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CADERNO DIREITO PENAL I – DANIELA PORTUGAL NATÁLIA OLIVEIRA RODRIGUES 1 FACULDADE BAIANA DE DIREITO E GESTÃO NATÁLIA OLIVEIRA RODRIGUES CADERNO DE DIREITO PENAL I DANIELA PORTUGAL 2020.1 CADERNO DIREITO PENAL I – DANIELA PORTUGAL NATÁLIA OLIVEIRA RODRIGUES 2 Escolas penais 1)Direito penal na Antiguidade e Direito Penal Comum . Vingança privada: em um primeiro momento - tribo x tribo (disputa entre grupos étnicos e civilizações no sentido coletivo. Não existia ainda uma separação entre o coletivo e o indivíduo) / depois - indivíduo x indivíduo (começa uma separação entre crimes de ordem privada e crimes de ordem pública). . Vingança divina: imposição da pena como representação da vingança divina; a repressão ou o castigo do infrator era considerado uma satisfação às divindades pela ofensa ocorrida no grupo social. O castigo era aplicado, por delegação divina, pelos sacerdotes, com penas cruéis, desumanas e degradantes. Eram modelos onde a sociedade confunde Estado e religião. . “Vingança” institucionalizada: com o surgimento dos estados modernos, a ideia de vingança vem sendo deixada de lado, amparada por uma busca crescente de racionalidade (querendo quebrar essa ideia de algo vingativo); começa a separação entre Estado e igreja. . Estado começa a colocar em prática o seu poder de punir (Jus Puniendi). . Mesmo nos dias de hoje, ainda não há uma clara separação entre lógica de crime e pecado (constantemente associadas) – AINDA NÃO SUPERAMOS. . Muito marcado pela imposição de penas cruéis, penas corporais, aflitivas. . Principais formas punitivas: penas de mutilação corporal e penas de morte. . Eventualmente, também se encontravam as penas de banimentos, os degredos (condenações ao exílio). . Relação de delito com moral. . Direito não era escrito em um primeiro momento. Mas, temos alguns documentos escritos que funcionarão como grandes marcos: Código de Hamurabi, Lei das 12 Tábuas, Código de Manu, Lei do Talião (proporcionalidade no exercício da vingança) – Vão tentar trazer mais segurança jurídica à normatividade. CADERNO DIREITO PENAL I – DANIELA PORTUGAL NATÁLIA OLIVEIRA RODRIGUES 3 . Sistema muito desorganizado de imposição de penas, porque não existe um sistema uniformizado de solução de conflitos. – Exemplo: cada feudo punia de uma forma. OBS: DIREITO PENAL COMUM . Começa a unificação dos feudos, para que o sistema de regramento social fosse o mesmo a todas essas unidades feudais. . Tentativa de unificação. . Normatização COMUM. . Marca a crise do sistema feudal e o surgimento dos primeiros estados absolutistas. . Estado titularizando exclusivamente o dever de punir. . O Estado exerce o exercício de poder pela INSEGURANÇA JURÍDICA – porque toda aplicação e interpretação das leis era feita de acordo com os interesses do príncipe (quem teria autoridade para dizer se houve ou não crime, se teria pena, qual seria, se não teria...) – TEMORIZAÇÃO SOCIAL. . Continua-se tendo punições de mutilação, morte, etc. . Privação de liberdade já existia desde a Antiguidade. A diferença que ela antes existia para o processo penal e não para o direito penal (você ficaria preso aguardando o julgamento). . Com o desenvolvimento desses novos estados, surge uma nova classe: A BURGUESIA – tem poder econômico, mas não político. E, por esse motivo, é alvo das perseguições do príncipe. . A derrubada desse direito comum para dá espaço ao direito moderno, será feita por essa classe burguesa, pelo marco da Revolução Francesa e Gloriosa. 2)Direito Canônico . Visto como humanitário se comparado aos modelos vingativos da época. CADERNO DIREITO PENAL I – DANIELA PORTUGAL NATÁLIA OLIVEIRA RODRIGUES 4 . Igreja continua punindo seus clérigos, mas alegando ser uma forma de pagar seus pecados e se redimir. . Fomentava/justificava a relação ente penitência e recuperação/reparação do pecador. Ou seja, pratiquei um pecado, vou cumprir minhas sentenças e após isso estarei apto para reintegrar o corpo social. LÓGICO que essa era uma justificativa que não se aplicava a todas as pessoas, mas somente aos cristãos. . Pecado – Penitência – perdão = TEORIA DA EXPIAÇÃO – visava anular/zerar a culpa – acredita na ideia de recuperação (de alguma maneira rechaça a ideia de morte). . Cumprimento da penitência para recuperar aquele clérigo rebelde. . A igreja diz que o cumprimento da pena expia, ou seja, zera a culpa. 3)Período humanitário . Marcos históricos: Revolução Industrial, Iluminismo e Revolução Francesa. . A Revolução Francesa marca a ascensão política da burguesia, o surgimento de uma nova noção de igualdade – “igualdade dos homens perante a lei” - Igualdade meramente formal. . Não há Estado se não houver uma normatividade legislativa regrando as relações sociais. . Princípio da LEGALIDADE (princípio em sua origem BURGUÊS). – Escudo para burguesia = forma da burguesia se proteger de eventuais abusos da nobreza. . Surgimento do Estado de Direito. . No mesmo momento em que eu fomento a liberdade como pilar, eu tenho o surgimento da pena privativa de liberdade. – E esta serve ao capitalismo, porque essa massa carcerária irá funcionar como mão de obra contida. – Vista como uma nova modalidade de pena de morte (uma morte mais lenta). . Indústrias precisavam de mão de obra. . Código modificador CADERNO DIREITO PENAL I – DANIELA PORTUGAL NATÁLIA OLIVEIRA RODRIGUES 5 . Movimento codificador – surgimento das primeiras codificações. 4)Escola Clássica . Primeira escola penal que surge. . Denominação pejorativamente cunhada pelos defensores da Escola Positivista do século XIX – clássico era visto como algo ultrapassado. . Doutrina começa a se organizar no estudo do direito e começam então a surgir as escolas penais. A primeira é a escola clássica. . O delinquente que infringisse a lei era considerado um inimigo da sociedade, justamente por ter quebrado o acordo de vontades feito. . Escola que não é marcada pela uniformidade de ideias. . Preocupados em formular conceitos básicos, princípios fundamentais, etc. – exemplo: estabelecer o conceito de crime, de pena, etc. . Conceito de Crime por Carrara: crime é a infração da lei penal do estado promulgada para promover a segurança dos cidadãos resultante de ato externo do homem, positivo ou negativo, moralmente imputável e politicamente danoso. . Criminosos olhados como sujeitos livres que escolheram praticar um crime. . Crime explicado pelo exercício de poder. . Pena fundamentada na culpabilidade – posso culpar você, porque você livremente escolheu praticar um crime. . Cesare de Beccaria: Obra “dos delitos e das penas” – ele não era tido como doutrinador, por ter uma linguagem bastante simples. Se dizia que ele era muito mais um político panfletário do que propriamente uma obra doutrinária acadêmica. – CRÍTICA a esse resultado da Revolução Burguesa (burgueses praticando os mesmos abusos que já haviam sido praticados) – a obra vem propor a criação de limites para este exercício punitivo. Toda a obra critica a pena de morte, os abusos do Estado burguês, tentar estabelecer regras de proporcionalidade na aplicação da pena (equilíbrio entre pena e crime). CADERNO DIREITO PENAL I – DANIELA PORTUGAL NATÁLIA OLIVEIRA RODRIGUES 6 . Definido como à frente do seu tempo. - Beccaria então é o primeiro autor do tempo dele a dizer que a pena tem que se voltar à prevenção de futuros delitos. – Se opunha a ideia de retribuição da pena. . Outro autor importante para esse período é Bentham, que é responsável por desenvolver o SISTEMA PANÓTIPCO “OLHO QUE TUDO VÊ”, um autor que se preocupava com a arquitetura prisional. Ele defende que o modelo carcerário deveria ser circular e não retangular. Para isso, deveriater uma torre central de observação, no qual as celas ficariam ao redor da torre central e equidistantes, facilitando o sistema de vigilância . Foucault em uma de suas obras relata que o sistema panóptico é uma forma de dominação política. 5)Escola Positiva ou positivista . A escola positiva é uma escola do século XIX, influenciada pelo Positivismo de Auguste Comte e pelo evolucionismo de Darwin. . Cesare Lombroso, Rafael Garofalo e Enrico Ferri. . Nasce aqui a Criminologia, ou seja, o estudo da origem do crime, afirmando ser o criminoso um ser menos evoluído (evidenciando aqui as ideias de Darwin e seu evolucionismo) e que haviam características comuns a todos criminosos. . A pena é um meio de defesa social, com função preventiva. . Fase antropológica (LOMBROSO): . Procurava uma roupagem científica na busca da origem do crime, falhando gravemente ao ser reducionista, ou seja, utilizar de um simples fator para se chegar a uma conclusão geral. - Criminologia científica: Aspecto da criminologia que visa ao estudo do fato criminoso, sob o ângulo pluridimensional, isto é, busca as causas do delito, independentemente de um fato concreto. . Criminoso nato – condição atávica (inerente). CADERNO DIREITO PENAL I – DANIELA PORTUGAL NATÁLIA OLIVEIRA RODRIGUES 7 . Antecipação penal – medida de segurança. . Observação do delinquente mediante método indutivo-experimental. . Fase sociológica (GAROFALO): . Traz a ideia de periculosidade: o quão perigoso é o criminoso. . A intenção da pena é prevenir que outras pessoas cometam o crime. . Aplicação da pena de morte para os delinquentes que não tem possibilidade de reabilitação (exemplo: criminosos natos). . Fase jurídica (FERRI): . Inexistência do livre-arbítrio. . Acreditava que a maioria dos delinquentes era sim readaptável. 6)Terceira Escola Italiana (Manuel Carnavale) . Traz o princípio de responsabilidade moral e a consequente distinção entre imputáveis e inimputáveis. . Determinismo biopsicológico: O homem é determinado pelo motivo mais forte, sendo imputável quem tiver capacidade de se deixar levar pelos motivos. A quem não tiver essa capacidade, deverá ser aplicada medida de segurança e não pena. . O fim da pena é a defesa social. 7) Escola Moderna Alemã: . Finalidade do DP: tem uma utilidade, um fim útil. . Função finalística da pena: a pena justa é a pena necessária. . Duplo binário: fala sobre imputáveis e inimputáveis, mas se aplica a pena E a medida de segurança. . Eliminação ou substituição de penas de curta duração: busca incessante de alternativa às penas privativas de liberdade de curta duração. CADERNO DIREITO PENAL I – DANIELA PORTUGAL NATÁLIA OLIVEIRA RODRIGUES 8 1) Teorias da Pena . São teorias que se ocupam com a função de identificar a finalidade cumprida pela pena, qual seria o seu fim, para que serve a pena (privativa de liberdade). . Acabam refletindo sobre as possibilidades de finalidade do Direito Penal. 1) Teorias Absolutas (Legitimadora): Para as teorias absolutas, a pena serve para retribuição, para elas a pena cumpre um fim em si mesma- A retribuição tem o sentido de castigo - “O criminoso quando comete um crime faz o mal a sociedade e cabe ao estado devolver a ele o mal, causando nele um mal proporcional”. a. Um antecedente histórico citado nela, é a teoria da expiação, que era utilizada no Direito Canônico. 2) Teorias Relativas: A pena serve para prevenção de futuros delitos, portanto, as teorias relativas buscam relacionar a pena a alguma finalidade, utilidade social, ou seja, a pena não pode ser um fim em si mesma. a. Teorias de prevenção geral: centra o seu discurso na análise da sociedade, os impactos que a pena vai produzir na sociedade. - Relatam que estão punindo “alguém” para que a sociedade ao redor dele não cometa determinado crime no futuro. . Se desdobram em teoria de prevenção geral positiva e negativa. . A Teoria de Prevenção Geral Negativa, relata que a sociedade não vai praticar crimes, porque ela estará temorizada- “Se você prende o criminoso a sociedade estará temorizada” - Traz a ideia da “Temorização Social”, que funcionaria como um fator de desestímulo para sociedade . A Geral Positiva relata que a sociedade não vai cometer crimes porque a prisão de determinado criminoso viabilizou a reafirmação da validade das normas e o conhecimento social dessas normas. CADERNO DIREITO PENAL I – DANIELA PORTUGAL NATÁLIA OLIVEIRA RODRIGUES 9 b. Teorias de prevenção especial: centraliza o seu discurso no impacto que a pena vai produzir no próprio sujeito que está sofrendo a pena. - Pune esse determinado alguém para que ele não repita tão crime no futuro novamente. . Se desdobra em Especial positiva e Especial negativa. . Especial Negativa: Não cometerá novos delitos, pois ele sofrerá durante a pena um processo de neutralização - O estado é vigilante impedindo que haja novos crimes. . A Especial Positiva: A pena proporciona para ela uma reintegração social (Ressocialização). - Críticas para a Geral Negativa e Positiva: . O criminoso é utilizado como instrumento ou por temorização ou por educação social. . O criminoso está sendo instrumentalizado. . Observação da realidade, o fato de se prender alguém não tem demonstrado, a possibilidade de intimidação ou educação da sociedade. - Críticas para Especial Geral e Positiva: . Impossibilidade de demonstrar empiricamente. . Elevadíssimos índices de crimes de quem já cumpre pena, e não tem como forçar alguém a se ressocializar. 2) Teorias Ecléticas ou mistas . Agregam mais de uma vertente teórica. . A pena serve tanto como Retribuição como para Prevenção (Linha de pensamento do nosso Código Penal. Art. 59, CP) . Nosso código segue a perspectiva eclética. CADERNO DIREITO PENAL I – DANIELA PORTUGAL NATÁLIA OLIVEIRA RODRIGUES 10 . Existe um pensamento que é válido ressaltar de Claus Roxin, autor que propõe a teoria dialética unificadora, que foca-se na prevenção, rechaçando a retribuição - Combina diferentes funções de prevenções cumpridas pelas penas.- Ele relata que é necessário analisar a pena em 3 momentos diferentes: o primeiro a pena cominada (pena que o legislador fixou na lei para aquele delito) que cumpre a função de prevenção geral (“ela está escrita para toda a sociedade que é destinatária daquela norma”) e encontra limite na proporcionalidade da inflação. A Segunda é a pena Aplicada – fixada pelo juiz na sentença e que cumpre a função de prevenção especial, encontrando o seu limite na culpabilidade. E, por último, a pena executada, que está relacionada a uma prevenção especial - É o momento que o sujeito especificamente está cumprindo a pena, encontrando o seu limite na Humanidade das penas. 3) Teoria Agnóstica (Deslegitimadora): . Zaffaroni é o principal autor dessa teoria - é um minimalista deslegitimador, também definido como um abolicionismo moderado. . Ele traz o conceito que não enxerga nenhum um tipo de função racional, cumprida pela pena privativa de liberdade, ou seja, na pena privativa de liberdade não há racionalidade cognoscível que possa legitimá-la. . Na prática não existe nenhum experimento que comprove que a pena seja capaz de prevenir delitos, a experiência prova o contrário, pois mesmo quem cumpre pena, volta a cometer ou comete dentro dos próprios presídios). . Interessante ressaltar que ele relata que a prisão necessita ser utilizada de maneira excepcional máxima. - É a lógica do Direito Penal enquanto “Ultima Ratio”. . Para ele a prisão é sempre uma violência, um ato de irracionalidade de vingança. PRINCÍPIOS PENAIS 1) LEGALIDADE . Não há crime sem lei anterior que o defina. CADERNO DIREITO PENAL I – DANIELA PORTUGAL NATÁLIA OLIVEIRA RODRIGUES 11 . Não há pena sem a prévia cominação lega. .Bases do modelo garantista, bases que sustentam o código penal brasileiro. . No Direito Penal, a legalidade está relacionada a 3 subprincípios: . Reserva legal – legalidade com um sentido estrito, significa dizer que a lei, para o direito penal, tem que emanar NECESSARIAMENTE DO PODER LEGISLATIVO, no exercício de função legislativa típica. Logo, não criam crimes: medidas provisórias, portarias, etc. . Anterioridade: É também necessário que essa lei penal seja anterior ao fato que se pretende punir, então iremos a partir daí extrair os princípios da IRRETROATIVIDADE DA LEI PENAL GRAVOSA (uma lei penal que cria um crime que estabelece uma punição pior, uma causa de aumento de pena, etc.) que não poderão alcançar fatos passados; e a RETROATIVIDADE DA LEI PENAL BENÉFICA (leis penais que tragam qualquer tipo de benefício retroagem, atingindo inclusive coisas já julgadas). . Taxatividade: Essa lei penal tem que ser certa e determinada, não pode deixar dúvidas acerca do conteúdo proibitivo, para evitar justamente compreensão erradas por parte dos destinatários dessa lei. - POLÊMICA DAS NORMAS PENAIS EM BRANCO: . São normas que carecem de complementação em seu conteúdo. . Exemplo referente a lei de drogas: “O Art. 33 da Lei n. 11.343/06 (Lei Antidrogas) diz: “Importar, exportar, remeter, preparar, produzir, fabricar, adquirir, vender, expor à venda, oferecer, ter em depósito, transportar, trazer consigo, guardar, prescrever, ministrar, entregar a consumo ou fornecer drogas, ainda que gratuitamente, sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar. Pena – reclusão de 5 (cinco) a 15 (quinze) anos e pagamento de 500 (quinhentos) a 1.500 (mil e quinhentos) dias-multa.” . Usa em seu texto a expressão “DROGAS”, mas o que seriam “drogas”? Drogas é um conteúdo que carece de complementação. – Não posso classificar uma pessoa que vende cerveja nessas condições acima. CADERNO DIREITO PENAL I – DANIELA PORTUGAL NATÁLIA OLIVEIRA RODRIGUES 12 A) NORMAS PENAIS EM BRANCO PRÓPRIAS OU HETEROGÊNEAS: . Nelas, o complemento dessas normas, é extraído de outra fonte legislativa, portanto normas de hierarquias diversas. . Exemplo referente a lei de drogas: “O Art. 33 da Lei n. 11.343/06 (Lei Antidrogas) diz: “Importar, exportar, remeter, preparar, produzir, fabricar, adquirir, vender, expor à venda, oferecer, ter em depósito, transportar, trazer consigo, guardar, prescrever, ministrar, entregar a consumo ou fornecer drogas, ainda que gratuitamente, sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar. Pena – reclusão de 5 (cinco) a 15 (quinze) anos e pagamento de 500 (quinhentos) a 1.500 (mil e quinhentos) dias-multa.” -COMPLEMENTADA PELA PORTARIA 344/98/MS (do Ministério da Saúde e mais especificamente publicada pela ANVISA). – COMPLEMENTO É ORIUNDO DE FONTE DIVERSA. B) NORMAS PENAIS EM BRANCO IMPRÓPRIAS/HOMOGÊNEAS: . Nesse caso, o complemento será dado por mesma fonte legislativa, mesma hierarquia entre a norma e o seu complemento. . Exemplo onde o conceito de casamento é extraído do Código Civil. Art. 237. Contrair casamento, conhecendo a existência de impedimento que lhe cause a nulidade absoluta: Pena – detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano. - COMPLEMENTO OURIUNDO DA MESMA FONTE LEGISLATIVA. Essas normais penais em branco homogêneas se subdividem em: - Complemento além de ser de mesma hierarquia está no MESMO DIPLOMA JURÍDICO: HOMOVITELINAS. (exemplo: código penal complementando o próprio código penal, o que acontece em crimes relacionados a funcionários públicos, já que CADERNO DIREITO PENAL I – DANIELA PORTUGAL NATÁLIA OLIVEIRA RODRIGUES 13 teremos o Art. 327 do CP que trabalha com o conceito de funcionário público, complementando os próprios dispositivos incriminadores do CP). - Complemento que apesar de ser de mesma hierarquia está em DIPLOMAS JURÍDICOS DIVERSOS: HETEROVITELINAS (exemplo: código civil complementando o código penal). . AS NORMAIS PENAIS EM BRANCO OFENDEM O PRINCÍPIO DA LEGALIDADE? C) NORMAIS PENAIS EM BRANCO INVERSAS/ÀS AVESSAS: . O complemento estará justamente na descrição da pena. Exemplo: “Art. 158 - Constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, e com o intuito de obter para si ou para outrem indevida vantagem econômica, a fazer, tolerar que se faça ou deixar de fazer alguma coisa: Pena - reclusão, de quatro a dez anos, e multa. § 3o Se o crime é cometido mediante a restrição da liberdade da vítima, e essa condição é necessária para a obtenção da vantagem econômica, a pena é de reclusão, de 6 (seis) a 12 (doze) anos, além da multa; se resulta lesão corporal grave ou morte, aplicam-se as penas previstas no art. 159, §§ 2oe 3o, respectivamente.”(BRASIL, 1940) . Só saberei qual a é a pena se eu for até o Art. 159 . Há quem diga que o Brasil não adota esse tipo de norma penal em branco. – Chamam então esse Artigo 158 de TIPO PENAL REMETIDO (que remete a outro tipo). 2) PRINCÍPIO DA HUMANIDADE DAS PENAS . Referido também em nossa Constituição. . Previsto no Art. 5º da CF/88, com a vedação de penas: . De morte, salvo em caso de guerra declarada, nos termos do Art. 84, XIX; CADERNO DIREITO PENAL I – DANIELA PORTUGAL NATÁLIA OLIVEIRA RODRIGUES 14 . De caráter perpétuo; . De trabalhos forçados – trabalho é um direito-dever do preso, ou seja, o preso caso se recusa a trabalhar não vai ser forçado a tal, mas perderá alguns benefícios na execução de sua pena, como por exemplo, a possibilidade de progressão de regime; . De banimento – ninguém pode ser banido do país e exilado para outro a título de cumprimento de pena; . Cruéis – um dispositivo que versa sobre as normas internacionais que tratam da proteção de direitos humanos, um dispositivo frequentemente desrespeitado. . PESQUISAR SOBRE: O ESTADO DE COISAS INCONSTITUCIONAL – recentemente reconhecido pelo STF com relação a situação carcerária brasileira, se essa situação prática ofende nosso princípio da humanidade das penas. . PESQUISAR SOBRE: NECROPOLÍTICA – legalmente não existe no Brasil pena de morte, mas existe o que a doutrina crítica vai chamar de MORTE SEM PENA. 3) PRINCÍPIO DA INDIVIDUALIZAÇÃO DAS PENAS . Previsto no Art. 5º da CF/88, XLVI – a lei regulará a individualização da pena e adotará, entre outras coisas, as seguintes: . Privação ou restrição da liberdade; . Perda de bens; . Multa; . Prestação social alternativa; . Suspensão ou interdição dos direitos. . Cada aspecto deve ser levado em consideração no momento do julgamento da pena – por isso, nossos julgadores não poderão julgar em bloco (não posso dizer “para todos CADERNO DIREITO PENAL I – DANIELA PORTUGAL NATÁLIA OLIVEIRA RODRIGUES 15 vocês que praticaram esse assalto, terão pena de 15 anos”, pois cada elemento que individualiza a conduta desses sujeitos precisa ser levado em consideração no momento da dosimetria da pena). 4) PRINCÍPIO DA RESPONSABILIDADE PESSOAL OU PERSONALIDADE . O agente deverá responsar/responder pessoalmente pelo seu crime. . Contemplado na Constituição quando esta prevê que no Art. 5º, XLV da CF/88, que “NENHUMA PENA PASSARÁ DA PESSOA DO CONDENADO” (intranscendência da pena). . Ainda que haja um mútuo acordo “eu vou responder por fulano de tal por esse crime” – NÃO É POSSÍVEL, pois cada um responde pessoalmente pelos seus atos. 5) PRINCÍPIO DA RESPONSABILIDADE SUBJETIVA OU CULPABILIDADE . Significa que ninguém será penalmente punido, se não houver agido com dolo ou culpa, dando mostras de que a responsabilização não será objetiva, mas subjetiva (nullum crimen sine culpa). . Também relacionado a nossa estrutura garantista. . Art. 18 - Diz-se o crime: (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) Crime doloso (Incluído pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) I - doloso, quando o agente quis o resultado ouassumiu o risco de produzi-lo; Crime culposo (Incluído pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) II - culposo, quando o agente deu causa ao resultado por imprudência, negligência ou imperícia. Parágrafo único - Salvo os casos expressos em lei, ninguém pode ser punido por fato previsto como crime, senão quando o pratica dolosamente. (Incluído pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984). . Em regra, todos os tipos incriminadores do Código Penal, são dolosos, a menos que eles façam menção expressa a culpa. – O enquandramento é o seguinte: só posso enquadrar conduta dolosa em tipos incriminadores dolosos e, condutas culposas em tipos incriminadores culposos. CADERNO DIREITO PENAL I – DANIELA PORTUGAL NATÁLIA OLIVEIRA RODRIGUES 16 . A questão é que nem todo crime doloso vai encontrar também o seu correspondente culposo. . Exemplo: HOMÍCIDIO – previsto de forma dolosa e culposa. . Exemplo: ABORTO - legislador só previu o aborto doloso, então estando diante de uma gestante que tomou um remédio sem olhar a bula e acabou abortando, não poderá ser dita enquadrada num tipo penal, mas sim atípica porque não é uma conduta intencional, mas que abrange imprudência, portanto culposa, MAS SEM QUE EXISTA O TIPO INCRIMINADOR CULPOSO CORRESPONDENTE. 1)PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS IMPLÍCITOS . Não estão expressamente referidos na nossa Constituição, mas serão compreendidos como um desdobramento lógico dos nossos mandamentos constitucionais. 1.1) PRINCÍPIO DA INTERVENÇAO MÍNIMA . Serão dessa ideia extraídos os princípios: . Da subsidiariedade: Direito Penal como “ultima ratio”; . Da fragmentariedade: apenas os bens jurídicos mais relevantes; . Ofensividade ou lesividade: Direito Penal só poderá agir diante de uma lesão ou de um perigo concreto de lesão para um determinado bem jurídico. 1.2) CRIMES DE DANO X CRIMES DE PERIGO . Classificação que observa o momento consumativo do delito. . Crimes de dano: aqueles crimes que para serem considerados consumados precisam da produção de um resultado. . Exemplo: Crime de homicídio – descreve um resultado: matar alguém. Ou seja, para se ter a produção desse crime preciso ter esse resultado, essa lesão a vida. CADERNO DIREITO PENAL I – DANIELA PORTUGAL NATÁLIA OLIVEIRA RODRIGUES 17 . Crimes de perigo: aqueles crimes que a consumação não exige a produção do resultado. Serão considerados consumados pela simples produção de um perigo. . Exemplo: Art. 130 - Expor alguém, por meio de relações sexuais ou qualquer ato libidinoso, a contágio de moléstia venérea, de que sabe ou deve saber que está contaminado: Pena - detenção, de três meses a um ano, ou multa. . Ou seja, não é preciso que haja a contaminação para que esse crime seja consumado. Pela simples provocação do risco já será consumado. . Não há neste sentido ofensa ao princípio da lesividade, já que ele trata da lesão ou do perigo de lesão. Mas, o problema está na classificação da doutrina: . Crimes de perigo concreto: intervenção penal depende necessariamente da prova de que esses risco realmente existiu. Por exemplo, não é necessário provar que houve a disseminação da doença, mas o MP, para incriminar o sujeito, terá que provar que existia o risco de contágio. . Crimes de perigo abstrato: demonstração de que o risco verdadeiramente aconteceu é irrelevante/dispensável. Aqui reside o problema, porque irá se discutir se esses crimes de perigo abstrato são constitucionais ou inconstitucionais. - O entendimento majoritário é pela constitucionalidade desses delitos e um exemplo é o Art. 274: “Empregar, no fabrico de produto destinado a consumo, revestimento, gaseificação artificial, matéria corante, substância aromática, antisséptica, conservadora ou qualquer outra não expressamente permitida pela legislação sanitária - Pena - reclusão, de 1 (um) a 5 (cinco) anos, e multa”. – Imaginamos 3 situações: na 1ª eu entreguei um produto com um corante que infectará um consumidor, causando-lhe mal à saúde - dentro dessa situação não há discussão que o DP de fato se legitima em intervir; na 2ª situação eu entreguei um conservante não autorizado pela legislação sanitária e ele não chegou a causar um mal a ninguém, mas poderia ter causado, porque o MP conseguiu provar mediante perícia que essa substância é nociva – ninguém discutirá a necessidade de intervenção do DP; 3ª caso, eu estou utilizando um corante não autorizado pela legislação sanitária e esse CADERNO DIREITO PENAL I – DANIELA PORTUGAL NATÁLIA OLIVEIRA RODRIGUES 18 produto vai pra perícia e ela consegue identificar que ele é inclusive melhor pra saúde, mais inofensivo do que as outras formas autorizadas – não houve nem lesão nem risco de lesão, poderia ele ser ainda denunciado? Dentro desse entendimento, esse crime seria considerado como crime de perigo abstrato, ele seria sim denunciado e a intervenção penal se legitima. 1.3) PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA PENAL OU BAGATELA . De acordo com esse princípio, não basta que haja lesão para que o DP se legitime a intervir, ela precisa ser significativa. Assim, o DP não intervém diante da lesão insignificante, dos chamados crimes de bagatela. . Princípio que começa a ser aplicado no Brasil a partir de entendimentos jurisprudenciais – já que não há previsão legal para tal. . Causa de exclusão da tipicidade – a conduta é atípica, ou seja, não houve crime. . Essa atipicidade se fundamenta na chamada atipicidade material, ou seja, ausência de lesão significativa a bem jurídico. . Furtar uma caneta BIC de alguém: formalmente é uma conduta típica (subtrair coisa móvel alheia), mas materialmente falando é uma conduta atípica, ou seja, não cheguei a causar uma lesão relevante a esse patrimônio. . Tipicidade formal, mas não material = CONDUTA ATÍPICA. . Aplicações: ou é o MP no momento que deixa de oferecer a denúncia contra determinada pessoa, fundamentado no princípio da insignificância OU o juiz que absorverá o agente com esse entendimento do princípio) – delegados, policiais, entre outros, não poderão fazer essa análise. . Critérios CUMULATIVOS utilizados para aplicação: CADERNO DIREITO PENAL I – DANIELA PORTUGAL NATÁLIA OLIVEIRA RODRIGUES 19 . Mínima ofensividade, ou seja, não poderá haver violência ou grave ameaça a pessoa. – roubo, estupro e outros delitos dessa natureza NÃO admitem o princípio da insignificância. . Inexistência de periculosidade social da ação, ou seja, não pode apresentar um risco a sociedade de um modo geral. . Também se exige o reduzidíssimo grau de reprovabilidade do comportamento. – Daí discussões sobre a aplicação desse princípio diante do réu reincidente. – Nossos tribunais, quando identificam que aquele sujeito faz daquele tipo de delito um “meio” de vida, que pratica frequentemente/rotineiramente, negam a incidência desse princípio. . A inexpressividade da lesão jurídica provocada – olhando para vítima – o que é expressivo para um pode ser inexpressivo para o outro. NÃO ESTÁ SE REFERINDO A SENTIMENTO/TRAUMA, é um critério que se vale sobretudo em questões patrimoniais. – Furtar 500 reais de um bilionário não seria expressivo, mas quando furtado de um estudante/desempregado é expressivo. – Análise que leva em consideração necessariamente a condição da vítima. - PESQUISAS SOBRE INSIGNIFICÂNCIA PENAL OU BAGATELA: . Cabe para porte de arma desmuniciada? . Cabe para violência doméstica leve? . Cabe para uso pessoal de drogas? . Cabe para todas as modalidades de furto? . Cabe para crimes contra a administração pública? . Condutas formalmente típicas que foram praticadas contra a administração pública jamais deverão ser consideradas insignificantes, ainda que desprovidas de ofensividade, CADERNO DIREITO PENAL I – DANIELA PORTUGAL NATÁLIA OLIVEIRA RODRIGUES 20 periculosidade social e reduzido grau de reprovabilidade do comportamento,bem como o irrisório dano econômico suportado pelo Estado. . Sendo assim, nos termos do enunciado da Súmula 599, não deverão escapar de punição penal as pessoas envolvidas desde o emprego irregular de milhões de reais do dinheiro público até a irrisória subtração de um único “clips” de repartição pública, pois, no entendimento consolidado no Superior Tribunal de Justiça, "não se aplica o princípio da insignificância aos crimes contra a Administração Pública, ainda que o valor da lesão possa ser considerado ínfimo, uma vez que a norma visa resguardar não apenas o aspecto patrimonial, mas, principalmente, a moral administrativa" . . A Sexta Turma do Superior Tribunal de Justiça (STJ) afastou a incidência da Súmula 599 e aplicou o princípio da insignificância a crime contra a administração pública. Ao prover o recurso em habeas corpus, por unanimidade, o colegiado avaliou que as peculiaridades do caso autorizam a não aplicação do enunciado. O fato em análise ocorreu em novembro de 2013, na cidade de Gravataí (RS), quando o denunciado passou o carro por cima de um cone de trânsito ao furar um bloqueio da Polícia Rodoviária Federal. Para a defesa, caberia o princípio da insignificância, uma vez que a aplicação do direito penal só se justificaria para atos realmente lesivos ao bem público protegido. No entanto, a 2ª Vara Criminal de Gravataí condenou o réu por dano qualificado e o Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul (TJRS) negou o pedido de habeas corpus, entendendo que as ações do acusado apresentam alto grau de reprovação. Para o TJRS, o valor do bem não deve ser o único parâmetro para a análise da lesividade da conduta e aplicação do princípio da insignificância. O relator do recurso no STJ, ministro Nefi Cordeiro, ressaltou que o réu era primário, tinha 83 anos na época dos fatos e o cone avariado custava menos de R$ 20, ou seja, menos de 3% do salário mínimo vigente à época. “A despeito do teor do enunciado 599, as peculiaridades do caso concreto justificam a mitigação da referida súmula, haja vista que nenhum interesse social existe na onerosa intervenção estatal diante da inexpressiva lesão jurídica provocada”, entendeu o ministro. . Posso aplicar se o réu foi reincidente? CADERNO DIREITO PENAL I – DANIELA PORTUGAL NATÁLIA OLIVEIRA RODRIGUES 21 1.4) PRINCÍPIO DA PROPORCIONALIDADE . Modalidade indicadora de que a severidade da sanção deve corresponder a maior ou menor gravidade da infração penal. Quanto mais grave o ilícito, mais severa deve ser a pena. A idéia foi defendida por Beccaria em seu livro Dos Delitos e das Penas e é aceita pelos sectários das teorias relativas quanto aos fins e fundamentos da pena. . O princípio da proporcionalidade tem o objetivo de coibir excessos desarrazoados, por meio da aferição da compatibilidade entre os meios e os fins da atuação administrativa, para evitar restrições desnecessárias ou abusivas. Por força deste princípio, não é lícito à Administração Pública valer-se de medidas restritivas ou formular exigências aos particulares além daquilo que for estritamente necessário para a realização da finalidade pública almejada. Visa-se, com isso, a adequação entre os meios e os fins, vedando-se a imposição de obrigações, restrições e sanções em medida superior àquelas estritamente necessárias ao atendimento do interesse público. 1.5) PRINCÍPIO NE BIS IN IDEM . Veda a dupla punição ou o duplo processamento em virtude de um mesmo fato. APLICAÇÃO DA LEI PENAL NO ESPAÇO . Exemplo: Uma carta-bomba é enviada do Brasil para a Espanha, e explode lá. – Esse crime foi cometido no Brasil, já que a ação aconteceu aqui, mas o resultado aconteceu em outro país? CADERNO DIREITO PENAL I – DANIELA PORTUGAL NATÁLIA OLIVEIRA RODRIGUES 22 . Crime ocorreu no Brasil, segundo a Teoria da Ubiquidade, pois a ação aconteceu aqui. . Exemplo: Uma carta-bomba é enviada da Espanha para o Brasil, e explode aqui. . Crime ocorreu no Brasil, segundo a Teoria da Ubiquidade, pois o resultado ocorreu aqui. . Exemplo: Uma carta-bomba é enviada do BR para ESP, mas ela acaba sendo extraviada e vai explodir na FRA. . Exemplo: Uma carta-bomba enviada da FRA para o BR, extraviou e explodiu na ESP. . O destinatário era o Brasil, mas a carta extraviou e explodiu na Espanha. Nessas situações, o crime continua sendo praticado no Brasil, pois os resultados DEVERIAM ter se produzido no Brasil. . Ainda que a ação não tenha acontecido aqui, que o resultado não tenha se concretizado aqui. MAS, o plano era que ocorresse aqui, neste caso também poderemos dizer que o crime foi praticado aqui. . Quando pensamos o Direito Penal, a única pergunta que importa para o direito brasileiro é: Esse crime aconteceu dentro ou fora do Brasil? Porque saber se esse crime aconteceu na Espanha, por exemplo, é um problema da legislação de lá. – Isso pode gerar um conflito de jurisdições, que nosso Código Penal não tem como prever, pois países diferentes podem alegar que o crime foi cometido em x lugar. . Conceito de lugar do crime, Art. 6º do Código Penal: . “Considera-se praticado o crime no lugar em que ocorreu a ação ou omissão, no todo ou em parte, bem como onde se produziu ou deveria produzir-se o resultado”. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 1984) Extraterritorialidade (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 1984) . Esse Artigo consagra a Teoria da Ubiquidade. – É uma teoria sobretudo relevante quando se trata de crimes à distância, ou seja, crimes praticados entre mais de um Estado soberano. Para o Direito Penal, discutir se o crime ocorreu em São Paulo ou Bahia CADERNO DIREITO PENAL I – DANIELA PORTUGAL NATÁLIA OLIVEIRA RODRIGUES 23 é irrelevante, pois essa é uma discussão que vai ser levada em pauta no momento de discutir o juízo territorialmente apto para processar o feito. O que importa é se o crime aconteceu dentro ou fora do Brasil. . Crime praticado DENTRO do Brasil – REGRAS DA TERRITORIEDADE . Crime praticado FORA do Brasil – REGRAS DE EXTRATERRITORIALIDADE - TERRITORIALIDADE . Crimes praticados DENTRO DO BRASIL. . Princípio consagrado no Artigo 5º do Código Penal: . Aplica-se a lei brasileira, sem prejuízo de convenções, tratados e regras de direito internacional, ao crime cometido no território nacional. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 1984) . Territorialidade não é absoluta, é mitigada. . Pois, o próprio Artigo traz ressalvas “sem prejuízo de convenções, tratados e regras de direito internacional” – Existem crimes que foram cometidos no Brasil, mas que em virtude de algum tratado/convenção, o Brasil não vai aplicar sua lei. . Exemplo: crimes cometidos por Diplomatas de outros países dentro do Brasil. – Existe uma convenção que o Brasil assina que vai impedir o Brasil de processar e julgar esses fatos, para que esses agentes sejam processados e julgados pelos seus respectivos países de origem. . Aplicada lei brasileira como regra, para todos os crimes cometidos no território nacional brasileiro. MAS, O QUE É O TERRITÓRIO NACIONAL BRASILEIRO? . Existem 2 acepções de TERRITÓRIO NACIONAL: A) TERRITÓRIO NACIONAL BRASILEIRO NATURAL: . Abrange o solo subsolo; . Mar territorial (se estende até o limite de 12 milhas náuticas); . Os rios, os lagos e os mares interiores e sucessivos; . Os golfos, as baías e os portos; CADERNO DIREITO PENAL I – DANIELA PORTUGAL NATÁLIA OLIVEIRA RODRIGUES 24 . A parte que o Direito atribui a cada Estado sobre os rios, lagos e mares fronteiriços; . O espaço aéreo correspondente ao território (até o limite de 12 milhas náuticas). B) TERRITÓRIO NACIONAL BRASILEIRO POR EQUIPARAÇÃO: . Abrange o território natural (solo, subsolo, espaço aéreo correspondente e mar territorial); . Abrange o chamado TERRITÓRIO POR EXTENSÃO OU TERRITÓRIO POR EQUIPARAÇÃO. – ARTIGO 5º DO CÓDIGO PENAL.. § 1º - Para os efeitos penais, consideram-se como extensão do território nacional as embarcações e aeronaves brasileiras, de natureza pública ou a serviço do governo brasileiro onde quer que se encontrem, bem como as aeronaves e as embarcações brasileiras, mercantes ou de propriedade privada, que se achem, respectivamente, no espaço aéreo correspondente ou em alto-mar. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 1984). . O navio da Marinha Brasileira, que esteja ancorado na Itália, por algum tipo de cooperação internacional em tempos de pandemia. Acontece um crime dentro desse navio. Foi crime praticado dentro do Brasil conforme nossas leis? SIM, porque aconteceu dentro de um navio de natureza pública onde quer que se encontre. . Um navio privado de bandeira brasileira que esteja no mar territorial italiano e um crime acontece lá. É crime praticado dentro do Brasil? NÃO. É crime praticado dentro da Itália. . Um navio privado de bandeira brasileira, que não está no mar territorial italiano, está em alto mar (não está em mar territorial de ninguém) – É crime praticado dentro do Brasil? Sim, pois estaríamos trabalhando com o conceito de território brasileiro por extensão. CADERNO DIREITO PENAL I – DANIELA PORTUGAL NATÁLIA OLIVEIRA RODRIGUES 25 § 2º - É também aplicável a lei brasileira aos crimes praticados a bordo de aeronaves ou embarcações estrangeiras de propriedade privada, achando-se aquelas em pouso no território nacional ou em vôo no espaço aéreo correspondente, e estas em porto ou mar territorial do Brasil. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 1984) Lugar do crime (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 1984) . Uma embarcação ou aeronave, privada e estrangeira, dentro do nosso território natural e o crime acontece, dizemos que esse crime foi cometido dentro do Brasil. . Da mesma forma, se for uma embarcação ou aeronave brasileiro, dentro de outro país, não vamos dizer que o crime foi cometido dentro do Brasil. A menos que sejam embarcações ou aeronaves PÚBLICAS a serviço do poder público. - LEI 8617/93: Dispõe sobre o mar territorial, a zona contígua, a zona econômica exclusiva e a plataforma continental brasileiros, e dá outras providências. . Disciplina o chamado DIREITO DE PASSAGEM INOCENTE. – Somente é disciplinado para EMBARCAÇÕES e NÃO para aeronaves. . Uma embarcação privada estrangeira passando por nosso mar territorial, e um crime ali acontece. Vou aplicar a lei brasileira? Em princípio não, porque é uma exceção trazida a nossa territorialidade (mitigada caso haja algum acordo internacional nesse sentido). . É importante que esse crime/delito não tenha afetado a nossa segurança pública, nossa paz e disciplina interna. Art. 3º É reconhecido aos navios de todas as nacionalidades o direito de passagem inocente no mar territorial brasileiro. § 1º A passagem será considerada inocente desde que não seja prejudicial à paz, à boa ordem ou à segurança do Brasil, devendo ser contínua e rápida. § 2º A passagem inocente poderá compreender o parar e o fundear, mas apenas na medida em que tais procedimentos constituam incidentes comuns de navegação ou sejam CADERNO DIREITO PENAL I – DANIELA PORTUGAL NATÁLIA OLIVEIRA RODRIGUES 26 impostos por motivos de força ou por dificuldade grave, ou tenham por fim prestar auxílio a pessoas a navios ou aeronaves em perigo ou em dificuldade grave. § 3º Os navios estrangeiros no mar territorial brasileiro estarão sujeitos aos regulamentos estabelecidos pelo Governo brasileiro. - EXTRATERRITORIALIDADE . Em princípio, o Brasil não vai se preocupar em julgar crimes cometidos fora do seu território nacional. Somente em algumas hipóteses, elencadas no Art. 7 do Código Penal. A) EXTRATERRITORIALIDADE INCONDICIONADA: . São assim chamadas, porque uma vez acontecendo, o Brasil irá pleitear o seu direito de processar e julgar esses fatos, ainda que o agente já tenha sido absolvido, condenado ou até já tenha cumprido pena no exterior. Art. 7º - Ficam sujeitos à lei brasileira, embora cometidos no estrangeiro: I - Os crimes: a) contra a vida ou a liberdade do Presidente da República; - FAZ VALER O PRINCÍPIO DA DEFESA OU DA PROTEÇÃO, porque alguém que atente contra a vida do Presidente, segundo o CP, vai estar atentando contra a nossa defesa nacional. b) contra o patrimônio ou a fé pública da União, do Distrito Federal, de Estado, de Território, de Município, de empresa pública, sociedade de economia mista, autarquia ou fundação instituída pelo Poder Público; - FAZ VALER O PRINCÍPIO DA DEFESA OU PROTEÇÃO, por exemplo, alguém que esteja no Paraguai falsificando passaportes brasileiros. Isso atenta contra a fé pública brasileira. c) contra a administração pública, por quem está a seu serviço; - Exemplo: um funcionário público que está representando o Brasil no estrangeiro e pratica um ato de corrupção. d) de genocídio, quando o agente for brasileiro ou domiciliado no Brasil; - PRINCÍPIO DA JUSTIÇA UNIVERSAL/COSMOPOLITA. Exemplo: um brasileiro pratica na Europa um ato genocida. B) EXTRATERRITORIALIDADE CONDICIONADA: CADERNO DIREITO PENAL I – DANIELA PORTUGAL NATÁLIA OLIVEIRA RODRIGUES 27 . Brasil só vai pleitear o seu direito de processar e julgar os fatos, caso estejam reunidas algumas condições definidas pela própria lei brasileira. Art. 7º - Ficam sujeitos à lei brasileira, embora cometidos no estrangeiro: os crimes: a) que, por tratado ou convenção, o Brasil se obrigou a reprimir; - PRINCÍPIO DA JUSTIÇA UNIVERSAL/COSMOPOLITA, segundo o qual determinadas infrações, deve haver uma cooperação entre estados soberanos, no intuito de somar esforços para coibir essa prática. Por exemplo, o tráfico de pessoas. b) praticados por brasileiro; - Exemplo: se um brasileiro está em Portugal e comete um crime, o Brasil vai reclamar seu direito de processar e julgar. – PRINCÍPIO DA NACIONALIDADE OU DA PERSONALIDADE. c) praticados em aeronaves ou embarcações brasileiras, mercantes ou de propriedade privada, quando em território estrangeiro e aí não sejam julgados. – Sabemos que o crime não foi praticado dentro do Brasil, e sabemos que a preferência de julgamento não é nossa. Mas, dizemos: se esses crimes não forem julgados aí, me dê que julgo, porque a bandeira é brasileira mesmo sendo embarcação privada. Ou uma brasileira que é casada com um estrangeiro e sofre uma agressão, nesse caso será aplicado o princípio da defesa ou da proteção. § 2º - Nos casos do inciso II, a aplicação da lei brasileira depende do concurso das seguintes condições: (Incluído pela Lei nº 7.209, de 1984) a) entrar o agente no território nacional; – não precisa permanecer, basta ter entrado, ainda que fuja depois. b) ser o fato punível também no país em que foi praticado; - exige-se a dupla tipicidade: fato tem que ser típico nos 2 países. c) estar o crime incluído entre aqueles pelos quais a lei brasileira autoriza a extradição; - necessário consultar as normas que versam sobre as normas de extradição (tem o mínimo de lesividade, ou seja, pena máxima de pelo menos 2 anos) d) não ter sido o agente absolvido no estrangeiro ou não ter aí cumprido a pena; e) não ter sido o agente perdoado no estrangeiro ou, por outro motivo, não estar extinta a punibilidade, segundo a lei mais favorável. DUAS CONDIÇÕES ADICONAIS ALÉM DAS CITADAS ACIMA: CADERNO DIREITO PENAL I – DANIELA PORTUGAL NATÁLIA OLIVEIRA RODRIGUES 28 § 3º - A lei brasileira aplica-se também ao crime cometido por estrangeiro contra brasileiro fora do Brasil, se, reunidas as condições previstas no parágrafo anterior: a) não foi pedida ou foi negada a extradição; b) houve requisição do Ministro da Justiça. Pena cumprida no estrangeiro. APLICAÇÃO DA LEI PENAL – OUTRAS DISPOSIÇÕES 1 – EFICÁCIA DA LEI ESTRANGEIRA . Casos em que o Brasil eventualmente vai homologaruma situação de um outro Estado soberano, para que essa sentença seja executada no território brasileiro. . Tratada no Art. 9º do Código Penal: Art. 9º - A sentença estrangeira, quando a aplicação da lei brasileira produz na espécie as mesmas conseqüências, pode ser homologada no Brasil para: I - obrigar o condenado à reparação do dano, a restituições e a outros efeitos civis; II - sujeitá-lo a medida de segurança. Parágrafo único - A homologação depende: a) para os efeitos previstos no inciso I, de pedido da parte interessada; b) para os outros efeitos, da existência de tratado de extradição com o país de cuja autoridade judiciária emanou a sentença, ou, na falta de tratado, de requisição do Ministro da Justiça. . Toda sentença é o exercício de soberania de um determinado Estado. É por isso que, via de regra, o Brasil não vai homologar sentenças de outros Estados soberanos para que elas produzam efeito em seu território. . Exemplo: Um juiz americano deu uma sentença determinando a desapropriação de um terreno dentro do Brasil. – NÃO EXISTE ISSO. . Para que exista a homologação é necessárias algumas exigências que são cumulativas: . O Brasil preveja as mesmas consequências para um determinado ato. Então, se entendo, por exemplo que, uma pessoa X praticando contra mim um ato de violência pela lei brasileira, existe o dever de indenização, e na americana também, irei poder homologar. De outro lado, jamais poderia determinar no Brasil uma sentença que determinasse mutilação corporal, porque aqui no Brasil jamais seria admitido. CADERNO DIREITO PENAL I – DANIELA PORTUGAL NATÁLIA OLIVEIRA RODRIGUES 29 . Só vamos admitir homologação de sentenças estrangeira para reparação civil de danos causados à vitima (quem requer é a vítima, no interesse dela) OU para ainda aplicação de medida de segurança (requerida pelo Procurador Geral da República). – Não vamos atuar com homologação de lei estrangeira para o cumprimento de pena privativa de liberdade. Logo, não pode um juiz francês condenar alguém a cumprir pena privativa de liberdade no Brasil. . Quem tem competência para fazer isso é o STJ nos termos do Artigo 105, por meio de Emenda Constitucional na Const. de 1988. . Existem termos para transferência de presos, e o Brasil assina termos nesse sentido, para que um preso seja transferido de um Estado soberano para outro. Nesse caso, porque a transferência de preso não seria um exemplo de homologação de sentença estrangeira para cumprimento de pena privativa de liberdade no Brasil? Quem faz o pedido é o próprio preso, no interesse dele, para que ele possa cumprir pena ao lado de sua família, não sendo requerido pela vítima. 2- CONTAGEM DE PRAZO . Artigo 10º do Código Penal: Art. 10 - O dia do começo inclui-se no cômputo do prazo. Contam-se os dias, os meses e os anos pelo calendário comum. . Lógica básica de contagem de prazo – No Direito Penal, o dia de início de prazo é contado e o final não é. Já no processo penal é o inverso, o dia inicial não é contado e o dia final é contado. A lógica em ambos é justamente beneficiar o réu. 3 – FRAÇÃO NÃO COMPUTÁVEIS DA PENA . Previsto no Artigo 11 do Código Penal: Art. 11 - Desprezam-se, nas penas privativas de liberdade e nas restritivas de direitos, as frações de dia, e, na pena de multa, as frações de cruzeiro. CADERNO DIREITO PENAL I – DANIELA PORTUGAL NATÁLIA OLIVEIRA RODRIGUES 30 . O juiz no momento em que for sentenciar alguém, pode estabelecer: 5 anos, 6 meses e 2 dias. MAS, NÃO PODERÁ DIZER “E DUAS HORAS”, porque as frações do dia serão desprezadas. . Não existem penas privativas ou restritivas de liberdade em horas, minutos, segundos. A menor fração possível é de dia. . Na pena de multa vão ser desprezados os centavos. 4 – LEGISLAÇÃO ESPECIAL . Artigo 12º do Código Penal: Art. 12 - As regras gerais deste Código aplicam-se aos fatos incriminados por lei especial, se esta não dispuser de modo diverso. . A lei especial prevalece sobre a lei geral. Então se tiver, por exemplo, o ECA trazendo uma previsão que conflita em uma previsão do código penal em determinado aspecto com relação a tempo de processo. Trabalhamos com qual diploma então em casos de criança e adolescente? Com o ECA, porque é especial, prevalecendo sobre o geral. Lógico que se esses outros diplomas que versam sobre questões penais foram silentes (lacunosos), serão supridos pelo CP, à exemplo dos prazos prescricionais que o ECA não traz. TEMPO DO CRIME: TEORIA DA CONDUTA Para o crime o momento é o momento da ação, baseado na Teoria da Atividade, presente no art.4º. considera-se praticado o crime no momento da ação ou da omissão, ainda que outro seja o momento do resultado. Por exemplo, um jovem aos 17 anos dispara contra uma outra pessoa, a pessoa que sofre a lesão é hospitalizada em vem a óbito 2 dias depois, o jovem que disparou fez 18 anos, 1 dia após o seu ato, esse jovem é inimputável sobre esse crime, pois para o crime aplica-se a teoria da conduta, da atividade, o que vale é o momento da ação. CADERNO DIREITO PENAL I – DANIELA PORTUGAL NATÁLIA OLIVEIRA RODRIGUES 31 Quando falamos de tempo de crime, nos coloca diante a uma série de conceitos que são importantes de ser trabalhados: Abolitio Criminis: . É a abolição do crime, ou seja o fato deixa de ser considerado um fato criminoso, como por exemplo o antigo crime de adultério, dessa forma uma lei que traz uma abolição de crime, essa lei se aplica de uma maneira retroativa, logo essa lei que revoga um crime, ela irá retroagir, e será aplicados para todos os fatos passados, mesmo se o sujeito já foi julgado, está cumprindo pena, é aplicado a todos. Nesse sentido, extingue-se a punibilidade do agente, e caso já tenha pago a pena, o agente volta ao estado de réu primário. . Novatio legis in mellius: . São leis benéficas que alcançam fatos anteriores ao ato de criminalidade, nesse sentido é uma lei benéfica ao réu, e por alcançar fatos anteriores a sua vigência ela é retroativa. . Novatio legis in pejus: . É a nova lei pior, prejudicial e dessa forma ela é irretroativa, dessa forma ela não alcança fatos anteriores ao começa da sua vigência, só alcança fatos, a partir da sua vigência para frente. . O Art.5º relata que “A lei penal não retroagirá, salvo para beneficiar o réu”. . Irretroatividade da lei penal em vacatio: . É importante frisar sobre tal assunto, qual é a possibilidade de durante a vacatio legis, a lei panal já ter força suficiente para ser considerada lei mais favorável, aplicando- se para a fatos pretéritos, o entendimento majoritário sobre isso, é não permitir em vacatio a retroatividade da lei. Combinação de Leis: . Trata-se de tema polêmico, pois nem sempre é possível saber, com exatidão, qual é a lei penal mais benéfica, mormente quando várias são aplicáveis ao mesmo caso. CADERNO DIREITO PENAL I – DANIELA PORTUGAL NATÁLIA OLIVEIRA RODRIGUES 32 Poderia, então, o juiz combinar as leis penais, extraindo a posição mais benigna ao réu?. O entendimento majoritário é a impossibilidade de combinação de leis, visto que seria entendido como uma terceira lei. O entendimento do STJ também é a favor a esse pensamento em sua súmula 501. Crimes Permanentes e Continuados: . “Crimes Permanentes, são casos em que a atividade criminosa ela se prolonga no tempo, e a consumação dura o tempo que durar a prática delitiva, como por exemplo o sequestro, pois ele se consuma durante todo o tempo que a vítima esteve privada da sua liberdade. Ex: Se durante um sequestro, uma lei anterior for mudada por uma lei posterior agravante do ato ilícito, qual lei irá ser aplicada para tal delito, se no fim do ato consumado do sequestro a vigência da lei for a mais gravosa será aplicada a lei mais gravosa. . Crimes continuados, estamos falando de uma pluralidade dedelitos e inflações que são praticadas dentro das mesmas circunstancias fáticas temporais, tempo lugar e maneira de execução, o caso por exemplo de um serial killer, toda semana o sujeito comete um ato contra a vida da mesma forma, se o serial killer matar 10 pessoas ele comete apelas um ato infracional, agora se a há uma mudança de lei no meio desses atos continuados, a lei que irá aplicar a esse criminoso será a lei que cessa o ato do criem, mesmo a lei sendo mais grave, ou seja a lei vigente só será tratada quando for cessado o crime sendo ela mais gravosa ou mais benéfica. . Ultratividade da Lei Penal gravosa, em seu art.3º relata que a lei excepcional ou temporária, embora decorrido o período de sua duração ou cessadas as circunstâncias que a determinaram, aplicam-se ao fato praticado durante sua vigência. . Novos Entendimentos Jurisprudenciais, há a presença da Retroatividade do entendimento penal também para decisões passadas. . Normas penais em branco, quando o complemento da norma penal em branco é modificado, essa modificação do complemento normativo que vai gerar a interpretação da norma penal, haverá efeito de retroatividade, a partir da doutrina é o mesmo raciocínio de retroagir a lei mais benéfica. CADERNO DIREITO PENAL I – DANIELA PORTUGAL NATÁLIA OLIVEIRA RODRIGUES 33 Sucessão de leis Penais no tempo Na sucessão de leis penais no tempo a lei intermediária mais benéfica se aplica, pois ela tem o poder de ultratividade e retroatividade Lei A – B – C – D – E A 1-2 anos B 4-6 anos C 1-3 anos D 4-6 anos E 2-4 anos. A Lei Intermediária, é uma lei que não estava em vigor no momento do crime e já havia sido revogada no momento do julgamento, sendo ela a mais benéfica entre essas sucessões de leis, mesmo já sendo revogada no momento do seu julgamento, essa lei intermediária é a aplicada no caso em questão Lei C. Ultratividade é uma determinada lei que é aplicada mesmo após a sua revogação. Retroativa, é porque se aplica a um fato passado. A Lei Intermediária ela goza da ultratividade e da retroatividade. LUGAR DO CRIME: TEORIA DA UBIQUIDADE. APLICACAÇÃO DA LEI PENAL EM RELAÇÃO AS PESSOAS – AS IMUNIDADES PENAIS. . Quando analisamos um crime: Quando foi praticado (aplicação da lei penal no tempo)? Onde foi praticado (aplicação da lei penal no espaço)? Quem praticou esse delito (aplicação da lei penal com relação as pessoas)? . Importante para saber se a pessoa goza de algum tipo de imunidade – Ou vamos dizer que ela não vai ser julgada porque foi considerado crime, ou vai ser praticada por outro país que não o Brasil. . Essa imunidade está prevista no Artigo 5º do Código Penal . Princípio que consagra a norma da territorialidade: aplicação da lei brasileira para os crimes cometidos dentro do território brasileiro, SEM PREJUÍZO de convenções, CADERNO DIREITO PENAL I – DANIELA PORTUGAL NATÁLIA OLIVEIRA RODRIGUES 34 tratados e regras de direito internacional, ao crime cometido em território nacional. – Regras que afastam nossas leis em determinadas situações. – TERRITORIALIDADE MITIGADA. – O artigo 5º do Código Penal Brasileiro, apenas diz que as imunidades podem existir, mas não cita quais são e onde estão. De forma que, elas podem estar em disposições internacionais ou nas próprias leis brasileiras. 1) IMUNIDADES PARLAMENTARES . Previstas na própria CF BRASILEIRA, no Artigo 53. . Trata/prevê tanto de imunidades parlamentares materiais (ditas absolutas) quanto das imunidades processuais (ditas relativas). . Nosso enfoque será nas imunidades materiais/absolutas. . As imunidades processuais, estão relacionadas ao que equivocadamente chamamos de FORO PRIVILEGIADO ou mais tecnicamente chamado de FORO POR PREROGATIVA DE FUNÇÃO, além de outros aspectos processuais, tais como a possibilidade prisão em flagrante ou não, dentre outras. . Garantindo a máxima liberdade de expressão na fala dos deputados e senadores, pois precisam disso para exercer essa função pública na sua plenitude. . Artigo 53: “Os Deputados e Senadores são invioláveis, civil e penalmente, por quaisquer de suas opiniões, palavras e votos. § 1º Os Deputados e Senadores, desde a expedição do diploma, serão submetidos a julgamento perante o Supremo Tribunal Federal”. . Uma Constituição pós ditatorial, que irá trazer fundamentos que expressam muito essa noção de liberdade. . O histórico brasileiro, é desde o período colonial, um histórico de ameaça aos nossos parlamentares no quesito de liberdade. – Inúmeras vezes em que nosso parlamento foi fechado, ameaçando nosso ideal democrático. – Era Vargas fechou nosso congresso por 9 anos; no AI-2 foi decretado um recesso do Congresso no período de Golpe Militar, em que houve perseguição/cassação de mandatos de parlamentares; CADERNO DIREITO PENAL I – DANIELA PORTUGAL NATÁLIA OLIVEIRA RODRIGUES 35 somente em 2012, a Câmara dos Deputados realizou sessão solene na qual devolveu simbolicamente os mandatos desses parlamentares, como consequência da Comissão da Verdade. . Passamos a entender as imunidades democráticas como um benefício para a Democracia. – Não é um benefício para o parlamentar em si, mas para a função que ele exerce. . São classificadas como absolutas, porque a ideia é pensá-las como INVIOLÁVEIS TANTO CIVIL COMO PENALMENTE, POR QAISQUER DE SUAS OPINIÕES. . Parlamentares são imunes pelos chamados “delitos de opinião” – “Vocês podem falar o que quiserem e não serão responsabilizados por isso.” . Penso inicialmente como essa liberdade de expressão absoluta, MAS depois os questionamentos surgem: ATÉ QUE PONTO ESSA LIBERDADE PODE IR? . EXEMPLOS de “delitos de opinião”: por excelência são os crimes contra honra, exemplo da injuria e da difamação. QUESTÕES PARA DEBATE: . A imunidade parlamentar absoluta abarca o crime de calúnia? . Art. 138 - Caluniar alguém, imputando-lhe falsamente fato definido como crime: Pena - detenção, de seis meses a dois anos, e multa. § 1º - Na mesma pena incorre quem, sabendo falsa a imputação, a propala ou divulga. . Muito conectada com as FAKES NEWS. . Nesse ponto, a doutrina se divide: de um lado aqueles que pensam que essa liberdade deve ser absoluta em todos os sentidos, até mesmo nos casos de calúnia onde não seria possível agir; de outros, os que julgam ser necessária SIM essas flexibilizações, para por limites essa imunidade absoluta. . EXEMPLO: Negada queixa-crime por calúnia contra senador Telmário Mota – STF ENTENDEU PELA MANUTENÇÃO DA IMUNIDADE ABSOLUTA. CADERNO DIREITO PENAL I – DANIELA PORTUGAL NATÁLIA OLIVEIRA RODRIGUES 36 http://stf.jus.br/portal/cms/verNoticiaDetalhe.asp?idConteudo=371529#:~:text=A%20Primeir a%20Turma%20do%20Supremo,e%20difundido%20nas%20redes%20sociais. . As imunidades materiais só valem para discursos dentro da casa parlamentar ou valem para os discursos fora da casa parlamentar? . Vale dentro e fora, mas para valer fora se faz necessária uma relação com o exercício funcional. . Se estiver dentro da casa parlamenta: presume-se haver relação com o exercício. . Fora da casa parlamentar: análise casuística. . EXEMPLO: STF recebe Queixa-crime contra Eurico Miranda. http://www.stf.jus.br/portal/cms/verNoticiaDetalhe.asp?idConteudo=59061 . A imunidade material para opinião proferidas dentro da casa parlamentar tem presunção absoluta de relação com o exercício funcional? Dentro da casa parlamentar posso falar exatamente tudo mesmo? E não ter responsabilização alguma por isso? . Por muito tempo, o STF manteve o entendimento de que esta imunidade era absoluta. Após algum tempo, isso mudou, e passou a ser requerido uma análise casuística. . EXEMPLO: STF recebe denúncia contra deputado Jair Bolsonaro por incitação ao crime de estupro. http://www.stf.jus.br/portal/cms/verNoticiaDetalhe.asp?idConteudo=319431. A imunidade material valeria também para vereadores? . . Art. 29. O Município reger-se-á por lei orgânica, votada em dois turnos, com o interstício mínimo de dez dias, e aprovada por dois terços dos membros da Câmara Municipal, que a promulgará, atendidos os princípios estabelecidos nesta Constituição, na Constituição do respectivo Estado e os seguintes preceitos: http://stf.jus.br/portal/cms/verNoticiaDetalhe.asp?idConteudo=371529#:~:text=A%20Primeira%20Turma%20do%20Supremo,e%20difundido%20nas%20redes%20sociais. http://stf.jus.br/portal/cms/verNoticiaDetalhe.asp?idConteudo=371529#:~:text=A%20Primeira%20Turma%20do%20Supremo,e%20difundido%20nas%20redes%20sociais. http://www.stf.jus.br/portal/cms/verNoticiaDetalhe.asp?idConteudo=59061 http://www.stf.jus.br/portal/cms/verNoticiaDetalhe.asp?idConteudo=319431 CADERNO DIREITO PENAL I – DANIELA PORTUGAL NATÁLIA OLIVEIRA RODRIGUES 37 VIII - inviolabilidade dos Vereadores por suas opiniões, palavras e votos no exercício do mandato e na circunscrição do Município; (Renumerado do inciso VI, pela Emenda Constitucional nº 1, de 1992) . EXEMPLO: “Nos limites da circunscrição do município e havendo pertinência com o exercício do mandato, garante-se a imunidade do vereador”. . STF. Plenário. RE 600063, Rel. para acórdão Min. Roberto Barroso, julgado em 25/02/2015. 2) IMUNIDADES DIPLOMÁTICAS: . PREVISÃO LEGAL: . A fonte das imunidades diplomáticas e consulares são as Convenções de Viena (1961, sobre relações diplomáticas, e 1963, sobre relações consulares), aprovadas pelos Decretos 56.435/65 e 61.078/67. . O Estado que envia a missão diplomática é designado "Estado acreditante" e o que a recebe e acredita é designado "Estado acreditador" ou "Estado acreditado". . DIPLOMATA X CÔNSUL: . Diplomata, função de representação política, é o funcionário encarregado de representar o seu Estado perante um país estrangeiro ou organismo internacional. – EXEMPLO: mediar algum conflito entre um brasileiro que por tráfico de drogas foi condenado a morte em algum país. . Cônsul: atua na órbita dos interesses privados se seus compatriotas. – EXEMLPLO: requerer um visto. . ABRANGÊNCIA: . A imunidade abrange os diplomatas de carreira (de embaixador a terceiro- secretário) e os membros do quadro administrativo e técnico (tradutores, contabilistas etc) da sede diplomática, desde que recrutados no Estado de origem (art. 37, 2, Convenção de Viena sobre Relações Diplomáticas). CADERNO DIREITO PENAL I – DANIELA PORTUGAL NATÁLIA OLIVEIRA RODRIGUES 38 . Estende-se aos familiares do diplomata de carreira, que são todos os parentes que habitam com ele e vivem sob sua dependência econômica. – COM EXCEÇÃO DOS FUNCIONÁRIOS, exemplo: um diplomata levar uma cozinheira para o país onde foi atuar. . Não significa que o diplomata, caso pratique crimes no Estado onde se encontra, não será julgado. Ele será julgado, extraditado, para responder de acordo as leis do seu país de origem. - Imunidade não quer dizer impunidade. A Convenção de Viena é expressa a esse respeito, demonstrando que os diplomatas devem ser processados, pelos crimes cometidos, nos seus Estados de origem. . ARTIGO 31 – CONVENÇÃO DE VIENA: . Artigo 31 1. O agente diplomático gozará de imunidade de jurisdição penal do Estado acreditado. Gozará também da imunidade de jurisdição civil e administrativa, a não ser que se trate de: a) uma ação real sôbre imóvel privado situado no território do Estado acreditado, salvo se o agente diplomático o possuir por conta do Estado acreditado para os fins da missão. b) uma ação sucessória na qual o agente diplomático figure, a título privado e não em nome do Estado, como executor testamentário, administrador, herdeiro ou legatário. c) uma ação referente a qualquer profissão liberal ou atividade comercial exercida pelo agente diplomático no Estado acreditado fora de suas funções oficiais. 2. O agente diplomático não é obrigado a prestar depoimento como testemunha. 3. O agente diplomático não está sujeito a nenhuma medida de execução a não ser nos casos previstos nas alíneas a, b e c do parágrafo 1 dêste artigo e desde que a execução possa realizar-se sem afetar a inviolabilidade de sua pessoa ou residência. 4. A imunidade de jurisdição de um agente diplomático no Estado acreditado não o isenta da jurisdição do Estado acreditante. CADERNO DIREITO PENAL I – DANIELA PORTUGAL NATÁLIA OLIVEIRA RODRIGUES 39 . ARTIGO 32 – CONVENÇÃO DE VIENA: o próprio diplomata não pode renunciar a esta imunidade, apenas o Estado acreditante, pois ele está ali para exercer uma função que não está ligada a questões pessoais, mas sim públicas. – DEVE SER UMA RENÚNCIA EXPRESSA. . Artigo 32 1. O Estado acreditante pode renunciar à imunidade de jurisdição dos seus agentes diplomáticos e das pessoas que gozam de imunidade nos termos do artigo 37. 2. A renúncia será sempre expressa. 3. Se um agente diplomático ou uma pessoa que goza de imunidade de jurisdição nos termos do artigo 37 inicia uma ação judicial, não lhe será permitido invocar a imunidade de jurisdição no tocante a uma reconvenção ligada à ação principal. 4. A renúncia à imunidade de jurisdição no tocante às ações civis ou administrativas não implica renúncia a imunidade quanto as medidas de execução da sentença, para as quais nova renúncia é necessária. . ARTIGO 37 DA CONVENÇÃO DE VIENA: Artigo 37: 1. Os membros da família de um agente diplomático que com ele vivam gozarão dos privilégios e imunidade mencionados nos artigos 29 e 36, desde que não sejam nacionais do estado acreditado. . Um diplomata brasileiro, atuando no Iraque, se lá casa com uma iraquiana, esta não gozará dessa imunidade, pois é nacional desse estado acreditado. – Caso ela pratique algum crime, ela será julgada segundo as leis de lá, do seu próprio Estado. 3) IMUNIDADES CONSULARES: CADERNO DIREITO PENAL I – DANIELA PORTUGAL NATÁLIA OLIVEIRA RODRIGUES 40 . Possuem imunidade à jurisdição brasileira os funcionários consulares de carreira (cônsul-geral, o cônsul e o agente consular), quando no exercício de suas funções. A imunidade não beneficia qualquer tipo de funcionário consular honorário, inclusive o Cônsul honorário. . Os funcionários do consulado devem ter a nacionalidade do Estado que os envia, salvo autorização expressa em outro sentido do Estado receptor. Assim, poderá ́ haver a contratação de brasileiros para trabalhar em consulado estrangeiro, embora o Brasil possa retirar essa autorização a qualquer momento. Idêntica imunidade é garantida aos empregados consulares, que fazem parte do corpo técnico e administrativo do consulado. . Não possuem imunidade PENAL os membros da família, nem os empregados pessoais, tendo em vista que não podem atuar, como prevê a Constituição, no exercício da função. 4) OUTRAS IMUNIDADES: A) CÓDIGO PENAL: traz uma imunidade absoluta, pois ela isenta de pena o sujeito nesse artigo: Art. 181 - É isento de pena quem comete qualquer dos crimes previstos neste título, em prejuízo: (Vide Lei nº 10.741, de 2003) I - do cônjuge, na constância da sociedade conjugal; II - de ascendente ou descendente, seja o parentesco legítimo ou ilegítimo, seja civil ou natural. EXEMPLO: estão imunes os filhos que furtam algum dinheiro da mãe dentro de casa; ou quando a esposa gasta o dinheiro do marido do cartão todo. B) CÓDIGO PENAL: traz uma imunidade relativa, pois exige a representação para que haja ação penal: Art. 182 - Somente se procede mediante representação, se o crime previsto neste título é cometido em prejuízo: (Vide Lei nº 10.741, de 2003) I - do cônjuge desquitado ou judicialmente separado; II - de irmão, legítimo ou ilegítimo; CADERNO DIREITO PENAL I – DANIELA PORTUGAL NATÁLIA OLIVEIRA RODRIGUES 41 III - de tio ou sobrinho, com quem oagente coabita. . Se furto uma roupa de meu irmão, a ação penal só será iniciada se houver pedido de iniciação do processo por parte da vítima. C)CÓDIGO PENAL TRAZ RESSALVAS AOS DOIS ARTIGOS ANTERIORES: Art. 183 - Não se aplica o disposto nos dois artigos anteriores: I - se o crime é de roubo ou de extorsão, ou, em geral, quando haja emprego de grave ameaça ou violência à pessoa; II - ao estranho que participa do crime. III – se o crime é praticado contra pessoa com idade igual ou superior a 60 (sessenta) anos. (Incluído pela Lei nº 10.741, de 2003) . Eu não teria imunidade caso furtasse algo de pais idosos (60 anos ou mais), porém em caso contrário, eles teriam. NORMA PENAL E CONFLITO DE NORMAS A) NORMA PENAL . Tem uma estrutura que está absolutamente vinculada a previsão da nossa Constituição. – Ninguém será obrigado a fazer algo ou deixar de fazer algo sem uma previsão legal para tal. . Princípio da reserva legal. – “pode-se fazer tudo que não esteja expressamente proibido em lei, uma vez que segundo o inciso XXXIX do Art. 5º da CF e o Art. 1º do Código Penal, não há crime sem lei anterior que o defina, nem pena sem prévia cominação legal. 1) NORMAS PENAIS INCRIMINADORAS: . Reserva da função de definir as infrações penais, proibindo ou impondo condutas. CADERNO DIREITO PENAL I – DANIELA PORTUGAL NATÁLIA OLIVEIRA RODRIGUES 42 . Cumprem função de definir as condutas classificadas como criminosas. . Direito Penal é eminentemente sancionador, composto principalmente por nos proibitivas, porque irá trazer as respectivas penas para cada conduta que venha a ser praticada. . Esse tipo de norma é composto por: . Preceito primário: descrição da conduta. . Preceito secundário: descrição da pena. . EXEMPLO: Art. 129 do Código Penal Brasileiro: Ofender a integridade corporal ou a saúde de outrem: (Preceito primário) Pena – detenção, de três meses a um ano. (Preceito secundário). OFENDER: núcleo do tipo incriminador, é o verbo nuclear que descreve a conduta criminosa. 2) NORMAS PENAIS NÃO INCRIMINADORAS: . De uma maneira geral, não criminalizam condutas. . Vão assumir outros papéis, tais como: . Tornar lícitas determinadas condutas; . Afastar a culpabilidade do agente; . Esclarecer determinados conceitos; . Fornecer princípios gerais para a aplicação da lei penal. . Elas podem ser: 2.1) Permissivas: que podem ser permissivas JUSTIFICANTES ou permissivas exculpantes. . Normas permissivas autorizam determinados comportamentos. CADERNO DIREITO PENAL I – DANIELA PORTUGAL NATÁLIA OLIVEIRA RODRIGUES 43 . As normas permissivas justificantes: vão tornar lícito o comportamento pela exclusão da ilicitude (antijuricidade) da conduta. – Previstas nos artigos 23,24 e 25 do Código Penal. . As normas permissivas exculpantes: vão tornar lícito o comportamento pela exclusão da culpabilidade da conduta (“isentam de pena”). Previstas nos artigos 26 e 28 do Código Penal. 2.2) Explicativas: vão ter como objetivo explicar determinados conceitos. . Exemplo: Artigo 327 do Código penal, que irá explicar quem é considerado funcionário público: Art. 327 - Considera-se funcionário público, para os efeitos penais, quem, embora transitoriamente ou sem remuneração, exerce cargo, emprego ou função pública. 2.3) Complementares: elucidar o próprio conceito das normas penais, pois elas oferecem princípios gerais para a aplicação da lei penal. . Exemplo: Artigo 59 do Código Penal. Art. 59 - O juiz, atendendo à culpabilidade, aos antecedentes, à conduta social, à personalidade do agente, aos motivos, às circunstâncias e conseqüências do crime, bem como ao comportamento da vítima, estabelecerá, conforme seja necessário e suficiente para reprovação e prevenção do crime: (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) I - as penas aplicáveis dentre as cominadas; (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) II - a quantidade de pena aplicável, dentro dos limites previstos; (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) III - o regime inicial de cumprimento da pena privativa de liberdade; (Incluído pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) IV - a substituição da pena privativa da liberdade aplicada, por outra espécie de pena, se cabível. (Incluído pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) CADERNO DIREITO PENAL I – DANIELA PORTUGAL NATÁLIA OLIVEIRA RODRIGUES 44 Critérios especiais da pena de multa 3) NORMAS PENAIS INCOMPLETAS OU IMPERFEITAS: . Também conhecidas como secundariamente remetidas, são aquelas que, para saber a sanção imposta pela transgressão de seu preceito penal, o legislador nos remete a outro texto de lei. . Exemplo: Lei nº 2.889/56, Art. 1º: “Quem, com a intenção de destruir, no todo ou em parte, grupo nacional, étnico, racial o religioso como tal: a) Matar membros do grupo; b) (....); c) (....); d) (....); e) (....); . Será punido: Com as penas do art. 121, inciso 2º do Código Penal, no caso da letra a. 4) ANOMIA X ANTINOMIA. 4.1) Anomia: . Compreendida como sendo a ausência de normas. - ANOMIA – ANOLOGIA: . Analogia, como dito anteriormente, trata da ausência de norma. . Analogia é admitida pelo Direito Penal, desde que em benefício do réu. . Não se admite analogia prejudicial ao réu. . O processo penal é mais amplo, admite a analogia seja em prejuízo ou benefício do réu. - INTERPRETAÇÃO EXTENSIVA OU ANALÓGICA: . Para Daniela Portugal, trata da mesma coisa de analogia. Mas, a doutrina majoritária afirma não ser a mesma coisa, e que esta intepretação extensiva ou analógica no Direito Penal, poderia ser utilizada tanto em benefício quanto prejuízo do réu. . Exemplo: Art. 121 CADERNO DIREITO PENAL I – DANIELA PORTUGAL NATÁLIA OLIVEIRA RODRIGUES 45 . Que outro meio é esse? Não sabemos. . “Emprego de veneno, fogo, explosivo, asfixia (FÓRMULA CAUSUÍSTICA). . “Ou outro meio insidioso ou cruel, ou de que possa resultar perigo comum (FÓRMULA GERAL). – Autoriza o juiz a aplicação de interpretação analógica. 4.2) Antinomia: . Situação que se verifica entre duas normas compatíveis, que pertencem ao mesmo ordenamento jurídico e tendo o mesmo âmbito de validade. . Antinomia aparente: já está pré-solucionada a partir de critérios que irão compor o aparente conflito normativo. – Critério cronológico (norma mais recente prevalece sobre a norma mais antiga), hierárquico (norma superior prevalece sobre norma inferior) e de especialidade (norma especial prevalece sobre a norma geral). - Antinomias reais por Bobbio: não há um critério de solução pré-definindo o conflito. Pois, pode-se ter um conflito/antinomia de 2º grau entre norma de hierarquia superior e geral x norma de hierarquia inferior, porém especial. – Têm-se então uma ANÁLISE CAUSUÍSTICA. . Têm-se como exemplo a lei Maria da Penha, que só se aplica se a vítima for mulher. – Vários professores diziam que ela era inconstitucional, pois ela não poderia só proteger mulheres, homens também deveriam ser protegidos. O STF concluiu que é uma lei que traz tratamento especial da mulher CONSTITUCIONALMENTE, pois é uma reparação necessária. Outro caso, foi quando divulgaram as cotas raciais afirmativas, em que muitos julgaram ser um privilégio inconstitucional, mas que na verdade se justificam justamente por essa estigmatização das pessoas negras, que historicamente sempre foram privadas de frequentas lugares como as universidades. - Critérios penais para a solução de antinomias aparente (agrega os princípios abaixo, mas permanece utilizando o cronológico, hierárquico e especial): . Princípio da especialidade: norma especial afasta a aplicação da norma geral. . Princípio da subsidiariedade: a norma dita subsidiária é considerada, na expressão de Hungria, como um “soldado de reserva”, isto é, na ausência ou impossibilidade de aplicação
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