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AULA 1 PLANOS DE CARREIRA E DESENVOLVIMENTO PESSOAL E PROFISSIONAL Profª Jane Vechi de Souza 2 INTRODUÇÃO No atual cenário de transição em que estamos vivendo, é nítida a remodelação do significado da palavra “carreira”, assim como sua prática nas organizações e em teorias acadêmicas aplicadas ao tema e sua prospecção. Planejar um futuro profissional implica ações que envolvem pensar à frente, alinhando metas, expectativas e interesses com os nossos sonhos. A projeção de carreira representa a priori o ponto de partida; é por essa razão que o planejamento estratégico é tão significante na vida profissional. Não podemos ter certezas, a não ser que tenhamos dúvidas. Refletir sobre o trajeto que percorremos, e como nos vemos em uma linha futura, permite-nos elaborar ações inteligentes no momento presente, na esperança de colher os resultados dos empenhos que empregamos durante uma jornada. Como podemos desenvolver nossa carreira em um mundo flexível, que muda em ritmo acelerado? O profissional moderno deve ter um olhar exclusivo para a sua carreira, realizando um plano de desenvolvimento, que por sua vez incorpora novas habilidades e competências, novos conhecimentos e novas atitudes. O mundo atual é versátil, assim como as carreiras. Ter planos paralelos a uma carreira é sustentável; isso quer dizer que o profissional pode atuar como especialista em uma área específica, e ser generalista em assuntos com que se identifica ou em relação aos quais julga ter aptidões. Por essa razão, as tratativas contemporâneas sobre o assunto se voltam para as múltiplas carreiras, principalmente para gerações mais jovens, da quarta revolução industrial, com a explosão de organizações chamadas “exponenciais”. Isso significa que uma carreira não pode ser mais linear ou singular. Leonardo Da Vinci, por exemplo, era pintor, músico, arquiteto, engenheiro, cientista, matemático, entre outras multiculturas e formações que adquiriu, o nos dá uma visão do que é ter múltiplas carreiras. Trata-se de atuar com diferentes habilidades e vocações com o mesmo grau de comprometimento. É uma tendência forte na gestão de carreiras em nosso mercado corporativo. Ter mais de uma carreira nos ajuda a manter vitalidade, autoestima elevada, sentimento de valor, vontade e aspirações, desde que estejamos alinhados com nossos interesses e conhecimentos. O trabalho também é considerado um campo de realização pessoal. Nosso dever é compreender todas essas nuances ligadas à carreira. 3 TEMA 1 – CARREIRAS: HISTÓRICO E EVOLUÇÃO A palavra carreira vem do latim, via carraria, significando estrada rústica. No século XIX, via carraria denotava a carreira com suas nuances no contexto profissional, adquirindo o sentido de profissão com etapas a serem perseguidas. Percebemos que, ao longo do tempo, o conceito de carreira vem sendo modificado, conforme constatam estudos realizados dentro e fora das organizações. Na década de 1970, foram apresentadas as primeiras contextualizações sobre o tema, nos Estados Unidos, no Instituto MIT (Massachusetts Institute of Technology). A partir desse período, surgiram novas contribuições, ampliando o conceito na teoria e na prática, com novas abordagens de carreira e seus respectivos estudos em áreas multidisciplinares, como psicologia, sociologia, administração, economia e ciências políticas (Arthur; Inkson; Pringle, 1999). Em 1976 e 1978, respectivamente, surgiram novas perspectivas do tema, com o lançamento dos livros de Douglas Hill, Career in Organizations, e de Edgar Schein, Matching Individual and Organizational Needs. A carreira era compreendida como um projeto interno, que deveria ocorrer somente dentro da organização. Posteriormente, integrou-se a possibilidade de carreiras autogerenciáveis, ou seja, uma modalidade de carreira gerenciada pelo próprio indivíduo, também fora das organizações. Esse contexto ainda prevalece atualmente, em que cada vez mais colaboradores são responsabilizados por gerir tanto suas vidas pessoais quanto suas carreiras, a fim de alcançar o sucesso profissional. O avanço tecnológico das últimas décadas motivou a abertura de novos mercados, modificando a economia e impactando as atividades organizacionais e seus modelos de gestão. Tal contexto reposicionou o gerenciamento das carreiras, refletindo em uma nova consciência e realidade, com respeito à empregabilidade – as empresas não oferecem mais empregos de longa duração, prevalecendo um vínculo pouco duradouro. No final de 1970, vieram à tona outros significados e abordagens de carreira, intensificando o assunto no meio acadêmico, a partir de 1990. Fatores como a globalização, a competitividade e as atuais necessidades mercadológicas moveram pessoas e organizações para formatos de atuação híbridos, com relação às carreiras e negociações pertinentes. Pesquisas embasaram estilos de carreira em que o próprio indivíduo seria capaz de flexibilizar-se em resposta às transformações 4 no mundo dos negócios, ressaltando a importância de sempre ter em vista possibilidades extraempresa, ampliando as redes de contato em busca de novos aprendizados. TEMA 2 – MODELOS DE CARREIRA Na perspectiva de carreira como um percurso a ser seguido, relacionado a uma profissão escolhida, podemos considerar três modelos. 2.1 Carreira proteana Esse tipo de carreira foi descrito por Douglas T. Hall, em 1976, em referência à figura mitológica de Proteu (deus grego), que tinha a habilidade de mudar de forma e aparência conforme sua vontade e as circunstâncias. Proteu tinha dons de premonição. Quando uma pessoa lhe procurava para consulta, ele assumia formas aterrorizantes, para distanciá-la. O profissional proteano, em analogia à mitologia, deve ser capaz de transformar e redirecionar a sua carreira, sempre que tiver vontade ou sentir necessidade. A carreira proteana é resultado da atribuição de responsabilidades às pessoas pela gestão de suas próprias carreiras, sendo caracterizada pela autogestão, em que o profissional age em prol de seus próprios valores e persegue seus objetivos com critérios particularizados, vislumbrando o sucesso ao seu modo, relacionado à satisfação pessoal e autorrealização. As carreiras proteanas são mutáveis, de modo que se renovam conforme o meio e cenários. O próprio indivíduo mapeia a rota, o caminho, as ações em prol de sua vida profissional, não deixando que a organização tome as rédeas de algo que considera seu. Nesse modal, o profissional busca o equilíbrio psicológico, a saúde mental, em oposição ao sucesso definido pelo meio externo. Pessoas que se integram a essa modalidade de carreira são mais flexíveis e valorizam a liberdade de escolha, com crença no aprendizado constante. Em síntese, a carreira proteana é gerida pelo indivíduo, e não pela empresa de que faz parte. Estende-se por toda a vida, passa por mudanças e transições, sempre com foco nos interesses e necessidades do indivíduo, no que lhe traz felicidade e bem- estar, alinhado com seus valores. O profissional controla o que fazer e como fazer em sua vida profissional. Participa de treinamentos, se inclui em academias para novos aprendizados, faz 5 trabalhos independentes, autônomos, considerando as variáveis pertinentes. A organização que absorve profissionais com tal modelo cultural de carreira deve se posicionar com valores mais humanizados, respeitando a individualidade e as aspirações de cada colaborador, reconhecendo assim o valor de sua performance. Para o profissional, essa carreira determina que o próprio indivíduo deve se manifestar em busca do autodesenvolvimento, do aprimoramento de suas habilidades e da convivência adaptativa, por conta das mudanças que se fazem necessárias. Hall desenvolveu a noção de carreira proteana em 1976, mas em 1990 é que tal modelo ganhou mais visibilidade.No período, devido às incertezas de mercado, havia muita insegurança quanto aos trabalhos de longo prazo. As empresas tinham dúvidas se deveriam manter por muito tempo os profissionais em seus empregos. Nos dias atuais, as carreiras continuam a se renovar, em decorrência da economia, das tendências de mercado e da velocidade com que as coisas acontecem, com destaque para a automação. O contexto sugere que os profissionais devem se mobilizar, por meio de tais indicadores de autogestão e inovação, para garantir a sustentabilidade. 2.2 Carreira sem fronteiras Um novo formato nas relações profissionais, no atual cenário corporativo, é a carreira sem fronteiras, com seus princípios de mobilidade, autonomia e liberdade nas ações, que vem para somar na vida de profissionais e em suas perspectivas. Trata-se de uma abordagem diferenciada na gestão de carreira. É gerenciada pelo próprio profissional. Ele integra e atribui sua evolução aos networks, e procura constantemente absorver novos conhecimentos, acessando recursos externos. O profissional torna-se o protagonista de sua carreira, assumindo controle total; segue o que o motiva, escolhe seus interesses e cria suas regras e estratégias, para alcançar seus objetivos, evoluindo nas competências que mais lhe atraem. A pessoa que traça esse tipo de carreira ultrapassa as barreiras ou os impeditivos que julga que a organização tem; é proativo, vai em busca de seus desejos e aspirações. Foca em crescimento, progressão, experimento de carreiras em diferentes empresas. As empresas do Vale do Silício serviram de referência para essa nova mentalidade organizacional. Os autores Robert DePhillippi e Michael Arthur desenvolveram o termo “carreira sem fronteiras” em 1994. Nos últimos anos, com as organizações 6 exponenciais e sua volatilidade, deixamos de ter empregos estáveis, sendo fundamental a mudança de mindset conforme o que propõe a carreira sem fronteiras. O trabalhador sem fronteira reúne características como adaptação a meios diversos, conexão com o mundo exterior, flexibilidade ao lidar com contrariedades em várias esferas da vida, e ampliação da rede de contatos em sua área específica, correlatas e globais. Os relacionamentos com o mercado sustentam possibilidades profissionais e abrem novos nichos de trabalho. Em carreiras internas, o olhar está nas curvas de prospecção que a empresa estabelece em suas diretrizes. Nessa visão de carreira, seguir em frente, extrapolando os limites de crescimento vertical ou horizontal, significa ir além do que a empresa oferta. Podemos pensar por exemplo em uma carreira executiva: quando não há mais possibilidade de ascender nos níveis hierárquicos de determinada organização, o profissional sem fronteira não deixa de se movimentar em busca do que lhe é essencial; ao contrário, rompe barreiras e vai atrás do que supre suas necessidades, em busca do equilíbrio no campo profissional e pessoal. Evita acomodar-se ou o conformismo. Ambas as carreiras, “sem fronteiras” e proteana, são constituídas para que o profissional busque realizações, de modo autogerenciável, colaborativo, adaptável, multidisciplinar, exercendo o controle de sua vida profissional. 2.3 Carreira tradicional Na linha do tempo, Joel Dutra, professor da Universidade de São Paulo até a presente data, lançou um dos primeiros livros no Brasil sobre administração de carreira, com enfoque na gestão de pessoas. Dutra, desde então, em sua perspectiva de evolução do conceito para práticas mais sustentáveis, agregou o tema com literaturas e cases de aplicabilidade no mundo acadêmico e corporativo. Dutra ressalta a modelagem tradicional de carreira, marcada pela estabilidade no emprego e crescimento linear e vertical, até 1970, quando o profissional percorria cargos, em busca de posições mais elevadas em sua trajetória empresarial (Dutra, 1996). Na visão tradicional, a curva de ascensão e reconhecimento ocorria em um período longo de tempo. Na escalada em busca de crescimento no cargo, era criado, além de perspectivas, o sentimento de pertencimento a um mesmo negócio. Um mundo organizacional era estável, seguro. A permanência nas empresas era motivada por um futuro “garantido”, que incluía iniciar e finalizar o ciclo de vida 7 profissional na mesma organização. O ponto de partida era ingressar como um trainee/aprendiz e se esforçar até alcançar um cargo de liderança, com maior ganho e responsabilidade (Chiavenato, 2012). Ainda hoje temos empresas com esse perfil de cultura, mas em menor escala. Quadro 1 – Três modelos de carreira TIPOS DE CARREIRA FUNDAMENTOS TEÓRICOS ATITUDES Carreira proteana Carreira embasada na autogestão e no bem-estar e sucesso psicológico. É gerida mais pelo indivíduo e não pela empresa. É reconfigurada ou remodelada conforme necessidades da pessoa. O modelo de carreira é proativo. A atitude do profissional é de responsabilização pela própria carreira. Vislumbra oportunidades e quer alcançá- las. Define sucesso com seus próprios critérios. Carreira sem fronteiras Faz predominar no indivíduo mudanças físicas (troca de emprego/empresa) e psicológicas (gerando relações ativas em ambientes fora da empresa que faz parte, networks e conhecimentos diversos). Impulsiona profissionais em prol do que desejam ou do têm necessidade. O futuro é visto sem impeditivos, não condiciona pessoas a uma mesma empresa, ocupação ou local. Suas atitudes são de interação com o meio externo, com amplo relacionamento com outras pessoas e organizações. Dedica-se em seu trabalho na troca de crescimento, com novos conhecimentos, valorização e desenvolvimento. É independente. Busca novas vivências e habilidades em cenários internos e externos. Carreira tradicional Predominou até a década de 1980. O profissional buscava a segurança e estabilidade. A carreira prevalecia no tempo, o vínculo era de longo prazo. Valorizava-se por tempo de empresa e lealdade. A aprendizagem ocorria dentro da empresa. O profissional confiava sua carreira em uma empresa até o encerramento do ciclo (aposentadoria). Cumpria suas premissas, com perfil conformista. Fonte: elaborado com base em Arthur; Inkson; Pringle, 1999; Dutra, 2002. TEMA 3 – CARREIRAS NA ATUALIDADE Definir a ideia de carreira abrange uma diversidade de significados, pois a ela se conectam a pessoas e seus sonhos, perspectivas, desejos e metas. A carreira móvel trata-se de um movimento, um caminho a ser percorrido, ou ainda da ocupação de um cargo em determinada profissão (Dutra, 2002). Temos que considerar ainda o termo carreira associado à vocação, com a necessidade de pertencimento a um grupo socioempresarial e a satisfação de ordem pessoal, ao alcance de um status superior, com respeitabilidade pela posição que ocupa. Sendo assim, a carreira na atualidade contempla a ideia de estar aberto a novas oportunidades, evoluir em competências técnicas e 8 comportamentais, caminhar em busca do crescimento e da maturidade do eu, com a capacidade de gerir uma vida global, assumindo responsabilidade por escolhas e consequências durante o trajeto. Em nosso mundo moderno, muitos especialistas consideram que vivemos o mundo 6.0, com uma curva acelerada de mudanças, nas esferas econômica, tecnológica, social, política e educacional, havendo a necessidade de recalcular a rota e integrar inovações nos negócios, com tecnologias simples e acessíveis. Incluímos nesse cenário as organizações exponenciais, em mercados emergentes, em que as pessoas aprendem cada vez mais a gerenciar a si mesmas. O que vemos são profissionais que trabalham e são pagos por múltiplos projetos, com comportamento humano colaborativo. Com uma visão mais humanista, tais empresas buscam despertar emoções positivas nas pessoas, buscando mudanças de comportamento. A tecnologia e a internet permitem oacesso de bilhões de pessoas capacitadas, o que contribui com a busca de talentos corporativos. O mundo digital reúne a sensibilidade e a lógica nos negócios, com o desenvolvimento de múltiplas inteligências e modelos disruptivos de fazer as empresas se remodelarem para a sua sobrevivência e permanência no mercado. A inovação disruptiva pertence ao “aqui e agora”, momento de vida presente, podendo ser representada por alguns negócios, por exemplo: Wikipédia, que absorveu o lugar de vendedores de enciclopédia; o Airbnb, que reduziu de forma significante parte dos clientes de hotéis; os aplicativos Easytaxi e 99taxis, que tomaram o lugar das empresas de Rádio-Táxi; aplicativos de transporte compartilhado, como Uber e Cabify, que acabaram com o monopólio dos taxistas; serviços de streaming, como Netflix e Spotify, que encerraram a era das videolocadoras e das lojas de cds, respectivamente; o Google, que tornou obsoleta qualquer espécie de guia impresso e lista telefônica; o WhatsApp, que tinha o objetivo simples de substituir o SMS e o fez. Como esse cenário de remodelações impacta os modelos de carreira da atualidade? A multiculturalidade é tema crucial no quesito de carreira em nossos tempos. Com tais acelerações e modificações na forma como as empresas se posicionam, pessoas e organizações caminham com foco na ampliação de novas culturas. Posicionam-se com versatilidade em relação ao novo. Vivemos a era das competências e no âmbito do trabalho, com profissionais que significam suas carreiras e que se comprometem em desenvolver mais habilidades, novos conhecimentos, em busca de sucesso. 9 Em qualquer carreira (vertical, linear e em Y), é imprescindível que esse processo ocorra com tempo hábil. A carreira vertical (crescimento de cargo, salário e status) ou horizontal (curva progressiva salarial, por méritos e reconhecimentos), e ainda em Y (movimentações dentro da organização para novas áreas de acordo com a formação e experiência do colaborador) são modelagens adotadas para gerir da melhor forma as pessoas, de modo a retê-las em uma relação ganha-ganha. Exigências por alta performance são uma crescente; entende-se como performance a “entrega” final, que mede o quanto cada colaborador vale para determinada empresa. 3.1 O que são competências? Competências são um conjunto de comportamentos que as pessoas dominam, e que entregam em situações específicas, mostrando-se melhores do que outras (Levy-Leboyer, 1997). As competências para determinado cargo representam uma soma de conhecimentos, habilidades, atitudes e interesses. Os conhecimentos estão associados aos cursos, ao acadêmico. As habilidades correspondem às vivências em determinada função até o momento presente. As atitudes são todos os comportamentos manifestados nas relações do dia a dia. Esse trio, CHA, representa uma bússola para o contínuo crescimento na carreira. A entrega final de todos esses elementos relaciona-se à performance. Profissionais que se diferenciam em seu desempenho superior costumam se autogerenciar, elaborando planos de ação para não dispersarem foco. Indivíduos multiculturais se comprometem em estudar continuamente em academias, expandir seus conhecimentos na prática, experienciar o novo, adquirir novas expertises. São profissionais corajosos que se prospectam e desenham um futuro, embasados no que desejam ou almejam, em seus propósitos, sonhos e metas. As competências são observáveis na situação cotidiana de trabalho e/ou em situações de teste, quando evidenciam, de forma integrada atitudes assertivas, características pessoais e conhecimentos adquiridos (Gramigna, 2007). TEMA 4 – MULTIGENERALIDADE E CARREIRA Mesclar as diversas gerações em um cenário empresarial, levando em consideração tal diversidade em maturidade, expectativas, visão, atitudes e 10 imediatismo, buscando obter resultados de curto prazo, tem sido o desafio de profissionais de RH/gestão de pessoas em seus programas de desenvolvimento. Para uma melhor compreensão das gerações que se mesclam no mesmo quadro organizacional, segue explicativo. 4.1 Geração baby boomer Nascidos entre 1945 e 1964. Nasceram no período imediatamente posterior à Segunda Guerra Mundial, quando os soldados retornaram e concederam bebês. Por essa razão o nome, que vem de “baby boom”, ou “explosão de nascimentos”, com referência ao aumento na taxa de natalidade. Essas pessoas valorizam a estabilidade profissional, e buscam mais a experiência do que a inovação. Ocupam cargos de diretoria e gestão nas organizações. Tendem a conflitar com as gerações mais novas, como a Y. 4.2 Geração X Nascidos entre 1965 e 1984. Suas características: rebeldia nos padrões estabelecidos; não aceitam regras e valores de gerações anteriores; buscam por seus direitos e procuram ter liberdade nas ações. 4.3 Geração Y ou millennials Nascidos entre 1985 e 1999. Geração que em pouco tempo de vida presenciou os maiores avanços tecnológicos da história, cresceu em meio a um clima global, inconstante e com grande explosão da cultura popular e da diversidade. Suas características: estão sempre conectados, preferem computadores a livros, se vinculam às redes sociais, buscam novas tecnologias, não se adaptando aos modelos tradicionais, com dificuldade de focar em uma tarefa apenas. 4.1.4 Geração Z Nascidos entre 2000 e 2010. Geração conectada com os temas de meio ambiente, sustentabilidade e responsabilidade social. Apresentam uma conexão natural com a internet e com outras pessoas. Características: perfis semelhantes aos da geração Y. 11 4.5 Geração W Nascidos entre 1991 e 2000. A Geração W é uma subdivisão da geração Y, que quando foi criada era composta ainda de jovens sem idade para o trabalho. São conectados com novas tecnologia e redes sociais, assim como a geração Y. 4.6 Geração alpha Nascidos após 2010. Essa geração é temporariamente chamada desse modo. Características: muita busca e acesso à informação e educação. Quadro 2 – Gerações GERAÇÃO BABY BOMER GERAÇÃO X GERAÇÃO Y GERAÇÃO Z Perfil conservador, busca se casar, ter filhos, comprar uma casa própria, um carro, ter um emprego estável e bons momentos de lazer. As pessoas da geração X passam credibilidade, confiabilidade, devido às oportunidades que tiveram, com mais trocas de aprendizado. Não gostam de ser gerenciadas nos mínimos detalhes. A geração X valoriza muito o espírito de equipe, a cooperação e o comprometimento. Os X têm a sabedoria, o conhecimento e as alternativas que os mais jovens precisam. Valorizam instruções específicas para a realizar tarefas. Visam mais a estrutura e o resultado final do que o processo. Preferem tomar uma decisão unilateral e agir de forma isolada. Seus membros são leais e hábeis em mediação. Valoriza as equipes abertas e honestas, que colaborem juntas. Gosta de ter muitas opções de escolha. Está mais antenada ao ambiente de trabalho do futuro e às tendências mercadológicas. Fonte: elaborado com base em Catanante; Filliage, 2011. Tendo em vista as diferentes gerações existentes no meio organizacional, compreender seus estilos e nuances é fundamental, de modo que seja possível fazer a gestão das carreiras do ponto de vista da empresa e do próprio colaborador, em sua posição. Vivemos em um período de mercado colaborativo, sendo necessário estabelecer parcerias dentro e fora das organizações. Compartilhar opiniões pautadas em assuntos específicos é condição ímpar para manter carreiras cada vez mais progressivas. A convivência com uma diversidade de pessoas, com vivências que agregam, gera riqueza intelectual e sabedoria, que se refletem nas decisões tomadas na vida e nos negócios. Portanto, uma carreira forte, longeva, com mais acertos e menos erros, dependerá do quanto os profissionais seabrem para a 12 escuta e a compreensão do outro, de sua história, de seus exemplos, cases e conselhos. Alavancar pontos em comum de gerações para utilizar suas forças em conjunto é sábio. Do ponto de vista empresarial, para lidar com um público tão diverso, é preciso desenvolver estratégias que tragam resultados promissores, coerentes com a realidade que se apresenta. O modelo de gestão de carreira e de retenção dos talentos que as organizações adotam, ou implantam, determina o sucesso ou o insucesso do negócio. Compreendendo que o ser humano é fator primordial, como ativo intangível ele é a grande riqueza de qualquer empresa. Assim, é preciso focar na escolha de projetos com metodologias ágeis, inteligentes e híbridas, capazes de suprir as necessidades e perspectivas de todas as gerações apresentadas, garantindo alto desempenho, a ampliação das redes organizacionais e a eficácia nos resultados. TEMA 5 – GESTÃO DE PESSOAS POR COMPETÊNCIA As empresas hoje em dia devem ter um novo modo de pensar e agir, tendo em vista necessidades, valores e expectativas dos profissionais que ingressam constantemente nesses meios. Portanto, é necessário adotar novos modelos de gestão organizacional, mais adequados ao momento em que vivemos. É preciso analisar o segmento da empresa, o tipo de negócio, onde ela está inserida. O foco é manter sempre em vista os pressupostos de produtividade e eficiência, combinados com ética, valores, justiça e responsabilidade social. É necessário contar com uma orientação includente, que combine o antigo com o novo, o coletivo com o individual e o econômico com o social, buscando desenvolver as competências necessárias em cada colaborador, extraindo sempre habilidades e competências natas. As organizações enfrentam situações inusitadas, de complexidade crescente, em suas estruturas orgânicas e em suas relações comerciais, a fim de atender à exigência de maior valor agregado dos produtos ou serviços, demandando, consequentemente, maior flexibilidade e velocidade de resposta (Dutra, 2004). Toda e qualquer competência organizacional está embutida na definição das estratégias do negócio, oferecendo benefícios reais aos consumidores. Elas são difíceis de imitar e dão acesso a diferentes mercados. A competência individual está relacionada diretamente ao indivíduo (Fleury; Fleury, 2011). 13 Na atual gestão que gere organizações, com enfoque em competências, o conceito de core competence, criado por Gary Hamel e C. K. Prahalad, evidencia as competências estratégicas que formam o negócio singular, gerando vantagem competitiva. E como devemos preparar a empresa e seu modelo de gestão para as carreiras na atualidade? A gestão por competência prediz que cada empresa deve ter sua core competence ou competência central. A partir dela, o caminho fica mais claro para a definição do core business – ou seja, o que a empresa faz de melhor. Esse nível de clareza da organização traz senioridade, permitindo a elaboração de projetos de carreira que atendam as especificidades do público interno. Ao mesmo tempo, o negócio se mantém equilibrado e competitivo com relação à concorrência. Nas esfera interna, pessoas passam a conhecer melhor a cultura e a confiar nas relações de trabalho. 5.1 Modelo de negócio: gestão de carreiras e retenção de talentos Tal desenho de negócio sugere o direcionamento de ações de desenvolvimento aos profissionais, fortalecendo as competências necessárias para a realização das estratégias. A gestão por competência é uma ferramenta de gestão de pessoas que busca selecionar, desenvolver talentos e gerir carreira, pensando na sucessão e no desempenho dos colaboradores. Assim, as organizações que desejam maturar e implantar projetos de gestão de carreira, viabilizando diretrizes sustentáveis para o negócio e as pessoas, devem se posicionar, escolhendo a melhor estratégia capaz de promover o crescimento de carreira em alinhamento com a cultura organizacional. 5.1.1 Premissas Ao estabelecer uma estrutura de gestão por competência, é fundamental que a empresa compreenda quais profissionais têm um perfil de competências que atenda o cargo e suas expectativas. O mapeamento deve ser realizado durante a implantação. O desenvolvimento de novas competências é constante, conforme mudanças e exigências de mercado. O processo é móvel, flexível, próprio do nosso mundo atual. Uma vez internalizadas tais premissas na cultura pessoal e corporativa, o projeto torna-se viável. 14 5.1.2 Implantação da gestão por competência A implantação requer duas etapas: • Adesão de pessoas-chave, posições executivas, administrativas, técnicas e operacionais. • Sensibilização das pessoas, fazendo-as sentir o impacto positivo do projeto em suas vidas profissionais. Tal modelagem abrange as áreas de negócios da gestão de pessoas e seus respectivos projetos de retenção de talentos, conforme segue: seleção, desenvolvimento, carreira e remuneração. Há também os projetos advindos das respectivas áreas: avaliação 360, remuneração por competência e pesquisa de clima organizacional. Figura 1 – Gestão por competência GESTÃO POR COMPETÊNCIA Seleção por Competência Treinamento e Desenvolvimento de Talentos Carreira e Remuneração Projetos que impactam na Carreira e na Retenção de colaboradores Avaliação de Competências 360º Remuneração por Competência Pesquisa de Clima Organizacional A GPC – Gestão por Competência incorpora áreas de significância que fazem todo o giro de uma organização. Incluímos nesse contexto as pessoas e seus ciclos: seleção de profissionais, programas de treinamentos disponibilizados para o desenvolvimento de competências, carreira e recompensas com base dos indicadores de avaliação comportamental e técnica, assim como planos de desligamentos e encerramentos por aposentadoria ou outro motivo. 15 As ferramentas medidoras do clima interno contribuem para a correção da rota, quando for necessário. As estruturas aqui em destaque definem a gestão e os processos que acompanham a trajetória de colaboradores, promovendo melhores estratégias para a gestão empresarial. Há necessidade de mudanças de postura e transição para um modelo como o aqui contemplado. Atende-se cenários emergentes, mantendo a empresa com competitividade. A GPC implica identificar competências para determinada função, mapear as competências que o colaborador tem, e fazer o cruzamento das informações apuradas nos passos anteriores, identificando gaps de treinamento e traçando um plano de desenvolvimento específico para o colaborador (Leme, 2005). Assim sendo, a gestão por competência é um programa que leva à meritocracia. Um sistema meritocrático de carreira é positivo na atual gestão de carreiras de empresas. A meritocracia engloba gestão com igualdade. Tem foco nas competências comportamentais e técnicas e nos resultados avaliados anualmente, para na sequência fazer a distribuição de recompensas diretas ou indiretas. Destina-se a uma gestão com respeito e espaço, para que profissionais aspirantes busquem e alcancem a evolução. As políticas são claras e todos têm acesso às informações pertinentes para desenvolver, com responsabilidade, habilidades e desempenho. Os programas de desenvolvimento e estímulo de melhorias são disponibilizados pela área de RH/gestão de pessoas. Entre eles, há os processos de coaching voltados à carreira executiva e maturação do EU. Eles são contratados com a finalidade de oferecer o devido apoio à progressão das carreiras existentes. O projeto de GPC traz como mola mestra a remuneração por competência. Nessa nova metodologia de carreira, todos os níveis hierárquicos (desde os colaboradores que ocupam posições operacionais até o corpo gerencial) são abrangidos pelo sistema de remuneração por competência.A possibilidade de evoluir na carreira é possível com a configuração de um modo de remuneração sequenciado, com etapas e estrutura flexível, que inicia no reconhecimento das competências necessárias ao cargo e segue com a avaliação de performance e a elaboração de plano de ação individual – consequentemente, há o desenvolvimento de competências abaixo das expectativas. Portanto, ao desenhar um plano de remuneração por competência, deve-se sinalizar as trilhas de crescimento, compreendendo as pessoas como sujeitos ativos e com senso de compromisso sobre seu próprio desenvolvimento no espaço 16 organizacional. Ainda com referência à abordagem apresentada, remunera-se pelos indicadores de desempenho técnico e comportamental. Remunerar com base em competências pressupõe a identificação de níveis crescentes de complexidade em cada carreira ou eixo de carreira. Cada eixo de carreira pode ser segregado em um certo número de níveis, de steps, como: júnior, pleno e sênior. A remuneração por competência foca no indivíduo e em suas entregas, competências e habilidades. A diferenciação salarial decorre do peso e da importância das competências (conhecimentos + habilidades + atitudes). É necessário assim traçar uma comparação entre os dois paradigmas de remuneração. Diversas experiências comprovam que, quanto mais complexa a atividade, maior tende a ser o valor agregado pelo profissional, e maior deve ser a sua remuneração, desde que exista um método de aferição sobre a produtividade global – como já citamos, a avaliação de desempenho e de competências. Esse conceito é adequado para os propósitos de gestão de carreira e remuneração, por permitir a caracterização das competências em níveis crescentes de complexidade do trabalho. Figura 2 – Processo de gerenciamento por competências Nas políticas que regem as novas carreiras com foco em competências, constam modelos dinâmicos que ocorrem em diversas vertentes, conforme segue. 17 Gráfico 1 – Modelos dinâmicos • Carreira vertical: representada por crescimento no cargo, com status, poder, responsabilidade, salário. • Carreira horizontal ou linear: a progressão é salarial; o profissional mantém-se na mesma posição, com foco em produtividade e manutenção de demandas. Recebe méritos pelo grau de desempenho e entrega. • Carreira em Y: transições internas, movimentações com ou sem promoções, conforme habilidades e interesses dos profissionais, após mapeamento do perfil de competências dos envolvidos no processo. A área de RH/gestão de pessoas é responsável por conduzir esse projeto de carreira na organização. É certo que empresas que se posicionam com planos corporativos de carreira se tornam cada vez mais competitivas e atrativas aos olhos de profissionais. Contratam mais talentos e acionam a sua retenção. Empresas com cultura meritocrática lucram mais, e seus resultados são consistentes e efetivos. Mantêm a atenção em seu maior bem, que são as pessoas, com planos bem elaborados, sem deixar de lado a exímia liderança dos processos. A cultura organizacional passa a ser mais bem referenciada, pois tal modelo atende aos requisitos de empresas consideradas como as melhores para se trabalhar. 18 A criação de ambientes profissionais positivos, com clima promissor, visibilidade de desenvolvimento e valorização, reflete em comportamentos organizacionais condizentes com a realidade em que vivemos, levando em conta a contextualização anterior sobre pessoas, gerações e estratégias, de modo a gerir o negócio com sabedoria. Vale ressaltar que a gestão de carreira, com procedimentos e metodologia de gestão por competência, é responsabilidade empresarial, pois a empresa cria um ambiente favorável, com real significado de carreira, fazendo valer sua palavra em todas as suas particularidades, conforme o histórico e a evolução, até os dias atuais. Já o plano de carreira cabe ao profissional, que se mantém no protagonismo de sua profissão. Gerenciar o desenvolvimento de sua carreira, e a si mesmo, requer vontade e espírito investigativo, curioso e proativo, sempre com abertura ao novo, com a identificação de pontos fortes e pontos a desenvolver, em busca do cumprimento dos planos de ação preestabelecidos no trajeto. O profissional engajado em alcançar o sucesso aproveita todas as oportunidades e enfrenta com determinação os obstáculos. Integra a carreira acadêmica e a comportamental em seu portfólio. Cursos técnicos, graduação, pós- graduação, línguas e tecnologias são conhecimentos adicionados em sua rota de carreira, assim como formações que agreguem em seu desenvolvimento pessoal/comportamental. 19 REFERÊNCIAS ARTHUR, M. B.; INKSON, K.; PRINGLE, J. K. The new careers: individual action and economic change. London: Sage, 1999. CATANANTE, B.; FILLIAGE, M. Gerações X y Z S: na visão de um baby boomer. Pinhais, PR: Melo, 2011. CHIAVENATO, I. Princípios da Administração: o Essencial Em Teoria Geral da Administração. 2. ed. Marca: Manole, 2012. DUTRA, J. S. Administração de Carreiras: uma proposta para repensar a gestão de pessoas. São Paulo: Atlas, 1996. _____. Competências: conceitos e Instrumentos. 1. ed. São Paulo: Atlas, 2004. _____. Gestão de pessoas: modelo, processos, tendências e perspectivas. São Paulo: Atlas, 2002. FLEURY, A.; FLEURY, M. T. L. Estratégias empresariais e formação de competências. São Paulo: Atlas, 2011. GRAMIGNA, M. R. Modelo de competências e gestão dos talentos. 2. ed. São Paulo: Editora Pearson, 2007. LEME, R. Aplicação prática de gestão de pessoas por competências. Rio de Janeiro: Qualitymark, 2005. LÉVY-LEBOYER, C. Gestión de las competencias. Barcelona: Gestión 2000, 1997.
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