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Trabalho 4 - Acordãos contratos

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Nome: Igor de Souza Lima 				 R.A.0132593
DIREITO CIVIL – CONTRATOS
ATIVIDADE AVALIATIVA 4 - 08/11/2021
PROF. MARCEL BRITTO
1- ACORDÃO CONTRATO PRESTAÇÃO DE SERVIÇO
EXTINÇÃO DA EXECUÇÃO SEM RESOLUÇÃO DO MÉRITO -- CONTRATO DE PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS EDUCACIONAIS - A jurisprudência do STJ é no sentido de franquear ao contrato de prestação de serviços educacionais a via executiva, desde que, o credor demonstre a ocorrência da efetiva prestação do serviço objeto da execução.
APELAÇÃO CÍVEL Nº 1.0024.11.038790-9/001 - COMARCA DE BELO HORIZONTE - APELANTE (S): IMEC INSTITUTO MINEIRO DE EDUCAÇÃO E CULTURA UNI BH S/A - APELADO (A)(S): BRUNO LOMMEZ FERREIRA
A C Ó R D Ã O
Vistos etc., acorda, em Turma, a 14ª CÂMARA CÍVEL do Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais, na conformidade da ata dos julgamentos, à unanimidade, em DAR PROVIMENTO AO RECURSO PARA ANULAR A SENTENÇA.
Belo Horizonte, 15 de março de 2012.
DES. ESTEVÃO LUCCHESI
RELATOR.
DES. ESTEVÃO LUCCHESI (RELATOR)
V O T O
Cuida-se de recurso de apelação, interposto por IMEC - INSTITUTO MINEIRO DE EDUCAÇÃO E CULTURA - UNI BH S/A, qualificado nos autos, contra sentença proferida em Ação de Execução, a qual julgou extinto o processo, sem resolução de mérito, com fulcro no art. 267, VI, considerando a ausência de interesse processual, por faltar ao título executivo extrajudicial a certeza, a liquidez e a exigibilidade.
Nas razões recursais, aduz o apelante que o próprio contrato celebrado entre as partes traz a relação de valores da semestralidade do curso contratado, não podendo ser considerada ausência de certeza, liquidez e exigibilidade, apenas porque não foi preenchido o valor na cláusula quarta, razão pela qual pugna pela reforma da decisão recorrida, reconhecendo a liquidez do título para determinar o prosseguimento do feito.
Não houve apresentação de contrarrazões, tendo em vista que a relação processual não se aperfeiçoou.
Conheço do recurso, porquanto presentes seus requisitos de admissibilidade.
Analisando os autos, tem-se que a MM. Juíza a quo extinguiu o feito sem resolução de mérito por entender que o contrato de prestação de serviços educacionais não era líquido, certo e exigível, a aparelhar o credor na via executiva, faltando-lhe interesse processual.
Com efeito, data venia dos entendimentos em contrário, a jurisprudência dominante é no sentido de que somente o contrato de prestação de serviços educacionais não é suficiente para o manejo do processo executivo, havendo necessidade do credor demonstrar na inicial que tratou de prestar o serviço. Neste sentido, cita-se:
PROCESSUAL CIVIL. CONTRATO DE PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS EDUCACIONAIS. EXECUÇÃO DE PARCELAS ALEGADAMENTE INADIMPLIDAS PELO ALUNO. FALTA DE COMPROVAÇÃO DOS SERVIÇOS RESPECTIVOS. REQUISITO DA CERTEZA DA DÍVIDA NÃO ATENDIDO. CPC, ART. 615, IV. INSUFICIÊNCIA DO TÍTULO. A cobrança, pela via executiva, de parcelas inadimplidas por aluno de estabelecimento de ensino particular, exige, para que configurada a certeza da divida, além da apresentação do contrato devidamente formalizado e do demonstrativo do débito, também a prova da efetiva prestação do serviço no período em questão, requisito este desatendido no caso dos autos. II. Recurso especial não conhecido. (STJ - REsp 323704 / MG, Relator: Min. Aldir Passarinho Junior, j. 12/03/2002).
"CONTRATO DE PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS EDUCACIONAIS. TÍTULO EXECUTIVO EXTRAJUDICIAL. PRECEDENTES DA CORTE. 1. A Corte já assentou que o contrato de prestação de serviços educacionais, devidamente formalizado, é título executivo extrajudicial. Configurada a demonstração de que prestado o serviço, a apuração do valor depende de simples operação aritmética. 2. Recurso especial conhecido e provido." (REsp 705.837/SP, Rel. Ministro CARLOS ALBERTO MENEZES DIREITO, TERCEIRA TURMA, DJ 28/05/2007) [...] "(REsp 705816, decisão monocrática/STJ, rel. Min. Luis Felipe Salomão, DJ. 16.03.2010).
"CONTRATO DE PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS EDUCACIONAIS. ART. 615, IV, DO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL. PRECEDENTES DA CORTE. 1. O CONTRATO de PRESTAÇÃO de SERVIÇOS EDUCACIONAIS é TÍTULO executivo hábil, provando o credor, na forma do art. 615, IV, do Código de Processo Civil, que adimpliu a contraprestação que lhe corresponde, não se admitindo como tal a simples presunção. 2. Recurso especial conhecido, mas desprovido."(REsp 250107, 3ª Turma/STJ, rel. Min. Carlos Alberto Menezes Direito, j. 09.11.2000, DJ. 12.02.2001).
"DIREITO E PROCESSO CIVIL. CONTRATO DE PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS EDUCACIONAIS. OBRIGAÇÃO DE PAGAR QUANTIA CERTA. TÍTULO EXECUTIVO. NECESSIDADE DE PROVA DO CUMPRIMENTO DA OBRIGAÇÃO, PELO CREDOR. PRECEDENTES DO TRIBUNAL. RECURSO PROVIDO. I - Por expressa dicção legal, considera-se TÍTULO executivo extrajudicial o CONTRATO particular, subscrito por duas testemunhas. Todavia, para tornar-se hábil a instruir o processo de EXECUÇÃO, é necessário que ele represente obrigação líquida, certa e exigível, nos termos do art. 586 do Código de Processo Civil. II - Nos casos de CONTRATO bilateral, incumbe ao credor provar o cumprimento de sua obrigação (art. 615, IV, CPC), a fim de tornar o instrumento hábil a instruir o processo de EXECUÇÃO como TÍTULO executivo extrajudicial."(REsp 196967/DF, 4ª Turma/STJ, rel. Min. Sálvio de Figueiredo Teixeira, j. 02.02.1999, DJ. 08.03.2000).
AÇÃO DE EXECUÇÃO - CONTRATO DE PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS EDUCACIONAIS - PROVA DA PRESTAÇÃO DOS SERVIÇOS - CERTEZA, LIQUIDEZ E EXIGIBILIDADE DO TÍTULO COMPROVADAS - TÍTULO EXECUTIVO EXTRAJUDICIAL HÁBIL A EMBASAR A COBRANÇA. O CONTRATO de PRESTAÇÃO de SERVIÇOS EDUCACIONAIS, a despeito de constituir negócio jurídico bilateral, é título executivo extrajudicial hábil a embasar o pleito executivo, desde que, além de estar assinado pelo devedor e por duas testemunhas, esteja acompanhado da prova da efetiva prestação dos serviços contratados pelo devedor. É o que se extrai dos artigos 585, II e 615, IV, ambos dos CPC. (TJMG, 18ª Câmara Cível, Apelação Cível nº 1.0702.11.040428-3/001, Rel. Des. Arnaldo Maciel, publicado em: 16/11/2011)
EMENTA: AÇÃO DE EXECUÇÃO - CONTRATO DE PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS EDUCACIONAIS - CERTEZA, LIQUIDEZ E EXIGIBILIDADE DO TÍTULO COMPROVADAS - TÍTULO EXECUTIVO EXTRAJUDICIAL. O contrato de prestação de serviços educacionais é título executivo extrajudicial hábil a embasar a ação de execução, desde que, além de estar assinado pelo devedor e por duas testemunhas, bem como discriminar o valor das mensalidades, esteja acompanhado do demonstrativo de débito e de prova da efetiva prestação dos serviços contratados pelo devedor. É o que se extrai dos artigos 585, II, 586 e 615, IV do CPC. (TJMG - AP. C. Nº 1.0024.11.059961-0/001, Relator: Des. José Affonso Da Costa Côrtes, j. 07/07/2011)
No caso dos autos, logrou êxito a apelante em demonstrar que o serviço educacional foi prestado, considerando que o aluno inadimplente freqüentou o curso, ante a aprovação e reprovação em algumas matérias, como demonstra o documento de fls. 25/TJ, bem como anexou indispensável planilha de débito de fls. 26/TJ, estando o contrato de prestação de serviço apto a prosseguir na via executiva.
Por todo o exposto, em que pese o brilhantismo da honrada magistrada, data venia, DOU PROVIMENTO AO RECURSO, para anular a sentença primeva, determinando o retorno dos autos à instância de origem para regular prosseguimento da execução. Custas recursais ao final.
DES. VALDEZ LEITE MACHADO (REVISOR) - De acordo com o (a) Relator (a). DESA. EVANGELINA CASTILHO DUARTE - De acordo com o (a) Relator (a). SÚMULA:"RECURSO PROVIDO PARA ANULAR A SENTENÇA."	Comment by Igor souza lima: Comentaria 1Tipos legais envolvidos na argumentação jurídica:“Art. 476. Nos contratos bilaterais, nenhum dos contratantes, antes de cumprida a sua obrigação, pode exigir o implemento da do outro”“Art. 603. Se o prestador de serviço for despedido sem justa causa, a outra parte será obrigada a pagar-lhe por inteiro a retribuição vencida, e por metade a que lhe tocaria de então ao termo legal do contrato.”	Comment by Igor souza lima [2]: Talraciocínio jurídico pode ser fundamentado pelo artigo 476 (CC - TÍTULO VDos Contratos em Geral) visto que só é possível a cobrança dos valores envolvidos na prestação de serviço se estes já foram prestados (obrigação do prestador), fundamentando assim que os serviços se foram prestados (adimplemento da obrigação do prestador) estes podem ser cobrados. Vale destacar que conforme depreende-se do caos estudado o tomador de serviço não caracterizou a justa causa da dispensa do serviço, respondendo, portanto, pelos valores dos serviços prestados (retribuição vencida) e metade dos valores dos serviços a serem prestados (retribuições vincendas) conforme preconiza o artigo 603 (CC - TÍTULO VIDas Várias Espécies de Contrato - CAPÍTULO VIIDa Prestação de Serviço)	Comment by Igor souza lima [3]: Comentaria 2Tipos legais envolvidos na argumentação jurídica:Art. 598. A prestação de serviço não se poderá convencionar por mais de quatro anos, embora o contrato tenha por causa o pagamento de dívida de quem o presta, ou se destine à execução de certa e determinada obra. Neste caso, decorridos quatro anos, dar-se-á por findo o contrato, ainda que não concluída a obra.	Comment by Igor souza lima [4]: Periodicidade definida em semestralidade, respeitando de forma indireta o disposto no art. 598 que limita a periodicidade do pagamento ao período de 4 anos.	Comment by Igor souza lima [5]: Comentaria 3Idem comentário 1	Comment by Igor souza lima [6]: Comentaria 4Correlação da norma ao fato (subsunção do fato a norma) correlacionando os artigos 476 e 603 do C.	Comment by Igor souza lima [7]: Comentaria 5Desincumbiu-se do ônus probatório, comprovação do serviço prestado (prestação vencida)
OBS: Indispensável ressaltar que tal caso visto a natureza jurídica do contrato (contrato consumerista) não poderíamos aplicar de forma direta o CC, somente subsidiariamente, respeitando assim o disposto no artigo 593 do CC que defini que somente se regera contratos que não estiverem sujeitos a leis especiais, como o CDC “Art. 593. A prestação de serviço, que não estiver sujeita às leis trabalhistas ou a lei especial, reger-se-á pelas disposições deste Capítulo.”
2- ACORDÃO CONTRATO DE EMPREITADA
Inteiro Teor
VCAS
Nº 70084092634 (Nº CNJ: 0047622-70.2020.8.21.7000)
2020/Cível
APELAÇÃO. AÇÃO DE COBRANÇA. CONTRATO DE EMPREITADA E SUBEMPREITADA.
No contrato de subempreitada, a dona da obra não se obriga perante terceiros. É obrigada, tão somente, em relação ao empreiteiro que contratou. Por conta dessa segunda relação contratual autônoma entre empreiteiro e subempreiteiro, é daquela a obrigação de pagar a este.
Quanto à forma, o contrato de empreitada (outrora conhecido como contrato de locação de obra), é não solene e consensual, daí porque prescinde de forma específica e se materializa com a simples manifestação de vontade. É contrato, portanto, que admite prova testemunhal pela sua própria natureza.
Outrossim, não desnatura o contrato de empreitada o fato de a apelante não ter executado a obra por si, pois o que interessa, nessa espécie de negócio, é a obra a ser executada, podendo a atuação da apelante, até mesmo, limitar-se ao trabalho intelectual.
RECURSO DESPROVIDO.
Apelação Cível
Décima Sexta Câmara Cível
Nº 70084092634 (Nº CNJ: 0047622-70.2020.8.21.7000)
Comarca de Caxias do Sul
EURO TELHAS INDUSTRIA E COMERCIO LTDA
APELANTE
ROSS MONTAGENS DE ESTRUTURAS METALICAS LTDA
APELADO
VIDROFORTE INDUSTRIA E COMERCIO DE VIDROS S.A.
INTERESSADO
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos os autos.
Acordam os Desembargadores integrantes da Décima Sexta Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Estado, à unanimidade, em NEGAR PROVIMENTO AO RECURSO.
Custas na forma da lei.
Participaram do julgamento, além da signatária, os eminentes Senhores Des. Ergio Roque Menine (Presidente) e Des.ª Jucelana Lurdes Pereira dos Santos.
Porto Alegre, 03 de setembro de 2020.
DES.ª VIVIAN CRISTINA ANGONESE SPENGLER,
Relatora.
RELATÓRIO
Des.ª Vivian Cristina Angonese Spengler (RELATORA)
Trata-se de Apelação interposta por EURO TELHAS INDÚSTRIA E COMÉRCIO LTDA. nos autos da Ação de Cobrança ajuizada por ROSS MONTAGENS DE ESTRUTURAS METÁLICAS LTDA.
Os pedidos da autora foram julgados nos seguintes termos (fls. 269-272):
Isso posto, JULGO PARCIALMENTE PROCEDENTES OS PEDIDOS para excluir do feito a demandada VIDROFORTE INDÚSTRIA E COMÉRCIO DE VIDROS S/A, por ilegitimidade passiva, condenando a demandada EURO TELHAS INDÚSTRIA ECOMÉRCIO LTDA a pagar à autora o saldo devedor de R$180.600,00, a título de serviços de mão-de-obra realizados, corrigido pelo IGP-M a contar do ajuizamento da ação e acrescido de juros de mora de 1% ao mês, a partir da citação.
Imponho à autora o pagamento de honorários ao procurador da excluída, que fixo no valor de R$1.500,00, corrigido pelo IGP-M a contar desta data e acrescido de juros de mora, de 1% ao mês, contados do trânsito em julgado (art. 85, §§ 8º e 16, do CPC).
Pelo princípio da sucumbência, imponho à demandada EURO TELHAS o pagamento integral das custas processuais, mais honorários ao procurador da autora, que fixo em 15% sobre o valor da condenação, observados critérios do art. 85, § 2º, do CPC.
A recorrente alega, em síntese, que a corré é parte legitimada para a causa, pois em momento algum ela provou ter havido um ajuste de pagamento em valor fixo pela empreitada. Refere inexistir prova de que tenha recebido pagamento da Vidroforte. Diz que as notas fiscais juntadas à contestação comprovam a compra de produtos, e não a execução da obra, pois o valor da mão de obra não estava incluído entre as responsabilidades que assumiu. Argumenta que se a Vidroforte tivesse efetuado a contratação de uma empreitada por preço global, teria recebido pela obra um valor fixo e não efetuado diversas compras de materiais. Alega que o documento da fl. 91 não comprova ter havido contratação do sistema de cobertura descrito na fl. 189. Assevera que o depósito realizado na conta corrente da autora, no valor de R$46.400,00, ocorreu pelo fato de os administradores da Vidroforte não estarem na cidade para autorizar o pagamento. Dessa forma, para não prejudicar o andamento da obra, por livre e espontânea vontade, depositou o valor, o qual deveria ser renegociado ao final, com a entrega da obra. Aduz que a sentença está embasada apenas na prova testemunhal, sem comprovação documental alguma. Reitera que foi contratada pela dona da obra apenas para fornecer matéria prima. Com essa narrativa pede o provimento do recurso para o fim de serem julgados improcedentes os pedidos da autora (fls. 231-237).
Há contrarrazões (fls. 241-247 e 248-250).
É o relatório.
VOTOS
Des.ª Vivian Cristina Angonese Spengler (RELATORA)
Recebo o recurso porque presentes os pressupostos de admissibilidade.
A autora alega, em apertada síntese, que foi contratada pela Euro Telhas para execução de serviços de mão de obra em favor da Vidroforte Indústria e Comércio de Vidros. E pelos serviços recebeu remuneração parcial, pelo que pretende a condenação das rés ao pagamento do restante.
Pois bem.
O recurso investe sem êxito contra os bem lançados fundamentos da sentença. As teses recursais foram percucientemente rebatidas e analisadas pelo juízo a quo, que esgotou a apreciação da controvérsia com o cotejo da prova oral e documental colhidas.
Assim, transcrevo parcialmente os argumentos da decisão da Magistrada Zenaide Pozenato Menegat, os quais adoto como razões de decidir, com grifos meus, ?in litteris?:
Constitui fato incontroverso nos autos que a autora executou o serviço de mão-de-obra para instalação do telhado (cobertura) na unidade industrial de propriedade da demandada Vidroforte, na cidade de Três Cachoeiras/RS.
No entanto, também restou suficientemente demonstrado que a dona da obra (Vidroforte) fez uma empreitada global com a demandada Euro Telhas, para fins de fornecimento de material e mão-de-obra para execução da cobertura do pavilhão da referida unidade industrial.
A contratação dessa empreitada global pode ser constatada a partir de e-mail trocado entreJulio Prelle, representante legal da demandada Euro Telhas, com Eduardo Heinen, representante da demandada Vidroforte, onde o primeiro apresentou opção de telhas, referindo expressamente que o preço abrangia a instalação.	Comment by Igor souza lima [8]: Comentaria 1Tipos legais envolvidos na argumentação jurídica:“Art. 610. O empreiteiro de uma obra pode contribuir para ela só com seu trabalho ou com ele e os materiais.§ 1 o A obrigação de fornecer os materiais não se presume; resulta da lei ou da vontade das partes.”	Comment by Igor souza lima [9]: Ficou caracterizado o tipo de empreitada, qual seja empreitada de lavor e materiais
Consta no e-mail, datado de 22-08-2012:
?
?PREÇO POR M². Rs. 49,50 considerando telhas todos elementos de fixação m obra instalação.
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A contratação de empreitada global entre Vidroforte e Euro Telhas, de fornecimento de material e mão-de-obra para execução de cobertura do pavilhão da unidade de Três Cachoeiras, foi ratificada no depoimento de Carlos Alberto Sartor, arquiteto que acompanhou a obra, segundo o qual a Euro Telhas foi contratada pela Vidroforte para fornecimento de materiais e execução de todo o sistema de cobertura.	Comment by Igor souza lima [10]: Comentaria 2Idem comentário 1 
Disso infere-se que a autora foi sub-empreitada pela Euro Telhas para a execução da mão-de-obra relativa do referido telhado, mas permanecendo da Euro Telhas a responsabilidade perante a dona da obra.
Tanto assim que, segundo o arquiteto Sartor, a Ross Montagens, ora autora, entrou na obra apenas para execução de parte da mão-de-obra da cobertura, contratada pela Euro Telhas. Disse ainda o arquiteto que inclusive conheceu o pessoal da Ross na obra, e acompanhou a execução do telhado, conforme previsão técnica do projeto. O depoente sequer mantinha relação de cobrança (de logística, de responsabilidade, de solução do problema) com o pessoal da Ross, mas se reportava à Euro, que era a contratada (CD ? fl. 215).
A própria autora, através dos documentos apresentados, e pelo próprio teor da inicial, revela que o seu trabalho na obra da Vidroforte decorreu de contrato verbal mantido com a Euro Telhas. O contrato escrito apresentado pela autora não chegou a ser assinado pela Euro Telhas (fls.20-30), mas é inegável que esta sub-contratou verbalmente a empresa demandante para colocação do telhado na obra da Vidroforte.	Comment by Igor souza lima [11]: Comentaria 3Tipos legais envolvidos na argumentação jurídica:Art. 421.  A liberdade contratual será exercida nos limites da função social do contrato.	Comment by Igor souza lima [12]: Constituição de nova relação obrigacional (negócio jurídico), entre autor(subempreiteira) e réu (empreiteira)
Tanto assim que a Euro Telhas repassou parte do preço para a ora autora, no valor de R$46.400,00 (fls.44-45), tudo a comprovar a existência de sub-empreitada entre elas.
Nem mesmo pode ser admitida a alegação feita pela Euro Telhas em contestação de que teria feito tal pagamento por mera liberalidade, a fim de não prejudicar o andamento regular da obra, ou de que tal pagamento seria de responsabilidade da Vidroforte, pois não passa desapercebido que o dinheiro foi repassado por uma terceira empresa.
Com efeito, provavelmente em razão de estar enfrentando dificuldades financeiras, a Euro Telhas sugeriu que a autora emitisse uma nota fiscal contra a empreiteira OAS (fl.51), o que foi feito pela demandante, com desvio de finalidade, como se se tratasse de serviço executado na obra da ?Arena do Grêmio? (fl. 53).
Dessa forma, a ressalva contida no recibo assinado pela autora em favor da Euro Telhas, no sentido de que ?o valor será descontado nas futuras medições? (fl.52), tem apenas o efeito de expressar que o pagamento parcial, efetivado com repasse de dinheiro da OAS, seria descontado nas medições futuras, não de que tal pagamento fosse da responsabilidade da Vidroforte.
Plinio Mioranzza, testemunha da Vidroforte e responsável de venda e montagem da estrutura metálica do pavilhão industrial (esqueleto da obra e fechamento lateral), esclareceu que ?quem forneceu a telha, forneceu ela montada?. Revelou ainda que a ideia da Euro Telhas, através do seu sócio-representante (Julio), era de fazer a montagem de toda a estrutura (nem ele fez no Grêmio), - ?contratação global? (?um pacote?) - mas o depoente, como fornecedor da estrutura metálica, não aceitou (por ser o responsável técnico pelo seu produto), ficando então apenas o fornecimento das telhas e a montagem do telhado por conta da Euro Telhas. Esclarece que tais aspectos foram acertados em reuniões na empresa do depoente. Nessas reuniões não houve participação da empresa Ross, porque esse foi um assunto tratado entre a Euro Telhas e a Ross. ?A Euro Telhas contratou a Ross?. Disse que esteve no local da obra até o momento da cobertura e até então a empresa Ross estava trabalhando na obra.
A testemunha Leocir Pires da Silva, arrolada pela própria autora, como encarregado de obras, afirmou categoricamente que quem contratou a Ross para a montagem da cobertura na obra da Vidroforte foi a Euro Telhas (trecho do depoimento transcrito no memorial da Vidorforte (fls.250-251 ? cujo teor pode ser conferido na gravação contida em CD (fl.240).
Rogério Berté, testemunha arrolada pela Euro Telhas (CD, fl.234), disse que presenciou negociação entre Euro Telhas e Ross. Diz que no fechamento da negociação entre Vidroforte e Euro Telhas, Julio Prelle, que era o proprietário da Euro Telhas, ficou de arrumar uma empresa para fazer a montagem do telhado. A empresa Ross já trabalhava com a Euro na Arena do Grêmio e aceitou a fazer esse trabalho na Vidroforte.
Berté, por motivos óbvios, tenta retirar da Euro Telhas a responsabilidade pelo pagamento da mão-de-obra executada pela Ross, ora autora, mas seu depoimento não se sustenta diante de elementos documentais, especialmente o e-mail, onde o próprio Julio Prelle afirmou que a negociação envolvia fornecimento de telhas instaladas, ou seja, empreitada global, envolvendo materiais e mão-de-obra.
Dessa forma, a primeira conclusão a ser retirada do contexto probatório é a de que não pode a demandada Vidroforte, pela sua condição de proprietária do imóvel, ser responsabilizada pelo pagamento da mão-de-obra reclamada pela autora, seja de forma solidária, seja subsidiariamente, uma vez que o serviço executado por esta decorreu de sub-empreitada realizada exclusivamente com a demandada Euro Telhas.
Presume-se que a Vidroforte pagou para a Euro Telhas o valor da empreitada global realizada com esta (fl.189), já que nada em contrário foi arguido nos autos.
A segunda conclusão é de não existe relação negocial ou qualquer acordo de pagamento dos serviços entre a autora e a demandada Vidroforte, de modo que esta, como proprietária da obra, não pode responder por débitos da empreiteira Euro Telhas, perante a prestadora de serviços de cobertura, ora autora, em face de sub-empreitada verbal.
Assim, demonstrado que a empreiteira (Euro Telhas) assumiu, expressamente, a responsabilidade pelo fornecimento dos materiais e instalação do telhado (fl.191), e não sendo suscitada dúvida de que a proprietária-contratante (Vidroforte) adimpliu todas as suas obrigações frente à empreiteira co-demandada, não há o que se falar em legitimidade passiva da dona da obra perante as obrigações assumidas pela empreiteira Euro Telhas em relação a sub-empreiteira/autora.
Acresço.
No contrato de subempreitada, a dona da obra ? no caso, a Vidroforte ? não se obriga perante terceiros, no caso, a autora. É obrigada, tão somente, em relação ao empreiteiro que contratou , ou seja, a apelante.	Comment by Igor souza lima [13]: Comentaria 4Tipos legais envolvidos na argumentação jurídica:Art. 622. Se a execução da obra for confiada a terceiros,a responsabilidade do autor do projeto respectivo, desde que não assuma a direção ou fiscalização daquela, ficará limitada aos danos resultantes de defeitos previstos no art. 618 e seu parágrafo único.	Comment by Igor souza lima [14]: Correlação por exclusão, visto que o empreiteiro assumiu a direção e fiscalização da obra, portanto sua responsabilidade é integral (absoluta) em relação o contrato de subempreitada, considerando-se que o negócio jurídico só obriga as partes envolvidas e em regra não terceiros. 
Por conta dessa segunda relação contratual autônoma entre empreiteiro e subempreiteiro, pelos pagamentos devidos à autora obriga-se a empreiteira, não a dona da obra.
Quanto à forma, o contrato de empreitada (outrora conhecido como contrato de locação de obra), é não solene e consensual, daí porque prescinde de forma específica e se materializa com a simples manifestação de vontade.	Comment by Igor souza lima [15]: Comentaria 5Tipos legais envolvidos na argumentação jurídica:Art. 107. A validade da declaração de vontade não dependerá de forma especial, senão quando a lei expressamente a exigir	Comment by Igor souza lima [16]: Reconhecimento do contrato verbal aplicado a empreitada visto não haver forma definida em lei
Assim sendo, não há porque exigir da parte autora a produção de prova exclusivamente documental quando a empreitada admite, também, prova testemunhal pela sua própria natureza.	Comment by Igor souza lima [17]: Comentaria 6Vide raciocínio do comentário 4, dispensa de obrigatoriedade da apresentação de contrato por escrito
Outrossim, o argumento de que se a Vidroforte ?tivesse efetuado a contratação de uma empreitada por preço global teria realizado o pagamento de um valor fixo à empresa Apelante e não efetuado diversas compras de materiais conforme? (fl. 235) não favorece a recorrente.
A remuneração do empreiteiro pode ser por preço certo ou por medida. Afinal, ?na empreitada de lavor ou de mão de obra o prestador empresa a sua força de trabalho para a obtenção do resultado prático ajustado, submetendo-se ao material e às opções do dono da obra?
. A modalidade de pagamento ajustado entre a Vidroforte e a apelante, repiso, não interfere na compreensão de que entre ambas houve ajuste quanto à empreitada.
Tampouco desnatura o contrato de empreitada o fato de a apelante não ter executado a obra por si, pois o que interessa, nessa espécie de negócio, é a obra a ser executada, podendo a atuação da apelante, até mesmo, limitar-se ao trabalho intelectual.	Comment by Igor souza lima [18]: Comentaria 7Reconhecimento da tipificação de obrigação de fins do contrato de empreitada e não de meios. Visto as condições intrínsecas do negócio jurídico e a responsabilidade mais ampla da empreitada de lavor com fornecimento de materiais
Ademais, na pactuação entre a autora e a apelante consta que esta é ?responsável pelos materiais confiados a ela para montagem? (fl. 17, grifei), dessumindo-se disso que, de fato, a apelante fornecia material para execução da obra. Mais adiante, todavia, em cláusula sobre as obrigações da recorrente, nota-se que ela estava à frente de ?toda a estrutura de controle e gestão da obra?.	Comment by Igor souza lima [19]: Comentaria 8Idem comentário 4
Por qualquer ângulo que se veja, portanto, a manutenção da sentença, em seus exatos termos, é de rigor.
Por fim, devidamente fundamentada a decisão nas razões de direito e de fato vinculadas ao caso concreto, não há necessidade de análise específica de todos os dispositivos mencionados pelas partes. Contudo, para fins de evitar a oposição de embargos de declaração com intenção única de prequestionamento, consideram-se prequestionados todos os dispositivos constitucionais, legais e infralegais suscitados pelas partes.
Diante do exposto, voto no sentido de NEGAR PROVIMENTO ao recurso.
Ante o resultado do presente julgamento, majoro para R$2.000,00 os honorários advocatícios arbitrados para o patrono da Vidroforte Indústria e Comércio e Ltda. e 20% sobre o valor da condenação os honorários advocatícios arbitrados ao patrono da parte autora, conforme art. 85, § 11º do CPC.
Des.ª Jucelana Lurdes Pereira dos Santos - De acordo com o (a) Relator (a).
Des. Ergio Roque Menine (PRESIDENTE)
Acompanho a insigne Desembargadora em relação à solução apontada para o caso dos autos.
As provas carreadas ao feito corroboram o fato de que a parte autora foi contratada pela ré Euro Telhas Indústria e Comércio Ltda. (mediante sub-empreitada) para o fim de realizar a cobertura de pavilhão da empresa Vidroforte Indústria e Comércio de Vidros S/A, sem que tenha havido a devida contraprestação (pagamento integral do valor acertado).
Nestes termos, mostra-se acertada a manutenção da decisão recorrida ? que condenou a ré Euro Telhas ao pagamento do valor de R$ 180.600,00 (cento e oitenta mil e seiscentos reais) em favor da demandante, a título de serviços de mão-de-obra realizados.
Diante do exposto, voto por negar provimento ao recurso.
DES. ERGIO ROQUE MENINE - Presidente - Apelação Cível nº 70084092634, Comarca de Caxias do Sul: \NEGARAM PROVIMENTO AO RECURSO. UNÂNIME.\
Julgador (a) de 1º Grau: ZENAIDE POZENATO MENEGAT
? CHAVES DE FARIAS, Cristiano; ROSENVALD, Nelson. Curso de Direito Civil - Direito dos contratos, 4ª edição, Ed. Juspodium, p. 807.	Comment by Igor souza lima [20]: Comentário 8 Vale destacar o zelo e cuidado do acordão da 13ª câmara TJRS ao final do acordão destacar os dispositivos legais discutidos acompanhado de um doutrina que fundamenta o raciocino jurídico desenvolvido na decisão 
? Art. 610. O empreiteiro de uma obra pode contribuir para ela só com seu trabalho ou com ele e os materiais.
§ 1 o A obrigação de fornecer os materiais não se presume; resulta da lei ou da vontade das partes.
§ 2 o O contrato para elaboração de um projeto não implica a obrigação de executá-lo, ou de fiscalizar-lhe a execução.
3- ACORDÃO CONTRATO DE COMODATO
Inteiro Teor
ESTADO DO ESPÍRITO SANTO
PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA
GAB. DESEMB - RONALDO GONÇALVES DE SOUSA
29 de outubro de 2019
APELAÇÃO Nº 0003355-91.2015.8.08.0002 - ALEGRE - 1ª VARA
APELANTE :TELEMAR NORTE LESTE S.A
APELADO : MARILIA DE MORAES CASSA
RELATOR DES. RONALDO GONÇALVES DE SOUSA
R E L A T Ó R I O
V O T O S
O SR. DESEMBARGADOR RONALDO GONÇALVES DE SOUSA (RELATOR): APELAÇÃO Nº 0003355-91.2015.8.08.0002
APELANTE: TELEMAR NORTE LESTE S/A
APELADO: MARILIA DE MORAES CASSA
RELATORA: DESEMBARGADOR RONALDO GONÇALVES DE SOUSA
RELATÓRIO
Cuidam os autos de recurso de apelação cível interposto por TELEMAR NORTE LESTE S/A (fls. 167-173V), com vistas ao reexame da r. sentença de fls. 157-161, integrada pela decisão de fls. 204, que, em sede de “Ação de reintegração de posse com pedido de liminar c/c indenização por perdas e danos”, ajuizada por MARILIA DE MORAES CASSA, julgou procedente o pedido autoral, para tornar definitiva a liminar de reintegração de posse concedida (às fls. 39-40) e condenar a requerida, ora apelante, ao pagamento de alugueis pela ocupação irregular do imóvel, a partir de 26/05/2015 (conforme decisão às fls. 204), até a data da efetiva desocupação do imóvel, em valor a ser apurado em sede de liquidação de sentença.
Devidamente intimada, a agravada não apresentou contrarrazões, conforme certidão à fl. 215.
É o relatório.
Vitória, 07 de outubro de 2019.
DESEMBARGADOR RONALDO GONÇALVES DE SOUSA
RELATOR
APELAÇÃO Nº 0003355-91.2015.8.08.0002
APELANTE: TELEMAR NORTE LESTE S/A
APELADO: MARILIA DE MORAES CASSA
RELATORA: DESEMBARGADOR RONALDO GONÇALVES DE SOUSA
VOTO
Conforme brevemente relatado, tratam os autos de recurso de apelação cível interposto por TELEMAR NORTE LESTE S/A (fls. 167-173V), com vistas ao reexame da r. sentença de fls. 157-161, integrada pela decisão de fls. 204, que, em sede de “Ação de reintegração de posse com pedido de liminar c/c indenização por perdas e danos”, ajuizada por MARILIA DE MORAES CASSA, julgou procedente o pedido autoral, para tornar definitiva a liminar de reintegração de posse concedida (às fls. 39-40) e condenar a requerida, oraapelante, ao pagamento de alugueis pela ocupação irregular do imóvel, a partir de 26/05/2015 (conforme decisão às fls. 204), até a data da efetiva desocupação do imóvel, em valor a ser apurado em sede de liquidação de sentença.
Esclareço, ab initio, aos Eminente Pares, os contornos que identifiquei mais relevantes na presente controvérsia judicial.
A autora/recorrida ajuizou ação de reintegração de posse, alegando, em resumo, que é proprietária de um terreno, situado no lugar denominado “Morro do Cemitério”, no distrito de Anutiba, em Alegre/ES, celebrando com a recorrente um contrato de comodato, com prazo de validade de 10 (dez) anos, contados a partir do dia 03 de junho de 1996 e findando-se em 03 de junho de 2006. Na data prevista para o fim do contrato, não houve denúncia do mesmo, motivo pelo qual houve a prorrogação automática por tempo indeterminado.
Desse modo, afirma que, em se tratando de comodato, e não tendo mais interesse em manter o contrato, a autora se valeu de Notificação Judicial (nº 0002869-43.2014.8.08.0002) assinalando prazo para a requerida desocupar o imóvel, mas que a requerida/recorrente, contudo, permaneceu inerte, ocupando o imóvel.	Comment by Igor souza lima [21]: Comentaria 1Tipos legais envolvidos na argumentação jurídica:Art. 473. A resilição unilateral, nos casos em que a lei expressa ou implicitamente o permita, opera mediante denúncia notificada à outra parte	Comment by Igor souza lima [22]: Comprovação da notificação em relação a resilição unilateral, possível visto cumprindo a obrigatoriedade de estabelecer prazo para a desocupação do imóvel 
Requereu, portanto, em sua exordial, a reintegração da posse, com a condenação do réu em perdas e danos, traduzidas no pagamento de alugueis no valor de R$ 3.000,00 (três mil reais) mensais, desde a data de 26 de maio de 2015 até a reintegração da requerente na posse do bem imóvel.	Comment by Igor souza lima [23]: Comentaria 2Tipos legais envolvidos na argumentação jurídica:Art. 582. O comodatário é obrigado a conservar, como se sua própria fora, a coisa emprestada, não podendo usá-la senão de acordo com o contrato ou a natureza dela, sob pena de responder por perdas e danos. O comodatário constituído em mora, além de por ela responder, pagará, até restituí-la, o aluguel da coisa que for arbitrado pelo comodante.	Comment by Igor souza lima [24]: Visto a mora caracterizada, inadimplemento da devolução do imóvel, resta caracterizado a obrigatoriedade de pagar alugueis desde a data do inadimplemento (fim do prazo para desocupar o imóvel) até a efetiva devolução da posse. Ressalvado a cobrança de demais perdas e danos de outra natureza que não a locatícia
Como já mencionado, a decisão de piso, lançada por cópia às fls. 39-40, deferiu pedido de liminar para reintegrar a autora da demanda na posse do imóvel em
questão, concedendo à requerida o prazo de 20 (vinte) dias para a desocupação.
Seguido o “iter” procedimental, o juízo “a quo” proferiu sentença (fls. 157-161), integrada pela decisão de fl. 204, julgando procedente o pedido autoral, para tornar definitiva a liminar de reintegração de posse concedida (às fls. 39-40) e condenar a requerida, ora apelante, ao pagamento de alugueis pela ocupação irregular do imóvel, a partir de 26/05/2015 (conforme decisão às fls. 204), até a data da efetiva desocupação do imóvel, em valor a ser apurado em sede de liquidação de sentença.
Irresignada, a TELEMAR NORTE LESTE S/A, interpôs recurso de apelação (fls. 167-173), buscando a reforma da sentença, pelos argumentos de: (i) impossibilidade de retomada do imóvel, uma vez que o contrato de concessão do serviço público outorgado pela União Federal para o serviço de telefonia móvel está em pleno vigor, sem que a apelada tenha, inclusive, demonstrado a necessidade imprevista e urgente de reaver a posse do imóvel objeto do contrato de comodato; e (ii) a indenização por perdas e danos postulada pela requerente/apelada é meramente especulativa.	Comment by Igor souza lima [25]: Comentaria 3Tipos legais envolvidos na argumentação jurídica:Art. 581. Se o comodato não tiver prazo convencional, presumir-se-lhe-á o necessário para o uso concedido; não podendo o comodante, salvo necessidade imprevista e urgente, reconhecida pelo juiz, suspender o uso e gozo da coisa emprestada, antes de findo o prazo convencional, ou o que se determine pelo uso outorgado.	Comment by Igor souza lima [26]: Visto o caráter do contrato de comodato ter se tornado por prazo indeterminado, há se a necessidade de comprovar a necessidade imprevisto conforme oque preconiza o art. 581 do CC. Porém no caso em tela o prazo convencional foi estabelecido no comodato inicial (contrato), sendo apenas estendido por tempo indeterminado com a sua não renovação o que deu a ele caráter de prazo indeterminado
Traçadas essas premissas, passo à análise das razões recursais.
Segundo dispõe o art. 579 do Código Civil, “comodato é o empréstimo gratuito de coisas não fungíveis. Perfaz-se com a tradição do objeto”. Em geral, conforme observo da doutrina de Carlos Roberto Gonçalves, o contrato de comodato tem natureza intuitu personae, e, por isso, não pode ser cedido a terceiros, bem como, em princípio, deve extinguir-se pela morte do comodatário, “não se estendendo aos seus sucessores, salvo ratificação do comodante ou se o uso ou serviço para o qual foi outorgado não houver terminado”.
Dentre os elementos do contrato de comodato, destaco para a hipótese vertente nos autos, a temporariedade. Até mesmo porque, como ressalta a doutrina, “a entrega gratuita de um bem sem prazo para a sua restituição caracterizaria doação – e não empréstimo”.
Desse modo, a teor do disposto no art. 581 do CC, o prazo para a restituição da coisa pode ser determinado ou indeterminável.
Se o termo for contratualmente determinado, transcorrido o prazo estipulado, a coisa deve ser restituída, sob pena de caracterização em mora do comodatário, sendo que a não devolução do bem no prazo estipulado importa na automática caracterização do esbulho, autorizando a propositura da ação de reintegração de posse pelo comodante.
Por outro lado, no caso em que o termo não é previamente estabelecido, presume-se, quanto à temporariedade, que o empréstimo da coisa deva ocorrer pelo tempo necessário para o uso concedido, não podendo o comodante retomar a coisa antes disso, salvo por necessidade imprevista e urgente. A constituição em mora do devedor, nesse caso, exige a prévia notificação, seja judicial ou extrajudicial, e, somente após a interpelação, é que estará caracterizado o esbulho.
Compulsando os autos, verifico que o imóvel litigioso estava na posse da apelante,
desde 1996, a título de comodato, isto é, empréstimo para uso, a título gratuito, cujo contrato (fls. 19-20) estabelece em sua cláusula terceira o prazo de validade de 10 (dez) anos, “contados a partir de 03 de junho de 1996, podendo, ao seu término, ser prorrogado, se as partes assim convencionarem”. Com efeito, silenciando-se as partes quando do término do prazo de validade, autorizada a prorrogação, por previsão contratual, entendo que a notificação judicial proposta pela comodante em face da comodatária (15-17) cumpriu com o intuito de denunciar o contrato e a intenção de reaver a posse do bem imóvel em questão, perfectibilizando-se o esbulho.
As circunstâncias do presente caso indicam sobremaneira que o comodato foi prorrogado por tempo indeterminado, em razão do decurso do prazo do contrato, até a notificação judicial, de modo que a ocupação pelo comodatário, ora apelante, tornou-se indevida quando do esgotamento do prazo concedido, na via judicial, para a desocupação do imóvel.	Comment by Igor souza lima [27]: Comentaria 3Reforço argumentantíssimo do comentário 4, findo do prazo convencional com a notificação solicitando a devolução do imóvel.
Sendo esse o caso, é jurisprudência pacífica dos Tribunais que, na hipótese de imóvel dado em comodato, em havendo a notificação para a desocupação do bem, a permanência do ocupante caracteriza esbulho passível de ensejar a reintegraçãode posse. Vejam-se, a esse respeito, os seguintes precedentes dos Tribunais:
Processual civil e civil. Agravo no agravo de instrumento. Ação de reintegração de posse. Esbulho possessório. Embargos de declaração.
[…] O esbulho se caracteriza a partir do momento em que o ocupante do imóvel se nega a atender ao chamado da denúncia do contrato de comodato, permanecendo no imóvel após notificado. Precedentes.
(STJ, AgRg no Ag 598.544/SP, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, TERCEIRA TURMA, julgado em 03/08/2004, DJ 23/08/2004, p. 235)
[…] 2. Tratando-se de comodato por prazo indeterminado, para a restituição do bem é suficiente que o comodante notifique o comodatário de sua intenção de extinguir o comodato e reaver o imóvel. 3. Em contrato de comodato de imóvel por prazo indeterminado, descumprido o prazo de desocupação do bem definido na notificação dirigida ao comodatário, resta caracterizado o esbulho possessório e se torna possível a proteção possessória. […] (TJES, Classe: Agravo de Instrumento, 021189001379, Relator : FABIO CLEM DE OLIVEIRA, Órgão julgador: PRIMEIRA CÂMARA CÍVEL , Data de Julgamento: 30/04/2019, Data da Publicação no Diário: 17/05/2019)
[…] 1. - O comodato é o empréstimo gratuito de coisas não fungíveis (Código Civil, art. 579). Se ajustado por prazo indeterminado, a recusa do comodatário, após notificado, a restituir o bem ao comodante, configura esbulho possessório. Em tal circunstância é cabível a concessão de proteção possessória ao comodante que, inclusive, pode ser outorgada liminarmente. […]
(TJES, Classe: Agravo de Instrumento, 024189011133, Relator : DAIR JOSÉ BREGUNCE DE OLIVEIRA, Órgão julgador: TERCEIRA CÂMARA CÍVEL , Data de Julgamento: 26/03/2019, Data da Publicação no Diário: 05/04/2019)
Destarte, em tendo havido a devida notificação para desocupar o bem imóvel objeto do comodato, com a posterior resistência por parte do recorrente, entendo como configurado o esbulho possessório, cabível a proteção possessória à comodante apelada.
Desse modo, não merece acolhimento a tese recursal no sentido de impossibilidade de retomada do imóvel, uma vez que o contrato de comodato foi celebrado entre as partes requerente/apelada e requerida/apelante, não opondo nesta demanda eventual contrato de concessão de serviço público celebrado entre a União e a apelante. Tratam-se a meu ver de relações jurídicas distintas. Admitir que o contrato de comodato tenha vigência enquanto durar a concessão do serviço de telefonia móvel contraria o objeto do contrato objeto da lide, transmutando o em própria doação do bem imóvel, o que não é cabível, por observância aos postulados da bo -fé contratual e principalmente do pacta sunt servanda, de modo que o contrato de comodato celebrado deve ser respeitado.	Comment by Igor souza lima [28]: Comentaria 4Tipos legais envolvidos na argumentação jurídica:Art. 421.  A liberdade contratual será exercida nos limites da função social do contrato.	Comment by Igor souza lima [29]: Determinação da função social do contrato, delimitando a cessão de posse não onerosa (comodato), afastando que este negocio jurídico seria subsidiário de outro (concessão de serviços de serviços públicos)	Comment by Igor souza lima [30]: Comentaria 5Tipos legais envolvidos na argumentação jurídica:Art. 422. Os contratantes são obrigados a guardar, assim na conclusão do contrato, como em sua execução, os princípios de probidade e boa-fé	Comment by Igor souza lima [31]: Argumentação em cima dos princípios da boa fé postulada no artigo 422 do CC e limites da função social do contrato, artigo 421, além do princípio da pacta sunt servanda (o contrato faz lei entre as partes).
No tocante ao pagamento de alugueis pelo comodatário, a partir do recebimento da notificação (26/05/2015, fl. 33V), até a data da desocupação do imóvel, deferida em sentença (fl. 204), o art. 582, do CC, estabelece que o comodatário, constituído em mora, pagará o aluguel ao comodante, ante a não devolução do bem imóvel, a partir da constituição em mora, com a recusa à restituição da coisa emprestada. Assim, ao contrário do que pretende, o pagamento dos alugueis não se deu de modo especulativo ou hipotético, mas decorrente do disposto normativo do Código Civil.
Do quanto exposto, CONHEÇO do recurso de apelação interposto por TELEMAR NORTE LESTE S/A (fls. 167-173V), e, no mérito, NEGO-LHE PROVIMENTO, mantendo incólume a sentença objurgada.
Outrossim, majoro os honorários recursais de sucumbência de 10% (dez por cento) para 15% (quinze por cento) sobre o valor da condenação, com fulcro no art. 85, § 11, do CPC.
É como voto.
Vitória, 07 de outubro de 2019.
DESEMBARGADOR RONALDO GONÇALVES DE SOUSA
RELATOR
O SR. DESEMBARGADOR JULIO CESAR COSTA DE OLIVEIRA : Voto no mesmo sentido
O SR. DESEMBARGADOR TELEMACO ANTUNES DE ABREU FILHO : Voto no mesmo sentido
OBS: Vale destacar que em tal julgado a matéria do direito material discutido é, em apertada síntese, se a não renovação tácita do contrato e consequente transformação em contrato de comodato por tempo indeterminada modifica a contagem inicial do prazo convencionado e a sua quantização. No julgado entendeu-se que a renovação automática não tem influência nesse prazo, não tem efeito suspensivo nem interruptivo e portanto cumprido o prazo de concessão da posso (prazo do contrato de comodato) a resolução poderia ser feita a qualquer tempo, ressalvada a necessidade de notificação prévia, fato esse comprovado nos autos.
Ousamos discordar da posição definida no julgado, vejamos por mais que o contrato após o fim de sua vigência torne-se por tempo indeterminado, tal tempo pode e deve ser objeto de definição judicial, entre os raciocínios jurídicos para tal quantização o mais correto, ao nosso ver, seria a extensão por tempo mínimo do tempo inicialmente acordado.
Reverberando na obrigatoriedade do comodante (proprietário) de notificar o comentário antes do fim do contrato, justificando assim que eventual direito a retomada da posse acarreta consigo uma obrigação, a todo direito cabe uma obrigação, de tomar atitude de solicitação da devolução do imóvel em momento oportuno. 
Portanto com a devida vênia a decisão exposta, entendemos que o estabelecimento de que a qualquer momento após o fim do contrato o comodante possa exigir a devolução do bem é descabida e não respeita o princípio do equilíbrio das obrigações, por mais que trate-se de um contrato não-oneroso há de se considerar a necessidade da segurança jurídica dos negócios e uso do comodatário. 
Por fim expomos que tal discussão transpõem o direito material, mais especificamente o direito Civil, interligando-se ao direito processual civil e constitucional, destacando que a resolução de tal tema pode ser pacificado no estabelecimento de prazo para o comodante solicitar a restituição do bem após o término do fim do contrato, pseudo suspensão/transição do contrato de tempo determinado para tempo indeterminado. 
Vale destacar que defendemos que o respeito mínimo ao contrato por tempo indeterminado deva ser do mesmo tempo do constante do contrato por tempo determinado, e que durante tal vigência mínima haveria obrigatoriedade de caracterização do disposto no art. 581 do CC, qual seja, necessidade da comprovação de fato imprevista e urgente do comodante na retomada da posse.

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