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Resenha Crítica Parasita e Arquitetura

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COMO PARASITA É ESSENCIAL PARA ENTENDERMOS A ARQUITETURA COMO 
ELEMENTO SOCIAL 
 
Ao compreendermos a influência e relação do ambiente construído com a realidade 
comportamental, econômica e social de seus habitantes através dos tópicos de interesse 
delineados por Herman Hertzberger (1999), também compreendemos como o ambiente pode 
ser construído para a transmissão de ideias filosóficas e críticas à realidade social em obras 
cinematográficas, com o uso de intervalos, demarcações entre os espaços sociais, e até mesmo 
a relação com a rua, seja distante ou próxima ao ambiente privado. Uma perfeita demonstração 
desta interconexão entre cinema e arquitetura e urbanismo é o filme Parasita, originalmente 
lançado em 2019, dirigido por Bong-Joon Ho e ganhador de quatro estatuetas do Oscar 2020. 
Pode-se identificar, no também ganhador da Palma de Ouro no Festival de Cannes de 2019, a 
influência através das moradias das famílias protagonistas, da arquitetura e urbanismo na 
ambientação de um contraste social contemporâneo, ajudando o observador a aplicar esta 
percepção de contraste às próprias cidades, de uma forma que também se alinha a outras obras 
cinematográficas pelo framing fotográfico de fachadas e ambientes interiores. 
Primeiramente, objetivando-se a compreensão dos conceitos de Hertzberger em 
Parasita, pode-se trasladar do ambiente do filme, situado na Coreia do Sul, para a realidade 
brasileira. Apesar da diferença em termos de regionalidades e costumes socioculturais, o filme 
sul-coreano tece paralelos em realidades de todo o globo, principalmente no contexto 
brasileiro. Tomando São Paulo como exemplo, em que a malha rodoviária e de circulação 
veicular interna se intercala com zonas de moradias de alta e baixa classes socioeconômicas, 
edifícios amplos em vidro espelhado contrastam com prédios cujas janelas se enquadram ao 
mínimo exigido pelas normas do Certificado de Operações Estruturadas, específicas para o 
Município de São Paulo. Entre este ambiente e o outro, percebe-se a diferença existente na 
disponibilidade de luz solar e conforto ambiental entre ambas estruturas, tal qual se observa 
em Parasita comparando-se a casa da família Kim – pequena, isolada, com apenas uma janela 
que provê mínima integração entre o interno e o externo, bem como materiais simples – e a da 
família Park (projetada ficticiamente por Namgoong Hyeongja e na vida real pelo cenógrafo 
Lee Ha Jun) – dotada de grandes dimensões, disponibilidade de luz solar e materiais nobres. 
Paralelamente, pensando-se em Belo Horizonte, as habitações exibidas nos prédios dos bairros 
do Centro-Sul, como Savassi, se caracterizam por um uso mais constante de janelas de vidro 
que em regiões distantes do centro cultural e econômico, como Distrito Industrial do Jatobá e 
o Vila Real II. Percebemos, tanto no filme quanto na construção civil real, que a disponibilidade 
de luz solar e ventilação acabam sendo aspectos que podem ser relacionados à renda e classe 
social, em paralelos aos tópicos relacionados a intervalos, demarcações entre espaços sociais e 
a relação com a rua de cada grupo socioeconômico do filme sul-coreano e dos bairros 
supracitados. 
É importante destacar, junto a este contraste demonstrado, a relevância no uso da luz 
solar na construção da ideia de elites e classes baixas socioeconômicas. Em diversas entrevistas 
internacionais, o diretor Bong Joon-Ho declarou que a casa, sendo considerada por ele 
protagonista nestas entrevistas, deveria receber considerável exposição ao sol. Basicamente, 
estabelece-se que quanto mais rico, maior a disponibilidade de luz natural. Esta constatação e 
necessidade levou Lee Ha Jun, que nas mesmas entrevistas reforça ser cenógrafo e não 
arquiteto, a estudar cartas solares com o mapeamento da direção do sol para a construção do 
cenário social demandado. Tece-se um paralelo com Documenta Urbana, de Wohngebäude in 
Kassel, em que a alta disponibilidade de luz natural, as escadas e os corredores amplos criam, 
em conjunto, o contrato social existente entre os elementos residentes da moradia 
(HERTZBERGER, 1999). 
Assim como nos exemplos anteriores, como Documenta Urbana de Kassel, as 
residências belo-horizontinas e as paulistanas, a construção da realidade e da mensagem se faz 
presente nas cenografias de filmes canônicos de vários gêneros, incluindo detalhamentos 
arquitetônicos e enquadramentos fotográficos da mesma moda com que faz Parasita. Por 
exemplo, a visão distópica criada Ridley Scott em Blade Runner (1989) remonta a uma San 
Angeles pós-industrial, estruturalista e futurista. As condições urbanas representadas na 
película, de referências ora pré-colombianas, ora pós-industriais, transparecem na forma de 
medos corporificados em estruturas, fundações e edificações de um mundo cujo capitalismo 
predatório foi capaz de espalhar o caos, o que depende diretamente do enquadramento da 
câmera. Para o filme sul-coreano, tornou-se evidente a integração proficiente entre o ambiente 
construído para o set e o jogo de câmera para a caracterização dos personagens, suas 
personalidades e motivações. 
Esta cenografia, de acordo com o diretor Bong à entrevista com Indie Wire (JOON-HO, 
2019), demandava a construção de blocos arquitetônicos que permitissem a integração entre 
ambientes da mesma forma que ficasse implícito a possibilidade de um personagem fora de 
cena poder estar espiando de outro cômodo. Este aspecto de espionagem serve ao propósito de 
seres parasitas vigilantes, e elementos como o caminho entre a sala de estar e o jardim – 
novamente reforçados e iluminados por conta do uso de amplas janelas de vidro – a caixa de 
escada entre andares, o caminho secreto ao bunker, dentre outros. Ainda de acordo com Lee 
Ha Jun na mesma entrevista (HA JUN, 2019), a adequação do espaço construído foi 
determinada pelo estudo dos ângulos de câmera e vice-versa, tendo sido a criação do set feita 
com base no estudo adaptativo concomitante destes aspectos. Portanto por isso é perceptível a 
grande estima internacional de grandes diretores pela finalização estupenda da obra, tanto em 
termos estéticos quanto em termos de enredo. 
Desta forma, podemos destacar a importância de Parasita, de Bong Joon Ho, não 
somente para a construção de pensamentos críticos de fácil entendimento relativos a 
desigualdades sociais, sendo também uma obra de extrema relevância a estudantes de 
arquitetura e urbanismo ao passo em que fomenta a reflexão acerca de como nosso ambiente 
construído é, ao mesmo tempo, causa e consequência destas desigualdades. O contexto da obra 
é, mais do que nunca, relevante ao contexto atual, visto que seus elementos delineados por e já 
supracitados de Hertzberger (1999) – os intervalos, demarcações entre os espaços sociais, e a 
relação com a rua – facilitam o entendimento de conceitos arquitetônicos como motores das 
nossas relações socioeconômicas. Destaco, ainda, o trabalho impecável de framing fotográfico, 
com técnicas de câmera alinhadas ao ambiente construído que delineiam o foco no sujeito 
parasita e no sujeito hospedeiro da residência Park. Bong Joon-Ho, aliado à maestria de Lee 
Ha Jun em sua cenografia, faz com que Parasita se destaque em relação a seus outros filmes na 
criação desta atmosfera. Sendo assim, cria-se o novo desafio de não somente superar a 
qualidade técnica de Parasita, mas também de mantermos a percepção ativa dos arredores e 
percebermos se os parasitas que vemos no dia-a-dia são causadores do caos ou consequências 
do sistema predatório em que vivemos. 
 
REFERÊNCIAS 
HA JUN, Lee. Building the ‘Parasite’ House: How Bong Joon Ho and His Team Made the 
Year’s Best Set. [Entrevista concedida a] Chris O’Falt. Indie Wire, out 2019. Disponível em: 
<https://www.indiewire.com/2019/10/parasite-house-set-design-bong-joon-ho-1202185829>. 
Acesso em: 16 mai. 2022. 
 
HERTZBERGER, Herman. Lições de Arquitetura. 2. ed. São Paulo: Martins Fontes,1999. 
274 p. ISBN 85-336-1034-3. 
 
JOON-HO, Bong. Building the ‘Parasite’ House: How Bong Joon Ho and His Team Made the 
Year’s Best Set. [Entrevista concedida a] Chris O’Falt. Indie Wire, out 2019. Disponível em: 
<https://www.indiewire.com/2019/10/parasite-house-set-design-bong-joon-ho-1202185829>. 
Acesso em: 16 mai. 2022. 
https://www.indiewire.com/2019/10/parasite-house-set-design-bong-joon-ho-1202185829%3e.
https://www.indiewire.com/2019/10/parasite-house-set-design-bong-joon-ho-1202185829%3e.
	HA JUN, Lee. Building the ‘Parasite’ House: How Bong Joon Ho and His Team Made the Year’s Best Set. [Entrevista concedida a] Chris O’Falt. Indie Wire, out 2019. Disponível em: <https://www.indiewire.com/2019/10/parasite-house-set-design-bong-joon-ho-1...

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