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ELZIANE JOCIENE final

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IMPACTOS AMBIENTAIS EM CABECEIRAS DO RIO MULATO, NO MUNICÍPIO DE REGENERAÇÃO, PIAUÍ
Elziane Alves de Melo[1: Graduanda em Licenciatura Plena em Geografia pela Universidade Estadual do Piauí (UESPI), como parte do Plano Nacional de Formação de Professores da Educação Básica (PARFOR); professora da rede pública municipal em Amarante. ]
Jociene de Alencar Barbosa[2: 2 Graduanda em Licenciatura Plena em Geografia pela UESPI/PARFOR e professora da rede pública municipal em Amarante. ]
Washington Ramos dos Santos Júnior[3: Mestre em Geografia Humana pela a Universidade de São Paulo (USP), Doutorando em Psicologia Social pela USP, Professor Assistente temporário da Universidade Estadual do Piauí (UESPI), campus de São Raimundo Nonato.]
RESUMO: O presente trabalho pretende analisar os fatores que vem ocasionando impactos ambientais de origem antrópica em algumas cabeceiras do Rio Mulato, situadas a oito quilômetros da sede da cidade de Regeneração, Piauí. Esse rio pertence a uma das sub-bacias do Rio Parnaíba, nascendo neste município e desaguando no município vizinho de Amarante. As alterações no solo, na flora e na qualidade da água, ao longo das últimas três décadas, contribuem, assim, para a crescente poluição e para a redução da vazão das águas das cabeceiras. Nesse sentido, buscamos identificar, diagnosticar e analisar os fatores que contribuem para a degradação e para o agravamento dos problemas ambientais no local pesquisado. A metodologia utilizada nesse artigo consistiu em revisão bibliográfica do tema abordado e da legislação, em especial do Código Florestal e do Plano Nacional de Recursos Hídricos; em entrevistas com ribeirinhos, em grande parte responsáveis pela degradação existente; e em trabalho de campo, ao longo de diversas visitas ocorridas ao longo da pesquisa, no intuito de identificar as ações impactantes ao redor das cabeceiras pesquisadas, uma vez que essas ações têm comprometido os recursos hídricos locais.
Palavras-chave: Recursos hídricos. Degradação ambiental. Impactos ambientais. Rio Mulato. Regeneração.
1. INTRODUÇÃO
Os rios são um dos mais importantes recursos para a sobrevivência da humanidade, pois oferecem água para inúmeros usos, desde o lazer até à produção energética, devendo ser conservados. Um dos locais que mais merecem cuidados, quando tratamos de recursos hídricos, são as nascentes. O local de nossa pesquisa situa-se em Regeneração, Piauí, em algumas das cabeceiras do Rio Mulato, a 8km da sede desse município, no povoado Coco dos Amâncios. Estas fornecem grande parte da água para o consumo da população ribeirinha e para o desenvolvimento de atividades variadas, desde o lazer até a prática agrícola. Tivemos por objetivo principal identificar os impactos ambientais causados pela ação humana nesse povoado.
Nas últimas décadas, as cabeceiras da sub-bacia do Rio Mulato vêm sofrendo degradação ambiental. A ocupação antrópica tem causado a diminuição da vazão de água nas cabeceiras e no leito, o assoreamento em volta do rio e o aumento do acúmulo de lixo, poluindo, assim, as águas e ocasionando, possivelmente, danos à saúde da população, já que a mesma água que recebe resíduos sólidos é aquela que os ribeirinhos utilizam para o consumo. Reside, nesse local, um total de 23 famílias.
A metodologia empregada consiste na revisão bibliográfica e da legislação vigente, de entrevistas e de trabalhos de campo com levantamento fotográfico. Este artigo está estruturado em dois tópicos: Degradação e impactos ambientais em cabeceiras de rios e Impactos ambientais em cabeceiras do Rio Mulato no município de Regeneração, Piauí.
2. DEGRADAÇÃO E IMPACTOS AMBIENTAIS EM CABECEIRAS DE RIOS
A água é um recurso natural essencial para a vida no planeta e é utilizada nas diversas atividades humanas (domésticas, agrícolas, industriais etc.). É preciso que esse recurso seja utilizado de forma racional, para a garantia da vida terrestre e funcionamento dos ecossistemas. Segundo a Fundação Nacional de Saúde (s/d: 36), 97% da água na Terra é encontrada nos mares, portanto salgada, e 3% apenas é doce. Dentre estes 3%, “2,7% são formadas por geleiras, vapor de água e lençóis existentes em grandes profundidades”, ou seja, mais de 800m, “não sendo economicamente viável seu aproveitamento para o consumo humano”. Assim, “somente 0,3% do volume total de água do planeta pode ser aproveitado para nosso consumo”, com “0,29%, em fontes subterrâneas (poços e nascentes)” e apenas “0,01% encontrada em fontes de superfície” como lagos e rios (loc. cit.). Estes “são correntes volumosas de água que se deslocam na superfície terrestres, por meio de canais permanentes e com rumo definido, sempre das áreas mais elevadas para as menos elevadas” (SAAE, s/d). 
A distribuição dos recursos hídricos no Brasil é irregular, com amplas áreas úmidas na Amazônia e na Mata Atlântica, e déficit hídrico no Semiárido. Outro fator de preocupação no nosso país é a má utilização e o desperdício desse recurso, tanto devido à pressão urbana trazida sobre os mananciais quanto pela produção agrícola. Esse mau uso é caracterizado como degradação ambiental, que ser conceituada como qualquer alteração adversa dos processos, funções ou componentes ambientais, ou ainda, como alteração adversa da qualidade ambiental. Em outras palavras, “degradação ambiental seria, assim, uma perda ou deterioração da qualidade ambiental” (SÁNCHEZ, 2013: 27), assim degradação do ambiente, como percebemos é um problema mundial uma crise ambiental, conforme as ações antrópicas. 
A degradação das cabeceiras dos rios compromete diversos ecossistemas, desde o do seu entorno até o da foz do rio, intensificando e ampliando a área de ocorrência dos danos ambientais. Esses locais são habitados devido a terra fértil disponível e a facilidade na captação de água para uso humano, mas a legislação estabelece que suas margens devem ser preservadas a uma distância mínima das cabeceiras, chamando, assim, uma faixa de terra com uso proibido e preservação assegurada de Área de Preservação Permanente (APP). Conforme o Código Florestal (BRASIL, 2012),
[...] Área de Preservação Permanente: área protegida por lei, coberta ou não por vegetação nativa, com a função ambiental de preservar; os recursos hídricos, a paisagem, a estabilidade geológica, a biodiversidade o fluxo gênico de fauna e flora, proteger o solo e assegurar o bem-estar das populações humanas. 
Quanto à nascente dos rios, essa lei (loc. cit.) a define como “afloramento natural do lençol freático que apresenta perenidade e dá início a um curso d'água”. Nesse caso, “as áreas no entorno das nascentes e dos olhos d'água perenes, qualquer que seja sua situação topográfica, no raio mínimo de 50 (cinquenta) metros” (loc. cit.) serão consideradas APPs, e a “supressão de vegetação nativa protetora de nascentes, dunas e restingas somente poderá ser autorizada em caso de utilidade pública” (loc. cit.). Contudo, a substituição do Código Florestal de 1967 pela lei em vigor, que comentamos aqui, abriu uma brecha para os desmatadores, já que nas áreas rurais consolidadas em APPs, “no entorno de nascentes e olhos d'água perenes, será admitida a manutenção de atividades agrossilvipastoris, de ecoturismo ou de turismo rural, sendo obrigatória a recomposição do raio mínimo de 15 (quinze) metros” (loc. cit.), reduzindo, portanto, o raio da APP em 35m. 
Uma das ações mais comuns e mais impactantes é a retirada da mata ciliar. Antes de tratar especificamente sobre isso, devemos lembrar a definição estabelecida pelo Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA), na resolução 001/86, acerca do que é impacto ambiental:
[...] considera-se impacto ambiental qualquer alteração das propriedades físicas, químicas e biológicas do meio ambiente, causada por qualquer forma de matéria ou energia resultante das atividades humanas que, direto ou indiretamente, afeta: I - a saúde, a segurança e o bem-estar da população; II - as atividades sociais e econômicas; III - a biota; IV - as condições estéticas e sanitárias domeio ambiente; V - a qualidade de recursos ambientais;
Os impactos ambientais são causados quando o ser humano explora a natureza sem levar em consideração os limites que permitem a existência de determinado ecossistema, ainda que esteja sendo utilizado algum recurso nele encontrado. Nesse sentido, é importante ressaltar a diferença entre os termos conservação e preservação. De acordo com Wagner Costa Ribeiro (2005: 62),
[...] [o] conservacionismo é uma das vertentes do ambientalismo. Seus seguidores atuam na busca do uso racional dos elementos dos ambientes naturais da Terra. Embasados no conhecimento científico e tecnológico dos sistemas naturais, eles defendem uma apropriação humana cautelosa dos recursos naturais, que respeite a capacidade de reprodução e/ou reposição natural dos recursos. Os preservacionistas, por seu turno, radicalizam, propondo a intocabilidade dos sistemas naturais. Essa vertente do ambientalismo tem conseguido, por exemplo, implantar reservas ecológicas, defendendo a retirada da população que nelas vive, como ribeirinhos e indígenas e a moratória da pesca da baleia. O argumento preservacionista sustenta-se com maior facilidade quando existe a ameaça de extinção de uma espécie. A ação preservacionista em relação a uma espécie ameaçada de extinção representa a possibilidade de mantê-la no conjunto de seres vivos do planeta.
Desse modo, o Código Florestal adota uma postura preservacionista em relação às APPs, embora o desrespeito à lei seja uma constante. Além disso, os impactos ambientais são causados muitas vezes por falta de conhecimento de como manejar os recursos naturais; por falta de educação formal, já que a escola é fundamental para a construção do saber; pela pobreza, uma das principais causas da degradação ambiental; e, sobretudo, pela conjunção entre a omissão do Estado e os lucros privados de agentes econômicos. Neste artigo, a realidade é a omissão do Estado em relação a um povoado cuja população é deixada sem a mínima infraestrutura nas áreas de APP de algumas cabeceiras do Rio Mulato.
Nesse sentido, a retirada da mata ciliar ocorre em função dos usos da população ribeirinha daquele local – plantio de gêneros agrícolas, uso recreativo e deposição de resíduos sólidos sobretudo. Associa-se a isso o fato de grande parte da população adulta ter tido formação escolar precária, sendo comum casos de analfabetismo funcional e de ensino fundamental incompleto. Outro elemento considerável é a tentativa de usar o local com fins recreativos, o que significa a construção de estabelecimento comercial e mais resíduos sólidos. Algo que deveria ser de usufruto público está sendo apropriado de forma privada, à revelia da lei, e contribuindo para a degradação ambiental.
No caso das matas ciliares, sua importância reside na função protetiva aos ecossistemas, uma vez que essas
[...] são as matas que ficam nas margens das nascentes, dos rios, lagos, barragens e açudes. Elas recebem esse nome porque protegem as águas como os cílios protegem os olhos. As matas ciliares protegem também o solo, facilitando a infiltração das águas das chuvas, evitando as enchentes, a erosão das margens e o assoreamento dos rios e lagos (Superintendência de Recursos Hídricos do Estado da Bahia apud GOMES & SANTOS, s/d: 04).
Em estudo elaborado pela Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) (2011: 55), podemos perceber a importância da vegetação ripária:
[...]Os serviços ecossistêmicos prestados pelas APPs ripárias são bem conhecidos. Entre eles podem ser citados (a) o seu papel de barreira ou filtro, evitando que sedimentos, matéria orgânica, nutrientes dos solos, fertilizantes e pesticidas utilizados em áreas agrícolas alcancem o meio aquático; (b) o favorecimento da infiltração da água no solo e a recarga dos aquíferos; (c) a proteção do solo nas margens dos cursos d’água, evitando erosão e assoreamentos; (d) a criação de condições para o fluxo gênico da flora e fauna [...]; (e) o fornecimento de alimentos para a manutenção de peixes e demais organismos aquáticos; (f) o refúgio de polinizadores e de inimigos naturais de pragas de culturas. A matéria orgânica presente na serapilheira depositada sobre o solo das áreas ripárias pode ser lixiviada pela infiltração da água da chuva e atingir o rio via fluxos hidrológicos superficiais ou subsuperficiais ou ainda pela entrada via arraste da serapilheira nas enxurradas ou pela queda direta de folhas no canal fluvial. Dessa maneira, as florestas podem ser vistas como fontes de matéria orgânica e energia para os sistemas aquáticos, cumprindo um papel essencial para o funcionamento desses ecossistemas [...]. Entre os impactos potenciais da diminuição da largura das APPs estão as alterações na capacidade de armazenamento de água ao longo da faixa ripária com consequente redução de vazão na estação seca [...]. Ressalta-se que ocorrem interações hidrológicas entre superfície e subsuperfície dos cursos d’água, considerando que a água não flui unicamente pelo canal fluvial, mas também pelos interstícios dos sedimentos junto às margens e sob o canal. Este compartimento é conhecido como zona hiporréica ou ripária [...]. Processos biogeoquímicos importantes ocorrem nesse compartimento, o que determina a importância das áreas marginais aos cursos d’água na atenuação do aporte de nutrientes oriundos dos solos agrícolas fertilizados e nas transformações de moléculas e metabólitos oriundos da aplicação de pesticidas nos cultivos agrícolas. Assim, a vegetação presente na área ripária atua como barreira biogeoquímica para a entrada de espécies químicas orgânicas e inorgânicas nos rios, fato que confere à vegetação ripária arbórea grande importância na manutenção da qualidade da água e saúde do ecossistema aquático [...]. [Um estudo] relata a redução de mais de 90% das concentrações de sedimentos e de espécies de nitrogênio dissolvido como consequência da ação filtrante das matas ripárias. [Outro estudo mostra que] a floresta ripária reduziu as concentrações de nitrogênio, fosfato e fósforo total dissolvidos em respectivamente 38%, 94% e 42%.
Uma vez removida a mata ciliar, o processo de degradação se intensifica, já que a ação antrópica não se limita apenas ao desmatamento. O aumento de sedimentos altera a vazão das cabeceiras e, por fim, altera a vazão de toda a bacia. O recurso hídrico alterado prejudica a manutenção da fauna. Em locais sem infraestrutura, ocorre muito frequentemente a deposição de resíduos sólidos, propiciando a contaminação do solo mais rapidamente se não houver mata ciliar. Quanto aos ribeirinhos, a degradação ambiental afeta diretamente a qualidade da água, a disponibilidade de alimentos, a saúde e a própria reprodução das práticas sociais e culturais da comunidade. Rozely Santos (2004: 24) lembra que
[...] [o] homem desenvolveu grande capacidade de apropriação e transformação do meio em que vive, utilizando o quanto o meio possa lhe oferecer, mas não desenvolveu concomitante, a consciência e o conhecimento necessários a respeito das limitações desse espaço, usando-o e muitas vezes, de forma descontrolada e desmedida.
Há que se ter, pois, consciência dos impactos ambientais e suas consequências, já que a degradação dos recursos hídricos causa-os em cadeia, ao longo de toda a bacia hidrógrafica. Nesse sentido, devemos lembrar que esta é a “unidade territorial para implementação da Política Nacional de Recursos Hídricos e atuação do Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos”, de acordo com a Política Nacional de Recursos Hídricos (BRASIL, 1997). Uma bacia hidrográfica é
[...] uma área de captação natural da água de precipitação que faz convergir o escoamento para um único ponto de saída. a bacia hidrográfica compõe-se de um conjunto de superfícies vertentes e de uma rede de drenagem formada por cursos de água que confluem até resultar em um leito único no seu exutório.
A Declaração de Dublin (CONFERÊNCIA..., 1992) é clara ao apontar a necessidade de que a gestão dos recursos hídricos seja realizada em função dasbacias hidrográficas:
[...] [a] água é parte vital ao meio ambiente e lar de várias formas de vida no qual o bem estar dos seres humanos dependem. De forma essencial a interrupção destes fluxos tem reduzido a produtividade dos ecossistemas, devastando a piscicultura, agricultura e pastos, e marginalizando comunidades rurais que desses dependem. Vários tipos de poluição, incluindo poluição transfronteiriça, exarcebam estes problemas, degradam a água para abastecimento, exigem tratamento de água mais caro, destroem fauna aquática, e restringem as oportunidades de lazer. O gerenciamento integrado de bacias hidrográficas oferece a oportunidade de preservação de ecossistemas aquáticos e disponibiliza estes benefícios à sociedade de forma sustentável. [...] A entidade geográfica mais apropriada para o planejamento e gerenciamento de recursos hídricos é a bacia hidrográfica, incluindo águas de superfície e subterrâneas. Idealmente, o planejamento e desenvolvimento integrado efetivo de rios transfronteiriços ou bacias de lagos tem exigências institucionais semelhantes a bacias completamente dentro do país.
Desse modo, devemos caracterizar o local pesquisado de acordo com a bacia hidrográfica a qual pertence.
.
3. IMPACTOS AMBIENTAIS EM CABECEIRAS DO RIO MULATO, NO MUNICÍPIO DE REGENERAÇÃO, PIAUÍ
Os recursos hídricos do Estado do Piauí estão representados sobremaneira pela bacia hidrográfica do Rio Parnaíba, que abrange este e partes do Maranhão e do Ceará (ANA, 2010: 46). É a mais extensa dentre as vinte e cinco bacias da Vertente Nordeste, ocupando uma área de 330.285 km², o equivalente a 3,9% do território nacional conforme a figura 1. A Região Hidrográfica do Parnaíba foi dividida em três grandes áreas de planejamento, de acordo com a figura 2 (MMA, 2006: 30) em seguida: Alto Parnaíba, Médio Parnaíba e Baixo Parnaíba, que englobam sete sub-bacias. Nossa pesquisa é realizada nas cabeceiras da sub-bacia do Rio Mulato, que se enquadra no Médio Parnaíba. Nesse documento (ibid.), comentam-se apenas sobre os rios Piauí, Canindé, Itaim, Fidalgo, Guaribas, Poti, Sambito, Berlengas e São Nicolau. Omite-se, portanto, a sub-bacia alvo de nossa pesquisa.
O Rio Mulato é um dos afluentes da margem direita do Médio Parnaíba. Segundo Castro (2001: 87), “a cidade de Amarante se preponderou a partir dos rios existente na região”, lembrando que Regeneração se emancipou desse município. De acordo com o CPRM (2004a), as cabeceiras principais do Rio Mulato encontram-se no município de Regeneração, como vemos na figura 3 em seguida. Há um problema, contudo, sobre o nome do rio que deságua no Rio Parnaíba: de acordo com a Agência Nacional de Águas (2006), quem deságua no Parnaíba é o Rio Mulato conforme figura 4; no mapa do CPRM (2004b) do município de Amarante quem deságua é o Riacho Mulato, como vemos na figura 5 subsequente. O único trabalho que encontramos sobre o Rio Mulato é o de Lira Filho & Lima (s/d).
A bacia do Rio Mulato compreende os municípios de Angical do Piauí, Santo Antônio dos Milagres, São Gonçalo do Piauí, Jardim do Mulato, Hugo Napoleão, Regeneração, Amarante e Palmerais. As cabeceiras pesquisadas encontram-se próximas às coordenadas 6º 14’ 16” Latitude Sul e 42º 14’ 16” Longitude Oeste, no município de Regeneração, Piauí, como vemos na figura 7 a seguir, em um povoado chamado Coco dos Amâncios.
Figura 1: Mapa de Localização da Bacia Hidrográfica do Rio Parnaíba
Fonte: ANA, 2010: 46.
 
Figura 2: Alto Parnaíba, Médio Parnaíba e Baixo Parnaíba, de baixo para cima.
Fonte: MMA, 2006: 30.
Figura 3: Cabeceiras do Rio Mulato
Fonte: CPRM, 2004a.
Figura 4: Foz do Rio Mulato de acordo com a Agência Nacional de Águas.
Fonte: ANA, 2006.
Figura 5: Foz do Riacho Mulato conforme CRPM.
Fonte: CPRM, 2004b.
Figura 6: Bacia do Rio Mulato.
Fonte: LYRA FILHO & LIMA, s/d.
Figura 7: Localização da Sub bacia do Rio Mulato.
Fonte: DIGITAL GLOBE, 2015.
Os moradores de Coco dos Amâncios não tem claro que as cabeceiras em que vivem são tributárias do Rio Mulato e que não são as nascentes principais do rio, o que trouxe dificuldades no momento de localizar o povoado na imagem de satélite. Os moradores relataram que a vazão do rio tem diminuído nas últimas décadas, mas não associam isso ao mau uso dos recursos hídricos verificados lá – resíduos sólidos são descartados de modo inadequado, chegando a entupir o curso das águas e algumas cabeceiras. O desmatamento também é fator encontrado no local, com bananeiras substituindo a mata ciliar (figuras 8 a 11).
Das cinco cabeceiras existentes, duas já secaram, e as outras, que os moradores relatam haver jorrado um dia, hoje minam água com muito menos força. Um dos fatores que provavelmente causa isso é a retirada permanente e constante de água das nascentes, por meio de bombas, ligadas 24h por dia. Além do uso descontrolado, que favorece o desperdício, devemos citar que essa água chega diretamente às casas sem nenhum tratamento, lembrando que essa água captada é a mesma em que é despejado lixo e lavada roupa com produtos químicos industrializados, mais poluentes. É tanto lixo que a vegetação cria barreiras ao curso de água, acumulando-a e ampliando a potencialidade de contaminação por chorume. O hábito tradicional das lavadeiras está ameaçado, portanto, pela poluição, não sendo essa atividade, contudo, livre de impactos ambientais (figuras 12 a 15).
Quando entrevistamos os moradores, estes se mostraram reticentes e conscientes da degradação que tem causado às cabeceiras. Quando indagados sobre as atividades agrícolas, foi relatado que eram desenvolvidas às margens das cabeceiras do Rio Mulato. Há três décadas atrás havia o plantio de cana-de-açúcar para a produção de rapadura, fabricada em um engenho da comunidade. Atualmente, o que prevalece naquela área é o plantio de banana e macaxeira, sendo os produtos vendidos para comunidades vizinhas para complementar a renda da família, já que a maioria da população vive de trabalhos informais. Os moradores mantêm atividades silvícolas, como a extração de buriti e de babaçu, produzindo vários produtos para o consumo e, quando há procura, para a venda.
O principal motivo apontado para que os produtores utilizem essas APPs para o desenvolvimento das atividades agrícolas é a fertilidade do solo. O cultivo dessa área pelos moradores é uma prática que passa de pai para filho, mesmo existindo outro local específico para plantação, mais distante das nascentes, conhecido como “área de chapadas”, onde estes fazem o plantio de arroz, milho, feijão, mandioca. Os produtores afirmam que para manter o plantio daquela área não utilizam nenhum tipo de agrotóxico, sendo que as nascentes não são afetadas por esse tipo de produto químico. 
Figura 8 a 11: Drenagem do Rio Mulato, desmatamento da mata ciliar para dar lugar a bananeira e acúmulo de lixo.
Fonte: Pesquisa direta, 2015.
Figuras 12 a 15: Plantação de bananas nas cabeceiras do Rio Mulato
Fonte: Pesquisa direta, 2015.
Os moradores ribeirinhos entrevistados afirmam que as cabeceiras do Rio Mulato são de fundamental importância para a comunidade Coco dos Amâncios porque toda a população utiliza os recursos hídricos, tanto para o abastecimento da comunidade, quanto para a manutenção dos plantios da área e para o desenvolvimento de atividades de lazer. É dessa água que a comunidade sobrevive, sendo que naquela região não há outra fonte de água. Isso mostra como a pobreza e a falta de formação escolar pode contribuir para a degradação ambiental e esta, por sua vez, para a descaracterização da vida comunitária. A poluição e a degradação, e os impactos ambientais decorrentes, podem forçar, daqui a algumas décadas, a migração forçada dessas famílias para outras áreas.
De acordo com as entrevistas feitas com os funcionários da Escola Municipal Amâncio Lopes dos Santos, foi informado que havia trabalhos de conscientização das crianças que moram na comunidade, mas, aparentemente, as açõespropostas não obtiveram êxito. Cabe ressaltar, ademais, que essa escola se encontra atualmente fechada pelo poder público. Se com a escola no povoado, havia esse problema, com o seu fechamento as possibilidades de uma aproximação entre Geografia e Educação parecem ainda mais difíceis. É fundamental que se crie um vínculo entre instituições escolares e a comunidade para que seja revertida a degradação ambiental na comunidade.
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Diante da análise feita neste estudo, observa-se que as cabeceiras do Rio Mulato passam por um processo claro de degradação. Tanto a população local quanto pessoas de fora em busca de lazer estão contribuindo para isso, já que ambos não respeitam a legislação, e realizam diversas atividades em Áreas de Preservação Permanente, como o desmatamento e o descarte de resíduos sólidos. Atividades relacionadas que também são impactantes é a agricultura, principalmente com a plantação de bananas, e a retirada de água de forma irregular, sem qualquer autorização pública e sem nenhum planejamento, fruto da omissão estatal. Foi relatado que algumas cabeceiras secaram e que a vazão do rio tem diminuído ao longo dos anos. Um projeto de Educação Ambiental seria fundamental, mas a escola local foi fechada, tornando ainda mais difícil a relação de pertencimento da comunidade com seu entorno, por meio de práticas ambientalmente corretas.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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_________. Atlas Brasil: abastecimento urbano de água: resultados por estado/ Agência Nacional de Água: Engecorps/Cobrape. – Brasília: ANA, 2010. 
BRASIL. Conselho Nacional do Meio Ambiente. Resolução CONAMA nº 1, de 23 de janeiro de 1996 (publicado no DOV, de 17 de fevereiro de 1986, seção 1, pág, 2548-2549).
_________. Lei Federal nº 12.651, de 25 de maio de 2012. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2012/lei/l12651.htm. Acesso 08 jan 2015.
_________. Lei Federal nº 9.433, de 25 de janeiro de 1997. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L9433.htm. Acesso 08 fev 2015.
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CONFERÊNCIA INTERNACIONAL DE ÁGUA E MEIO AMBIENTE (ICWE). Declaração de Dublin 1992. Disponível em: http://www.meioambiente.uerj.br/emrev ista/documentos/dublin.htm. Acesso 05 maio 2015.
DIGITAL GLOBE: imagem de satélite. CNES/SPOT Image, 2015.
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GOMES, Jorge Valério Rocha & SANTOS, Jémisson Mattos dos. Análise da degradação das matas ciliares às margens do espelho d’água da barragem de Brumado, no período de 1977 a 2004. s/d. Disponível em: http://www 2.uefs.br/geotropicos/AN%C1LISE%20DA%20DEGRADA%C7%C3O%20DAS%20MATAS%20CILIARES.pdf. Acesso 08 maio 2015.
LIRA FILHO, Marco Aurélio da Silva & LIMA, Iracilde Maria de Moura Fé. Tectônica paleo-mesozoica e suas implicações geológico-geomorfológicas nas paisagens da bacia hidrográfica do Rio Mulato Piauí/Brasil. s/d. Disponível em: www.cartografia.org.br/cbc/trabalhos/1/172/CT01-1_1404134676.pdf. Acesso em 07 maio 2015.
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