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www.farmaceuticando.com Licensed to Juliane Simões - julianesimoes010@gmail.com - HP159016245680667 http://www.farmaceuticando.com/ www.farmaceuticando.com Sobre Giovani Lavieri Giovani é farmacêutico, formado pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), especialista em Toxicologia Clínica e Forense pela Faculdade Unyleya e em Ciências Forenses e Perícia Criminal pela Universidade Potiguar (UnP). Possui experiência nas análises clínicas, já atuou como farmacêutico bioquímico em laboratórios de grande rotina e é professor universitário desde 2016. Também atua como assessor científico. Criou o Farmaceuticando com objetivo de ajudar estudantes da área da saúde, bem como profissionais formados, a se aprofundarem nas análises clínicas e toxicológicas. Licensed to Juliane Simões - julianesimoes010@gmail.com - HP159016245680667 http://www.farmaceuticando.com/ www.farmaceuticando.com Olá, tudo bem? Obrigado por adquirir o e-book Uroanálises. 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Licensed to Juliane Simões - julianesimoes010@gmail.com - HP159016245680667 http://www.farmaceuticando.com/ https://farmaceuticando.com/ https://instagram.com/farmaceuticando_ https://bit.ly/Farmaceuticando-WhatsApp Uroanálises – Epifanio Fernandes www.farmaceuticando.com 4 Sumário 1. Introdução...................................................................................................................................................5 2. Exame de urina de rotina.................................................................................................................8 3. Coleta da amostra..................................................................................................................................9 4. Exame físico ou macroscópico da urina................................................................................11 4.1. Cor.........................................................................................................................................................11 4.2. Aspecto.............................................................................................................................................12 4.3. Odor e Espuma...........................................................................................................................13 5. Exame químico da urina..................................................................................................................15 5.1. pH.........................................................................................................................................................15 5.2. Densidade.......................................................................................................................................16 5.3. Proteínas (Albumina)..............................................................................................................17 5.4. Glicose...............................................................................................................................................17 5.5. Cetonas (Corpos cetônicos)................................................................................................18 5.6. Bilirrubinas e Urobilinogênios..........................................................................................19 5.7. Sangue (Hemoglobina).........................................................................................................19 5.8. Leucócitos (Esterase leucocitária)................................................................................20 5.9. Nitrito................................................................................................................................................20 6. Exame macroscópico da urina ou sedimentoscopia..................................................21 6.1. Células epiteliais........................................................................................................................22 6.2. Leucócitos......................................................................................................................................24 6.3. Hemácias........................................................................................................................................25 6.4. Dismorfismo eritrocitário....................................................................................................26 6.5. Cristais urinários........................................................................................................................27 6.6. Cilindros urinários....................................................................................................................34 7. Outras estruturas do sedimento urinário..........................................................................40 7.1. Bactérias.........................................................................................................................................40 7.2. Fungos.............................................................................................................................................40 7.3. Parasitas..........................................................................................................................................41 7.4. Fios mucosos...............................................................................................................................42 7.5. Corpos ovais gordurosos ou graxos.............................................................................43 8. Referências..............................................................................................................................................45 Licensed to Juliane Simões - julianesimoes010@gmail.com - HP159016245680667 http://www.farmaceuticando.com/ Uroanálises – Epifanio Fernandes www.farmaceuticando.com 5 1. Introdução A urina é formada pelos rins inicialmente a partir de uma filtração do sangue. Ao passar pelos glomérulos (uma espécie de novelo de vasos capilares envolvidos pela cápsula glomerular), o sangue é “forçado”, principalmente pela pressão arterial, contra um sistema de membranas celulares e poros. É possível afirmar que a estrutura glomerular funciona como uma espécie de filtro ou de peneira, retendo células e macromoléculas de alto peso molecular que devem ser preservadas, e deixando passar água, eletrólitos e pequenas moléculas provenientes do metabolismo celular. Figura 1. Estrutura do néfron, unidade funcional do rim. Fonte: Silverthorn, 2017. O líquido que atravessa o glomérulo e chega aos túbulos renais é chamado de ultrafiltrado. Esse líquido não está pronto para ser eliminado, em termos de volume e composição. A filtração é um processo constante e o fluxo sanguíneo renal é de aproximadamente 1 litro por MINUTO. Esse volume é muito maior que o volume urinário de um adulto sadio, em condições habituais, que é cerca de 1 a 2 litros por Licensed to Juliane Simões - julianesimoes010@gmail.com - HP159016245680667 http://www.farmaceuticando.com/ Uroanálises – Epifanio Fernandes www.farmaceuticando.com 6 DIA! O que acontece com o ultrafiltrado para que seu volume seja reduzido até o volume que é excretado como urina? Esse filtrado precisa ser concentrado através dos processos de reabsorção e secreção que ocorrem nos túbulos renais. A reabsorção tubular é um processo de recuperação de substâncias que são importantes para o organismo, como a água, glicose, aminoácidos, sódio, potássio, bicarbonato, cálcio, dentre outras. Ao serem transportadas pelas células que revestem os túbulos renais, as moléculas retornam para a corrente sanguínea. Assim, os rins evitam a perda urinária de substâncias necessárias. É importante salientar que os túbulos renais apresentam uma capacidade reabsortiva máxima e algumas substâncias em alta concentração podem ultrapassar essa capacidade e aparecer na urina. Essa capacidade reabsortiva máxima pode ser compreendida como o limiar renal de reabsorção. A glicose, um carboidrato importante como fonte de energia, é filtrada e reabsorvida no túbulo proximal. O limiar renal para a glicose é de 160 a 180mg/dL, em concentrações elevadas a glicose não é completamente reabsorvida. Isso explica o aparecimento comum da glicose na urina de pacientes diabéticos. A secreção tubular consiste na passagem de substâncias do sangue dos capilares peritubulares para o sistema de túbulos renais, onde poderão ser excretadas. A secreção serve para a remoção de resíduos celulares que não são filtrados pelos glomérulos. Além disso, o mecanismo de secreção é importante na eliminação de fármacos ligados às proteínas plasmáticas, uma vez que estas são dificilmente filtradas. Uma função muito importante da secreção é na manutenção do equilíbrio ácido-básico do organismo, pois esse é o principal mecanismo de regulação dos íons hidrogênio. Licensed to Juliane Simões - julianesimoes010@gmail.com - HP159016245680667 http://www.farmaceuticando.com/ Uroanálises – Epifanio Fernandes www.farmaceuticando.com 7 Figura 2. Movimento de solutos no néfron. Fonte: Silverthorn, 2017. Cerca de 180 litros de plasma é filtrado nos glomérulos por dia e, com os processos de reabsorção (mais importante) e secreção, esse volume é convertido em cerca de 1,5 litro de urina final. Licensed to Juliane Simões - julianesimoes010@gmail.com - HP159016245680667 http://www.farmaceuticando.com/ Uroanálises – Epifanio Fernandes www.farmaceuticando.com 8 2. Exame de urina de rotina O exame de urina de rotina também é conhecido como sumário de urina, EAS (pesquisa de elementos anormais e sedimentoscopia) ou ainda EQU (exame qualitativo de urina). Esse exame está entre os mais solicitados em laboratórios de análises clínicas. É importante salientar que o exame de urina de rotina é um teste de triagem, ou seja, ele não confirma um diagnóstico mas fornece informações muito valiosas quando é bem interpretado pelo médico. O exame de urina de rotina é muito útil no diagnóstico de condições que afetam o trato geniturinário, assim como de processos metabólicos e de outros órgãos. Licensed to Juliane Simões - julianesimoes010@gmail.com - HP159016245680667 http://www.farmaceuticando.com/ Uroanálises – Epifanio Fernandes www.farmaceuticando.com 9 3. Coleta da amostra A amostra utilizada no exame de urina de rotina deve ser recente, sem conservantes e, de preferência, o paciente deve permanecer 2 horas sem urinar antes da coleta. É importante manter a amostra em temperatura ambiente, porém pode ser armazenada em geladeira e protegida da luz, caso o exame não possa ser executado em até 2 horas após a coleta. Nessas condições, a amostra é adequada para realização do exame por até 12 horas. Quando a amostra for refrigerada, é importante aguardar até que ela fique em temperatura ambiente e seja bem homogeneizada, sendo observada e bem analisada presença de precipitados no recipiente. Por que a urina deve ser analisada o mais rápido possível? Já foi relatado que alterações podem ocorrer em sua composição caso ela seja deixada em temperatura ambiente por muito tempo. A tabela abaixo mostra algumas dessas alterações que podem interferir nos resultados, gerando um laudo com achados que podem não refletir a verdadeira condição de saúde do paciente. Tabela 1. Alterações observadas em amostra de urina após 2 horas em temperatura ambiente. Fonte: SBPC/ML, 2017. Licensed to Juliane Simões - julianesimoes010@gmail.com - HP159016245680667 http://www.farmaceuticando.com/ Uroanálises – Epifanio Fernandes www.farmaceuticando.com 10 A amostra ideal para o exame de urina de rotina é a primeira urina da manhã, pois esta é mais concentrada, o que melhora a avaliação de substâncias dissolvidas e elementos figurados quando comparada a uma amostra aleatória do dia, que tem como característica ser mais diluída. A melhor maneira de coletar a urina é a coleta de jato médio com assepsia. Esse método consiste em coletar a parte intermediária do fluxo urinário após assepsia genital. O paciente é instruído a fazer a limpeza da região genital e desprezar o primeiro jato de urina, pois este pode conter secreções da uretra, filamentos de muco e alguns microrganismos da microbiota local, então os primeiros mililitros de urina acabam realizando um tipo de “limpeza” no canal uretral. A porção média do fluxo deve ser recolhida no frasco coletor. Algumas situações podem necessitar de amostras ou de coletas específicas. Por exemplo, pacientes pediátricos ou idosos que não conseguem controlar a micção podem ser favorecidos com a coleta através de saco coletor. Em serviços de urgência e emergência pode ser solicitado um exame de urina de rotina e, nesse caso, não precisa esperar a primeira urina da manhã, se utiliza uma amostra aleatória de urina, tornando a realização do exame mais cômoda. Licensed to Juliane Simões - julianesimoes010@gmail.com - HP159016245680667 http://www.farmaceuticando.com/ Uroanálises – Epifanio Fernandes www.farmaceuticando.com 11 4. Exame físico ou macroscópico da urina No exame físico, o analista observa a cor e o aspecto. Ocasionalmente, pode ser referido o odor e a presença de depósito ou de espuma. A densidade também é um parâmetro físico, mas, atualmente, o método mais usual de medição da densidade da urina é através da tira reagente, que corresponde ao exame químico. Assim, a densidade será abordada no tópico de exame químico. 4.1 Cor A cor normal da urina pode variar levemente entre os laboratórios, podendo ser amarelo claro, amarelo citrino, amarelo escuro ou âmbar. A cor da urina é causada pela presença dos pigmentos urocromo (maior quantidade), uroeritrina e urobilina. Quanto maior a quantidade desses pigmentos, mais acentuada será a cor da urina. Por outro lado, uma urina mais incolor é mais diluída e pode estar relacionada a um consumo elevado de líquidos, uso de diuréticos ou portadores de diabetes mellitus ou diabetes insípido. A urina pode assumir outras cores menos usuais dependendo da ingestão de medicamentos ou de condições clínicas. Figura 3. Variações na cor da urina. Fonte: Mundt, 2012. Licensed to Juliane Simões - julianesimoes010@gmail.com - HP159016245680667 http://www.farmaceuticando.com/ Uroanálises – Epifanio Fernandes www.farmaceuticando.com 12 Tabela 2. Cores de urina e suas possíveis causas. Fonte: SBPC/ML, 2017. 4.2 Aspecto Também chamado de turbidez, o aspecto tem relação com a transparência ou a turvação da urina. A análise consiste na observação da urina homogeneizada, dentro de um recipiente transparente e contra uma fonte luminosa. De acordo com a quantidade de partículas suspensas, o laboratório deve padronizar a nomenclatura, sendo as mais comuns: límpida, semi-turva ou ligeiramente turva e turva, ou ainda leitosa. Normalmente a cor e o aspecto são analisados de uma vez só, através da observação subjetiva do analista. Existem diversas causas para a turvação da urina, podendo ser patológica ou não. Dentre as causas não patológicas de turvação, pode ser devido à presença de células epiteliais escamosas, filamentos de muco ou precipitação de alguns sais amorfos devido a refrigeração da amostra, dentre outras. Em relação às causas patológicas de turvação, podem ser devido à presença de hemácias, leucócitos, microrganismos, célula epiteliais tubulares, cristais patológicos, cilindros, dentre outras. Licensed to Juliane Simões - julianesimoes010@gmail.com - HP159016245680667 http://www.farmaceuticando.com/ Uroanálises – Epifanio Fernandes www.farmaceuticando.com 13 Figura 4. Escala visual para avaliação da turbidez da urina. Fonte: Adaptado de Cunningham et al, 2020. 4.3 Odor e Espuma O odor característico da urina é decorrente da presença de ácidos voláteis e raramente apresenta significado clínico, não sendo um parâmetro comum nos laudos. Existem algumas situações especiais onde o odor da urina pode ser útil e auxiliar no diagnóstico. Urina com odor adocicado pode ser indicativo da presença de cetonas, urina com odor forte e fétido pode ser indicativo da presença de bactérias. Algumas alterações metabólicas hereditárias podem causar a formação de odores característicos na urina. Já foi relatado um cheiro semelhante a “urina de rato” para a urina de pacientes portadores de fenilcetonúria ou um odor “rançoso” para amostras de pacientes com hipermetioninemia e tirosinemia. A doença da urina de xarope de bordo é uma alteração metabólica decorrente de níveis elevados de leucina, valina e isoleucina, aminoácidos de cadeia ramificada que são tóxicos para o sistema nervoso central e a excreção desses pela urina confere um aroma característico de xarope de bordo ou maple syrup. A verificação da espuma é uma técnica de triagem. Uma urina normal, ao ser colocada em um tubo e agitada, forma uma espuma branca e transitória, que se desfaz rapidamente. A presença de uma espuma branca, persistente e durável pode indicar a presença de Licensed to Juliane Simões - julianesimoes010@gmail.com - HP159016245680667 http://www.farmaceuticando.com/ Uroanálises – Epifanio Fernandes www.farmaceuticando.com 14 quantidades significativas de proteínas na urina. Assim como, a presença de uma espuma em tons amarelados, alaranjados ou castanhos pode indicar quantidades relevantes de bilirrubina na urina. É importante salientar que substâncias como fenazopiridina e nitrofurantoína podem alterar a cor da urina e a cor da espuma. Por isso, a verificação da espuma é um teste de triagem, necessitando de métodos confirmatórios e associação com a condição clínica e anamnese do paciente. Licensed to Juliane Simões - julianesimoes010@gmail.com - HP159016245680667 http://www.farmaceuticando.com/ Uroanálises – Epifanio Fernandes www.farmaceuticando.com 15 5. Exame químico da urina Nesta etapa do exame são analisadas substâncias que estão dissolvidas na urina e trazem informações importantes sobre alterações fisiológicas do paciente. O exame químico é realizado, atualmente, através da tira reagente, um método rápido e sensível com resultados em cerca de 2 minutos. A tira reagente é uma fita de plástico com várias “almofadas” impregnadas com reagentes químicos. Essa tira é mergulhada na urina homogeneizada e não centrifugada, quando ocorre uma interação entre a amostra e os reagentes químicos, modificando a coloração das “almofadas”. Cada marca de tira reagente fornece uma espécie de gabarito, onde a tira deve ser comparada e analisada de acordo com cada analito. Os parâmetros avaliados pela tira reagente são: pH, densidade (ou gravidade específica), glicose, cetonas, bilirrubina, urobilinogênio, proteínas, sangue, leucócitos e nitrito. A expressão dos resultados da tira reagente depende do analito. Alguns resultados são qualitativos (presença ou ausência, positivo ou negativo) e outros são semi- quantitativos (traços, 1+, 2+, 3+, ...). Figura 5. Esquema de uma tira reagente, mostrando as áreas e parâmetros avaliados. Autor: Giovani Lavieri, 2021. 5.1 pH O equilíbrio ácido-básico do organismo é regulado pelos rins e pelos pulmões. Os rins fazem isso principalmente através da secreção de ácidos orgânicos e íons hidrogênio e da reabsorção de bicarbonato. Não são atribuídos valores normais para pH urinário, uma vez que pode variar amplamente devido ao pH sanguíneo, aos hábitos alimentares Licensed to Juliane Simões - julianesimoes010@gmail.com - HP159016245680667 http://www.farmaceuticando.com/ Uroanálises – Epifanio Fernandes www.farmaceuticando.com 16 do indivíduo, à presença de infecção urinária ou ao tempo decorrido entre a coleta e a análise. Urinas alcalinas podem ser encontradas em pacientes com infecção urinária ou pessoas com dieta vegetariana, por exemplo. Urinas ácidas são produzidas em indivíduos que consomem mais proteína de origem animal e em casos de pacientes em acidose, situação que pode ocorrer em pacientes diabéticos mal controlados em relação à glicemia. Medicamentos também podem alterar o pH urinário, sendo essa propriedade utilizada como medida terapêutica no tratamento de algumas intoxicações, onde a alteração de pH pode facilitar a excreção renal de um fármaco. Outra importância do pH urinário é em relação à precipitação de substâncias inorgânicas que podem formar cristais ou até cálculos. A área de pH na tira reagente utiliza dois indicadores de pH para produzir uma variação de cores entre os pH 5 e 8,5 ou 9. 5.2 Densidade (Gravidade específica) A avaliação da densidade urinária pode fornecer alguma informação sobre a capacidade de concentração dos rins e o estado de hidratação do paciente. Essa capacidade de concentração é alterada pela ingestão e eliminação de líquido. Considerando que a urina é composta de água e solutos, sua densidade sempre será maior que a da água pura e isolada. A variação de densidade urinária é entre 1.003 a 1.035 (a da água corresponde a 1.00). Urinas com baixa densidade (ou muito diluída, cerca de 1,005) podem ser decorrentes de alta ingestão de líquidos, uso de substâncias com propriedades diuréticas, pacientes portadores de diabetes insípido. Urinas mais concentradas (densidade de 1.025 ou 1.030) podem indicar desidratação, alteração de liberação de hormônio antidiurético, diabetes mellitus mal controlada, em casos de eclampsia e de insuficiência cardíaca. Licensed to Juliane Simões - julianesimoes010@gmail.com - HP159016245680667 http://www.farmaceuticando.com/ Uroanálises – Epifanio Fernandes www.farmaceuticando.com 17 Na fita reagente, a densidade é analisada através da alteração de pKa de polieletrólitos em resposta à concentração de íons da urina, gerando alteração na coloração. 5.3 Proteínas (Albumina) A presença de elevadas quantidades de proteínas na urina é um indicativo de lesão renal. Em um estado normal, os rins permitem uma pequena quantidade de proteínas na urina, uma vez que grande parte das proteínas de baixo peso molecular são reabsorvidas do filtrado, enquanto as proteínas de alto peso molecular, como a albumina, dificilmente são filtradas, permanecendo na circulação sanguínea. Assim, alterações glomerulares e tubulares podem permitir que grandes concentrações de proteínas sejam excretadas. Outras condições não renais também podem estar associadas com proteinúria. Pacientes com mieloma múltiplo podem excretar uma proteína chamada proteína de Bence-Jones. Quadros infecciosos, inflamatórios e neoplásicos nas vias geniturinárias podem favorecer o extravasamento de proteínas para a urina. A albuminúria é um indicador precoce de lesão renal, especialmente no prognóstico da nefropatia diabética. Dois métodos podem ser utilizados na triagem de proteínas na urina. A fita reagente se baseia no princípio do erro proteico dos indicadores de pH e é específico para albumina, ou seja, a fita reagente não detecta outras proteínas na urina. O teste do ácido sulfossalicílico é um exame semi-quantitativo onde ocorre precipitação das proteínas após a adição do ácido, sendo o resultado expresso em cruzes de acordo com a intensidade da formação de turvação ou grumos de proteínas. 5.4 Glicose Dentro do néfron, a glicose é filtrada e depois reabsorvida no túbulo proximal. Como foi dito anteriormente, existe um limiar renal de Licensed to Juliane Simões - julianesimoes010@gmail.com - HP159016245680667 http://www.farmaceuticando.com/ Uroanálises – Epifanio Fernandes www.farmaceuticando.com 18 reabsorção para a glicose que é cerca 160 a 180 mg/dL. Concentrações acima desta faixa o rim não consegue reabsorver totalmente, o que pode causar o aparecimento de glicose na urina. Além da diabetes mellitus, outras condições podem gerar resultado positivo para glicose urinária, como a síndrome de Fanconi (alteração de transporte tubular), uso de medicamentos diuréticos e corticosteroides e até no período pós-prandial, se a dieta do paciente for rica em carboidratos. O método da glicose oxidase associado a um indicador de pH é utilizado na pesquisa de glicose na urina através da fita reagente. 5.5 Cetonas (Corpos cetônicos) Os corpos cetônicos são subprodutos derivados do metabolismo lipídico, especialmente dos ácidos graxos utilizados como fonte de energia quando há pouca reserva de carboidratos. Os três principais corpos cetônicos são o ácido acetoacético, a acetona e o ácido beta- hidroxibutírico. A cetonúria pode ocorrer quando há quadros de vômitos, febre, de jejum prolongado ou dietas muito severas para perda de peso, após exercícios intensos e, principalmente, quando há diabetes mellitus, onde ocorre alterações metabólicas energéticas significativas. A pesquisa de cetonas na urina se baseia na reação desses compostos com o nitroprussiato e ácido acético em meio alcalino, formando um complexo colorido. 5.6 Bilirrubina e Urobilinogênio Os dois metabólitos serão comentados juntos pois estão relacionados ao metabolismo da hemoglobina e ambos, quando alterados, podem indicar algum tipo de alteração hepática. A bilirrubina direta ou conjugada pode aparecer na urina quando há icterícia de origem obstrutiva (obstrução do ducto biliar) ou hepatocelular (quando o fígado está danificado, em casos de cirrose ou hepatites). O Licensed to Juliane Simões - julianesimoes010@gmail.com - HP159016245680667 http://www.farmaceuticando.com/ Uroanálises – Epifanio Fernandes www.farmaceuticando.com 19 urobilinogênio pode aparecer em pequenas concentrações na urina, entretanto o aumento está relacionado ao excesso de produção de bilirrubina (hemólise intravascular, anemias hemolíticas) ou em distúrbios hepáticos que prejudicam a sua reabsorção. As duas substâncias são detectadas na tira reagente através de uma reação de acoplamento com um sal diazônio, formando um cromógeno de cor rosa a vermelho. 5.7 Sangue (Hemoglobina) As tiras reagentes apresentam uma área específica onde podem ser detectadas hemácias íntegras (hematúria) ou hemoglobina livre (hemoglobinúria). A análise química positiva para sangue deve ser acompanhada e relacionada com o exame microscópico do sedimento urinário. A hematúria é decorrente de sangramento em qualquer ponto do trato urinário, podendo ser de origem glomerular, ou após algum trauma, presença de cálculo ou infecção. Além disso, é comum o aparecimento de hemácias na urina durante a menstruação. A hemoglobinúria pode resultar de hemólise intravascular, porém as hemácias rapidamente lisam na urina, por isso a ausência de hemácias no exame microscópico juntamente com positividade da área de sangue na tira reagente não indica, necessariamente, a hemoglobinúria. A reação na área para sangue na tira reagente se baseia na atividade peroxidase do grupamento heme da hemoglobina, sendo este grupamento capaz de oxidar alguns indicadores na presença de peróxido. É importante salientar que a área não é específica para hemoglobina, podendo gerar resultados positivos na presença de mioglobina. Licensed to Juliane Simões - julianesimoes010@gmail.com - HP159016245680667 http://www.farmaceuticando.com/ Uroanálises – Epifanio Fernandes www.farmaceuticando.com 20 5.8 Leucócitos (Esterase leucocitária) Os leucócitos granulócitos produzem uma enzima chamada esterase leucocitária. Elas estão presentes nos granulócitos intactos ou lisados e a pesquisa dessa enzima é utilizada para a detecção de leucocitúria. A reação positiva para esterase leucocitária pode estar associada à processos inflamatórios e infecciosos do trato urinário. A reação na fita reagente é baseada na hidrólise de um éster produzindo um composto que reage com um sal diazônio produzindo cor púrpura. Vale salientar que a enzima esterase leucocitária está presente em leucócitos granulócitos e também em monócitos. Linfócitos não produzem essa enzima, consequentemente, em casos de linfocitúria, a pesquisa de leucócitos na fita reagente pode ser negativa. 5.9 Nitrito Algumas bactérias que causam infecção urinária apresentam a capacidade de converter o nitrato urinário em nitrito. A pesquisa desse composto se tornou um método indireto da triagem para bacteriúria e infecção urinária. As bactérias mais prevalentes nas infecções urinárias e que podem positivar nitrito na tira reagente são principalmente as enterobactérias, gram-negativas fermentadoras, como Escherichia coli, Proteus spp, Klebsiella spp. Algumas cepas de Pseudomonas aeruginosa também podem positivar nitrito. É importante ressaltar que o método padrão para detecção de infecção urinária é a urocultura com realização de antibiograma, onde é realizada a identificação correta da bactéria e ainda é feito o teste de sensibilidade a antimicrobianos. Também é válido informar que pode ocorrer infecção urinária sem nitrito positivo. Licensed to Juliane Simões - julianesimoes010@gmail.com - HP159016245680667 http://www.farmaceuticando.com/ Uroanálises – Epifanio Fernandes www.farmaceuticando.com 21 6. Exame microscópico da urina ou sedimentoscopia Enquanto o exame físico avalia características organolépticas e o exame químico investiga substâncias dissolvidas na urina, o exame microscópico se preocupa em detectar, identificar e quantificar materiais particulados ou elementos figurados que estão em suspensão na urina, como células epiteliais, leucócitos, hemácias, cristais, cilindros e microrganismos. O exame microscópico também recebe o nome de sedimentoscopia porque a amostra utilizada nessa etapa é o sedimento da amostra de urina após a centrifugação. É importante ressaltar que a velocidade de centrifugação para exame de urina de rotina é menor que a velocidade para separação entre coágulo e soro, por exemplo. Isso ocorre porque a urina pode apresentar estruturas mais delicadas, como os cilindros, que podem se degenerar ao serem submetidos à alta velocidade de centrifugação. Um fator primordial na sedimentoscopia é a microscopia. É necessário avaliar a amostra em menor aumento (objetiva de 10x) para ter uma visão geral da composição do sedimento. Alguns elementos como células epiteliais e cilindros são contados com essa mesma objetiva de 10x. A objetiva de 40x é utilizada para identificar e contar as demais estruturas do sedimento urinário. A utilização do microscópio óptico comum (chamado de microscópio de campo claro) apresenta algumas limitações, como a necessidade de baixa iluminação para visualização de alguns elementos que apresentam a mesma refringência que a urina (cilindros hialinos e hemácias com pouco conteúdo de hemoglobina, por exemplo). No microscópio de contraste de fase, a amplitude das ondas luminosas é modificada à medida que atravessam as estruturas, tornando visíveis estruturas transparentes. Esse tipo de microscopia é imprescindível para o exame de dismorfismo eritrocitário, que será comentando ainda nesta seção. A Licensed to Juliane Simões - julianesimoes010@gmail.com - HP159016245680667 http://www.farmaceuticando.com/ Uroanálises – Epifanio Fernandes www.farmaceuticando.com 22 seguir serão apresentados os elementos mais comuns do sedimento urinário. 6.1 Células epiteliais São as células de revestimento do trato geniturinário, podendo ser encontradas no sedimento devido à descamação normal de células antigas, que ocorre naturalmente nos tecidos epiteliais. O aumento acentuado dessas células pode indicar inflamação. São três tipos principais de células epiteliais encontradas na urina: as células escamosas ou pavimentosas, as células de transição e as células tubulares renais. As células escamosas são provenientes da região da vagina e das porções inferiores da uretra, raramente a sua presença possui significado clínico. São células grandes, achatadas, com a morfologia irregular, contendo núcleo central e citoplasma abundante. Figura 6. Células escamosas em campo claro (A) e contraste de fase (B). Fonte: SBPC/ML, 2017. As células de transição estão presentes no epitélio da pelve renal, ureteres e bexiga urinária. São até 4 vezes maiores que um leucócito e podem ser esféricas, piriformes ou apresentar projeções caudais e podem conter até dois núcleos. Podem aparecer no sedimento urinário Licensed to Juliane Simões - julianesimoes010@gmail.com - HP159016245680667 http://www.farmaceuticando.com/ Uroanálises – Epifanio Fernandes www.farmaceuticando.com 23 em quantidade acentuada em infecções urinárias ou quando for realizado cateterismo urinário. Figura 7. Células epiteliais de transição em campo claro (A) e contraste de fase (B). Fonte: SBPC/ML, 2017. Células tubulares renais reveste o néfron e são as células epiteliais com maior importância clínica pois sua presença em grande quantidade pode indicar injúria tubular. A presença de cilindros epiteliais no sedimento também indica doença renal que está afetando os túbulos. São pouco maiores que um leucócito e podem ser achatadas, cuboides ou colunares com grande núcleo esférico. Figura 8. Célula tubular renal em campo claro (A) e contraste de fase (B). Fonte: SBPC/ML, 2017. Licensed to Juliane Simões - julianesimoes010@gmail.com - HP159016245680667 http://www.farmaceuticando.com/ Uroanálises – Epifanio Fernandes www.farmaceuticando.com 24 6.2 Leucócitos O número aumentado de leucócitos na urina é chamado de leucocitúria (alguns livros também podem trazer o termo piúria), sendo geralmente polimorfonucleares neutrófilos, mas pode ser qualquer tipo de leucócito. A presença dessas células indica um processo inflamatório que pode ser decorrente de uma infecção urinária. Casos de desidratação, febre e quadros de glomerulonefrite são exemplos de condições não infecciosas que podem cursar com leucocitúria. Uma leucocitúria maciça, especialmente com a presença de aglomerados de leucócitos (chamados de “grumos leucocitários”), indica uma infecção aguda no trato urinário. A presença de cilindros leucocitários sugere que os leucócitos vieram dos rins. Os neutrófilos contem núcleo multilobulado e grânulos no seu citoplasma. São pouco maiores que as hemácias. Figura 9. Leucócitos polimorfonucleares e uma célula escamosa. Aumento de 400x. Fonte: Japanese Association of Medical Technologists, 2017. Licensed to Juliane Simões - julianesimoes010@gmail.com - HP159016245680667 http://www.farmaceuticando.com/ Uroanálises – Epifanio Fernandes www.farmaceuticando.com 25 6.3 Hemácias ou eritrócitos A liberação de hemácias na urina é chamada de hematúria. A presença de hemácias na urina deve ser sempre investigada uma vez que pode ser algo transitório e de curso benigno, como no caso da urina de pacientes durante a menstruação, ou pode indicar algum tipo de alteração no trato genitourinário, como infecção urinária, nefrolitíase, doença glomerular ou neoplasias. A presença de cilindros hemáticos indica hematúria de origem renal. A morfologia dos eritrócitos pode variar um pouco, mas em geral, é semelhante ao visto no sangue periférico como uma estrutura em forma de disco bicôncavo, liso, anucleada, de cor pálida ou amarelada. Em urinas hipotônicas, as hemácias podem sofrer lise, enquanto em urinas hipertônicas ou concentradas, elas podem se apresentar crenadas. Quando a urina está hipotônica, os eritrócitos podem perder conteúdo de hemoglobina, sendo visualizada uma membrana muito delgada que recebe o nome de “hemácia fantasma”, por isso é importante manter a iluminação baixa ao utilizar microscopia de campo claro. Eritrócitos com a morfologia normal são chamados de isomórficos e sua presença na urina sugere hematúria extrarrenal. A presença de hemácias dismórficas sugere uma lesão glomerular no paciente. Figura 10. Hemácias isomórficas. Ao centro uma hemácia crenada, com aspecto granular. Aumento de 400x. Fonte: Japanese Association of Medical Technologists, 2017. Licensed to Juliane Simões - julianesimoes010@gmail.com - HP159016245680667 http://www.farmaceuticando.com/ Uroanálises – Epifanio Fernandes www.farmaceuticando.com 26 6.4 Dismorfismo eritrocitário A pesquisa de dismorfismo eritrocitário é realizada à parte do exame de urina de rotina. Para a correta execução do exame é imprescindível a utilização de microscopia de contraste de fase, para melhor visualização das alterações das hemácias. Na década de 80, pesquisadores reportaram que os eritrócitos decorrentes de hematúria glomerular poderiam apresentar uma morfologia anormal, recebendo o nome de eritrócitos dismórficos. Esses eritrócitos dismórficos podem apresentar brotamentos, bolhas, extrusões e perda parcial de membrana plasmática. Também podem se apresentar com brotamentos em forma de vesícula (são chamados de acantócitos). Acredita-se que essa alteração na forma das hemácias ocorre durante a passagem pela membrana basal glomerular lesionada e também durante a passagem pelos túbulos com alteração de pH e osmolaridade. Figura 11. Hemácias dismórficas em microscopia de campo claro. Fonte: Japanese Association of Medical Technologists, 2017. Licensed to Juliane Simões - julianesimoes010@gmail.com - HP159016245680667 http://www.farmaceuticando.com/ Uroanálises – Epifanio Fernandes www.farmaceuticando.com 27 Figura 12. Hemácias dismórficas em microscopia de contraste de fase. Fonte: NephSIM. 6.5 Cristais urinários A cristalúria é um achado relativamente comum no exame microscópico. Os cristais são formados a partir da precipitação de solutos na urina, incluindo sais inorgânicos, compostos orgânicos e substâncias exógenas, como medicamentos. Os cristais urinários se apresentam como estruturas de forma geométrica ou como material amorfo e podem precipitar no trato urinário formando cálculos, embora não existam evidências conclusivas da associação direta entre cristalúria urinária e a presença de cálculos renais. Uma ferramenta valiosa na identificação dos cristais urinários é o pH da amostra, uma vez que o pH determina quais tipos de substâncias precipitam. Vale ressaltar que compostos orgânicos e medicamentos tendem a precipitar em pH mais ácido. Os cristais normais (também chamados de habituais, normais ou artefatuais) também podem ser formados após a coleta da amostra, com o resfriamento, com variação de pH, ou refletem características da dieta e situações metabólicas não patológicas, portanto, seu significado clínico é limitado. Já os cristais anormais (ou patológicos), quando presentes, podem estar associados com a doenças metabólicas. Para os Licensed to Juliane Simões - julianesimoes010@gmail.com - HP159016245680667 http://www.farmaceuticando.com/ Uroanálises – Epifanio Fernandes www.farmaceuticando.com 28 cristais patológicos, é imprescindível a realização dos testes de solubilidade, que consiste na adição de reagentes específicas com o objetivo de melhorar a acurácia da identificação do cristal. O teste de solubilidade pode ser realizado para qualquer cristal quando houver dúvidas quanto à sua correta identificação. Dentre os cristais normais, podemos separá-los didaticamente entre os de urina ácida e os de urina básica. Em urina ácida é mais comum a presença de oxalato de cálcio, ácido úrico e uratos amorfos. Enquanto em urina básica ou alcalina, os cristais mais comuns são fosfato triplo (ou fosfato-amoníaco-magnesiano), biurato de amônio, fosfato de cálcio e fosfatos amorfos. Sobre os cristais anormais, que tendem a precipitar em urina ácida, temos o cristal de cistina, colesterol, bilirrubina, tirosina e leucina. Além dos cristais de origem medicamentosa. A seguir, alguns cristais normais e anormais serão mostrados com a descrição de sua estrutura. Figura 13. Cristais de oxalato de cálcio dihidratado com sua forma octaédrica ou em forma de “envelope”. Fonte: Japanese Association of Medical Technologists, 2017. Licensed to Juliane Simões - julianesimoes010@gmail.com - HP159016245680667 http://www.farmaceuticando.com/ Uroanálises – Epifanio Fernandes www.farmaceuticando.com 29 Figura 14. Cristais de oxalato de cálcio dihidratado (“forma de envelope”) e monohidratado, em forma de esferas ovais ou discos bicôncavos com forma de halteres. Fonte: Japanese Association of Medical Technologists, 2017. Figura 15. Cristais de ácido úrico se apresentam de diversas formas, nesta imagem possuem forma de cunhas ou agulhas, formando uma espécie de roseta. Fonte: Japanese Association of Medical Technologists, 2017. Licensed to Juliane Simões - julianesimoes010@gmail.com - HP159016245680667 http://www.farmaceuticando.com/ Uroanálises – Epifanio Fernandes www.farmaceuticando.com 30 Figura 16. Uratos amorfos se apresentam com aspecto granular amarelado no sedimento. Macroscopicamente, quando em grande quantidade, forma um depósito cor de rosa no tubo após a centrifugação. Fonte: Japanese Association of Medical Technologists, 2017. Figura 17. Cristais de fosfato triplo ou fosfato-amoníaco-magnesiano em forma de prisma ou “tampa de caixão”. Tem pouco significado clínico mas podem estar associados a infecções por alguns tipos de bactérias produtoras de urease. Fonte: Japanese Association of Medical Technologists, 2017. Licensed to Juliane Simões - julianesimoes010@gmail.com - HP159016245680667 http://www.farmaceuticando.com/ Uroanálises – Epifanio Fernandes www.farmaceuticando.com 31 Figura 18. Cristais de biurato de amônio ou urato de amônio. Apresentam cor castanha e formato esférico com projeções em forma de espículas, semelhantes a uma “maçã com espinhos”. Fonte: Japanese Association of Medical Technologists, 2017. Figura 19. Cristais de fosfato de cálcio podem aparecer na urina alcalina em formato de placa transparente (esquerda da imagem) ou de prismas finos que se agrupam em rosetas (centro da imagem). Fonte: Japanese Association of Medical Technologists, 2017. Licensed to Juliane Simões - julianesimoes010@gmail.com - HP159016245680667 http://www.farmaceuticando.com/ Uroanálises – Epifanio Fernandes www.farmaceuticando.com 32 Figura 20. Fosfatos amorfos aparecem em urina básica como grânulos cinzas ou em tons mais escuros. Quando a urina apresenta uma grande quantidade de fosfatos amorfos, após a centrifugação, é possível ver a formação de um depósito esbranquiçado. Fonte: Japanese Association of Medical Technologists, 2017. Figura 21. Cristais de cistina. Cristal patológico que pode aparecer na urina de pacientes com alteração no transporte tubular de aminoácidos como cistina, lisina, ornitina e arginina, levando à excreção desses aminoácidos. Apresenta formato de placas hexagonais transparentes. Fonte: Japanese Association of Medical Technologists, 2017. Licensed to Juliane Simões - julianesimoes010@gmail.com - HP159016245680667 http://www.farmaceuticando.com/ Uroanálises – Epifanio Fernandes www.farmaceuticando.com 33 Figura 22. Cristais de colesterol. Cristais ligados as condições clínicas que cursam com lipidúria (excreção de lipídeos na urina), como a síndrome nefrótica. Geralmente a sua presença é associada à cilindros graxos e corpos ovais gordurosos (células tubulares ou macrófagos que fagocitaram gorduras, associados aos casos de lipidúria). Possuem aspecto de placas de vidro retangulares com entalhes nos vértices. Fonte: Japanese Association of Medical Technologists, 2017. Figura 23. Cristais de bilirrubina (centro da imagem e porção superior direita) associados à doença hepática grave com aparecimento de bilirrubina em grande quantidade na urina. Formato de agulhas finas isoladas ou agrupadas de coloração amarela ou marrom. A presença de bilirrubina na urina também pode pigmentar outras estruturas do sedimento, como as células (porção inferior da imagem). Fonte: Fonte: Japanese Association of Medical Technologists, 2017. Licensed to Juliane Simões - julianesimoes010@gmail.com - HP159016245680667 http://www.farmaceuticando.com/ Uroanálises – Epifanio Fernandes www.farmaceuticando.com 34 Figura 24. Cristal de leucina. Forma de “esferoide” com círculos concêntricos e algumas estrias radiais. Sua presença é rara e associada a doenças hepáticas graves e distúrbios hereditários do metabolismo de aminoácidos. Fonte: NephSIM. Figura 25. Cristal de tirosina. Formato de agulhas finas isoladas ou agrupadas em formato de feixes ou de roseta. Também está associado com doença hepática grave e distúrbios metabólicos de aminoácidos. Fonte: Mundt, 2012. 6.6 Cilindros urinários São elementos formados no interior dos túbulos distais ou nos ductos coletores, apresentando comprimento e diâmetro variável e formato cilíndrico, com lados paralelos e pontas ligeiramente arredondadas. Por se tratar de um elemento essencialmente renal, os cilindros fornecem uma informação microscópica das condições dentro do néfron. Licensed to Juliane Simões - julianesimoes010@gmail.com - HP159016245680667 http://www.farmaceuticando.com/ Uroanálises – Epifanio Fernandes www.farmaceuticando.com 35 Os cilindros são formados a partir da gelificação ou precipitação da proteína de Tamm-Horsfall, uma glicoproteína produzida pelas células tubulares renais. Em condições normais, a proteína de Tamm- Horsfall é secretada de maneira quase constante mas pode aumentar em condições de estresse ou exercício físico, fato que explica o aparecimento transitório de cilindros hialinos. As fibrilas de proteínas de Tamm-Horsfall tendem a se agregar mais facilmente em condições de redução do fluxo urinário, acidez aumentada (pH mais ácido) e alta concentração de solutos. A presença de cilindros é frequentemente acompanhada de proteinúria. Entretanto, os cilindros podem ser observados no sedimento na ausência de proteínas. Lembrando que no exame químico, a área de proteínas da tira reagente é mais específica para albumina, não detectando os cilindros pois estes são compostos de glicoproteína de Tamm-Horsfall. Inicialmente os cilindros ficam ancorados nas células tubulares e depois são levados pelo fluxo urinário. A morfologia final do cilindro também é determinada pela duração de tempo que permanece no túbulo e pelo diâmetro dos túbulos. Quando os túbulos estão dilatados, como em caso de insuficiência renal ou de obstrução, cilindros mais amplos e largos podem ser vistos no sedimento urinário. Os cilindros podem ser classificados em hialinos, quando consistem apenas de proteína de Tamm-Horsfall, ou apresentar outros elementos. É preciso pensar que o cilindro está se formando no lúmen do túbulo e qualquer partícula (por exemplo, células, lipídios, microorganismos, pigmentos, cristais) que estiver circulando pode ficar aderida na matriz proteica. Esse fenômeno explica a variedade de cilindros quanto à morfologia, composição e significado clínico. Em microscópio óptico comum e sem utilizar corante, como acontece na rotina de muitos laboratórios clínicos, pode-se utilizar o condensador mais baixo e o diafragma mais fechado, gerando pouca luz para facilitar Licensed to Juliane Simões - julianesimoes010@gmail.com - HP159016245680667 http://www.farmaceuticando.com/ Uroanálises – Epifanio Fernandes www.farmaceuticando.com 36 a identificação, especialmente de cilindros hialinos. A seguir, alguns cilindros serão mostrados com sua descrição e significado clínico. Figura 26. Cilindro hialino. Matriz sem inclusões, aspecto incolor e homogêneo, com índice de refração próximo ao da urina, necessitando de atenção do analista para sua observação. Uma quantidade pequena de cilindros hialinos pode aparecer após exercício extenuante, em caso de desidratação, febre ou estresse emocional. Podem estar aumentados de maneira patológica em casos de glomerulonefrite aguda, pielonefrite, doença renal crônica e insuficiência cardíaca congestiva. Fonte: Japanese Association of Medical Technologists, 2017. Figura 28. Cilindro epitelial. São raros e resultam da descamação das células epiteliais tubulares renais em casos de dano tubular grave, como necrose tubular, nefrite intersticial, injúria tubular tóxica ou isquêmica, doença renal crônica e rejeição a transplantes. Fonte: Japanese Association of Medical Technologists, 2017. Licensed to Juliane Simões - julianesimoes010@gmail.com - HP159016245680667 http://www.farmaceuticando.com/ Uroanálises – Epifanio Fernandes www.farmaceuticando.com 37 Figura 29. Cilindro leucocitário. São observados em processos infecciosos e inflamatórios, como nefrite intersticial e glomerulonefrite, muito associados com infecções bacterianas agudas nos rins. A maioria dos leucócitos em cilindros são neurófilos polimorfonucleraes. Na seta preta, é possível observar um eosinófilo, com suas granulações mais escuras. Fonte: Japanese Association of Medical Technologists, 2017. Figura 30. Cilindro hemático ou eritrocitário. A presença dele é um marcador de hematúria de origem glomerular, junto com o dismorfismo eritrocitário. Também pode ser encontrado em glomerulonefrites, endocardite bacteriana, infarto renal, trombose de veia renal e pielonefrite grave. Fonte: Japanese Association of Medical Technologists, 2017. Licensed to Juliane Simões - julianesimoes010@gmail.com - HP159016245680667 http://www.farmaceuticando.com/ Uroanálises – Epifanio Fernandes www.farmaceuticando.com 38 Figura 31. Cilindro granuloso. Podem ser cobertos por grânulos finos ou grosseiros, e claros ou escuros, variando em número e tamanho. Assim como os cilindros hialinos, podem aparecer, em pequenas quantidades, em situações não patológicas, como após exercício extenuante e dieta rica em carboidratos. Acredita-se que eles se originam a partir da atividade dos lisossomos das células tubulares renais durante o metabolismo normal. Porém, também é descrito que os cilindros granulosos se originam a partir de uma degeneração de cilindros celulares (epitelial, leucocitário ou eritrocitário), por isso eles também podem indicar doença renal, como glomerulonefrite, necrose tubular e rejeição de transplantes, podendo estar associados a cilindros celulares. Fonte: Japanese Association of Medical Technologists, 2017. Figura 32. Cilindro gorduroso. Também chamado de lipídico ou graxo. Chama-se cilindro graxo quando há, na matriz proteica do cilindro, gotículas de gordura (círculos na parte interna do cilindro), corpos ovais gordurosos ou cristais de colesterol (quadrado transparente no meio do cilindro). Inclusive com a presença dessas partículas isoladas no sedimento. São geralmente associados às condições clínicas com lipidúria, especialmente a síndrome nefrótica. Fonte: Japanese Association of Medical Technologists, 2017. Licensed to Juliane Simões - julianesimoes010@gmail.com - HP159016245680667 http://www.farmaceuticando.com/ Uroanálises – Epifanio Fernandes www.farmaceuticando.com 39 Figura 33. Cilindro céreo. O nome vem da aparência de cera derretida e seu aspecto vítreo. Apresentam aspecto homogêneo e mais refringente que o cilindro hialino, o que torna mais fácil sua identificação. Os cilindros céreos estão associados com doença renal crônica e amiloidose renal, situações clínicas que apresentam estase urinária. Fonte: Japanese Association of Medical Technologists, 2017. Licensed to Juliane Simões - julianesimoes010@gmail.com - HP159016245680667 http://www.farmaceuticando.com/ Uroanálises – Epifanio Fernandes www.farmaceuticando.com 40 7. Outras estruturas do sedimento urinário 7.1 Bactérias Em relação à presença de bactérias na urina, é importante reforçar informações sobre o procedimento de coleta de urina de jato médio com antissepsia uma vez que, especialmente em mulheres, contaminação por secreções vaginais podem contaminar a urina com bactérias e leucócitos. Em uma amostra recentemente coletada, e em condições corretas, a presença de bactérias indica infecção urinária. Se apresentam como cocos ou bacilos e estão associadas com numerosos leucócitos no sedimento. Figura 34. Numerosos leucócitos e bactérias no sedimento urinário. Fonte: Japanese Association of Medical Technologists, 2017. 7.2 Fungos As leveduras podem aparecer na urina como estruturas pequenas, ovais e refringentes, podendo apresentar brotamentos. Em casos de infecção mais grave, podem se apresentam como formas micelares (pseudo-hifas) ramificadas. Podem ser observadas em urinas Licensed to Juliane Simões - julianesimoes010@gmail.com - HP159016245680667 http://www.farmaceuticando.com/ Uroanálises – Epifanio Fernandes www.farmaceuticando.com 41 de pacientes diabéticos, pacientes imunodeprimidos e de pacientes com candidíase vaginal. Assim como as bactérias, infecções fúngicas podem ser associadas com leucocitúria. Figura 35. Leveduras e pseudo-hifas ramificadas. Provavelmente fungo do gênero Candida sp. Fonte: Japanese Association of Medical Technologists, 2017. 7.3 Parasitas O parasita encontrado com mais frequência na urina é o protozoário Trichomonas vaginalis, é um microorganismo flagelado, em formato de ovoide, um pouco maior que um leucócito e com a membrana ondulante. É fácil identificar numa amostra fresca devido à sua rápida movimentação no campo de visualização. Quando está sem movimento (uma das causas pode ser a demora para analisar a amostra), é facilmente confundido com leucócitos ou células epiteliais tubulares, o que torna difícil sua identificação correta. A infecção por Trichomonas vaginalis é uma infecção sexualmente transmissível, causando inflamação vaginal. A contaminação fecal de uma amostra de urina pode causar o aparecimento de alguns parasitas intestinais, sendo o mais comum o Enterobius vermicularis. Licensed to Juliane Simões - julianesimoes010@gmail.com - HP159016245680667 http://www.farmaceuticando.com/ Uroanálises – Epifanio Fernandes www.farmaceuticando.com 42 Figura 36. Trichomonas vaginalis no sedimento urinário. Fonte: Japanese Association of Medical Technologists, 2017. 7.4 Fios mucosos A presença de filamentos de muco não possui significado clínico mas aparece com bastante frequência, especialmente em amostras de pacientes do gênero feminino. Se apresentam como filamentos longos, delgados, de contorno irregular e estrutura fibrilar. São derivados da secreção de glândulas acessórias e em grande quantidade podem estar associados com inflamação ou irritação do trato geniturinário. Figura 37. Filamentos de muco. Fonte: SBPC/ML, 2017. Licensed to Juliane Simões - julianesimoes010@gmail.com - HP159016245680667 http://www.farmaceuticando.com/ Uroanálises – Epifanio Fernandes www.farmaceuticando.com 43 7.5 Corpos ovais gordurosos ou graxos São células (geralmente células tubulares renais ou macrófagos) que absorveram lipídeos presentes no filtrado glomerular. Aparecem com o citoplasma brilhante e núcleo difícil de ser visualizado. A confirmação pode ser feita com corantes específicos ou em microscópio de luz polarizado (aspecto em Cruz de Malta). A lipidúria é frequentemente associada a lesão do glomérulo por síndrome nefrótica. Figura 38. Cilindro com quatro corpos ovais gordurosos em sua matriz proteica (cilindro gorduroso ou graxo). Fonte: Japanese Association of Medical Technologists, 2017. Licensed to Juliane Simões - julianesimoes010@gmail.com - HP159016245680667 http://www.farmaceuticando.com/ Uroanálises – Epifanio Fernandes www.farmaceuticando.com 44 E aí, curtiu? Espero que sim. Se você precisar de alguma coisa, pode entrar em contato comigo: e-mail: contato@farmaceuticando.com Instagram: @farmaceuticando_ WhatsApp: Clique aqui Site: https://farmaceuticando.com Ah, só para lembrar que o conteúdo desse e-book não pode ser compartilhado sem a minha autorização, tá? Se gostou do material, dá uma olhada no meu site, lá tem artigos gratuitos e outros e-books para você se especializar! Obrigado pela confiança e até a próxima. Licensed to Juliane Simões - julianesimoes010@gmail.com - HP159016245680667 http://www.farmaceuticando.com/ mailto:contato@farmaceuticando.com https://instagram.com/farmaceuticando_ https://bit.ly/Farmaceuticando-WhatsApp https://farmaceuticando.com/ Uroanálises – Epifanio Fernandes www.farmaceuticando.com 45 8. Referências BARCELOS, Luiz Fernando (Ed.); AQUINO, Jerolino Lopes (Ed.). Tratado de Análises Clínicas. 1 ed. Rio de Janeiro: Atheneu, 2018. CUNNINGHAM, Lucas J., et al. Assessing expanded community wide treatment for schistosomiasis: Baseline infection status and self- reported risk factors in three communities from the Greater Accra region, Ghana. PLoS Neglected Tropical Diseases. 14 (4), 2020. JAPANESE ASSOCIATION OF MEDICAL TECHNOLOGISTS; Editorial Committee of the Special Issue: Urinary Sediment. Japanese Journal of Medical Technology 66, 2017. MUNDT, Lilian A. Exame de urina e de fluidos corporais de Graff. 2 ed. Porto Alegre: Artmed, 2012. NEPHSIM. Urine Gallery. Disponível em <https://nephsim.com/urine- gallery/>. Acesso em 12 de fev. de 2021. SILVERTHORN, Dee Unglaub. Fisiologia humana: uma abordagem integrada. 7 ed. Porto Alegre: Artmed, 2017. SOCIEDADE BRASILEIRA DE PATOLOGIA CLÍNICA/MEDICINA LABORATORIAL: Recomendações para realização de exames em urina. Barueri: Manole, 2017. STRASINGER, Susan King; DI LORENZO, Marjorie Schaub. Urinálise e fluidos corporais. 5 ed. São Paulo: Editora LMP, 2009. Licensed to Juliane Simões - julianesimoes010@gmail.com - HP159016245680667 http://www.farmaceuticando.com/
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