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Novas Tecnologias Aplicadas à Gestão Financeira - AULA 4

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NOVAS TECNOLOGIAS 
APLICADAS À GESTÃO 
FINANCEIRA 
AULA 4 
Prof. Vinicius Diniz Moraes 
 
 
CONVERSA INICIAL 
 
 Assim como no setor bancário, novas tecnologias e inovações estão 
transformando drasticamente também o mercado financeiro. A introdução de 
novos meios de comunicação propiciou transações e fluxo de informações muito 
mais ágeis e baratas. Por isso, esta aula tem como principal objetivo mostrar 
como se deram as transformações no mercado financeiro com base na evolução 
tecnológica no sentido da digitalização. 
Primeiramente, é apresentado um histórico das evoluções tecnológicas 
aplicadas ao mercado de capitais. Posteriormente é comentado como a 
introdução da ferramenta Home Broker facilitou as atividades financeiras. Em 
seguida, é mostrada a ideia de rede de empresas financeiras através do Open 
Banking, uma grande tendência do mercado financeiro. Depois, é discutida a 
diminuição de potenciais dificuldades na integração de novos usuários e 
plataformas por meio do conceito de frictionless onboarding. Por fim, propõe-se 
uma discussão a respeito da desregulamentação do setor financeiro com os 
principais argumentos favoráveis e contrários sobre o tema. 
CONTEXTUALIZANDO 
 O mercado financeiro é um dos mais importantes mercados no mundo, 
por conta de seu tamanho e movimentação monetária. Normalmente, quando 
pensamos em mercado financeiro, imediatamente vem à cabeça um lugar cheio 
de pessoas gritando no telefone para comprar e vender ações – a bolsa de 
valores. Contudo, com o avanço tecnológico, principalmente dos últimos vinte 
anos, essa imagem já se tornou obsoleta. As transações no mercado financeiro, 
hoje, são feitas por plataformas de alta tecnologia e velocidade, características 
essenciais para a consolidação de ganhos no mercado de capitais. 
 
 
 
 
 
 
 
3 
 
TEMA 1 – TRANSFORMAÇÃO DO MERCADO FINANCEIRO 
 
 
Créditos: Zakharchuk / Shutterstock 
Papel, cavalo, pomba, fio e computador, é assim que Cliff e Treleaven 
(2010) descrevem a transformação do mercado financeiro com base nas novas 
tecnologias de cada época. O mercado de capitais e a bolsa de valores são 
instituições que datam do Renascimento, ou seja, aproximadamente do século 
XIV, em Veneza. Portanto, transações de ações e outros títulos tiveram grandes 
mudanças no decorrer do tempo. 
Naquela época, os eventos que influenciavam as transações financeiras 
eram guerras e chegadas ou naufrágios de navios anunciadas por mensageiros 
a cavalo, que percorriam a Europa inteira. Os negociadores mais influentes do 
mercado financeiro contavam com a melhor cavalaria para ter acesso às 
informações com maior rapidez. A competição da época por melhor informação 
era garantia de maiores ganhos, por isso os fundadores da empresa de 
informação financeira Reuters trocaram cavalos por pombos, afinal eles eram 
mais rápidos e baratos. Isso resultou em uma das maiores empresas de 
informação financeira do planeta (Cliff; Treleaven 2010). 
Foi apenas em meados do século XIV, com a corrida pela instalação de 
cabos submarinos, a invenção do telegrafo e, posteriormente, do telefone, que o 
mercado financeiro ganhou uma nova força de crescimento que iria perdurar 
como tecnologia principal nas atividades financeiras por quase todo o século XX. 
Segundo Cliff e Treleaven (2010), a introdução do telégrafo e telefone no 
mercado financeiro causou o declínio da bolsa de valores de diversas cidades, 
no sentido de uma concentração para grandes centros como Nova Iorque e 
 
 
4 
Londres. O telégrafo foi o grande responsável por propiciar a comunicação quase 
que imediata de longas distâncias a baixo custo. Além disso, a tecnologia afetou 
a economia como um todo por possibilitar a exploração e a conquista de novos 
mercados, como a “Corrida para o Oeste”, nos Estados Unidos (Yates, 1986). 
Posteriormente, no final do século XX, foi a vez das tecnologias. A 
introdução do computador pessoal e da internet fez a demanda por sistemas de 
informação crescer. Foi pela venda de terminais de informação sobre o mercado 
de capitais que Bloomberg fez sua fortuna, e até hoje os principais centros com 
atividades na bolsa de valores possuem um terminal da Bloomberg (Cliff; 
Treleaven 2010). 
 
 
Créditos: Naritsorn Hirunon / Shutterstock 
 Para Goldenberg (2018) o grande salto no mercado de capitais para 
modernização e digitalização foi a crise financeira de 1987. Também conhecida 
como segunda-feira negra, o crash de 1987 afetou diversas bolsas de valores no 
mundo inteiro, levando à queda do índice Dow Jones, nos Estados Unidos, de 
22% em um dia. 
Em relação às causas da crise, há várias explicações e apontamentos. 
Cliff e Treleaven (2010) argumentam que a introdução dos computadores e de 
programas muito simples que emitiam sinais de preço causou um grande 
alvoroço no mercado, levando ao crash. Em mesma linha de pensamento, o 
ganhador do prêmio Nobel em economia, Robert Shiller, argumenta que a 
principal causa foi um pânico generalizado, fazendo com que os investidores 
vendessem seus ativos a qualquer preço. Afinal, com medo de maior queda de 
preços, os investidores passaram a aceitar menores preços, consequentemente, 
 
 
5 
criando uma bola de neve negativa e culminando na quebra do mercado de 
ações (Oyedele 2017). 
 Mesmo com a crise, o uso de computadores e softwares teve um 
desenvolvimento crescente em diversas funções no mercado financeiro. Além 
da facilidade de comunicação, a melhoria das técnicas de programação tornou 
a atividade de investimento muito mais técnica com uso de algoritmos e modelos 
matemáticos para a gestão de portfólios. A evolução dos aspectos visuais dos 
computadores como imagem colorida e melhores telas também contribuiu para 
o avanço da análise técnica com o uso de gráficos e séries históricas como 
ferramentas de tomada de decisão para investimentos. 
Posteriormente foi a vez da internet impactar significativamente o 
mercado financeiro. Os impactos diretos da internet foram principalmente em 
facilitar a difusão de informações, promover a maior interação entre agentes 
econômicos e propiciar o acesso direto de agentes econômicos a diferentes 
mercados (Economides, 2005). A criação e difusão de relatórios de 
desempenhos anuais das empresas, websites de notícias, softwares de 
informação e avaliação do mercado financeiro marcam as maiores facilidades na 
busca por informações com a internet. Assim, a assimetria de informação que 
era extremamente importante no século XX passou a ter menor peso por conta 
do maior acesso a informações. Já a maior interação entre os agentes 
possibilitou a criação de novos instrumentos financeiros como a transação de 
commodities e maiores discussões sobre os mercados com o lançamento de 
debates na televisão de diversos especialistas. Por fim, o acesso mais direto aos 
mercados como consequência da internet permite uma verdadeira conexão 
global entre os mercados, ou seja, hoje é possível operar na bolsa no mundo 
inteiro com grande facilidade (Economides, 2005). 
Agora é a vez da Inteligência Artificial (IA), Cloud, Blockchain e Big Data 
de liderar as próximas tendências tecnológicas no setor financeiro. Especialistas 
apontam que a combinação da grande disponibilidade de dados com a Big Data 
e a capacidade de máquinas aprenderem a realizarem cálculos complexos 
podem revolucionar a tomada de decisão e avaliação de retornos ajustados ao 
risco de cada aplicação. Já o crescimento e popularização da Cloud e centros 
de armazenamento de dados também facilitam o uso de grandes bases de 
dados. O protocolo de segurança Blockchain promete revolucionar contratos de 
transação financeiras com a eliminação de intermediários. Além de que a 
 
 
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tecnologia assegura a segurança das transações por utilizar criptografia e o livro-
razão que garante a imutabilidade dos dados. 
 Grandes evoluções tecnológicas não alteram apenasas atividades, 
processos e o modus operandi do mercado financeiro, mas também as empresas 
de tecnologia tendem a causar um grande alvoroço, impactando no crescimento 
e volatilidade da bolsa de valores. Foi isso o que ocorreu no início do século XXI, 
com a crise financeira chamada “ponto-com” ou “bolha da internet” com as novas 
empresas de tecnologia IBM, eBay e AOL Time Warner. Essas empresas eram 
a grande promessa de lucros entre os investidores e, por isso, o preço de suas 
ações cresceram consideravelmente formando um ataque especulativo. O índice 
Nasdaq, índice das empresas de tecnologia nos Estados Unidos cresceu de 
1.000 para mais de 5.000 pontos entre 1995 e 2000. Com a quebra da bolsa em 
2000, o índice recuou 76.8% (Hayes, 2019). Atualmente, alguns especialistas 
argumentam que o mesmo pode ocorrer nas grandes startups de tecnologia, 
principalmente a Tesla e Spotify (Marketwatch, 2018). 
TEMA 2 – HOME BROKER 
 Quando se pensa em mercado de capitais e bolsa de valores, certamente 
a imagem que vem à cabeça é de um salão lotado de pessoas gritando ao 
telefone e fazendo sinais de compra e venda. Esse ambiente, de certa forma 
caótico, foi a realidade de vários traders e operantes no mercado de ações no 
mundo inteiro, principalmente em meados do século XX. A imagem a seguir 
representa como era o pregão da bolsa de Chicago. 
Figura 1 – Pregão da bolsa de Chicago, em meados do século XX 
 
Créditos: Joseph Sohm / shutterstock 
 
 Todavia, hoje essa não é mais a realidade dos operadores na bolsa de 
valores. Atualmente, a bolsa de valores migrou quase que inteiramente para a 
 
 
7 
internet e os prédios e instalações físicas agora servem para ocasiões especiais 
ou viraram museu. Esse é o caso do prédio da Bovespa, em São Paulo. Não 
espere visitar a bolsa de valores de São Paulo e encontrar centenas de pessoas 
gritando para vender ou comprar ações. Na realidade, sua visita à Bovespa, ou 
B3 como hoje é conhecida, será mais uma visita educacional com museu, 
história e cinema 3D do que uma real imersão no cotidiano do mercado de 
capitais. 
 Assim como em outras atividades das finanças, como bancos e empresas 
de pagamentos, o mercado de capitais também foi afetado drasticamente pela 
evolução tecnológica. As corretoras de ações, seguros e outros títulos 
mobiliários que compõe o chamado mercado de capitais passaram a funcionar 
remotamente e descentralizados. Com isso, o dia a dia de um trader se parece 
muito mais com a imagem a seguir: 
Figura 2 – O dia a dia de um trader, hoje 
 
Crédito: Andrey_Popov / Shutterstock 
 Com objetivo de evitar perdas de tempo e melhorar a 
funcionalidade do mercado, as operações no mercado de ações foram migrando 
do telefone para o computador, com o avanço e a democratização das 
tecnologias. Assim surgiu o conceito de investimento online procurando eliminar 
intermediários e agilizar o processo de compra e venda de ativos, afinal, no 
mercado financeiro, tempo é dinheiro. Foi então que surgiu o home broker como 
novo canal de execução de operações, com objetivo facilitar transações e 
promover a mudança que o mercado necessitava. 
 
 
8 
O home broker segue a mesma lógica da internet banking para bancos, 
ou seja, funciona como uma plataforma online que propicia qualquer pessoa 
operar na bolsa de valores de forma rápida, barata e simples. A plataforma 
substitui o telefone e o operador de pregão, nas transações na bolsa de valores, 
portanto é um meio direto de ligação entre investidores e o mercado financeiro 
via corretoras. Antes, para realizar uma execução de ordem como compra ou 
venda, o investidor precisava ligar para a mesa de operações que, por sua vez, 
realizaria a execução da ordem. Assim, com a implantação das plataformas 
online, a ordem fica a um clique no mouse de distância. 
No Brasil, o primeiros home broker foram implantados pela Bovespa, em 
1998. Hoje as plataformas de home broker são oferecidas pelas corretoras e 
operam dentro da própria rede da Bovespa. Atualmente, além do computador, já 
existem corretoras que oferecem plataformas para o celular e tablet. O principal 
objetivo das novas plataformas é expandir e facilitar o acesso ao mercado de 
ações oferecendo maneiras mais fáceis e rápidas de acessar sua carteira de 
investimento e investir. 
 Além de realizar transações de compra e venda de ativos, as plataformas 
de home broker também oferecem outras funções, dependendo de cada 
plataforma e de cada corretora. Normalmente, o home broker permite 
acompanhar a carteira de investimento e rendimento, ter acesso a cotações 
instantâneas, envio de ordens imediatas, recebimento de confirmações e outras 
notificações. Além dessas funcionalidades, programas mais avançados 
permitem visualização de gráficos e configuração de algoritmos e outros 
mecanismos para transações automáticas. Atualmente, os programas de 
investimentos se parecem com o apresentado na Figura 3: 
Figura 3 – Programas de investimentos 
 
Créditos: ZinetroN / Shutterstock 
 
 
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As atividades das corretoras são regulamentadas pela Comissão de 
Valores Mobiliários (CVM), no Brasil. A CVM determina que operações no 
mercado financeiro devem ser sempre intermediadas por uma empresa privada 
habilitada pela comissão. Sendo assim, qualquer investidor interessado em 
futuras aplicações no mercado de capitais deve procurar uma instituição 
credenciada a operar no sistema de distribuição. A regra vale para qualquer tipo 
de operação, incluindo as online. Portanto, a CVM exige uma dupla autorização 
prévia para operação, da própria corretora e das plataformas online oferecidas. 
Além da autorização, a CVM determina que os fornecedores de serviços online 
contem com mecanismos de segurança para proteção de dados. 
Novas funcionalidades a respeito do investimento online e home broker 
estão por vim como resultado das inovações tecnológicas da indústria 4.0. Novas 
tecnologias como inteligência artificial poderão integrar as plataformas 
financeiras para realizar transações automaticamente. Hoje já é possível a 
incorporação dos chamados robôs traders que, na verdade, são algoritmos que 
executam transações automáticas com base na determinação prévia do 
investidor, a chamada calibragem. Com a inteligência artificial, esses robôs 
poderão ganhar funcionalidades ainda mais eficientes, pois eles serão capazes 
de aprender com as flutuações do mercado para realizar transações mais 
rentáveis e seguras. 
Outra tecnologia que poderá revolucionar as plataformas de investimento 
online é a blockchain, que pode dar muito mais segurança nas transações 
financeiras por ser uma tecnologia descentralizada. Além disso, por permitir 
trocas seguras de ativos entre usuários, ela pode tornar as corretoras obsoletas, 
pois a blockchain eliminaria a necessidade de um intermediário realizando as 
execuções de ordem. O investidor estará conectado diretamente no mercado de 
capitais, ao invés de uma corretora. É como se qualquer ativo financeiro, um 
pedaço de uma empresa, por exemplo, funcionasse como uma Bitcoin, onde ela 
pode ser livremente transacionada entre pessoas sem intermédio de terceiros. 
 
 
 
 
 
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TEMA 3 – OPEN BANKING 
 
 
Créditos: Nazarkru / Shutterstock 
 Hoje, os dados bancários de todos os clientes em todas as empresas 
financeiras devem ser mantidos em sigilo por lei. Contudo, essa definição está 
prestes a mudar com a inovação trazida pelo Open Banking. O principal objetivo 
do open banking é criar uma plataforma personalizada que possibilite que o 
cliente movimente suas diversas contas financeiras, conta em bancos, corretoras 
do mercado financeiro e poupança, por meio de apenas uma plataforma. Assim, 
o open banking é definido como uma rede de empresas e instituições financeiras 
que se comunicam e trocam informações via APIs (Interface de Programação de 
Aplicativos). Essa é uma das grandes tendências de avanços tecnológicosque 
busca integrar a área financeira como um todo. Segundo pesquisa realizada pela 
FEBRABAN (Federação Brasileira de Bancos), 99 de 100 executivos de 
empresas de pagamentos brasileiras acreditam no crescimento do open banking 
e pretendem realizar investimentos na tecnologia até 2020. 
A principal função do open banking é a integração de contas financeiras 
para facilitar a administração do usuário. Por exemplo, digamos que você tenha 
uma conta corrente no banco 1, uma conta poupança no banco 2, utiliza a 
corretora de valores 3 e ainda contratou o financiamento do banco 4. Hoje, você 
teria que lidar separadamente com 4 instituições diferentes e, possivelmente, ter 
4 aplicativos diferentes no seu celular para administras esses diferentes 
serviços. Portanto, a ideia do open banking é justamente integrar todas as 
diferentes instituições em apenas uma plataforma, aplicativo de celular por 
 
 
11 
exemplo. Hoje, essa funcionalidade já é possível nos smartphones com 
diferentes endereços de e-mail. O usuário pode cadastrar diferentes contas de 
e-mail em um mesmo aplicativo de computador ou celular e passa a acompanhar 
sua conta de maneira integrada. 
A troca de informações entre as empresas que compõem a rede open 
banking acontece por meio de APIs (Interface de Programação de Aplicativos) e 
exige explicita autorização dos donos das contas. As APIs são mecanismos que 
possibilitam diferentes empresas de compartilharem e melhorarem produtos e 
serviços associados ao seu aplicativo. Por exemplo, uma empresa pode ter sua 
localização e outras informações como website mostrados pelo Google Maps via 
APIs. Sendo assim, a troca de informações via API permite a criação ou melhoria 
de aplicativos por terceiros. 
Figura 4 – Rede Open Banking 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Fonte: elaborado pelo autor. 
 
A grande vantagem do open banking, além da integração de contas, é que 
a funcionalidade permite um alto nível de personalização para atender as 
demandas individuais de usuários. Enquanto um aposentado pode contar com 
um aplicativo especial que opere sua conta corrente, poupança e conta de 
aposentadoria, um investidor poderá contar com um aplicativo totalmente 
Banco A 
Financeiras 
Banco de 
investimento 
Cartão de 
credito 
Corretora 
Banco B 
Seguros 
Open 
Banking 
 
 
12 
diferente que cubra sua conta na corretora, conta corrente nacional e 
internacional e seguros, por exemplo. 
Outra aplicação para o open banking além do uso pessoal é a gestão 
financeira de empresas. Com a rede de conexão e interligação entre diversas 
contas, empresas poderão ter uma plataforma que combine todas suas contas e 
atividades financeiras. Com isso, além de poupar tempo, a administração 
financeira da empresa é facilitada, afinal os dados compilados em apenas uma 
plataforma é mais uma ferramenta para o planejamento e a gestão da empresa. 
No Brasil, o open banking já é uma realidade e a fintech GuiaBolso é uma 
das principais empresas no ramo. A GuiaBolso promete facilitar a gestão 
financeira pessoal com o monitoramento em tempo real de gastos e ganhos. 
Tudo isso é feito por meio de um aplicativo para celular. Ao baixar o aplicativo, o 
usuário deve cadastrar todas as suas contas financeiras no aplicativo, assim o 
usuário autoriza a troca de informações do banco com o aplicativo, por exemplo. 
Em seguida, por meio da comunicação do seu banco com o aplicativo, todas as 
suas transações estarão disponíveis no seu celular. Além propiciar uma maior 
facilidade em termos de atividade e transações financeiras, o aplicativo promete 
ser uma ferramenta de planejamento e educação financeira, pois compila várias 
informações financeiras de uma maneira fácil e simplificada ao usuário do 
aplicativo. Além do GuiaBolso, a matéria do jornal Valor de 16/10/2018 mostra 
que há outras empresas no Brasil avançadas em termos de implantação e 
solidificação de uma rede open banking. O Banco do Brasil já compartilha 
informações com a fintech ContaAzul para gestão financeira de micro e 
pequenas empresas, a empresa da comparadora de credito bxblue e também a 
empresa especializada em programa de fidelidade e pontos Dotz. 
A grande questão que freia ou impede o crescimento das redes de 
compartilhamento de informações open banking é a regulamentação dessa 
atividade. Como mencionado, no Brasil a questão dos dados bancários é ainda 
hoje tratada como informações sigilosas por lei. Contudo, há quem diga que os 
dados não devem pertencer aos bancos e sim aos usuários, portanto, ficando a 
critério do usuário a disseminação ou não de seus dados. Outra frente no debate 
sobre a regulamentação do API argumenta que dados financeiros são 
extremamente valiosos e, por isso, é necessária uma forte regulação e 
segurança envolvendo esses dados. 
 
 
13 
Segundo a FEBRABAN, hoje o Brasil conta com a autorização de troca 
de informações de APIs para relatórios financeiros e dados de pagamentos. Em 
outras palavras, atualmente apenas informações relacionadas a extratos e 
transações como pagamentos e transferências entre contas. No começo de 
2018, a União Europeia lançou a diretiva PSD2 que obriga os bancos a 
fornecerem dados bancários para outras instituições com o intuito de melhorar 
os serviços e aumentar a competição no mercado financeiro. Segundo diversas 
fontes, a tendência é que o Banco Central do Brasil lance a regulamentação das 
APIs no final de 2019 determinando que os bancos sejam obrigados a 
compartilhas dados de clientes quando autorizado pelos próprios clientes. 
TEMA 4 – FRICTIONLESS ONBOARDING 
 
Créditos: Graf Vishenka / Shutterstock 
O termo em inglês frictionless onboarding, traduzido literalmente, significa 
integração sem atrito. Frictionless quer dizer “sem atrito ou fricção”, e diz respeito 
à resistência entre duas partes quando em movimento que resulta em gasto de 
energia. Já onboarding significa embarcar, integrar. Portanto, frictionless 
onboarding define uma ação ou operação de embarque e integração sem ou 
mínima dificuldade ou gasto de recursos. O termo é utilizado na gestão financeira 
e nas finanças para descrever diversas situações ou técnicas de minimizar gasto 
de tempo, dinheiro ou outros recursos quando um novo processo, software ou 
cliente é integrado. Segundo Dasgupta (2018), até 15% de novos clientes são 
perdidos apenas durante o processo de registro e validação, até que a integração 
completa seja atingida. 
https://www.shutterstock.com/pt/g/grafvishenka
 
 
14 
Um exemplo de friction onboarding, dificuldade em novas integrações, é 
quando uma empresa decide adotar um novo sistema de gestão financeira. 
Contudo, esse sistema é totalmente novo para os funcionários. Sendo assim 
necessário investimento da empresa em treinamento de funcionários, 
adequação nos hardwares (computadores) da empresa, entre outros problemas 
de adequação ao novo sistema. Portanto, a ideia de frictionless onboarding tenta 
eliminar o máximo possível de gastos desnecessários resultados da transição. 
Especialmente para o caso do setor financeiro, há duas atividades em que o 
frictionless customer onboarding pretende focar: a primeira trata de aumentar a 
eficiência e rapidez de serviços de atendimento ao consumidor. Já a segunda 
sugere novas estratégias promete facilitar a abertura de novas contas para a 
integração de novos clientes garantindo segurança. 
4.1 Frictionless onboarding no atendimento ao cliente 
 A redução ou eliminação de gastos de recursos ou desgaste dos 
consumidores relacionados a mudanças de plataformas é chamada de 
frictionless customer onboarding. Esse conceito advém da recente mudança das 
instituições financeiras que passaram a considerar o consumidor e a experiência 
do consumidor como prioridade para estratégia de negócios. A nova estratégia 
procura eliminar desgaste na hora de introduzir o consumidor a uma nova 
plataforma e/ou a um novo sistema.Um processo bastante conhecido por consumidores em geral por causar 
irritações e gasto desnecessários de tempo é o atendimento ao cliente via 
telefone. Além da chateação, manter centros de telemarketing não é uma tarefa 
economicamente inteligente, afinal os índices de produtividade e qualidade do 
serviço são baixos e os custos fixos e variáveis são altos. Sendo assim, além da 
adoção de novas tecnologias como inteligência artificial e big data para melhorar 
o serviço, empresas do setor financeiro estão adotando medidas que 
possibilitem a resolução de problemas o mais eficiente possível. Para isso, o 
frictionless customer onboarding permite que o cliente migre de uma plataforma 
de atendimento para outra com o mínimo de dificuldade. 
Portanto, o atendimento que começou por telefone pode ser transferido 
para o chat no smatphone e, posteriormente, para o computador sem interrupção 
ou perda da vez no atendimento. O open banking que possibilita a integração de 
 
 
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diferentes plataformas em um aplicativo personalizado é uma das vias que 
procura minimizar o atrito e desgaste do consumidor. 
4.2 Segurança na era digital 
 
Crédito: Rawpixel.com / shutterstock 
Já a segunda aplicação do frictionless customer onboarding diz respeito 
à integração de novos consumidores a bancos e empresas financeiras 
respeitando regras de regulação e complience. Quando se pensa em abrir uma 
conta em um banco, imediatamente pensamos em um processo extremamente 
burocrático de buscar documentos para provar residência, renda e identidade. 
Ainda pensamos ser necessário ir até uma agência física do banco para 
conversar com um gerente, assinar um longo contrato e esperar dias até 
realmente ser possível utilizar a conta e receber o cartão. É exatamente esse 
processo burocrático e custoso que o frictionless consumer onboarding procura 
eliminar. 
Os mecanismos de compliance e o processo know-your-customer são 
exigências a instituições financeiras que servem como mecanismos de 
segurança com o intuito de prevenir atividades financeiras ilegais como lavagem 
de dinheiro. Ao mesmo tempo, empresas procuram reduzir custos e tempo 
mantendo níveis de segurança adequados. Dasgupta (2018) estima que hoje o 
processo de integração, onboarding, em uma empresa financeira envolve em 
média 20 diferentes aplicações, dura 34 semanas e custa aproximadamente 25 
mil dólares por usuário. Portanto, a aplicação de novas tecnologias no 
onboarding busca justamente eliminar o trade-off entre segurança e rapidez na 
integração, tornando possível a combinação dos dois fatores para melhorias no 
setor financeiro. 
 
 
16 
 Mesmo que esse processo de abertura de conta bancária e de integração 
a uma nova instituição financeira seja custoso e demorado, ele foi logicamente 
construído para evitar clientes indesejados que sejam potenciais riscos ao 
banco, por realizarem atividades ilegais, lavagem de dinheiro ou corrupção. 
Portanto, esse processo denominado “conheça seu cliente” (know-your-
customer) é um mecanismo antifraude que obriga as instituições financeiras a 
coletarem e submeterem dados dos clientes e de suas transações à Receita 
Federal. Para isso, essa política de complience, atividade de fazer empresas 
estarem em conformidade com a lei, exige ferramentas de autenticação de 
clientes via documentos e processos burocráticos. 
 Nesse sentido, a frictionless consumer onboarding está sendo adotada 
com bancos digitais, principalmente, no processo de abertura de contas com 
segurança. Existem vários métodos de se diminuir os gastos de energia 
decorrentes da integração, um deles é a autenticação de identidade via 
reconhecimento facial. Ao criar uma nova conta em um banco digital, o cliente 
precisa tirar uma foto de um de seus documentos oficiais com foto e também 
uma própria foto sua (uma selfie). Com isso, o próprio aplicativo do banco digital 
utilizara a ferramenta de reconhecimento facial e comparação entre o documento 
e a foto. Esse procedimento garante agilidade e segurança ao banco, uma vez 
que cruza os dados do cliente e os autentica. 
Hoje a empresa Deloitte já conta com plataformas que adotam essa 
tecnologia, a Deloitte Digital Bank Accelerator. Além das facilidades para 
abertura de contas (segundo a empresa demora menos de cinco minutos), a 
plataforma também promete outras facilidades como pagamentos via QR code, 
saques sem necessidade de cartão e transferências internacionais simplificadas. 
A plataforma na realidade funciona como uma rede de empresas fintech 
conectadas através de uma aplicação distribuída na nuvem (cloud) que também 
conta com tecnologias como blockchain, impressão digital, biométrica e 
inteligência artificial. 
TEMA 5 – A DESREGULAÇÃO 
Desregulação do sistema financeiro é descrita como a eliminação da 
intervenção governamental sobre as atividades desse setor. Isso incluiria 
menores restrições de atividades e redução nas políticas de controle e 
obrigações impostas à indústria. O grande argumento a favor da 
 
 
17 
desregulamentação aponta que a intervenção do governo gera inúmeras 
ineficiências no mercado financeiro, levando a maiores custos para as empresas, 
maior concentração do mercado e maiores preços ao consumidor. Contudo, há 
um grande debate sobre os reais benefícios da desregulamentação. Assim, há 
outra corrente de pensamento que argumenta que a desregulamentação do 
setor financeiro pode trazer sérios riscos à economia, pois, devido ao menor 
controle, a vulnerabilidade e tendência de crise crescem. 
 O debate em torno da desregulamentação ganhou ainda mais importância 
em razão da crise econômica de 2008, a chamada crise do subprime. Isso ocorre 
porque o argumento é de que a crise foi consequência das políticas de 
desregulamentação do setor bancário promovidas no começo do século XXI, nos 
Estados Unidos e no mundo, com o acordo de Basiléia 2 de 2004. Portanto, faz-
se necessário conhecer o histórico de políticas econômicas nos Estados Unidos 
para entender os ideais e argumentos a favor e contra a desregulamentação 
financeira mundial. Afinal, as tendências e acordos políticos mundiais seguem, 
em grande parte, a tendência da política americana. 
5.1 A desregulamentação do sistema financeiro nos EUA e a tendência 
mundial 
 A primeira grande política de controle do setor bancário nos Estados 
Unidos foi o Glass-Steagall Act de 1933, parte do pacote anticrise de 1929, 
chamado New Deal. A política tinha como objetivo evitar uma nova crise 
financeira de ataques especulativos e excesso de crédito. Portanto, o governo 
americano limitou a quantidade de títulos emitidos por bancos e restringiu as 
atividades bancárias, desse modo impossibilitando o acúmulo de funções como 
banco comercial, banco de investimento, gestor de fundos e seguradora, por 
exemplo. Contudo, o Glass-Steagell Act foi revogado em 1999, depois de 
diversos anos de pressão sobre o governo norte-americano e a crescente 
influência de que o setor financeiro pode se autorregular. Posteriormente, o 
acordo mundial de Basiléia 2 se baseou na proposta americana, criando uma 
tendência mundial de desregulamentação fundamentada na ideia de 
autorregulação. 
Com isso, cabiam às empresas financeiras gerir seu próprio portfólio com 
base na sua política de risco e retorno. Sendo assim, aquelas empresas que 
optassem por estratégias mais agressivas deveriam arcar com seus próprios 
 
 
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riscos e vulnerabilidades. Ainda, com a desregulamentação, passou-se a permitir 
o acúmulo de funções de empresas financeiras. Por exemplo, bancos comerciais 
estavam autorizados a operarem como banco de investimentos e seguradoras 
ao mesmo tempo. Em consequência, bancos americanos e ingleses passaram 
a se tornar grandes conglomerados financeiros, como JP Morgan Chase, HSBC 
e Citigroup, chamados de bancos universais. 
 Pouco menos de dez anos após a revogação do Glass-Steagall Act, o 
grandemarco da desregulamentação do setor financeiro dos Estados Unidos, a 
crise de 2008 iria abalar a economia mundial e mudar a direção das políticas de 
regulamentação do setor bancário americano e mundial. Isso por causa não só 
da falha das grandes instituições financeiras de mitigar a crise, mas da grande 
especulação financeira e estratégia agressiva de operação dessas instituições. 
Em um ponto antes da crise, empresas como Wells Fargo concediam 
financiamentos imobiliários para pessoas com histórico bancário duvidoso (sem 
ativos, sem renda, sem emprego) e, ao mesmo tempo, apostavam contra seus 
próprios empréstimos com a negociação de derivativos e seguros. O filme A 
Grande Aposta retrata muito bem o período. 
 Havia, ainda, o perigo desses bancos serem muito grandes para quebrar 
(Too big to fail), expressão criada logo após a crise e, principalmente, a quebra 
do banco Lehman Brothers para caracterizar alguns bancos que, se fossem à 
falência, causariam sérios efeitos negativos à economia mundial. Portanto, 
entidades do mundo inteiro, incluindo o governo americano, tiveram que salvar 
essas empresas financeiras a qualquer custo, com o objetivo de prevenir uma 
crise ainda mais profunda. 
 Desse modo, como consequência da dinâmica e consequências da crise 
de 2008, o governo americano passou a buscar um maior controle do setor 
financeiro para redução de potenciais crises futuras. Em 2010, durante o governo 
Obama, o novo pacote de regulamentação bancária foi aprovado com o nome 
de Dodd–Frank Act. O novo plano de controle do sistema financeiro cria um 
sistema complexo de fundos de capital e de liquidez para que, em caso de 
choques adversos, as empresas financeiras tenham uma margem de segurança. 
Além disso, a introdução da chamada Regra de Volker procura limitar os 
investimentos de bancos para evitar novos ataques especulativos e transações 
financeiras entre empresas de mesma propriedade, como era no caso dos 
bancos “sombra” (shadow banking) antes da crise. A introdução da nova 
 
 
19 
regulamentação visa controlar especialmente os grandes conglomerados 
conhecidos como “too big to fail”. As decisões americanas também influenciaram 
o novo acordo de Basiléia 3 e as reestruturações na União Europeia. 
Portanto, os efeitos pós-crise reverteram a tendência de política financeira 
em direção a um maior controle financeiro e bancário como no New Deal e o 
Glass-Steagell Act. Entretanto, com a eleição de Donald Trump como presidente 
dos EUA, a tendência é a revogação das políticas de controle do sistema 
financeiro e implantação de uma nova onda de desregulamentação do sistema 
financeiro norte-americano. 
5.2 Argumentos pró-Autorregulação 
 O grande autor proponente da desregulação é Milton Friedman, com suas 
ligações e influências de Hayek e Mises, autores da escola econômica Liberal. 
Suas ideias econômicas foram influentes durante o governo de Ronald Regan 
nos Estados Unidos. Seu argumento é que o Estado deve ser mínimo, assim o 
governo deve se preocupar com o mínimo de funções possíveis. 
Para essa linha de pensamento, as políticas governamentais não são 
apenas ineficazes, mas ainda produzem efeitos indesejáveis na economia, as 
chamadas falhas de mercado. Isso acontece, pois a intervenção causaria 
distorções na economia, principalmente no mecanismo de preços o 
autorregulador da economia (também conhecido pela mão invisível). 
Consequentemente, regulações poderiam levar o mercado a concentração ou 
cartelização e comprometer inovações (Baltensperger; Dermine 1987). 
 Além disso, argumenta-se que a própria elaboração e monitoramento das 
políticas de controle são problemáticas. Primeiro, o controle é um mecanismo 
muito caro e, portanto, exigiria aumento das receitas do governo via impostos 
que, consequentemente, reduziria atividade econômica por retirar poder de 
compra da população. Um segundo argumento é que o próprio cunho político do 
governo e de órgãos responsáveis por políticas monetárias é um problema. 
Afinal, agencias de regulação podem ser capturadas por agentes privados e 
lobistas para favorecer apenas um setor da economia. Isso também causaria 
distorções econômicas como oligopolização e ineficiências. 
 Portanto, como a interferência do governo é indesejada para controle 
econômico, as próprias empresas deveriam se autorregular como um 
mecanismo de sobrevivência no mercado. Caso uma empresa, por exemplo, 
 
 
20 
deseja arriscar e eventualmente vá a falência, isso é a decorrência de 
mecanismos de mercado e descuido da própria empresa que deve arcar com as 
consequências de suas ações. Sendo assim, o argumento de desregulação do 
sistema bancário é baseado na ideia de que a interação de agentes econômicos 
no mercado é a melhor maneira de regulação econômica. 
5.3 Argumentos pró-regulação 
Um dos mais influentes economistas favoráveis à regulação do sistema 
financeiro é Hyman Minsky. Segundo Shefrin (2017), colunista da revista Forbes, 
Minsky era pouco conhecido mesmo no mundo acadêmico das ciências 
econômicas antes da crise de 2008, mas sua teoria de crise é a brilhante 
identificação de bolhas e futuras crises baseados em padrões. 
Segundo a teoria de Minsky, bolhas e crises são resultado de um 
esquecimento por parte de agentes econômicos e formadores de políticas. Logo 
depois de uma crise, investidores e o governo tendem a ser mais cautelosos e, 
portanto, aprovam mecanismos de controle do sistema financeiro – cenário 
chamado de hedge. Com o passar do tempo, lucros financeiros e distanciamento 
histórico da ultima crise fazem os agentes econômicos a entrarem em um estado 
de euforia. Durante o estado de euforia, investidores se aventuram em 
aplicações mais arriscadas na busca por maiores ganhos, chamados de 
momento especulativo, ao mesmo tempo que pressionam órgãos 
governamentais a relaxarem os controles previamente impostos. Contudo, 
segundo o autor, nesse período a falta de cautela deixa os agentes econômicos 
mais vulneráveis, momento ponzi. Isso deverá ocorrer até os controles 
econômicos serem extintos e a bolha estourar, culminando no crash do mercado 
financeiro, o chamado “momento minsky”. Em seguida o ciclo recomeçaria até 
uma nova crise econômica. Sendo assim, segundo essa visão, o sistema 
econômico é propenso a crises recorrentes que são inevitáveis sem algum tipo 
de intervenção. 
As ideias de Minsky para conter novos ciclos de crises é justamente a 
criação de um grande governo (big government) e grande banco (big bank). 
Ambos teriam o objetivo maior de estabilizar a economia com políticas que 
amenizem as flutuações econômicas. O papel do governo, além de criar 
diretrizes para limitar a especulação do mercado financeiro, seria de elaborar 
políticas de intervenção em áreas chaves como investimento em infraestrutura e 
 
 
21 
emprego. Já o grande banco deve funcionar como um grande banco central 
capaz de monitorar a atividade do mercado financeiro, procurando mitigar 
ataques especulativos e a volatilidade. Para isso, o banco funcionaria como um 
grande garantidor em caso de falência de empresas, por exemplo. 
Portanto, em grande oposição com as ideias de Friedman, por exemplo, 
essa linha de pensamento argumenta que o papel intervencionista do governo é 
fundamental para controlar e amenizar recorrentes crises. Entretanto, o debate 
sobre a desregulação ou maior controle ainda é grande na área das ciências 
econômicas. Por isso, estamos longe de uma unanimidade tanto no mundo como 
das ideias e na política. 
TROCANDO IDEIAS 
 Embora a introdução do Home Broker tenha trazido grandes benefícios 
para o mercado financeiro, a tecnologia já está presente em todas as corretoras 
da bolsa de valores há algum tempo. Por isso, já existem outras tendências e 
inovações que procuram facilitar ainda mais as aplicações e investimentos além 
de melhorias nos Home Brokers. Sendo assim, descubra quais são algumastendências que procuram facilitar o investimento no mercado financeiro e quais 
limitações do atual mercado elas pretendem solucionar. 
NA PRÁTICA 
Como mencionado na aula, um dos grandes temas de debate em 
Economia é se governos devem adotar políticas de regulação e controle do 
sistema financeiro ou não. Pesquise sobre ambos os argumentos a respeito da 
regulação e discorra sobre qual deve ser a alternativa para o caso brasileiro, 
apontando vantagens e desvantagens da regulação. Por fim, dê sua opinião 
sobre qual seria a melhor alternativa para o Brasil. 
FINALIZANDO 
 Desde a idade média até os dias de hoje, o mercado financeiro teve 
grande papel no desenvolvimento econômico mundial. Mas, ao mesmo tempo, 
as atividades financeiras sofreram grandes transformações e melhorias por 
conta dos avanços tecnológicos e a busca por informação, agilidade e maiores 
ganhos. A melhoria das telecomunicações e o avanço da internet representam 
 
 
22 
um dos maiores marcos na transformação do mercado financeiro no sentido de 
possibilitar maior integração entre mercados, facilitar o acesso à informação e 
reduzir custos com o processo de digitalização. 
 A democratização dos computadores e da internet de alta velocidade fez 
com que as transações no mercado financeiro migrassem de meios físicos para 
digitais com a implantação do Home Broker, uma plataforma de investimento 
online que procura eliminar intermediários e agilizar o processo de compra e 
venda de ativos. Hoje, essa plataforma já está presente em diversos meios como 
computadores e celulares. Novas tecnologias prometem agregar a essa 
plataforma, como inteligência artificial e blockchain. 
Por isso o objetivo do open banking é criar uma plataforma que possibilite 
que o cliente movimente suas diversas contas financeiras, conta em bancos, 
corretoras do mercado financeiro e poupança, por meio de apenas uma 
plataforma. Isso é possível por meio do compartilhamento de dados entre 
empresas financeiras através de APIs (Interface de Programação de 
Aplicativos). Contudo, esse tipo de atividade ainda deve ser regulamentado pelo 
Banco Central do Brasil devido as leis de sigilo bancário. 
Apesar de grandes melhorias em diversos fatores do mercado financeiro 
possibilitadas por novas tecnologias, a melhoria dos processos de segurança 
também deve ter sua devida importância. Por isso, empresas financeiras e 
bancos, principalmente, estão tentando melhorar seu processo de integração de 
usuários, por meio do frictionless onboarding. A eliminação de processos 
burocráticos da integração tem dois objetivos: o primeiro é reduzir os custos de 
adequação do usuário com a nova plataforma. Já o segundo é fazer a integração 
do usuário de forma segura, com um processo de autenticação e validação, 
tentando eliminar as etapas burocráticas de conferência de documentos. 
Por fim, um dos grandes debates da área da Economia é a questão: o 
mercado financeiro deve ser controlado por políticas governamentais ou não? 
Longe de ser unanimidade entre os especialistas, há argumentos contra e 
favoráveis à intervenção. Milton Friedman foi um dos grandes expoentes do 
liberalismo e argumentava que a intervenção governamental é ineficaz e um mal 
ao sistema econômico, portanto não se deveria criar políticas de regulação. Por 
outro lado, economistas como Minsky argumentam que crises financeiras são 
naturais do sistema como decorrência de aspectos psicológicos. Portanto, a 
 
 
23 
intervenção governamental é necessária para mitigar futuras crises e estabilizar 
o sistema econômico. 
 
 
 
 
24 
REFERÊNCIAS 
BALTENSPERGER, E.; DERMINE, J. “Banking deregulation in Europe“. 
Economic Policy, v. 2, ed. 4, 1, p. 63–95, 2014. 
CLIFF, D.; TRELEAVEN, P. Technology Trends in the Financial Markets: A 
2020 Vision. Government Office for Science Foresight, 2010. 
DASGUPTA, A. Frictionless Onboarding: Pipe Dream or Practical Reality? 
Nucleus Software. 2018. Disponível em: 
<http://blog.nucleussoftware.com/digitalfinance/frictionlessonboardingforcorpora
te-customers-reality-or-a-pipe-dream/>. Acesso em: 25 mar. 2015. 
ECONOMIADES, N. The impact of the Internet on financial markets. Stern School 
of Business, New York University, 2005. Disponível em: 
<http://www.stern.nyu.edu/networks/Economides_The_Impact_of_the_Internet_
on_financial_markets.pdf>. Acesso em: 25 mar. 2018. 
FEBRABAN. INFI-FEBRABAN promove summit sobre Open Banking”. 
FEBRABAN Notícias. 2018. Disponível em: 
<https://portal.febraban.org.br/noticia/3169/pt-br>. Acesso em: 25 mar. 2018. 
HAYES, A. Dotcom Bubble. Financial Analysis. 2019. Disponível em: 
<https://www.investopedia.com/terms/d/dotcom-bubble.asp>. Acesso em: 25 
mar. 2018. 
MARKETWATCH. These 5 tech stocks are in a dot-com-like bubble (and they 
aren’t all FAANGs). Marketwatch Opinion. 2018. Disponível em: 
https://www.marketwatch.com/story/these-5-tech-stocks-are-in-a-dot-com-like-
bubble-and-they-arent-all-faangs-2018-08-08. Acesso: 03/03/2019. 
Minsky, H. Stabilizing an Unstable Economy. Nova Iorque: McGraw-Hill, 2008. 
SHEFRIN, H. What Made The Financial Crisis Go From Bad To Disaster? 
Forbes. Disponível em: 
<https://www.forbes.com/sites/hershshefrin/2018/09/15/what-made-thefinancial-
crisis-go-from-bad-to-disaster/#3ad4742916c3>. Acesso em: 3 mar. 2019. 
https://www.marketwatch.com/story/these-5-tech-stocks-are-in-a-dot-com-like-bubble-and-they-arent-all-faangs-2018-08-08
https://www.marketwatch.com/story/these-5-tech-stocks-are-in-a-dot-com-like-bubble-and-they-arent-all-faangs-2018-08-08
 
 
25 
OYEDELE, A. Shiller: Most people got the cause of Black Monaday’s stock 
market crashwrong. Business Insider. 2019. Disponivel em: 
<https://www.businessinsider.com/black-monday-dow-jones-industrial-average-
1987-crash-causes-shiller-2017-10>. Acesso em: 25 mar. 2019. 
VALOR Econômico. BC prepara modelo de 'open banking' para ser 
implementado já em 2019”. Jornal Valor Econômico. 2018. Disponível em 
<https://www.valor.com.br/financas/5926927/bc-preparamodelodeopenbanking-
para-ser-implementado-ja-em-2019. Acesso em: 25 mar. 2019. 
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