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Gestão de distribuição logística Gestão de estoques Material Teórico Responsável pelo Conteúdo: Profa Ms Giovana Gavioli Revisão Textual: Profa Ms. Fatima Furlan 5 • Custo de estoque • Responsividade e eficiência na gestão de estoques • Tipos e classificações de estoque • Gerenciamento de estoque • Classificação ABC • Resumindo • Estoques: definição e estratégias • Estratégias de estoque • Estoque e armazenagem Gestão de estoques Nesta unidade veremos diversos aspectos da Gestão de Estoque. Iniciaremos com seu conceito e tipologias e passaremos para uma análise dos principais custos e estratégias na gestão de estoques. Veremos também os principais indicadores de desempenho utilizados para orientar as decisões de estoque, que se relacionam com os conceitos de trade-off, nível de serviço, responsividade e eficiência nas operações. Vamos iniciar esta unidade assistindo ao vídeo disponível no cenário da prática que dá uma visão geral sobre a Gestão de Estoques. Logo em seguida, leia o conteúdo teórico, que auxiliará no acompanhamento da vídeoaula, que deve ser assistida na sequência. Programe-se para realizar as atividades de sistematização dentro do prazo e participe da discussão no fórum cujo tema é responsividade e eficiência. Se tiver alguma dúvida, além de entrar em contato com o seu tutor, você pode reler o material teórico e assistir à aula narrada para lembrar-se dos principais conceitos vistos na unidade. 6 Unidade: Gestão de estoques Contextualização Nesta unidade vamos explorar diversos aspectos da Gestão de Estoques. Para se familiarizar sobre o assunto, assista ao vídeo: http://www.youtube.com/watch?v=rmQnVTLwc3E Nele, você conhecerá os principais temas da gestão de estoques, seus impactos nos custos da empresa, o papel dos estoques, lotes, frequência de pedidos e outras abordagens que serão mais aprofundadas no conteúdo teórico. 7 Introdução O dia a dia de qualquer empresa sofre influência de diversos fatores, também chamados de variáveis. Falhas de fornecedores, mudanças na economia, ações da concorrência e alterações nos volumes de compra de seus consumidores caracterizam diversas incertezas com as quais a empresa deve lidar em sua operação. Organizações que têm como objetivo principal garantir um ótimo nível de serviço aos seus clientes e garantir a sua disponibilidade de produto e serviço optam por manter materiais, sejam eles matérias-primas ou produtos acabados, em estoque. Veremos nesta unidade quais as principais estratégias de estoque utilizadas pelas empresas assim como seu gerenciamento e controle, por meio de indicadores de desempenho que auxiliam na tomada de decisão e na redução dos custos. Estoques: definição e estratégias Sabemos que: Diálogo com o Autor “A demanda é a possível aquisição do produto por parte do consumidor, em determinado período e a determinado preço”. (TAYLOR, 2005, p.25) Podemos identificar que a definição de demanda traz a palavra “possível” com relação à aquisição, seja de produto ou de serviço, por parte do consumidor. Essa incerteza com relação à efetiva aquisição do consumidor é o que gera a necessidade de manter materiais guardados, ou seja, em estoque. Portanto: Diálogo com o Autor Slack (2002, p.20) define: “Estoque é a acumulação armazenada de recursos materiais em um sistema de transformação” Manter materiais em estoque significa estar pronto para as incertezas da demanda que, quando efetivada, poderá ser atendida de acordo com as necessidades do cliente, ou seja: · Na quantidade correta; · Na hora certa; 8 Unidade: Gestão de estoques · No prazo desejado; · Com a qualidade especificada e; · Ao preço que o consumidor esteja disposto a pagar. Os estoques também auxiliam a empresa na prevenção contra incertezas, não somente da demanda, mas também por parte do fornecimento. Crises de abastecimento, falência de um fornecedor e até mesmo catástrofes naturais podem prejudicar a obtenção de produtos no mercado. Ao manter estoques, a empresa se protege contra essas flutuações e pode conseguir manter um nível de serviço de excelência para seus consumidores, obtendo, assim, vantagem competitiva. Mesmo com um método preciso de previsão de demanda ou contratos de volumes fixos com seus fornecedores, entre outras práticas, que poderiam reduzir a incerteza, muitas empresas preferem ter estoques, para evitar impactos de variáveis como alterações na economia, problemas produtivos, ações dos concorrentes, entre outros. Neste caso, a empresa deve analisar e pesar as vantagens e desvantagens em se possuir um estoque. Veja os fatores a serem considerados na Tabela 1: Tabela 1: Vantagens e desvantagens do estoque Vantagens Desvantagens · Oferecimento de melhor nível de serviço ao cliente, atendendo às suas necessidades prontamente; · Maior flexibilidade para mudanças ou alterações de itens no pedido, mantendo as mesmas datas de entrega; · Redução de custos de transporte e distribuição tanto interna quanto externa; · Redução de compras emergenciais, usualmente mais caras. · Custo em material que não proverá rendimento (dinheiro fica parado aguardando a sua venda efetiva); · Estoques podem encobrir problemas mais graves como problemas na área produtiva ou de qualidade; · Ocupação de grandes espaços e gastos; · Riscos de obsolescência e deterioração dos materiais, tanto em termos físicos (produtos perecíveis) como em tecnologia. Fonte: Adaptado de Ching (2010) Cabe à empresa estudar cuidadosamente as vantagens e desvantagens e optar por manter materiais em estoque ou não mantê-los. Esta decisão pode ser chamada de trade-off e definida pela figura 1. Você Sabia ? O trade-off ou troca compensatória significa um balanço de fatores não acessíveis ao mesmo tempo, se caracterizando uma ação compensatória, na qual qualquer sentido provoca melhoria de uma variável em detrimento de outra. Veja mais em: http://wmsalogistica.wordpress.com/2012/09/19/ trade-off-logistico/ 9 Figura 1: Troca compensatória nas decisões de estoque. Fonte: Elaborada pela autora. Podemos avaliar na figura 1 o trade-off em estoques analisando as duas metas de uma empresa. Por um lado, ela deve aumentar o seu capital de giro, o que pode ser alcançado com a redução de custos, e por outro, a empresa deve proporcionar um ótimo nível de serviço aos seus clientes, por meio do atendimento no prazo certo, quantidades corretas etc. como já comentamos no início. O levantamento dessas informações e a opção pela manutenção de produtos em estoque podem abranger diversos tipos de materiais. Tipos e classificações de estoque A empresa pode optar por manter diferentes tipos de materiais em estoque, dependendo de sua avaliação de trade-off e das características de fornecimento e demanda e suas incertezas: · Estoque de matérias-primas: empresas que tem uma grande incerteza no fornecimento podem optar por manter estoques de matérias-primas a serem utilizadas na sua produção. Outra estratégia para este tipo de estoque também é a diminuição do custo, uma vez que estoques de matérias-primas, em geral, são mais baratos que estoques de produtos já industrializados. Esse tipo de estoque também serve para serviços. Um restaurante, por exemplo, mantém um estoque de matérias-primas que servirão para a preparação de seus pratos. · Produto em processo: também conhecidos como estoques WIP (Work in Progress), os materiais desse tipo já passaram por parte do processo produtivo e aguardam entre seus estágios até que possam ser considerados produtos acabados. O mesmo vale para os restaurantes que, além das matérias-primas, mantém alguns tipos de molhos prontos ou carnes pré-assadas que serão somente misturadosno prato final, depois de efetuado o pedido do cliente; 10 Unidade: Gestão de estoques Explore Você sabia que a postergação, também conhecida como postponement, se relaciona com a industrialização exclusivamente de produtos em processo. Ela consiste, por exemplo, em realizar a montagem final de produtos cujas peças já estejam produzidas; costurar etiquetas de produtos têxteis que serão encaminhados para diferentes lojas; adicionar manuais de instrução em diferentes línguas, dependendo de qual país tenha sido comprado. Saiba mais em: https://www.metodista.br/revistas/ revistas-unimep/index.php/cienciatecnologia/article/viewFile/992/677 · Produtos acabados: estoque de materiais prontos, industrializados, ou seja, que já passaram por todo o processo produtivo e ficam estocados até que a compra seja efetivada pelo consumidor final. Roupas, eletroeletrônicos, calçados, joias, são exemplos de produtos acabados. De forma geral, o custo de estoque de produto acabado é maior que o de matéria-prima ou produto em processo, pois ao custo do produto, adicionam- se os gastos produtivos como salário dos trabalhadores, gastos com máquinas, custos com finalização e acabamento do material, entre outros. · Peças de manutenção: também considerado como um tipo de estoque, o estoque de manutenção possui itens que não fazem parte do produto acabado, mas que contribuem para seu processo produtivo, como lubrificantes, peças para manutenção de máquinas, produtos para limpeza etc. · Estoque em trânsito: produtos (matéria-prima ou produto acabado) que ainda estejam em deslocamento para a empresa ou dela para seus clientes são considerados como estoques em trânsito e devem também ter seus custos computados pela gestão de estoques. · Estoque em consignação: o estoque em consignação pode ser qualquer um dos tipos anteriores (matéria-prima, produto em processo ou produto acabado). Sua principal característica é que ele está localizado nas dependências de outra empresa, mas sua posse ainda é da empresa fabricante. Como exemplo, um atacadista pode manter estoque da empresa fabricante em consignação que, caso não seja comercializado, pode ser devolvido à empresa fabricante, após o período combinado entre as empresas. Independente de seu tipo, ao optar por manter estoques, a empresa aumenta seus custos, contudo proporciona melhores resultados de atendimento aos clientes, ou seja, no nível de serviço. É uma decisão estratégica a ser realizada pela empresa, principalmente quanto à avaliação do que efetivamente compõem os custos, como veremos a seguir. 11 Custos de estoque Entendemos que a análise de custos é muito importante para a empresa que deseja optar pelo estoque. Vamos entender que custos são estes, conforme tabela 2: Tabela 2: Custos de Estoques Custos Descrição Custos de materiais Valor dos materiais estocados na empresa, em consignação ou em trânsito. Custos de pessoal Custo mensal de toda a mão-de-obra envolvida na atividade de estoques (manutenção, controle e gerenciamento) inclusive encargos trabalhistas. Custos de equipamentos e manutenção São as despesas mensais para manter estoques, incluindo a depreciação dos equipamentos, máquinas e instalações e despesas a eles associados. Custos de Edificação Refere-se ao custo anual do m2 de armazenamento. Custo de Oportunidade Contabilização do valor investido em estoques que poderia render se alocado no mercado em ações ou em investimentos. Custos de Pedido São custos fixos e variáveis referentes ao processo de emissão de um pedido. Os fixos são os salários do pessoal envolvido na emissão dos pedidos e as variáveis estão nas fichas de pedidos e nos processos para envio de solicitações aos fornecedores. O custo de pedido está diretamente relacionado com o volume das requisições ou pedidos que ocorrem no período. Custos de Falta No caso da falta do produto, falha no atendimento do prazo de entrega ou do pedido pode ocorrer multas ou até o cancelamento do pedido, reduzindo o volume de vendas e prejudicando a imagem da empresa. Este problema acarretará um custo elevado e de difícil medição relacionado com a recuperação da imagem e confiabilidade da empresa. Fonte: Elaborada pela autora Os custos de materiais, pessoal, equipamentos, manutenção e de edificação são considerados como custos para a realização dos processos de Armazenagem e Movimentação de Materiais. Para que esses processos sejam realizados eles demandam enormes espaços físicos, controles com sistemas de armazenagem e equipamentos de movimentação. Também devem ser adicionados custos relativos aos impostos e seguros contra incêndio e roubo. Diversos autores de armazenagem na logística estimam que esses gastos representem aproximadamente 25% do valor médio dos produtos em estoque. Estratégias de estoque Caso a empresa, mesmo após a avaliação dos custos, opte por manter produtos em estoque, ela poderá adotar algumas estratégias: · Estoque Pulmão: esse tipo de estratégia transforma o estoque em regulador do fluxo 12 Unidade: Gestão de estoques logístico. Neste caso, ele funciona como um amortecedor das incertezas, reduzindo a influência das variáveis da oferta e da demanda. · Estoque Especulativo: o estoque especulativo é utilizado por empresas que operam como agentes financeiros, adquirindo produtos quando os preços estão em baixa, para vendê- los quando os preços estiverem em alta. Para esse tipo de estoque é necessário que a empresa conheça muito bem o seu mercado de atuação e tenha uma visão antecipada dos acontecimentos. · Estoque Estratégico: é realizado quando existe algum risco de caráter extraordinário, o estoque pode assumir a função de uma resposta contingencial, reduzindo o impacto da falta de oferta. Por exemplo, em caso de cheias ou geadas, que impactam na produção agrícola, a empresa pode realizar um estoque estratégico para evitar seu desabastecimento. A sazonalidade de determinados produtos também impacta na estratégia de estoques da empresa. Produtores de biquínis, por exemplo, podem iniciar sua fabricação na época de inverno para que suas peças fiquem prontas para a época de verão. Saiba mais sobre sazonalidade e seus impactos da oferta e na demanda em: http://www. youtube.com/watch?v=y83HVE9eqF0 Gerenciamento de estoque Manter materiais em estoque exige que a empresa tenha um bom sistema de gerenciamento, controlando suas operações com diversos indicadores. Você Sabia ? O indicador é uma medida, geralmente quantitativa, aplicada como forma de se obter um significado dos elementos observados e captar informações que podem ser úteis para as decisões da empresa. A gestão de estoques conta com indicadores específicos da área, aplicados em forma de fórmulas e gráficos. Os principais indicadores e suas fórmulas são: - Emax = ES + Q onde Emax = estoque máximo; ES = estoque de segurança, Q = lote de compra. - EM = ES + Q/2 onde EM = estoque médio; Q = lote de compra. O estoque médio também pode ser calculado pela fórmula: (EI+EF)/2 onde EI = estoque inicial; EF = estoque final. - PP = (TA x D) + ES onde PP = ponto de pedido; TA = tempo de atendimento (lead time); D = demanda. 13 - N = D / Q onde N = número de pedidos; D = demanda; Q = lote de compra. - IP = 1/N onde IP = intervalo entre pedidos; N = número de pedidos. A fórmula do intervalo entre pedidos resulta em anos, semestres, meses ou dias. Pense Vamos aplicar os indicadores de estoque? Leia o problema abaixo e acompanhe a resolução: O material A115 é comprado pela Indústria de Materiais SP. Sua demanda é de 500 unidades por mês e a empresa determinou que se mantivesse 80 unidades como estoque de segurança. O lote de compra do fornecedor é de 2.000 unidades e o tempo de entrega é de cinco dias úteis. Pede-se determinar os indicadoresde estoque correspondentes, para um mês com 20 dias úteis. A partir do problema proposto, temos que calcular: Emax, EM, PP, N e IP. Para calcular o Emax, temos: Emax = ES + Q Sabemos que o estoque de segurança é de 80 unidades e que o lote de compra é de 2000 unidades, portanto: Emax = 80 + 2000 = 2.080 unidades Para o EM, temos: EM = ES + Q/2 EM = 80 + 2000/2 Primeiro dividimos o lote de compra por um e depois somamos ao estoque de segurança, portanto: EM = 80 + 1000 = 1.080 unidades Para calcular o Ponto de Pedido (PP), temos a fórmula: PP = (TA x D) + ES É importante destacar que, para a correta resolução das fórmulas, todas as informações devem estar na mesma medida, portanto, para a fórmula de Ponto de Pedido, temos que transformar a demanda dada no problema (500 unidades/mês) em dias, já que o tempo de atendimento é dado em dias (cinco dias). O inverso também poderia ser feito, ou seja, transformar o tempo de atendimento proporcionalmente dentro do mês. Para a resolução, a primeira proposta foi realizada e a fórmula ficou preenchida conforme abaixo: PP = (5 x 25) + 80. Perceba que a demanda está 25, ou seja, 500 dividido por 20 (dias úteis indicados no problema). PP = 205 unidades, ou seja, quando o meu estoque estiver em 25 unidades, devo emitir um novo pedido ao meu fornecedor. 14 Unidade: Gestão de estoques Agora vamos calcular N e IP: N = D / Q N = 500/2000 N = 0,25 IP = 1/N IP = 1/0,25 IP = 4 Interpretando os resultados, entendemos que, como a demanda é de 500 unidades/mês e o lote de compra é de 2000 unidades, a cada novo lote de compra, a empresa tem estoque para quatro meses de consumo. Portanto, o meu intervalo entre pedidos, será de quatro meses. Todos os indicadores de estoque podem ser representados por um gráfico, conhecido como gráfico dente de serra, veja a figura 2: Figura 2: Gráfico dente de serra. Fonte: Adaptado de Ching (2010). O gráfico nos mostra a ação de todos os indicadores no controle de estoque, representando o estoque máximo (Emax), os lotes de compra no primeiro, segundo e terceiro mês (Q1, Q2 e Q3), a demanda (D1, D2 e D3) e sua ação no lote de compra, reduzindo gradativamente. Também podemos ver o estoque médio (Em), o ponto de pedido (PP) e o estoque de segurança (ES). Abaixo podemos identificar os indicadores de tempo com o tempo de atendimento (TA), que representa o lead time do fornecedor e o intervalo entre pedidos (IP). 15 No exemplo dado, vimos que o estoque de segurança e o lote de compra já estavam estabelecidos, mas como a empresa chega nesses valores? Vamos entender: O estoque de segurança consiste em uma quantidade adicional de produtos adicionada ao estoque, visando minimizar as diferenças de entrega que possam ocorrer. Para estabelecer o volume de produtos no estoque de segurança, a empresa deve fazer uma análise cuidadosa da demanda da empresa assim como da frequência de entrega de seus fornecedores. Logicamente, o estoque de segurança também representa custos para a empresa, portanto ela deve manter apenas o suficiente para garantir o nível de serviço desejado e não aumentar demasiadamente seus custos. Vamos calcular o estoque de segurança de uma empresa que tem os seguintes registros de demanda: - 1º mês: 3.000 cadeiras - 2º mês: 3.200 cadeiras - 3º mês: 3.100 cadeiras Caso a empresa opte por manter sempre a demanda do primeiro mês em estoque (3.000 cadeiras), ela corre o risco de não conseguir atender as demandas do 2º e do 3º mês. Portanto, ela deve manter estoques de segurança a fim de garantir a sua disponibilidade de produtos. A empresa, então, pode realizar uma média entre os meses de demanda: - 3.000 + 3.200 + 3.100 = 9.300, dividido por 3 meses = 3.100 Deverão ser mantidas as 3.000 peças em estoque, mais um estoque de segurança de 100 peças, todo mês. Percebemos que, com este valor, seria possível atender às vendas dos três meses indicados. Muitas empresas também optam pela adoção de um percentual único, por exemplo, 5% da demanda, como estoque de segurança. Deve-se ter uma visão bem clara do comportamento das vendas para que a empresa não tenha custos desnecessários. Além do estoque de segurança, a empresa também pode determinar o Lote Econômico de Compra, ou LEC. Ela indica o tamanho do lote a ser comprado do fornecedor, considerando o trade- off entre os custos de manter os produtos em estoque e os custos de processamento de pedido, transporte e outros que vimos anteriormente. Segundo Vieira (2009, p.191), o tamanho do lote econômico de compra deve ser o objetivo principal a ser buscado para a formação dos estoques. A fórmula do LEC é dada por: LEC = 2. CA. DA CMA.VUP Onde: LEC = tamanho do lote econômico de compras em unidades; CA = custo de aquisição (processamento do pedido); 16 Unidade: Gestão de estoques DA = demanda anual em unidades; VUP = valor unitário do produto (do item); CMA = custo de manutenção anual do item em percentual (%). Vamos aplicar a fórmula do LEC, pensando no produto cadeira e a tinta utilizada em sua produção, veja os parâmetros: - Preço de venda por cadeira = R$120,00 - Lucro = 20% - Tinta utilizada = 200 ml por cadeira ao custo de R$35,00l - Demanda anual = 36.500 unidades Vamos calcular: - CA = 200 ml (0,2 litros) à R$ 35,00 o litro = 35 * 0,2 = R$ 7,00 de tinta por cadeira. - DA = 200 ml (0,2 litros) para uma demanda de 36.500 cadeiras = 36.500*0,20 = 7.300 litros de tinta por ano. - VUP = R$ 120,00 * 20% lucro = R$ 24,00 de lucro = 120-24 = R$ 96,00 de valor unitário do produto (sem os lucros). - CMA = R$ 7,00 (CA) / R$ 96,00 (VUP) = 0,072917 ou 7,2917% de custo de manutenção. Jogando os valores na fórmula, temos: LEC = √ 2 *7*7300 0,072917*120 LEC = 108,0738 litros de tinta Se soubermos que a produção diária de cadeiras é de 100 unidades/dia. Temos: - 0,2 (litros por cadeira)* 100 = 20 litros por dia - 108,0738 / 20 = 5,4036905 dias, ou seja, o meu lote econômico de compra dura para uma produção de, no mínimo, 5 dias. A partir do cálculo do estoque de segurança e do lote econômico, as demais definições e quantidades a serem mantidas em estoque podem ser mais bem estabelecidas pela empresa. O LEC também auxilia a empresa a negociar contratos com seus fornecedores, por exemplo, pelo cálculo da DA, sabemos que teremos que comprar de nosso fornecedor de tintas, 7.300 litros por ano. Com esta informação, poderemos fazer um contrato anual de compra, que poderá trazer benefícios e descontos na aquisição de produtos, ao melhor custo de estoque e disponibilidade de material. Outro indicador também muito utilizado para o gerenciamento de estoques é o giro de estoques, que identifica a quantidade de vezes, em determinado período, que o estoque da empresa é vendido. Seu resultado é dado em giros e ele tem a seguinte fórmula: 17 Giro de estoques = Quantidade ou valor consumido no período Quantidade ou valor de estoque médio no período Vejamos um exemplo: Se o estoque médio de uma produtora de farelo de trigo é de 400 sacas e esta empresa vende 3.600 sacas ao ano, qual o seu giro? Giro de estoque = 3.600 / 400 = 9 giros ao ano Veja na tabela 3 o cálculo de giro de estoque, em valores: Tabela 3: Giro de estoque. Mês EI Entradas Saídas EF EM Giro Abril 73.804,40 303.457,00 295.902,50 81.358,90 77.581,65 3,81 Maio 81.358,90 265.856,00 301.845,12 45.369,78 63.364,34 4,76 Junho 45.369,78 345.965,00 248.204,56 143.130,22 94.250,00 2,63 Fonte: elaborada pela autora. Para o cálculo do estoque médio foi utilizada a fórmula: (EI+EF)/2. e o valor das saídas foi dividido pelo estoque médio. Podemos perceber que no mês de Maio, o giro de estoque foi melhor que nos outros meses, com um resultado de 4,76,calculado da seguinte forma: 301.845,12 / 63.364,34 = 4,76 Responsividade e eficiência na gestão de estoques Você já ouviu a frase: “Estoque é dinheiro parado”? Não deixa de ser verdade, como vimos no item Custos, mas a decisão de se manter estoques é mais profunda. Ela tem base na análise de eficiência e responsividade da empresa. Você Sabia ? Efciência significa o cumprimento de padrões, regras e determinações no tempo e da forma correta, gastando somente o necessário para que estes objetivos sejam realizados. Responsividade é a habilidade em atender ao cliente com uma grande variedade de produtos e um nível de serviço cada vez mais alto. Fisher (1997) discute em seu artigo a influência dos diferentes perfis de demanda dos produtos e a estruturação das estratégias da empresa para os diferentes segmentos. Desta forma, a característica da demanda é que determinará como as estratégias deverão ser montadas. O autor afirma que, para produtos de demanda previsível, com ciclo de vida longo e baixa variedade, a empresa necessita possuir estratégias de suprimento que se relacionem à eficiência com que o produto ou serviço são realizados, priorizando a redução de custos, para conseguir preços mais competitivos. Para produtos com demanda imprevisível, ciclo de vida curto e grande variedade 18 Unidade: Gestão de estoques de produtos, a empresa deve priorizar a flexibilidade e agilidade no atendimento às demandas inconstantes dos clientes, de forma a atendê-los rapidamente, mesmo que a um custo maior que seu concorrente. Então a pergunta central para definir o que, como e quanto ter em seus estoques é: a operação da minha empresa deve prezar pela eficiência ou pela responsividade? A figura 3 traz alguns exemplos de como as empresas incorporam tais decisões em suas cadeias: Figura 3: Eficiência e responsividade. Fonte: Adaptada de Chopra e Meindl (2011). Para Pensar Reflita sobre outros exemplos de como a eficiência e a responsividade podem afetar a organização da cadeia de suprimentos da empresa. Como empresas eficientes podem organizar seus estoques e como isso difere das empresas responsivas? Discuta em um fórum com seus colegas. Vimos diversos aspectos relacionados à estocagem de materiais, mas devemos também pensar em sua gestão e em como fazê-la da melhor forma e ao menor custo. É neste cenário que entra a Armazenagem. Estoque x armazenagem Muitas pessoas confundem estoque com armazenagem. Já sabemos que o estoque é: “a acumulação armazenada de recursos materiais em um sistema de transformação”. Slack (2002, p.20). Já a armazenagem: 19 Diálogo com o Autor Armazenagem “é a denominação genérica e ampla que inclui todas as atividades de um ponto destinado à guarda temporária e à distribuição de materiais (depósitos, almoxari¬fados, centros de distribuição, dentre outros)” (MOURA, 1997, p.4). A partir do momento em que a empresa define que manterá produtos em estoque, caberá à armazenagem a sua administração e estratégias para a gestão. Vimos diversos aspectos relacionados à estocagem de materiais, mas devemos também pensar em sua e em como fazê- la da melhor forma e ao menor custo. É neste cenário que entra a Armazenagem. O armazém é responsável pela guarda e gestão dos skus de uma empresa. A armazenagem possui diversas rotinas como: · Recebimento; · Classificação de Materiais; · Lançamento de entrada no sistema; · Transferência e Movimentação; · Armazenagem em prateleira, estantes, tanques, estrados ou pátio; · Controle de Estoque; · Picking – Separação; · Inventário. Você Sabia ? São definidos como SKUs (Stock Keeping Unit) os itens estocados em um armazém. Também são conhecidos como códigos de produtos, referências ou part numbers. Uma das principais tarefas da armazenagem é a classificação dos itens. A mais comumente utilizada é a classificação ABC. Essa classificação foi criada com base na classificação de Pareto, também conhecida como 80/20. Vilfredo Pareto foi um sociólogo e engenheiro italiano que viveu entre 1842 e 1923. Pareto dedicou-se a estudar a renda da população. Seus estudos indicaram que 20% da população detinham 80% da renda e 80% da população detinham 20% da renda. Esta regra, a 80/20 recebeu várias aplicações e desdobramentos, como a classificação ABC, que é aplicada não somente quanto à distribuição de renda, mas também nas áreas de marketing, produção, demanda e também na armazenagem. 20 Unidade: Gestão de estoques Reflita Você consegue traçar um paralelo entre a teoria elaborada por Pareto e os dias de hoje? É interessante identificar que, ainda nos tempos atuais, a distribuição de renda da população continua desigual. Classificação ABC Como a regra 80/20 de Pareto, a classificação ABC tem como objetivo identificar os itens que possuem maior representatividade no faturamento da empresa, comparativamente aos que possuem menor representatividade. A classificação ABC considera os valores de faturamento da empresa e possui o seguinte passo a passo para sua realização: Passo 1: coleta de dados da empresa que podem ser manualmente ou via sistemas de informação, identificando o item, seu valor unitário e sua quantidade consumida ou projetada no período. Veja no exemplo abaixo: Material R$ Preço Unitário Consumo anual (unidades) P1 25,00 200 P2 16,00 5.000 P3 50,00 10 P4 100,00 100 P5 0,15 200.000 P6 0,01 100.000 P7 8,00 1.000 P8 2,00 20.000 P9 70,00 10 P10 5,00 60 Passo 2: Cálculo do consumo anual para cada item (multiplicação da quantidade consumida ou projetada no período de um ano pelo valor unitário). Passo 3: Organizar a planilha em ordem decrescente de valor: Material R$ Preço Unitário Consumo anual (unidades) Valor do consumo anual (R$) P2 16,00 5.000 80.000 P8 2,00 20.000 40.000 P5 0,15 200.000 30.000 21 P4 100,00 100 10.000 P7 8,00 1.000 8.000 P1 25,00 200 5.000 P6 0,01 100.000 1.000 P9 70,00 10 700 P3 50,00 10 500 P10 5,00 60 300 Passo 4: Cálculo do valor acumulado de consumo e sua porcentagem: Material R$ Preço Unitário Consumo anual (unidades) Valor do consumo anual (R$) Valor acumulado de consumo % acumulado de consumo P2 16,00 5.000 80.000 80.000 46% P8 2,00 20.000 40.000 120.000 68% P5 0,15 200.000 30.000 150.000 85% P4 100,00 100 10.000 160.000 91% P7 8,00 1.000 8.000 168.000 96% P1 25,00 200 5.000 173.000 99% P6 0,01 100.000 1.000 174.000 99% P9 70,00 10 700 174.700 100% P3 50,00 10 500 175.200 100% P10 5,00 60 300 175.500 100% Para o cálculo do valor acumulado de consumo, deve-se pegar o primeiro valor de venda e somar com os valores seguintes: 80.000 + 40.000 = 120.000, e assim por diante. Para o calculo da porcentagem, divide-se o valor acumulado pelo total de vendas e multiplica- se por 100: (80.000 / 175.500) * 100 = 46% Passo 5: classificam-se os materiais, a partir da divisão dada pela empresa, por exemplo: · Classe A: itens até 75% do valor acumulado de consumo. · Classe B: itens entre 76% e 95% do valor acumulado de consumo. · Classe C: itens de 96% a 100% do valor acumulado de consumo. Esta é uma classificação sugerida, e cada empresa estabelece a sua, dependendo da análise das suas operações. Vejamos o exemplo com a classificação a partir dos valores dados: 22 Unidade: Gestão de estoques Material R$ Preço Unitário Consumo anual (unidades) Valor do consumo anual(R$) Valor acumulado de consumo % acumulada de consumo Classificação P2 16,00 5.000 80.000 80.000 46% A P8 2,00 20.000 40.000 120.000 68% A P5 0,15 200.000 30.000 150.000 85% B P4 100,00 100 10.000 160.000 91% B P7 8,00 1.000 8.000 168.000 96% C P1 25,00 200 5.000 173.000 99% C P6 0,01 100.000 1.000 174.000 99% C P9 70,00 10 700 174.700 100% C P3 50,00 10 500 175.200 100% C P10 5,00 60 300 175.500 100% C Percebemos que somente uma parcela dos produtos representa a classificação A, ou seja, somente os produtos P2 e P8 dão o maior faturamento para a empresa. A classificação ABC auxilia na identificação de itens que merecem maior atenção, já que representam uma parcela importante do faturamento da empresa. É a partir da classificação que a empresa poderá estabelecer estratégias de operação que otimizem a armazenagem dos produtos e reduzam seus custos, trazendo melhores resultados de estoques. Empresas que pretendem gerenciar seu armazém de forma otimizada, em geral utilizam softwares próprios que auxiliam no controle das suas operações, proporcionando maior controle, economia de tempo e, consequentemente, redução de custos. Sugestão de leitura Quer saber mais sobre o WMS e sua utilização nas operações de armazenagem? Leia: http://www.sitedalogistica.com.br/news/por-que-utilizar-um-software-wms-/ Resumindo · Estoque é a acumulação armazenada de recursos materiais em um sistema de transformação (SLACK, 2002). · Os estoques auxiliam a empresa a se prevenir contra incertezas na demanda e no fornecimento, causadas por crises de abastecimento, diferenças na renda da população, alterações econômicas, ações da concorrência, entre outros; · A empresa deve avaliar a diferença entre o custo e o nível de serviço, definindo o trade- off em seus estoques. Por um lado, ela deve aumentar o seu capital de giro, o que pode 23 ser alcançado com a redução de custos, e por outro, a empresa deve proporcionar um ótimo nível de serviço aos seus clientes, por meio do atendimento no prazo certo e quantidades corretas; · Os estoques podem ser de matéria prima, produto em processo, produto acabado, peças de manutenção, estoque em trânsito e estoque em consignação; · Os custos de estoque podem ser de materiais, pessoal, equipamentos e manutenção, edificação, oportunidade, pedido e falta; · As estratégias adotadas pela empresa para seu estoque podem classificá-lo como pulmão, especulativo ou estratégico; · É necessário o uso de indicadores de estoque para controle dos volumes máximos e mínimos que a empresa deve ter em guarda, assim como realizar o monitoramento do comportamento do estoque ao longo de determinado período; · O estoque de segurança, lote econômico de compra e giro de estoques também são muito utilizados para controle dos materiais que a empresa mantenha sob guarda; · O estoque é a acumulação armazenada de recursos materiais em um sistema de transformação (SLACK, 2002), já a armazenagem é a denominação genérica e ampla que inclui todas as atividades de um ponto destinado à guarda temporária e à distribuição de materiais (MOURA, 1997, p.4). · A classificação ABC auxilia na identificação de itens que merecem maior atenção, já que representam uma parcela importante do faturamento da empresa. É a partir dela que a empresa poderá estabelecer estratégias de operação que otimizem a armazenagem dos produtos e reduzam seus custos, trazendo melhores resultados de estoques. 24 Unidade: Gestão de estoques Material Complementar Links interessantes para leitura e aprofundamento do tema Gestão de Estoques: Explore AMARAL, Jessica T.; DOURADO, Laurinda O, Gestão de Estoque. Lins, 17-21 de outrubro, III Simpósio de Educação Unisalesiano. Acesso em 15/06/2014. Disponível em: http://www. unisalesiano.edu.br/simposio2011/publicado/artigo0055.pdf CHING, H. Y., Gestão de estoques na cadeia logística integrada. São Paulo: Editora Atlas, 2010 – Capítulo 1. FERREIRA, K. A; ALCÂNTARA, R. Uma discussão sobre as diferentes classificações da estratégia de postponement. Revista de Ciência & Tecnologia, v. 17, n. 33, p. 53-63, jan./jun. 2012. Acesso em 15/06/2014. Disponível em: https://www.metodista.br/revistas/revistas-unimep/ index.php/cienciatecnologia/article/viewFile/992/677 25 Referências CHING, H. Y. Gestão de estoques na cadeia logística integrada. São Paulo: Editora Atlas, 2010. CHOPRA, S. MEINDL, P. Gestão da cadeia de suprimentos: estratégia, planejamento e operações, 4. ed., São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2011. MOURA, R. Armazenagem: do recebimento à expedição. São Paulo: IMAM, v.2, 1997. SLACK, N. Administração da produção. 2.ed., São Paulo: Atlas, 2002. TAYLOR, D. Logística na cadeia de suprimentos: uma perspectiva gerencial. São Paulo: Pearson, 2005. 26 Unidade: Gestão de estoques Anotações www.cruzeirodosulvirtual.com.br Campus Liberdade Rua Galvão Bueno, 868 CEP 01506-000 São Paulo SP Brasil Tel: (55 11) 3385-3000
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