Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
FACULDADE ESTACIO DE SÁ DE VILA VELHA CURSO DE PEDAGOGIA BERNARDO FADINI DALTOÉ Educação sexual: o desenvolvimento do ensino de gênero e sexualidade na escola. VILA VELHA 2016 BERNARDO FADINI DALTOÉ Educação sexual: o desenvolvimento do ensino de gênero e sexualidade na escola. Trabalho de Conclusão de Curso apresentado como requisito parcial para a Conclusão do Curso de Licenciatura Plena em Pedagogia da Faculdade Estácio de Sá de Vila Velha/ES. VILA VELHA 2016 SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO...................................................................................................................3 2. PROBLEMA.............................................................................................................4 3. HIPÓTESE...............................................................................................................5 4. OBJETIVOS.............................................................................................................6 4.1 OBJETIVO GERAL................................................................................................6 4.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS..................................................................................6 5. JUSTIFICATIVA.......................................................................................................7 6. REFERENCIAL TEÓRICO.......................................................................................9 7. METODOLOGIA....................................................................................................17 7.1 CLASSIFICAÇÃO DA PESQUISA.......................................................................18 7.2 O PROCESSO DE ANÁLISE DOS DADOS.........................................................19 7.3 CAMPO DE PESQUISA.......................................................................................19 7.4 SUJEITOS DA PESQUISA...................................................................................19 7.5 INSTRUMENTOS DE COLETA DE DADOS........................................................19 8. CRONOGRAMA.....................................................................................................20 9. REFERÊNCIAS......................................................................................................21 10. ANEXOS..............................................................................................................23 3 1. INTRODUÇÃO Esse trabalho se propõe a investigar de que forma as Escolas de Ensino Fundamental no município de Vila Velha/ES, tem abordado temas relacionados a sexualidade e gênero da criança matriculada nas series iniciais do Ensino Fundamental. Esse tema passou a fazer parte do meu interesse de pesquisa, porque assuntos relacionados a sexualidade e gênero quase sempre são vistos de forma marginalizada na escola, isto é, nega-se ao individuo, possibilidades de conhecer e se relacionar com seu próprio corpo. A escola ainda encara com grandes dificuldades as discussões e reflexões a cerca de desvelar assuntos relacionados a sexualidade e gênero na escola. Nos anos 50 e 60 pelo fato da sexualidade não ser mais contida pela sociedade, surgem as primeiras tentativas tímidas de inclusão nas escolas da educação sexual. Porem essa educação se limitou a parte biológica e reprodutiva do individuo, não integrando toda a sexualidade humana. A relevância da educação sexual no contexto escolar é indiscutível, haja vista que o conhecimento é o único caminho para que o jovem não se exponha a mitos que possam impedi-lo de seus valores resignificandos-os, uma vez que o mesmo entra em contato com os outros valores e significados. Assim, a escola desempenha papel fundamental na construção desse conhecimento, não restringindo a educação sexual ao contexto biológico e reprodutivo, mas sim a abordando de forma abrangente. 4 2. PROBLEMA Como se caracterizam as práticas pedagógicas sobre sexualidade e gênero nas Escolas municipais do Ensino Fundamental de Vila Velha/ES? 5 3. HIPÓTESE Para entrar no campo investigativo elaboramos algumas hipóteses, são elas: As escolas do ensino fundamental não trabalham com as crianças a sexualidade e gênero de forma abrangente, isto é, transmitindo informações e conhecimentos as crianças a respeito da sexualidade humana. As abordagens sobre sexualidade e gênero ainda são tratados como contexto biológico e reprodutivo. A escola não trabalha a sexualidade e o gênero envolvendo as atividades que manifestam a dinâmica do corpo, portanto, o sentir, o desejo, a busca da satisfação, para que dessa forma ocorra a formação de atitudes adequadas a sexualidade de cada criança. 6 4. OBJETIVOS 4.1 OBJETIVO GERAL Analisar como acontece as abordagens sobre sexualidade e gênero nas escolas de Ensino Fundamental no município de Vila Velha/ES. 4.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS Identificar o papel da escola no desenvolvimento da sexualidade da criança. Verificar de que forma que a parceria entre pais, educadores e alunos auxilia na formação sexual da criança. Avaliar possíveis fatores que têm dificultado o trabalho dos professores ao lidarem com situações que envolvem a sexualidade da criança. 7 5. JUSTIFICATIVA Quando ingressei na vida acadêmica, durante as aulas da disciplina de “Sexualidade e Gênero”, eu me interessei por questões relacionadas à sexualidade da criança. Comecei a pensar meu tema, observando atitudes, dificuldades e curiosidades relacionadas à minha prática docente. A partir dessas observações e análises percebi que os educadores têm pouca orientação quando o assunto é relacionado a temas sobre a sexualidade da criança. Resolvi então, buscar maiores esclarecimentos sobre como abordar temas relacionados à sexualidade da criança na escola, uma vez que os pais estão transferindo a responsabilidade para a escola. A importância desse projeto é por possibilitar reflexões a cerca de novas perspectivas pedagógicas que abordem na Escola de ensino fundamental, temas relacionados a sexualidade e gênero, a fim de contribuir para uma formação humana que potencialize os sujeitos, urgente nesse momento tão plural. Portanto essa pesquisa vem com o objetivo de descrever a importância da escola no desenvolvimento da sexualidade e gênero da criança, reconhecendo que, educadores e alunos devem atuar juntos, refletindo também sobre possíveis fatores que tem dificultado o trabalho dos profissionais ao lidarem com situações que envolvem temas relacionados à educação sexual da criança. A proposta da educação sexual a ser considerada nessa pesquisa não tem o intuito de instigar ou até mesmo estimular as crianças a pratica do ato sexual, mas sim contribuir para o amplo processo no âmago dessa educação, transmitindo informações e conhecimentos as crianças a respeito da sexualidade humana, envolvendo não só os aspectos físicos, mas, principalmente, as atividades que manifestem a dinâmica do corpo, portanto, o sentir, o desejo, a busca da satisfação, para que dessa forma ocorra a formação de atitudes adequadas a maneira de vivenciar, de forma saudável, a sexualidade de cada criança. Dentro dessa perspectiva, considero interessante apresentar um fragmento do meu , memorial. 8 Então, na atualidade sou homossexual convicto, porém nem sempre foi assim, enquanto criança eu sentia que era diferente dosoutros meninos, porém não conseguia compreender qual era essa diferença. Desde muito cedo me senti atraído por outros meninos, sentia interesse por eles, gostava muito de brincar entre as meninas, e por isso percebia olhares curiosos, sorrisos maliciosos e muitas conversas a cerca do meu comportamento, mas eu não dava conta de nomear minha postura como um homossexual. O meu jeito diferente me trouxe muitos desabores, apanhava dos meus pais, recebia apelidos pejorativos dos meus amiguinhos entre outros. Na escola nunca percebi nenhum trabalho ou interesse para me ajudar a entender essas diferentes posturas que assumira na escola, isso me fez sofrer muito. Esse trabalho de conclusão de curso pretende trazer essas reflexões a fim de contribuir para um trabalho significativo a cerca de pensar a sexualidade e gênero no contexto do Ensino Fundamental. 6. REFERENCIAL TEÓRICO 9 6.1 CONCEITUANDO GÊNERO E SEXUALIDADE Para pensarmos gênero e sexualidade, devemos buscar na literatura e em pesquisas já realizadas o conceito desses termos, uma vez que temos muitas confusões conceituais produzidas por uma grande parcela da sociedade civil que considera que se sexo, gênero e sexualidade são as mesmas coisas. Esses conceitos não são sinônimos e para pensar o desenvolvimento de ensino de gênero e sexualidade na escola é preciso distingui-los. Sendo assim, precisamos distinguir que sexo é o masculino e o feminino, estão estritamente ligados ao corpo e a biologia, já gênero é um conceito que diz respeito a construções sociais do que sejam características consideradas femininas ou masculinas baseadas nas diferenças percebidas entre os sexos, portanto podemos dizer que gênero é uma construção social, cultural e histórica e sexualidade e a vivência dessa construção de gênero. A escritora, intelectual, filósofa existencialista,ativista política, feminista e teórica social francesa Simone de Beauvoir, ao se expressar “não se nasce mulher, torna- se mulher”, possibilitou a partir dessa frase o grito de liberdade do movimento feminista para o mundo, podemos dizer que a construção histórica do gênero teve sua gênese no movimento feminista”. [...] o termo gênero começou a ser utilizado pelas feministas como uma maneira de se referir à organização social da relação entre os sexos. [...] desejavam enfatizar o caráter fundamentalmente social das distinções baseadas no sexo [...] as mulheres e os homens eram definidos reciprocamente e não poderiam compreender qualquer um dos sexos por meio de um estudo completamente separado. (ALVARENGA, 2007, p.27). Sendo assim, podemos inferir que o conceito social de gênero, foi pensado pelos grupos feministas na década de 70, com o objetivo de instituir uma visão ampla que distingui a dimensão biológica e a dimensão social, isto é, sabemos que a espécie humano possui biologicamente sujeitos machos e fêmeas, porém a determinação de homens e mulheres serão construídos culturalmente nas relações estabelecidas no social. Concordamos com Jesus (2014), quando diz: Pela lógica universal do comportamento baseado no sexo biológico, homens e mulheres nasceriam com um dispositivo genético, uma biologia pré-programada que, agindo sobre cada sujeito, direciona sua conduta em https://pt.wikipedia.org/wiki/Escritora https://pt.wikipedia.org/wiki/Intelectual https://pt.wikipedia.org/wiki/Fil%C3%B3sofa https://pt.wikipedia.org/wiki/Existencialista https://pt.wikipedia.org/wiki/Pol%C3%ADtica https://pt.wikipedia.org/wiki/Feminismo https://pt.wikipedia.org/wiki/Teoria_social https://pt.wikipedia.org/wiki/Teoria_social https://pt.wikipedia.org/wiki/Fran%C3%A7a 10 direção àquilo que é concebido, naturalmente, como ser homem ou ser mulher. [...] homens e mulheres apresentam traços de personalidade que escapam dos estereótipos de gênero erigidos socialmente, levando a crer que elementos externos e ambientais, exerceram influência na formação de valores, hábitos e costumes adotados e expressos por cada indivíduo. A partir daí, é possível constatar que pelas relações de gênero perpassam aprendizagens, as quais, imputadas aos sujeitos, se expressam mediante práticas masculinizantes e feminilizantes que afirmam condições, funções e posições sociais que homens e mulheres desfrutam, exercem e ocupam no seio das sociedades. (JESUS, 2014, p.175-176) Dessa forma, podemos dizer que observar as atribuições ao feminino e masculino em uma determinada sociedade ajuda a compreender como foram e como estão sendo ensinados os gêneros. Como estudo da arte, buscamos na literatura a obra intitulada Relações de gênero nos cotidianos escolares (ALVARENGA,2007), para compreender a produção de conhecimento produzido sobre o assunto. Dessa forma, podemos perceber que os assuntos relativos à teorização das relações sociais de gênero como categoria analítica, teve seu apogeu no final do século XX. O conceito de gênero foi definido por Joan Scott, uma feminista inglêsa. “O termo gênero faz parte da tentativa empreendida pelas feministas contemporâneas de reivindicar um novo terreno para explicar as persistentes desigualdades entre homens e mulheres” (ALVARENGA,2007,p.27). Scott afirma que o termo gênero começou a ser utilizado pelas feministas como uma maneira de se referir à organização social da relação entre os sexos. A aparição inicial do termo deu-se com as feministas inglesas e norte americanas, que desejavam enfatizar o caráter fundamentalmente social das distinções baseadas no sexo e o aspecto relacional das definições normativas da feminilidade. Para essas feministas, as mulheres e os homens eram definidos reciprocamente e não poderiam compreender qualquer um dos sexos por meio de um estudo completamente separado. (ALVARENGA,2007,p.27) Dessa forma o termo gênero, abre espaço para as feministas para ampliar o debate acerca de se pensar novas possibilidades de mudanças das atuais concepções, porém a autora faz critica a abordagem de gênero quando dividem o termo em duas categorias distintas, a descritiva, que se refere a existência do fenômeno e a ao segundo de ordem causal, a autora ainda aponta que a utilização do termo mais simples de gênero é sinônimo de mulher. 11 Na verdade a autora aponta a necessidade de se pensar o estudo científico do termo gênero, trazendo a necessidade de pensar que pensar informações sobreas mulheres, necessariamente precisa pensar informações sobre homens, que um depende do entendimento do outro. Dentro dessa perspectiva, compreender gênero, as diferenças que se transformam em desigualdades, onde o poder é desigual é uma forma de lutar contra a própria diferença. A mulher é marcada por uma história opressora, imposta por uma visão de mundo patriarcal, no mundo do trabalho, foi expropriada de diferentes formas da sua condição de pessoa humana, longas horas de trabalho, salários inferiores aos dos homens, nas decisões políticas invisíveis durante longos séculos o que contribuiu para perpetuar uma política pensada por homens para homens. A escola pode ser um instrumento de debate de gênero. Não podemos deixar de problematizar que existe também a opressão contra o homem que precisa sempre ter uma postura que se enquadre nos ideais do gênero masculino perpetuado durante os anos. Dessa maneira meninos que tiverem uma posição que seja mais voltada às características do feminino, como por exemplo, atitudes que apresentem maior sensibilidade como por exemplo chorar em público, dançar, poderá ser motivo de chacotas entre os amigos. 6.2 EDUCAÇÃO SEXUAL NO ESPAÇO ESCOLAR 6.2.1 Falar sobre sexualidade na Escola 12 O dicionário nos diz que o termo sexualidade que dizer “conjunto de caracteres especiais, externos ou internos, determinados pelo sexo do indivíduo.” Sendo assim,podemos inferir que a sexualidade se faz presente em todo o desenvolvimento físico e psicológico de todas as pessoas, manifestando-se desde o seu nascimento até o momento da sua morte. Podemos dizer que a sexualidade é algo inerente a condição humana, está posto e faz parte de todo o contexto social e elementos constitutivos da pessoa humana. O termo sexualidade foi criado no século XIX, com o intuito de abarcar os amplos significados referentes aos conjuntos de valores e práticas corporais, que formam construídos na história social. O termo sexualwissenschaft (ciência sexual) foi criado por Iwan Bloch, médico alemão da virada do século XIX para o XX. É nesse momento que surge uma ciência da sexualidade, tendo a Alemanha como seu centro irradiador. A expressão alemã (sexualwissenschaft) foi traduzida nas demais línguas europeias como sexologia (sexology em inglês, sexologieem francês, sexologia em espanhol, sessuologia em italiano e assim por diante). Nesse momento, a sexologia designava não apenas o estudo científico da sexualidade, mas também uma certa postura em relação à temática da sexualidade.( Russo; Carrara; Rohden, 2009, p. 1) Os autores vêm nos apontar que os primeiros sexólogos apoiavam-se na medicina e tinham o objetivo de construir uma visão objetiva dos comportamentos relacionados à sexualidade, isto é, uma visão não contaminada por considerações morais ou jurídicas. Dentro dessa perspectiva, os estudiosos da época, desejam construir novos conhecimentos a cerca de pensar a sexualidade e sua abordagem, rompendo com a moral vigente da época, que era carregada de binarismos e tabus. [...] tomavam posições contrárias à moral vigente, propondo, num certo sentido, uma nova moral. Essa tomada de posição envolvia uma luta no campo das políticas públicas (quando se tratava da regulação da concepção, do aborto e do status da mãe solteira, por exemplo) e mesmo da política stricto sensu (como no caso do movimento contra a criminalização da sodomia). A educação sexual era um foco importante de preocupação dos primeiros sexólogos, que acreditavam ser necessário tirar a sexualidade das garras do preconceito e da ignorância. A sexologia, portanto, envolvia um amplo espectro de temas e implicava um conjunto de ações que ultrapassavam a esfera da mera produção de uma nova ciência. .( Russo; Carrara; Rohden, 2009, p. 1) Os autores vêm nos dizer que todas as conquistas trilhadas até então, perdem-se com o movimento da Segunda Guerra Mundial, nos anos 30 do século XX, com o 13 regime Nazista, tirando do mapa, as problematizações realizadas naquele contexto histórico. Anos mais tarde mais precisamente entre os anos de 1960 e 1970 que nos Estados Unidos, o [...] trabalho de William Masters e Virginia Johnson, ele médico ginecologista, ela psicóloga, ambos pesquisando a "resposta sexual humana" em um laboratório da Universidade de Washington, em Saint Louis.. (Russo; Carrara; Rohden, 2009) Podemos perceber que o tema sexualidade vem sendo assunto de investigação desde os séculos passados, apoiado no que já foi construído historicamente, tentamos trilhar um caminho dialógico para pensar a educação sexual nas escolas de Ensino Fundamental do município de Vila Velha/ES. Abordar as questões da sexualidade é de suma importância no contexto escolar, um espaço potente para bons debates e de suma importância para ampliar o repertório cultural das crianças, adolescentes e jovens que manifestam suas curiosidades, anseios e conflitos que estão fortemente ligados às questões de sexualidade. É inegável a importância do estudo sobre sexualidade na vida dos seres humanos, pois ela é experimentada ou revelada em expectativas, imaginações, anseios, crenças, posturas, valores, práticas, pápeis e convivências. Abrange, além do nosso corpo, nossa história, nossos costumes, nossas relações afetivas, nossa cultura [...] (MAISTRO,2009,p.41) Sabemos que sexualidade ou educação sexual, ao longo da história é muito atrelado a regras, inseridas no código moral de grupos sociais, geralmente fortalecidos por valores familiares, crenças religiosas e convenções sociais. Quando dizemos que esse ramo de estudo é um “tabu” é porque essas regras geralmente tinham valores cristalizados de verdades a cerca de pensar um termo tão complexo e ao mesmo tempo tão cheio de possibilidades de debates. Nas últimas décadas em nossa sociedade brasileira algumas mudanças, mesmo que incipientes, o conhecimento sobre sexualidade vem ganhando vários significados e posicionamentos, como políticos, sociais, institucionais e pessoais. 14 Sabemos que falar sobre sexualidade no espaço escolar é um grande desafio pois: No Brasil, o ensino sofreu fortes influências da Igreja Católica, que por um longo período manteve escolas exclusivamente femininas ou masculinas desempenhando um papel determinante nos mecanismos de repressão e omissão de informações sexuais, principalmente aos jovens. Em meados de 1960 e 1970, o Brasil passou por um período de forte repressão com a tomada de poder pelos militares, que instalaram um clima de moralismo puritano e de censura. A atitude moralista defendida pelo golpe militar de 1964 resultou no bloqueio de alguns projetos defendidos em escolas que forneciam informações sobre educação sexual. Este período repressivo deixou marcas no processo de implantação oficial da educação sexual nas escolas. Apesar de pouco estímulo em relação a alguns projetos, outros seguiram em frente, em colégios particulares, entretanto com pouca divulgação. (BONFIM, 2009, p. 26) Podemos perceber muito trabalho deve ser realizado para romper o pensamento criado e cristalizado em tom de verdade ao longo das décadas. Sendo assim, recorremos aos Parâmetros Curriculares Nacionais para debater as propostas que ele nos oferece para discutir a sexualidade na escola. [...] orientação sexual seja discutida na escola, mas não apenas em uma disciplina específica, mas como um tema transversal, que perpasse todas as áreas do saber, sendo abordada e discutida em todas as disciplinas (BRASIL,1997,p.307) Podemos perceber que a proposta do PCN traz um debate sobre a fundamental relevância de um posicionamento da escola, a fim de pensar a orientação sexual de forma ampla, abrangente e que todos possam se envolver. A orientação sexual não se restringe apenas a transmissão de informações sobre sexo, significa também o contato entre pessoas, transmissão de valores, atitudes e comportamentos. É fundamental que os educadores estejam preparados psicologicamente e pedagogicamente para falar sobre o assunto, pois observa-se que, a maioria não possui preparação suficiente e o que sabem está baseado em troca de informações com colegas e em restritas leituras, que se limitam aos aspectos biológicos sem considerar os sentimentos e as emoções envolvidas neste processo. (BONFIM, 2009, p.31) Os PCN,s ainda trazem que: O papel da escola é abrir espaço para que a pluralidade de concepções, valores e crenças sobre sexualidade possa se expressar. Caberá à escola trabalhar a respeito às diferenças a partir de sua própria atitude de respeitar as diferenças expressas [...] (BRASIL, 1997, p. 305). Desse modo, podemos dizer que a escola precisa se reinventar, não pode ser negligente perante a urgência de possibilitar debates a cerca dos questionamentos que envolvem a temática da sexualidade, porém ressaltamos que o aluno traz 15 consigo suas experiências sociais e querem participar dessas problematizações como sujeitos ativos, protagonistas da sua construção de conhecimento. Sendo assim, destacamos a importância de se pensar projetos voltados as questões da sexualidade, vislumbrando uma construção coletiva na escola, onde as ideias possam ser contempladas sobretudo no Projeto Político e Pedagógico que irá orientar todo desenvolvimento da instituição educativa.Os PCN,s ainda nos provoca a pensar a orientação sexual na escola, quando diz: A escola, ao propiciar informações atualizadas do ponto de vista cinetífico e ao explicitar e debater os diversos valores associados à sexualidade e aos comportamentos sexuais existentes na sociedade possibilita ao aluno desenvolver atitudes coerentes com os valores que ele próprio elege como seus (BRASIL, 1997,p.300) Portanto, podemos pensar que a formação do aluno na escola deve desenvolver um senso de criticidade e sobretudo responsabilidade e respeito as diferenças. Estamos vivendo momentos de grandes mudanças sociais e necessitamos criar novas concepções de pensar os sujeitos. Sendo assim, a escola deve ter uma visão ampla das vivências sociais dos alunos. Concordamos com Carvalho (2009) quando diz: [...] a educação sexual na escola, é um processo de intervenção pedagógica que não deve ter por finalidade a formação de juízo de valores e a normalização das identidades sexuais e de gênero, nem sequer ser direcionado por um entendimento, seja biológico, religioso ou subjetivo. Deve-se ser uma ação coletiva, transdisciplinar e problematizadora das representações e significados sociais sobre assuntos como construção da corporeidade, a construção da identidade de gênero, famílias, masturbação, responsabilidades, relações sexuais, violência, tolerância, respeito, diversidade, papeis sociais de mulheres e homens, adolescência, comportamentos de risco. DST, religiosidade (que é diferente de religião, no seu sentido institucional), valores, dignidade, respeito etc... (CARVALHO, 2009, p.5-6) Enfim, a orientação sexual não é apenas a transmissão de informações sobre sexo e prevenção de DST,s, ou como evitar uma gravidez indesejável, o significado é muito mais abrangente como discutimos até agora, dessa forma pensamos que é fundamental que os educadores/escolas de Ensino Fundamental sobretudo, estejam preparados pedagogicamente e com competência técnica sobre o assunto para enfrentar os desafios que surgirão a cerca da multiplicidade de assuntos ligados a sexualidade. 16 Falar sobre sexo na escola ainda é motivo de tensão, tanto para alunos quanto para professores, sempre terá riso e formas pejorativas de se tratar algum assunto, porém a condução dessa prática dependerá muito do mediador, isso é, como o professore se relaciona com os alunos para pensar juntos esses conhecimentos. Pensamos que a formação de professores poderão dar mais segurança para realizar o trabalho, cuja a temática é orientação sexual. 17 7. METODOLOGIA 7.1 CLASSIFICAÇÃO DA PESQUISA Na tentativa de criar uma reflexão acerca de debater sobre educação sexual e o desenvolvimento do ensino de gênero e sexualidade na escola tendo com o aporte teórico literaturas que discutem as relações de gênero nos cotidianos escolares, buscamos um olhar atento e cuidadoso sobre o assunto, a fim de pensar novas possibilidades de práticas escolares. Nesse sentido, buscamos desenvolver um estudo de cunho qualitativo. A pesquisa na perspectiva qualitativa envolve dados descritivos, obtidos no contato direto do pesquisador com a situação estudada, enfatizando mais o processo do que o produto e se preocupando em retratar as vivências e experiências dos participantes. Richardson (1999) ressalta: Os estudos que empregam uma metodologia qualitativa podem descrever a complexidade de determinado problema, analisar a interação de certas variáveis, compreender e classificar processos dinâmicos vividos por grupos sociais, contribuir no processo de mudança de determinado grupo sociais, contribuir no processo de mudança de determinado grupo e possibilitar, em maior nível de profundidade, o entendimento das particularidades do comportamento dos indivíduos. (RICHARDSON, 1999, p. 80) Essa pesquisa trata-se de um estudo de caso, onde seu objetivo central é saber os ganhos e perdas existentes nas abordagens sobre sexualidade e gênero nas escolas. Essa vertente de pesquisa foi escolhida, pois segundo Gil (2002, p. 54): “Estudo de caso consiste no estudo profundo e exaustivo de um ou poucos objetivos, de maneira que permita seu amplo e detalhado conhecimento”. Com o estudo de caso, chegaremos a um resultado significativo. Dentro dessa mesma perspectiva para Lüdke e André (1986), o estudo de caso tem alguns princípios são fundamentais: Os estudos de casos visam à descoberta; 2) Os estudos de caso enfatizam a “interpretação em contexto”; 3) Os estudos de caso buscam retratar a realidade de forma completa e profunda; 4) Os estudos de caso usam uma variedade de fontes de informação; 5) Os estudos de caso revelam experiência vicária e permitem e permitem generalizações naturalísticas; 6) Os estudos de caso procuram representar os diferentes e às vezes conflitantes pontos de vista presentes numa situação social; 7) Os relatos do estudo utilizam uma linguagem e uma forma mais acessível do que outros relatórios de pesquisa. (LÜDKE e ANDRÉ, 1986, p. 18-20) 18 Além do estudo de caso, iremos realizar uma análise documental da proposta pedagógica da escola, e realizaremos entrevistas semiestruturadas com os profissionais da escola. Sá-Silva, Almeida e Guindanis (2009) destacam: A etapa de análise dos documentos propõe-se a produzir ou reelaborar conhecimentos e criar novas formas de compreender os fenômenos. É condição necessária que os fatos devem ser mencionados, pois constituem os objetos da pesquisa, mas, por si mesmos, não explicam nada. O investigador deve interpretá-los, sintetizar as informações, determinar tendências e na medida do possível fazer a inferência. (SÁ-SILVA, ALMEIDA e GUINDANIS, 2009, p. 10). Desse modo, utilizamos também a entrevista, que é um processo de interação social, em que o entrevistador tem a finalidade de obter informações do entrevistado por meio de um roteiro com tópicos em torno de uma problemática central (HAGUETTE, 1995). A entrevista possibilita a obtenção de informações por meio da fala individual, a qual revela condições estruturais, sistemas de valores, normas e símbolos e transmite, por um porta-voz, representações de determinados grupos. 7.2 O PROCESSO DE ANÁLISE DOS DADOS Para o procedimento e análise do material de investigação, iremos eleger o método de análise de conteúdo. A análise de conteúdo se constitui em um estudo que reúne um conjunto de instrumentos metodológicos que asseguram objetividade, sistematização e influência aplicada aos discursos diversos. Atualmente é utilizada para estudar e analisar material qualitativo, buscando-se melhor compreender uma comunicação ou discurso, aprofundar suas características gramaticais às ideológicas e outras, além de extrair os aspectos mais relevantes (BARDIN, 1977). Sendo assim, para o processo e análise dos dados produzidos, consideramos a análise de conteúdo pertinente para o tipo de estudo que pretendemos realizar. De acordo com Triviñus, é utilizado para o estudo "das motivações, atitudes, valores, crenças, tendências" (1987, p. 17). Ainda segundo o mesmo autor, o método de análise de conteúdo, em um enfoque dialético, é interessante: [...] para o desvendar das ideologias que podem existir nos dispositivos legais, princípios, diretrizes, etc., que a simples vista, não se apresentam com a devida clareza. [...] pode servir de auxiliar para instrumento de 19 pesquisa de maior profundidade e complexidade, como o é, por exemplo, o método dialético. Neste caso, a análise de conteúdo forma parte de uma visão mais ampla e funde-se nas características do enfoque dialético. (TRIVIÑUS, 1987, p. 162) Ferreira (2004) reforça: A análise de conteúdo é usada quando se quer ir além dos significados, da leitura simples do real. Aplica-se a tudo que é dito em entrevistas ou depoimentos ou escrito emjornais, livros, textos ou panfletos, como também a imagens de filmes, desenhos, pinturas, cartazes, televisão e toda a comunicação não verbal: gestos, posturas, comportamentos e outras expressões culturais. Tudo o que é dito, visto ou escrito pode ser submetido à análise de conteúdo. (FERREIRA, 2004, p. 1) Sob esse aspecto, vamos analisar as categorias que demarcam cada questão investigativa, sendo orientadas pelas palavras dos sujeitos investigados. 7.3 CAMPO DE PESQUISA O campo de pesquisa uma escola da rede municipal de Vila Velha/ES. Trata-se de uma escola construtivista, que acolhe alunos com todos os tipos de deficiência. 7.4 SUJEITOS DA PESQUISA Os sujeitos dessa pesquisa, professores, pedagogo, alunos, de uma escola municipal, localizada em Vila Velha/ES. 7.5 INSTRUMENTOS DE COLETA DE DADOS Foi uma investigação feita por observação e questionário com as pessoas envolvidas nesse processo, que foram com todos os professores, os alunos. A coleta de dados foi feita por observação estruturada dos alunos, professores, pedagogos e, questionário para os professores, com respostas de múltipla escolha e em alguns casos e espaço para justificar as respostas. 20 8. CRONOGRAMA 21 9. REFERÊNCIAS ALVARENGA, Elda. Relações de Gênero nos cotidianos escolares: a escolarização na manutenção/transformação da opressão sexista. Santa Clara: Contagem, 2007. ANDRÉ, Marli. A pedagogia da diferença. In: ANDRÉ, Marli. Pedagogia da diferença na sala de aula. Campinas, SP: Papirus, 5. ed. 2004. BARDIN, Laurence. Análise de Conteúdo. Lisboa: Edições 1970-77. BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros curriculares nacionais: pluralidade cultural e orientação sexual. 2 ed. Rio de Janeiro: DP&A, 2000 v.10 p.124. __________. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais: pluralidade cultural, orientação sexual. Brasilia: MEC/SEF, 1997. BONFIM, Sandra Souza. Orientação sexual na escola: tabus e preconceitos, um desafio para a gestão. CDD:306.7 – CRB: 5/592. 70f. Trabalho de Conclusão de curso em pedagogia. Salvador, 2009. CARVALHO, Fabiana Aparecida. Educação sexual: em busca de mudanças. In: FIGUEIRÓ, Mary Neide Domico (org). Que saberes necessários são esses que (não) dizemos na escola? Londrina: UEL, 2009. (p.1-16) FERREIRA, Berta Weil. Análise do conteúdo. Disponível em: < http://www.ulbra.br/psicologia/psi-dicas-art.htm> Acesso em 05 Dez. 2016. GIL, Antonio Carlos. Como elaborar projetos de pesquisa. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2002. HAGUETTE, T.M.F. Metodologias qualitativas na sociologia. 4. ed. Petrópolis: Vozes, 1995. http://www.ulbra.br/psicologia/psi-dicas-art.htm 22 JESUS, Railda Maria Bispo de. Incluindo Gênero e Sexualidade na Educação Infantil: a abordagem com crianças. Salvador, 2007. p. 175-176. MAISTRO, Virginia. Educação sexual: em busca de mudança. In: FIGUEIRÓ, Mary Neide Damico (org.). Desafios de um projeto de educação sexual na escolar. Londrina: UEL,2009. (p.35-62) QUEEN, Mariana. Como a escola deve falar de sexo?. Disponível em: http://www.educarparacrescer.abril.com.br/comportamento/educacao-sexual- 406667.shtml. Acesso em 22 de novembro de 2015. Russo,Jane; Carrara,Sérgio; Rohden,Fabíola; Sexualidade, ciência e profissão. Physis vol.19 no.3 Rio de Janeiro 2009. (http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-73312009000300002) Acessado em 09/06/2016. SÁ-SILVA, Jackson Ronie; ALMEIDA, Cristóvão Domingos de; GUINDANIA, Joel Felipe. Pesquisa documental: pistas teóricas e metodológicas. Revista Brasileira de História & Ciências Sociais. Ano I - Número I - Julho de 2009 – Disponível em: <www.rbhcs.com> Acesso em: 20 fev. 2010. http://educarparacrescer.abril.com.br/colaboradores/colaboradores_ http://www.educarparacrescer.abril.com.br/comportamento/educacao-sexual-406667.shtml http://www.educarparacrescer.abril.com.br/comportamento/educacao-sexual-406667.shtml http://biblioteca.versila.com/?q=Russo%2CJane&dc=author http://biblioteca.versila.com/?q=Carrara%2CS%C3%A9rgio&dc=author http://biblioteca.versila.com/?q=Rohden%2CFab%C3%ADola&dc=author http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-73312009000300002 http://www.rbhcs.com/ 23 10. ANEXOS
Compartilhar