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TSP III - Juliano

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Psicologia Sócio-Histórica
Queda do feudalismo (divisão entre servos, clero e nobreza) → Liberalismo (homens como
iguais) → Marxismo e Revolução Industrial (existe uma igualdade formal, mas uma
desigualdade real a qual existia uma diferenciação entre dois grupos: os donos das fábricas
e os trabalhadores) → Vygotsky → Psicologia Sócio- Histórica
➔ Queda do Feudalismo: abandono da visão abstrata do fenômeno psicológico
◆ A revolução burguesa trouxe a ideia de liberalismo - ideologia fundamental
do capitalismo
● O liberalismo prega a valorização do indivíduo - individualismo
● Desenvolvimento da noção de vida privada
● Homem a partir da noção de natureza humana → uma natureza que
nos iguala e exige liberdade, como condição para desenvolver nossas
potencialidades como seres humanos
◆ Sociedades liberais
● igualdade, presente, direito subjetivo, autonomia
◆ As sociedades liberais ganharam espaço após a queda do feudalismo
● o feudalismo era marcado pela hierarquia, tradição, direito objetivo e
heteronomia, ideia de vida predestinada
● a partir do momento que se estabelece a ideia de igualdade começa a
surgir o questionamento de “qual o meu lugar no mundo”, “o que eu
sou” → necessidade de entender os processos psicológicos
➔ Ciência do século XIX - contexto histórico
◆ Ascensão da burguesia moderna como classe social
◆ Ênfase na razão humana, liberdade do homem, possibilidade de
transformação do mundo real
◆ Ciência racional → desvendar as leis da natureza e construir o conhecimento
pela experiência e pela razão
◆ Um método científico rigoroso permitia ao cientista observar o real e construir
um conhecimento racional, sem interferência de suas crenças e valores →
exclusão da subjetividade
◆ Ciência moderna: experimental, empírica e quantitativa
➔ Características da ciência no século XIX
◆ Positivismo: sistema baseado no observável
◆ Racionalismo: ênfase na razão como possibilidade de desvendar as leis
naturais
◆ Mecanicismo: ideia do funcionamento regular do mundo, guiado por leis que
poderiam ser conhecidas
◆ Associacionismo: baseou na concepção de que as idéias se organizam na
mente de forma a permitir associações que resultam em conhecimento
◆ Atomismo: certeza de que o todo é sempre o resultado da organização de
partes
◆ Determinismo: pensou o mundo com o um conjunto de fenômenos que são
sempre causados e que essa relação causa efeito pode ser descoberta pela
razão humana
➔ Marxismo (Revolução Industrial)
◆ Críticas das visões abstratas de sociedade
● Superestrutura: ciência, artes, política, religião, linguagem
● Infraestrutura: economia (modo como as riquezas são produzidas e
distribuídas)
● Os fenômenos superestruturais dependem da infraestrutura: para
entendermos os fenômenos mais abstratos precisamos entender
como a economia funciona
➔ Wundt (1875)
◆ Discutiu a Psicologia como ciência
◆ Dividiu a Psicologia em duas esferas: Psicologia Experimental e Psicologia
Social
◆ Mecanicista e determinista
● Todas as abordagens que se constituíram a partir das ideias de
Wundt, por mais diferentes que fossem, mantiveram as perspectivas
mecanicista e deterministas de Wundt
◆ Problema: nenhuma das esferas (experimental ou social) era capaz de
compreender os fenômenos psicológicos por completo → surgimento da
Psicologia Sócio Histórica que buscava superar essa dicotomia
➔ Psicologia Sócio Histórica
◆ Baseada na Teoria Histórico Cultural de Vigotski
● Acreditava que as psicologias contribuíram para a compreensão dos
processos psicológicos, porém elas desconectaram os processos
psicológicos com as condições materiais/concretas em que as
pessoas se encontravam (sempre escolhe um polo: subjetividade ou
objetividade)
● Descompartimentalização dos saberes
● A psicologia não é neutra → ao se apresentar neutra trabalha em prol
da manutenção de determinado valor → critica a ideologia
● críticas das visões abstratas do fenômeno psicológico (subjetividade e
objetividade interligadas)
◆ Fundamentada no marxismo e adota o materialismo histórico e dialético
como filosofia, teoria e método → concebe o homem como ativo, social e
histórico
A Psicologia Sócio-Histórica pretende assim ser crítica porque posicionada. Exige a
definição de um a ética e um a visão política sobre a realidade na qual se insere o nosso
“objeto de estudo e trabalho”. Sua forma de pensar a realidade e o mundo psicológico
não pode ser dissociada dessa perspectiva e da necessidade desse posicionamento.
➔ O fenômeno psicológico
◆ É biopsicossocial
◆ Envolve ou implica na interação entre pessoas
◆ Se refere a um indivíduo que é agente e sujeito
◆ Não pertence a natureza humana
◆ Não é preexistente ao homem
◆ Reflete a condição social, econômica e cultural em que vivem os homens
Um fenômeno abstrato, visto como característica humana. Um fenômeno que existe em
nós, como estrutura, processo, expressão, ou qualquer uma de suas conceituações,
porque somos humanos e ele pertence à nossa natureza. Fica então naturalizado o
fenômeno psicológico. Algo que lá está como possibilidade, quando nascemos; algo que
deverá ser fertilizado por afeto, estimulações adequadas e boas condições de vida, mas
que lá está, pronto para desabrochar.
➔ Ideologia (crítica de Vygotsky)
◆ Passamos a contribuir significativamente para ocultar os aspectos sociais do
processo de construção do fenômeno psicológico em cada um de nós
◆ Conjunto de representações que surge da nossa experiência concreta da
realidade que tentam se fazer passar pela própria realidade
◆ A ideologia é uma representação ilusória que fazemos do real
● representações: é aquilo que nos permite deslocar ao passado e ou
futuro, é a construção da imagem da realidade
● a representação ilusória tende a mistificar a realidade: tira e
explicação racional a partir do qual o fenômeno é constituído (“tal
fenômeno é assim porque é assim”)
● a ideologia é o processo de tornar a representação como a única
possível realidade, a essência da realidade
◆ Ideologia segundo Bernard Charlot: um sistema teórico (conceitos e
representações) cuja ideias têm suas origem na realidade, como é sempre o
caso das idéias; mas que coloca, ao contrário, que as idéias são autônomas,
isto é, que transforma em entidades e em essências as realidades que ele
apreende, e que, assim, desenvolve uma representação ilusória ao mesmo
tempo daquilo sobre o que trata e dele próprio; e que, graças a essa
representação ilusória, desempenha um papel mistificador, quase sempre
inconsciente (o próprio ideológico é mistificado, acredita na autonomia de
suas idéias): as idéias assim destacadas de sua relação com a realidade
servem, com efeito, para construir um sistema teórico que camufla e justifica
a dominação de classe. Ideológico não significa, portanto, errôneo Aliás, é
porque uma ideologia é um sistema ilusório e não um sistema de idéias
falsas que é social e potencialmente eficaz
◆ A ideologia mascara a desigualdade
◆ A ideologia não é um sistema falso (porque ele funciona), mas ele é ilusório
◆ A ideologia não é o contrário e ciência
◆ Crítica da ideologia liberal e da economia capitalista
● Meritocracia: ideologia do esforço próprio
● A psicologia tem reforçado formas de vida e de desenvolvimento das
elites como padrão de normalidade e de saúde → o desafio da
psicologia é redefinir o fenômeno psicológico
➔ Meritocracia
◆ O discurso da meritocracia naturaliza as diferenças sociais, uma vez que não
leva em consideração os contextos e pensa somente na ideologia do esforço
próprio (se ela quer ela consegue) → isso gera uma privatização da vida →
gera uma decomposição do laço social devido ao distanciamento → discurso
de meritocracia novamente
◆ Em que sentido o discurso meritocrático tem um caráter ideológico?
● A ideologia tem o caráter de representações abstratas, dessa forma
acredita que todos nós somos iguais e livres, porém a ideologia não
considera a complexidade da realidade → oculta as diferenças
materiais que existem devido ao contexto socioeconômico, histórico e
cultural em que estamos inseridos
➔Qual o papel da psicologia no contexto institucional? (escolas, trabalho, Igreja,
prisão)
◆ A partir da constituição de uma ideologia liberal advinda da revolução
francesa, essas instituições ganharam mais força
◆ Se o meu pensamento é o que me humaniza, meu corpo é o que me
animaliza
◆ A partir da ideia mente e corpo incorporamos a ideia de liberdade → ser livre
é demonstrar a capacidade de exercer um controle racional sobre o corpo →
No entanto as pessoas podem começar a agir de forma individualista e
egoísta → daí que surgem as instituições (papel de adestrar o ser humano),
◆ Instituições de adestramento: escola → prisão → hospitais psiquiátricos
● usados para ensinar as pessoas a controlarem o próprio corpo,
manterem uma disciplina → forma de controle da sociedade
◆ Alocar as pessoas nos lugares “certos”
➔ Normalidade
◆ Normal: Conjunto de potencialidades prático cognitivas conquistadas pela
humanidade
◆ É um conceito sócio histórico: a cultura, as relações sociais e as atividades
humanas apontam certas direções do desenvolvimento humano, que
enquadram nos comportamentos “normais”
◆ Entre o DSM III e o DSM V aumentaram muito o número de psicopatologias
→ até que ponto aumentaram realmente as psicopatologias ou só as
caracterizações e categorizações dos comportamentos humanos? —>
banalização dos diagnósticos
● Quem sofre com isso são as pessoas que realmente tem o
diagnóstico porque não serem validadas e os transtornos não serem
levados mais tão a sério
➔ Proposta da psicologia sócio histórica : Redefinir o fenômeno psicológico a partir
dessas 3 críticas
◆ Crítica ao abstracionismo
◆ Crítica a tradição classificatória
◆ Crítica aos ideais de neutralidade
➔ Materialismo Histórico Dialético (Marx)
◆ Análise da sociedade perante as classes sociais → a relação entre indivíduo
e sociedade é delimitada pela classe social
◆ Materialismo: realidade material das pessoas
◆ Histórico: vai se transformando a partir da dialética
◆ Dialético: contradição que existe na sociedade entre as classes
(superestrutura e estrutura)
Questões
1. Qual o papel da psicologia no contexto institucional?
Desenvolver técnicas que permitam selecionar o trabalho certo para a
pessoa certa. A psicologia sócio histórica não cai no discurso de relativização da
normalidade. Para ela, existe o normal e essa normalidade tem a ver com o contexto
cultural da sociedade, bem como com as relações sociais e atividades humanas.
O papel do psicólogo é olhar para o fenômeno psicológico estando inserido
no contexto histórico cultural, que é inserido nas ideologias e instituições.
2. Qual a importância da Revolução Francesa e da Revolução Industrial para a
Psicologia Sócio Histórica?
A Revolução Francesa (1789 - 1799) teve como principal objetivo derrubar o
antigo regime e instaurar a democracia. A partir dela, a sociedade passou a acreditar
na ideia de que todos são iguais e livres - individualismo, autonomia, liberalismo.
Durante a segunda metade do século XVIII se iniciou a Revolução Industrial (1760
-1840) e a partir dela muitas mudanças ocorreram no âmbito socioeconômico da
época, que tiveram/têm impacto até os dias atuais. A RI consolidou o processo de
capitalismo. Marx no século XIX começou a se questionar sobre os processos de
produção materiais e sobre a estruturação social pautada na marcante desigualdade
e na exploração de uma classe detentora dos meios de produção (burguesia) sobre
a classe explorada (proletariado). Diante disso, ele criticou as visões abstratas da
sociedade e acreditava que para entendermos os fenômenos mais abstratos
precisamos entender como a economia funciona. Baseando-se nessa ideia,
Vygotsky desenvolveu sua teoria para explicação dos fenômenos psicológicos,
pautado na ideia que existe uma igualdade formal, porém existe uma desigualdade
real que leva em consideração os contextos sociais em que estamos inseridos. A
partir dessa teoria de Vygotsky, surge então a psicologia sócio histórica, a qual
busca compreender os fenômenos psicológicos, exigindo a definição de uma ética e
uma visão política sobre a realidade na qual se insere o nosso “objeto de estudo e
trabalho”. Sua forma de pensar a realidade e o mundo psicológico não pode ser
dissociada dessa perspectiva e da necessidade desse posicionamento.
3. Explique o conceito de fenômeno psicológico.
O fenômeno psicológico é um fenômeno abstrato visto como uma
característica humana. Ele é biopsicossocial, não é preexistente ao homem e reflete
a condição social, econômica e cultural em que vivem os homens.
4. Explique o que é ideologia.
Ideologia é o conjunto de representações que surge da nossa experiência
concreta da realidade que tentam se fazer passar pela própria realidade, é a
representação ilusória da realidade.
5. Explique como se dá a meritocracia a partir do conceito de ideologia.
A ideologia tem o caráter de representações abstratas, dessa forma acredita
que todos nós somos iguais e livres, porém a ideologia não considera a
complexidade da realidade, assim, ela oculta as diferenças materiais que existem
devido ao contexto socioeconômico, histórico e cultural em que estamos inseridos. A
meritocracia, por sua vez, é a ideologia dos privilégios baseados no mérito,
defensora da ideia de que se a sociedade tomar por base não mais a
hereditariedade na transferência de poder, justificar-se-ia o fato de que o rico e o
pobre “merecessem suas desigualdades”.
6. Explique qual a influência de Vygotsky para a Psicologia Sócio Histórica.
A psicologia sócio histórica baseia-se na Teoria Histórico Cultural de
Vygotsky, a qual entende o homem e seu desenvolvimento numa perspectiva
sociocultural, ou seja, percebe que o homem se constitui na interação com o meio
em que está inserido.
7. Explique a função disciplinadora das instituições.
As instituições possuem uma função disciplinadora a fim de ensinar as
pessoas a controlarem o próprio corpo, ela é uma forma de controle da sociedade.
Ela é necessária porque a ideia de liberdade inserida no contexto social após a
revolução francesa faz com que as pessoas acreditem que por serem livres podem
fazer o que quiserem, mas é necessário compreender os valores éticos e os
comportamentos morais da sociedade, por isso, faz-se necessário a implementação
de instituições disciplinares na sociedade.
8. Explique o que é normalidade e como ela é construída. Por que esse conceito
pode ser problemático?
Normalidade é um conjunto de potencialidades práticas cognitivas
conquistadas pela humanidade, que são constituídas a partir da cultura, das
relações sociais e das atividades humanas, as quais apontam certas direções do
desenvolvimento humano, que enquadram nos comportamentos “normais”.
Esse conceito pode ser problemático uma vez que enquadrar as pessoas em
um espectro de normalidade cria espaço para discussão sobre o que é anormal e
começa a ser feita uma patologização de comportamentos “fora” do normal, sem
considerar o contexto em que o indivíduo está inserido.
A Antropologia do ciborgue
➔ A subjetividade humana (subjetividade moderna) é, hoje, mais do que nunca, uma
construção em ruínas
◆ Modernidade (início do século XVI): Descartes, Renascimento
◆ Subjetividade moderna: é a imagem legada pelo cogito cartesiano → a
existência do sujeito (subjetividade) é idêntica ao seu pensamento
● aquilo que nos define como sujeitos, é idêntico ao que pensamos →
penso logo existo
● o cogito visa estabelecer os fundamentos do conhecimento através
da refutação do ceticismo
➔ Descartes: “Penso, logo existo”
◆ É a certeza do pensamento como fundamento da existência humana
◆ Descartes assume inicialmente o ceticismo, levando-o às suas últimas
consequências e a partir disso, refutá-lo e busca encontrar um princípio
metodológico seguro para reconstrução do conhecimento
◆ Métodos da dúvida hiperbólica (coloca em questão todo o conhecimento
adquirido, toda a ciência clássica, todas as crenças e opiniões; toda e
qualquer proposição deve ser rejeitada)
● ilusão dos sentidos: o percurso da dúvida metódica se iniciaatravés
do argumento dos sentidos, que é a dúvida lançada não só contra
nossos conhecimentos adquiridos, mas também contra nossas
próprias faculdades cognitivas, através das quais adquirimos esses
conhecimentos e o argumento da certeza imediata
● sonho: quando eu sonho as coisas também são reais, logo, tudo que
acreditamos perceber claramente pode estar ocorrendo apenas em
sonho, sem nenhuma relação com a realidade externa
● hipótese do gênio maligno: nenhum pensamento por si mesmo traz
garantias de corresponder a algo do mundo
○ questiona se a matemática não é a resposta contra o
ceticismo → quem garante que não existe um gênio maligno
que está me fazendo acreditar as coisas são de um jeito (2 + 2
= 4), mas que na verdade são de outro jeito
○ o que parece verdadeiro é tão falso quanto o falso, porque não
tem garantia
◆ A partir disso ele faz a análise do argumento do cogito, cria a idéia do penso,
logo existo → pensamento não pode se dar no vazio, ele requer uma base,
essa base é o sujeito; propõe noção da subjetividade como sinônimo de
racionalidade → assim, ele é capaz de encontrar uma certeza, o ponto de
falha do ceticismo
◆ Essa ideia de “penso, logo existo” foi o começo da proposição do dualismo
mente e corpo → o material existe por causa do racional
◆ Contribuições para a psicologia: noções de subjetividade e razão
◆ O que é ser livre nessa perspectiva do “penso, logo existo”, do dualismo
mente e corpo?
● capacidade de exercer controle racional sobre o corpo → educação
➔ “Toda definição de humanidade é uma porta de entrada para o campo de
concentração”
◆ Se considerarmos a ideia de que o humano é único porque pensa,
consideramos então que que quem não pensa é inferior ao homem →
desumanização → democracia, hierarquia e dominação
◆ Esse sujeito é, na verdade, o fundamento da ideia moderna e liberal de
democracia. É ele que está no centro da própria ideia moderna de educação
→ a educação surge para ensinar as pessoas a pensarem (a serem
humanos, a reprimir o animismo original)
➔ O que acontece quando as tecnologias começam a incidir na nossa realidade e
começamos a não saber mais o que é real e o que não é?
◆ Fronteira entre humano e não humano se torna não tão clara
◆ A tecnologia coloca em questão a noção de identidade humana
➔ Animismo
◆ Ideia de que tudo é humano
◆ Os indígenas e as crianças assumem uma visão animista → acreditam que
todas as coisas (lagos, árvores, animais, etc) são seres humanos → a cultura
não é um atributo exclusivo do homem → quebra da hierarquia pois nós
deixamos de ser superiores às outras coisas que existem → perda de
privilégios
Antropologia Humanista
➔ Antropologia enquanto campo do saber
◆ Ela busca entender o processo de formação das culturas a partir do encontro
com os diferentes (valores, representações, relações, etc)
➔ Antropologia Humanista
◆ Baseia-se na compreensão da natureza humana
● Natureza humana = ciências humanas + ciências naturais
◆ Ciências Humanas → cultura
● Espiritualidade
● Pensamento
● Consciência: o ser humano é capaz de produzir um saber sobre si →
consegue se projetar no futuro e consegue retornar do ponto de vista
da consciência para o passado
● Logos
◆ Ciências Naturais → natureza
● Animalidade
● Instinto
● Corpo
● Pathos
◆ O modelo o qual nos baseamos é pautado na ideia de dominação do
“natureza” pelo “humano”
● dualismo mente corpo, sujeito objeto, dominante dominado,
civilizados e selvagens → objetificação → desumanização
◆ A antropologia humanista é um projeto de exercício de poder que depende
de um senso de pertencimento a uma identidade humana
◆ O que nos define como seres humanos é nossa capacidade de escolha: o
ser humano nasce sem gabarito → nos coloca em posição dos desejos (e
não dos instintos) → singularidade humana → escolha
➔ Antropologia do ciborgue
◆ O que acontece quando as máquinas começam a fazer coisas que são
atributos unicamente humanos?
◆ Humano + máquina = ciborgue
◆ Os ciborgues levam a uma mecanização e eletrificação do humano e, ao
mesmo tempo, a uma subjetivação e humanização da máquina
◆ Não podemos falar sobre o humano sem atribuir a uma linguagem → as
máquinas também possuem linguagem
● as máquinas são programadas e de certa forma nós humanos
também somos programados ao longo da vida (recebemos um nome,
uma classe social, um direcionamento estrutural, etc) → dessa forma,
de certa forma também somos ciborgues, porque também somos
programados como máquinas e impactados pelas tecnologias o
tempo todo
◆ Nós (nossos corpos) são impactados por tecnologias o tempo todo, de tal
maneira que a fronteira entre o natural e o artificial vai se tornando cada vez
mais imprecisa
● a nossa sociedade atual tende a embaralhar toda uma estrutura
previamente estabelecida por causa dos avanços tecnológicos
➔ Tecnociências
◆ Hibridação homem/máquina
● engenharia genética, IA, nanotecnologias, realidades virtuais,
medicina restauradora
◆ Recolocam a questão: o que é o homem?
● A existência do ciborgue não nos intima a perguntar sobre a natureza
das máquinas, mas, muito mais perigosamente, sobre a natureza do
humano: quem somos nós? → perigosamente porque essa questão
nos coloca em iminência da perda do poder dos humanos sobre o
mundo
◆ “A ideia do ciborgue, a realidade do ciborgue, tal como a da possibilidade da
clonagem, é aterrorizante, não porque coloca em dúvida a origem divina do
humano, mas porque coloca em xeque a originalidade do humano. Kaput.
Fim do privilégio”
● o privilégio em questão é a hierarquia e a dominação
“Primeiramente, a ubiquidade do ciborgue. Uma das características mais notáveis desta
nossa era (chamem-na pelo nome que quiserem: a mim, “pós-moderna” não me
desagrada) é precisamente a indecente interpenetração, o promíscuo acoplamento, a
desavergonhada conjunção entre o humano e a máquina. Em um nível mais abstrato, em
um nível “mais alto”, essa promiscuidade generalizada traduz-se em uma inextricável
confusão entre ciência e política, entre tecnologia e sociedade, entre natureza e cultura.
Não existe nada mais que seja simplesmente ‘puro’ em qualquer dos lados da linha de
‘divisão’: a ciência, a tecnologia, a natureza puras; o puramente social, o puramente
político, o puramente cultural”
Ciberfeminismo
➔ Feminismo da Deusa: figura do feminismo atrelada à natureza
◆ Concepção que acredita que os movimentos feministas tomam como
pressuposto o restabelecimento do natural, da essência feminina, do retorno
à natureza primitiva da mulher
◆ A mãe natureza como símbolo da libertação feminista
◆ Retorno a um passado pré tecnológico
◆ Ciência e tecnologia são pragas patriarcais
➔ Ciberfeminismo: figura do feminismo atrelada ao conceito de ciborgue
◆ O ciborgue como símbolo da libertação feminina → se inserir nos espaços
que são majoritariamente ocupados por homens
◆ Liberdade de se autoconstruir → pílula, anticoncepcional, aborto, fertilização
in vitro
● tecnologias que promovem a liberdade da mulher → liberdade de
escolha sobre o próprio corpo, liberdade sexual
◆ As preocupações feministas estão inseridas na tecnocultura
◆ “Em conjunção com a tecnologia, é possível construir nossa identidade,
nossa sexualidade, até mesmo nosso gênero, exatamente da forma que
quisermos”
◆ Ideia de que a tecnologia não é neutra → estamos dentro daquilo que
fazemos e aquilo que fazemos está dentro de nós
● Biologia como parte da política
● Superação das oposições clássicas (eu/mundo, natureza/cultura,
natural/artificial)
● Consciência em rede: humanos como criaturas conectadas entre si
por meio de redes
➔ Críticas
◆ Tecnofobia: recusa incondicional da cibercultura e das tecnologias
◆ Tecnoutopia: visão ingênua acerca do desenvolvimento tecnológico
➔ Desafios da racionalidade tecnocientífica
◆ O estatuto da corporeidade
◆ O lugar da espiritualidade
◆ Superação do abismo entre ciências humanas e naturais
Sociedade do cansaço (burnout)
➔ A violência neuronal
◆ Cada época possui uma enfermidade fundamental, que vão ser influenciadas
pelo contexto sociocultural, tecnológico,econômico da época
◆ Séc XX paradigma imunológico → Séc XXI paradigma neuronal
◆ Paradigma imunológico
● época marcada pela alteridade (tudo aquilo que é outro, não se
integra à minha subjetividade, é da ordem do “não sabido”) → toda e
qualquer reação imunológica é uma reação de alteridade
● divisão nítida entre o dentro e o fora, interior próprio e exterior
estranho → pela defesa, afasta-se de tudo que é estranho
◆ Paradigma neuronal
● a partir do processo de globalização, observou-se um
desaparecimento da alteridade e da estranheza; um excesso de
positividade; uma hibridização
● supressão da alteridade: alinha-se ao processo de suspensão de
barreiras (interior e exterior)
● hibridização: é diametralmente contrária à imunização
● excessiva em positividade: a lógica do consumo e a rejeição da
negatividade
○ o consumo tenta evitar a negatividade, no sentido de que ele é
usado para suprir certas carências/ angústias/ desamparos
○ o “mundo da fantasia” observado nas redes sociais
○ o consumo não tem a ver com a supressão dos desejos: o
desejo vem da ideia de que não temos algo e queremos ter
esse algo → porém, na sociedade atual temos acesso
ilimitado aos recursos, logo não temos desejos → o que nos
leva a sempre consumir mais
● déficit de experiências produtivas de indeterminação (do “não saber”):
a indeterminação pode ser produtividade no sentido de que nos
permite nos transformar
➔ A violência da positividade no séc XXI
◆ Negativo (tese) → positivo (antítese): a negação da violência negativa, não
significa assumir uma liberdade, mas a negação da negação acaba sendo
uma afirmação → logo a positividade também aparece como uma violência
◆ Desaparecimento dos polares → rejeição não imunológica → imanente ao
sistema
● O espaço do igual, livre de negatividades, desfaz as polarizações
inimigo/amigo, interior/exterior, próprio/estranho
● Não se trata de uma exclusão do Outro, o que pressupõe a existência
de um espaço interno, mas da rejeição de um "excesso de igual" um
"exagero de positividade"
● "Aquela violência neuronal que leva ao infarto psíquico, é um terror da
imanência. A violência da positividade não é privativa, mas saturante,
não excludente, mas exaustiva"
◆ A violência não é do outro, mas sim autoimposta → depressão, ansiedade,
etc
◆ Mundo empresarial/ corporativo atual: gestão do sofrimento psíquico
(pequenas doses de sofrimento, por exemplo dar demandas que sabem que
não vamos ser capazes de cumprir, nos colocam em dívida no trabalho
assim, não nos sentimos na posição para reivindicar os nosso direitos)
➔ TDAH
◆ Impossibilidade de dizer “não” a estímulos intrusivos
◆ Massificação do positivo: hiper de hiperatividade tem a ver com o super
positivo
◆ Esgotamento espiritual
➔ Sociedade disciplinar e sociedade do desempenho
◆ Foucault
◆ A sociedade disciplinar de Foucault é marcada principalmente pela
negatividade da proibição → dominada pelo “não” → gera loucos e
delinquentes
● época do paradigma viral
◆ A sociedade do desempenho é marcada pela positividade da produção →
gera depressivos e fracassados
● época do paradigma neuronal
➔ Dever X poder
◆ A positividade do poder é bem mais eficiente do que a negatividade do dever:
a sociedade disciplinar é marcada pela negatividade da proibição, enquanto
que a sociedade do desempenho é marcada pela positividade da
produção/crescimento → a proibição limita a produtividade → queda da
sociedade disciplinar e ascensão da sociedade do desempenho
◆ Técnica disciplinar: controle comportamental pela via das proibições,
vigilância e punição
◆ A lógica da transgressão: o desejo é concebido como um movimento da
transgressão da Lei
➔ Sociedade do desempenho
◆ Poder ilimitado: a sociedade do desenvolvimento vai se desvinculando cada
vez mais da negatividade
● o poder ilimitado é o verbo modal positivo da sociedade do
desempenho
◆ Produtividade: para elevar a produtividade, o paradigma da disciplina é
substituído pelo paradigma do desenvolvimento ou pelo esquema positivo do
poder
◆ O poder não cancela o dever → o sujeito do desempenho continua
disciplinado
◆ Depressão: a lamúria do indivíduo depressivo de que nada é possível só se
torna possível em uma sociedade que crê que nada é impossível
● o que torna o indivíduo do desempenho depressivo é o imperativo de
obedecer a nós mesmos
O sujeito de desempenho está livre da instância externa de domínio que o obriga a
trabalhar ou que poderia explorá-lo. É senhor e soberano de si mesmo. Assim, não está
submisso a ninguém ou está submisso apenas a si mesmo. É nisso que ele se distingue
do sujeito de obediência. A queda da instância dominadora não leva à liberdade. Ao
contrário, faz com que liberdade e coação coincidam. Assim, o sujeito de desempenho se
entrega à liberdade coercitiva ou à livre coerção de maximizar o desempenho. O excesso
de trabalho e desempenho agudiza-se numa autoexploração. Essa é mais eficiente que
uma exploração do outro, pois caminha de mãos dadas com o sentimento de liberdade. O
explorador é, ao mesmo tempo, o explorado. Agressor e vítima não podem mais ser
distinguidos. Essa autorreferencialidade gera uma liberdade paradoxal que, em virtude
das estruturas coercitivas que lhe são inerentes, se transforma em violência. Os
adoecimentos psíquicos da sociedade de desempenho são precisamente as
manifestações patológicas dessa liberdade paradoxal
➔ Tédio profundo
◆ Multitasking e economia da atenção: ao contrário de um progresso
civilizatório, a técnica de multitarefas retrocede a um funcionamento de
animais em estado selvagem → impossibilita o aprofundamento
contemplativo
◆ Os desempenhos culturais da humanidade, dos quais faz parte também a
filosofia, devem-se a uma atenção profunda e contemplativa. A cultura
pressupõe um ambiente onde seja possível uma atenção profunda. Essa
atenção profunda é cada vez mais deslocada por uma forma de atenção bem
distinta, a hiperatenção
◆ Contemplação e hiperatividade: a vida humana finda numa hiperatividade
mortal se dela for expulso o elemento contemplativo → o tédio profundo se
faz necessário
● Por falta de repouso, nossa civilização caminha para uma nova
barbárie → em nenhuma outra época os ativos, isto é, os inquietos,
valeram tanto
As novas tecnologias de comunicação
➔ Em que medida as alterações na temporalidade da vida contemporânea “alargam” o
espaço clínico?
➔ Transferência
◆ É um tipo de vínculo que se estabelece com o outro que se opera a partir da
projeção de expectativas/ demandas no outro, que são pré existentes na vida
do indivíduo
◆ O sujeito projeta na figura do terapeuta um conjunto de expectativas,
demandas etc que foram geradas em outro contexto/momento da vida do
sujeito → repete um comportamento, um sentimento, uma demanda
◆ Essa pessoa desconhecida passa a ocupar o lugar dos “grande outros”
◆ Se estabelece a partir do suposto saber do outro: supõe que o outro sabe →
idealização → coloca o terapeuta numa posição de certo poder sobre o
sujeito → se assujeita ao poder do saber do outro → a associação livre
(única regra da análise) desloca essa posição, pois o teraupeuta se coloca
numa posição de não saber sobre o outro e por isso ele precisa falar
livremente sobre si → mudança da posição de saber
◆ Ao supor que o outro sabe, o sujeito faz uma transferência no terapeuta
◆ A transferência é uma espécie de atualização da história do sujeito
➔ Em que medida os tempos atuais, a rapidez e as tecnologias atrapalham o processo
de transferência? Até que ponto a transferência se altera em tempos de virtualidade
e imediatismo excessivos?
◆ Para a transferência acontecer, precisamos dispor de um certo trabalho,
certo tempo, momentos de inércia e introspecção → nos tempos atuais, da
sociedade do desempenho “não temos tempo” para isso
◆ A virtualização da vida cotidiana: novas formas de inserção social, de
trabalho, de relacionamento, de pertencimento, de memória, novas imagens
de Eu e de identidade
◆ Transformações do tempo-espaço: aceleração do tempo, agilidade,
instantaneidade, imediatismo; transposiçãodos limites, espaciais,
permeabilidade, hiperexposição, simultaneidade
➔ Novas modalidades de relação com o tempo e com o espaço
◆ "O tempo estaria reduzido ao já, como também podemos evocar em Fredric
Jameson (1990), ao postular a pregnância de um presente perpétuo, em que
a história e as memórias seriam desinvestidas na atualidade. O espaço, por
outro lado, estaria ultra estendido, de modo que as prerrogativas do ter,
dominar e territorializar, inclusive no campo virtual, acentuaram o ímpeto
humano de controle e posse do outro"
◆ O agora passa a assumir um papel muito mais importante que o passado e
questões futuras → desvalorização da história e das memórias
● até que ponto isso não afeta o processo terapêutico? Em que as
pessoas procuram resoluções rápidas para o problema, sem querer
acessar coisas do passado
◆ Já o espaço se mostra ultra estendido → ideia de conectividade, interação →
as redes sociais não tem delimitações de espaço, todos podem acessar e
interagir com todo mundo
➔ A subjetividade moderna e a dialética público/privado
◆ Constitui-se a partir de um espaço de intimidade, privado do olhar do outro,
em parte inacessível aos ditames culturais
➔ O sujeito contemporâneo e a crise da experiência da interioridade
◆ Falta de estabilidade do Eu e ausência de área de repouso, amplificadas pela
hiperexposição e pelos ideais de transparência e permeabilidade
➔ Condições para a criação
◆ Oposição à satisfação dos impulsos
◆ Intervalo entre a demanda e a satisfação
◆ Retirada do investimento dos objetos
◆ Capacidade de" estar só" (Winnicott)
◆ A área de criação envolve, portanto, um primeiro momento de retirada do
investimento dos objetos para que eles possam ressurgir, posteriormente,
como produtos da atividade criadora
➔ Sintomas e ideais de construção identitária
➔ Sintomas contemporâneos
◆ Crises de ansiedade: descrevem certa forma de relação com tempo, em que
o sujeito não suporta a passagem do tempo
◆ Pânico: impossibilidade, para o sujeito, de estar em determinados espaços
◆ Distúrbios de imagem: relação instável com a própria imagem
◆ Sentimentos de irrealidade: exprime o fato de que a experiência da realidade
depende da existência de testemunhas para cada momento vivido
“Não se pratica psicanálise no vácuo cultural e histórico e muito menos contra as forças
da história. A psicanálise não é uma seita e, menos ainda, uma seita conservadora e
reformista. É preciso apoiar-se nos fenômenos e processos da vida - da vida cotidiana -
para operar com alguma eficácia. Nessa medida, o saber sociológico não deveria estar
apenas corroborando o que a clínica sugere (...) mas deveria também nos ajudar a
descortinar outros horizonte”
- Barbosa, et. al., 2013
Metacontingências
➔ Contingência
◆ Possibilidade de alguma coisa acontecer ou não
➔ Contingência tríplice
◆ É a representação gráfica sobre como determinados comportamentos estão
relacionados
◆ Usada para entender como os comportamentos se relacionam com os
estímulos que os antecedem e com os estímulos que a eles se seguem
◆ Composta por antecedentes, respostas e consequências
◆ A consequência retroage sobre o estímulo antecedente: a consequência
reforça o estímulo antecedente
● se um comportamento não tiver consequências, não vai haver
nenhum estímulo, porém se tiver consequência é acrescentado um
estímulo, que vai reforçar o comportamento
◆ Aprendizado se dá pela variabilidade comportamental e pela produção de
consequências (responsividade do ambiente)
● Modelo de seleção por comportamento: os comportamentos iniciam
de forma aleatória e ao acaso → eles vão sendo selecionados de
acordo com as consequências de cada comportamento →
condicionamento
➔ Níveis de determinação do comportamento
◆ Filogenético: organismo
● estruturas morfofisiológicas e comportamentos inatos
● contingência de sobrevivência
◆ Ontogenético: pessoa
● comportamento operante
● contingência de reforçamento
◆ Cultural: subjetividade
● práticas culturais
● metacontingência
➔ Metacontingências
◆ Comportamentos que geram as mesmas consequências formam uma
metacontingência
◆ As metacontingências dos comportamentos individuais ainda ocorrem, mas
eles geram juntos uma metacontingência
◆ Só conseguimos implementar práticas culturais na medida em que se torna
possível produzir consequências em comum → pensar o coletivo → mas
para isso ocorrer precisamos de reforçadores individuais
◆ As metacontingências são uma unidade de análise que descreve
contingências comportamentais entrelaçadas → elas podem ser cerimoniais
(status) ou tecnológicas (inovação)
● cerimoniais: manutenção do status quo da sociedade; “faça isso
porque eu disse” → este controle, apesar de garantir a ordem pela
Família, Igreja e Estado, não incentiva a experimentação e adaptação
desses comportamentos às mudanças sociais
○ mantém-se por si mesmo
○ consequências com caráter punitivo
● tecnológicas: propõem um trabalho de determinação de regras
específicas, de providenciar consequências imediatas para a
observância dessas regras, e de avaliação dessas regras e das
consequências; “faça isso porque resultará numa melhoria das
condições sanitárias e conseqüentemente na melhoria da saúde”
○ assegura a mudança
○ senso de coletividade
○ consequências reforçadoras
Estudo dirigido
1. Um dos fundamentos do humanismo moderno reside na formulação do cogito cartesiano
(“penso, logo existo”), isto é, na identidade entre a “existência do sujeito” e a “existência do
pensamento”. Ocorre, entretanto, que a figura do ciborgue vem questionar radicalmente a
subjetividade humana, convocando-nos a repensá-la sobre novas bases. A partir das
reflexões propostas por Tadeu (2009) e Kunzru (2009), reflita sobre as implicações do
advento do ciborgue e das “tecnologias ciborguianas” para a concepção de ser humano e
de subjetividade humana.
2. A filósofa e bióloga americana Donna Haraway vê no ciborgue “um símbolo da libertação
feminista” (Kunzru, 2009). Ao propor uma fusão entre animal e máquina, a imagem do
ciborgue nos obriga a jogar no lixo oposições clássicas como natural/artificial, self/mundo,
sujeito/objeto, natureza/cultura. Tendo em vista as teses defendidas por Haraway, analise as
relações entre tecnologia e feminismo.
3. Byung-Chul Han (2017) defende que as depressões e a síndrome de burnout são formas
de sofrimento psíquico intimamente ligados aos modos de vida e à lógica de produção que
caracterizam o mundo contemporâneo. Considerando os argumentos apresentados pelo
filósofo coreano a respeito da "sociedade do cansaço", analise relações entre trabalho e
saúde mental na atualidade.
4. De acordo com Byung-Chul Han (2017), ao contrário de representar um progresso
civilizatório, a técnica da multitarefa retrocede a um modo de funcionamento amplamente
disseminado “entre os animais em estado selvagem”. Levando em conta esse argumento,
discuta: (i) as consequências psíquicas do excesso de positividade; (ii) as consequências
culturais do fenômeno da hiperatividade no mundo contemporâneo.
5. Com base nos argumentos propostos por Barbosa et. al., 2013), analise as relações entre
o processo de virtualização da vida cotidiana e o modelo de subjetividade dominante na
contemporaneidade.
6. Partindo da afirmação de que “os sintomas são a antinomia dos ideais de construção
identitária” (Costa, 2004, apud. Barbosa et. al., 2013), descreva e analise as possíveis
articulações entre as formas de sofrimento mais recorrentes na clínica atualmente (crises de
ansiedade, pânico, distúrbios da imagem, sentimento de irrealidade, impotência, etc.) e os
valores que norteiam a vida cotidiana na contemporaneidade.
7. Tal como apontam Barbosa et. al. (2013), as novas formas de adoecimento psíquico
parecem estar diretamente relacionadas a uma espécie de crise da “experiência da
interioridade”. Uma crise que possui contornos não apenas intrapsíquicos, mas sobretudo
sociais e políticos. Partindo das reflexões propostas por essas autoras, e das situações
apresentadas no video acima, explique o papel das relações público-privadona constituição
da subjetividade contemporânea e na produção das formas de sofrimento psíquico
características de nossa época.
8. Explique o conceito de metacontingência e analise sua importância para a redefinição do
lugar da cultura nas pesquisas desenvolvidas no âmbito da Análise do Comportamento,
procurando, em sua resposta, apontar algumas das possibilidades de pesquisas abertas a
partir desse conceito.
9. Diferencie metacontingências “cerimoniais” e “tecnológicas”, e discuta a importância
dessa distinção para a ideia de “planejamento cultural” proposta por Skinner.

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