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PDF OAB Direito Ambiental Capítulos 1 ao 8 MAT ERIA L EXE MPL AR PDF OAB Direito Ambiental Capítulo 1 MAT ERIA L EXE MPL AR 1 Olá, aluno! Bem-vindo ao estudo para o Exame de Ordem. Preparamos todo esse material para você não só com muito carinho, mas também com muita métrica e especificidade, garantindo que você terá em mãos um conteúdo direcionado e distribuído de forma inteligente. Para isso, estamos constantemente analisando o histórico de provas anteriores com fins de entender como a Banca costuma cobrar os assuntos do edital. Afinal, queremos que sua atenção esteja focada nos assuntos que lhe trarão maior aproveitamento, pois o tempo é escasso e o cronograma é extenso. Conte conosco para otimizar seu estudo sempre! Ademais, estamos constantemente perseguindo melhorias para trazer um conteúdo completo que facilite a sua vida e potencialize seu aprendizado. Com isso em mente, a estrutura do PDF Ad Verum foi feita em capítulos, de modo que você possa consultar especificamente os assuntos que estiver estudando no dia ou na semana. Ao final de cada capítulo você tem a oportunidade de revisar, praticar, identificar erros e aprofundar o assunto com a leitura de jurisprudência selecionada. E mesmo você gostando muito de tudo isso, acreditamos que o PDF sempre pode ser aperfeiçoado! Portanto pedimos gentilmente que, caso tenha quaisquer sugestões ou comentários, entre em contato através do email pdf@cers.com.br. Sua opinião vale ouro para a gente! Racionalizar a preparação dos nossos alunos é mais que um objetivo para Ad Verum, trata-se de uma obsessão. Sem mais delongas, partiremos agora para o estudo da disciplina. Faça bom uso do seu PDF Ad Verum! Bons estudos mailto:pdfadverum@cers.com.br 2 Abordaremos os assuntos da disciplina de Direito Ambiental da seguinte forma: RECORRÊNCIA DA DISCIPLINA Como dito, sabemos que estudar de forma direcionada, com base nos assuntos objetivamente mais recorrentes, é essencial. Afinal, uma separação planejada pode fazer toda diferença. Pensando nisso, através de estudo realizado pelo nosso setor de inteligência com base nas últimas provas, trouxemos os temas mais abordados nessa disciplina! Política Nacional do Meio Ambiente 33% Ação Civil Pública 12% Responsabilidade ambiental 6% Estudo de Impacto Ambiental - EIA 24% Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza 12% Política Nacional do Meio Ambiente Ação Civil Pública Responsabilidade ambiental Estudo de Impacto Ambiental - EIA Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza 3 CAPÍTULOS Capítulo 1 – Princípios do Direito Ambiental. Capítulo 2 – Tutela Constitucional do Meio Ambiente e Responsabilidade Ambiental Civil e Administrativa. Capítulo 3 – Política Nacional do Meio Ambiente. Capítulo 4 – Licença Ambiental. Capítulo 5 – Código Florestal. Capítulo 6 – Unidades de Conservação da Natureza. Capítulo 7 – Política Nacional de Recursos Hídricos e Os Recursos Minerais. Capítulo 8 – Tutela Processual Coletiva do Meio Ambiente e Tutela Penal e Processual Penal do Meio Ambiente. 4 SUMÁRIO DIREITO AMBIENTAL, Capítulo 1 ................................................................................................................................ 6 1. Princípios do Direito Ambiental .......................................................................................................................... 6 1.1 Princípio do Desenvolvimento Sustentável ................................................................................................................. 6 1.2 Princípio do Meio Ambiente Ecologicamente Equilibrado .................................................................................. 8 1.3 Princípios da Prevenção e da Precaução ...................................................................................................................... 9 1.4 Princípio do Poluidor Pagador ........................................................................................................................................10 1.5 Princípio do Usuário Pagador..........................................................................................................................................12 1.6 Princípio da Obrigatoriedade de Intervenção Estatal ...........................................................................................12 1.7 Princípio da Participação Comunitária .........................................................................................................................13 1.8 Princípio da Informação .....................................................................................................................................................13 1.9 Princípio da Educação Ambiental ..................................................................................................................................14 1.10 Princípio da Função Socioambiental da Propriedade...........................................................................................14 1.11 Princípio da Cooperação Entre os Povos ...................................................................................................................15 1.12 Princípio do Limite ................................................................................................................................................................16 1.13 Princípio da Vedação ao Retrocesso Ecológico (Efeito Cliquet Ambiental) ...............................................16 1.14 Princípio do Protetor-Recebedor ...................................................................................................................................16 QUADRO SINÓTICO ...................................................................................................................................................... 17 GABARITO .......................................................................................................................................................................... 28 LEGISLAÇÃO COMPILADA............................................................................................................................................ 32 JURISPRUDÊNCIA ............................................................................................................................................................. 33 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................................................................................. 41 5 Olá, futuro advogado! Tudo bem? Antes de começar o estudo, precisamos fazer algumas considerações a respeito da apostila de nº 01 do nosso curso, tá? Em primeiro turno, Princípios do Direito Ambiental não costuma ser cobrado no exame de ordem! -Mas professora, por que incluí-lo nas apostilas, então? Bom, como é de conhecimento geral, a banca examinadora tende a ser um pouco imprevisível, e o nosso objetivo é deixar você preparado para exatamente qualquer coisa que aparecer na prova! Então, achamos pertinente abranger o máximo de conteúdo possível! 😊 Inclusive, ao final desta apostila, você encontrará questões de outras carreiras, para um maior aproveitamento e assimilação de conteúdo, portanto, não deixe de respondê-las, tá? Vamos juntos! 6 DIREITO AMBIENTAL Capítulo 1 1. Princípios do Direito Ambiental Apesar de parecer uma matéria interdisciplinar, o Direito Ambiental é dotado de autonomia científica, obedece a princípios específicos, sem os quais dificilmente seria capaz de tutelar o meio ambiente ecologicamente equilibrado. Não há consenso na doutrina sobre os princípios do Direito Ambiental, portanto, vamos elencá-los da forma mais objetiva possível para os seus estudos, ok? 1.1 Princípio do Desenvolvimento SustentávelÉ um dos princípios mais importantes do Direito Ambiental. O desenvolvimento sustentável visa harmonizar o crescimento econômico, a preservação ambiental e a equidade social1. A Comissão Mundial sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento estabelece o seguinte conceito para desenvolvimento sustentável: “Um desenvolvimento que faz face às necessidades das gerações presentes sem comprometer a capacidade das gerações futuras na satisfação de suas próprias necessidades”. 1 Vide questão 8 desse material. 7 Nesse contexto, o princípio quarto da Declaração da Rio 92 aduz que “para se alcançar o desenvolvimento sustentável, a proteção do meio ambiente deve constituir parte integrante do processo de desenvolvimento e não pode ser considerada isoladamente em relação a ele”. Enquanto isso, o princípio quinto da mesma declaração aduz: “todos os Estados e todos os indivíduos, como requisito indispensável para o desenvolvimento sustentável, devem cooperar na tarefa essencial de erradicar a pobreza, de forma a reduzir as disparidades nos padrões de vida e melhor atender às necessidades da maioria da população do mundo”. O princípio do desenvolvimento sustentável está previsto na nossa Constituição Federal, em seu art. 170, II, III, VI e VII, quando estabelece como princípios da ordem econômica, respectivamente: a propriedade privada, como um incentivo ao crescimento econômico; a função social da propriedade, que representa a responsabilidade social; a defesa do meio ambiente; e a redução das desigualdades regionais e sociais. Art. 170. A ordem econômica, fundada na valorização do trabalho humano e na livre iniciativa, tem por fim assegurar a todos existência digna, conforme os ditames da justiça social, observados os seguintes princípios: (...) II - propriedade privada; III - função social da propriedade; (...) VI - defesa do meio ambiente, inclusive mediante tratamento diferenciado conforme o impacto ambiental dos produtos e serviços e de seus processos de elaboração e prestação; VII - redução das desigualdades regionais e sociais; (...) Além do art. 170, a Constituição prevê o princípio do desenvolvimento sustentável no caput do art. 225: Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações. 8 Alguns doutrinadores afirmam que do fato de a Constituição Federal estabelecer que cabe ao Poder Público e à coletividade defender e preservar o meio ambiente ecologicamente equilibrado para as futuras gerações, surge o princípio da equidade intergeracional, ou princípio da solidariedade intergeracional. 1.2 Princípio do Meio Ambiente Ecologicamente Equilibrado A Declaração de Estocolmo das Nações Unidas sobre o Ambiente Humano de 1972 reconheceu o meio ambiente ecologicamente equilibrado como um direito fundamental do homem – direitos humanos de terceira geração. Na Constituição de 1988 esse princípio está expresso no já citado art. 225, caput, e na legislação infraconstitucional podemos destacar os artigos 2º e 40 da Lei 6.938/81 que trata da Política Nacional do Meio Ambiente. Vale destacar que o direito fundamental ao meio ambiente ecologicamente equilibrado está diretamente ligado ao direito à vida, à saúde e à dignidade humana. Por isso, o STJ já decidiu que esse direito essencial deve ser imprescritível. ACP. REPARAÇÃO. DANO AMBIENTAL. Cuida-se, originariamente, de ação civil pública (ACP) com pedido de reparação dos prejuízos causados pelos ora recorrentes à comunidade indígena, tendo em vista os danos materiais e morais decorrentes da extração ilegal de madeira 9 indígena. (...) Do ponto de vista do sujeito passivo (causador de eventual dano), a prescrição cria em seu favor a faculdade de articular (usar da ferramenta) exceção substancial peremptória. A prescrição tutela interesse privado, podendo ser compreendida como mecanismo de segurança jurídica e estabilidade. O dano ambiental refere-se àquele que oferece grande risco a toda humanidade e à coletividade, que é a titular do bem ambiental que constitui direito difuso. Destacou a Min. Relatora que a reparação civil do dano ambiental assumiu grande amplitude no Brasil, com profundas implicações, na espécie, de responsabilidade do degradador do meio ambiente, inclusive imputando-lhe responsabilidade objetiva, fundada no simples risco ou no simples fato da atividade danosa, independentemente da culpa do agente causador do dano. O direito ao pedido de reparação de danos ambientais, dentro da logicidade hermenêutica, também está protegido pelo manto da imprescritibilidade, por se tratar de direito inerente à vida, fundamental e essencial à afirmação dos povos, independentemente de estar expresso ou não em texto legal. No conflito entre estabelecer um prazo prescricional em favor do causador do dano ambiental, a fim de lhe atribuir segurança jurídica e estabilidade com natureza eminentemente privada, e tutelar de forma mais benéfica bem jurídico coletivo, indisponível, fundamental, que antecede todos os demais direitos – pois sem ele não há vida, nem saúde, nem trabalho, nem lazer – o último prevalece, por óbvio, concluindo pela imprescritibilidade do direito à reparação do dano ambiental. Mesmo que o pedido seja genérico, havendo elementos suficientes nos autos, pode o magistrado determinar, desde já, o montante da reparação. (REsp 1.120.117-AC, Rel. Min. Eliana Calmon, julgado em 10/11/2009). 1.3 Princípios da Prevenção e da Precaução Os danos ambientais geralmente são graves e irreversíveis, com isso, devemos preferir sempre evitar a remediar. Dessa ideia surgem os princípios da prevenção e da precaução, extremamente importantes para a nossa matéria. Mas qual a diferença entre eles já que ambos visam evitar que o dano ambiental ocorra por meio de medidas preventivas?2 2 Vide questões 2, 3, 4, 7, 8 e 9 desse material. 10 PRINCÍPIO DA PREVENÇÃO PRINCÍPIO DA PRECAUÇÃO A aplicação do princípio da prevenção ocorre na certeza científica do impacto ambiental da atividade. Conhecendo os danos que determinada atividade causa ao meio ambiente, podemos impor medidas preventivas para minimizar ou eliminar esses efeitos. A aplicação do princípio da precaução ocorre na constatação de potenciais riscos de impacto ambiental da atividade, que no momento não podem ser cientificamente comprovados. É um dever de cautela. Princípio décimo quinto da Declaração do Rio 92 – “Com o fim de proteger o meio ambiente, os Estados deverão aplicar amplamente o critério da precaução de acordo com suas capacidades. Quando haja perigo de dano grave e irreversível, a falta de certeza científica absoluta não deverá ser utilizada como razão para postergar a adoção de medidas eficazes para impedir a degradação do meio ambiente”. Como a incerteza científica deve ser interpretada em favor do meio ambiente, o ônus de provar que as ações não são danosas é do acusado interessado3. Mas atenção: a aplicação do princípio deve ser feita apenas em caso de perigo de dano grave e irreversível, sob pena de inviabilizar o desenvolvimento científico e econômico se for aplicado a qualquer tipo de risco ambiental. 1.4 Princípio do Poluidor Pagador O princípio do poluidor pagador, usado como um instrumento econômico de política ambiental, exige que o poluidor suporte as despesas de prevenção, reparação e repressão dos seus danos ambientais4. Aplicando o princípio do poluidor pagador, os custos sociais externos do processo de produção devem ser internalizados pelo empreendedor da atividade, procurando corrigir o prejuízo que a sociedade temcom o seu processo produtivo5. 3 Vide questão 7 desse material. 4 Vide questões 1 e 10 desse material. 5 Vide questão 6 desse material. 11 Temos nesse caso uma responsabilidade civil objetiva6 do degradador ambiental que, independentemente de agir com dolo ou culpa, deve ser responsabilizado pelo dano que a sua atividade causou ao meio ambiente, comprovado o dano e o nexo causal entre ele e a atividade do agente. Veremos a responsabilidade civil ambiental de forma bem mais aprofundada em capítulo próprio, mas, desde já, saiba que o degradador ambiental pode responder nas esferas civil, administrativa e penal, de forma simultânea e independente, pelo menos dano ao meio ambiente. Portanto, no direito ambiental temos a tríplice responsabilização do degradador, que materializa o princípio da proteção integral do meio ambiente7. Especificamente quanto ao princípio do poluidor-pagador, podemos analisá-lo de duas formas compatíveis e complementares: Reparação – o poluidor deve assumir as consequências do dano ambiental que causou. Nesse aspecto o princípio do poluidor pagador também é chamado de princípio da reparação ou de princípio da responsabilidade; Prevenção – o poluidor deve seguir as políticas públicas e considerar os custos sociais da degradação ambiental. Trata-se de um incentivo dissuasivo para quem pretende atuar de forma lesiva ao meio ambiente8. Quem paga pode poluir? Claro que não! Essa é uma interpretação completamente equivocada do princípio do poluidor pagador. Não é sua intenção estabelecer a “compra do direito de poluir”. É lógico que diante de um direito fundamental tão importante, ligado ao direito à vida e à dignidade humana, não é compatível com o nosso ordenamento jurídico que 6 Vide questões 5, 8 e 10 desse material. 7 Vide questão 4 desse material. 8 Vide questões 9 e 10 desse material. 12 se polua mediante pagamento. E como vimos, o princípio do poluidor pagador não se limita à compensação do dano já causado, aliás, muito mais importante é a sua função de prevenção. 1.5 Princípio do Usuário Pagador Por esse princípio, é definido um valor econômico aos recursos naturais para racionalizar o seu uso, evitando o seu desperdício. Portanto, o usuário dos recursos naturais deve pagar por eles, mesmo que a sua atividade seja lícita9. É uma forma de evolução e de complementar o princípio do poluidor pagador. O princípio do usuário pagador não é uma sanção. Essa compensação financeira deve ser revertida em favor da coletividade, titular do meio ambiente, independentemente da ocorrência de efetivo dano ambiental e de qualquer ilicitude no comportamento do usuário. 1.6 Princípio da Obrigatoriedade de Intervenção Estatal Também conhecido como princípio da atuação obrigatória do Estado e como princípio da natureza pública da proteção ambiental, está previsto no art. 255 da CF/88 que, em seu caput, estabelece que é um dever do Poder Público (e da coletividade) defender e preservar o meio ambiente ecologicamente equilibrado para as presentes e futuras gerações. A atuação obrigatória do Estado na proteção do meio ambiente decorre da natureza indisponível desse direito, indispensável à vida e à dignidade da pessoa humana. Para realizar essas intervenções, o Estado pode se valer de políticas públicas no âmbito da fiscalização das atividades econômicas poluidoras; da aplicação de multas rigorosas e sanções administrativas; e de incentivos fiscais para empresas ambientalmente responsáveis. Com esses exemplos podemos enxergar como o Estado tem mecanismos efetivos para incentivar a preservação do meio ambiente. Para terminar, preste atenção: o dever do Estado de preservar o meio ambiente ecologicamente equilibrado não atribuído apenas ao Poder Executivo. Por exemplo, cabe ao 9 Vide questão 8 e 9 desse material. 13 Poder Legislativo elaborar leis que visem esse objetivo. Portanto, o dever de intervenção para a preservação do meio ambiente cabe a todos os Poderes da República, em todas as suas esferas de atuação. 1.7 Princípio da Participação Comunitária Também chamado de princípio da participação popular e de princípio democrático, estabelece, de acordo com o caput do art. 255 da CF, que o cidadão tem o direito (e o dever) de participar das decisões sobre o equilíbrio do meio ambiente. Com isso, a sociedade passou a dispor de alguns mecanismos de participação democrática direta, destacando-se: iniciativa popular de lei, participação em audiência pública, participação de representantes da sociedade civil em órgãos colegiados responsáveis pela formulação de políticas públicas e possibilidade de propor ação popular. 1.8 Princípio da Informação O princípio da participação comunitária pressupõe o direito de informação, pois só o cidadão informado pode atuar de forma eficaz. Exemplo da aplicação do princípio da informação está disposto no art. 255, IV da CF/88, que exige a publicidade do estudo prévio de impacto ambiental. Ademais, você verá ao longo do curso que todas as normas infraconstitucionais em matéria ambiental privilegiam o princípio da informação. Art. 5º, XXXIII, da CF: todos têm direito a receber dos órgãos públicos informações de seu interesse particular, ou de interesse coletivo ou geral, que serão prestadas no prazo da lei, sob pena de responsabilidade, ressalvadas aquelas cujo sigilo seja imprescindível à segurança da sociedade e do Estado. Os dados referentes ao meio ambiente devem ser amplamente divulgados à sociedade civil, salvo matérias que envolvam segredo industrial ou do Estado. Nesse ponto, vale ressaltar que, apesar de o artigo acima citado dispor que é obrigação dos órgãos públicos prestar as 14 informações à sociedade, as entidades privadas também estão sujeitas à incidência do princípio da informação ambiental10, devendo, muitas vezes, elaborar relatórios periódicos. Claramente as informações relativas ao meio ambiente são de interesse coletivo ou geral, pois trata-se de um interesse difuso. Portanto, em regra, qualquer pessoa pode ter acesso às informações que tratam do meio ambiente sem precisar comprovar interesse específico. Essas informações devem ser prestadas, por meios hábeis a atingir a coletividade, de forma periódica, e não apenas quando ocorrer um dano ambiental, para que seja possível a adoção de medidas preventivas contra eventuais irregularidades. Visto isso, podemos elencar os seguintes requisitos da informação ambiental: que seja verdade, ampla, tempestiva e acessível. 1.9 Princípio da Educação Ambiental A educação ambiental é um instrumento para esclarecer e envolver a sociedade com a proteção do meio ambiente, possibilitando, assim como o princípio da informação, a participação ativa do cidadão na democracia. Está expressamente disposto no art. 225, §1º, VI da CF/88, que determina ao Poder Público o dever de promover a educação ambiental em todos os níveis de ensino e a conscientização pública para a preservação do meio ambiente. É um princípio com tanta relevância que foi criada a Política Nacional de Educação Ambiental pela Lei 9.795/99, que define a educação ambiental como um conjunto de “processos por meio dos quais o indivíduo e a coletividade constroem valores sociais, conhecimentos, habilidades, atitudes e competências voltadas para a conservação do meio ambiente, bem de uso comum do povo, essencial à sadia qualidade de vida e sua sustentabilidade”. 1.10 Princípio da Função Socioambiental da Propriedade De acordo com o art. 5º, XXII e XXIII, da CF/88, fica garantido o direito à propriedade a quem exercer a sua função social. Com isso, o legislador constituinte fez com que a propriedade10 Vide questão 4 desse material. 15 perdesse o seu caráter absoluto e passasse a ser uma forma de promover o progresso da sociedade, atribuindo-a um caráter de dever coletivo11. Sendo o meio ambiente ecologicamente equilibrado um direito difuso, que tem como titular a coletividade, evidentemente que a função social da propriedade está condicionada à sua tutela. Prova disso é que o Código Civil determina em seu art. 1.228, §1º, que o direito de propriedade deve ser exercido em consonância com as suas finalidades econômicas e sociais, de modo que sejam preservados a flora, a fauna, as belezas naturais, o equilíbrio ecológico e o patrimônio histórico e artístico, bem como evitada a poluição do ar e das águas. 1.11 Princípio da Cooperação Entre os Povos A cooperação entre os povos para o progresso da humanidade está prevista como um dos princípios da República Federativa do Brasil nas relações internacionais pelo art. 4º, IX da CF/88. Como os danos ambientais podem tomar grandes proporções, atingindo mais de um país, esse princípio ganha relevância no direito ambiental. O princípio da cooperação consiste na necessidade de uma troca mútua de conhecimentos ambientais entre os países, fazendo um intercâmbio de tecnologias para manter o equilíbrio ambiental. 1.12 Princípio da ubiquidade Muitos autores o citam como princípio do direito ambiental tendo em vista que o meio ambiente é onipresente e, por isso, a sua agressão em qualquer localidade seria capaz de gerar reflexos em todo o planeta12. 11 Vide questão 4 desse material. 12 Vide questão 9 desse material. 16 1.13 Princípio do Limite Também conhecido como princípio do controle do poluidor pelo Poder Público, consiste no exercício do Poder de Polícia ambiental do Estado para intervir de forma necessária no âmbito particular para fiscalizar, orientar e conscientizar quanto aos limites da exploração do meio ambiente, à sua importância para a coletividade e à sua utilização consciente para que seja permanentemente disponível13. 1.14 Princípio da Vedação ao Retrocesso Ecológico (Efeito Cliquet Ambiental) Como visto, o direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado é um direito fundamental e, por isso, não é possível recuar quanto às suas garantias já consolidadas no ordenamento jurídico. Por exemplo, existindo uma lei que determina garantias de proteção ao meio ambiente, ela não pode ser revogada sem que outra a substitua com garantias maiores ou similares. É pelo princípio da vedação ao retrocesso que podemos afirmar que o Poder Público está obrigado, em todas as suas esferas de poder, a atuar no sentido progressivo na proteção dos direitos fundamentais, jamais recuando, suprimindo ou restringindo, a efetividade das suas garantias. 1.15 Princípio do Protetor-Recebedor Esse princípio funciona como um instrumento econômico de proteção ambiental que visa incentivar as iniciativas para proteção do meio ambiente por meio de recompensas econômicas. Essas recompensas devem ser custeadas pela pessoa física, jurídica ou pela coletividade que se beneficia da iniciativa do protetor. 13 Vide questão 9 desse material. 17 QUADRO SINÓTICO PRINCÍPIOS DO DIREITO AMBIENTAL PRINCÍPIO DO DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL Desenvolvimento sustentável é aquele que harmoniza o crescimento econômico, a preservação ambiental e a equidade social. É o princípio que garante as necessidades das gerações presentes e futuras – princípio da solidariedade intergeracional. PRINCÍPIO DO MEIO AMBIENTE ECOLOGICAMENTE EQUILIBRADO O equilíbrio ecológico é o estado do meio ambiente que garante as condições adequadas para a qualidade de vida. Trata-se de um direito fundamental do homem, pois está ligado intrinsecamente ao direito à vida. PRINCÍPIO DA PREVENÇÃO Apoiado na certeza científica, o princípio da prevenção visa evitar que o dano ambiental seja produzido por meio de medidas preventivas. PRINCÍPIO DA PRECAUÇÃO Segundo o princípio da precaução, o dano ambiental deve ser evitado, mesmo que o seu risco não seja comprovado cientificamente. É a garantia contra os riscos potenciais, pois a ausência de comprovação científica no atual estágio de conhecimento não pode servir de argumento para negligenciar a proteção do meio ambiente. Pelo princípio da precaução, a incerteza científica deve ser interpretada a favor do meio ambiente. Por isso, inverte-se o ônus da prova, cabe ao interessado demonstrar que a atividade que pretende exercer não é capaz de gerar dano ambiental. PRINCÍPIO DO POLUIDOR PAGADOR O poluidor deve suportar as despesas de prevenção, reparação e repressão dos danos ambientais. Além de indenizar o dano causado, o poluidor deve internalizar as externalidades negativas das suas atividades poluidoras, para evitar a socialização dos prejuízos. PRINCÍPIO DO USUÁRIO PAGADOR O usuário de recursos naturais deve pagar pela sua utilização, promovendo, assim, a racionalização do seu uso. Não é uma punição. PRINCÍPIO DA OBRIGATORIEDADE DA INTERVENÇÃO ESTATAL O Poder Público tem o dever imposto constitucionalmente e defender e preservar o meio ambiente ecologicamente equilibrado para as presentes e futuras gerações. Para tanto, deve se valer, por exemplo, de políticas públicas e do seu poder de polícia ambiental. PRINCÍPIO DA PARTICIPAÇÃO COMUNITÁRIA A Constituição Federal também estabelece a coletividade como detentora do dever de preservar o equilíbrio ecológico ambiental para as presentes e futuras gerações. Portanto, é direito do cidadão participar das práticas que visam a 18 proteção ambiental, como as decisões públicas e a fiscalização das suas execuções. PRINCÍPIO DA INFORMAÇÃO As informações sobre o meio ambiente devem ser disponibilizadas para todos os interessados. O direito à informação sobre matéria ambiental é um desdobramento lógico do princípio da participação comunitária, pois o cidadão só poderá participar se tiver informação. PRINCÍPIO DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL Incumbe ao Poder Público promover em todos os níveis de ensino a educação ambiental e a conscientização pública para preservar o meio ambiente. PRINCÍPIO DA FUNÇÃO SOCIOAMBIENTAL DA PROPRIEDADE O direito de propriedade está condicionado à observância da sua função social. Sendo o meio ambiente ecologicamente equilibrado um direito difuso, que tem como titular a coletividade, evidentemente que a função social da propriedade está condicionada à sua tutela. PRINCÍPIO DA COOPERAÇÃO ENTRE OS POVOS A poluição ambiental não fica limitada apenas a um território, portanto, as nações precisam cooperar entre si para proteger o equilíbrio do meio ambiente. PRINCÍPIO DO LIMITE Cabe ao Poder Público impor limites, controlar a produção, a comercialização e o emprego de técnicas, métodos e substâncias que gerem risco à vida, à qualidade de vida e ao meio ambiente. PRINCÍPIO DA VEDAÇÃO AO RETROCESSO ECOLÓGICO Como o direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado é um direito fundamental, quando conquistadas garantias de proteção ambiental, a sociedade não pode retroagir para níveis de proteção inferiores sem que as circunstâncias fáticas sejam substancialmente alteradas. PRINCÍPIO DO PROTETOR RECEBEDOR Segundo o princípio do protetor recebedor, as condutas de proteção ambiental relevantes devem ser compensadas com benefícios econômicos. 19 QUESTÕES COMENTADAS Questão 1 (FCC - 2019 - MPE-MT - Promotor de Justiça Substituto) No Direito Ambiental, o dever de recompor o meio ambiente lesado ou de indenizar pelos danos causados refere-se ao princípio A) do poluidor-pagador. B) dodesenvolvimento sustentável. C) do equilíbrio. D) do limite. E) da prevenção. Comentário: O princípio do poluidor-pagador orienta que o poluidor deve internalizar as despesas de prevenção, reparação e repressão dos seus danos ambientais, gerando o dever de recompor o meio ambiente lesado ou de indenizar pelos danos causados, como afirma a questão. Lembre-se: o princípio do desenvolvimento sustentável busca harmonizar o crescimento econômico, a preservação ambiental e a equidade social; o princípio do equilíbrio visa defender o meio ambiente ecologicamente equilibrado, diretamente ligado à defesa da vida e da dignidade da pessoa humana; o princípio do limite incumbe ao Poder Público o controle da produção, da comercialização e do emprego de técnicas, métodos e substâncias que gerem risco à vida, à qualidade de vida e ao meio ambiente; e o princípio da prevenção busca aplicar medidas preventivas para evitar qualquer dano ambiental que seja cientificamente comprovado. 20 Questão 2 (MPE-SC - 2019 - MPE-SC - Promotor de Justiça) O princípio ambiental da prevenção não se confunde com o princípio ambiental da precaução. O princípio da prevenção se aplica quando existem elementos seguros para afirmar que uma determinada atividade é perigosa, sendo que têm por objetivo impedir a ocorrência de danos ao meio ambiente, por meio da imposição de medidas acautelatórias antes da implantação de empreendimentos e atividades consideradas efetiva ou potencialmente poluidoras. ( ) CERTO ( ) ERRADO Comentário: De fato, os princípios da prevenção e da precaução não se confundem. Ambos procuram evitar danos ambientais, entretanto, enquanto o princípio da prevenção se aplica quando há certeza científica de que a atividade é ambientalmente danosa, o princípio da precaução se aplica quando, apesar de não existir certeza científica, há riscos potenciais da atividade. Questão 3 (CESPE - 2019 - TJ-SC - Juiz Substituto) Uma associação de moradores de um bairro de determinado município da Federação propôs uma ação civil pública (ACP) em desfavor da concessionária de energia local, para que seja determinada a redução do campo eletromagnético em linhas de transmissão de energia elétrica localizadas nas proximidades das residências dos moradores do bairro, alegando eventuais efeitos nocivos à saúde humana em decorrência desse campo eletromagnético. Apesar de estudos desenvolvidos pela Organização Mundial da Saúde afirmarem a inexistência de evidências científicas convincentes que confirmem a relação entre a exposição humana a valores de campos eletromagnéticos acima dos limites estabelecidos e efeitos adversos à saúde, a entidade defende que há incertezas científicas sobre a possibilidade de esse serviço desequilibrar o meio ambiente ou atingir a saúde humana, o que exige análise dos riscos. 21 Nessa situação hipotética, o pedido da associação feito na referida ACP se pauta no princípio ambiental A) da precaução. B) da proporcionalidade. C) da equidade. D) do poluidor-pagador. E) do desenvolvimento sustentável. Comentário: A questão narra uma situação em que não há estudos conclusivos sobre uma determinada atividade produzir ou não danos ambientais. Pelo princípio da precaução, a falta de certeza científica milita em favor do meio ambiente, portanto, isso não deve ser um pretexto para a negligenciar a adoção de medidas para evitar a degradação ambiental. Questão 4 (VUNESP - 2019 - TJ-AC - Juiz de Direito Substituto) Sobre os princípios constitucionais ambientais, é correto afirmar que A) o princípio da responsabilização integral envolve o dever do poluidor, pessoa física ou jurídica, de arcar com as consequências de sua conduta lesiva contra o meio ambiente, tanto na seara civil e administrativa, quanto na penal. B) as entidades privadas não estão sujeitas ao princípio da informação no que se relaciona à matéria ambiental. C) o princípio da função socioambiental da propriedade possui caráter de dever individual, estando o direito à propriedade garantido se sua função social for cumprida. D) o princípio da prevenção implica a adoção de medidas previamente à ocorrência de um dano concreto, embora ausente a certeza científica, com o fim de evitar a verificação desses danos. Comentário: 22 De acordo com o art. 225, §3º da Constituição Federal, as pessoas físicas e jurídicas estão sujeitas à sanções penais e administrativas, independentemente da obrigação de reparar os danos causados, quando as suas condutas e atividades forem nocivas ao meio ambiente. No direito ambiental, portanto, há uma TRIPLA RESPONSABILIZAÇÃO do poluidor. A alternativa “B” está incorreta porque as entidades privadas também devem observar o princípio da informação ambiental, pelo qual todo cidadão tem o direito às informações que julgar necessárias sobre o meio ambiente, pois trata-se de um direito difuso, que interessa à toda coletividade. A alternativa “C” está incorreta porque o princípio da função socioambiental da propriedade possui caráter de dever coletivo. A alternativa “D” está incorreta porque troca o conceito do princípio da prevenção com o do princípio da precaução. Questão 5 (VUNESP - 2018 - TJ-SP - Juiz Substituto) A responsabilidade civil do poluidor-pagador A) é de natureza subjetiva. B) é de natureza objetiva. C) nunca exige demonstração do dano causado. D) nunca exige demonstração do nexo causal. Comentário: De acordo com o princípio do poluidor-pagador, no direito ambiental, o agente poluidor, independentemente da existência de culpa, é obrigado a reparar ou indenizar os danos causados por sua atividade. Portanto, a responsabilidade civil ambiental é objetiva. Mas, atenção: a responsabilidade penal e administrativa em matéria ambiental é subjetiva! 23 Questão 6 (VUNESP - 2018 - TJ-MT - Juiz Substituto) A internalização do custo ambiental, transformando a externalidade negativa, ou custo social, num custo privado, visa impedir a socialização do prejuízo e a privatização dos lucros. Este é o objetivo do princípio A) do poluidor-pagador. B) da função social da propriedade. C) da prevenção. D) da precaução. E) da cooperação. Comentário: Observe como o princípio do poluidor-pagador é um tema recorrente em provas. O enunciado da questão definiu o seu objetivo, agora vamos ver os objetivos dos princípios das outras alternativas: princípio da função social da propriedade – objetiva condicionar o exercício do direito de propriedade ao cumprimento da sua função social ambiental; princípio da prevenção – objetiva evitar danos ambientais por meio de medidas preventivas apoiadas em certezas científicas; princípio da precaução – objetiva evitar potenciais danos ambientais, que o conhecimento científico atual não comprova, mas também não descarta; princípio da cooperação – objetiva unir as nações para preservar o meio ambiente, já que os danos ambientais podem gerar efeitos negativos em todo o planeta. Questão 7 (IBFC - 2018 - TRF - 2ª REGIÃO - Juiz Federal Substituto) A respeito do princípio da precaução em relação ao Direito Ambiental, é correto afirmar que: A) o ônus da prova sobre a ocorrência do dano ambiental e sua autoria é do autor da ação civil pública. B) os riscos são certos e o perigo de dano é concreto. C) o Poder Público deve comprovar que os riscos existem, e que a pessoa que explora a atividade foi a causadora do dano. 24 D) ele se confunde com o princípio da prevenção. E) compete a quem supostamente promoveu o dano ambiental comprovar que não o causou ou que a substância lançada ao meio ambiente não lhe é potencialmente lesiva. Comentário: A adoção do princípio da precaução pressupõe a inversão do ônus da prova. Portanto, cabe ao réu, suposto poluidor, comprovar que não lesou o meio ambiente, conforme disposto na alternativa“E”. Ademais, como visto, o princípio da precaução se aplica quando não temos certeza científica quanto à potencialidade poluidora de determinada atividade, que é o que o diferencia do princípio da prevenção. Questão 8 (TRF - 3ª REGIÃO - 2018 - TRF - 3ª REGIÃO - Juiz Federal Substituto) A respeito dos princípios que sustentam o direito ambiental brasileiro é CORRETO afirmar que: A) O princípio do desenvolvimento sustentável envolve a substituição de norma de expansão quantitativa por uma melhoria qualitativa como caminho para o progresso, trazendo a integração entre a proteção ambiental e o desenvolvimento econômico para o benefício das presentes e futuras gerações. B) O princípio usuário-pagador pressupõe uma prática ilícita daquele que utiliza o recurso ambiental, sendo possível a exigência de pagamento quando houver o cometimento de faltas ou infrações. C) O princípio da precaução contido no artigo 225 da Constituição Federal impõe ao Poder Público a obrigação de controlar atividades de risco quando importarem ameaças de danos irreversíveis e conhecidos pela ciência, sendo liberada a atividade se não houver prova do prejuízo. D) A Lei de Política Nacional do Meio Ambiente obriga a reparação dos danos causados pelo poluidor à fauna, à flora e ao meio ambiente, devendo ser demonstrada a culpa em sua conduta, exceto em caso de prejuízo causado pela atividade nuclear. 25 Comentário: O desenvolvimento sustentável consiste na harmonização do crescimento econômico com a preservação do meio ambiente e com a equidade social. O princípio em questão, relacionado com o princípio da solidariedade intergeracional, visa um progresso de qualidade para preservar a capacidade de satisfação das necessidades das presentes e futuras gerações. A alternativa “B” está incorreta porque o princípio do usuário-pagador é aplicado em práticas lícitas; a alternativa “C” está incorreta porque o princípio da precaução é aplicado no controle de atividades potencialmente danosas, em que não haja certeza científica. Ademais, por esse princípio inverte-se o ônus da prova. Portanto, não é possível liberar a atividade se não houver prova do prejuízo, sendo a dúvida interpretada pro natura; a alternativa “D” está incorreta porque a obrigação de indenizar ou reparar os danos ambientais é de responsabilidade objetiva, independentemente da demonstração de culpa do poluidor. A responsabilidade por dano nuclear citada na alternativa também é objetiva, entretanto, é fundamentada na teoria do risco integral. Questão 9 (MPE-MS - 2018 - MPE-MS - Promotor de Justiça Substituto) Considere as assertivas a seguir: I. Uma das facetas do princípio do poluidor-pagador é evitar as externalidades negativas. II. Para a maioria da doutrina que faz a diferenciação entre estes dois princípios, o princípio da precaução é aplicável aos casos em que os impactos ambientais são conhecidos e devem ser evitados ou mitigados, enquanto o princípio da prevenção é aplicável aos casos em que não há certeza científica sobre os riscos e os impactos ambientais da atividade a ser exercida. III. As Resoluções do CONAMA que tratam de padrões máximos de emissão de poluentes têm por fundamento o princípio do limite ou controle. 26 IV. O princípio da Ubiquidade é aquele segundo o qual as presentes gerações não podem utilizar os recursos ambientais de maneira irracional, de modo a privar as gerações futuras de um ambiente ecologicamente equilibrado. V. A cobrança pelo uso da água prevista na Lei de Recursos Hídricos e a compensação ambiental prevista na Lei do Sistema Nacional de Unidades de Conservação são exemplos de aplicação prática do princípio do usuário-pagador. Em atenção aos princípios do Direito Ambiental, assinale a alternativa correta: A) Todas as assertivas estão corretas. B) Somente as assertivas I, III e V estão corretas. C) Somente as assertivas I, II, IV e V estão corretas. D) Somente as assertivas II, III, IV e V estão corretas. E) Somente as assertivas II, III e IV estão corretas. Comentário: A assertiva II está incorreta porque inverte o conceito dos princípios da precaução e da prevenção; a assertiva IV está incorreta porque o princípio da ubiquidade estabelece que o bem ambiental é onipresente e, por isso, qualquer forma e lugar de agressão ao meio ambiente atinge todo o planeta com reflexos negativos. Entretanto, o princípio conceituado na questão é da solidariedade intergeracional, relacionado com o princípio do desenvolvimento sustentável. 27 Questão 10 (PGR - 2017 - PGR - Procurador da República) SOBRE O PRINCÍPIO DO POLUIDOR PAGADOR É CORRETO AFIRMAR: A) O princípio do poluidor pagador resume a responsabilidade pela degradação ambiental em termos repressivos: o dano ambiental consumado deve ser plenamente ressarcido. B) O princípio do poluidor pagador não elide a responsabilidade pela prevenção ao dano ambiental. C) O princípio do poluidor pagador resume a responsabilidade pela degradação ambiental em termos subjetivos: deve reparar o dano ambiental quem tem culpa. D) O princípio do poluidor pagador refere-se à recuperação ambiental mais próxima das condições originais e elide o ressarcimento. Comentário: Pelo princípio do poluidor-pagador, o sujeito que praticar atividade que cause ou possa causar dano ambiental deve ser responsável pelas despesas de prevenção, reparação e repressão desse dano. Portanto, a responsabilidade pela prevenção ao dano ambiental está incluída na esfera de atuação do princípio do poluidor-pagador. A alternativa “A” está incorreta porque o princípio em análise não se resume a medidas repressivas, ao contrário, deve-se privilegiar as medidas preventivas; a alternativa “C” está incorreta porque a reponsabilidade do poluidor-pagador é objetiva, deve reparar o dano causado por sua atividade independentemente de culpa; e a alternativa “D” está incorreta porque a recuperação ambiental próxima das condições originais não exclui o dever de ressarcimento, inclusive as despesas de prevenção, reparação e repressão podem ser acumuladas. 28 GABARITO Questão 1 - A Questão 2 - CERTO Questão 3 - A Questão 4 - A Questão 5 - B Questão 6 - A Questão 7 - E Questão 8 - A Questão 9 - B Questão 10 - B 29 QUESTÃO DESAFIO Diferencie os princípios do poluidor pagador e do usuário pagador à luz da legislação pertinente. Máximo de 5 linhas 30 GABARITO DA QUESTÃO DESAFIO O princípio do poluidor-pagador é instrumento econômico que exige do poluidor que arque com os danos causados pela sua atividade, com base no art. 225, § 3º, da CF. Já o princípio do usuário- pagador, previsto no art. 4º, VII, da Lei nº 6.938, prevê a cobrança pelo uso dos recursos naturais. Você deve ter abordado necessariamente os seguintes itens em sua resposta: Poluidor-pagador O princípio do poluidor- pagador busca a reparação ambiental. Isso porque toda atividade poluidora gera um dano ao meio ambiente, de modo que aquele que polui estará obrigado a pagar pelos danos suportados pela sociedade. Explica AMADO, Frederico. Resumo Direito Ambiental esquematizado. 3ª Ed: São Paulo. Método. 2015, p. 39: “(...) diga-se que a poluição amparada em regular licença ou autorização ambiental não desonerará o poluidor de reparar os danos ambientais, pois não se trata de uma penalidade, e sim de um ressarcimento ao meio ambiente, em aplicação ao princípio do poluidor- pagador. Usuário-pagador Uma vez que os recursos naturais são limitados, o legislador passou a prever, inclusive como instrumento da política nacional do meio ambiente, a possibilidade de se realizar cobrança pelo uso dos recursos. Isso porque, além de limitar o seu uso, garante que os indivíduos consumirão os bens naturais de maneira mais consciente, visto que estarão pagando pelo seu uso. Nessesentido, preceitua AMADO, Frederico. Resumo Direito Ambiental esquematizado. 3ª Ed: São Paulo. Método. 2015, p. 41: “Por ele, as pessoas que utilizam recursos naturais devem pagar pela sua utilização, mesmo que não haja poluição, a exemplo do uso racional da água (...) há uma progressiva tendência mundial na cobrança pelo uso dos recursos naturais, notadamente os mais escassos, a fim de racionalizar a sua utilização e funcionar como medida educativa para inibir o desperdício (...)” Art. 225, § 3º, CF e art. 4º, VII, PNMA Art. 225, § 3º, CF. As condutas e atividades consideradas lesivas ao meio ambiente sujeitarão os infratores, pessoas físicas ou jurídicas, a sanções penais e administrativas, independentemente da obrigação de reparar os danos causados. Art 4º - A Política Nacional do Meio Ambiente 31 visará: VII - à imposição, ao poluidor e ao predador, da obrigação de recuperar e/ou indenizar os danos causados e, ao usuário, da contribuição pela utilização de recursos ambientais com fins econômicos. Jurisprudência Correlata: ADI 3378. (...)Também considerou que o dispositivo hostilizado densifica o princípio do usuário-pagador, que impõe ao empreendedor a obrigação de responder pelas medidas de prevenção de impactos ambientais que possam decorrer da implementação da atividade econômica (...) 32 LEGISLAÇÃO COMPILADA Princípios do Direito Ambiental: CF/88: art. 4º, IX, 5º, XXII, XIII, XXXIII, 170 e 225; PNMA: art. 2º e 40; Código Civil: art. 1.228, §1º. 33 JURISPRUDÊNCIA Princípios do Direito Ambiental STF. ADI 3.540-MC, Rel. Min. Celso de Mello, DJ 03/02/06 O princípio do desenvolvimento sustentável, além de impregnado caráter eminentemente constitucional, encontra suporte legitimador em compromissos internacionais assumidos pelo Estado brasileiro e representa fator de obtenção do justo equilíbrio entre as exigências da economia e as da ecologia, subordinada, no entanto, a invocação desse postulado, quando ocorrente situação de conflito entre valores constitucionais relevantes, a uma condição inafastável, cuja observância não comprometa nem esvazie o conteúdo essencial de um dos mais significativos direitos fundamentais: o direito à preservação do meio ambiente, que se traduz bem de uso comum da generalidade de pessoas, a ser resguardado em favor das presentes e futuras gerações. STJ. REsp 1.120-AC, Rel. Min. Eliana Calmon, julgado em 10/11/2009 (Informativo 415, STJ) O dano ambiental refere-se àquele que oferece grande risco a toda humanidade e à coletividade, que é a titular do bem ambiental que constitui direito difuso. Destacou a Min. Relatora que a reparação civil do dano ambiental assumiu grande amplitude no Brasil, com profundas implicações, na espécie, de responsabilidade do degradador do meio ambiente, inclusive imputando-lhe responsabilidade objetiva, fundada no simples risco ou no simples fato da atividade danosa, independentemente da culpa do agente causador do dano. O direito ao pedido de reparação de danos ambientais, dentro da logicidade hermenêutica, também está protegido pelo manto da imprescritibilidade, por se tratar de direito inerente à vida, fundamental e essencial à afirmação dos povos, independentemente de estar expresso ou não em texto legal. No conflito entre estabelecer um prazo prescricional em favor do causador do dano ambiental, a fim de lhe atribuir segurança jurídica e estabilidade com natureza eminentemente privada, e tutelar de forma mais benéfica bem jurídico coletivo, indisponível, fundamental, que antecede todos os demais direitos – pois sem ele não há vida, nem saúde, nem trabalho, nem lazer – o último prevalece, por óbvio, concluindo pela imprescritibilidade do direito à reparação do dano ambiental. Mesmo que o pedido seja genérico, havendo elementos suficientes nos autos, pode o magistrado determinar, desde já, o montante da reparação. STF. ADI 3510. Rel. Min. Ayres Britto. DJe 28/05/2010. Quando se cogita da preservação da vida numa escala mais ampla, ou seja, no plano coletivo, não apenas nacional, mas inclusive planetário, vem à baila o chamado "princípio da precaução", que hoje norteia as condutas de todos aqueles que atuam no campo da proteção do meio ambiente e da saúde pública. Ainda que não expressamente formulado, encontra abrigo nos arts. 196 e 225 de nossa Constituição. O princípio da precaução foi explicitado, de 34 forma pioneira, na Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento, realizada no Rio de Janeiro, em 1992, da qual resultou a Agenda 21, que, em seu item 15, estabeleceu que, diante de uma ameaça de danos graves ou irreversíveis, a ausência de certeza científica absoluta não será utilizada como razão para o adiamento de medidas viáveis para prevenir a degradação ambiental. (...) Dentre os principais elementos que integram tal princípio figuram: i) a precaução diante de incertezas científicas; ii) a exploração de alternativas a ações potencialmente prejudiciais, inclusive a da não-ação; iii) a transferência do ônus da prova aos seus proponentes e não às vítimas ou possíveis vítimas; e iv) o emprego de processos democráticos de decisão e acompanhamento dessas ações, com destaque para o direito subjetivo ao consentimento informado. STJ. REsp 1049822/RS, Rel. Min. Francisco Falcão, 1ª Turma, DJe 18/05/2009. Aquele que cria ou assume o risco de danos ambientais tem o dever de reparar os danos causados e, em tal contexto, transfere-se a ele todo o encargo de provar que sua conduta não foi lesiva. Cabível, na hipótese, a inversão o ônus da prova que, em verdade, se dá em prol da sociedade, que detém o direito de ver reparada ou compensada a eventual prática lesiva ao meio ambiente. STJ. R.E. 2003/0195051-9. Rel. orig. Min. José Delgado, rel. p/ acórdão Min. Teori Zavascki, 18/08/2005. Publ. 17/10/2005, p. 179. O sistema jurídico de proteção ao meio ambiente, disciplinado em normas constitucionais (CRFB/1988, art. 225, §3º) e infraconstitucionais (Lei 6.938/81, arts. 2º e 4º), está fundado, entre outros, nos princípios da prevenção, do poluidor-pagador e da reparação integral. Deles decorrem, para os destinatários (Estado e comunidade), deveres e obrigações de variada natureza, comportando prestações pessoais, positivas e negativas (fazer e não fazer), bem como de pagar quantia (indenização dos danos insuscetíveis de recomposição in natura), prestações essas que não se excluem, mas, pelo contrário, se cumulam, se for o caso. STJ. REsp 217.858, Rel. Min. Franciulli Netto, DJ 19/12/2003 É de elementar inferência, dessarte, que a obrigação de conservação é automaticamente transferida do alienante ao adquirente, independentemente deste último ter responsabilidade pelo dano ambiental. Mais a mais, a doutrina tem entendido, à luz do dispositivo referido, que a manutenção da área destinada à reserva legal é obrigação propter rem, ou seja, decorre da relação existente entre o devedor e a coisa, de modo que o ônus de conservação do imóvel é automaticamente transferido do alienante ao adquirente, independentemente deste último ter responsabilidade pelo dano ambiental. Eventual prejuízo deverá ser discutido, por meio de ação própria entre o adquirente e o alienante que efetivamente provocou o dano. STJ. Resp 302.906/SP. Min. Herman Benjamin. Dje 01/12/2010 O exercício do ius variandi, para flexibilizar restrições urbanístico-ambientais contratuais, haverá de respeitar o ato jurídico perfeito e o licenciamento do empreendimento, pressuposto geral que, no Direito Urbanístico, como no Direito Ambiental, é decorrência da crescente escassez de espaços verdades e dilapidação da qualidade de vida nas cidades. Por isso mesmo, submete-se ao princípio da não-regressão (ou, por outra terminologia, princípio da 35 proibição do retrocesso), garantia de que os avanços urbanísticos-ambientaisconquistados no passado não serão diluídos, destruídos ou negados pela geração atual ou pelas seguintes. Súmula 654, STF Recurso extraordinário. Repercussão geral reconhecida. Direito Constitucional e Ambiental. Acórdão do tribunal de origem que, além de impor normativa alienígena, desprezou norma técnica mundialmente aceita. Conteúdo jurídico do princípio da precaução. Ausência, por ora, de fundamentos fáticos ou jurídicos a obrigar as concessionárias de energia elétrica a reduzir o campo eletromagnético das linhas de transmissão de energia elétrica abaixo do patamar legal. Presunção de constitucionalidade não elidida. Recurso provido. Ações civis públicas julgadas improcedentes. 1. O assunto corresponde ao Tema nº 479 da Gestão por Temas da Repercussão Geral do portal do STF na internet e trata, à luz dos arts. 5º, caput e inciso II, e 225, da Constituição Federal, da possibilidade, ou não, de se impor a concessionária de serviço público de distribuição de energia elétrica, por observância ao princípio da precaução, a obrigação de reduzir o campo eletromagnético de suas linhas de transmissão, de acordo com padrões internacionais de segurança, em face de eventuais efeitos nocivos à saúde da população. 2. O princípio da precaução é um critério de gestão de risco a ser aplicado sempre que existirem incertezas científicas sobre a possibilidade de um produto, evento ou serviço desequilibrar o meio ambiente ou atingir a saúde dos cidadãos, o que exige que o estado analise os riscos, avalie os custos das medidas de prevenção e, ao final, execute as ações necessárias, as quais serão decorrentes de decisões universais, não discriminatórias, motivadas, coerentes e proporcionais. 3. Não há vedação para o controle jurisdicional das políticas públicas sobre a aplicação do princípio da precaução, desde que a decisão judicial não se afaste da análise formal dos limites desses parâmetros e que privilegie a opção democrática das escolhas discricionárias feitas pelo legislador e pela Administração Pública. 4. Por ora, não existem fundamentos fáticos ou jurídicos a obrigar as concessionárias de energia elétrica a reduzir o campo eletromagnético das linhas de transmissão de energia elétrica abaixo do patamar legal fixado. 5. Por força da repercussão geral, é fixada a seguinte tese: no atual estágio do conhecimento científico, que indica ser incerta a existência de efeitos nocivos da exposição ocupacional e da população em geral a campos elétricos, magnéticos e eletromagnéticos gerados por sistemas de energia elétrica, não existem impedimentos, por ora, a que sejam adotados os parâmetros propostos pela Organização Mundial de Saúde, conforme estabelece a Lei nº 11.934/2009. 6. Recurso extraordinário provido para o fim de julgar improcedentes ambas as ações civis públicas, sem a fixação de verbas de sucumbência. STJ. Resp 1.164.630-MG. Rel. Min. Castro Meira, julgado em 18/11/2010 DANO AMBIENTAL. MORTANDADE. PÁSSAROS. O MP estadual, recorrido, ajuizou, na origem, ação civil pública em desfavor da empresa agrícola, recorrente, sob a alegação de que essa seria responsável por dano ambiental por uso de agrotóxico ilegal, o que teria causado grande mortandade de pássaros. A recorrente, em contestação, entre outras alegações, sustentou a descaracterização do mencionado dano, arguindo que pouco mais de trezentas aves teriam morrido, sem que tenha havido efetivo comprometimento do meio ambiente. A sentença julgou procedente a ação, condenando a recorrente a pagar a importância de R$ 150 mil em indenização a ser revertida para o meio ambiente local, em recomposição do dano ambiental causado com a morte de 1.300 pássaros da fauna silvestre, o 36 que se manteve em grau de apelação. Nesta instância especial, ao apreciar a controvérsia, consignou o Min. Relator que a existência de um dano ambiental não só encerra a necessidade de reconstituição do meio ambiente no que for possível, com a necessária punição do poluidor (princípio do poluidor-pagador), mas também traz em seu bojo a necessidade de evitar que o fato venha a repetir-se, o que justifica medidas coercitivas e punições que terão, inclusive, natureza educativa. Observou não haver como fracionar o meio ambiente e, dessa forma, deve ser responsabilizado o agente pela morte dos pássaros em decorrência de sua ação poluidora. Quanto ao valor estabelecido na condenação, entendeu que o pleito da recorrente para que se tome como base de cálculo o valor unitário de cada pássaro não pode prosperar, já que a mensuração do dano ecológico não se exaure na simples recomposição numérica dos animais mortos, devendo-se também considerar os nefastos efeitos decorrentes do desequilíbrio ecológico em face da ação praticada pela recorrente. Diante desses fundamentos, entre outros, a Turma negou provimento ao recurso. Precedentes citados: REsp 1.120.117-AC, DJe 19/11/2009, e REsp 1.114.893- MG. STF. ADI 3540 MC/DF. Rel. Min. Celso de Mello, julgado em 01/09/2005 EMENTA: MEIO AMBIENTE – DIREITO À PRESERVAÇÃO DE SUA INTEGRIDADE (CF, ART. 225) – PRERROGATIVA QUALIFICADA POR SEU CARÁTER DE METAINDIVIDUALIDADE – DIREITO DE TERCEIRA GERAÇÃO (OU DE NOVÍSSIMA DIMENSÃO) QUE CONSAGRA O POSTULADO DA SOLIDARIEDADE – NECESSIDADE DE IMPEDIR QUE A TRANSGRESSÃO A ESSE DIREITO FAÇA IRROMPER, NO SEIO DA COLETIVIDADE, CONFLITOS INTERGENERACIONAIS – ESPAÇOS TERRITORIAIS ESPECIALMENTE PROTEGIDOS (CF, ART. 225, § 1º, III) – ALTERAÇÃO E SUPRESSÃO DO REGIME JURÍDICO A ELES PERTINENTE – MEDIDAS SUJEITAS AO PRINCÍPIO CONSTITUCIONAL DA RESERVA DE LEI – SUPRESSÃO DE VEGETAÇÃO EM ÁREA DE PRESERVAÇÃO PERMANENTE – POSSIBILIDADE DE A ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA, CUMPRIDAS AS EXIGÊNCIAS LEGAIS, AUTORIZAR, LICENCIAR OU PERMITIR OBRAS E/OU ATIVIDADES NOS ESPAÇOS TERRITORIAIS PROTEGIDOS, DESDE QUE RESPEITADA, QUANTO A ESTES, A INTEGRIDADE DOS ATRIBUTOS JUSTIFICADORES DO REGIME DE PROTEÇÃO ESPECIAL – RELAÇÕES ENTRE ECONOMIA (CF, ART. 3º, II, C/C O ART. 170, VI) E ECOLOGIA (CF, ART. 225) – COLISÃO DE DIREITOS FUNDAMENTAIS – CRITÉRIOS DE SUPERAÇÃO DESSE ESTADO DE TENSÃO ENTRE VALORES CONSTITUCIONAIS RELEVANTES – OS DIREITOS BÁSICOS DA PESSOA HUMANA E AS SUCESSIVAS GERAÇÕES (FASES OU DIMENSÕES) DE DIREITOS (RTJ 164/158, 160-161) – A QUESTÃO DA PRECEDÊNCIA DO DIREITO À PRESERVAÇÃO DO MEIO AMBIENTE: UMA LIMITAÇÃO CONSTITUCIONAL EXPLÍCITA À ATIVIDADE ECONÔMICA (CF, ART. 170, VI) – DECISÃO NÃO REFERENDADA – CONSEQUENTE INDEFERIMENTO DO PEDIDO DE MEDIDA CAUTELAR. A PRESERVAÇÃO DA INTEGRIDADE DO MEIO AMBIENTE: EXPRESSÃO CONSTITUCIONAL DE UM DIREITO FUNDAMENTAL QUE ASSISTE À GENERALIDADE DAS PESSOAS. - Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado. Trata-se de um típico direito de terceira geração (ou de novíssima dimensão), que assiste a todo o gênero humano (RTJ 158/205-206). Incumbe, ao Estado e à própria coletividade, a especial obrigação de defender e preservar, em benefício das presentes e futuras gerações, esse direito de titularidade coletiva e de caráter transindividual (RTJ 164/158-161). O adimplemento desse encargo, que é irrenunciável, representa a garantia de que não se instaurarão, no seio da coletividade, os graves conflitos intergeneracionais 37 marcados pelo desrespeito ao dever de solidariedade, que a todos se impõe, na proteção desse bem essencial de uso comum das pessoas em geral. Doutrina. A ATIVIDADE ECONÔMICA NÃO PODE SER EXERCIDA EM DESARMONIA COM OS PRINCÍPIOS DESTINADOS A TORNAR EFETIVA A PROTEÇÃO AO MEIO AMBIENTE. - A incolumidade do meio ambiente não pode ser comprometida por interesses empresariais nem ficar dependente de motivações de índole meramente econômica, ainda mais se se tiver presente que a atividade econômica, considerada a disciplina constitucional que a rege, está subordinada, dentre outros princípios gerais, àquele que privilegia a “defesa do meio ambiente” (CF, art. 170, VI), que traduz conceito amplo e abrangentedas noções de meio ambiente natural, de meio ambiente cultural, de meio ambiente artificial (espaço urbano) e de meio ambiente laboral. Doutrina. Os instrumentos jurídicos de caráter legal e de natureza constitucional objetivam viabilizar a tutela efetiva do meio ambiente, para que não se alterem as propriedades e os atributos que lhe são inerentes, o que provocaria inaceitável comprometimento da saúde, segurança, cultura, trabalho e bem-estar da população, além de causar graves danos ecológicos ao patrimônio ambiental, considerado este em seu aspecto físico ou natural. A QUESTÃO DO DESENVOLVIMENTO NACIONAL (CF, ART. 3º, II) E A NECESSIDADE DE PRESERVAÇÃO DA INTEGRIDADE DO MEIO AMBIENTE (CF, ART. 225): O PRINCÍPIO DO DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL COMO FATOR DE OBTENÇÃO DO JUSTO EQUILÍBRIO ENTRE AS EXIGÊNCIAS DA ECONOMIA E AS DA ECOLOGIA. - O princípio do desenvolvimento sustentável, além de impregnado de caráter eminentemente constitucional, encontra suporte legitimador em compromissos internacionais assumidos pelo Estado brasileiro e representa fator de obtenção do justo equilíbrio entre as exigências da economia e as da ecologia, subordinada, no entanto, a invocação desse postulado, quando ocorrente situação de conflito entre valores constitucionais relevantes, a uma condição inafastável, cuja observância não comprometa nem esvazie o conteúdo essencial de um dos mais significativos direitos fundamentais: o direito à preservação do meio ambiente, que traduz bem de uso comum da generalidade das pessoas, a ser resguardado em favor das presentes e futuras gerações. O ART. 4º DO CÓDIGO FLORESTAL E A MEDIDA PROVISÓRIA Nº 2.166-67/2001: UM AVANÇO EXPRESSIVO NA TUTELA DAS ÁREAS DE PRESERVAÇÃO PERMANENTE. - A Medida Provisória nº 2.166-67, de 24/08/2001, na parte em que introduziu significativas alterações no art. 4o do Código Florestal, longe de comprometer os valores constitucionais consagrados no art. 225 da Lei Fundamental, estabeleceu, ao contrário, mecanismos que permitem um real controle, pelo Estado, das atividades desenvolvidas no âmbito das áreas de preservação permanente, em ordem a impedir ações predatórias e lesivas ao patrimônio ambiental, cuja situação de maior vulnerabilidade reclama proteção mais intensa, agora propiciada, de modo adequado e compatível com o texto constitucional, pelo diploma normativo em questão. - Somente a alteração e a supressão do regime jurídico pertinente aos espaços territoriais especialmente protegidos qualificam-se, por efeito da cláusula inscrita no art. 225, § 1º, III, da Constituição, como matérias sujeitas ao princípio da reserva legal. - É lícito ao Poder Público – qualquer que seja a dimensão institucional em que se posicione na estrutura federativa (União, Estados-membros, Distrito Federal e Municípios) – autorizar, licenciar ou permitir a execução de obras e/ou a realização de serviços no âmbito dos espaços territoriais especialmente protegidos, desde que, além de observadas as restrições, limitações e exigências abstratamente estabelecidas em lei, não resulte comprometida a integridade dos atributos que justificaram, quanto a tais territórios, a instituição de regime jurídico de proteção especial (CF, art. 225, § 1º, III). 38 STF. ADPF 101/DF. Rel. Min. Cármen Lúcia, 11/03/2009. EMENTA: ARGÜIÇÃO DE DESCUMPRIMENTO DE PRECEITO FUNDAMENTAL: ADEQUAÇÃO. OBSERVÂNCIA DO PRINCÍPIO DA SUBSIDIARIEDADE. ARTS. 170, 196 E 225 DA CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA. CONSTITUCIONALIDADE DE ATOS NORMATIVOS PROIBITIVOS DA IMPORTAÇÃO DE PNEUS USADOS. RECICLAGEM DE PNEUS USADOS: AUSÊNCIA DE ELIMINAÇÃO TOTAL DE SEUS EFEITOS NOCIVOS À SAÚDE E AO MEIO AMBIENTE EQUILIBRADO. AFRONTA AOS PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS DA SAÚDE E DO MEIO AMBIENTE ECOLOGICAMENTE EQUILIBRADO. COISA JULGADA COM CONTEÚDO EXECUTADO OU EXAURIDO: IMPOSSIBILIDADE DE ALTERAÇÃO. DECISÕES JUDICIAIS COM CONTEÚDO INDETERMINADO NO TEMPO: PROIBIÇÃO DE NOVOS EFEITOS A PARTIR DO JULGAMENTO. ARGUIÇÃO JULGADA PARCIALMENTE PROCEDENTE. 1. Adequação da arguição pela correta indicação de preceitos fundamentais atingidos, a saber, o direito à saúde, direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado (arts. 196 e 225 da Constituição Brasileira) e a busca de desenvolvimento econômico sustentável: princípios constitucionais da livre iniciativa e da liberdade de comércio interpretados e aplicados em harmonia com o do desenvolvimento social saudável. Multiplicidade de ações judiciais, nos diversos graus de jurisdição, nas quais se têm interpretações e decisões divergentes sobre a matéria: situação de insegurança jurídica acrescida da ausência de outro meio processual hábil para solucionar a polêmica pendente: observância do princípio da subsidiariedade. Cabimento da presente ação. 2. Arguição de descumprimento dos preceitos fundamentais constitucionalmente estabelecidos: decisões judiciais nacionais permitindo a importação de pneus usados de Países que não compõem o Mercosul: objeto de contencioso na Organização Mundial do Comércio – OMC, a partir de 20.6.2005, pela Solicitação de Consulta da União Europeia ao Brasil. 3. Crescente aumento da frota de veículos no mundo a acarretar também aumento de pneus novos e, consequentemente, necessidade de sua substituição em decorrência do seu desgaste. Necessidade de destinação ecologicamente correta dos pneus usados para submissão dos procedimentos às normas constitucionais e legais vigentes. Ausência de eliminação total dos efeitos nocivos da destinação dos pneus usados, com malefícios ao meio ambiente: demonstração pelos dados. 4. Princípios constitucionais (art. 225) a) do desenvolvimento sustentável e b) da equidade e responsabilidade intergeracional. Meio ambiente ecologicamente equilibrado: preservação para a geração atual e para as gerações futuras. Desenvolvimento sustentável: crescimento econômico com garantia paralela e superiormente respeitada da saúde da população, cujos direitos devem ser observados em face das necessidades atuais e daquelas previsíveis e a serem prevenidas para garantia e respeito às gerações futuras. Atendimento ao princípio da precaução, acolhido constitucionalmente, harmonizado com os demais princípios da ordem social e econômica. 5. Direito à saúde: o depósito de pneus ao ar livre, inexorável com a falta de utilização dos pneus inservíveis, fomentado pela importação é fator de disseminação de doenças tropicais. Legitimidade e razoabilidade da atuação estatal preventiva, prudente e precavida, na adoção de políticas públicas que evitem causas do aumento de doenças graves ou contagiosas. Direito à saúde: bem não patrimonial, cuja tutela se impõe de forma inibitória, preventiva, impedindo-se atos de importação de pneus usados, idêntico procedimento adotado pelos Estados desenvolvidos, que deles se livram. (...) 8. Demonstração de que: a) os elementos que compõem o pneus, dando-lhe durabilidade, é responsável pela demora na sua decomposição quando descartado em aterros; b) a dificuldade de seu armazenamento impele a sua queima, o que libera substâncias tóxicas e cancerígenas no 39 ar; c) quando compactados inteiros, os pneus tendem a voltar à sua forma original e retornam à superfície, ocupando espaços que são escassos e de grande valia, em especial nas grandes cidades; d) pneus inservíveis e descartados a céu aberto são criadouros de insetos e outros transmissores de doenças; e) o alto índice calorífico dos pneus, interessante para as indústrias cimenteiras, quando queimados a céu aberto se tornam focos de incêndio difíceis de extinguir, podendo durar dias, meses e até anos; f) o Brasil produz pneus usados em quantitativo suficiente para abastecer as fábricas de remoldagem de pneus, do que decorre não faltar matéria prima a impedir a atividade econômica. Ponderação dos princípios constitucionais: demonstração de que a importação de pneus usados ou remoldados afronta os preceitos constitucionais de saúdee do meio ambiente ecologicamente equilibrado (arts. 170, inc. I e VI e seu parágrafo único, 196 e 225 da Constituição do Brasil). STF. Plenário. ADI 2404/DF, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 31/8/2016 (Info 837) É inconstitucional a expressão “em horário diverso do autorizado” contida no art. 254 do ECA. "Art. 254. Transmitir, através de rádio ou televisão, espetáculo em horário diverso do autorizado ou sem aviso de sua classificação: Pena - multa de vinte a cem salários de referência; duplicada em caso de reincidência a autoridade judiciária poderá determinar a suspensão da programação da emissora por até dois dias." O Estado não pode determinar que os programas somente possam ser exibidos em determinados horários. Isso seria uma imposição, o que é vedado pelo texto constitucional por configurar censura. O Poder Público pode apenas recomendar os horários adequados. A classificação dos programas é indicativa (e não obrigatória). 40 ESTUDO COMPLEMENTAR Simulado OAB com relatório de desempenho Faça um simulado completo da prova com relatório de desempenho para saber como está indo! Lembre-se, você tem direito a 4 simulados no curso de PDF, que estão disponíveis na sua área do aluno. Basta clicar no ícone ao lado para entrar na plataforma estudeadverum.com.br. App OABeiros Baixe o app OABeiros e fique por dentro das melhores dicas e dos melhores conteúdos para a OAB! Por lá você não só tem acesso a simulados gratuitos de 1ª e 2ª fase como também tem um Vade Mecum online completo, dicas curtas dos professores e aulas completas sobre assuntos chave para a prova! Para fazer o download em seu celular, basta clicar no ícone ao lado. https://estudeadverum.com.br/login https://play.google.com/store/apps/details?id=com.eduardokraus.OABeiros&hl=en_US 41 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS THOMÉ, Romeu. Manual de Direito Ambiental. 8ª ed. Salvador – Juspodivm, 2018. LENZA, Pedro. Direito constitucional Esquematizado. 23ª ed. São Paulo – Saraiva, 2019. MATTHES, Rafael. Manual de Direito Ambiental. São Paulo: Rideel, 2020. PDF OAB Direito Ambiental Capítulo 2 MAT ERIA L EXE MPL AR 1 SUMÁRIO DIREITO AMBIENTAL ......................................................................................................................... 4 2. Direito Ambiental na Constituição Federal ............................................................................. 4 2.1 Breve histórico .................................................................................................................................................................. 4 2.2 Direito de terceira geração .......................................................................................................................................... 5 2.3 Proteção do meio ambiente no art. 225 da CF/88 ............................................................................................. 6 2.4 Ações constitucionais................................................................................................................................................... 16 2.5 Domínio eminente dos bens pelo Estado ............................................................................................................ 16 2.5.1 Recursos naturais .......................................................................................................................................................... 17 2.6 Competências em matéria ambiental .................................................................................................................... 24 2.6.1 Competência legislativa privativa ............................................................................................................................ 25 2.6.2 Competência legislativa exclusiva ........................................................................................................................... 25 2.6.3 Competência legislativa remanescente ................................................................................................................. 26 2.6.4 Competência legislativa concorrente ..................................................................................................................... 26 2.6.5 Competência material exclusiva ............................................................................................................................... 28 2.6.6 Competência material comum ................................................................................................................................. 29 3. Responsabilidade Ambiental ................................................................................................... 31 3.1 Responsabilidade civil .................................................................................................................................................. 31 3.1.1 Responsabilidade civil por dano ambiental ......................................................................................................... 32 3.1.2 Responsabilidade civil do Estado por dano ambiental ................................................................................... 37 3.2 Responsabilidade administrativa.............................................................................................................................. 39 3.2.1 Poder de polícia ambiental ........................................................................................................................................ 39 3.2.2 Infrações e sanções ambientais ............................................................................................................................... 40 3.2.3 Decadência e prescrição administrativa ................................................................................................................ 49 QUADRO SINÓTICO ......................................................................................................................... 50 QUESTÕES COMENTADAS .............................................................................................................. 56 GABARITO.......................................................................................................................................... 68 2 QUESTÃO DESAFIO .......................................................................................................................... 69 GABARITO DA QUESTÃO DESAFIO................................................................................................ 70 LEGISLAÇÃO COMPILADA ............................................................................................................... 72 JURISPRUDÊNCIA ............................................................................................................................... 73 ESTUDO COMPLEMENTAR .............................................................................................................. 82 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS...................................................................................................... 83 3 E aí, OABeiro! Como vai? A apostila de número 02 do nosso curso de Direito Ambiental tratou sobre Direito Ambiental da Constituição Federal e Responsabilidade ambiental. Agora, vamos as nossas considerações: “Direito Ambiental na Constituição Federal” não teve recorrência nos últimos três anos no exame de ordem! No entanto, por sabermos que a FGV costuma ser bastante imprevisível e este assunto ser bastante cobrado em diversos concursos públicos, achamos melhor acrescentá-lo na sua apostila para que assim, possam ser abrangidos o máximo de conteúdo possível. Dessa forma, acrescentamos também algumas questões que abordaram o referido tema. Não deixe de responde-las, ok? 😉 “Responsabilidade Ambiental” apareceu 4 VEZES nos últimos 3
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