofia da sua época e aqueles que o antecederam passaram 
a ser conhecidos como pré-socráticos.
A respeito de Sócrates é correto afirmar que:
a) Foi condenado à morte por não cultuar os deuses da cidade 
e corromper a juventude.
b) Afirmava que as virtudes nascem das riquezas, mas as 
riquezas não nascem das virtudes.
c) Concordava com os sofistas quanto à afirmação de que o 
homem é a medida de todas as coisas.
d) Combatia o racionalismo ético, pois dizia que para praticar o 
bem, não era suficiente que o homem o conhecesse.
2. A reflexão antropológica existe desde a antiguidade, porém 
em alguns momentos ela esteve mais presente e em outros 
ela esteve mais ausente. Além disso, nem sempre houve 
concordância acerca da essência do ser humano.
Considere:
I – Max Scheler aponta a essência humana mais vinculada ao 
aspecto espiritual do que ao orgânico.
II – Platão e Aristóteles tinham a mesma visão de homem, 
ou seja, o homem tinha natureza dual, corpo e alma, unidos 
acidentalmente.
III – Para os existencialistas o que mais importa é a vida humana 
com os seus desafios.
IV – Para o cristianismo o homem já nasce com a sua essência 
definida; o homem é um filho de Deus.
Estão corretas apenas as alternativas:
a) I, II e III.
b) II, III e IV.
c) I, II e IV.
d) I, III e IV.
O surgimento da antropologia filosófica
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31
Seção 3
Antropologia moderna e contemporânea
Nesta sessão buscaremos deixar claro que o pensamento antigo passou por uma 
revolução substancial no tocante ao modo como o homem e a sociedade eram 
vistos até então. Na antiguidade, se dava muita importância à coletividade, à polis; e 
na modernidade, o sujeito começa a ser valorizado por si, independentemente de sua 
pertença ou não a uma comunidade. Na modernidade, portanto, surge, com muita 
ênfase a valorização da subjetividade, ou seja, leva-se em conta o indivíduo com suas 
conquistas, alegrias, tristezas, projetos etc.
Na filosofia moderna o 
problema antropológico não é 
necessariamente o assunto que mais 
aparece na pauta das discussões; o 
problema filosófico mais pertinente 
à filosofia moderna é a questão 
do conhecimento. Logicamente, 
que mesmo assim existem 
compreensões antropológicas 
subjacentes a estas visões de mundo.
Para os antigos o valor do ser 
humano estava atrelado ao seu 
pertencimento a uma comunidade, a 
uma polis. O homem, em si, isolado, 
não tinha tanto valor; quem tinha 
valor era o cidadão, principalmente, o 
cidadão virtuoso, ou seja, aquele que 
conhecia o seu papel dentro da polis 
e o desempenhava com excelência. 
Na Idade Média, o homem tinha o 
Figura 1.7 | Retrato de Descartes
Fonte: Disponível em: <http://upload.wikimedia.org/
wikipedia/commons/thumb/7/73/Frans_Hals_-_Portret_van_
Ren%C3%A9_Descartes.jpg/640px-Frans_Hals_-_Portret_van_
Ren%C3%A9_Descartes.jpg>. Acesso em: 20 mar. 2015.
3.1 Subjetividade e 
existencialismo
O surgimento da antropologia filosófica
U1
32
seu valor por ser um filho de Deus e pertencer a uma comunidade específica, a Igreja. 
Na Idade Moderna, como o papel da Igreja passa a ser questionado, principalmente 
por defender ideias incompatíveis com a ciência nascente (ciência experimental), o 
valor do homem também não é mais atribuído de acordo com o seu pertencimento 
à Igreja, mas pelo simples fato de ter nascido. Ideia conhecida como jusnaturalismo: 
nascer com direitos. Essa contribuição nos foi legada principalmente pelos filósofos 
políticos Thomas Hobbes (1588-1679), John Locke (1632-1704) e Jean-Jacques 
Rousseau (1712-1778). Estava aberto o caminho para a subjetividade e para a valorização 
do indivíduo.
Mas, certamente, uma das contribuições mais significativas e originais dada 
à antropologia, foi a de Descartes (1596-1650) o qual, na esteira do humanismo 
renascentista, deu uma guinada no paradigma da racionalidade indo da visão 
teocêntrica à visão antropocêntrica de um modo bastante perspicaz (talvez para não 
arranjar encrencas com as autoridades eclesiásticas), pois colocou o “eu pensante” 
como primeira certeza indubitável, o 
seu famoso cogito ergo sum (penso, 
logo existo).Deus, para Descartes, 
passa a ser a segunda verdade, res 
infinita. Estava sendo dado o pontapé 
inicial para o enfoque na subjetividade,no sujeito pensante. 
Embora Descartes colocasse 
Deus como segunda verdade, ele foi 
muito cauteloso e, aparentemente, 
manteve-se crente em Deus. É difícil 
dizer se isso ocorreu por convicção 
ou por medo, haja vista que ele 
teve conhecimento das retaliações 
que a Igreja impôs a Galileu Galilei. 
Certamente Descartes também não 
queria que seus livros entrassem 
no index, pois isso poderia significar 
limitações à divulgação do seu 
pensamento.
Outra figura marcadamente 
relevante nessa área, e de mente 
prodigiosa, será Blaise Pascal (1623-
1662). De saúde frágil e vida breve, 
deixou bem claro que a grandeza do 
homem está no seu pensamento. Diz 
Figura 1.8 | Estátua de Blaise 
Fonte: Disponível em:<http://upload.wikimedia.org/wikipedia/
commons/thumb/1/1d/Pascal_Pajou_Louvre_RF2981.
jpg/640px-Pascal_Pajou_Louvre_RF2981.jpg>. Acesso em: 31 
mar. 2015.
O surgimento da antropologia filosófica
U1
33
ele que o homem é um caniço, mas um caniço pensante. Por mais insignificante e 
frágil que o homem seja, se comparado à imensidão do universo, o homem é maior 
do que qualquer astro cósmico, pois é o único que tem consciência da sua existência. 
Só o homem conhece e sabe o que está acontecendo com ele, enquanto o universo 
todo não tem consciência de si.
Esses dois grandes pensadores darão início a uma nova visão de homem que será 
levada adiante por tantos outros pensadores. Dentre tais pensadores, iremos fazer um 
recorte do pensamento de Søren Aabye Kierkegaard (1813-1855), um dos precursores da 
corrente existencialista, o qual passará a dar ênfase à vida concreta do homem, suas alegrias 
e tristezas, dores e prazeres, angústias e sonhos, etc. Cremos ser interessante conhecer 
um pouco do pensamento de Kierkegaard para melhor entendermos os pensadores que 
virão na sequência e a ênfase que passa a ser dada à questão antropológica.
No final de 1842, Kierkegaard escreveu 
Ou isso ou aquilo: um fragmento de vida, 
onde afirmou que o homem se define por 
sua existência: existir é adotar uma atitude 
fundamental em relação a si mesmo, a 
seu ser e aos outros. Nesta obra ele dividiu 
a existência humana em três estágios: 
ético, estético e religioso. Segundo ele, 
o homem tem de escolher entre os dois 
primeiros estilos, ou escolhe isso: o ético, 
ou escolhe aquilo: o estético, daí o título 
da referida obra.
Quem escolhe a forma estética 
de viver, vive para si mesmo, busca o 
próprio prazer, não tem o controle da sua 
existência, vive o momento, podendo ter 
uma vida contraditória, instável e incerta; 
se apoia no mundo externo, em coisas 
que estão fora do controle de sua vontade 
(como poder, posses e até mesmo a 
amizade); é contingente, dependente do 
“acidental” e não há nada de “necessário” 
nele. Sobre sua existência faltam certeza e 
significado e esta percepção normalmente 
leva ao desespero, sendo que este 
3.2 Kierkegaard e o homem angustiado
Figura 1.9 | Estátua de Kierkegaard em 
Copenhague, Dinamarca
Fonte: Disponível em: <http://upload.wikimedia.org/
wikipedia/commons/f/ff/S%C3%B8ren-Kirkegaard-
Statue.jpeg>. Acesso em: 31 mar. 2015.
O surgimento da antropologia filosófica
U1
34
desespero pode ser ignorado ou reprimido. (Esse era o modo como Kierkegaard 
vivera na juventude, portanto, escreve a partir da própria experiência). Kierkegaard 
havia percebido que não somos responsáveis por nossas vidas e sim meros joguetes 
nas mãos do destino, vivemos de possibilidades as quais podem realizar-se ou não, 
tanto elas podem trazer sucesso e felicidade quanto fracasso, insucesso e até a morte. 
Dizia ele “No possível tudo é possível”, (ABBAGNANO, 2003, p. 60), ou seja, tanto a 
possibilidade favorável como a mais desastrosa e horrível, podem realizar-se. Ao ter 
consciência desta realidade o homem tem pela frente duas opções: a fé ou o suicídio. 
A saída da situação estética é assumir a posse integral da própria existência e 
aceitar toda a responsabilidade por ela. A melhor maneira de se fazer isto, segundo 
Kierkegaard encontra-se no cristianismo. A autocriação por opção consciente seria a 
única alternativa ao desespero e, segundo Kierkegaard, a maneira de escapar do abismo 
é “querer profunda e sinceramente”. “Esta contribuição seria de grande importância para 
o século seguinte, onde o indivíduo perde sua fé em Deus, vendo a própria existência 
sendo ameaçada pela psicologia determinista, afogado na cultura de massas e negado 
pelo totalitarismo ou perdido nas complexidades da ciência”. (STRATHERN, 1999, p. 36). 
É isto que conduz para a alternativa da vida estética – a vida ética. Aqui a subjetividade é 
“o absoluto” e a principal tarefa é “fazer a opção” (Ibidem, 37).
Na vida ética o indivíduo opta por criar a si mesmo e esta autocriação passa a ser 
o objetivo da sua existência. A pessoa ética busca conhecer e mudar a si mesmo por 
escolha própria, guiado pelo autoconhecimento e pela vontade, quando descobre 
algo que pode ser melhorado empenha-se neste sentido. Preocupa-se mais com o 
mundo interior e busca, a partir do melhor conhecimento de si mesmo, tornar-se algo 
melhor. Quem age desta maneira expressa o universal na sua vida.
A maior diferença entre estas duas escolhas é que o indivíduo estético é 
essencialmente voltado para o externo, contingente, inconsistente e autodissipante; 
enquanto o ético prioriza o interior, o necessário, consistente e autocriativo. A escolha 
de um aspecto não elimina por completo que se tenha um pouco do outro aspecto. 
Ainda na escolha da vida ética encontra-se certa insatisfação, o que conduz ao terceiro 
ponto: a religião. Esta seria uma síntese entre o ponto de vista estético e o ético e foi 
mais profundamente tratado em “Temor e Tremor”, de 1843. Nesta obra, Kierkegaard 
examina a noção de fé e a define como o ato subjetivo último, um salto para além de 
toda justificação possível, é uma “irracionalidade superior”. Alcançar o estágio religioso 
requer uma suspensão teleológica do ético.
Kierkegaard conclui que a existência é um “irracional” (como o pi na matemática): “é 
o que resta depois que tudo é analisado, comparado a uma rã que se descobre no fundo 
da caneca de cerveja depois que se termina de beber a cerveja” (STRATHERN, 1999, p. 
43). Contudo viver é mais do que “estar aí”, pois a vida deve ser vivida e transformada 
através do pensamento subjetivo, a subjetividade é a verdade (o equivalente à sinceridade 
acrescida de um apaixonado compromisso interior). As verdades subjetivas são mais 
O surgimento da antropologia filosófica
U1
35
importantes que as objetivas (ligadas ao mundo exterior, como a história e as ciências). 
É a verdade subjetiva que fundamenta nossos valores, pois nenhuma moralidade deve 
derivar de um fato objetivo. Cada indivíduo, deve ser, de certa forma, o criador do seu 
próprio mundo, em função dos valores que tem. Para Kierkegaard, o indivíduo vê o 
mundo que quer ver (Wittgenstein irá dizer: “O mundo do homem feliz é diferente do 
mundo do infeliz”), cuidando para não cair em solipsismo (ponto de vista de que só eu 
existo e o mundo está aqui para mim; os outros são ideias minhas).
A existência é um grande risco e nunca podemos saber se a escolha que fizemos 
foi a mais adequada e quem conseguir conscientizar-se deste risco inevitavelmente se 
angustiará. A existência torna-se arriscada quando percebemos que podemos morrer 
a qualquer instante, bem como da completa liberdade que temos a cada momento e 
que isto pode transformar completamente nossas vidas.
No “Conceito de Angústia”, Kierkegaard distingue dois tipos de medo: um 
proveniente de ameaça externa e outro vindo da experiência interior e que nasce de 
nossa própria liberdade. Poderíamos dizer que o indivíduo não existe em absoluto 
como “ser”, mas existe apenas num estado de constante “vir-a-ser” e a percepção disto 
pode mergulhar a pessoa na loucura.
Em 1848, Kierkegaard teve uma experiência religiosa e concluiu que só Deus 
poderia protegê-lo de uma preocupação excessiva consigo mesmo e em sua opinião 
“toda aexistência humana opõe-se a Deus”. Afirma que é impossível entender a 
existência intelectualmente e que o homem se desespera quando se identifica com 
algo exterior a ele, ficando à mercê do destino. Por não alcançar o seu eu ambicioso, 
nasce um vazio interior, acompanhado de uma vontade inconsciente de morrer. Só se 
escapa deste desespero caso se opte pelo seu próprio eu.
As ideias de Kierkegaard foram desenvolvidas por Edmund Husserl (1859-1938) e 
levadas adiante por Martin Heidegger (1889-1976), originando o existencialismo que 
atingiu seu ponto alto com Jean Paul Sartre (1905-1980). O termo existencialismo não 
foi muito bem aceito entre os filósofos e foi Sartre quem, desprovido de escrúpulo, 
primeiro aceitou ser chamado de existencialista, no começo de 1940.
Pode-se entender que o acento dado por Kierkegaard ao ser humano e seus 
problemas, ou seja, à subjetividade, faz parte de um movimento chamado de 
enantiodromia (etimologicamente enantio, oposto; e dromia ou dromos, pista de 
corrida) o qual poderia ser comparado ao movimento pendular. O pêndulo vai do alto 
do seu local até ao máximo possível na direção oposta, porém a cada movimento 
se enfraquece e tende ao ponto de repouso. Transferindo isso para o campo das 
ideias, e mais propriamente para a filosofia de Kierkegaard, ele estaria se contrapondo 
ao filósofo alemão Georg Wilhelm Friedrich Hegel (1770-1831), que havia acentuado 
demais a objetividade em detrimento da subjetividade. Como reação a isso Kierkegaard 
faz um resgate e dá uma ênfase ao ser humano e seu cotidiano.
O surgimento da antropologia filosófica
U1
36
O tema da angústia também foi pertinente ao desenvolvimento da 
psicologia freudiana. Porém, enquanto Kierkegaard era elemento ativo 
na questão, Freud tratou do problema de fora. Kierkegaard sentia a 
necessidade de aprofundar a questão da angústia, por tratar-se de uma 
realidade na qual estava imerso, era uma questão existencial e, a partir 
daí vai surgindo aquilo que viria a ser a filosofia existencialista. Freud, por 
sua vez, faz uma reflexão sobre a angústia sob o ponto de vista terapeuta, 
estudando suas raízes, seu desenvolvimento e suas consequências, sem, 
contudo, encontrar-se dentro desta realidade. Portanto, o primeiro 
terá uma elaboração com maior tendência ao subjetivismo, enquanto o 
último tenderá a uma maior objetividade no trato da questão.
Figura 1.10 | Retrato de Nietzsche de 1882
Fonte: Disponível em: <http://upload.wikimedia.org/
wikipedia/commons/thumb/2/23/Nietzsche1882.
jpg/640px-Nietzsche1882.jpg>. Acesso em: 31 mar. 2015.
Quer nos parecer que com a sua 
expressão “filosofar com o martelo”, 
Friedrich Nietzsche (1844-1900) nos 
fornece um bom resumo de sua 
postura filosófica. Nietzsche pode, 
perfeitamente, ser considerado o 
filósofo da contramão, ou da demolição 
de conceitos, por isso a imagem do 
martelo. Há que se quebrar tudo e 
reconstruir em novas bases.
Poderíamos também nos valer de 
outra imagem para complementar a 
compreensão da filosofia nietzscheana: 
o embate entre o apolíneo e o dionisíaco. 
Apolo, o deus sol, é emblema da razão, 
da moralidade e do comedimento. 
Dionísio, o deus do vinho (é o mesmo 
Baco para os romanos, daí o termo 
bacanal), é o deus da alegria, das festas 
e da embriaguez. Em linguagem atual, 
talvez pudesse ser o deus da balada. 
Ao longo da história, Apolo tem sido o 
grande vencedor desse confronto, pois a razão se sobrepôs ao impulso; mas para que 
o homem possa realmente ser feliz, Dionísio tem de vencer, pois a felicidade humana 
se alcança no gozo do prazer, no acúmulo de riquezas e na posse e desfrute do poder. 
3.3 Nietzsche e o Übermensch
O surgimento da antropologia filosófica
U1
37
Tal como já afirmavam os sofistas.
Para Nietzsche os sofistas estavam corretos, mas Sócrates, Platão, o cristianismo e 
toda a gama de filósofos que compartilharam de suas ideias e valores, desvirtuaram o 
pensamento dos sofistas ao privilegiarem o uso da razão em detrimento dos impulsos 
e dos desejos. Entende Nietzsche que a verdadeira natureza humana, não está no 
conter-se, no dominar-se a si mesmo (virtude), mas no extravasar e fazer tudo aquilo 
que se tem vontade.
Mas como fazer isso numa sociedade repressora? Agora se entende o filosofar 
com o martelo. Há de se demolir tudo o que está assentado na razão e reconstruir 
com base no impulso, na vontade. Pode parecer loucura enfatizar o impulso, mas 
segundo Nietzsche, o impulso é a essência do homem e só por intermédio da sua 
realização o homem conseguirá alcançar a felicidade.
Assim como Kierkegaard discordava de Hegel, Nietzsche também o fará, pois 
enquanto para Hegel a natureza do homem se encontra na razão, Nietzsche é levado 
a aproximar-se do pensamento de Arthur Schopenhauer (1788-1860) para quem a 
essência do homem e do mundo está na vontade. Contudo, Nietzsche não concorda 
plenamente com Schopenhauer, pois enquanto para esse o homem deve buscar o 
aniquilamento da sua vontade, o esvaziamento, a ascese; para Nietzsche o homem 
deve buscar a afirmação da vontade contra todo e qualquer obstáculo, deve fazer a 
sua vontade prevalecer, ser forte e viver as suas potencialidades intensamente.
A base do pensamento de Nietzsche é o conceito de que a 
realidade consiste numa explosão de forças desordenadas. Diante 
desta estrepitosa explosão de potência, que não pode ser refreada 
por nenhuma lei da razão, pode-se assumir uma dupla atitude: 
a de fraqueza (a dos rebanhos) e a de força e poder (do super-
homem). Os rebanhos diante da potência desregrada da natureza 
inventam a religião. A ética do super-homem é o triunfo da própria 
personalidade, além do bem e do mal, desde que se afirme sobre os 
outros. (MONDIN, 1981, p. 232).
Quase fazendo um joguete de palavras em língua alemã, Nietzsche afirmava 
Gott ist tot! (Deus está morto) e complementava: “Quem o matou fomos nós!” e 
“Não colocamos nada em seu lugar”. Tais afirmações, obviamente, não se referem 
à morte de Jesus e nem tampouco ao ateísmo nietzscheano, elas parecem indicar 
a constatação feita por Nietzsche de que na sociedade e na cultura da época, o 
fundamento da realidade, ou o sentido da vida, já não estava mais sendo, ou não devia 
mais ser, buscado em algo transcendente, e sim na afirmação de si, na confiança nas 
próprias capacidades e potencialidades humanas, superando a si mesmo, por isso a 
ideia de super-homem (Übermensch, em alemão): superar-se.
O surgimento da antropologia filosófica
U1
38
Talvez o grande mérito de Nietzsche tenha sido o de questionar, 
como ninguém, as estruturas da sociedade e o modo de vida de 
seus contemporâneos, sobretudo a ética do comodismo e da 
resignação. Segundo ele, é preciso “filosofar com o martelo”, ou 
seja, ir quebrando, estilhaçando, conceitos mal formulados, ou 
formulados de antemão, o que ele chama de “pré-conceito”, ou 
“pré-juízo”. E isso ele fez com um estilo literário único, algo meio 
próximo de tons proféticos, denunciando o modo de vida vigente. 
Para ele, tanto Sócrates, quanto Platão e o cristianismo nos fizeram 
muito mal ao nos ensinar que é preciso sofrer com paciência. Ele 
defende o contrário: é preciso viver intensamente, vibrar com a 
vida e desfrutar tudo o que ela tem a nos oferecer, dando vazão à 
vontade de potência. (MACHADO, 2013, p. 60).
Alasdair MacIntyre (2001, p. 431) dirá que “o homem nietzscheano, o Übermensch, 
o homem que transcende, até hoje não encontrou seu bem em lugar nenhum do 
mundo social, mas somente naquilo que dentro de si mesmo, dita sua própria nova lei 
e sua própria nova tabela das virtudes”.
Para compreendermos bem o pensamento de qualquer filósofo é preciso levar 
em conta o seu ambiente, o seu contexto; e para a compreensão da filosofia de 
Heidegger isso é imprescindível. Heidegger se encontra em uma Alemanha envolta 
em guerra, morte, medo, enfim, a questão era: como compreender o ser diante de 
Nietzsche parece ser um dos filósofos que mais encanta a 
juventude, sobretudo a juventude que busca afirmar-see 
construir os seus próprios caminhos. Poderíamos nos perguntar 
se esse encantamento é proveniente de uma identificação 
de pensamento, pois Nietzsche questiona com muito rigor a 
sociedade estabelecida de sua época tentando mostrar que os 
valores escolhidos são apenas alguns entre tantas alternativas 
que se descortina ao ser humano, principalmente ao homem 
que busca autonomia reflexiva; ou se essa identificação é por 
conta da rebeldia própria dessa fase da vida e, por vezes, até 
mesmo infundada.
3.4 Martin Heidegger: o homem é um ser para a morte
O surgimento da antropologia filosófica
U1
39
tanta estupidez e brutalidade?
Segundo Heidegger, o conceito de 
ser é universal e, talvez em função disso, 
é também vazio de sentido e muito 
difícil de ser definido. Está presente em 
tudo e ao mesmo tempo se esconde 
e assim a única maneira de abordá-
lo seria recorrer ao ser de algum ente 
particular. Desse modo, Heidegger 
desenvolveu uma filosofia voltada para 
os problemas concretos da vida e para 
a angústia humana diante da existência, 
ou seja, ele buscou aplicar o método 
fenomenológico ao estudo do ser, à 
medida que o seu estudo “parte do 
homem de fato, deixa que ele se manifeste 
tal qual é e procura compreender a sua 
manifestação”. (MONDIN, 1983, p. 188).
Projetou a sua principal obra, Ser e 
tempo, para ser desenvolvida em três 
partes, mas ficou apenas na primeira, 
talvez pela dificuldade histórica, ou 
filosófica, de prosseguir. Ele afirma que o 
ser foi, ao longo da história da Filosofia, 
estudado de modo abstrato, ideal, sem relação com o mundo, mas o ser só se realiza 
historicamente, em um determinado tempo. Ele se realiza em um mundo que não 
escolheu, ao contrário quando se deu por si já estava aí, por isso pode dizer que o ser 
é um Dasein (ser aí, ou estar aí, em alemão). Distingue ser (aquilo que tem essência), 
de ente (aquilo que tem existência).
Entre os seres existentes, o homem tem primazia, pois é o único com possibilidades 
de compreender o ser e também o único capaz de determinação, haja vista que não 
está totalmente preso em sua situação, mas é capaz de se tornar algo novo, algo 
diferente através dos seus ideais, planos e possibilidades. O homem tem a possibilidade 
de ser ou não ser ele mesmo e assim a essência do homem consiste na sua existência. 
Além disso, o homem é único ser que pode projetar o futuro, tendo consciência 
do seu passado e vivendo o presente, portanto, o elemento temporalidade associa 
essência com a existência humana.
Sendo o homem um ser no mundo com possibilidades de se projetar (existência), 
abre-se diante dele a opção de levar uma vida autêntica ou inautêntica, banal. Na vida 
autêntica, o homem assume a própria vida e a conduz por si. Na vida inautêntica, o 
Figura 1.11 | Foto de Heidegger em 1960
Fonte: Disponível em:<ttp://upload.wikimedia.org/
wikipedia/commons/2/2c/Heidegger_4_%281960%29_
cropped.jpg>. Acesso em: 31 mar. 2015.
O surgimento da antropologia filosófica
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40
Figura 1.12 | Foto de Sartre em 1950
Fonte: Disponível em: <http://upload.wikimedia.org/
wikipedia/commons/d/d1/Jean-Paul_Sartre_FP.JPG>. 
Acesso em: 20 mar. 2015.
homem se deixa levar pela situação e é 
conduzido pela massa; não é senhor de 
si. Quem leva vida autêntica e se projeta 
no futuro, sabe que a última possibilidade 
será a morte, a qual também deve ser 
levada em consideração, pois representa 
o término desta existência. A morte é 
presença constante para o ser humano 
e se faz presente desde que se inicia a 
existência, mas ao adquirir consciência 
da morte o homem cai na angústia.
Jean-Paul Sartre, nascido em Paris, 
no dia 21 de junho de 1905 e falecido na 
mesma cidade, em 15 de abril de 1980, 
é considerado o expoente máximo 
do existencialismo. Perdeu o pai aos 
15 anos e foi criado por sua mãe e seu 
avô. Estudou Filosofia na École Normale 
Supérieure de Paris. Em 1929 conheceu, 
na Universidade de Sorbonne, Simone de Beauvoir e com ela conviveu até a sua 
morte. Em 1931, tornou-se professor de Filosofia na Universidade de Le Havre. Além 
de filósofo, foi também escritor e ganhou (mas recusou) o Prêmio Nobel de Literatura 
em 1964. Entre suas principais obras temos O ser e o nada, A náusea, Crítica da razão 
dialética e O idiota da família.
3.5 Sartre: a existência precede 
a essência
Quando jovem, Sartre rejeitou os valores “burgueses” de sua 
criação, e a busca por um modo de vida livremente escolhido e 
autêntico – não determinado pela autoridade, religião ou tradição 
– tornou-se um de seus temas dominantes. [...] Sartre traçou 
uma distinção radical entre matéria física e consciência, a última 
caracterizada por sua liberdade. Seja qual for nossa situação, somos 
livres para “negá-la” – para imaginar as coisas de outro modo e nos 
empenharmos para mudá-las. (LAW, 2008, p. 336).
Para os filósofos antigos, tudo no mundo tem uma finalidade, um propósito; ou 
seja, tudo tem uma essência, uma razão de ser, pois a natureza não faz nada em vão. 
Isso significa que o homem também tem uma essência e que ela já existe mesmo 
O surgimento da antropologia filosófica
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41
antes de o homem em particular existir. Porém, Sartre não concorda com essa ideia 
e diz que o homem é totalmente livre e deve assumir a responsabilidade pelo que faz 
e pelo que se torna e, desse modo, segundo Sartre, no caso do homem, a existência 
precede a essência. Temos de criar um propósito (essência) para nós mesmos. Diz 
ele que o homem primeiro surge no mundo, existe, se descobre ou se percebe e só 
depois define o que vai ser, não importando tanto o que os homens são, mas mais o 
que eles podem se tornar. 
Ao abordar a questão do ser – denominado por Sartre ser em si, para distingui-lo da 
consciência, ser para si – ele afirma que
Não há nada, portanto, que defina a existência 
humana, estando o homem condenado a ser livre 
e com base nesta liberdade construir a si mesmo.
Max Scheler (1874-1928) não é um 
pensador muito conhecido. Alguém poderia 
se perguntar “porque abordá-lo dentro da 
temática antropológica?” E a resposta poderia 
ser “justamente por tratar-se de antropologia 
filosófica”, pois Scheler, em sua obra A situação 
do homem no cosmos, e mais especificamente 
ao abordar a questão intitulada Diferença 
essencial entre o homem e o animal traça as 
linhas fundamentais da antropologia filosófica.
Notem que até agora falamos de homem, 
mas não falamos de pessoa. Com Scheler o conceito de pessoa começa a 
sua característica particular é o absurdo: no absurdo está a chave 
da existência de cada coisa. O homem diferencia-se dos outros 
seres porque tem a consciência de que é o oposto do ser. Para 
viver, a consciência necessita nulificar o ser, na medida em que, 
por sua natureza, é o não ser, o vazio, o nada. [...] Mas o que é o 
dado constitutivo essencial do homem não é a consciência, mas 
a liberdade, sem limites e não vinculada a nenhuma lei moral. 
(MONDIN, 1981, p. 237).
Figura 1.13 | Foto de Max Scheler
Fonte: Disponível em: <http://upload.wikimedia.
org/wikipedia/commons/a/af/Scheler_max.
jpg>. Acesso em: 31 mar. 2015.
3.6 Max Scheler e o homem que se 
projeta
O surgimento da antropologia filosófica
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ser levado em conta. Ele constrói urna antropologia com ênfase no conceito 
personalista, de onde nasce um sujeito como ser espiritual e como pessoa. Ser 
espiritual, porque capaz de se desvincular do poder e da ligação com a vida, ou seja, 
capaz de projetar-se e de sonhar. E pessoa, porque é centro de atos intencionais.
Essa linha pascalina, à qual Mourão se refere, é um resgate da contribuição de 
Blaise Pascal, autor da famosa frase “o coração tem razões que a própria razão 
desconhece”, daí a expressão raisons du coeur, razões do coração.
Scheler afirmava que, em virtude da participação humana no impulso vital 
biopsíquico, o homem se encontra imerso em um mundo de forças psíquicas que 
indo desde as plantas e animais, chega até ao homem, animal superior. Porém, a 
A ideia de simpatia, expressa

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