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Enfoque Histórico Cultural - Vygotsky ➔ Lev Semenovitch Vygotsky (Início do século XX) ◆ Escreveu o trabalho: Problemas da Educação de Crianças cegas, surdo-mudas e retardadas ● Nenhuma condição objetiva é determinante da forma como nós significamos na vida ➔ Ideias ◆ Tentativa de estudar os processos de transformação do desenvolvimento humano na sua dimensão filogenética, histórico-social e ontogenética ◆ Procurou identificar as mudanças qualitativas do comportamento que ocorrem ao longo do desenvolvimento humano e sua relação com o contexto social ● para ele, o que separa os humanos dos animais são os processos psicológicos superiores: capacidade simbólica (pensamento e linguagem), consciência (ação intencional, tomada de decisão) e controle da atividade psíquica (atenção, memórias voluntárias) ○ processos psicológicos inferiores + cultura = processos psicológicos superiores ◆ Ao mesmo tempo que tecia críticas contundentes às correntes idealista e mecanicista, buscava a superação desta situação através da aplicação dos métodos e princípios do materialismo dialético (Marx), para a compreensão do aspecto intelectual humano ➔ Mediação simbólica: intervenção de um elemento intermediário numa relação ◆ Tipos de elementos mediadores ● instrumentos/sinais: mediam a relação entre o homem e natureza ● signos: funcionam como instrumentos das atividades psicológicas, ampliando as possibilidades de controle do homem sobre si mesmo ◆ Relação com a natureza era direta (sinais) → alteramos o mundo em que vivíamos → mundo produzido (signos) ◆ Signos são símbolos: eles intermedeiam a nossa relação com o mundo ◆ Os símbolos são uma produção cultural, humana ◆ Os símbolos são os elementos representativos do mundo ◆ O sistema simbólico mais importante é a linguagem ● durante o desenvolvimento os signos externos - linguagem - são internalizados e se transformam em representações mentais (sentido) ➔ Unidades: formas de pensar os processos humanos ◆ Pensar e sentir, Histórico e atual, Individual e social ● social não é coletivo! O social leva a produção de cultura ● cada pessoa vive de uma forma diferente em determinada situação de vida (singularidade) ➔ 1º momento da obra ◆ discutiu muito sobre psicologia da arte, imaginação, emoção, personalidade, cognição ➔ 2º momento da obra: Perejivanie (é a unidade do desenvolvimento) e internalização ◆ discutiu sobre desenvolvimento, perejivanie (vivência) ◆ Se ocupou em entender como se dá a relação da pessoa com o meio → como a pessoa significa as diferentes situações da sua vida ◆ Para pensar como a perejivanie se organiza, precisamos pensar em suas necessidades, preocupações, sua história, a forma como a pessoa reage ◆ A internalização é um processo de transformação e síntese ➔ 3º momento da obra: Pensamento e linguagem ◆ Sentido: unidade com significado, é a unidade da cognição e da emoção ● o sentido é individual (cada pessoa tem o seu) mas também é social (o meio é organizado pela junção dos sentidos individuais) → você influencia o meio da mesma maneira que o meio influencia você ◆ Palavra mobiliza processos na consciência ◆ O sentido é aquilo que a palavra evoca na consciência ◆ Significado: é o que está no dicionário ◆ O sentido é a interpretação que fazemos do símbolo ◆ Despatologização: tentamos entender como as pessoas se posicionam e interpretam o mundo, de uma forma única → as patologias na verdade são diferentes formas das pessoas de enxergarem o mundo ➔ O sentido se organiza pela relação histórico/atual ◆ Os sentidos se reorganizam ao longo do tempo ◆ Eles são produzidos o tempo todo e não especificamente tem a ver com o que eu estou vivendo agora → eles podem ser alimentados por outros processos anteriores para que eles sejam perijivaniezados no momento atual ◆ Espaços dialógicos: nos permitem criar novos sentidos e conseguimos ressignificar as situações da nossa vida ◆ Os sentidos são mobilizados através do diálogo ➔ Agentes dialógicos ◆ Contribuem/ promovem um ambiente para que sentidos sejam produzidos ◆ Terapeutas: possuem um compromisso ético para mobilizar o outro para um desenvolvimento ◆ Não há nenhuma ação capaz de modificar o outro → nós que criamos o nosso mundo e por consequência somente nós podemos mudá-lo ➔ Transtorno ◆ É a paralisação diante do sofrimento ◆ É a incapacidade de produzir novos sentidos em relação a uma experiência vivida ◆ Temos que ter cuidado para não patologizar um comportamento sem ver o contexto inserido, com a história de vida ➔ Consciência/psique ◆ Se organiza como um sistema de sentidos ◆ Não é apenas cognição, intelecto → as emoções também fazem parte da consciência ➔ Emoção ◆ A forma com eu interpreto a vida passa pela emocionalidade ◆ O aprendizado passa pelas emoções que eu produzo Questões 1. Explique a importância do conceito de sentido na obra de Vigotski. O sentido nos permite pensar sobre a processualidade humana. Ele é uma produção individual, mas não é privado, ele abarca o social. Ele traz a emoção como um processo constitutivo de todos os processos humanos. A categoria “sentido” coloca a pessoa como protagonista de sua vida, pois a pessoa que interpreta o mundo, não sendo ela resultado do mesmo. 2. Faça uma breve reflexão sobre dois posicionamentos de Vigotski e sua importância para a Psicologia. 3. Explique como o conceito de sentido possibilita superar as ideias de essência a priori e a relação de causa e efeito. Os sentidos são processos histórico-culturais. Ele é um processo dinâmico que se organiza ao longo do tempo. Não nascemos com características que nos definem, nós nos tornamos pessoas à medida que nos relacionamos com o mundo. A essência não precede a existência, elas são construídas. Não existe nenhuma situação definidora dos sentidos que produzimos, logo não podemos falar em causa e efeito. Somos mobilizados por diferentes processos, logo cada um tem uma forma de expressão diferente, não podendo ser reduzidos a relações de causa e efeito. 4. Vygotsky apresenta diferentes conceitos sobre a configuração dos processos humanos. Foi um teórico que teve preocupação com a definição do psíquico e a forma como ele se organiza ao longo do desenvolvimento humano. Explique: a) como o autor compreende a psique e sua relação com a ideia de defeito. A consciência/psique se configura como um sistema de sentidos, dessa forma, nenhuma ação nossa depende da nossa intenção e sim da forma como nossos sentidos se organizam. Nenhuma situação é interpretada da mesma forma por duas pessoas diferentes, então a ideia de defeito é diferente de pessoa para pessoa, a depender dos sentidos produzidos por cada um. b) o valor da ideia de sentido para a compreensão do desenvolvimento humano. O desenvolvimento é um processo que ocorre ao longo da vida, que vai se organizando através das diferentes produções de sentidos, logo os sentidos também vão se reorganizando ao longo da vida. 5. Explique como Vygotsky compreende o individual e o social e sua relação com o conceito de perezhivanie. O individual e o social andam juntos, não existe um sem o outro. A gente perejivaniza as situações de acordo com as nossas vivências com o meio e para o meio. Os sentidos são individuais (cada pessoa tem o seu) mas também são sociais (o meio é organizado pela junção dos sentidos individuais), ou seja, você influencia o meio da mesma maneira que o meio influencia você e dessa forma nós vamos perejivanizando as situações. 6. Leia um trecho da carta ao pai de Kafka: Você sempre me recriminou (só na minha presença ou na de estranhos — para a humilhação que isso representava você não tinha sensibilidade, os assuntos dos seus filhos eram sempre públicos) de que, graças ao seu trabalho, eu vivia sem qualquer privação, na tranquilidade, no calor e na fartura. Penso aqui em certas observações que devem ter literalmente riscado sulcos no meu cérebro, como: “Já aos sete anos eu precisava levar a carroça pelas aldeias”; “Precisávamos dormir todos num cubículo”; “Ficávamos felizes quandotínhamos batatas”; “Durante anos, por falta de roupa de inverno suficiente, fiquei com feridas abertas nas pernas”; “Quando eu ainda era menino já precisava ir para a loja em Pisek”; “Dos meus eu não recebia nada, nem mesmo durante o serviço militar, ainda tinha que mandar dinheiro para casa”; “Mas apesar de tudo — de tudo — o pai era sempre o pai. Quem é que sabe disso hoje? O que é que os filhos sabem? Ninguém sofreu assim. Será que um filho entende isso hoje?”. Essas histórias poderiam ter sido, em outras circunstâncias, um excelente recurso educativo, teriam podido oferecer estímulo e força ao filho para resistir às mesmas trabalhadeiras e privações pelas quais o pai tinha passado. Mas você não queria isso, pois graças justamente aos seus esforços a situação era outra, não havia chance para alguém se distinguir como você o tinha feito. O resultado exterior imediato de toda essa educação foi que fugi de tudo o que, mesmo à distância, lembrasse de você. Primeiro foi a loja. Em si mesma, particularmente na infância, enquanto era uma pequena loja, ela teria me agradado muito, era tão viva, iluminada à noite, a gente via e ouvia muita coisa, podia aqui e ali ajudar, chamar a atenção, mas sobretudo admirá-lo nos seus extraordinários talentos comerciais, o modo como você vendia, tratava as pessoas, fazia brincadeiras, se mostrava infatigável, em casos de dúvida sabia tomar logo uma decisão e assim por diante; além disso era um espetáculo digno de ser visto o jeito como você fazia um embrulho ou abria uma caixa, e tudo no conjunto não era a pior das escolas para uma criança. Mas quando aos poucos você foi me aterrorizando por todos os lados e a loja e a sua pessoa se tornaram para mim uma coisa só, então ela já não era mais acolhedora. Faça uma análise da carta a partir de conceitos de Vygotsky: Sentido e Perezhivanie. Os sentidos que a criança produziu a respeito do pai foram negativos e foram carregados com ele ao longo da vida. Os sentidos não são lineares (em um aspecto da vida existem produções de sentido negativas mas em outras as produções são positivas) e são contraditórios (ele admira o pai mesmo o odiando). Uma dimensão da vida pode ser qualitativamente afetada por uma produção de sentido, mas não afeta a vida por inteiro. Singularmente os diferentes processos de sentidos vão se organizando em relação a algum aspecto da vida, ou seja, cada situação mobiliza processos diferentes. 7. Explique a afirmação de Vygotsky: “só se pode elucidar o papel do meio no desenvolvimento da criança quando nós dispomos da relação entre a criança e o meio”. Só podemos entender o papel do meio quando compreendemos os processos de perejivanização da criança em relação ao meio (como ela perejivanizou suas relações com a família, com a escola, etc). Conseguimos compreender esses processos a partir do diálogo (não é só ouvir o que a pessoa fala, mas interpretar as falas e ações nas entrelinhas). 8. Explique a diferença entre 𝐬𝐢𝐧𝐚𝐥 𝐞 𝐬𝐢𝐠𝐧𝐨 para Vygotsky e o valor dessa discussão para a compreensão dos processos humanos e simbólicos. O sinal é a nossa relação direta com a natureza enquanto que o signo é uma produção da cultura humana, que vai intermediar nossa relação com o meio (a linguagem é um exemplo de signo). Só somos capazes de compreender os processos humanos e simbólicos a partir dos signos que criamos. 9. Vygotsky (1989) afirma: Aquele que quiser compreender a psicologia da personalidade do cego diretamente do fato da cegueira como uma personalidade diretamente determinada por esse fato, a compreenderá de modo tão incorreto quanto aquele que vê na vacina somente a doença. (p.79). Assinale verdadeiro ou falso: (F) O sentido da experiência é determinado pela cegueira. (V) A personalidade organiza-se como sistema processual. (F) A condição objetiva é interiorizada e leva ao transtorno. (V) A ideia de unidade possibilita pensar na forma como o cego vivencia a cegueira. (F) A psique se organiza como sistema a partir de diferentes unidades 10. No que é pautada a Teoria Histórico Cultural de Vygostky? 11. O que é o materialismo histórico dialético de Marx e qual a relação dele com a Teoria Histórico Cultural de Vygotsky? 12. O que são signos/símbolos? Os signos são uma produção humana. É uma categoria fundamental que contém o psiquismo humano em sua totalidade. São os recursos que usamos para representar o mundo. 13. O que são os sentidos e como eles se relacionam com o pensamento e a linguagem? 14. O que é perejivanie? É a forma de organização da relação da pessoa com o social. Ela me permite compreender a forma como a pessoa interpreta e produz sentidos em relação às experiências vividas. 15. O que significa dizer que o sentido se organiza pela relação histórico/atual? 16. Qual o papel dos agentes dialógicos? O agente dialógico é capaz de mobilizar o outro para um desenvolvimento; só há espaço dialógico quando há emoção. 17. Explique o conceito de unidades. São processos humanos que operam como um sistema, isto é, se configura na relação complexa dos aspectos biológicos e sociais. O psiquismo humano se constitui no curso normal do desenvolvimento como uma unidade de funções psíquicas que avançam de um funcionamento biológico ou primitivo para culturalmente formado ou superior. É o conceito que defende a não dicotomia entre os fenômenos, ou seja, as unidades são dialéticas, isto é, uma constitui a outra. As unidades influenciam umas às outras na medida em que os processos humanos são produções dos sujeitos que geram significados e tem a cultura como maior influenciadora. Essa dicotomização entre unidades gera uma simplificação do homem (psicologia patologizante, por exemplo). Pós modernidade - A Morte do Sujeito (individual) - Giro Linguístico ➔ 1968: Pós estruturalismo ◆ É diferente de pós modernidade → ele é uma expressão do pós modernismo na filosofia ● É um movimento teórico que caracteriza uma forma de se interpelar a ciência ● influenciado por Nietzsche e Heidegger ● trouxe a discussão sobre cultura: não podemos pensar o ser humano sem considerar a cultura e o social ◆ Críticas levantadas pelo pós estruturalismo ● criticava a essência a priori (estruturalismo acreditava nisso), pois não há nada que nos define pelo fato de sermos seres humanos, não nascemos com características biológicas inatas ● criticava a ideia de sujeito individual ● criticava o racionalismo ● criticava a ideia de previsibilidade ● criticava o controle ◆ Contribuições do pós estruturalismo ● essência como processo ● sujeito social (é retratado de uma forma radicalizada) → essa ideia supera a perspectiva do sujeito individual que não é provido de cultura, porém radicaliza e desconsidera completamente a existência do sujeito individual → morte do sujeito ● imprevisibilidade da vida ● ideia de contradição ➔ Pós modernismo ◆ Dois pressupostos centrais: ● não existe qualquer denominador comum que garanta que o mundo seja um ou a possibilidade de um pensamento natural e objetivo ● todos os sistemas humanos funcionam da mesma forma que a linguagem → sistemas autoreflexivos, diferenciais, os quais são potentes mas finitos; sistemas que dependem da construção e conservação do significado e do valor ◆ O impacto essencial do pensamento pós moderno nas ciências sociais e na psicologia se dá pela superação da naturalização dos processos sociais, algo que → desnaturalização do social ➔ Simbólico ◆ A psicologia tarda a incorporar a ideia e cultura em suas teorias ◆ O simbólico é o recurso que usamos para representar algo do mundo ◆ A psicologia (social) crítica se propõe a pensar questões epistemológicas, metodológicas e práticas da psicologia ● Teoria das Representações Sociais (França) ● Construcionismo Social (EUA) ● Construtivismo crítico e radical ● Psicologia Liberal ● Psicologia Sócio Histórica ● Psicologia Comunitária ● Teoria da Subjetividade ➔ Desnaturalização do social ◆ Não tem como tomar o mundo como uma coisa dada → o social/ a cultura é um processo simbólico, o mundo é produzidoe se transforma ao longo do tempo, logo não podemos pensar em um mundo pronto ◆ Sair da ideia de que existia um mundo pronto e está aí para ser descoberto ◆ Naturalizar = mundo dado e pronto, regras, “o mundo funciona assim”, é o dar conta de algumas coisas na vida ◆ Essa ideia reconhece o mundo desnaturalizado, isto é, não é predefinido e não temos como ditá-lo, ideia de mundo em movimento; não temos como dizer o que é “natural” nos processos sociais → ele é um processo simbólico e construído a partir das vivências ◆ Consequências da naturalização ● alguns processos/ comportamentos são naturalizados, mas em certos contextos essa naturalização não se aplica ➔ Conceito de doenças na pós modernidade ◆ A doença deixa de ser uma entidade reificada como essência em algum espaço ontológico particular do sujeito para ser compreendida como resultado da ação do homem que integra todas as dimensões da sua condição humana ◆ A doença deixa de ser compreendida como um pertencente a pessoa para ser compreendida como pertencente ao social ◆ Como explicar as emoções quando não estão na linguagem? E os transtornos? ◆ Os transtornos são produções de certos contextos, ou seja, não são parte das pessoas. Envolve uma prática/um discurso compartilhada(o) socialmente e, consequentemente, patologizante ◆ Doenças: impossibilidade de gerar recursos diferentes, de gerar novos sentidos ➔ A morte do sujeito individual e a ideia de sujeito social ◆ O sentido tradicional da linguagem a coloca como instrumento → há um pensamento que contém a ideia e para ajudá-lo/ comunicá-lo existe o instrumento, que é a linguagem ◆ No giro linguístico, houve uma mudança de paradigma acerca da linguagem → a linguagem deixa de ser instrumento e passa a ser a própria condição de conhecimento → é nela que determina o conhecimento e a verdade ◆ Linguagem → discursos ● os discursos orientam nossas ações, práticas sociais ● nós compartilhamos diferentes discursos que podem orientar nosso comportamento (preconceito) ● não se fala que a pessoa tem um discurso (porque não existe o sujeito individual), a ideia de discurso é sempre compartilhada ● a linguagem não é um fenômeno privado → se há linguagem, a relação entre os sujeitos envolvidos → ideia de intersubjetividade (relação entre sujeitos) ➔ Giro complexo: nova concepção de ciência que acontece nas ciências naturais ◆ Complexidade: não é uma teoria de conteúdos particulares, mas uma nova representação dos fenômenos que têm de encontrar a sua forma particular dentro dos diferentes domínios ontológicos nos quais são desenvolvidas as nossas práticas de conhecimento ● sistema (tipo de organização que se configura de determinada maneira), processo (organização/ relação entre os sistemas) e superar a linearidade ◆ Virada complexa nas ciências naturais: superação da ideia de ciência neutra, objetiva e causalista ◆ É anterior ao giro linguístico ◆ O giro complexo tem origem na filosofia e em um pensamento científico pós positivista; suas dificuldades para entrar na psicologia se devem às seguintes características hegemônicas da construção do pensamento psicológico: ● hegemonia de um determinismo causal universalista que reifica as teorias como dogmas e que dificulta, em virtude da própria pressão dos processos institucionais instituídos nesse campo, a produção aberta e processual de conhecimentos ● hegemonia de um modelo positivista de ciência que privilegia a objetividade, a simplificação e o instrumentalismo ● a realização de práticas e a a própria pesquisa por meio de referentes teóricos universais considerados verdadeiros ● o rechaço e a pouca cultura que dominam até hoje o espaço da psicologia que continua se identificando como um campo prático-instrumental ◆ O giro complexo pode ser considerado um momento pós moderno para o desenvolvimento da psicologia → tratar as tendência teóricas como tendências em desenvolvimento, em permanente processo de tensão com a produção de novos conhecimentos Questões 1. Qual a importância da categoria discurso no debate contemporâneo? Quais são seus limites e possibilidades? Os discursos orientam nossas ações, práticas sociais. Ele reconhece os espaços compartilhados como espaços produtores de significado. Nós compartilhamos diferentes discursos que podem orientar nosso comportamento, podendo levar a atitudes preconceituosas, discriminatórias. Limite: reducionismo linguístico (o que não está no discurso não é verdade). Possibilitou compreender como processos simbólicos se organizam em uma cultura, supera a ideia de essência a priori, supera a naturalização do social. 2. Explique a ideia de morte do sujeito e suas consequências teóricas. A morte do sujeito nega o sujeito individual e acredita na existência de um sujeito social. Essa ideia supera a perspectiva do sujeito individual como centro de tudo, porém radicaliza e desconsidera completamente a existência do sujeito individual. Essa ideia não se sustenta a longo prazo pois não podemos negar o sujeito individual. 3. Explique os desdobramentos das ideias de morte do sujeito e giro linguístico na psicologia. 4. O que significa afirmar que a ciência é construída por e construtora de processos sociais? Quais as consequências dessa afirmação para a Psicologia? 5. Explique de que maneira os pressupostos da regularidade e da previsibilidade tomam forma em explicações de diferentes fenômenos estudados pela Psicologia e as consequências disto para seu desenrolar como ciência. Os pressupostos de regularidade e previsibilidade sustentam uma ideia de um mundo que está dado, uma naturalização do ser humano, instrumentalização dos comportamentos humanos, etc (consequências dessa visão). A psicologia se pautou desde seu início nas ciências naturais, então era muito mecanicista, não levava em conta a singularidade e a cultura. O giro complexo traz uma nova concepção de ciência que acontece nas ciências naturais, a qual acredita na desnaturalização do social. Porém, a Psicologia demorou para se inserir nessa revolução (giro complexo e giro linguístico), isso por causa da hegemonia de um determinismo causal universalista que retifica as teorias como dogmas e que dificulta, em virtude da própria pressão dos processos institucionais instituídos nesse campo, a produção aberta e processual de conhecimentos; da hegemonia de um modelo positivista de ciência que privilegia a objetividade, a simplificação e o instrumentalismo; da realização de práticas e a a própria pesquisa por meio de referentes teóricos universais considerados verdadeiros; do rechaço e a pouca cultura que dominam até hoje o espaço da psicologia que continua se identificando como um campo prático-instrumental. 6. Explique a ideia: “a desordem e a crise foram conceitualizadas como informação complexa mais do que como ausência de ordem” (Schnitman, 1996, p.12) e as consequências dessa ideia para a prática da Psicologia. Sempre que nos deparamos com um fenômeno que não conseguimos compreender (que causam desordem ou crise), não podemos considerar como ausência de ordem, anormal, porque precisamos compreender os fenômenos levando em consideração os aspectos contextuais envolvidos. Para a Psicologia essa ideia é essencial, para evitar patologização dos comportamentos humanos e reducionismo dos fenômenos. 7. O debate pós-moderno significou um momento importante nas ciências humanas e sociais e explicitou diferentes discussões: (assinale V ou F) (F) As metas narrativas teóricas são fundamentais para a explicação de diferentes processos humanos. As meta narrativas teóricas são a aspiração de uma teoria para explicar indefinidamente um processo → precisamos levar em consideração as mudanças ao longo do tempo, aos contextos; não é possível criar uma teoria suprema que seja suficiente e atemporal para explicar os fenômenos. (F) As respostas genéricas aos fenômenos humanos têm se mostrado suficientes. Não podemos olhar de forma superficial os problemas que são complexos. (F) A morte do sujeito implica reconhecer a maneira como os transtornostomam forma. A morte do sujeito não reconhece a maneira como os transtornos tomam forma, pois desconsidera a singularidade. (V) O pós estruturalismo inaugurou o debate conhecido como giro linguístico. (F) O giro complexo inicia-se na sociologia e posteriormente tem implicações para a psicologia. O giro complexo se iniciou nas ciências naturais. 8. Explique a ideia de subjetividade a partir da ótica da teoria da subjetividade e seu valor para avançar na compreensão de diferentes processos humanos. 9. Se todo criminoso fosse psicopata, o mal teria receita 05 de junho de 2012 O Estado de S.Paulo Análise: Daniel Martins de Barros O psicopata de novela é um fenômeno recente - até meados de 1990, as tramas traziam sempre mocinhos e vilões, ou mocinhas e vilãs. Com a virada para o século 21, os vilões foram sendo progressivamente promovidos para a categoria de psicopatas, numa espécie de upgrade da maldade, até que praticamente todo mundo se tornou psicopata. Alguns anos antes, os trabalhos do pesquisador Robert Hare sobre a psicopatia ganharam tal repercussão mundial que o termo foi sendo incorporado pela sociedade, progressivamente usado como sinônimo de malvado ou bandido...Isso piorou depois que Hare publicou Snakes in Suits: When Psychopaths Go to Work (Cobras de Ternos: Quando Psicopatas Vão ao Trabalho), em 2006, pois os psicopatas passaram a ser vistos não mais apenas nos criminosos, mas em todos os chefes cruéis, professores rudes e colegas agressivos. O problema é que usar um diagnóstico médico - "psicopata" - como sinônimo de um enquadre jurídico - "criminoso" - traz consequências perigosas. Pois quando achamos que todo bandido mau-caráter, mesmo que seja capaz de afetos verdadeiros como parece ser a Carminha, é um psicopata, passamos a cobrar da medicina um tratamento para a maldade. E esse é um caminho propenso a abusos e destinado ao fracasso. Apresente a ideia de transtorno no debate pós-moderno e suas consequências para a desnaturalização do social. Na pós-modernidade, a doença deixa de ser uma entidade reificada como essência em algum espaço ontológico particular do sujeito para ser compreendida como resultado da ação do homem que integra todas as dimensões da sua condição humana, ou seja, ela deixa de ser compreendida como um pertencente a pessoa para ser compreendida como pertencente ao social. Dessa forma, os transtornos são produções de certos contextos, ou seja, não são parte das pessoas. Esse fenômeno envolve uma prática/um discurso compartilhado socialmente e, consequentemente, patologizante. Sobre diálogo - Harlene Anderson ➔ Diálogo: falar ou conversar com o outro ou consigo mesmo na busca de significado ou entendimento ◆ Se faz na diferença, mas não é hierárquico, é horizontalizado, nem sempre é harmonioso ◆ Somos mobilizados um pelos outros através do diálogo ◆ Reconhecer o outro como sujeito, é reconhecer as diferenças existentes entre você e o outro ◆ Para o diálogo acontecer deve haver engajamento emocional ◆ Atividade dinâmica, relacional, colaborativa, generativa e conjunta → “fazer com” ◆ Envolve não saber e incerteza: o interesse sincero no outro envolve não saber do outro, sua situação ou seu futuro antes do tempo ◆ O diálogo está para além do explicitado → não existe diálogo sem teoria ➔ A importância do diálogo no contexto da psicoterapia ◆ Visa mobilizar, reconhecer o sujeito ◆ É necessário muita teoria para utilizar o diálogo como instrumento ◆ Escuta ativa ◆ Interpretação para além do que é explicitado ➔ Escutar, ouvir, falar ◆ O diálogo envolve processos entrelaçados recíprocos e multifacetados de escutar, ouvir e falar ◆ Escutar: prestar atenção, interagir e responder com a outra pessoa → ouvir + compreender ● a resposta não precisa ser pela fala, pode ser por movimento corporal ● escuta ativa ◆ O diálogo interno é importante para o processo terapêutico, tanto para o paciente quanto para o terapeuta ● cuidado para não gerar um monólogo ao invés de um diálogo ➔ Aumentando a possibilidade do diálogo ◆ O diálogo é um processo interativo de interpretações de interpretações → uma interpretação convida a outra ◆ Interpretar é o processo de entender → ao entender, novos sentidos são produzidos → nesse sentido, a interpretação não pode ser silenciosa e inativa, ela é um processo ativo, interativo e responsivo de escutar, ouvir e falar ◆ Escuta, ouça e fale: com respeito, como aprendiz, para aprender, com cuidado, naturalmente ➔ Vínculo ◆ O vínculo é reconfigurado na medida em que vamos mudando, ressignificando as situações ◆ Ele pode ser rompido ◆ No contexto da psicoterapia, o vínculo faz-se muito necessário para que possamos “sentir o outro” Teoria da Subjetividade ➔ González Rey baseou-se em Vygotsky - Enfoque Histórico Cultural ◆ A teoria da subjetividade de Gonzàlez Rey se insere no giro complexo pela sua origem em teorias que se alimentaram da dialética marxista e que pretendem compreender o homem como resultado de sua complexa realidade social, sem desmembrar a unidade do social e do individual, unidade esta, que destaca sistemas ontologicamente diferentes mas capazes de se integrarem no subjetivo ante a emergência da cultura como definidora do espaço social ➔ Subjetividade ◆ Unidade de processo emocional e simbólico ◆ Processo individual e social: o sujeito é produtor de formas de subjetivação no mesmo processo em que resulta produzido por uma subjetividade social ◆ É um processo em sua maioria inconsciente, mesmo que intencionais ◆ A unidade de estudo da subjetividade são os sentidos subjetivos ● os sentidos subjetivos se organizam em configurações subjetivas → sistema de sentidos; experiência que mobiliza diferentes sentidos; rede de sentidos relacionada a alguma experiência/ vertente da vida → essas configurações influenciam outras configurações ● temos acesso aos sentidos subjetivos primeiramente por meio de uma emoção (e depois pela simbologia) ● As configurações subjetivas são dinâmicas, estão sempre mudando de acordo com as experiências e sentidos subjetivos que criamos em relação a algo ◆ É um sistema dividido em dois grupos: individual e social ● subjetividade individual (personalidade): expressão dos processos subjetivos na pessoa; é a configuração subjetiva (“maior”) que se dá a partir da interação das outras configurações subjetivas ● subjetividade social: como os discursos, representações sociais, contextos se organizam na sociedade ◆ Os discursos e as representações sociais não são consideradas processos subjetivos NESSA TEORIA uma vez que as emoções não são levadas em consideração → eles são subjetivados mas não são processos subjetivos! Psicoterapias pós racionalistas ➔ O giro linguístico das ciências sociais a partir da emergência da linguística formal moderna, que teve no estruturalismo sua expressão filosófica mais acabada e influente nas ciências sociais, não só excluiu ao sujeito dos processos sociais, como também, junto a ele, excluiu as emoções, que então passaram a ser representadas como epifenômeno da linguagem ou foram sinalizadas por metáforas abrangentes com funções específicas no interior da estrutura do inconsciente ➔ A tensão entre duas ontologias que disputam o fundamento teórico da psicologia nos tempos atuais ◆ A ideia de práticas discursivas acrescenta uma dimensão dos fenômenos humanos essencial para a compreensão da subjetividade, ou seja, os fenômenos humanos são gerados em espaços discursivos socialmente construídos ◆ Os discursos passam a ser subjetivados ◆ Os discursos são uma produção simbólica ◆ Os conceitos de práticas discursivas e de subjetividade são complementares ● As práticas discursivas são um dispositivo gerador de ações individuais que estão para além da consciência da pessoa, mas a subjetividade é o recurso pelo qual essas práticas discursivas aparecem como sentidos diferenciados dos sujeitos individuais e da configuração subjetiva das tramas sociais em que eles se organizam na sua vida social ◆ A ideia de prática discursiva facilita o desenvolvimento deuma visão não essencialista, nem individualista, nem intrapsíquica da subjetividade humana, mas não substitui a subjetividade ➔ Do sentido ao sentido subjetivo e às configurações subjetivas ◆ Os sentidos subjetivos representam o momento subjetivo de toda expressão humana ◆ A subjetividade se define pela natureza qualitativa de um tipo particular de fenômeno humano, seja ele social ou individual ◆ É a sua especificidade qualitativa em relação a outros tipos de fenômenos o que faz da subjetividade uma nova definição ontológica para o estudo dos processos humanos ◆ A realidade dos processos humanos se expressa na subjetividade, na relação entre emocional e simbólico ◆ subjetividade individual = personalidade ◆ O sujeito é a antítese da vítima, pois ele nunca está à mercê das condições externas. Ele sempre está preparando as suas alternativas frente às suas condições de vida, mesmo que essas condições sejam as mais adversas que uma pessoa possa enfrentar ◆ As relações sociais são vividas pelas pessoas, grupos e instituições numa complexa teia de configurações subjetiva ◆ Os processos subjetivos de um evento expressam toda uma produção de sentidos subjetivos nas configurações subjetivas da pessoa dessa experiência → não são subjetivações pontuais, pois dependem de todo o contexto da vida do sujeito, anterior ao evento ➔ Intersubjetividade ◆ Não é a intersubjetividade a que nos une à história inteira, mas as nossas próprias configurações subjetivas onde a história inteira aparece como produção subjetiva que integra a intersubjetividade como mais um de seus momentos ◆ A intersubjetividade é apenas um dos processos da subjetividade social, a qual está longe de se esgotar nos espaços intersubjetivos das relações humanas ◆ Não tem intersubjetividade autônoma; toda intersubjetividade é um momento particular de interseção produtiva da subjetividade individual e social através de sujeitos singulares concretos situados em contexto ➔ Subjetividade, sujeito e psicoterapia ◆ O sujeito não tem uma autonomia plena, mas é capaz de confrontações permanentes que lhe abrem a autonomia de ações alternativas àquelas esperadas pelas formas dominantes de organização social → responsabilização individual ● ele não tem autonomia plena porque vive em sociedade e por isso não pode fazer o que bem entender ◆ A definição de sujeito reivindica a presença de complexas configurações subjetivas responsáveis pelos sentidos subjetivos envolvidos nos posicionamentos ativos desse sujeito ◆ A pessoa se torna sujeito quando gera opções de subjetivação que entram em conflito, intencionalmente ou não, com os sistemas normativos hegemônicos do espaço social em que vive, gerando alternativas de sentido subjetivo que adquirem um caráter subversivo em relação à ordem hegemônica ◆ A saúde mental não pode se definir pela ausência de conflitos, mas pela possibilidade de gerar novos sentidos subjetivos e configurações subjetivas no decorrer dessas experiências de conflito ● O conflito não aparece na dimensão objetiva da experiência, sendo sempre o resultado de sua configuração subjetiva e das experiências imaginárias decorrentes delas ◆ Toda experiência humana pode vir a ser conflitiva, não pelo seu conteúdo em si, mas pela sua configuração subjetiva → é a configuração subjetiva da experiência, e não a experiência em si, a responsável pelas emoções e os desdobramentos simbólicos que a pessoa vai gerar no processo de uma experiência qualquer ◆ O sofrimento psíquico aparece pela incapacidade de produzir sentidos subjetivos que permitam o bem estar, o qual é sempre uma produção subjetiva, pois não existe bem estar objetivo ◆ O transtorno mental emerge nesse devir quando o sofrimento impede a produção de novas configurações subjetivas nas diferentes ações e relações da pessoa ◆ Os transtornos psíquicos representam verdadeiros sistemas recursivos de sentido subjetivo que, no processo de seu desenvolvimento, passam a se organizar numa configuração subjetiva geradora de emoções e processos simbólicos, que ganham uma capacidade de retroalimentação recíproca que impede a emergência de novos estados subjetivos ◆ Esse processo não é acessível ao racional associado às representações do sujeito, nem pode ser resolvido pela compreensão das causas que o determinam, simplesmente porque não tem causas, e sim toda uma emaranhada rede simbólico-emocional em desenvolvimento que se alimenta de uma multiplicidade de elementos casuais se tornando uma configuração subjetiva hegemônica ➔ Mudança terapêutica ◆ A mudança terapêutica é estreitamente associada à emergência do sujeito → a pessoa com grande frequência se eclipsa pela hegemonia de certas práticas discursivas frente às quais não consegue abrir um espaço próprio de produção subjetiva → esse processo, que socialmente pode ter diferentes leituras, é condizente com configurações subjetivas geradoras de mal estar e desconforto que chegam a ser hegemônicas na vida da pessoa ◆ A pessoa que de forma ativa não produz espaços próprios em suas experiências de vida chega ao transtorno subjetivo, não como patologia no sentido que essa palavra tem sido usada na medicina, mas como organização subjetiva dominante geradora de sofrimento e paralisia ◆ A mudança terapêutica é, acontece pela autenticidade do que a pessoa é capaz de sentir e pelo fato de se erigir como sujeito ativo de um novo caminho ➔ Reflexões finais ◆ Os sentidos e as configurações subjetivas não são produções racionais, mas produções simbólico-emocionais que emergem no curso da experiência humana. Estas categorias não são sensíveis às representações conscientes da pessoa que faz que não mudem pelos processos intencionais de significação da pessoa. Os sentidos subjetivos são sensíveis aos efeitos indiretos e colaterais dos processos de significação; eles sempre estão presentes nas produções do pensamento. Todo pensamento se gera numa configuração subjetiva ◆ A racionalidade humana tem sua base em configurações subjetivas que a convertem numa produção afetiva situada dentro de espaços simbólicos produzidos culturalmente. O simbólico não se reduz ao relacional e é informado constantemente por emoções sensíveis a outros registros, biológicos e sociais, por exemplo, que entram na dimensão subjetiva pela sua capacidade geradora de processos simbólicos, que por sua vez passam a afetar e ser afetados por essas emoções em níveis subjetivos. Essas unidades simbólico-emocionais em desenvolvimento envolvidas em constantes desdobramentos são os sentidos subjetivos ◆ A psicoterapia é um processo dialógico que, como experiência vital, só é efetiva quando nela se gera uma configuração subjetiva que envolve novas cadeias de sentido subjetivo que implicam novas opções de subjetivação associadas com novos focos de tensão e ruptura com a configuração subjetiva hegemônica, associada aos sintomas. Esse processo é responsável pela mudança na psicoterapia que não é outra coisa que a abertura de uma nova opção de desenvolvimento. Essa tensão atuante e criativa que acompanha a emergência da nova configuração subjetiva desenvolvida no processo terapêutico é a responsável pela mudança, e não as ações pontuais ou interpretações do terapeuta no curso desse processo ◆ A produção de saber sobre os processos subjetivos envolvidos na mudança terapêutica, assim como sobre a configuração subjetiva envolvida na gênese do transtorno é, pela própria natureza desses processos, parcial e incompleta, sendo unicamente um objeto de inteligibilidades que vão se afirmar num nível teórico através de processos de pesquisa que integram múltiplas fontes, sendo a psicoterapia uma delas. No caso em que a psicoterapia representa o momento empírico essencial de uma teoria, como já aconteceu com várias teorias diferentes, a multiplicidade de fontes sobre as quais irão se erigir a legitimidade desse saber virá de uma multiplicidade de casos integrados dentro de um mesmo modelo teórico em desenvolvimento Questões 1. Relacione as ideias de Harlene Anderson e Gonzalez Rey paraexplicar a prática da psicoterapia. Para Harlene, o diálogo é um instrumento essencial no contexto da psicoterapia, pois visa mobilizar, reconhecer o sujeito através da escuta ativa e da interpretação para além do que é explicitado. Ele se orienta teoricamente e não está submetido a hierarquia, implica no engajamento no contexto da relação. O papel do psicoterapeuta é mobilizar, tensionar o outro através do diálogo. Para Rey, a psicoterapia é também um processo dialógico que, como experiência vital, só é efetiva quando nela se gera uma configuração subjetiva que envolve novas cadeias de sentido subjetivo. Esse processo é responsável pela mudança na psicoterapia que não é outra coisa que a abertura de uma nova opção de desenvolvimento. Essa tensão atuante e criativa que acompanha a emergência da nova configuração subjetiva desenvolvida no processo terapêutico é a responsável pela mudança, e não as ações pontuais ou interpretações do terapeuta no curso desse processo. 2. Explique a ideia de transtorno como base na Teoria da Subjetividade e relacione sua explicação com a ideia de diálogo proposta por Harlene Anderson. Na pós-modernidade, a doença deixa de ser uma entidade reificada como essência em algum espaço ontológico particular do sujeito para ser compreendida como resultado da ação do homem que integra todas as dimensões da sua condição humana, ou seja, ela deixa de ser compreendida como um pertencente a pessoa para ser compreendida como pertencente ao social. Dessa forma, os transtornos são produções de certos contextos, ou seja, não são parte das pessoas. Esse fenômeno envolve uma prática/um discurso compartilhado socialmente e, consequentemente, patologizante. Na Teoria da Subjetividade, da mesma forma, o sofrimento psíquico aparece pela incapacidade de produzir sentidos subjetivos que permitam o bem estar, o qual é sempre uma produção subjetiva, pois não existe bem estar objetivo. O transtorno mental emerge nesse devir quando o sofrimento impede a produção de novas configurações subjetivas nas diferentes ações e relações da pessoa. Os transtornos psíquicos representam verdadeiros sistemas recursivos de sentido subjetivo que, no processo de seu desenvolvimento, passam a se organizar numa configuração subjetiva geradora de emoções e processos simbólicos, que ganham uma capacidade de retroalimentação recíproca que impede a emergência de novos estados subjetivos. Esse processo não é acessível ao racional associado às representações do sujeito, nem pode ser resolvido pela compreensão das causas que o determinam, simplesmente porque não tem causas, e sim toda uma emaranhada rede simbólico-emocional em desenvolvimento que se alimenta de uma multiplicidade de elementos casuais se tornando uma configuração subjetiva hegemônica. Harlene postula que o diálogo é um processo interativo de interpretações de interpretações, ou seja, uma interpretação convida a outra. Interpretar é o processo de entender; ao entender, novos sentidos são produzidos. Dessa forma, o diálogo tem ação essencial no estado de saúde mental, possibilitando ao indivíduo, através do diálogo terapêutico, mobilizar novos sentidos e sair do quadro de transtorno. 3. Explique o diálogo como processo e relacione com as ideias de regularidade e imprevisibilidade. A produção de sentido é a expressão da forma como o sujeito, através de sua história, relaciona-se com um evento externo, e é por isso que o sentido é imprevisível. O diálogo é um processo interativo de interpretações de interpretações, ou seja, uma interpretação convida a outra. Interpretar é o processo de entender; ao entender, novos sentidos são produzidos. A partir do diálogo, podemos conhecer o que está estável (regular) para a pessoa e de que forma os tensionamentos (imprevisibilidades) mobilizam aquela pessoa e formam novos sentidos.
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