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CIRURGIA: TRAUMA 1 Trauma Torácico Introdução É responsável por cerca de 25% das mortes no politrauma. 10% dos traumatismos contusos necessitam de toracotomia. Os mecanismos de trauma torácico podem ser por: • Penetrantes: causam hemotórax e pneumotórax. • Transfixastes que atingem mediastino: afetam grandes vasos, pericárdio e esôfago → pacientes com esse tipo de lesão + instabilidade hemodinâmica são indicados à toracotomia de emergência. • Fechado: fraturas de costelas (golpe direto ao tórax), ruptura de aorta/contusão pulmonar e cardíaca (lesão por desaceleração), ruptura do coração e diafragma (lesão por esmagamento) Sendo assim, temos que as principais consequências hemodinâmicas de uma vítima de trauma torácica são: • Hipoxemia → alteração na relação ventilação/perfusão ou por desequilíbrios pressóricos intratorácicos • Hipovolemia e choque hemorrágico • Insuficiência cardíaca Epidemiologia Colisões de veículo representam a causa mais comum de trauma torácico. Alguns fatores que pioram o risco de trauma torácico são: alta velocidade, s/ cinto de segurança, destruição do veículo, deformação das rodas. Pacientes que tem rotura de aorta no acidente morrem instantaneamente ou durante o atendimento inicial. Cerca de 20% dos pacientes morrem por lesão cardíaca. Fraturas de costelas geralmente são encontradas em 2/3 dos traumas veiculares. Lesões do esterno e escápula evidenciam alto impacto do trauma. Toracotomia As principais indicações de toracotomia imediata em traumas torácicos são: • Hemotórax maciço → sangue no espaço pleural > 1500 ml ou saída de sangue > 200 ml/h nas primeiras 2 horas. • Lesões penetrantes com tamponamento cardíaco • Feridas de grandes dimensões na caixa torácica • Lesões de vasos nobres • Lesões traqueobrônquicas extensas • Perfuração esofagiana OBS! Parada circulatória traumática (PCT) Pacientes vítimas de trauma torácico inconscientes e sem pulso apresentam parada circulatória, a PCT. Os ritmos cardíacos que podem ser encontrados são: atividade elétrica sem pulso, fibrilação ventricular e assistolia. Se, mesmo com a ressuscitação cardiopulmonar fechada, acompanhada de medidas de drenagem torácica bilateral (pesquisa por existência de pneumotórax hipertensivo), ventilação mecânica com O2 a 100% e administração de epinefrina, o paciente não voltar ao normal, uma toracotomia de ressuscitação na própria sala de emergência está indicada. A toracotomia de ressuscitação é feita a partir de uma toracotomia anterolateral esquerda no nível dos 4º ou 5º espaço intercostal. Tal procedimento é mais efetivo em pacientes com trauma torácico penetrante, mas também é indicado para = traumas fechados. OBS! Algumas definições chaves a serem esclarecidas: • Toracocentese: punção do tórax do paciente (ex: punção de alívio para um pneumotórax hipertensivo) CIRURGIA: TRAUMA 2 • Toracotomia: acesso cirúrgico ao tórax do paciente • Toracostomia: fazer um buraco no tórax do paciente (ex: drenagem torácica em selo d’água) TRAUMATISMOS DE PAREDE TORÁCICA Geralmente, o comprometimento de 1 ou 2 arcos costais sem lesão pleural tem um tratamento ambulatorial. Os idosos são um grupo que merece atenção mais especial. Por possuírem uma complacência pulmonar ou doença parenquimatosa pulmonar, pode ocorrer repercussões mais sérias, como acúmulo de secreções, atelectasia e infecção. Além disso, fraturas de costelas vão dificultar ainda mais a respiração já com problema desses pacientes, a não resposta à analgesia oral ou intravenosa requer bloqueio intercostal e, em casos de múltiplas fraturas bilaterais, analgesia epidural. Alguns tipos de fraturas indicam maior gravidade do paciente e traumas mais intensos: • Fraturas de esterno: demonstram que houve um trauma violento. Tal fratura indica possíveis lesões de estruturas subjacentes, como coração, pericárdio e grandes vasos. • Fraturas do 1º ao 3º arcos costais: pode haver lesão de grandes vasos, podendo incluir TCE e trauma raquimedular • Fraturas do 10º ao 12º arcos costais: podem acompanhar lesões hepáticas ou esplênicas • Esmagamento torácico (cru shing injuries): ocasionam compressão da veia cava e o resultado muitas vezes é edema e petéquias da parte superior do tronco, membros superiores e face; edema cerebral pode complicar ainda mais este quadro grave Tórax instável É quando um segmento da parede torácica perde continuidade com o restante da caixa torácica. Normalmente ocorre quando á fratura de 2 ou mais arcos costais consecutivos, sendo que cada arco deva estar fraturado em pelo menos dois pontos. A respiração paradoxal será a consequência imediata do tórax instável. Esse achado consiste em: retração da parte da caixa torácica descontinuidade durante a inspiração; já na expiração, ocorre o abaulamento dessa região. Essa alteração do mecanismo respiratório causa maior trabalho respiratório, podendo evoluir para uma insuficiência respiratória. O pilar do tratamento para o tórax instável é a analgesia por opiáceos, que pode ser por: • Intravenosa (bloqueios intercostais) • Epidural A melhora da dor vai permitir maior expansibilidade torácica, alinhamento das fraturas e evitar o acúmulo de secreções pulmonares. TRAUMATISMO PULMONAR E PLEURAL Contusão pulmonar (CP) As contusões pulmonares são lesões no parênquima pulmonar. Geralmente ocorrem por fraturas de costelas que lesão o pulmão, mas é possível ver CP sem tal fator, principalmente em crianças (apresentam mais elasticidade da caixa torácica). O líquido e o sangue do interior dos vasos rotos tomam os alvéolos na CP, produzindo hipoxemia e consolidação do pulmão ao raio-X (ver pulmão esquerdo da figura abaixo). CIRURGIA: TRAUMA 3 A CP pode evoluir até 48 horas após o trauma ou pode ser mais aguda (é mais grave, evoluindo à insuficiência respiratória precocemente). As maiores causas de óbito são quando estão associados com: idade, doença pulmonar crônica, Síndrome do Desconforto Respiratório Agudo e pneumonia. A conduta inicial em vítimas com CP é: • Com SatO2 > 90% → administração de O2 e analgesia • Com SatO2 < 90% ou PaO2 < 60 mmHg → intubação e ventilação mecânica. OBS! Deve-se ter cautela na administração de volume ao paciente com CP, pois pode aumentar os infiltrados pulmonares e piorar a respiração do paciente. Pneumotórax Caracterizado por ar na cavidade pleural. É dividido em 3 quadros principais: simples, hipertensivo e o aberto Pneumotórax simples Não apresenta desvio do mediastino. Pode ser classificado em pequeno ou grande: Pneumotórax pequeno: perda de parênquima é inferior a 1/3 do volume do pulmão; grande pneumotórax é caracterizado por colapso de todo ou quase todo o pulmão, sem a presença de desvio do mediastino ou hipotensão. Na próxima imagem demonstra um pneumotórax simples. As setas completas apontam o pulmão colapsado pelo ar na cavidade pleural. As cabeças de setas grandes apontam para a bora da escápula, que as vezes pode confundir com um pneumotórax. Pneumotórax simples grandes devem ser sempre drenados por drenagem intercostal sob selo d’água. Já os pequenos devem ser drenados nas seguintes ocasiões: • Quando houver piora do quadro • Indicação de transporte do paciente por via aérea: cabines pressurizadas podem transformar em um pneumotórax hipertensivo. • Necessidade de ventilação mecânica. A retirada do dreno é feita somente quando o pulmão estiver totalmente expandido e não ocorrer borbulhamento no frasco de drenagem por 48 a 72 horas. OBS! A drenagem intercostal (toracostomia) sob selo d’água é habitualmente realizada com uma incisão no 5º espaço intercostal, entre as linhas axilares média e anterior. Após a incisão, com o auxílio de uma pinça hemostática (pinça de Kelly), o cirurgião divulsiona os tecidos até acessar a cavidade pleural. Em seguida,introduz seu dedo indicador para checar o trajeto. Só após este procedimento, o dreno é passado. Pneumotórax hipertensivo Ocorre quando há a abertura de um mecanismo de válvula unidirecional de ar para o espaço pleural. Esse mecanismo permite um acúmulo de ar gradual e rápido no espaço pleural e impossibilita a saída desse ar, causando instabilidade hemodinâmica e desvio acentuado do mediastino. A causa mais comum é a ventilação com pressão positiva em pacientes com lesões pleuropulmonares prévias. OBS! No traumatismo fechado de tórax, a ruptura súbita do parênquima com escape de ar para o CIRURGIA: TRAUMA 4 espaço pleural é conhecida como ruptura alveolar em "saco de papel". Sendo assim, a aumento da pressão da cavidade pleural ocasionada pelo ar vai colabar o pulmão ipsilateral ao pneumotórax e fazer um desvio do mediastino (comprime os vasos da base cardíaca e causa do débito cardíaco e choque obstrutivo). As manifestações clínicas do pneumotórax hipertensivo são: • Dispneia importante. • da expansibilidade do hemotórax envolvido. • Desvio contralateral da traqueia. • Som timpânico à percussão (isso vai diferenciar de um hemotórax maciço, que terá percussão maciça) • do MV no hemitórax acometido • Turgência jugular e Hipotensão (devido à compressão dos vasos da base) • Enfisema subcutâneo O diagnóstico do pneumotórax hipertensivo é clínico. Já o tratamento imediato é feito por uma toracocentese, a fim de transformá-lo em um pneumotórax simples (vai sair o ar que está pressionando o pulmão e as estruturas mediastinais). A toracocentese deve ser feita diferente em adultos e crianças: • Adultos: 4º ou no 5º espaço intercostal, entre a linha axilar média e anterior. • Crianças: 2º espaço intercostal, na linha hemiclavicular. O tratamento definitivo vai ser o mesmo de um pneumotórax simples → toracostomia. OBS! Perceba que em um primeiro momento faz-se uma toracocentese de emergência para reestabelecer a estabilidade hemodinâmica do paciente no pneumotórax hipertensivo. Após ele se transformar em um pneumotórax simples, fazemos o seu tratamento com a toracostomia. OBS! Caso, após drenagem eficaz, o pneumotórax hipertensivo persista, devese suspeitar imediatamente de lesão de via aérea de grosso calibre se comunicando com a cavidade pleural. Esta situação exige toracotomia em centro cirúrgico para a abordagem do defeito Pneumotórax aberto É o pneumotórax ocasionado por uma ferida com diâmetro igual ou superior a 2/3 do diâmetro da traqueia, que fará com que o ar siga preferencialmente pela abertura torácica (em vez da traqueia), o que levará à insuficiência respiratória. O tratamento imediato deve ser pré-hospitalar, ocluindo-se a ferida com curativo com aspecto quadrangular fixado em apenas três pontos (com esparadrapo ou fita adesiva). Esta medida permite a saída de ar da cavidade pleural com a expiração e impede a entrada de ar com a inspiração → A fixação dos quatro lados do curativo, sem o dreno pleural estar instalado, pode resultar em pneumotórax hipertensivo. Posteriormente, já em ambiente hospitalar, a drenagem intercostal em selo d’água é realizada (distante do sítio da lesão), seguida do fechamento cirúrgico da ferida. Hemotórax É a ocorrência de sangue na cavidade pleural. Geralmente ocorre devido a lacerações pulmonares, envolvimento de vasos intercostais ou lesão da artéria mamária interna. Nas vítimas de trauma, todo derrame pleural deve ser encarado, até segunda ordem, como sendo um hemotórax. A toracostomia com drenagem torácica em selo d'água é o tratamento de escolha. Radiografia pode não revelar acúmulos de até 1 L. Hemotórax maciço A forma mais gave é o hemotórax maciço, que é quando temos mais de 1,5 L ou 2/3 do volume sanguíneo do paciente na cavidade torácica. O CIRURGIA: TRAUMA 5 hemotórax maciço pode ser diagnosticado pelo ex físico com: choque, MV ausente, macicez à percussão do hemitórax envolvido, diminuição da expansibilidade, jugulares colabadas. O tratamento do hemotórax maciço envolve reposição volêmica, com toracostomia para a drenagem do sangue, com o dreno no nível do 5º espaço intercostal, em posição imediatamente anterior à linha axilar média. O sangue coletado deve ser preparado para a autotransfusão. A drenagem de mais de 1,5 L de sangue ou uma saída > 200 mL/h de sangue pelo dreno nas primeiras 2 ou 4 horas são situações que requerem toracotomia. Todavia, vale ressaltar que entra em conta a avaliação pelo cirurgião cardiovascular, que terá a melhor conduta levando em consideração outras características, como a características do sangue, velocidade de saída e etc. Quilotórax Presença de linfa na cavidade pleural. A linfa que geralmente forma o quilotórax é formado por uma linfa de origem intestina, composta de triglicerídeos, linfócitos, eletrólitos, vitaminas lipossolúveis e proteínas. O aspecto da linfa na radiografia é igual qualquer outro derrame pleural. As causas do quilotórax podem ser atraumáticas (ex: obstrução/lesão do ducto torácico, linfomas, leucemia e etc) e traumáticas. O tratamento do quilotórax inclui drenagem intercostal sob selo d’água. O indivíduo deve receber um suporte nutricional, sendo realizado através de nutrição parenteral total ou de dieta com alto teor proteico, suplementada com Triglicerídeos de Cadeia Média (não são absorvidos pelo sangue portal). É importante também uma reposição agressiva de líquidos e eletrólitos. Lesão da árvore traqueobrônquica Evento pouco comum e muito fatal. Um paciente com essa condição tem como ex físico: enfisema subcutâneo, hemoptise, hematoma paratraqueal e pneumotórax hipertensivo (pode ser necessário mais de um dreno). A ventilação do paciente deve ser direto na via aérea inferior, por meio de uma intubação endotraqueal guiada por fibroscopia. O tubo deve ser colocado após a lesão. O tratamento definitivo da lesão traqueobrônquica é cirúrgico Traumatismo de aorta A ruptura da aorta é responsável por 40% das mortes por acidentes automobilísticos. Os locais de maior lesão são a aorta descendente no nível do ligamento arterioso (54 a 65% dos casos), arco aórtico (10-14%) e aorta descendente (13-18%). A maioria das vítimas morre de imediato. As que sobrevivem, geralmente são devido à contenção do sangramento pelos tecidos circundantes. O reconhecimento desta condição é de fundamental importância, pois 25% dos indivíduos terão, nas próximas 24 horas, uma elevada probabilidade de ruptura da aorta. O ex. físico do paciente não apresenta alterações que possam fazer o médico pensar em traumatismo de aorta. No entanto, uma história de trauma por desaceleração somada a alguns sinais observados na radiografia de tórax pode nos sugerir o comprometimento aórtico e de vasos da base. Destes sinais radiológicos, o mais consistente é o alargamento do mediastino As principais alterações radiológicas no trauma aórtico são: Após a interpretação dos mecanismos do trauma, se houver suspeita de lesão da aorta, a Tomografia Computadorizada Helicoidal de Tórax Contrastada (TCHTC) deve ser indicada. Este é um CIRURGIA: TRAUMA 6 exame com sensibilidade e especificidade incrível. Mas, na presença de instabilidade hemodinâmica, esse exame está contraindicado. As condutas iniciais na sala de emergência para pacientes com trauma de aorta são: controle da FC e da PA → a fim de diminuir a probabilidade de rotura do vaso. Para isso, são utilizados β-bloq de ação rápida (como o esmolol) ou um bloqueador de canal de cálcio quando aquele é contraindicado. Devemos procurar mantes os seguintes sinais: • FC < 80 bpm • PAM de 60 a 70 mmHg. Apesar das medidas iniciais, o tratamento reque cirurgia endovascular, com o posicionamento de uma prótese no nível do segmento lesado. Trauma do diafragma Podem ser ocasionados por lesões penetrantes outraumatismos fechados → penetrantes são mais comuns (6 para 1). Lesões penetrantes Pode ocorre apenas um diagnóstico tardio. Todas as lesões penetrantes abaixo dos mamilos e acima da margem costal deve ser investigado para possível comprometimento diafragmático. A investigação pode ser feita com: • Lavado peritoneal, nas feridas penetrantes no epigástrio; • Videotoracoscopia, naqueles indivíduos com hemotórax e/ou pneumotórax; • Videolaparoscopia, nos pacientes com lesão na transição toracoabdominal e radiografia de tórax normal. Traumatismo fechado Ocorrem por desacelerações rápidas ou forças intensas de compressão, que podem ocasionar em um aumento súbito e intenso da pressão intra- abdominal. As lacerações no músculo costumam ser grandes, usualmente maiores do que 5 cm, estando relacionadas a fraturas de arcos costais. Na prática médica, as rupturas traumáticas ocorrem mais frequentemente do lado esquerdo, região não protegida pelo fígado. A ruptura do diafragma pode levar à herniação de vísceras, podendo causar alterações respiratórias. O diagnóstico pode ser feito por Raio-X (pode colocar uma sonda nasogástrica no paciente e fazer o raio-X, se a sonda aparecer em cima do diafragma, está feito o diagnóstico). A conduta nesses casos é a laparotomia com redução da hérnia, seguida de rafia do diafragma.
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