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UNIVERSIDADE SALGADO DE OLIVEIRA LETÍCIA ALENCAR MARQUES N2 600807787 MURILO GOMES SIQUEIRA N2 600781851 SOFYA BRUNA COSTA E SILVA N2 600791941 COOPERAÇÃO PENAL INTERNACIONAL: ANALISE JPURIDICA DO CASO ROBINHO Goiânia, 20 de Maio de 2022 UNIVERSIDADE SALGADO DE OLIVEIRA COOPERAÇÃO PENAL INTERNACIONAL: ANÁLISE JÚRIDICA DO CASO ROBINHO TRABALHO REALIZADO PARA OBTENÇÃO PARCIAL DE NOTA RELATIVO A MATÉRIA DE DIREITO INTERNACIONAL SOB ORIENTAÇÃO DO PROFESSOR PAULO HENRIQUE FARIA NUNES. REALIZADO PELOS ALUNOS: LETÍCIA ALENCAR MARQUES, MURILO GOMES SIQUEIRA E SOFYA BRUNA COSTA E SILVA, DA TURMA N2. Goiânia, 20 de Maio de 2022 INTRODUÇÃO Conforme a tecnologia e a indústria foi evoluindo vimos surgir o fenômeno da globalização, os Estados passaram a se aproximar mais e criar relações mais estreitas, surgindo daí a necessidade de protocolos para que essas relações fossem mais pacíficas, surgindo daí o Direito Internacional. Dentro do direito internacional também existem orientações, acordos e tratados acerca do direito penal. Como exemplo da aplicação do direito internacional no âmbito penal temos um caso que repercutiu muito no Brasil. Por se tratar de pessoa pública envolvida no caso, as teorias acerca das consequências, das possíveis formas de cumprimento de pena, sobre a prisão, houveram muitas analises jurídicas sobre o caso Robinho. De acordo com várias reportagens noticiando o fato, em 2013 o jogador juntamente com alguns amigos dentro de uma boate em Milão, mantiveram relações sexuais com uma mulher em situação de vulnerabilidade causado pelo consumo de bebidas alcoólicas. Crime que no Brasil é classificado como estupro de vulnerável e estupro coletivo, por ter sido praticado em grupo. No presente trabalho faremos análise das possibilidades disponíveis como institutos do direito internacional para que haja punição para tal crime. DESENVOLVIMENTO 1 COOPERAÇÃO PENAL INTERNACIONAL A cooperação jurídica internacional pode ser definida como um esforço conjunto entre as nações para proporcionar justiça aos seus nacionais. As solicitações podem ser feitas sob acordos internacionais, bilaterais ou multilaterais assinados em nível regional ou global e processados por meio de autoridades centrais. Na falta de regulamentação internacional específica, ou na impossibilidade de aplicá-la, a cooperação poderá ser solicitada de forma recíproca, uma vez que a solicitação ultrapasse o escopo de sua regulamentação, caso em que o procedimento será realizado por via diplomática, por intermédio do Ministério das Relações Exteriores. Pode-se dividir em cooperação ativa e cooperação passiva. Sendo a cooperação ativa a cooperação exigida pelas autoridades brasileiras para autoridades exteriores. E a cooperação passiva parte das autoridades estrangeiras para o Brasil. Na prática, os pedidos mais comuns destinam-se à realização de simples atos processuais como intimações, notificações, entrega de documentos ou indicações probatórias como audiências e julgamentos. A extradição e a transferência de presos também são exemplos comuns. 1.1 EXTRADIÇÃO A extradição é um ato diplomático e administrativo, que consiste na entrega de um indivíduo, feito de um Estado a outro. Esse processo ocorre quando a pessoa é suspeita ou condenada pela prática de ato criminoso. Em razão do princípio da Soberania Estatal, entende-se que nenhum Estado possui a obrigação de extraditar um indivíduo que se encontre em seu território. Portanto, cada país pode definir quais regras seguirá quanto a extradição, em quais situações serão cabíveis etc. O Brasil tem previsto no ordenamento a possibilidade de extradição, especificando as situações em que será admitida e até crimes específicos para tal, a Constituição Federal em seu artigo 5°, inciso LI delimita essa possibilidade: “Nenhum brasileiro será extraditado, salvo o naturalizado, em caso de crime comum, praticado antes da naturalização, ou de comprovado envolvimento em tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, na forma da lei;” Portanto, sob nenhuma hipótese é admitido a extradição de brasileiro nato, tendo como obrigação do Estado proteger seus membros. E mesmo os naturalizados, se tiverem cometido crime comum após a naturalização também estão protegidos. Porém o tratamento para o crime de tráfico de entorpecentes ou outras drogas não alcança essa proteção pós naturalização, como observado no inciso. Ainda sobre a extradição, a Constituição Federal também veda o ato se tratando de crime político. Observa-se no art. 5°, inciso LII “não será concedida extradição de estrangeiro por crime político ou de opinião”. Entretanto, na esfera internacional ainda não existe um consenso sobre o que seria crime político, ficando o Estado responsável por analisar a possibilidade ou não no caso concreto. Essa vedação em caso de crime político ocorre porque o Estado acredita que nesses casos, o indivíduo não receberia um julgamento imparcial em seu Estado de origem. 1.2 TRANSFERÊNCIA DE PESSOAS CONDENADAS O Instituto de Transferência de Condenados (TPC) para que cumpram pena de prisão em seu país de origem tem caráter humanitário, buscando possibilitar ao apenado uma maior proximidade com sua família, seu ambiente social e também sua cultura, o que é importante do ponto de vista psicológico e emocional, já que o sistema visa ressocializar o indivíduo após o cumprimento da pena imposta. Apoio emocional é essencial para facilitar essa recuperação após o cumprimento da pena. A ONU (Organização das Nações Unidas) têm destacado a necessidade dessa cooperação, direcionando esforços para difundir propostas de transferência de presos como um método moderno de reeducação para fortalecer as bases da reconstrução pessoal dos presos com vistas a um futuro livre na vida social. A transferência de presos pode ser analisada sob duas perspectivas diferentes: Ativo, quando um brasileiro detido em outro país, já na fase de cumprimento de pena, e depois de já transitada em julgado solicita transferência para presídio em território brasileiro, como já dito, possibilitando a proximidade com seus familiares e ambiente cultural. Ou Passivo, que contraria a situação anterior, ocorre quando um estrangeiro detido em solo Brasileiro solicita transferência para seu país de origem, tendo a possibilidade de retornar ao seu ambiente familiar e cultural e ainda assim cumprir a pena imposta pela justiça brasileira. 2 TRANSFERÊNCIA DE EXECUÇÃO DE PENA: ASPECTOS JURÍDICOS NACIONAIS E INTERNACIONAIS O instituto de Transferência de execução da pena está previsto na lei 13.445/17, em seu artigo n° 100 observados os incisos podemos encontrar que “nas hipóteses em que couber solicitação de extradição executória a autoridade competente poderá solicitar ou autorizar a transferência de execução da pena, desde que observado o princípio do non bis in idem.” Possuindo alguns requisitos como, o condenado ser brasileiro, a sentença ter transitado em julgado, a duração da pena a cumprir for maior de um ano, o fato que originou a sentença ser crime nos dois países envolvidos e houver tratado ou promessa de reciprocidade. Observa-se ainda que o parágrafo único do artigo 100 destaca que não poderá haver prejuízos à lei 2.848/1940, o Código Penal. Ou seja, havendo contradição sobre a matéria, prevalecerá o Código Penal. 3 DA POSSIBILIDADE DO CUMPRIMENTO DE PENA DO JOGARDOR ROBINHO NO BRASIL OU NA ITÁLIA 3.1 BREVE HISTÓRICO DO CASO Por se tratar de figura pública, o caso ficou conhecido rapidamente.Trata-se de crime de estupro cometido por Robinho, jogador de futebol. O crime foi cometido em Milão, no ano de 2013, contra uma mulher albanesa que na época estava comemorando seu aniversário. Na época Robinho jogava pelo time Milan e morava na Itália, outro amigo foi processado junto com ele, Falco, e mais quatro poderão ter as investigações contra eles retomadas já que Robinho e Falco foram definitivamente condenados. Robinho confirma ter tido relações sexuais com a mulher albanesa mas afirma que não houve abuso, e sim uma relação consensual. Ele não compareceu as audiências durante o julgamento, que durou quase seis anos. Em 2017 saiu a sentença em primeiro grau, e em 2020 a sentença em segundo grau mantendo sua condenação em nove anos, a defesa entrou com recurso para o terceiro grau, mas este fora negado, ocorrendo em seguida o transito em julgado. A justiça italiana chegou a um veredicto, Robinho foi condenado a nove anos de prisão, por crime de estupro coletivo, em sentença definitiva já transitada em julgado. Nesse caso, não havendo mais hipótese de reformulação da sentença, inicia-se o processo de execução penal. A partir daí surgem duas hipóteses para o desfecho do caso, a primeira é que Robinho se apresente voluntariamente perante a justiça italiana para cumprir a pena imposta, ou permanecer em solo brasileiro e esperar que os legisladores daqui analisem as possibilidades para o cumprimento de pena em território nacional. 3.2 DA POSSIBILIDADE DA EXTRADIÇÃO Não há o que se discutir quanto a possibilidade de extradição no caso apresentado. Se tratando de brasileiro nato a Constituição Federal veda expressamente e sobre qualquer hipótese a extradição de brasileiro nato. 3.3 DA POSSIBILIDADE DA TRANSFERÊNCIA DE EXECUÇÃO DE PENA Inicialmente é possível observar que o caso cumpre os requisitos presentes nos incisos do artigo 100 da lei de migração. Trata-se brasileiro, condenado no estrangeiro, com sentença definitivamente transitada em julgado, a pena é superior a um ano, o fato que originou a condenação também é considerado crime no Brasil (estupro coletivo), e o Brasil possui Acordo de Cooperação Jurídica em Matéria Penal com a Itália. Mas analisando com cautela observa-se alguns pontos a serem debatidos. A Lei de Migração é bem clara quando diz “Nas hipóteses em que couber solicitação de extradição executória” e ainda sobre “sem prejuízo do disposto no decreto lei n° 2.848 de 7 de Dezembro de 1940” que é o nosso atual código penal. Levando ainda em consideração os artigos e previsões disponíveis no acordo entre o Brasil e a Itália É possível entender melhor sobre a possibilidade da transferência de execução da pena no caso concreto do jogador Robinho. Apesar de cumprir a maioria dos requisitos presentes no artigo 100, o detalhe que muda completamente a possibilidade de incidência do instituto da transferência de execução da pena, está no fato de que este se aplica nas hipóteses em que couber solicitação de extradição executória. Como já visto, a extradição está sim prevista na Constituição Federal, e veda expressamente a possibilidade de aplicação do instituto da extradição em caso de brasileiro nato. Sendo Robinho brasileiro nato, tendo proteção contra extradição prevista na Carta Magna do país, não há a hipótese de extradição executória, logo o instituto de transferência de execução da pena não poderá ser aplicado. O segundo ponto a se observar é que a própria lei de migração visa não prejudicar o Código Penal, e tendo esse previsão para cumprimento de sentença estrangeira em território nacional, encontra-se outro obstáculo para a possibilidade de utilização do instituto no caso concreto apresentado. O artigo 9° do Código Penal regula sobre o cumprimento de sentença estrangeira em solo nacional: “A sentença estrangeira, quando a aplicação da lei brasileira produz na espécie as mesmas consequências, pode ser homologada no Brasil para: I – obrigar o condenado a reparação do dano, a restituição e a outros efeitos civis; II – sujeita-lo a medida de segurança” Como se pode observar não está presente entre as previsões do artigo 9° o cumprimento de pena restritiva de liberdade, logo a lei de migração não podendo passar por cima do Código Penal, não pode autorizar a transferência de execução da pena se tratando de pena restritiva de liberdade, sem que essa estivesse prevista no artigo 9° do Código Penal. O último ponto a se observar é o Acordo de Cooperação Judiciária em Matéria Penal entre Brasil e Itália que prevê em seu artigo 1° §3 que “a cooperação não compreenderá a execução de medidas restritivas da liberdade pessoal nem a execução de condenações”. Não é que o acordo seja omisso quanto a possibilidade, ele é bem claro e deixa expresso que não está incluso no tratado de cooperação a execução de tais medidas, gerando novamente uma impossibilidade de aplicação do instituto no caso concreto apresentado. CONCLUSÃO O artigo 7° do Código Penal trata sobre as hipóteses de extraterritorialidade, em que ficam sujeitos a aplicação da lei brasileira os crimes cometidos no estrangeiro dentro das hipóteses do artigo. Dentre tais hipóteses no inciso II, alínea B, está previsto os crimes cometidos por brasileiros. E o parágrafo 2° regula ainda que o agente deve estar em solo brasileiro, o fato deve ser considerado crime no país em eu tiver sido praticado, estar incluso nos crimes pelos quais a lei brasileira autorizam extradição e o agente não ter sido já punido no estrangeiro nem ter sido extinta sua disponibilidade. Ignorando a possibilidade de uma apresentação voluntária perante a polícia internacional para que cumpra sua pena na Itália, o disposto no artigo 7° poderia ser responsável por evitar a impunidade do jogador pelo crime cometido. Já que, como visto, ao longo da análise feita, os institutos apresentados não são aplicáveis ao caso concreto em foco. Do ponto de vista do direito internacional, tendo em mente que a Constituição Federal põe a salvo o brasileiro nato do instituto da extradição, e sendo requisito para transferência de execução da pena a aplicabilidade da extradição, esse instituto também não se aplica ao caso, ficando para o direito penal com o instituto da extraterritorialidade para aplicação da lei penal, a responsabilidade para possibilitar que o jogador pague pelo crime que cometeu. REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm . 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