Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Fundam entos de D ireito V irgínia de Fátim a D ias Virgínia de Fátima Dias F DIREITODEundamentos Código Logístico 58714 Fundação Biblioteca Nacional ISBN 978-85-387-6502-8 9 7 8 8 5 3 8 7 6 5 0 2 8 Fundamentos de Direito IESDE BRASIL S/A 2019 Virgínia de Fátima Dias Todos os direitos reservados. IESDE BRASIL S/A. Al. Dr. Carlos de Carvalho, 1.482. CEP: 80730-200 Batel – Curitiba – PR 0800 708 88 88 – www.iesde.com.br CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ D536f Dias, Virgínia de Fátima Fundamentos de direito / Virgínia de Fátima Dias. - 1. ed. - Curitiba [PR] : IESDE Brasil, 2019. 180 p. : il. Inclui bibliografia ISBN 978-85-387-6502-8 1. Direito - Estudo e ensino (Superior). I. Título. 19-57978 CDU: 340.11:378 © 2019 – IESDE BRASIL S/A. É proibida a reprodução, mesmo parcial, por qualquer processo, sem autorização por escrito da autora e do detentor dos direitos autorais. Capa: IESDE BRASIL S/A. Imagem da capa: ESB Professional/Shutterstock Virgínia de Fátima Dias Mestre em Educação e especialista em Metodologia do Ensino Superior pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUC-PR). Bacharel em Direito pela Faculdade de Direito de Curitiba (FDC). Graduada em Letras Português- -Inglês pela PUC-PR. Atua na área da educação há mais de 30 anos, é advogada e professora de graduação e pós-graduação. Autora de livros didáticos para ensino a distância. Sumário Apresentação 7 1. Direito: noções introdutórias 9 1.1 A origem e o conceito de Direito 9 1.2 O Direito e suas denominações 12 1.3 Direito e moral 15 2. Direito: fontes e classificações 19 2.1 Divisão do Direito Positivo: Direito Público e Direito Privado 19 2.2 Ramos do Direito 23 2.3 Fontes do Direito 28 3. Direito Constitucional 39 3.1 Noções de Direito Constitucional 39 3.2 Organização do Estado 42 3.3 Organização dos Poderes 45 4. Introdução ao Direito Administrativo 55 4.1 Direito Administrativo 55 4.2 Princípios do Direito Administrativo brasileiro 58 4.3 Poderes da Administração Pública 64 5. Direito Administrativo: Administração Pública 73 5.1 Diferença entre Administração Pública direta e indireta 73 5.2 Ato administrativo: conceito e requisitos 84 5.3 Ato administrativo vinculado e ato administrativo discricionário 92 6. Licitação Pública 99 6.1 Conceituação e objetivo 99 6.2 Princípios 107 6.3 Modalidades 114 7. Responsabilidade civil do Estado 125 7.1 Conceito e características 125 7.2 Tese da responsabilidade civil do Estado adotada no Brasil 129 7.3 Indenização: causas excludentes e ação regressiva 132 8. Noções gerais de Direito Penal 139 8.1 Conceito e princípios básicos 139 8.2 Lei penal no tempo 148 8.3 Fato típico 151 Gabarito 159 Apresentação O Direito é uma ciência que permeia toda a vida social. Desde o nascimento até sua morte, o ser humano é conduzido por normas jurídicas. O mesmo ocorre com as pessoas jurídicas, as quais são submetidas aos ditames da lei durante toda a sua existência. Além disso, o conhecimento jurídico transforma o homem e sua vida em sociedade. Desde o Império Romano, o Direito busca estabelecer a justiça social e estruturar a ordem jurídica por meio de ações do Estado. Estruturado em oito capítulos, este livro apresenta noções gerais do Direito, tais como suas fontes e seus ramos. Dirige-se para áreas jurídicas específicas que se relacionam estreitamente, como o Direito Constitucional, que protege os direitos humanos, e o Direito Administrativo, que regula as limitações do Estado. As noções de Direito Constitucional permitem compreender como a Constituição Federal organiza política e administrativamente o Estado brasileiro, além de esclarecer qual deve ser a atuação dos Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário em um Estado democrático de Direito. Já os conhecimentos iniciais do Direito Administrativo favorecem ao leitor uma visão geral da estrutura da Administração Pública direta e indireta, como também de quais limitações lhe são impostas por meio dos princípios constitucionais administrativos. 8 Fundamentos de Direito Este livro aborda, ainda, o processo licitatório como exigência à administração pública direta e indireta impingida pela Lei n. 8.666, de 21 de junho de 1993, e regulado pelo Direito Administrativo. Compreendê-lo impõe-se como condição sine qua non para todos aqueles que almejam prestar serviços ou fornecer bens ao Estado. Contudo, uma vez que no exercício de suas funções o agente público pode praticar danos contra os administrados, ou seja, contra a população, o livro contempla, também, o tema “responsabilidade civil do Estado”, de forma a esclarecer a maneira pela qual a legislação brasileira rege a matéria. Finalmente, há uma breve análise do Direito Penal, por meio da qual se elucidam o conceito, a origem e os princípios básicos que norteiam a aplicação da lei penal. Desse modo, o propósito desta obra é permitir uma visão geral de assuntos jurídicos atuais. Com a complexidade das relações sociais, entender o que é e como funciona o Direito tornou-se essencial para o exercício da cidadania, por possibilitar a todos a consciência de direitos e deveres da sociedade e do Estado. Nesse sentido, os capítulos expõem temas imprescindíveis aos interessados em obter conhecimentos jurídicos de maneira concisa. Bons estudos. 1 Direito: noções introdutórias O presente capítulo tem por objetivo apresentar a origem do Direito, seu conceito e algumas de suas classificações, para uma melhor compreensão do funcionamento dessa ciência enquanto regulamentação social realizada por meio das normas jurídicas, as quais buscam a harmonia entre as pessoas. Além disso, com vistas a obter um melhor entendimento do Direito como instrumento de controle social, neste capítulo também apresentaremos uma análise das características de tal ciência em comparação com a moral, que é outro meio de controle social. Dessa maneira, estamos iniciando o estudo dos fundamentos do Direito, com a intenção de lhe proporcionar noções elementares da estrutura da ordem jurídica, salientando a importância de sua existência para as relações humanas e sociais, bem como de sua aplicação nas esferas particular e profissional. 1.1 A origem e o conceito de Direito O Direito apareceu primeiramente na forma de costumes sociais, regulando a convivência dos indivíduos. Nem sempre existiram leis elaboradas pelo Estado para organizar o convívio social. E, no início da civilização, imperava a lei do mais forte sobre o mais fraco. Somente aos poucos, com a evolução da civilização, emergiu a possibilidade de criar regras escritas para determinar a conduta humana, disciplinando, assim, a vida em sociedade. Vídeo 10 Fundamentos de Direito O Código de Hamurabi, escrito na Mesopotâmia, por volta de 1780 a.C., foi a primeira codificação escrita de que se tem notícia, a fim de normatizar as relações humanas. Ele expunha as leis e as punições, caso elas não fossem respeitadas, evitando que as pessoas fizessem justiça com as próprias mãos, iniciando uma ideia de ordem social. Posteriormente, em Roma, o Direito evoluiu ainda mais. Sob essa ótica, Roque (2007, p. 25) afirma que: Caracteriza-se o direito romano pelo rigor, pela exatidão e pelo formalismo. Em mais de 1.200 anos em que ele vigorou, essas características se atenuaram e foram acompanhadas de outras. Foi ainda direito intensamente legislado, o que fez da legislação romana um corpo de leis muito unificado, legado ao mundo posterior como exemplo e fundamento. Foi o Direito romano que criou a Lei das Doze Tábuas, seu primeiro código. Usadas durante muito tempo como símbolo de justiça, as Doze Tábuas trataram de temas relevantes, desde atos processuais, poder do chefe de família, propriedade e posse até delitos e penhor de bens móveis. Dada a sua importância, foram usadas como símbolo da justiça, enriquecidas posteriormentepela Deusa Têmis, que em Roma era chamada de Justitia. A esse respeito, Roque (2007, p. 35) nos explica o seguinte: A princípio, os romanos adotaram só as doze tábuas, mas depois colocaram Têmis junto a elas. A venda nos olhos de Têmis foi cedo introduzida, dando o sentido de imparcialidade e de igualdade: a justiça deve olhar todos como iguais, sem diferenças nem discriminações; a justiça é para patrícios e para plebeus, para pobres e ricos. Uma das heranças do Direito romano ao Direito brasileiro foi o jus civilis, chamado também de Direito Civil, outrora um ramo do Direito de Roma aplicado exclusivamente aos seus cidadãos. Tinha como principal administrador da justiça o pretor, que organizava o processo e ouvia as partes envolvidas, cuidando, assim, do que hoje é chamado de instrução do processo. Logo, cabia a outro “juiz” o Direito: noções introdutórias 11 julgamento final. Como Roma foi o berço do Direito, representou também a origem da legislação ocidental. A área do conhecimento que se ocupa de pesquisar e explicar a origem do Direito é a História do Direito, enquanto a Filosofia Jurídica busca nos trazer as acepções da palavra direito. O desenvolvimento das relações sociais trouxe a necessidade de evolução do próprio Direito. Conforme afirma Nader (2018, p. 27), “o Direito está em função da vida social. A sua finalidade é a de favorecer o amplo relacionamento entre as pessoas e os grupos sociais, que é uma das bases do progresso da sociedade”. Assim, a convivência social permite a evolução dos seres humanos, ao mesmo tempo que pode gerar conflitos entre as pessoas, pois elas possuem necessidades e interesses próprios. Sob essa ótica, ao Direito cabe delimitar os comportamentos, a fim de que tais conflitos sejam evitados ou solucionados. Conforme o vocabulário jurídico de Silva (2012, p. 461), a palavra direito “deriva do latim directum, dirigere (dirigir, ordenar, endireitar), significando que é reto, o que não se desvia, seguindo uma só direção, entendendo-se tudo aquilo que é conforme a razão, a justiça e a equidade”. No entanto, é certo que tal vocábulo alcança vários sentidos, conforme o contexto em que está inserido. Para o senso comum, a palavra direito é bastante utilizada no sentido de “lei”, conforme os seguintes exemplos: “o direito me garante uma indenização por ter sido vítima de uma calúnia” ou, então, “conheço meus direitos trabalhistas”. Ainda com base no senso comum, tal vocábulo é utilizado significando aquilo que é justo, tal como “não é direito que um homem receba um salário maior que uma mulher apenas por seu gênero”. Mas a palavra direito também possui os sentidos de ciência (por exemplo: “ele estuda Direito na faculdade”) e, também, de possibilidade de agir a partir da norma jurídica (como em “temos o direito de reclamar do governador”). 12 Fundamentos de Direito Acerca da percepção mais popular do que seja Direito, Reale (2015, p. 1, grifos do original) comenta que: aos olhos do homem comum o Direito é lei e ordem, isto é, um conjunto de regras obrigatórias que garante a convivência social graças ao estabelecimento de limites à ação de cada um de seus membros. Assim sendo, quem age de conformidade com essas regras comporta-se direito; quem não o faz, age torto. Para os operadores do Direito, há a preocupação em utilizar e interpretar tal vocábulo com base em sua aplicação mais técnica. Por isso, o mesmo jurista, Miguel Reale, considerando a preocupação com o sentido mais técnico da palavra direito, criou a teoria da Estrutura Tridimensional do Direito, segundo a qual: uma análise em profundidade dos diversos sentidos da palavra Direito veio demonstrar que eles correspondem a três aspectos básicos, discerníveis em todo e qualquer momento da vida jurídica: um aspecto normativo (o Direito como ordenamento e sua respectiva ciência), um aspecto fático (o Direito como fato ou em sua efetividade social e histórica) e um aspecto axiológico (o Direito como valor de Justiça). (REALE, 2015, p. 64) A partir de tal teoria, podemos depreender que o Direito possui alguns elementos que se complementam. Por isso, para sua aplicação, eles precisam ser considerados na interpretação das regras jurídicas por seus operadores (tais como advogados, magistrados etc.). Desse modo, é responsabilidade dos estudos realizados na disciplina de Filosofia Jurídica tratar dos significados encontrados e empregados para a palavra direito. 1.2 O Direito e suas denominações A Filosofia Jurídica se ocupa de estudar as teorias desenvolvidas para explicar o Direito. Uma dessas teorias é o jusnaturalismo, segundo a qual existe uma lei natural, ou seja, uma ordem Vídeo Direito: noções introdutórias 13 preexistente que, para Silva (2012, p. 474): “decorre de princípios impostos à legislação dos povos cultos, fundados na razão e na equidade, para que regulem e assegurem os direitos individuais, tais como o de vida, de liberdade, de honra e de todos os direitos patrimoniais, que asseguram a própria existência do homem”. Assim sendo, o Direito Natural é entendido como um conjunto de normas imutáveis, aplicáveis em qualquer lugar, e que não sofre alterações ao longo da história, porque seus valores são estabelecidos pela ordem divina e pela razão. Dessa forma, tais normas representam direitos incorporados que nascem com o ser humano, independentemente da existência de legislações ou convenções, como o direito à dignidade, por exemplo. Ressaltamos, porém, que o Direito Natural, por não ser criado pelo Estado, não é um direito escrito. Posteriormente, em contraponto à teoria jusnaturalista, surgiu, na formação do Estado moderno, a teoria juspositivista, a qual defende a ideia de que o Direito é um conjunto de normas positivadas, ou seja, criadas pelas decisões de alguém. No Estado Democrático de Direito, em que os Poderes Executivo e Legislativo são compostos por representantes do povo, a elaboração das leis é decidida por tais representantes. Já em uma ditadura, situação em que o poder de governar está nas mãos de uma pessoa ou de um grupo, a criação do Direito Positivo fica a cargo do governo ou da entidade política que decide. Na esteira desse raciocínio, Silva (2012, p. 1060) explica que o “Positivismo Jurídico é uma escola jurídica que tem por base o direito positivo, ou seja, aquele posto na lei. Opõe-se ao jusnaturalismo, ou direito natural”. Assim, a partir das necessidades provenientes das relações sociais, cabe ao Estado institucionalizar normas jurídicas que delimitem o comportamento dos indivíduos, formando-se o ordenamento jurídico. 14 Fundamentos de Direito O Direito Positivo tem como elemento essencial a coação, por meio da qual o Estado impõe o cumprimento de suas normas. Hans Kelsen (2009, p. 21), em sua obra Teoria Pura do Direito, propõe a definição do Direito como sendo a “ordenação coercitiva da conduta humana”. Assim, conforme Kelsen (2009), tal definição se aplica porque, em muitas situações, de nada adiantaria o Direito determinar uma conduta sem cominar uma punição para seu descumprimento. O símbolo da justiça demonstra bem tal ideia, ao ter em uma das mãos a balança, representando a equidade, e na outra a espada, a qual serve para expressar a força. Então, as regras jurídicas reconhecidas pelo Estado para serem aplicadas em determinada época em um país constituem a ordem jurídica a ser respeitada e têm a denominação de Direito Positivo. Este engloba as normas criadas pelo Estado e outras que, embora derivem de diferentes fontes, são asseguradas pelo Estado, como as provenientes do costume. O Direito Positivo é formado por dois outros direitos: o direito objetivo e o direito subjetivo. O primeiro se refere ao conjunto de normas jurídicas impostas nas relações sociais e, por isso, confunde-se com o próprio conceito de Direito Positivo. Nesse sentido, para Venosa (2014, p. 12, grifo do original), “o direito objetivo é constituído por um conjuntode regras destinadas a reger um grupo social, cujo respeito é garantido pelo Estado (norma agendi)”. Um exemplo de direito objetivo é o Código Civil brasileiro (BRASIL, 2002), elaborado pelo Congresso Nacional (órgão responsável pela elaboração de leis federais). Por outro lado, o direito subjetivo depende da existência do direito objetivo, à medida que representa a faculdade ou possibilidade de invocar as normas jurídicas para a defesa de um interesse. Por exemplo, uma gestante pode exigir da empresa em que trabalha que seu direito à licença-maternidade seja respeitado (direito subjetivo), uma vez que há previsão no ordenamento jurídico brasileiro (direito objetivo) garantindo-lhe tal licença. Direito: noções introdutórias 15 O portador do direito subjetivo tem a possibilidade de requerer o cumprimento da obrigação que está na lei (do direito objetivo). Portanto, a existência e o exercício de tal direito presumem a anterior subsistência do direito objetivo. 1.3 Direito e moral O Direito não é o único meio de controle do comportamento do homem em sociedade em busca de garantir as relações sociais de cooperação. Existe outro processo normativo que complementa e até mesmo influencia o Direito: a moral. Para Nader (2018, p. 35), Direito e moral “são instrumentos de controle social que não se excluem, antes, se complementam e mutuamente se influenciam”. O autor, dessa forma, pretende dizer que tanto o Direito quanto a moral buscam determinar como as pessoas devem se portar no convívio social, sendo que os valores ditados pela moral influenciam na criação das normas jurídicas. Conquanto exista uma convergência nos objetivos do Direito e da moral, em virtude de ambos representarem formas de controle do comportamento em sociedade, tais conceitos também apresentam diferenças. A moral tem por objetivo o aperfeiçoamento do indivíduo como ser humano; nesse sentido, suas normas direcionam a prática das pessoas; por sua vez, as normas jurídicas estão voltadas ao bem-estar do público em geral. Assim, enquanto o Direito se ocupa das ações realizadas pelo homem em seu meio social, a moral está voltada para o íntimo do indivíduo, atuando predominantemente em seu foro interior. Por exemplo, se você deseja interiormente a morte de um inimigo, sem que externe de nenhuma maneira alguma atitude para realizar seu desejo, tal situação pode interessar à moral, mas não ao Direito. Caso seu inimigo venha a falecer sem que haja sua Vídeo 16 Fundamentos de Direito participação no fato, você poderá sentir algum remorso por aquilo que desejava para ele, mas não será castigado por isso. Sob essa ótica, a moral estabelece sanções internas, como o arrependimento. Por outro lado, caso você tenha de alguma forma agido para provocar a morte de seu inimigo, o Direito aplicará uma punição. Devido a tais consequências, podemos afirmar que o Direito possui a característica da coercibilidade, enquanto a moral é incoercível. A coercibilidade, aqui, significa a possibilidade de punição pelo desrespeito à regra jurídica, o que não existe em nenhum outro meio de controle social além do Direito. Além disso, quanto aos efeitos das normas jurídicas e morais, é possível observar que nas primeiras ocorrem efeitos bilaterais, pois o comportamento de um indivíduo é considerado a partir do comportamento de outro (sendo que o primeiro detém a prerrogativa de exigir do segundo o cumprimento de uma obrigação, surgindo daí as figuras do sujeito ativo e do sujeito passivo de uma relação jurídica). Assim, a cada direito corresponde uma obrigação. Por sua vez, na esfera das normas morais, os efeitos são unilaterais, ou seja, envolvem apenas um indivíduo. Por exemplo, se você é caridoso com outras pessoas, seu comportamento não as obriga a serem caridosas com você. É certo que as normas morais influenciam na elaboração das normas jurídicas. Por exemplo, o amparo dos filhos aos pais já idosos é, antes de um dever jurídico, uma obrigação moral. Entretanto, até mesmo na formulação de regras morais e jurídicas há diferenças, uma vez que as últimas decorrem de um procedimento específico e estão contidas em códigos e leis, enquanto as normas morais são difusas, criadas com base na formação social de cada um. Considerações finais A vida em sociedade gera inúmeras formas de relacionamentos. Uma vez que cada pessoa possui interesses próprios, é necessário delimitar o comportamento social para garantir a harmonia e Direito: noções introdutórias 17 o progresso do coletivo. Foi devido a essa circunstância que o Direito surgiu. Dado o fato de que em nosso idioma as palavras são ricas em significados, é relevante estabelecer a diferença entre os sentidos para a palavra direito, em especial para que se torne compreensível a distinção do termo utilizado na esfera do senso comum e no âmbito mais restrito dos operadores do Direito (a exemplo de advogados, juízes, promotores de justiça, entre outros). Desta forma, devemos procurar entender o Direito não só em relação aos seus significados e à sua correta aplicação, mas, também, em comparação com outros meios de controle social, tal qual a moral. Compreender, portanto, que nem tudo que implica um valor moral fará parte de uma norma jurídica – e vice-versa – auxilia na melhor aplicação do Direito nas esferas particular e privada. E sob essa perspectiva, neste primeiro capítulo, apresentamos os elementos básicos necessários para que, aos poucos, você entenda os fundamentos do Direito, instigando-o aos estudos dos próximos capítulos. Ampliando seus conhecimentos • LYRA FILHO, Roberto. O que é Direito. São Paulo: Brasiliense, 2000. (Coleção Primeiros Passos). Este livro apresenta uma análise bastante clara acerca dos temas propostos neste capítulo, tais como o conceito de Direito e as diferenças entre Direito e moral. Além disso, trata das ideologias jurídicas, estabelecendo a relação entre elas e a divisão de classes e considerando, também, como essa relação atinge o Direito. • O ADVOGADO dos 5 crimes (A Murder of Crows). Direção: Rowdy Herrington. EUA: Millennium Series, 1998. (95 min.). Este filme mostra a história de um advogado bem-sucedido que abandona uma causa em que defendia um homem 18 Fundamentos de Direito poderoso acusado de estupro e homicídio. O advogado perde a licença para advogar e resolve se tornar um escritor. O enredo é surpreendente e a trama nos fornece uma boa análise do Direito e da moral. Especificamente, o trecho entre 4min28s e 17min possibilita uma rica reflexão acerca do Direito, da justiça e da moral. Atividades 1. O Direito Natural é autônomo em relação ao Estado? Explique. 2. Qual é a relação entre o direito objetivo e o direito subjetivo? Exemplifique. 3. O pagamento de pensão alimentícia por parte dos pais aos filhos menores interessa ao Direito ou à moral? Explique. Referências BRASIL. Lei n. 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Diário Oficial da União, Poder Legislativo, Brasília, DF, 11 jan. 2002. Disponível em: http://www. planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/l10406.htm. Acesso em: 16 jun. 2019. KELSEN, Hans. Teoria pura do Direito. São Paulo: Saraiva, 2009. NADER, Paulo. Introdução ao estudo do Direito. São Paulo: Forense, 2018. PALAIA, Nelson. Noções essenciais de Direito. São Paulo: Saraiva, 2018. REALE, Miguel. Lições preliminares de Direito. São Paulo: Saraiva, 2015. ROQUE, Sebastião José. História do Direito. São Paulo: Ícone, 2007. (Coleção Elementos de Direito). SILVA, De Plácido e. Vocabulário Jurídico. Rio de Janeiro: Forense, 2012. VENOSA, Sílvio de Salvo. Introdução ao Estudo do Direito. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2014. (Coleção Primeiras Linhas). 2 Direito: fontes e classificações Neste capítulo, apresentaremos a divisão do Direito Positivo. Essa divisão gera algumas discussões na atualidade, por isso acreditamos que abordá-la é de grande importância para os propósitos didáticos deste livro. Tal conhecimento é importante porque, a partirdas noções de Direito Público e de Direito Privado, estudaremos alguns ramos do Direito, tais como Direito Civil, Direito do Trabalho, Direito Processual, entre outros, os quais têm normas jurídicas próprias. A intenção é proporcionar uma visão geral das áreas do Direito mais utilizadas, sem a pretensão de nos aprofundarmos em tais temas, por não ser a proposta da presente obra. Por fim, trataremos também das fontes do Direito, ou seja, de onde ele advém. Do exposto, afirmamos que todos os temas abordados são relevantes e instigantes, pois sua compreensão facilitará na aplicação dos conhecimentos jurídicos. 2.1 Divisão do Direito Positivo: Direito Público e Direito Privado As normas jurídicas utilizadas para a organização do comportamento social são divididas em dois grupos, conforme a tutela dos interesses que fazem parte da relação jurídica à qual tais normas se aplicam. Quando a tutela da lei é voltada ao interesse público, a aplicação das normas jurídicas é diferente da regulação do interesse privado. Vídeo 20 Fundamentos de Direito Para Reale (2015, p. 340), ao classificar a norma jurídica a partir das relações que a regulam, a divisão se dá da seguinte forma: “se a relação é de coordenação, trata-se, geralmente, de Direito Privado. Se a relação é de subordinação, trata-se, geralmente, de Direito Público”. Ao mencionar a relação de coordenação, Reale (2015) incita que quando a lei é utilizada em uma relação jurídica entre duas ou mais pessoas que estão em uma mesma posição, ocorre a aplicação do Direito Privado, o que não acontece quando os sujeitos que fazem parte da relação jurídica estão na condição de subordinado e subordinante, quando são aplicadas normas de Direito Público. A esse respeito, observe os exemplos: ao adquirir um veículo em uma concessionária e realizar o pagamento, você e o vendedor estão em uma mesma condição na relação jurídica (pois um precisa do veículo, e o outro, do valor pago pelo carro). A norma jurídica aplicada em tal relação é a de Direito Privado. Por outro lado, quando o Estado determina que você trafegue a 30 km/h em determinada via pública, diante de uma escola, você não está em um patamar de igualdade com o Estado na relação jurídica que tem com ele, pois você lhe deve obediência, sob pena de ser punido; então, há subordinação à vontade do Estado. Tal relação é regulada pelo Direito Público. A classificação em Direito Público e Direito Privado também é feita considerando o conteúdo da relação jurídica. Se envolve interesse público, as normas jurídicas são denominadas cogentes ou taxativas, por protegerem o interesse coletivo; assim, fazem parte do denominado Direito Público. Por exemplo: uma obra de um hospital público, determinada pela prefeitura, deve seguir normas taxativas (ou cogentes), uma vez que tal ação envolve o interesse da população. Então, as leis que regulam a contratação da construtora, a forma de pagamento pelo serviço, a contratação de funcionários do hospital e a compra dos materiais utilizados competem ao Direito Público, pois o investimento a ser feito será para a população, por meio do Direito: fontes e classificações 21 uso do orçamento público. Dessa forma, por serem imperativas, tais normas não podem ser desconsideradas por decisão das partes envolvidas (no caso, a prefeitura e os contratados). Por outro lado, quando a relação jurídica apresenta um conteúdo voltado ao interesse de particulares, as normas jurídicas são denominadas dispositivas, já que podem ser afastadas em benefício das partes envolvidas. Assim, na construção de um condomínio residencial, cabe aos investidores decidirem a escolha da construtora, a forma de pagamento pelos serviços de construção, quais funcionários contratar e de que forma, pois o interesse, nesse caso, é dos investidores. O Direito Privado, portanto, tutela o interesse dos sujeitos envolvidos em tal relação jurídica. A divisão do Direito em Direito Público e Direito Privado não é pacífica entre os autores. Sob essa ótica, Nader (2018, p. 101) explica que “a dificuldade entre as duas grandes classes do Direito oferece alguns juristas a conceberem a existência de um terceiro gênero, por uns denominado Direito Misto e por outros Direito Social”. O Direito Misto, segundo a minoria da doutrina que defende sua existência, tutelaria tanto interesses públicos quanto privados. Mas a construção histórica do Direito se fundamenta na divisão entre Direito Público e Direito Privado, conforme se dão as relações jurídicas estabelecidas e as normas que as tutelam. Ainda a respeito do Direito Misto, Fuhrer e Milaré (2015, p. 39) apresentam o seguinte texto: Vale observar, no entanto, que essa divisão do Direito em Público e Privado, embora milenar, não é aceita pacificamente entre os autores. Daí falar-se num Direito Misto, já que no mundo atual, entre os dois grandes e tradicionais campos do Direito se encontram regras que tutelam tanto o interesse público quanto o privado, como, por exemplo, no caso do Direito de Família, do Trabalho etc. 22 Fundamentos de Direito Os autores citados classificam o Direito do Trabalho com natureza jurídica de Direito Misto, pois existe a tutela do interesse público (quando o Estado determina um valor mínimo a ser pago ao empregado, e a empresa deve obedecer a tal lei, por exemplo) e a tutela do interesse privado (na realização do contrato individual de trabalho, que traz as obrigações entre empregado e empregador e as regras são estabelecidas entre as partes envolvidas no contrato). Podemos perceber claramente que, no primeiro exemplo, existe a subordinação a partir da norma jurídica na relação entre empresa e Estado, e, no segundo exemplo, a relação de coordenação estabelecida pela lei para empregado e empregador. Uma vez que, em uma mesma área do Direito, há normas cogentes e dispositivas, alguns autores defendem a ideia de Direito Misto para o Direito do Trabalho. Por sua vez, o Direito Civil compõe-se predominantemente de normas jurídicas de Direito Privado, bem como o Direito Comercial. E fazem parte do Direito Público o Direito Constitucional, o Direito Administrativo, o Direito Processual, o Direito Penal e o Direito Tributário, pois tais ramos possuem normas imperativas. Embora alguns autores defendam a ideia de que o Direito do Trabalho é um ramo do Direito Misto, conforme já explicado, a maioria entende que se trata de um ramo do Direito Privado, como nos explica Martins (2014, p. 26): A maioria das normas existentes no Direito do Trabalho é de Direito privado, que preponderam sobre as de Direito público. Lembre-se, por exemplo, da possibilidade de a negociação das condições do contrato de trabalho ser feita pelos envolvidos. Não se pode dizer, portanto, que existe um Direito misto, híbrido de Direito privado e público ao mesmo tempo. Tal fato iria negar, inclusive, a autonomia do Direito do Trabalho, que não poderia ser e deixar de ser alguma coisa ao mesmo tempo. O que tem que ser observado é seu conjunto, em que predominam as regras de Direito privado. Direito: fontes e classificações 23 Portanto, Martins (2014) representa a maioria da doutrina, a qual defende a ideia do Direito do Trabalho como um ramo do Direito Privado, por apresentar predominantemente normas dispositivas e permitir às partes envolvidas (empregado, empregador e sindicatos) que estabeleçam as normas que regulam suas relações jurídicas. 2.2 Ramos do Direito A presente seção pretende lhe proporcionar uma visão geral da árvore jurídica a partir da divisão do Direito Público e do Direito Privado, a qual, embora seja contestada por alguns autores, conforme apresentado anteriormente, ainda é bastante utilizada. A fim de facilitar seu entendimento, observe a ilustração exposta na Figura 1, a seguir, com os ramos do Direito: Figura 1 – Ramos do Direito Dire ito P roce ssua l Direito Civil Direito Comercial Direito do Trabalho Direito Admini strativoD ire ito C on st itu ci on al Di reito Pena l Fonte: Elaborada pela autora. Vídeo 24 Fundamentos de Direito As diversas áreas jurídicas são denominadas ramos do Direito, e cada uma delas regula determinadas situações e tem normas específicas. No entanto, todas têm por base o Direito Constitucional, área jurídica que estuda a Constituição Federal, a lei mais importante do país e que organiza a estrutura administrativa e política do Estado brasileiro, bem como regula os direitos e as garantias fundamentais dos cidadãos. Por ser uma área do Direito de extrema relevância para as demais áreas, o Direito Constitucional será tratado em um capítulo próprio. O Direito Civil é o ramo do Direito predominantemente privado que regula a relação entre as pessoas e entre estas e seus bens. A relação jurídica entre marido e mulher, por exemplo, é regulada pelo Direito Civil, assim como a relação jurídica que existe quando uma pessoa resolve doar seu patrimônio. Tal norma está contida basicamente no Código Civil (BRASIL, 2002). Esse ramo do Direito é dividido em parte geral e parte especial. As lições da parte geral do Direito Civil são utilizadas não só no Direito Privado, mas também no Direito Público, tais como o Direito Tributário e o Direito Administrativo, que se utilizam dos conceitos de pessoa natural e jurídica, regulados pelo Direito Civil. Já a parte especial do Direito Civil contém cinco livros, intitulados Do Direito das Obrigações, Do Direito de Empresa, Do Direito das Coisas, Do Direito de Família e Do Direito das Sucessões, e suas normas jurídicas são mais específicas à área cível. O Código Civil brasileiro de 1916 foi revisado em 10 de janeiro de 2001, quando o presidente da República sancionou o novo Código, que entrou em vigor um ano depois. Outro ramo do Direito Privado é o Direito Comercial, regulado pelo Código Comercial de 1850, o qual foi revogado em parte pelo Código Civil de 2002, gerando o Direito Empresarial (BRASIL, 2002). O Direito Comercial normatizou, de 1850 até 2002, as atividades mercantis, determinando as regras para aqueles que Direito: fontes e classificações 25 praticavam o comércio, indicando quem seriam os comerciantes e quais seriam os atos de comércio. Com o passar do tempo e a evolução da economia brasileira, exigindo normas que regulassem não só a área comercial como também da indústria e de serviços, as normas de Direito Comercial se tornaram obsoletas, e o legislador brasileiro, segundo Oliveira Filho (2010, p. 3), entendeu que “o âmbito de incidência das normas de direito comercial está delimitado pelo conceito de empresa e não mais pelos atos de comércio”. Adotou-se, dessa forma, a teoria jurídica da empresa. Assim, o Código Civil brasileiro de 2002, no artigo 966, trouxe o conceito de empresário, qual seja, “quem exerce profissionalmente atividade econômica organizada para a produção ou a circulação de bens ou de serviços” (BRASIL, 2002). Atualmente, temos o Direito Comercial, que regula o comércio marítimo, e o Direito Empresarial (inserido no Código Civil), o qual normatiza a teoria geral da empresa, bem como sociedades empresárias, títulos de crédito, propriedades intelectuais, falência e recuperação de empresas (BRASIL, 2002). As normas jurídicas de Direito Empresarial são aplicadas, por exemplo, quando há constituição de uma sociedade entre duas ou mais pessoas para a abertura de um restaurante. Em se tratando dos ramos do Direito Público, há o Direito Tributário, o qual, com suas normas jurídicas, disciplina a atividade do Poder Público de criação, fiscalização e arrecadação de tributos (PALAIA, 2018). Por exemplo, se o Estado cobra o pagamento do imposto sobre veículos automotores (IPVA) daqueles que possuem veículos, é porque existe uma lei em que constam todas as especificações quanto à cobrança de tal imposto. Da mesma forma, quando o Governo Federal determina, por meio da Receita Federal, a realização da Declaração do Imposto de Renda, é porque há uma norma jurídica específica para regular tal situação. Ambos os exemplos são de aplicação do Direito Tributário, cujas normas gerais se encontram no Código Tributário Nacional (BRASIL, 1966). 26 Fundamentos de Direito Por meio de regras próprias, o Direito Processual determina o procedimento a ser adotado quando ocorre um litígio. Segundo Fuhrer e Milaré (2015, p. 196, grifos do original), “o processo civil é um actumtrium personarum, ou seja, uma relação entre três pessoas, em que um litigante (autor) pede ao juiz que lhe reconheça ou faça valer um direito contra uma outra pessoa (que será o réu)”. Portanto, quando uma pessoa (autor) reclama no Poder Judiciário (juiz) uma indenização contra alguém (réu) que, por exemplo, deu-lhe prejuízo no descumprimento de um contrato, cada um dos atos praticados pelas partes envolvidas no processo é regulado pelo Direito Processual. O Direito Processual é dividido em Direito Processual Civil, Direito Processual Penal e Direito Processual do Trabalho, conforme a situação a ser decidida pelo Poder Judiciário, seja um conflito na esfera cível, na esfera criminal ou na esfera das relações do trabalho. Exemplificando: se o caso a ser julgado pelo Poder Judiciário é de não pagamento das verbas de um contrato de trabalho pelo empregador ao empregado, as normas aplicadas são de Direito Processual do Trabalho. Já em uma situação de julgamento de homicídio, serão aplicadas as normas de Direito Processual Penal. Por fim, se as normas jurídicas que não foram respeitadas e geraram o conflito a ser julgado pelo Poder Judiciário forem de Direito Civil, como o requerimento de reconhecimento de paternidade de uma criança, serão aplicadas as normas do Direito Processual Civil. Quanto ao Direito Penal, segundo Nunes (2015, p. 141), trata-se de um ramo do Direito Público que “corresponde ao conjunto das normas jurídicas que regulam os crimes e as contravenções penais (condutas ilícitas penais de menor potencial ofensivo), com as correspondentes penas aplicáveis”. Nesse sentido, é o Direito Penal (baseado no Decreto-Lei n. 2.848, de 7 de dezembro de 1940) que determina quais comportamentos são tidos como crimes, conforme a lei penal, e quais são entendidos como contravenções, bem como Direito: fontes e classificações 27 quais punições são aplicadas a cada caso. Por exemplo, o artigo 121 do Código Penal especifica como homicídio simples “Matar alguém”, culminando na pena de “reclusão, de seis a vinte anos” (BRASIL, 1940). Um comportamento entendido como contravenção penal (também regulado pelo Direito Penal), segundo a Lei n. 7.437, de 20 de dezembro de 1985, artigo 7º, é: “Recusar a inscrição de aluno em estabelecimento de ensino de qualquer curso ou grau, por preconceito de raça, de cor, de sexo ou de estado civil”, cuja pena é de “prisão simples, de 3 (três) meses a 1 (um) ano, e multa [...]” (BRASIL, 1985). Outro ramo do Direito que faz parte do Direito Público é o Direito Administrativo. Conforme Nunes (2015, p. 139), essa área “corresponde ao conjunto de normas jurídicas que organizam administrativamente o Estado, fixando os modos, os meios e a forma de ação para a consecução de seus objetivos”. Cabe ao Direito Administrativo, por exemplo, determinar como deve ocorrer a contratação de servidores públicos, bem como de serviços da administração pública prestados à população. Então, se houver necessidade de uma escola pública contratar professores, tal situação será regulada pelo Direito Administrativo. Quanto ao Direito do Trabalho, ele está voltado ao regramento específico da relação de emprego, para que as obrigações dela decorrentes sejam respeitadas por empregador e empregado. Tal regramento contido no Direito do Trabalho é feito por meio de suas normas e seus princípios. Então, nas relações jurídicas com vínculo de emprego, aplica-se o Direito do Trabalho, o qual determina, por exemplo, em quais situações o empregador deve pagar por horasextras realizadas pelo empregado, as atitudes deste que podem levar à justa causa no contrato de trabalho, bem como suas consequências. Nesta obra, não há pretensão de abordar todos os ramos do Direito, por isso somente apresentamos as principais áreas existentes. 28 Fundamentos de Direito 2.3 Fontes do Direito A palavra fonte significa “nascente, designando tudo o que origina ou produz algo”, conforme ensinam Fuhrer e Milaré (2015, p. 41). Logo, ao tratarmos das fontes do Direito, apresentaremos as origens dessa ciência. Nesse sentido, podemos classificar as fontes do Direito em: Fontes materiais Segundo Reale (2015, p. 140), “fonte material não é outra coisa senão o estudo filosófico ou sociológico dos motivos éticos ou dos fatos econômicos que condicionam o aparecimento e as transformações das regras de direito”. Com tal conceito, o autor quer nos explicar que os acontecimentos históricos, sociais e econômicos geram normas jurídicas, as quais se tornam, por essa razão, fontes materiais do Direito. Já de acordo com Nader (2018, p. 142), “como causa produtora do Direito, as fontes materiais são constituídas pelos fatos sociais, pelos problemas que emergem na sociedade”. Como acontecimento social que deu origem a uma norma jurídica (tornando-se, portanto, fonte material do Direito), podemos citar a situação social da farmacêutica Maria da Penha Maia Fernandes. Depois de ser espancada e quase assassinada por seu companheiro (que com um tiro a deixou paraplégica), Maria da Penha realizou uma denúncia a órgãos internacionais para a condenação de seu então marido, em virtude da inércia do Poder Judiciário brasileiro. Após o ocorrido, o Estado brasileiro decretou a Lei Maria da Penha (Lei n. 11.340, de 7 de agosto de 2006), que proíbe e pune a violência doméstica e familiar contra a mulher. Esse é, portanto, um exemplo de fato social (violência contra a mulher) que gerou uma norma jurídica – fonte material do Direito. Vídeo Direito: fontes e classificações 29 Fontes formais Referem-se às formas pelas quais as normas jurídicas são exteriorizadas, considerando o poder como elemento de legitimidade para a produção do Direito. O costume jurídico, por exemplo, é uma fonte formal do Direito, produzido a partir do poder que emana do povo. Além do costume jurídico, também são consideradas fontes formais do Direito a lei, a jurisprudência e a doutrina. Fontes estatais As fontes estatais correspondem a quando o Estado é responsável por criar o Direito. É o que ocorre, por exemplo, com as leis (criadas pelo Poder Legislativo) e com a jurisprudência (advinda pelo Poder Judiciário). Fontes não estatais Por sua vez, as fontes não estatais são representadas quando o Direito é gerado por outros que não o Estado, como é o caso do costume jurídico (gerado pelo povo) e da doutrina jurídica (produto do trabalho de juristas). Nos itens a seguir, estudaremos cada uma dessas fontes. 2.3.1 Costume jurídico como fonte do Direito Uma das fontes formais e não estatal do Direito é o costume jurídico, o qual é criado pelo povo de forma oral e espontânea. Para que seja considerado fonte do Direito, entretanto, o costume deve preencher os seguintes requisitos: estar previsto como fonte do Direito no ordenamento jurídico e ter repetição constante e uniforme de determinada prática social, a qual deve ser considerada necessária e obrigatória por quem a adota. No ordenamento jurídico brasileiro, o costume é reconhecido como fonte do Direito, conforme podemos perceber em alguns dispositivos, tais como o artigo 569, inciso II, do Código Civil: 30 Fundamentos de Direito “O locatário é obrigado: [...] II - a pagar pontualmente o aluguel nos prazos ajustados, e, em falta de ajuste, segundo o costume do lugar” (BRASIL, 2002, grifo nosso). Outro dispositivo legal que trata o costume como fonte do Direito é o artigo 4º da Lei de Introdução às Normas de Direito Brasileiro: “Quando a lei for omissa, o juiz decidirá o caso de acordo com a analogia, os costumes e os princípios gerais de direito” (BRASIL, 1942, grifo nosso). Percebemos, pelo exposto, que os costumes jurídicos são fontes do Direito, usados na falta das leis. 2.3.2 Lei como fonte formal de Direito Fuhrer e Milaré (2015, p. 46) ensinam que “a lei, juridicamente falando, consiste numa regra de conduta, geral e obrigatória, emanada de poder competente e provida de coação”. Assim, devemos entender a lei, principal fonte do Direito no Brasil, como regra jurídica elaborada pelo Poder Legislativo, que se aplica a todos e, se não respeitada, gera punição ao seu transgressor. A lei é criada por meio de um processo legislativo decorrente de uma produção intelectual que exige técnica específica, conforme apresentado na Constituição Federal (do artigo 59 ao 69) (BRASIL, 1988) e em normas jurídicas a ela voltadas, tais como a Lei Complementar n. 95, de 26 de fevereiro de 1998, a qual “dispõe sobre a elaboração, a redação, a alteração e a consolidação das leis” (BRASIL, 1998). Uma vez que existem leis federais, estaduais e municipais, a relação entre elas deve ser bem compreendida. Cada uma dispõe acerca de sua área de abrangência. Ou seja, as leis municipais, criadas pela Câmara de Vereadores, tratam de assuntos relativos ao município em que estão inseridas e têm como diretriz a Lei Orgânica do Município. Por exemplo, foi uma lei municipal que criou o polo gastronômico do Alto Juvevê, na cidade de Curitiba – no caso, a Lei Ordinária n. 15.098, de 8 de novembro de 2017 (CURITIBA, 2017). Direito: fontes e classificações 31 Já as leis estaduais, elaboradas pelas Assembleias Legislativas de cada Estado da federação, regulam temas que envolvem o domínio geográfico de seus Estados e têm como base a Constituição Estadual. É o caso da Lei n. 19.378, de 20 de dezembro de 2017, que institui o “Dia de Combate e Conscientização Contra o Assédio nos Transportes Coletivos” (PARANÁ, 2017). Por fim, as leis federais, de competência do Congresso Federal, aplicam-se em âmbito nacional, consoante a Lei n. 13.709, de 14 de agosto de 2018, a qual dispõe sobre a proteção de dados pessoais em todo o território brasileiro (BRASIL, 2018). Acima das leis municipais, estaduais e federais está a Constituição Federal brasileira, contra a qual nenhuma lei prevalece. É ela que determina quais matérias são reguladas por leis municipais, estaduais ou federais. A vigência da lei pode ter seu início na data de sua publicação em órgão da imprensa competente, na data em que estiver prevista em seu texto ou, ainda, 45 dias após sua publicação (quando não há em seu texto nenhuma menção em relação à data do início de sua vigência). O período entre o início da vigência da lei e o momento de sua entrada em vigor denomina-se vacatio legis, prazo que serve para a adaptação da sociedade à nova lei. Para saber qual é a vacatio legis das leis, é necessário buscar nelas um artigo final com a seguinte previsão: “esta lei entra em vigor após decorridos X dias de sua publicação oficial”. Observe o seguinte exemplo, retirado do Código Civil brasileiro: “Art. 2.044. Este Código entrará em vigor 1 (um) ano após a sua publicação” (BRASIL, 2002). A vacatio legis do citado código, então, foi de um ano. Portanto, uma lei apresenta o início de sua vigência, uma duração (pode ser por tempo determinado ou indeterminado) e uma previsão de término. Segundo Fuhrer e Milaré (2015, p. 57), no entanto, “não se destinando à vigência temporária, a lei terá vigor até que outra a modifique ou revogue”. 32 Fundamentos de Direito A revogação de uma lei pode ser expressa ou tácita. No primeiro caso, a lei posterior declara que foi revogada a lei anterior. Por exemplo, no artigo 341 do Código de Trânsito Brasileiro, está expressamente declarado: Ficam revogadas as Leis nºs 5.108, de 21 de setembro de 1966, 5.693, de 16 de agosto de 1971, 5.820, de 10 de novembro de 1972, 6.124, de 25 de outubro de 1974, 6.308, de 15 de dezembrode 1975,6.369, de 27 de outubro de 1976, 6.731, de 4 de dezembro de 1979, 7.031, de 20 de setembro de 1982, 7.052, de 02 de dezembro de 1982, 8.102, de 10 de dezembro de 1990, os arts. 1º a 6º e 11 do Decreto- -lei nº 237, de 28 de fevereiro de 1967, e os Decretos-leis nºs 584, de 16 de maio de 1969, 912, de 2 de outubro de 1969, e 2.448, de 21 de julho de 1988. (BRASIL, 1997) A revogação tácita acontece quando uma lei nova regula inteiramente a matéria regulada por lei anterior. Isto é, cronologicamente, a lei mais atual é a que vale. Em tal situação, a lei revogadora traz em seu texto: “Revogam-se as disposições em contrário”, como aconteceu com as disposições que eram reguladas pelo Código Civil brasileiro acerca do trânsito, as quais foram revogadas pelo Código de Trânsito brasileiro (BRASIL, 1997). 2.3.3 A jurisprudência como fonte formal do Direito Outra fonte formal e estatal do Direito é a jurisprudência, que nada mais é do que o resultado da interpretação das normas jurídicas feitas pelos juízes aos casos concretos que são levados ao seu julgamento, quando tais interpretações são coincidentes. Trata- -se, assim, da coletânea de decisões judiciais em um mesmo sentido. Portanto, a jurisprudência geralmente é formada a partir de conflitos levados aos tribunais. Por isso mesmo, ela é criada a partir da elaboração intelectual e reflexiva dos magistrados. A jurisprudência emana do Poder Judiciário, o qual tem por responsabilidade julgar os litígios e determinar de quem é o direito, conforme o http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/1950-1969/L5108.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/1950-1969/L5108.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/1970-1979/L5693.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/1970-1979/L5820.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/1970-1979/L5820.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/1970-1979/L6124.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/1970-1979/L6308.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/1970-1979/L6308.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/1970-1979/L6369.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/1970-1979/L6369.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/1970-1979/L6731.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/1980-1988/L7031.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/1980-1988/L7031.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/1980-1988/L7052.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/1989_1994/l8102.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/1989_1994/l8102.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Decreto-Lei/Del0237.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Decreto-Lei/1965-1988/Del0584.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Decreto-Lei/1965-1988/Del0584.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Decreto-Lei/1965-1988/Del0912.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Decreto-Lei/1965-1988/Del2448.htm Direito: fontes e classificações 33 ordenamento jurídico vigente. Um exemplo de jurisprudência é a adoção de crianças por casais homoafetivos, que vem sido julgada pelos tribunais. A esse respeito, de acordo com Nader (2018, p. 176): Para os ordenamentos jurídicos filiados ao sistema anglo- americano, a jurisprudência constitui uma importante forma de expressão do Direito. Ao fundamentar uma pretensão judicial, os advogados indicam uma série de sentenças ou acórdãos prolatados pelos tribunais, com pertinência ao caso enfocado. O autor ainda menciona que “nos Estados que seguem a tradição romano-germânica, a cujo sistema vincula-se o Direito brasileiro, não obstante alguma divergência doutrinária, prevalece o entendimento de que o papel da jurisprudência se limita a revelar o Direito preexistente” (NADER, 2018, p. 177). Com tais afirmações, o autor explica que no Brasil a lei ainda é a norma jurídica mais importante, enquanto em países como os Estados Unidos e a Inglaterra prevalece a jurisprudência como fonte do Direito. 2.3.4 A doutrina jurídica como fonte do Direito Embora seja considerada uma fonte secundária do Direito, a doutrina tem sua importância na formação das normas jurídicas. Como nos ensina Venosa (2014, p. 135): “O fruto dos estudos de nossos professores de Direito, juristas, jusfilósofos, estudiosos, operadores jurídicos em geral traduz-se em obras de doutrina: monografias, manuais, compêndios, tratados, pareceres, artigos, ensaios etc.”. O autor ainda menciona que, “na realidade, no nosso sistema, a doutrina forma a base dos conhecimentos jurídicos de nossos profissionais, pois é ela quem os instrui nas escolas de Direito” (VENOSA, 2014, p. 135). Apesar de a doutrina jurídica não emanar de nenhum poder (fato que ocorre com as demais fontes do Direito), ela é tida como uma fonte por oferecer importantes subsídios ao legislador e aos demais 34 Fundamentos de Direito operadores do Direito na elaboração de documentos legislativos e peças judiciais. Obras jurídicas como Curso de Direito do Trabalho, da respeitada autora Alice Monteiro de Barros (2009), e Introdução ao Estudo do Direito, do ilustre Silvio de Salvo Venosa (2014), são exemplos de doutrinas jurídicas. Considerações finais O Direito, por ser uma ciência, possui estudos acerca de sua estrutura, os quais nos permitem conhecer os tipos de normas jurídicas existentes. Ainda que a divisão entre Direito Público e Direito Privado gere discussões entre alguns doutrinadores, a grande maioria entende que ela é necessária para fins didáticos, pois facilita a compreensão de como são aplicadas as diversas áreas do Direito no cotidiano ao verificar se suas normas são imperativas (Direito Público) ou dispositivas (Direito Privado). E ao tratarmos dos ramos do Direito mais conhecidos, objetivamos demonstrar que são muitas as áreas jurídicas. Cada uma revela especificidades conforme a esfera que regulamentam na sociedade. O Direito do Trabalho, por exemplo, não deve ser confundido com o Direito Tributário, embora possuam relação entre si, uma vez que as relações de emprego (reguladas pelo Direito do Trabalho) podem gerar a obrigação de pagamento de tributos (obrigação normatizada pelo Direito Tributário). Finalizamos este capítulo com o estudo das fontes do Direito, ou seja, com esclarecimentos acerca da origem do Direito e de sua produção, a qual ocorre por meios históricos, sociais, econômicos ou, ainda, por costumes, leis, jurisprudências ou doutrinas. Tais fontes nos permitem não só buscar o Direito considerando vários caminhos, mas, também, compreender melhor os motivos de sua existência e como ocorre o funcionamento dessa ciência. Direito: fontes e classificações 35 Ampliando seus conhecimentos • PENHA, Maria da. Sobrevivi... posso contar. Fortaleza: Armazém da Cultura, 2014. Este livro esclarece por que é necessária uma lei (Direito) que contemple o combate à violência doméstica. Lembre-se de que, no estudo da lei como fonte do Direito, afirmamos que ela pode ser produzida a partir de fatos sociais que exijam regulamentação, como ocorreu com a violência contra a mulher (fato social). • Revista Consultor Jurídico. STJ tem jurisprudência consolidada na garantia de direitos de casais homoafetivos. 17 maio 2016. Disponível em: https://www.conjur.com.br/2016-mai-17/ jurisprudencia-stj-garante-direitos-casais-homoafetivos. Acesso em: 16 jun. 2019. A jurisprudência é uma fonte do Direito não conhecida por pessoas que não trabalham profissionalmente na área. Por isso, é relevante que você tenha acesso a algumas jurisprudências e, assim, entenda como os tribunais brasileiros decidem acerca de temas que nem sempre são contemplados na lei ou, até mesmo, compreenda como os juízes as interpretam. Por isso, indicamos a leitura da matéria presente no site Consultor Jurídico, a qual traz o exemplo de uma jurisprudência voltada aos direitos de casais homoafetivos. Atividades 1. Como as normas jurídicas de Direito Público se diferenciam das do Direito Privado? 36 Fundamentos de Direito 2. Uma pessoa foi enganada por uma concessionária,pois comprou um carro que não lhe foi entregue. Assim, ela pretende acionar o Poder Judiciário para obter seu dinheiro de volta. Qual é o ramo do Direito a que tal pessoa deve recorrer? 3. Quanto a quem produz, qual é a diferença entre as seguintes fontes do Direito: costume, lei e jurisprudência? Referências BARROS, Alice Monteiro de. Curso de Direito do Trabalho. São Paulo: LTr, 2009. BRASIL. Decreto-Lei n. 2.848, de 7 de dezembro de 1940. Diário Oficial da União, Poder Executivo, Brasília, DF, 31 dez. 1940. Disponível em: http:// www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del2848.htm. Acesso em: 16 jun. 2019. BRASIL. Decreto-Lei n. 4.657, de 4 de setembro de 1942. Diário Oficial da União, Poder Executivo, Brasília, DF, 9 set. 1942. Disponível em: http:// www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del4657compilado.htm. Acesso em: 16 jun. 2019. BRASIL. Lei n. 5.712, de 25 de outubro de 1966. Diário Oficial da União, Poder Legislativo, Brasília, DF, 27 out. 1966. Disponível em: http://www. planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l5172.htm. Acesso em: 16 jun. 2019. BRASIL. Lei n. 7.437, de 20 de dezembro de 1985. Diário Oficial da União, Poder Legislativo, Brasília, DF, 23 dez. 1985. Disponível em: http://www. planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l7437.htm. Acesso em: 16 jun. 2019. BRASIL. Constituição. Diário Oficial da União, Poder Legislativo, Brasília, DF, 5 out. 1988. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/ constituicao/constituicao.htm. Acesso em: 16 jun. 2019. BRASIL. Lei 9.503, de 23 de setembro de 1997. Diário Oficial da União, Poder Legislativo, Brasília, DF, 24 set. 1997. Disponível em: http://www. planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9503.htm. Acesso em: 16 jun. 2019. Direito: fontes e classificações 37 BRASIL. Lei Complementar n. 95, de 26 de fevereiro de 1998. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 27 fev. 1998. Disponível em: http://www.planalto.gov. br/ccivil_03/leis/lcp/lcp95.htm. Acesso em: 16 jun. 2019. BRASIL. Lei n. 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Diário Oficial da União, Poder Legislativo, Brasília, DF, 11 jan. 2002. Disponível em: http://www. planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/l10406.htm. Acesso em: 16 jun. 2019. BRASIL. Lei n. 13.709, de 14 de agosto de 2018. Diário Oficial da União, Poder Legislativo, Brasília, DF, 15 ago. 2018. Disponível em: http://www. planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2018/Lei/L13709.htm. Acesso em: 16 jun. 2019. CURITIBA. Prefeitura Municipal. Lei n. 15.098, de 8 de novembro de 2017. Cria o Polo Gastronômico do Alto Juvevê. Disponível em: https:// leismunicipais.com.br/a/pr/c/curitiba/lei-ordinaria/2017/1510/15098/ lei-ordinaria-n-15098-2017-cria-o-polo-gastronomico-do-alto- juveve?q=15098. Acesso em: 16 jun. 2019. FUHRER, Maximilianus Cláudio Américo; MILARÉ, Edis. Manual de Direito Público e Privado. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2015. MARTINS, Sérgio Pinto. Direito do Trabalho. São Paulo: Atlas, 2014. NADER, Paulo. Introdução ao estudo do Direito. Rio de Janeiro: Forense, 2018. NUNES, Rizzato. Manual de introdução ao estudo do Direito. São Paulo: Saraiva, 2015. OLIVEIRA FILHO, Paulo Furtado. Direito Empresarial. São Paulo: Atlas, 2010. (Coleção Concursos Jurídicos). PALAIA, Nelson. Noções essenciais de Direito. São Paulo: Saraiva, 2018. PARANÁ. Lei ordinária n. 19.378, de 20 de dezembro de 2017. Diário Oficial do Estado, Curitiba, PR, 21 dez. 2017. Disponível em: http://leisestaduais. com.br/pr/lei-ordinaria-n-19378-2017-parana-institui-o-dia-de-combate- e-conscientizacao-contra-o-assedio-nos-transportes-coletivos. Acesso em: 16 jun. 2019. REALE, Miguel. Lições preliminares de Direito. São Paulo: Saraiva, 2015. VENOSA, Silvio de Salvo. Introdução ao estudo do Direito. São Paulo: Atlas, 2014. 3 Direito Constitucional Conforme apresentamos no capítulo anterior, o Direito Constitucional tem extrema importância para o ordenamento jurídico brasileiro. Ao estudá-lo, você terá condições de compreender a relevância desse ramo do Direito. Por isso, no presente capítulo, abordaremos essa área de maneira mais aprofundada. Analisaremos seu objeto de estudo, em que se inserem a organização do Estado e dos Poderes, bem como os direitos e as garantias fundamentais contidos na Constituição brasileira. 3.1 Noções de Direito Constitucional O Direito Constitucional é o mais fundamental dos ramos do Direito, tanto o Público quanto o Privado, pois suas normas jurídicas imperativas têm superioridade sobre os demais ramos. Isso ocorre não só porque tais normas trazem as diretrizes de funcionamento do Estado brasileiro, determinando, assim, os limites de sua atuação, mas também por firmarem todos os princípios de ordem jurídica e geral. A origem do Direito Constitucional ocorreu após a existência dos Estados absolutistas comandados pelos monarcas, que tinham o poder de vida e morte de seus súditos. A centralização do poder passou a gerar problemas, e a burguesia concluiu que o governo não deveria se intrometer demasiadamente nos interesses do povo, permitindo a liberdade de um certo pensamento político e de ascensão financeira. Vídeo 40 Fundamentos de Direito A esse respeito, Roque (2012) retrata que “a ascensão da burguesia reforçou as ideias liberais, o que fez agravar a inquietação popular e fez o povo sublevar, instigado pela burguesia, resultando na tomada e destruição da Bastilha, a prisão símbolo do autoritarismo das classes dominantes e da realeza”. Sob essa ótica, surgiram as primeiras constituições, que previam as limitações dos poderes do rei. Assim, no século XVIII, deflagrou-se a Revolução Francesa, evidenciando os ideais burgueses, representados por pensadores como Locke, Voltaire, Montesquieu, Rousseau e Diderot. Tais ideais foram propagados pelo mundo todo e difundiram o ensejo de um Estado liberal, cujo poder seria limitado. Nesse Estado, os direitos individuais seriam respeitados e haveria a divisão de Poderes, separando, assim, as funções do Estado e trazendo equilíbrio entre quem fazia, quem executava e quem julgava a aplicação da lei. Ainda a respeito do Direito Constitucional, Nader (2018, p. 348) explica que se trata de um “ramo do Direito Público que dispõe sobre a estrutura do Estado, define a função de seus órgãos e estabelece as garantias fundamentais das pessoas”. Por sua vez, de acordo com Silva (2019, p. 38), ele se refere ao “ramo do Direito Público que expõe, interpreta e sistematiza os princípios e normas fundamentais do Estado”. Lembram-nos Fuhrer e Milaré (2015, p. 68) que “assim como uma sociedade comercial, um clube ou uma associação carecem de um estatuto que discipline suas atividades, com maior razão um país necessita de uma lei que o organize, o estruture e discipline”. Assim, as normas fundamentais do Estado estão contidas na Constituição Federal do país, a qual não pode ser desrespeitada, uma vez que, na hierarquia das leis, ela é a mais importante de todas. Dessa forma, há um órgão incumbido de guardar o respeito às determinações contidas na Constituição Federal brasileira, que é o Supremo Tribunal Federal. Direito Constitucional 41 3.1.1 Classificações das constituições As constituições podem ser classificadas quanto ao modo de elaboração (em dogmáticas e históricas), à origem (populares/ promulgadas ou outorgadas) e à estabilidade ou alterabilidade (rígidas, flexíveis e semirrígidas). As constituições dogmáticas são aquelas elaboradas por um órgão específico para isso, chamado de órgão constituinte, o qual sistematiza as ideias do Direito e da teoria política que são predominantes no momento da criação da Constituição. Por sua vez, as constituições históricas (também denominadas costumeiras) são resultado das tradições e de fatos sociais e políticos, os quais se consolidam como normas fundamentais de organização de um Estado. Dessa forma, as constituições dogmáticas são escritas, como a Constituição brasileira de 1988, ao passo que as históricas não são escritas, como ocorre com a Constituiçãoda Inglaterra. Em relação à origem, a Constituição classificada como popular (ou promulgada) é resultante do trabalho de um órgão constituinte formado por representantes do povo e realizada em nome dele, tendo, assim, a participação da população – caso da Constituição brasileira de 1988. Por sua vez, a Constituição outorgada é elaborada sem a participação popular, pois o governante (rei, imperador, presidente) a impõe à população. Exemplos em nosso país são as constituições de 1824, 1937,1967 e 1969. Rígida é a Constituição que, para sua alteração, exige um processo legislativo mais solene e dificultoso do que o processo de alteração de normas que não estão contidas em seu texto legal. Tal rigidez está estabelecida no artigo 60, parágrafo 2º, da Constituição (BRASIL, 1988), que determina um quorum de votação de 3/5 dos membros de cada Casa Legislativa, em dois turnos de votação, para alterar o texto da Constituição brasileira por meio de emendas constitucionais. 42 Fundamentos de Direito Constituições flexíveis, segundo Fuhrer e Milaré (2015, p. 68), são “aquelas que se alteram facilmente, através do processo legislativo ordinário, e que se caracterizam pela inexistência de qualquer hierarquia entre a Constituição e a lei ordinária”. Exemplo desse tipo de Constituição é a italiana, cuja alteração não exige grande formalidade. Por fim, as constituições semiflexíveis são aquelas que possuem em seu texto certas matérias que exigem um processo de alteração mais dificultoso, embora apresentem outras que não requerem muitas formalidades ao serem alteradas. Foi o caso da Constituição brasileira de 1824. A Constituição brasileira de 1988, que é a vigente atualmente, classifica-se como dogmática (foi elaborada por uma Assembleia Nacional Constituinte criada especialmente para tal tarefa), promulgada (teve a participação do povo em sua elaboração) e rígida (sua alteração é mais complexa do que a mudança de uma lei que esteja abaixo dela). 3.2 Organização do Estado Conforme nos ensinam Fuhrer e Milaré (2015, p. 71), “podemos conceituar o Estado como a pessoa jurídica formada por uma sociedade que vive num determinado território e subordinada a uma autoridade soberana”. Tal conceito nos remete aos elementos essenciais do Estado: trata-se de uma pessoa jurídica (detentora de direitos e obrigações), possui um povo (que compreende não só a população nacional, mas todas as pessoas que nele vivem), está localizado em um território (composto pela superfície terrestre, pelo espaço aéreo relativo a tal superfície, bem como pelo mar territorial e pelas sedes de embaixadas e de repartições diplomáticas, assim como se consideram território nacional os navios e aviões presentes no país). Por fim, é detentor de soberania, que é “o poder político supremo e independente” (SILVA, 2019, p. 106). Vídeo Direito Constitucional 43 A soberania do Estado deve ser considerada sob a ótica interna, no sentido de que o Estado é a autoridade suprema, representada pela força dos poderes juridicamente constituídos, tendo autoridade para agir em nome da população. A soberania do Estado na ordem externa significa que está em situação de igualdade com outros países, não permitindo, assim, interferências externas em sua administração. A União Federal mais os estados-membros, o Distrito Federal e os municípios compõem a República Federativa do Brasil. Encontramos referências à organização do Estado brasileiro na Constituição de 1988 (ora vigente), que determina em seus artigos 1º e 18, respectivamente: “A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito [...]” (BRASIL, 1988), e “A organização político-administrativa da República Federativa do Brasil compreende a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, todos autônomos, nos termos desta Constituição” (BRASIL, 1988). A organização e estrutura do Estado brasileiro estão descritas no texto constitucional em sua forma de governo, sistema de governo e forma de Estado. Na forma de governo, o Brasil adotou a forma republicana (em detrimento da monarquia); já o sistema (ou regime) de governo brasileiro é o presidencialista (escolhido em plebiscito pelo povo brasileiro entre o parlamentarismo e o presidencialismo, em abril de 1993); por sua vez, sua forma de Estado é a federação. A forma federativa de Estado significa que a própria Constituição Federal de 1988 prevê núcleos de poder político, concedendo autonomia para seus entes federativos. No entanto, uma vez criado o pacto federativo, não se permite o direito de separação entre os Estados federados. 44 Fundamentos de Direito Na forma republicana de governo, diferentemente da monarquia, que é o governo de um só rei ou monarca, o povo governa por meio de seus representantes. É o que prescreve a Constituição Federal de 1988 em seu artigo 1º, parágrafo único: “Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição” (BRASIL, 1988). Diferentemente do sistema parlamentarista − no qual o governo é exercido por um conselho de ministros chefiado pelo primeiro- -ministro, como ocorre com Itália e Alemanha −, o sistema de governo brasileiro é o presidencialista. Como explica Dower (2017, p. 29), nesse sistema, o presidente exerce o Poder Executivo como chefe de Estado e chefe de governo. Logo, ele ocupa tais funções ao ser escolhido por meio de eleições populares, que lhe permitem exercer tão elevado cargo. Já a forma de Estado adotada pela Constituição Brasileira é o Estado Federal. Conforme ensina Palaia (2018, p. 33), nesse Estado “o poder não se reunirá nas mãos de uma pessoa só, mas será repartido, de acordo com certos assuntos e matérias, com os governos das pessoas jurídicas de direito público denominadas Estados-membros”. Basta observar que o Estado brasileiro é formado de maneira indissolúvel pela União, pelos estados e municípios e pelo Distrito Federal, mas os Estados-membros possuem certa autonomia político-administrativa, que se dá por meio de suas constituições estaduais. Quanto ao Estado Democrático de Direito, Silva (2019, p. 123) menciona que sua tarefa fundamental “consiste em superar as desigualdades sociais e regionais e instaurar um regime democrático que realize a justiça social”. Para se alcançar um Estado Democrático de Direito, é necessário que ocorra a participação do povo, por meio de seus representantes, nas decisões político-administrativas do país, bem como que sejam respeitados os direitos fundamentais Direito Constitucional 45 previstos na Constituição de 1988, tais como o direito à vida, à liberdade, à segurança, à honra, à propriedade, à dignidade, entre outros (BRASIL, 1988). 3.3 Organização dos Poderes A Constituição brasileira de 1988 trata da divisão dos Poderes da República em seu artigo 2º, ao determinar que: “São Poderes da União, independentes e harmônicos entre si, o Legislativo, o Executivo e o Judiciário”. Os Poderes são independentes porque cada um tem sua esfera específica de ação traçada pela Constituição, mas todos agem de forma harmônica no desempenho de suas funções. As funções típicas de cada um dos Poderes são as seguintes: • Poder Executivo: governar e administrar o Estado, de acordo com a lei; • Poder Legislativo: criar as leis jurídicas; • Poder Judiciário: aplicar as leis, resolvendo os conflitos e dizendo de quem é o direito. Existem também as “funções atípicas”, exercidas pelos Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário. Referem-se às funções que não são as atividades precípuas de cada Poder da República, mas que são exercidas por eles. Por exemplo, são funções atípicas (BRASIL, 1988): • do Poder Executivo: criar normas por meio da edição de medidas provisórias (conforme artigo 62, caput, da Constituição brasileira); • do Poder Legislativo: julgar o Presidente da Repúblicanos crimes de responsabilidade que venha a cometer – compete ao Senado Federal julgá-lo (conforme artigo 52, inciso I, da Constituição); Vídeo 46 Fundamentos de Direito • do Poder Judiciário: realizar a administração de seu quadro funcional (conforme artigo 93, inciso X, da Constituição). Apesar das funções atípicas, que permitem uma pequena invasão de um Poder nas funções exercidas por outro, ressaltamos que cada um dos Poderes da República no Brasil é independente e exerce apenas as funções descritas na Constituição Federal. 3.3.1 Poder Executivo O representante do Poder Executivo é escolhido por meio do voto popular. Na esfera federal, esse poder é exercido pelo presidente da República e pelo vice-presidente, com o auxílio dos ministros de Estado; na esfera estadual, pelo governador do Estado e vice- -governador; já no âmbito municipal, por prefeito e vice-prefeito. A eleição do presidente da República significa também a escolha do vice-presidente que com ele se registrou, como determina o artigo 77, parágrafo 1º, da Constituição: “A eleição do Presidente da República importará a do Vice-Presidente com ele registrado” (BRASIL, 1988). A Constituição da República Federativa do Brasil, no artigo 14, parágrafo 3º, incisos I a VI, alínea a, determina que, para se candidatar ao cargo de presidente da República, é necessário ser brasileiro nato, estar no pleno exercício dos direitos políticos, ter realizado alistamento eleitoral, ter domicílio eleitoral na circunscrição, ser filiado a um partido político, ter idade mínima de 35 anos, não ser analfabeto ou inelegível (como é o caso do cônjuge ou de parentes consanguíneos do presidente da República, conforme artigo 14, parágrafo 7º da Constituição) (BRASIL, 1988). Para ser eleito, o candidato deve obter a maioria absoluta dos votos, desconsiderando os votos brancos e nulos. Seu mandato será de quatro anos, podendo se reeleger para outro período de mais quatro anos, conforme prevê a Lei Maior, no artigo 77, parágrafo 2º (BRASIL, 1988). Direito Constitucional 47 É preciso ressaltar que a Constituição, em seu artigo 80, estabelece que no caso de impedimento ou de vacância do presidente da República e do vice-presidente serão chamados, de maneira sucessiva, o presidente da Câmara dos Deputados, o do Senado Federal e o do Supremo Tribunal Federal. As atribuições do presidente da República como representante do Poder Executivo Federal estão previstas no artigo 84 da Constituição, entre as quais: “I - nomear e exonerar os Ministros de Estado”; “VII - manter relações com Estados estrangeiros e acreditar seus representantes diplomáticos”; “VIII - celebrar tratados, convenções e atos internacionais, sujeitos a referendo do Congresso Nacional”, entre outras. 3.3.2 Poder Legislativo O Poder Legislativo, responsável pela elaboração das leis em âmbito federal, segue o sistema bicameral, ou seja, é composto por duas casas legislativas: a Câmara dos Deputados e o Senado Federal, que juntas formam o Congresso Nacional. A Câmara dos Deputados é formada por representantes do povo, ao passo que o Senado Federal representa os estados-membros e o Distrito Federal. A Câmara dos Deputados e o Senado Federal trabalham em conjunto. Um projeto de lei que é examinado pela Câmara do Deputados é revisto pelo Senado Federal, e vice-versa. Certas atribuições são exclusivas do Congresso Nacional, ou seja, das duas Casas Legislativas em conjunto, por exemplo: “autorizar o Presidente e o Vice-Presidente da República a se ausentarem do País, quando a ausência exceder a quinze dias” (conforme previsto no artigo 49, inciso III, da Constituição) (BRASIL, 1988). No entanto, há atividades cujos exercícios são de atribuição privativa da Câmara dos Deputados, tais como: “autorizar, por dois terços de seus membros, a instauração de processo contra o 48 Fundamentos de Direito Presidente e o Vice-Presidente da República e os Ministros de Estado” (BRASIL, 1988), bem como “elaborar seu regimento interno” (de acordo com o disposto no artigo 51, incisos I e III, da Constituição) (BRASIL, 1988). Os deputados têm mandato de quatro anos. O Senado Federal, por sua vez, em conformidade com a previsão constitucional, também exerce funções que lhe são privativas, como determina o artigo 52 da Constituição Federal. Entre tais funções, ressaltamos: “I - processar e julgar o Presidente e o Vice- -Presidente da República nos crimes de responsabilidade, bem como os Ministros de Estado e os Comandos da Marinha, do Exército e da Aeronáutica nos crimes da mesma natureza conexos com aqueles” (BRASIL, 1988). O mandato de um senador federal é de oito anos. Na esfera estadual, o Poder Legislativo atua por meio das Assembleias Legislativas existentes em cada Estado, as quais são compostas pelos deputados estaduais (representantes do povo do estado), escolhidos pelo povo, para cumprir mandato de quatro anos. Em âmbito municipal, tal poder é exercido pelas câmaras municipais ou de vereadores, que representam o povo do município durante quatro anos. Portanto, nas esferas estadual e municipal, o sistema legislativo é unicameral, composto por apenas uma Casa Legislativa. Cabe ao Poder Legislativo Federal seguir o processo de elaboração das leis previsto entre os artigos 59 e 69 da Constituição, que englobam a elaboração de emendas à Constituição, leis complementares, leis ordinárias, leis delegadas, medidas provisórias, decretos legislativos e resoluções (BRASIL, 1988). Um projeto de lei pode ser apresentado por membros da Câmara dos Deputados, do Senado Federal e do Congresso Nacional, bem como pelo presidente da República e por integrantes do Supremo Tribunal Federal e dos tribunais superiores, além do procurador- -geral da República e dos cidadãos, conforme determina o artigo 61 da Constituição Federal (BRASIL, 1988). Direito Constitucional 49 Depois que o projeto de lei é analisado e votado em uma Casa Legislativa (Câmara dos Deputados ou Senado Federal), ele deve ser revisto e votado pela outra Casa. Caso seja aprovado, vai para a sanção ou veto do presidente da República, o qual deve ser escrito e fundamentado. Contudo, tal veto pode ser derrubado pelo Congresso Nacional, caso em que o projeto de lei é arquivado. Se o presidente da República sancionar o projeto de lei, concomitantemente ocorre sua promulgação (declaração de existência da lei). A etapa seguinte é a publicação da lei em órgão da imprensa oficial. Mas ela só se torna obrigatória a partir de sua vigência e após serem cumpridos todos os requisitos para sua obrigatoriedade e eficácia. A lei que contrariar a Constituição Federal brasileira é denominada inconstitucional. Cabe ao Supremo Tribunal Federal julgar a constitucionalidade das leis, e ao Senado Federal, determinar sua suspensão, quando são julgadas inconstitucionais. 3.3.3 Poder Judiciário O Poder Judiciário tem como principal função interpretar as leis e aplicar o Direito na solução dos litígios, a fim de dizer a quem pertence determinado direito quando uma ação judicial é instaurada. Para ingressar na carreira de juiz, é preciso passar em concurso público de provas e títulos. Uma exceção, no entanto, está prevista no artigo 94 da Constituição Federal, que determina: Um quinto dos lugares dos Tribunais Regionais Federais, dos Tribunais dos Estados, e do Distrito Federal e Territórios será composto de membros do Ministério Público, com mais de dez anos de carreira, e de advogados de notório saber jurídico e de reputação ilibada, com mais de dez anos de efetiva atividade profissional, indicados em lista sêxtupla pelos órgãos de representação das respectivas classes. (BRASIL, 1988) Cabe ao Poder Executivo, após receber as indicações, escolher e nomear um dos integrantes dos tribunais superiores. Portanto, além 50 Fundamentos de Direito do concurso público, outro modo de exercer a função na magistratura (em tribunais) é por meio do chamado quinto constitucional.
Compartilhar