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Doença infecciosa febril aguda, imunoprevenível (vacina disponível pelo SUS), de evolução abrupta e gravidade variável, com elevada letalidade nas suas formas graves. A FA compromete vários órgãos simultaneamente e pode causar falência orgânica múltipla. A maior parte dos doentes apresentam formas benignas que evoluem para a cura, porém na parcela em que o quadro é mais grave, a mortalidade é em torno de 50%. Os casos graves da doença são caracterizados por insuficiência hepática e renal, coagulopatia e choque. O vírus da febre amarela é um arbovírus (transmitido por artrópode-vetores) do gênero Flavivírus, protótipo da família Flaviviridae. O vírus é transmitido pela picada dos mosquitos transmissores infectados. Apenas as fêmeas transmitem o vírus ao buscar o repasto sanguíneo. No ciclo silvestre, as principais agentes na transmissão são mosquitos do gênero Haemagogus. No ciclo urbano (últimos registros no Brasil em 1942), o Aedes aegypti é o vetor primário. No ciclo silvestre da FA, os primatas não humanos são os principais hospedeiros e atuam como amplificadores do vírus, produzindo elevada viremia. Esses animais são vítimas da doença, assim como o homem, que neste ciclo se apresenta como hospedeiro acidental. A suscetibilidade é universal e a infecção confere imunidade duradoura, podendo se estenderpor toda a vida. Os filhos de mães imunes podem apresentar imunidade passiva e transitória durante os seis primeiros meses de vida. Após a transmissão, ocorre a replicação do vírus no sítio de inoculação e sua disseminação para linfonodos e, posteriormente, tecidos e órgãos. Nos órgãos (principalmente baço e fígado), o vírus multiplica-se e espalha através da corrente sanguínea e vasos linfáticos para outros órgãos e tecidos. Neste período de viremia (3° a 6° dia após a infecção), o vírus pode ser transmitido para mosquitos hematófagos. O início dos sintomas da febre amarela costuma ser abrupto, caracterizando um quadro infeccioso agudo com participação digestiva alta: Febre alta Náuseas e vômitos (que podem ser importantes e causar desidratação) Cefaleia Mialgia Icterícia leve ou ausente Nesses quadros, os exames laboratoriais podem apresentar: Plaquetopenia Elevação moderada das transaminases Bilirrubinas normais ou discretamente elevadas (predomínio de bilirrubina direta). Normalmente, há declínio do quadro infeccioso entre o 2°-3° dia, e então a doença evolui para cura OU se exarceba após a relativa melhora clínica, acompanhada de manifestações tóxicas e icterícia. Nessa fase da doença, pode ocorrer comprometimento de mecanismos da coagulação sanguínea, do fornecimento e utilização de energia, do controle dos níveis sanguíneos de substâncias orgânicas ativas, resultando em uma situação de instabilidade hemodinâmica. Na forma grave da febre amarela (íctero- hemorrágica), todos os sintomas descritos anteriormente podem estar presentes, somado à icterícia intensa, manifestações hemorrágicas, oligúria e diminuição de consciência. Nos exames, aparece: Plaquetopenia intensa, Aumento da creatinina (pode estar próximo da normalidade) Elevação importante de transaminases. Pode ocorrer leucocitose em alguns casos. # Acometimento hepático: O fígado é o principal afetado na febre amarela – o vírus possui tropismo pelo tecido hepático – sofrendo com degeneração gordurosa (esteatose), necrose coagulativa mediozonal dos hepatócitos e presença de corpos apoptóticos. Fisiopatologia O fígado também está envolvido com a excreção da bilirrubina, que passa pelas fases de conjugação e excreção na bile, e quando há deficiência nesse processo, com desequilíbrio entre a produção e eliminação da bilirrubina, surge a icterícia. Pode ocorrer disfunção hepática e, nos casos graves, insuficiência hepática fulminante. A insuficiência hepática é a principal causa de óbito nos pacientes graves e se manifesta principalmente com icterícia e com diferentes graus de encefalopatia hepática. A insuficiência hepática contribui para o distúrbio de coagulação através da deficiência na produção dos fatores de coagulação hepáticos (II, V, VII, IX e X). Também contribuem para discrasia sanguínea: plaquetopenia, disfunção plaquetária e redução dos níveis de fibrinogênio. # Acometimento renal: As alterações urinárias nas fases iniciais da doença, decorrem da insuficiência pré-renal, gerada pelo aumento do catabolismo e pela hipovolemia. O comprometimento dos rins por suposta lesão direta do vírus promove lesão tubular renal, proteinúria e elevação das escórias renais (ureia, creatinina, amônia e ácido úrico. O comprometimento renal pode provocar albuminúria. Nos casos graves, a insuficiência renal aguda pode requerer hemodiálise e, com a insuficiência hepática, também pode ocorrer a síndrome hepatorrenal. # Acometimento cardíaco: O comprometimento cardíaco associa-se frequentemente à bradicardia e, em alguns casos, à arritmia Essas alterações cardíacas podem contribuir para a hipotensão, má perfusão tecidual e acidose metabólica. Há relatos de morte tardia atribuída a arritmia cardíaca e a cardiomegalia aguda durante o curso da infecção (miocardite aguda). Essas disfunções orgânicas (quadro resumo no final) estão associadas a uma exacerbada resposta inflamatória sistêmica com liberação de várias substâncias pró-inflamatórias e citocinas (TNF, IL- 1, IL-2, IL-6, IL-8, IL-12, IL-16, óxido nítrico). Essa “tempestade de citocinas” desencadeia uma série de eventos como lesões endoteliais, fibrinólise, distúrbios de coagulação, aumento da permeabilidade capilar e o extravasamento plasmático, tornando-se a principal causa da hipotensão e choque hemodinâmico da forma grave da FA, que se assemelha clinicamente ao choque séptico. Essas alterações, somadas às disfunções cardíaca, renal, da coagulação e principalmente hepática, vão levar à falência de múltiplos órgãos e a um choque hemodinâmico refratário à reposição de fluidos e vasopressores. O diagnóstico laboratorial de febre amarela pode ser confirmado a partir do PCR ou sorologia após 5-7 dias de sintomas. A vacina contra febre amarela também induz a formação de IgM, por isso é importante perguntar sobre os antecedentes vacinais do paciente. Importantes diagnósticos diferenciais para febre amarela são as hepatites virais, leptospirose, que também causam icterícia febril, septicemias, dengue hemorrágico, febre tifoide e malária. O tratamento é iniciado a partir das suspeitas clínicas com o objetivo de aliviar os sintomas, sendo comum o uso de analgésicos, anti-eméticos e antitérmicos. Deve-se evitar AINEs, pois podem agravar os eventos hemorrágicos. Devem ser prescritos medicamentos que protegem a mucosa gástrica, como omeprazol, pois se mostram úteis na prevenção de sangramentos gástricos. No primeiro sinal de insuficiência renal, que é a oligúria, é importante prescrever diuréticos, como furosemida ou manitol. Nos pacientes com IR refratária aos diuréticos comuns, recomenda-se a diálise peritoneal ou hemodiálise. Diagnóstico Tratamento
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