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A BNCC e a formação do currículo APRESENTAÇÃO Ao analisar o currículo contemporâneo, existem grandes desafios para a implementação e a efetivação de um currículo que seja adequado e alinhado aos tempos modernos. Nesse processo, se faz necessário compreender as bases legais do Estado, para uma visão mais ampla do currículo que se deseja analisar e colocar em prática. Nesta Unidade de Aprendizagem, você conhecerá as bases legais do currículo no Brasil, focando na compreensão da Base Nacional Comum Curricular (BNCC) e sua relação com a política nacional, bem como entender sua estrutura e as etapas para a organização de um currículo. Bons estudos. Ao final desta Unidade de Aprendizagem, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Definir a BNCC na política nacional.• Explicar a estrutura da BNCC e sua relação com a formação dos currículos.• Organizar as etapas de um currículo a partir da BNCC.• DESAFIO Desenvolver currículos baseados na BNCC é o grande objetivo das escolas, procurando aproximar seus planejamentos didáticos e pedagógicos das orientações preconizadas na BNCC, que recomenda as aprendizagens básicas que todos alunos devem se apropriar, bem como o desenvolvimento de competências para formar cidadãos com ética e humanização. A escola Monsenhor Paulo está procurando inovar na sua práxis com os professores. Então, para levar as novas tecnologias para a sala de aula, a fim de contribuir com o aprendizado dos alunos, a gestão da escola está propondo alguns desafios aos professores. Eles precisam criar, desenvolver e aplicar um plano de aula, a partir das competências digitais previstas na BNCC. Dentro das 10 competências digitais, observa-se a cultura digital, empatia, resolução de problemas, comunicação e pensamento científico, sendo essa a direção que a escola vem promovendo seu currículo. Você acaba de chegar na escola e será professor dos anos iniciais do Ensino Fundamental, mais especificamente do 4o ano, e se depara com esse desafio. Acompanhe: Leia os seguintes trechos da BNCC, referentes a àrea das linguagens para o Ensino Fundamental: "Uma parte considerável das crianças e jovens que estão na escola hoje vai exercer profissões que ainda nem existem e se deparar com problemas de diferentes ordens e que podem requerer diferentes habilidades, um repertório de experiências e práticas e o domínio de ferramentas que a vivência dessa diversificação pode favorecer." "Essa consideração dos novos e multiletramentos e das práticas da cultura digital no currículo não contribui somente para que uma participação mais efetiva e crítica nas práticas contemporâneas de linguagem por parte dos estudantes possa ter lugar, mas permite também que se possa ter em mente mais do que um “usuário da língua/das linguagens”, na direção do que alguns autores vão denominar de designer: alguém que toma algo que já existe (inclusive textos escritos), mescla, remixa, transforma, redistribui, produzindo novos sentidos, processo que alguns autores associam à criatividade." "Analisar as diferentes formas de manifestação da compreensão ativa (réplica ativa) dos textos que circulam nas redes sociais, blogs/microblog, sites e afins e os gêneros que conformam essas práticas de linguagem, como: comentário, carta de leitor, post em rede social, gif, meme, fanfic, vlogs variados, political remix, charge digital, paródias de diferentes tipos, vídeos-minuto, e- zine, fanzine, fanvídeo, vidding, gameplay, walkthrough, detonado, machinima, trailer honesto, playlists comentadas de diferentes tipos, etc., de forma a ampliar a compreensão de textos que pertencem a esses gêneros e a possibilitar uma participação mais qualificada do ponto de vista ético, estético e político nas práticas de linguagem da cultura digital." A partir da leitura, pense em uma atividade com os alunos que atinja os seguintes objetivos: produção e interpretação de textos e narrativas, especificamente na língua portuguesa, referentes ao eixo de leitura. Orientações para elaboração da atividade: - A proposta de atividade deve desafiar os alunos a ler e criar materiais midiaticos em torno de algum tema definido. INFOGRÁFICO Na BNCC, o conceito de competência é definido como a aquisição de conhecimentos, habilidades, atitudes e valores, objetivando a resolução de problemas complexos da vida cotidiana, no exercício da cidadania e vivencia do mundo do trabalho. Por isso, as decisões pedagógicas, dentro dos preceitos da BNCC, precisam estar orientadas para o desenvolvimento de competências, por meio da indicação clara do que os alunos devem saber e do que devem saber fazer. Neste infográfico, você vai conhecer de que forma se organiza as 10 competências gerais preconizadas pela BNCC, enfatizando o que os alunos precisam saber e o que precisam saber fazer para adquirir essas competências. CONTEÚDO DO LIVRO A Base Nacional Comum Curricular (BNCC) constituí um documento normativo, que engloba o conjunto de aprendizagens essenciais necessárias para os alunos se desenvolverem na jornada da Educação Básica, para que tenham garantido seus direitos de aprendizagem e desenvolvimento, conforme preconiza o Plano Nacional de Educação. As aprendizagens essencias envolvem inúmeras esferas da compreensão do mundo, dos fenômenos e da ciência, permitindo ao estudante ter uma visão mais integral, ética e verdadeira da sociedade e do meio ambiente. No capítulo A BNCC e a formação do currículo, da obra Currículo e desafios contempôraneos, você vai estudar como surgiu a BNCC, como sua estrutura está organizada, bem como sua relação com as políticas públicas de educação. Além disso, compreenderá como criar currículos alinhados com os preceitos da BNCC. Boa leitura. CURRÍCULO E DESAFIOS CONTEMPORÂNEOS Carlos Gustavo Lopes da Silva A BNCC e a formação do currículo Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Definir a BNCC na política nacional. Explicar a estrutura da BNCC e sua relação com a formação dos currículos. Organizar as etapas de um currículo a partir da BNCC. Introdução A Constituição Federal de 1988 estabelece o direito à educação para todos, assegurado como dever do Estado e da família, e determina que sejam fixados conteúdos mínimos para o ensino fundamental a fim de garantir uma formação básica comum, com respeito aos valores culturais e artísticos de cada região e no Brasil como um todo (BRASIL, 1988). Na Lei das Diretrizes Básicas (LDB), promulgada em 1996, foram esta- belecidos conceitos básicos para a criação de currículos no Brasil, como que as competências e diretrizes serão comuns e os currículos diversos. Deixa claro, portanto, que os currículos precisam focar no desenvol- vimento de competências, orientando a definição de aprendizagens essenciais, além dos conteúdos mínimos (BRASIL, 1996). A partir disso, em 2014, foi promulgado o Plano Nacional de Educação (PNE), no qual se reitera a necessidade da efetivação de uma base nacional comum dos currículos, respeitando as diversidades regionais, estaduais e locais. Assim, após inúmeros debates nas esferas federal, estaduais e municipais, foi homologada, em 2017, a Base Nacional Comum Curricular (BNCC) para a educação básica (educação infantil, ensino fundamental e ensino médio). Neste capítulo, você vai compreender a relação da BNCC com as políticas nacionais de educação, bem como vai conhecer e analisar sua estrutura e relação com o currículo. Além disso, vai ver como se pode organizar as etapas de um currículo com base na BNCC. 1 Base Nacional Comum Curricular (BNCC) na política nacional A BNCC constitui um documento normativo que engloba o conjunto de apren- dizagens essenciais necessárias para os alunos desenvolverem na jornada da educação básica, de modo que tenham garantido seus direitos de aprendizagem e desenvolvimento conforme preconiza o Plano Nacional de Educação (PNE) (BRASIL,2018). A BNCC, enquanto documento normativo, é exclusivamente direcionada para a educação escolar, seguindo a Lei das Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), de 1996, orientando-se por princípios éticos, políticos e estéticos para a formação humana de modo integral e o desenvolvimento de uma sociedade justa, democrática e inclusiva (BRASIL, 1996). A BNCC, desde sua promulgação em 2017, tornou-se referência nacional para a formulação de currículos das escolas estaduais, do Distrito Federal e dos municípios e passa a orientar qualquer proposta pedagógica direcionada para as instituições escolares. Como parte integrante da política nacional de educação, a BNCC orienta a organização de inúmeras ações em todo o território nacional, como, por exemplo, formação de professores, avaliação, criação de conteúdos escolares para aprendizagem e definição de infraestruturas adequadas ao exercício das atividades educacionais. Um dos grandes objetivos da BNCC é a superação da fragmentação das políticas educacionais, fortalecendo a colaboração entre as três esferas do governo para melhoria na qualidade da educação. Lei de Diretrizes e Bases da Educação (Lei nº. 9394 de 20 de dezembro de 1996): regulariza e define a organização do sistema educacional brasileiro seguindo os preceitos da Constituição Federal. É dentro da LDB que nascem as bases para a criação da BNCC. Base Nacional Comum Curricular: política de Estado para referência nacional na edu- cação, define os objetivos de aprendizagem a serem atingidos pelos alunos e preconiza as competências e habilidades que precisam ser adquiridas por meio do currículo. Currículo de ensino: constitui a jornada que se deve percorrer para implementar e efetivar os objetivos da BNCC, adequando-se às múltiplas realidades e demandas de cada local e região brasileira. A BNCC e a formação do currículo2 Na jornada da educação básica, é necessário que, no âmbito das aprendi- zagens essenciais preconizadas pela BNCC, seja garantido o desenvolvimento de dez competências gerais, que você confere a seguir. As dez competências gerais da BNCC Dentro dos preceitos da BNCC, o conceito de competência é defi nido como a aquisição de conhecimentos, habilidades, atitudes e valores com o objetivo de resolução de problemas complexos da vida cotidiana, no exercício da cidadania e na vivência do mundo do trabalho (BRASIL, 2018). Quando a BNCC define essas competências, deixa claro que a educação tem a missão de construir valores e incitar ações para transformar a socie- dade, buscando mais humanização, justiça e cuidados com o meio ambiente, estando, portanto, alinhada com a Agenda 2030, da Organização das Nações Unidas (ONU) (PLATAFORMA AGENDA 2030, c2020). A Agenda 2030 é um plano de ação para as pessoas, o planeta e a prosperidade que busca fortalecer a paz universal (PLATAFORMA AGENDA 2030, c2020). O plano indica 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) e 169 metas para erradicar a pobreza e promover vida digna para todos dentro dos limites do planeta. São objetivos e metas claras para que todos os países adotem de acordo com suas próprias prioridades e atuem no espírito de uma parceria global que orienta as escolhas necessárias para melhorar a vida das pessoas, agora e no futuro. O quarto ODS tem como objetivo a educação de qualidade, com o qual deixa clara a necessidade de assegurar a educação inclusiva e equitativa, bem como promover oportunidades de aprendizagem ao longo da vida para todos. Conheça mais sobre a Agenda 2030 acessando o link a seguir. https://qrgo.page.link/BxQ4T O conceito de competência utilizado pela BNCC é resultado de uma dis- cussão social e pedagógica feita nas últimas décadas e que aparece também nas bases da LDB. 3A BNCC e a formação do currículo O desenvolvimento de competências tem-se feito presente na orientação dos currículos desde o final do século XX até os dias atuais, marcando propostas didático-pedagógicas dos estados e municípios do Brasil, assim como aparece no enfoque das avaliações internacionais da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), que coordena o Programa Interna- cional de Avaliação de Alunos (PISA), bem como da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO), que instituiu o Laboratório Latino-Americano de Avaliação da Qualidade da Educação para a América Latina (LLECE). A BNCC indica que as decisões pedagógicas precisam estar orientadas para o desenvolvimento de competências por meio da indicação clara do que os alunos devem “saber” (considerando a constituição de conhecimentos, habilidades, atitudes e valores) e do que devem “saber fazer” (mobilização desses conhecimentos, habilidades, atitudes e valores para resolver demandas complexas da vida cotidiana) (BRASIL, 2018). As competências gerais precisam ser trabalhadas em todo âmbito da edu- cação básica, isto é, começando pela educação infantil, seguindo no ensino fundamental e se propagando por todo o ensino médio. No Quadro 1, a seguir, você pode ver um resumo das dez competências gerais preconizadas pela BNCC. Competência Finalidade Conhecimento Valorizar e utilizar os conhecimentos sobre o mundo físico, social, cultural e digital. Pensamento científico, crítico e criativo Exercitar a curiosidade intelectual e utilizar as ciências com criticidade e criatividade. Repertório cultural Valorizar as diversas manifestações artísticas e culturais. Comunicação Utilizar diferentes linguagens. Cultura digital Compreender, utilizar e criar tecnologias digitais de forma crítica, significativa e ética. Trabalho e projeto de vida Valorizar e apropriar-se de conhecimentos e experiências. Quadro 1. As dez competências gerais da BNCC (Continua) A BNCC e a formação do currículo4 As competências gerais da educação básica precisam articular-se na cons- trução dos conhecimentos, no desenvolvimento de habilidades e na formação de atitudes e valores. 2 Estrutura da BNCC A BNCC tem como um dos seus fundamentos e objetivos fomentar a educação integral, isto é, desenvolver processos didáticos e pedagógicos que aproximem as aprendizagens das necessidades e dos interesses dos alunos, bem como dos desafi os da sociedade contemporânea. Nesse contexto, a BNCC sugere a superação da fragmentação disciplinar do conhecimento, buscando uma visão mais interdisciplinar e colaborativa, com aplicação na vida real, contextualizando todo o processo para dar sentido ao aprendizado e proporcionar o protagonismo do estudante no que aprende e constrói como projeto de vida (BRASIL, 2018). A BNCC também tem como fundamentos a igualdade, a diversidade e a equidade, com o que deixa claro que o Brasil tem uma diversidade enorme cultural, social e econômica que influencia diretamente a educação. Por isso, é necessária a igualdade de oportunidades para todos no que se refere ao aprendizado e à permanência na escola, bem como pensar sempre na equidade, pois as necessidades dos estudantes são diferentes. Fonte: Adaptado de Brasil (2018). Competência Finalidade Argumentação Argumentar com base em fatos, dados e informações confiáveis. Autoconhecimento e autocuidado Conhecer-se, compreender-se na diversidade humana e apreciar-se. Empatia e cooperação Exercitar a empatia, o diálogo, a resolução de conflitos e a cooperação. Responsabilidade e cidadania Agir pessoal e coletivamente com autonomia, responsabilidade, flexibilidade, resiliência e determinação. Quadro 1. As dez competências gerais da BNCC (Continuação) 5A BNCC e a formação do currículo Diante dessas bases fundamentais, é necessário conhecer como se estrutura e se interliga todo o planejamento da BNCC para, então, compreender como desenvolver currículos alinhados com as novas propostas didático-pedagógicas. Na Figura 1, você pode ver como está estruturada a BNCC para a educação básica. Figura 1. Estrutura da BNCC. Fonte: Brasil (2018, documento on-line). A BNCC e a formaçãodo currículo6 A BNCC está estruturada para demonstrar as competências que os alunos precisam desenvolver ao longo de toda a educação básica e a cada etapa da escolaridade. Na jornada da educação básica, os alunos devem desenvolver as dez com- petências gerais, que pretendem assegurar, como resultado do seu processo de aprendizagem e desenvolvimento, uma formação humana integral e que objetive a construção de uma sociedade justa, democrática e inclusiva (BRASIL, 2018). Educação infantil Na primeira etapa da educação básica, devem ser garantidos seis Direitos de Aprendizagem e Desenvolvimento com o objetivo que as crianças estejam aptas para aprender e se: conviver, brincar, participar, explorar, expressar e conhecer-se. Considerando os seis direitos de aprendizagem, a BNCC estabelece cinco Campos de Experiências para o desenvolvimento e para a aprendizagem das crianças: o eu, o outro e o nós; corpo, gestos e movimentos; traços, sons, cores e formas; escuta, fala, pensamento e imaginação; espaços, tempos, quantidades, relações e transformações. Em cada um dos campos de experiência, são definidos os objetivos de aprendizagem e desenvolvimento organizados em três grupos de faixa etária: bebês: 0 a 1 ano e 6 meses; crianças bem pequenas: 1 ano e 7 meses até 3 anos e 11 meses; crianças pequenas: 4 anos a 5 anos e 11 meses. Os campos de experiências são divididos nas três faixas etárias e um mesmo campo de experiência tem seu objetivo diferente à medida que a criança evolui na idade, nas faixas etárias. Por exemplo, o campo de experiências “traços, sons, cores e formas” assume diferentes objetivos, como você verifica a seguir. Bebês (EI01TS01): explorar sons produzidos com o próprio corpo e com objetos do ambiente. 7A BNCC e a formação do currículo Crianças bem pequenas (EI02TS01): criar sons com materiais, objetos e instrumentos musicais, para acompanhar diversos ritmos de música. Crianças pequenas (EI03TS01): utilizar sons produzidos por materiais, objetos e instrumentos musicais durante brincadeiras de faz de conta, encenações, criações musicais, festas. O código alfanumérico existe na BNCC para organizar os conteúdos e se refere a cada objetivo de aprendizagem e desenvolvimento (Figura 2). Figura 2. Explicação da composição do Código alfanumérico da BNCC na Educação Infantil. Fonte: Brasil (2018, documento on-line). É importante lembrar que a numeração sequencial dos códigos alfanumé- ricos não está ligada à ordem ou à hierarquia dentro dos objetivos de apren- dizagem e desenvolvimento. Ensino fundamental O ensino fundamental está organizado em cinco áreas do conhecimento para facilitar a comunicação entre os conhecimentos e saberes dos diferentes componentes curriculares. Cada área do conhecimento tem um papel na formação integral dos alunos do ensino fundamental e que são divididos em duas etapas: anos iniciais (1º ao 5º ano) e anos finais (6º ao 9º ano) — sendo respeitadas as especificidades e demandas didático-pedagógicas para cada etapa. A BNCC e a formação do currículo8 Na Figura 3, você pode ver como são distribuídos os componentes curri- culares do ensino fundamental nos anos iniciais e nos anos finais. Figura 3. Componentes curriculares do ensino fundamental. Fonte: Brasil (2018, documento on-line). Cada área de conhecimento tem estabelecido as competências específi- cas da área que devem ser desenvolvidas ao longo dos nove anos do ensino fundamental e que compõem as dez competências gerais preconizadas nos fundamentos da BNCC. É importante perceber que, nas áreas que englobam mais de uma compo- nente curricular, no caso das linguagens e ciências humanas, também ficam definidas competências específicas do componente (língua portuguesa, arte, educação física, língua inglesa, geografia e história), que devem ser desen- volvidas pelos estudantes nessa etapa de escolarização. Essas competências específicas fazem a articulação horizontal entre as áreas e a articulação vertical entre as duas etapas do ensino fundamental, anos iniciais e anos finais, possibilitando a continuidade das experiências e a aprendizagem dos alunos. Cada componente curricular apresenta um conjunto de habilidades rela- cionadas aos objetos de conhecimento (conteúdos, conceitos e processos), então reunidos em unidades temáticas. 9A BNCC e a formação do currículo Assim, as unidades temáticas reúnem um grupo de objetos de conheci- mento para serem trabalhados ao longo do ensino fundamental, ligados aos componentes curriculares e relacionados a um número variável de habilidades. Na Figura 4, você pode ver um exemplo de como são organizadas as unidades temáticas no ensino fundamental no caso do componente curricular de ciências para o 1º ano. Figura 4. Unidade temática de ciências do 1º ano do ensino fundamental. Fonte: Brasil (2018, documento on-line). As habilidades constituem as aprendizagens essenciais das quais os alu- nos se apropriam nos diferentes contextos escolares. Essas habilidades são descritas com uma determinada estrutura, na qual se utiliza um verbo para designar os processos cognitivos envolvidos na habilidade; em seguida, é citado o complemento, incluindo os objetos de conhecimento necessários para o desenvolvimento da habilidade e, ainda, modificadores do verbo ou complemento, o que aumenta a especificação da aprendizagem. No caso da ciência, no 1º ano, na unidade temática “Vida e Evolução”, na habilidade EF01CI02, temos o seguinte texto: “Localizar, nomear e representar graficamente (por meio de desenhos) partes do corpo humano e explicar suas funções” (BRASIL, 2018, documento on-line). Podemos ver o verbo (localizar, nomear, representar), o complemento (por meio de desenhos) e ainda um modificador (explicar suas funções). Os modificadores são uma ampliação da A BNCC e a formação do currículo10 habilidade para uma determinada situação ou faixa etária do aluno. Um ponto importante nesse contexto é que essas habilidades não descrevem as ações ou condutas esperadas do professor nem pressupõem abordagens ou metodologias, pois isso fica no âmbito de cada currículo e dos projetos pedagógicos que vão se adaptar a cada realidade da instituição escolar e dos alunos. Assim como na educação infantil existe um código alfanumérico para organizar os conteúdos, no ensino fundamental, cada habilidade é identificada por um código alfanumérico (Figura 5). Figura 5. Composição do código alfanumérico das habilidades no ensino fundamental. Fonte: Brasil (2018, documento on-line). Como vimos, cabe reforçar que a numeração sequencial identifica as habi- lidades dos anos ou blocos não representa uma ordem ou hierarquia esperada das aprendizagens. Todo esse conjunto de agrupamentos de conteúdos e habilidades propostas pela BNCC não é um modelo obrigatório para o design dos currículos, mas, sim, o que se espera que os alunos aprendam ao longo do ensino fundamental, sendo uma orientação comum a todo país para elaboração de seus currículos. 11A BNCC e a formação do currículo Ensino médio O ensino médio está organizado em quatro áreas do conhecimento, seguindo os preceitos da LDB (Figura 6). Figura 6. Componentes curriculares do ensino médio. Fonte: Adaptada de Brasil (2018, documento on-line). É importante salientar que, após as discussões para implementação da BNCC, e seguindo as normativas do Conselho Nacional de Educação, ficou definido que a organização por áreas não exclui as disciplinas, mas aumenta a relação entre as áreas e facilita sua contextualização para compreender e intervir na realidade, o que requer um trabalho interdisciplinar e colaborativo entre os professores para planejar e executar os planos de ensino. As habilidades relacionadas a língua portuguesa e matemática, por nor- mativa, devem ser oferecidas nos três anos do ensino médio. As habilidades para o ensino médio são apresentadas na BNCC sem seriação para que os sistemas de ensino e escolas tenham flexibilidadena construção de seus currículos e propostas didático-pedagógicas. Nessa perspectiva, cada área do conhecimento estabelece competências específicas de área, tanto no que concerne à BNCC quanto aos itinerários formativos das diferentes áreas. Com o objetivo de garantir a continuidade do desenvolvimento de compe- tências específicas de cada área, é relacionado um conjunto de habilidades que representam as aprendizagens essenciais preconizadas pela BNCC, seguindo a mesma estrutura adotada no ensino fundamental. A BNCC e a formação do currículo12 A divisão de disciplinas por área fica organizada como você confere a seguir. Ciências da Natureza e suas Tecnologias: Biologia, Física e Química. Ciências Humanas e Sociais Aplicadas: História, Geografia, Sociologia e Filosofia. Matemática e suas Tecnologias: Matemática. Linguagens e suas Tecnologias: Arte, Educação Física, Língua Inglesa e Língua Portuguesa. Uma única diferença do padrão, semelhante ao do ensino fundamental, é que, além das competências específicas e suas habilidades para área “Lin- guagem e suas Tecnologias”, ainda são definidas habilidades para língua portuguesa. Na Figura 7, você pode ver como está organizado o código alfanumérico para o ensino médio. Figura 7. Composição do código alfanumérico das habilidades do ensino médio. Fonte: Brasil (2018, documento on-line). 13A BNCC e a formação do currículo Com base na explicação apresentada na Figura 7, podemos entender que o Código EM13LGG103 se refere à terceira habilidade proposta na área de “Linguagens e suas Tecnologias”, relacionada à competência específica 1, que pode ser desenvolvida em qualquer ano do ensino médio. 3 Organização do currículo com base na BNCC O currículo constitui um projeto seletivo de cultura, condicionado por questões sociais, políticas e administrativas, que envolve todas as esferas da atividade educacional e se torna realidade dentro das condições que estão confi guradas na escola e/ou instituição escolar (SACRISTÁN, 2017). Nesse contexto, a BNCC preconiza o compromisso de que os currículos se preocupem com a formação e com o desenvolvimento humano integral nas dimensões intelectual, física, ética, moral e simbólica (BRASIL, 2018). A BNCC e os currículos são complementares, pois as aprendizagens bá- sicas de que os alunos precisam se apropriar são resultado das decisões que constituem o currículo em ação. Na construção dos currículos, a BNCC deixa claro que precisa haver ade- quações com as realidades locais, considerando a autonomia das redes de ensino e escolas, assim como ao contexto e à realidade de vida dos alunos. Nessa perspectiva, alguns pontos são cruciais para a criação de currículos alinhados com a BNCC, mas também nivelados nas realidades nas quais serão implementados, como: contextualizar os conteúdos dos componentes curriculares com base na realidade local e no tempo de aprendizagem; organizar de forma interdisciplinar, dinâmica e colaborativa as estra- tégias para ensino e aprendizagem; aplicar metodologias e estratégias didático-pedagógicas diversificadas; utilizar procedimentos para engajar e motivar os alunos nas aprendizagens; aplicar avalição formativa processual levando em conta o contexto de aprendizagem, na busca por melhorias constantes da escola, equipe escolar e alunos; A BNCC e a formação do currículo14 selecionar e produzir recursos didáticos e tecnológicos para apoio na aprendizagem; manter processos permanentes de formação de professores. Para a implementação da BNCC dentro da questão curricular, é ne- cessário respeitar e considerar todas as experiências curriculares que já existem e tem sido praticadas nas últimas duas décadas para que se aprenda com os erros e acertos, bem como se incorpore novas práticas que tiveram bons resultados. Uma necessidade prevista no âmbito da BNCC para os currículos é a abordagem de temas atuais que afetam a vida humana tanto local quanto globalmente, de forma transversal e integral. Os temas que se destacam como prioridade de trabalho de forma contextualizada são: direitos da criança e do adolescente; educação para o trânsito; educação ambiental; educação alimentar e nutricional; processo de envelhecimento, respeito e valorização do idoso; educação dos direitos humanos; educação das relações étnico-raciais; ensino de história e cultura afro-brasileira, africana e indígena; educação em saúde; educação para o consumo; educação financeira e fiscal; trabalho, ciência e tecnologia; diversidade cultural. Um dos grandes objetivos da BNCC, como vemos, é a superação da frag- mentação das políticas educacionais, fortalecendo a colaboração entre as três esferas do governo para a melhoria na qualidade da educação. 15A BNCC e a formação do currículo BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Diário Oficial da União, Brasília, 5 out. 1988. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/ constituicaocompilado.htm. Acesso em: 6 fev. 2020. BRASIL. Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as diretrizes e bases da educação nacional. Diário Oficial da União, Brasília, 23 dez. 1996. Disponível em: http:// www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L9394.htm. Acesso em: 6 fev. 2020. BRASIL. Ministério da Educação. Base Nacional Comum Curricular: educação é a base. Brasília, 2018. Disponível em: http://basenacionalcomum.mec.gov.br/images/BNCC_ EI_EF_110518_versaofinal_site.pdf. Acesso em: 6 fev. 2020. PLATAFORMA AGENDA 2030. Acelerando as transformações para a Agenda 2030 no Brasil. c2020. Disponível em: http://www.agenda2030.org.br/. Acesso em: 6 fev. 2020. SACRISTÁN, J. G. O Currículo: uma reflexão sobre a prática. 3. ed. Porto Alegre: Penso, 2017. Os links para sites da Web fornecidos neste capítulo foram todos testados, e seu fun- cionamento foi comprovado no momento da publicação do material. No entanto, a rede é extremamente dinâmica; suas páginas estão constantemente mudando de local e conteúdo. Assim, os editores declaram não ter qualquer responsabilidade sobre qualidade, precisão ou integralidade das informações referidas em tais links. A BNCC e a formação do currículo16 DICA DO PROFESSOR A educação socioemocional envolve o processo de compreensão e manejo das emoções, aliado a empatia e escolha de decisões responsáveis. Por isso, deve ser trabalhada em diferentes situações seja na escola e na sociedade. Nas últimas décadas, surgiu uma preocupação com a implementação da educação socioemocional nas instituições escolares ao redor do mundo. Na BNCC, esse aspecto aparece bem definido dentro das 10 competências gerais para educação básica. Compreenda, na Dica do Professor, mais detalhes sobre esse tema. Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino! EXERCÍCIOS 1) Na Lei das Diretrizes Básicas (LDB), promulgada em 1996, ficaram definidos conceitos básicos para nortear a criação de currículos no Brasil, que acabaram por se tornar a razão do surgimento da Base Comum Curricular Nacional (BNCC), em 2017. Quais seriam esses conceitos básicos? A) Os currículos precisam ser unificados em todo território nacional. B) Os currículos serão diversos e as competências e diretrizes serão comuns. C) Os currículos devem focar unicamente nas aprendizagens essenciais. D) Os currículos devem somente priorizar o desenvolvimento de competências. E) As competências serão diversas, conforme cada realidade local. 2) A Base Nacional Comum Curricular (BNCC) constituí um documento normativo que engloba o conjunto de aprendizagens essenciais necessárias para os alunos desenvolverem na jornada da educação básica, para que tenham garantidos seus direitos de aprendizagem e desenvolvimento, conforme preconiza o Plano Nacional de Educação (PNE). Sendo assim, um dos grandes objetivos da BNCC é: A) Definir os conteúdos específicos a serem desenvolvidos em cada uma das regiões brasileirasB) Definir os conteúdos mínimos a serem desenvolvidos apenas no Ensino Fundamental C) Garantir a igualdade e a equidade educacional a todos os alunos da Educação Básica D) Definir as metodologias educacionais a serem desenvolvidas nas escolas brasileiras. E) Definir os conteúdos mínimos a serem desenvolvidos na Educação Infantil e no Ensino Fundamental 3) A BNCC está estruturada para demonstrar as competências que os alunos precisam desenvolver ao longo de toda a educação básica e a cada etapa da escolaridade. No caso da Educação Infantil, devem ser garantidos seis direitos de aprendizagem e desenvolvimento, que são: A) Conviver, brincar, colaborar, explorar, jogar e conhecer-se. B) Brincar, colaborar, explorar, jogar, expressar e conhecer-se. C) Brincar, colaborar, comunicar-se, conhecer-se, participar e conviver. D) Conviver, brincar, participar, explorar, colaborar e comunicar-se. E) Conviver, brincar, participar, explorar, expressar e conhecer-se. 4) Na BNCC ficou definido um aumento da relação entre as áreas, facilitando sua contextualização para compreender e intervir na realidade, requerendo dos professores um: A) olhar focado em cada disciplina e suas especificidades para um melhor planejamento. B) maior empenho em planejar sua disciplina de forma individual. C) trabalho interdisciplinar e colaborativo para o planejamento. D) trabalho disciplinar para o planejamento. E) olhar nas especificidades de cada disciplina, para evitar sua exclusão dos planejamentos. 5) No desenvolvimento dos currículos, a BNCC deixa claro que precisa haver adequações com as realidades locais, e com: A) o contexto e a realidade de vida dos alunos. B) as políticas do município ou estado. C) as questões econômicas do local. D) a visão do gestor da escola. E) a infraestrutura das salas de aula. NA PRÁTICA A BNCC é como um guia, que vai orientar o professor a fazer os estudantes terem acesso e experienciarem as aprendizagens básicas e o desenvolvimento de competências, para se tornarem cidadãos éticos e humanizados. Desse forma, é possível inovar em sala de aula seguindo as diretrizes e orientações da BNCC, procurando estimular os alunos para o uso das tecnologias, explorando o pensamento científico e o desenvolvendo novas competências. Confira, Na Prática, o caso do professor Claudio, que inovou em sala de aula a partir das competência da BNCC. Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino! SAIBA MAIS Para ampliar o seu conhecimento a respeito desse assunto, veja abaixo as sugestões do professor: Base Nacional Comum Curricular (BNCC) Assista o vídeo produzido pelo Ministério da Educação (MEC) durante a criação da BNCC, em que você poderá ver detalhes da linha do tempo, bem como uma síntese dos objetivos gerais e princípios da BNCC. Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino! Guia de práticas inovadoras Acesse o e-book e-NAVE 2 guia de Práticas Pedagógicas Inovadoras e confira 45 práticas de todas as áreas do conhecimento e componentes curriculares, da formação geral básica e da formação profissional e tecnológica, que podem ser adaptadas de acordo com a realidade de cada escola, mesmo com pouco ou nenhum recurso tecnológico. As práticas são orientadas para atender às dez competências gerais da BNCC e do novo Ensino Médio. Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino! Planos de aula alinhados a BNCC Aqui você encontra inúmeros planos de aula já criados e alinhados a BNCC, produzidos pela Nova Escola para auxiliar nas práticas em sala de aula, seja nos estágios, bem como no mundo do trabalho. Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino!
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