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Teoria da Literatura II – APX 2 2022.1 Explique a concepção de Antonio Candido da mímese literária como poiesis , isto é, como criação, construção. A seguir, argumente de que maneira essa concepção pode incidir na forma de abordagem da literatura no âmbito escolar. Antonio Candido, uma das maiores vozes da crítica literária brasileira, pontua que a mimese é sempre uma forma de poiese. CANDIDO, 1973, p. 12. Isto é, deve-se pensar como os fatores coletivos ao redor da obra a influenciam diretamente, ressaltando que o homem tende imitar o próprio homem, manter diálogo com sua linearidade de experiências. Dessa forma, não é dissociável essa relação - nela ambos os aspectos precisam ser concatenados para que sejam percebidos na leitura prática. Candido, como crítico que envolvia a sociedade na formação da literatura como sistema, apoia que as visões de mundo – bem como as representações que se fazem dele - estão intrinsecamente relacionadas com as produções aí recorrentes. Embora isto nos pareça bastante simples, não o é. Se abordarmos a linha de pensamento para essa questão de maneira individual estaríamos cometendo um grave erro em criticidade literária. Ainda, devemos perceber que a formação de um afresco em quaisquer ramos da arte depende dessa relação mensurada entre os vislumbres possíveis. Adotar a postura que corrobora o enunciado de que o meio conduz quaisquer produções artística sob a perspectiva da imitação daquilo que é real é, para Candido, um ponto crucial da análise crítica. Para uma abordagem pedagógica dessa visão é simples elencarmos que, partindo dessa premissa,a literatura precisa ser pontuada em sala de aula de maneira contextualizada. Seguindo os princípios de Cândido, notaremos que a veiculação da escrita é proporcional ao mundo que circunda o autor, portanto, contextualizar o ensino da literatura seria uma estratégia bastante interessante. Isto é, a fim de que não se cometa nenhum risco anacrônico, por exemplo, o aluno precisa conhecer o que circundou uma obra literária, o que, provavelmente, fez com a obra fosse composta desta ou daquela maneira. E ter a ciência de que o mundo pensado, aquele que não está diretamente concretizado em forma, faz parte significativa da arte perspicaz da humanidade de lidar com suas próprias vitória e/ou mazelas. A verossimilhança, neste momento, precisa ser notada e explorada para que haja compreensão composta de aspectos concisos para essas propostas. Não deve-se, por conseguinte, soltar um texto em sala de aula sem a menor compreensão do que o trouxe às páginas da nossa literatura – até mesmo se pensarmos em valores, ou mesmo na apresentação destes na obra escrita, estão sempre organizados no corpo do texto e são indissociáveis a obra. Considerando a citação abaixo de A obra de arte na era da sua reprodutibilidade técnica, de Walter Benjamin, explique a ideia de “perda da aura” da obra de arte na modernidade. (5,0 pts) “Fazer as coisas ‘ficarem mais próximas’ é uma preocupação tão apaixonada das massas modernas como sua tendência a superar o caráter único de todos os fatos através da sua reprodutibilidade. Cada dia fica mais irresistível a necessidade de possuir o objeto, de tão perto quanto possível, na imagem, ou antes, na sua cópia, na sua reprodução.” (Walter Benjamin. “A obra de arte na era de sua reprodutibilidade técnica”. In: Magia, e técnica. Arte e política. São Paulo: Brasiliense, 1994. p. 170) Aquilo que se reproduz na obra, segundo Benjamim, é diretamente o declinio da aura. Entendamos que Benjamim se refere a aura como sendo “o aqui e agora da obra”, é mesmo aquilo que determina uma obra como única. É neste momento, por conseguinte, que se estabelece a autenticidade da mesma. Nota-se, logo, que em cada momento uma produção alternada tem muito a ser refletida em aspectos que podem ser bastante amplos; tais como, além do momento, a historicidade daquele momento, a localidade que o faz específico. Neste sentido, a aura é interpelada pela presença contínua de sua ligação daquilo que se entende como arte até o momento crucial em que se torna culto, eleva-se esse pensamento aos exemplos das pinturas nas cavernas, denota-se, a partir dessa conotativa, a presença da beleza emanada pela arte de um feito simples. Ainda podemos notar, se consideramos momentos mais modernos, uma parcial ruptura nesse aspecto, isto é; empreende-se uma modernidade que tende ao fazer artístico que corrobora, acima de tudo, uma – por vezes estática - tecnicidade. Vimos, então, que Benjamim considera como consequência dessa nova maneira do fazer artístico mecânico a quebra da aura. É aí que se encontra a problemática abordada pelo autor. É quando podemos ver que o sacramento da obra original perde sua tenacidade em detrimento ao critério produtivo que as artes adotarão neste segundo momento. De início, a produção artística podia ser tocada, em sua vertente mais primitiva, desde as pinturas de cavernas aos manuscritos da era anterior, contudo isso, deveras, se perde com a reprodutibilidade. Percebemos, ainda, que é uma questão de apego, essa que o estudioso tem em relação às auras artísticas e esse apego será desmontado com a preponderância da questão necessitária de reprodução das obras do período moderno. Em outras palavras, a arte perde um pouco de seu valor original quando precisa ser amplamente difundida, quiçá tende a absorver novos valores. Contudo, há o que se falar em aspecto positivo nesse quesito, percebemos a aproximação entre o autor e o receptor, em termos menos frívolos, isto é; vemos que o receptor da obra artística participa com maior ênfase na absorção desta. A arte será não mais apenas observada, ela causará impactos, que Bejamim pensa ser comprovado com a percepção daquilo que é efeito das obras cinematográficas, por exemplo.
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