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#CURRÍCULO LATTES# Prof. Esp. Jose Valdeci Grigoleto Netto ● Mestrando em Psicologia (Universidade Estadual de Maringá, Maringá - PR); ● Graduado em Psicologia (Centro Universitário Ingá - UNINGÁ, Maringá - PR); ● Especialista em Educação Especial e Inclusiva (Faculdade de Tecnologia e Ciências do Norte do Paraná - UNIFATECIE, Paranavaí - PR); ● Especialista em Saúde Mental, Psicopatologia e Atenção Psicossocial (Centro Universitário de Maringá - UNICESUMAR, Maringá - PR); ● Membro do Grupo de Pesquisa DeVerso - Sexualidade, Saúde e Política (Universidade Estadual de Maringá, Maringá - PR). ● Professor orientador de Trabalhos de Conclusão de Curso (TCC) da pós- graduação Lato Sensu (EAD) do Centro Universitário de Maringá - UNICESUMAR. Possui experiência na área da política pública de Assistência Social, estudos de gênero, diversidade sexual, e educação especial e inclusiva. Atualmente, no mestrado, pesquisa acerca da subjetividade e das práticas sociais na contemporaneidade, com ênfase nas relações de gênero. Link para acesso ao currículo lattes: http://lattes.cnpq.br/2661321527310427 http://lattes.cnpq.br/2661321527310427 APRESENTAÇÃO DA APOSTILA Olá aluno (a)! Seja bem-vindo à disciplina: Gênero, Sexualidade e Educação. Neste momento, você terá a oportunidade de conhecer a interface entre estes três temas que, muitas vezes, quando trabalhamos em conjunto, despertam receio e desconfiança por parte dos profissionais da educação e, também, da sociedade. Para desenvolvermos um trabalho interessante e agradável para cada um de vocês, a disciplina foi dividida em quatro unidades e, em cada uma delas, iremos trabalhar alguns temas que se relacionem entre si. Vamos conhecer cada um deles detalhadamente? Para iniciar, na Unidade I iremos realizar um apanhado histórico acerca da construção histórica dos temas envolvidos na disciplina e, a partir disso, correlacionar suas perspectivas com a educação sexual. Para tanto, será destacada a contextualização histórica sobre os estudos de gênero e educação. Na sequência, iremos nos atentar para a sexualidade enquanto uma construção histórica, social, cultural, política e discursiva. Dando continuidade, iremos conhecer alguns paradigmas subjacentes às várias abordagens de educação sexual através da história e seus reflexos nos cotidianos das sociedades, com destaque para a escolarização brasileira, a educação para sexualidade e para a equidade de gênero. Ao final da unidade, daremos atenção à importante prevenção do preconceito e discriminação, no respeito a alteridade e as identidades culturais. Concluído este momento, iremos avançar para a Unidade II em que iremos trabalhar a educação de gênero e sexualidade nos espaços escolares. Nesta perspectiva, será dada atenção especial para as abordagens pedagógicas da educação sexual no Brasil. Ainda, compreenderemos os conceitos e as interfaces entre gênero e orientação sexual. Para finalizar, iremos nos debruçar no conhecimento dos recursos didático-metodológicos para um trabalho de Educação Sexual na Educação Infantil e Ensino Fundamental. Seguindo adiante, já na Unidade III iremos voltar nossa atenção para a questão da sexualidade na infância e adolescência. Desta maneira, realizaremos um diálogo sobre crianças e adolescentes, gênero e sexualidade, na interface entre tais temas. Após isso, estudaremos a questão da violência sexual infantil e seus desdobramentos. Para finalizar, como tema extremamente importante, dar-se-á um destaque especial para a integração entre escola e família. Ao fim da disciplina, na Unidade IV, trabalharemos as práticas pedagógicas com base em uma educação sexual emancipatória. Para tanto, conheceremos os processos de educação sexual que existem nos espaços educativos. A seguir, conheceremos a construção de educação sexual com base em uma proposta emancipatória. Neste caminho, para finalizar nossos estudos, vamos conhecer o ensino dos Direitos Humanos no contexto escolar. A partir da organização, esperamos que os conteúdos que escolhemos para serem apresentados nesta disciplina sejam norteadores para seus estudos e, inclusive, sua futura prática docente. Aproveite ao máximo a disciplina, extraia o possível de informações e conhecimento destas páginas. Ótimo estudo! UNIDADE I CONSTRUÇÃO HISTÓRICA E PERSPECTIVAS DA EDUCAÇÃO SEXUAL Professor Especialista Jose Valdeci Grigoleto Netto Plano de Estudo: ● Contextualização histórica sobre os estudos de gênero e educação; ● Sexualidade como construção histórica, social, cultural, política e discursiva; ● Paradigmas subjacentes às várias abordagens de educação sexual através da história e seus reflexos nos cotidianos das sociedades, com destaque para a escolarização brasileira, a educação para sexualidade e para a equidade de gênero; ● Prevenção do preconceito e discriminação, no respeito a alteridade e às identidades culturais. Objetivos de Aprendizagem: ● Conhecer a história acerca dos estudos de gênero e suas interfaces com a educação; ● Compreender os aspectos relacionados à sexualidade enquanto uma construção histórica, social e cultural; ● Conhecer recursos para o trabalho educativo com o objetivo de prevenir situações de preconceitos e discriminações no âmbito escolar. INTRODUÇÃO Olá aluno (a)! Seja bem vindo (a) à primeira unidade da disciplina Gênero, Sexualidade e Educação. Neste momento, iremos nos debruçar em aspectos introdutórios acerca da temática. Para isso, faremos um amplo estudo acerca de conceitos e ideias, culminando em importantes reflexões e análises. No Tópico I, iremos trilhar através da contextualização histórica sobre os estudos de gênero e educação, principalmente no Brasil, iniciando com a conceituação do que vem ser a palavra gênero e de como podemos empregá-la, em nosso vocabulário, no dia a dia. Na sequência, iremos estudar acerca das construções históricas acerca do masculino e feminino, com os papéis sociais que são pré-determinados em relação aos sexos. Ainda, iremos refletir acerca do papel da escola na construção dos estudos de gênero e na manutenção destes papéis. Avançando, no Tópico II, trataremos mais especificamente da sexualidade como construção histórica, social, cultural, política e discursiva. Para isso, nos debruçaremos nos estudos de Michel Foucault e outros/as autores/as importantes, compreendendo a importância e relevância dos discursos, bem como a noção de poder e seus efeitos. No Tópico III, iremos discutir acerca das abordagens de educação sexual através da história e seus reflexos no cotidiano para a escolarização brasileira frente à equidade de gênero. Para isso, iremos conhecer um pouco do papel dos estudos feministas para a compreensão dos estudos de gênero, bem como a importância da temática da sexualidade dentro das escolas e, principalmente, o papel desta instituição para o fomento de discussões e diálogos que envolvam a temática da sexualidade, a fim de proporcionar equidade no acesso aos direitos. Por fim, no Tópico IV, iremos estudar aspectos relacionados à prevenção do preconceito e discriminação frente às diferenças, contando com estudos que embasam e problematizem aspectos relacionados ao preconceito no ambiente escolar. A partir da exposição acima, espero que os temas aqui elencados sejam pertinentes e úteis para embasar seus estudos e sua futura prática docente. Bons estudos! 1 CONTEXTUALIZAÇÃO HISTÓRICA SOBRE OS ESTUDOS DE GÊNERO E EDUCAÇÃO ID: 1320872531 Olá aluno (a), vamos dar início ao primeiro tópico de nossos estudos.Para tanto, é preciso que realizemos um resgate histórico acerca dos estudos sobre gênero e suas interfaces com a educação, para que possamos compreender como, nos dias de hoje, a relação educação e sexualidade é compreendida. Vamos lá? Primeiro, é importante destacar que definir e conceituar a palavra gênero não é uma tarefa fácil e simplista. Pela sua amplidão de compreensões, pela vasta gama de autores e autoras que trabalham com este conceito, gênero pode ser compreendido de maneira plural. Além disso, Connell e Pearse (2015) destacam que o gênero é um espaço que ocupa uma posição central e de grande importância na vida das pessoas, refletindo, inclusive, em questões de acesso à justiça, à identidade e à sobrevivência. Não obstante, como nós podemos perceber nos dias atuais e as autoras também destacam, gênero é um assunto alvo de constantes preconceitos, mitos e rodeados por falsas ideias. Por tanto, é preciso que nós saibamos que [...] Acima de tudo, o gênero é uma questão de relações sociais dentro das quais indivíduos e grupos atuam. [...] o gênero deve ser entendido como uma estrutura social. Não é uma expressão da biologia, nem uma dicotomia fixa na vida ou no caráter humano. É um padrão em nossos arranjos sociais, e as atividades do cotidiano são formadas por esse padrão (CONNELL e PEARSE, 2015, p. 47). A partir desta definição, podemos pensar no gênero enquanto uma questão das relações, compreendendo-o enquanto algo que faz parte da maneira na qual as sociedades lidam com os corpos das pessoas e com suas vidas. Ainda, gênero diz respeito à nossa identidade, sexualidade e aos poderes que cada um passa a exercer. (CONNELL e PEARSE, 2015). Desta maneira, podemos compreender que o gênero não está relacionado à biologia, aos aspectos orgânicos que diferem o “macho” da “fêmea”. Pensar em gênero é pensar exatamente em uma pluralidade de possibilidades que vão além de uma dicotomia, isto é, algo com apenas duas possibilidades, mas sim que assuma uma imensidão de expressões de vida e, consequentemente, de sexualidade. Importante pontuar, como afirma Louro (2003) que ao falarmos da importância dos aspectos sociais na construção de gênero, não estamos negando a importância do papel dos aspectos biológicos, mas estamos retirando certa ênfase exageradamente focada em tais pontos. O objetivo, com isso, é trazer para o espaço social os debates relacionados ao gênero e às sexualidades, visto que é exatamente no campo do social que as relações são construídas e, como fator consequente, as exclusões e discriminações também se produzem. “As justificativas para as desigualdades precisariam ser buscadas não nas diferenças biológicas [...] mas sim nos arranjos sociais, na história, nas condições de acesso aos recursos da sociedade, nas formas de representação” (LOURO, 2003, p. 22). Agora que já possuímos uma compreensão do que venha a ser o gênero, pergunto à você aluno (a): Quantas vezes você já ouviu alguma dessas expressões: “isso é coisa de menino; isso é coisa de menina” ou ainda “azul é cor de menino e rosa é cor de menina”, relacionando cores, objetos, profissões com o sexo biológico das pessoas. Acredito que inúmeras vezes, não é mesmo?! Proponho, então, que você se questione e reflita: será que essa construção (do que é pertencente ao menino e à menina) é algo natural? Será que “sempre foi assim”? Revisitando a história, podemos constatar que ao longo dos tempos, as diversas sociedades criaram ideias de como deveria ser utilizado o tempo e o espaço, isto é, o tempo de casa, o tempo do ócio, o tempo da rua. Ainda, houve a determinação e estabelecimento de lugares que eram permitidos ou não para determinados grupos de pessoas. A escola, neste aspecto, exerceu importante papel no que diz respeito ao acesso, separação e permanência de diferentes alunos neste ambiente (LOURO, 2003). Curioso apontar que, segundo a autora, haviam antigos manuais que determinavam, de maneira explícita, como deveria ser o trato que os professores deveriam ter com seus alunos, ou seja, a maneira na qual eles iriam lidar com a forma de segurar o lápis, de se posicionar nas carteiras, dentre outros aspectos, o que acabava por construir uma distinção entre meninos e meninas, em que para cada um destes havia regras a serem seguidas, distintas e muito bem demarcadas umas das outras. Havia, inclusive, nas chamadas “escolas femininas”, a produção de meninas voltadas aos trabalhos manuais, à delicadeza, ao treino de habilidades unicamente de ordem manual, o que resultava em jovens ditas “prendadas”, em que seus trabalhos giravam em torno, quase que exclusivamente, de agulhas e pincéis; vê-se, então, que “As marcas da escolarização se inscreviam, assim, nos corpos dos sujeitos” (LOURO, 2003, p. 62). Figura 1 - Criança em atividade escolar Id da imagem: 1923910619 Aluno (a), a partir dessas afirmações, pensem comigo: podemos, então, falar em um “processo de fabricação de sujeitos?” Podemos pensar que sim, visto que, como aponta Louro (2003), essa fabricação se dá de maneira sutil, quase imperceptível nos dias de hoje. Tomemos como exemplos: a separação, nas escolas, de filas de meninos e meninas; a separação de meninos e meninas em atividades escolares; a escolha de determinados brinquedos para meninas e outros para meninos (como já pontuamos acima). Tudo isso, aluno (a), faz parte de um processo que precisamos questionar, problematizar e, acima de tudo, desconfiar. Os questionamentos em torno desses campos, no entanto, precisam ir além das perguntas ingênuas e dicotomizadas. Dispostas/os a implodir a idéia de um binarismo rígido nas relações de gênero, teremos de ser capazes de um olhar mais aberto, de uma problematização mais ampla (e também mais complexa), uma problematização que terá de lidar, necessariamente, com as múltiplas combinações de gênero, sexualidade, classe, raça, etnia (LOURO, 2003, p. 65). Assim, pensarmos na relação e na importância da discussão de temas relacionados ao gênero e à sexualidade dentro do ambiente escolar, é pensar no respeito à diversidade humana, sua multiplicidade e diversidade, o que, infelizmente, tem gerado nos últimos tempos debates negativos que colocam em jogo a questão do efetivo acesso democrático ao ensino. Todavia, quanto mais dialogarmos acerca da importância do reconhecimento das diferenças de gênero, raça, orientação sexual, idade, dentre outros, mais iremos nos aproximar de uma efetiva democracia, realocando nossos debates às questões relacionadas à criação e aperfeiçoamento de políticas públicas que visem a qualidade do ensino que é ofertado, bem como a permanência destes estudantes nos espaços de ensino (OLIVEIRA e MOCHI, 2020). No tópico a seguir, iremos conhecer um pouco acerca dos aspectos que envolvem a sexualidade, especificamente os pontos que demarcaram sua construção histórica, a maneira na qual as sociedades a compreendiam e compreendem no dia de hoje, perpassando pelo olhar da cultura, da política e do discurso. Vamos lá! 2 SEXUALIDADE COMO CONSTRUÇÃO HISTÓRICA, SOCIAL, CULTURAL, POLÍTICA E DISCURSIVA Id da imagem: 1808618392 Louro (2004) afirma que a sexualidade, tendo sido tornada (não por acaso) uma “questão” nos últimos dois séculos, vem sendo assunto de grande interesse de diversas áreas, por exemplo: cientistas, educadores, religiosos e psiquiatras. Pautadas em diferentes visões, as compreensões acerca da sexualidade buscam descrever, compreender, explicar, regular, educar e normatizar suas práticas e expressões. Neste caminho, para discutirmos acerca do tema da sexualidade e, principalmente, para compreendermos a construção histórica e cultural de seus desdobramentos, faz-se pertinente recorrermos aos estudos do filósofo Michel Foucault que se debruçou, em seus estudos, naconstrução da História da Sexualidade, tendo publicado, em vida, sua obra em três tomos. O Primeiro livro, intitulado A Vontade de Saber, foi originalmente publicado em 1976; o segundo, O Uso dos Prazeres e o terceiro O Cuidado de Si foram ambos publicados em 1984. Em 2018, sob a edição de Fréderic Gross, anos após a morte de Foucault, foi publicado o quarto volume, intitulado As Confissões da Carne. Para Foucault (1976/2020), no início do século XVII a sexualidade não era compreendida enquanto um assunto tabu, ao contrário: não havia segredo, as palavras eram ditas sem delongas, havia certa familiaridade com o dito “ilícito”. A ideia de obsceno não era a mesma que nossa sociedade, hoje, compreende a sexualidade; era a época dos corpos expostos, gestos e atitudes que não portavam vergonha. Era a sexualidade em sua forma crua e livre. No entanto, a partir do século XIX, a sexualidade toma outra forma, se encerra enquanto atributo e prática livre, torna-se indecente. Ela deixa de ser assunto público, visível e adentra o quarto dos pais, isto é, o quarto do casal, local para a procriação. A sexualidade é confiscada para o seio familiar; seu objetivo agora é a reprodução. O prazer não é mais o alvo, o objetivo final (FOUCAULT, 1976/2020). Surge, então, a repressão da sexualidade. É o silenciamento das práticas até então permitidas, é como se surgisse a “[...] constatação de que, em tudo isso, não há nada para dizer, nem para ver, nem para saber” (FOUCAULT, 1976/2020, p. 8). Fazendo um balanço com os dias atuais, Maio (2011) ressalta que, ainda hoje, no século XXI, “É inegável que vivemos numa tradição cultural na qual nosso corpo sofreu e ainda sofre uma série de repressões por meio de preconceitos, normas sociais, interditos [...] sofrendo com isso uma rigidez postural” (p. 38). Foucault (1976/2020) nos mostra como os discursos médicos passaram a exercer um papel central na patologização de determinadas práticas sexuais, denominadas de “perversões”, exercendo o papel de poder frente à uma verdade que detinha todo o conhecimento. Os discursos médicos, então, eram tomados como a norma, o correto e o que, por consequência, deveria ser seguido; tudo o que fugia à tal norma deveria ser corrigido, revertido. Na psiquiatrização das perversões, o sexo foi referido a funções biológicas e a um aparelho anátomo-fisiológico que lhe dá “sentido”, isto é, finalidade; também a um instinto que, através do seu próprio desenvolvimento e de acordo com os objetos a que pode se vincular, torna possível o aparecimento das condutas perversas e sua gênese, inteligivél (FOUCAULT, 1976/2020, p. 167). É o que Louro (2004) aponta, ao elucidar que a partir do século XIX, homens vitorianos, que detinham o poder, começaram a fazer “descobertas”, entre aspas para enfatizar certa ironia, a respeito da sexualidade, definindo e classificando as práticas que recaiam nos corpos de homens e mulheres. Tais discursos passaram, como Foucault elucidou, a deter certa ideia de verdade e, por isso, não poderiam ser questionados. Com isso, Busca-se, tenazmente, conhecer, explicar, identificar e também classificar, dividir, regrar e disciplinar a sexualidade. Produzem-se discursos carregados da autoridade da ciência. Discursos que se confrontam ou se combinam com os da igreja, da moral e da lei (LOURO, 2004, p. 79). Hoje, nós presenciamos discursos que colocam a sexualidade enquanto heteronormativa, isto é, apenas a expressão/relação afetivo-sexual entre um homem e uma mulher heterossexual podem ser consideradas normais. Essa maneira de viver e experienciar as manifestações da sexualidade em uma compreensão heterocentrada possui como objetivo a construção de uma forma tida como “normal” de família, excluindo todas as outras possibilidades de vivência e expressão de relações (LOURO, 2004). Esquece-se no entanto que, “[...] a sexualidade se forma com base em um constructo histórico, que vai se integrando às construções física e psíquica de cada pessoa, determinando a sua expressão sexual; portanto, corporal” (MAIO, 2011, p. 39), sendo um fator subjetivo, único e multideterminado. Vê-se ainda que Se, nos dias de hoje, ela [a sexualidade] continua alvo da vigilância e do controle, agora se ampliaram e diversificaram suas formas de regulação, multiplicaram-se as instâncias e as instituições que se autorizam a ditar-lhe as normas, a definir- lhe os padrões de pureza, sanidade ou insanidade, a delimitar-lhe os saberes e as práticas pertinentes, adequadas ou infames (LOURO, 2004, p. 27). Desta forma, percebe-se, aluno (a), que falar em em sexualidade é, ao mesmo tempo, falar em relações de poder. Foucault (1976/2020) nos apresenta dois conceitos extremamente importantes, em sua obra, para compreendermos a ideia de biopoder, isto é, o poder sobre a vida. O conceito de biopoder pode ser subdividido em: disciplina e biopolítica. A primeira se refere ao governo dos corpos, dos indivíduos e a segunda está relacionada ao governo da população. Ambos os conceitos estão relacionados, claramente, com a ideia de controle. O poder, na obra de Foucault, ilustra as diferenças entre quem detém o poder de superioridade para falar e ser ouvido e quem é silenciado, excluído, relegado à margem. Logo, nota-se que os interesses políticos possuem forte espaço no controle da sexualidade. Como Louro (2004) assinalou, os estados passaram a se preocupar com o controle populacional e, nesta lógica, com o controle da família e da reprodução. Aluno (a), neste ponto iremos adentrar em um outro conceito de extrema relevância na vasta obra de Foucault: o discurso. Para aprofundarmos nossa compreensão acerca da sexualidade, é de extrema relevância compreendermos como os discursos sobre a sexualidade nos atravessam, isto é, como os discursos são produzidos, (re)produzidos, e transformados. Para Foucault (1970/2014) o discurso pode ser compreendido como o ato de falar, transmitir determinadas ideias e possuir a capacidade de articulá-las em qualquer campo de comunicação. No entanto, o discurso exerce um controle quando se limita quem, onde, como e quando falar, isto é, o poder entra em cena, como sendo a capacidade e a possibilidade de exercer a fala. Com isso, vê-se que não são todas as pessoas, em todos os espaços, que podem falar; ao contrário, o silenciamento e a exclusão são fatores presentes quando se estabelece uma ordem do discurso. [...] ninguém entrará na ordem do discurso se não satisfizer a certas exigências ou se não for, de início, qualificado para fazê-lo. Mais precisamente: nem todas as regiões do discurso são igualmente abertas e penetráveis; algumas são altamente proibidas [...], enquanto outras parecem quase abertas a todos os ventos e postas, sem restrição prévia, à disposição de cada sujeito que fala (FOUCAULT, 1970/2014, p. 35). Ainda para o autor, podemos compreender o discurso através de duas partes: a primeira, diz respeito aos processos externos ao sujeito, sendo eles: ● A interdição, que se refere à criação de certos silenciamentos, interditos, em relação ao que pode ou não ser dito; ● A separação/rejeição, que define quem possui o direito privilegiado de falar; ● A oposição entre verdadeiro x falso, que serve como uma forma de organização dos discursos, com o reconhecimento de certas posições como verdadeiras e legítimas e outras, ao contrário, tidas como falsas. Na segunda parte, temos os procedimentos internos ao sujeito, sendo eles: ● O comentário, em que quem fala possui a capacidade de repetir e reafirmar determinado discurso, expandindo-o; ● O autor, que detêm a capacidade de colocar uma origem e identidade frente ao saber; ● A organização das disciplinas, que serve como uma categorização dos discursos, enquadrando-os em uma maneira de “encaixotar”, digamos assim, o conhecimento, a fim de eleque caiba em determinados espaços e círculos sociais. Desta forma, aluno (a), podemos compreender como o discurso possui um papel de extrema importância no que tange o tema da sexualidade. A partir dos pressupostos elencados, se realizarmos uma breve e rápida reflexão, poderemos perceber que as instituições que possuem o poder de determinar a norma sempre possuem um interesse velado que serve apenas para uma parcela específica da população. 3 AS ABORDAGENS DE EDUCAÇÃO SEXUAL ATRAVÉS DA HISTÓRIA E SEUS REFLEXOS NO COTIDIANO PARA A ESCOLARIZAÇÃO BRASILEIRA FRENTE À EQUIDADE DE GÊNERO Id da imagem: 95455135 No Brasil, os estudos e pesquisas sobre gênero tiveram início com o movimento feminista. É a partir da década de 1970 que mulheres, principalmente ligadas às universidades, ganham visibilidade e espaço para a discussão de questões ligadas à temática. O foco inicial eram as pesquisas sociais, dando-se início à realização de eventos, produção de livros e artigos que traziam a ideia de “estudos sobre mulher” como marca para demarcar esta nova área de estudos (HEILBORN e SORJ, 1999). A defesa do uso do conceito de gênero, acompanhando o debate internacional, passou a adquirir caráter relacional e a abarcar a definição e a estruturação das relações sociais, englobando as dimensões de classe, raça, etnia e geração na procura de apreensão das distintas formas de desigualdade (VIANNA, 2017, p. 53). Uma observação importante é que não podemos deixar de mencionar, refere-se ao trabalho importante de Scott (1995) que, com o artigo intitulado Gênero: uma categoria útil de análise histórica, trouxe importantes reflexões para que possamos compreender gênero enquanto uma categoria de poder. Neste trabalho, a autora traz o pioneirismo do termo gênero e seu surgimento com as feministas americanas. É no seu trabalho, também, que encontramos o gênero de maneira ampla, em que ela o compreende como sendo [...] utilizado para designar as relações sociais entre os sexos. [...] o termo “gênero” torna-se uma forma de indicar “construções culturais” - a criação inteiramente social de idéias sobre os papéis adequados aos homens e às mulheres. Trata-se de uma forma de se referir às origens exclusivamente sociais das identidades subjetivas de homens e de mulheres. “Gênero” é, segundo esta definição, uma categoria social imposta sobre um corpo sexuado (SCOTT, 1995, p. 75). Voltando ao cenário nacional, Heilborn e Sorj (1999) pontuam que é a partir da década de 1980 que há, nos espaços acadêmicos, uma significativa e gradativa alteração do termo “mulher”, passando a ser substituído pelo termo “gênero”, em que Em termos cognitivos esta mudança favoreceu a rejeição do determinismo biológico implícito no uso dos termos sexo ou diferença sexual e enfatizou os aspectos relacionais e culturais da construção social do feminino e masculino. Os homens passaram a ser incluídos como uma categoria empírica a ser investigada nesses estudos e uma abordagem que focaliza a estrutura social mais do que os indivíduos e seus papéis sociais foi favorecida (HEILBORN & SORJ, 1999, p.4). Nesta época, segundo Heilborn e Sorj (1999), a alteração dos termos supracitados proporcionou maior visibilidade e aceitação de pesquisas relacionadas sobre gênero no âmbito acadêmico, ganhando maior espaço e reconhecimento, além de financiamentos para pesquisas. Aluno (a), é muito importante que você conheça esses fatos acima pontuados. Essa alteração do termo, como vimos, proporcionou um maior espaço para abarcar outras temáticas de estudo, o que reflete até as pesquisas até os dias de hoje. Desta maneira, podemos compreender como o movimento feminista, no Brasil, possui papel de destaque no que tange às questões de gênero. Agora, vamos conhecer um pouco sobre a inserção deste tema nas escolas. Em relação às discussões do gênero e da sexualidade dentro dos espaços escolares, Martin (2017) pontua que ainda hoje há uma compreensão equivocada, em que muitos, erroneamente, compreendem sexualidade enquanto ligada às genitálias, isto é, pensamento que remete aos órgãos sexuais e, consequentemente, na relação sexual. Como consequência, ao ignorarmos as discussões acerca da sexualidade embasados em tais pensamentos, estamos ignorando aspectos extremamente importantes e relevantes, como a cultura, valores e cidadania. Ainda, nas escolas tende a ter um silenciamento desta temática, e, por isso, [...] a preocupação com a sexualidade geralmente não é apresentada de forma aberta. Indagados/as sobre essa questão, é possível que dirigentes ou professores/as façam afirmações do tipo: “em nossa escola nós não precisamos nos preocupar com isso, nós não temos nenhum problema nesta área”, ou então, “nós acreditamos que cabe à família tratar desses assuntos”. [...] É indispensável que reconheçamos que a escola não apenas reproduz ou reflete as concepções de gênero e sexualidade que circulam na sociedade, mas que ela própria as produz (LOURO, 2003, p. 80). Desta maneira, quando há o silenciamento dessas discussões dentro do espaço escolar, há um interdito, uma perda na possibilidade em realizar construções históricas e debates extremamente importantes, visto que a escola, na maioria das vezes, ignora discutir tais questões, deslegitimando as diferenças dos sujeitos que estão inseridos, inclusive, dentro do próprio ambiente escolar. Não raro, destaca-se, há imensa dificuldade e falta de preparo da própria escola para lidar com essas questões (MARTIN, 2017). Por tanto, é preciso compreender que a escola possui um papel ativo na construção dos conhecimentos acerca da sexualidade e, por consequência, na educação sexual. Segundo Louro (2003), o projeto de uma educação sexual, tema de grande preocupação e polêmica, cria discussões que vão desde as instituições que deveriam se responsabilizar por ela e como seria sua execução e manejo. Não obstante, questões como essa surgem por parte da própria escola: [...] como educamos para as questões de gênero? De que maneira a organização dos grupos/turmas de alunos e alunas, bem como a escolha dos livros, dos jogos e outros materiais didáticos, proporcionam às crianças espaços escolares que integram a diversidade de forma positiva? Como é que os professores e as professoras se situam nestas questões e orientam suas práticas educativas? (CARDONA; PISCALHO; UVA, 2015, p. 49). Desta forma, é preciso que nosso olhar esteja atento para os impactos sociais do fato de não abordarmos questões relacionadas à sexualidade dentro dos espaços escolares. Situações de violências, por exemplo, é um fator importante e que merece atenção. Precisamos, ainda, olhar para o currículo docente do ensino superior, a fim de compreendermos como os professores e professoras vêm sendo preparados/as para essas discussões, pois, como aponta Maio (2012): A escola pode deixar de ser um espaço de opressão e repressão na questão da sexualidade, para se tornar um ambiente efetivamente seguro, livre e educativo para todas as pessoas. E, hoje, não é mais possível que as questões relativas à sexualidade passem despercebidas ou que sejam tratadas com deboche ou indignação moral (MAIO, 2012, p. 72). Sendo assim, ao trabalharmos questões relacionadas à sexualidade, é possível e emergente o trabalho pautado em uma equidade de gênero. Aluno (a), você sabe o que significa a palavra equidade? Segundo o Dicionário Michaelis On-line, equidade pode ser compreendida como a “consideração em relação ao direito de cada um, levando em conta o que se considera justo”. O que isso significa? Significa que a equidade está relacionada à justiça, em que é levando em consideração as necessidades individuais e específicas de determinadas pessoas ou grupos, não da totalidade. Para ilustrar, trago a imagem abaixo em que a primeira se refereà IGUALDADE. Veja que os três sujeitos possuem o mesmo recurso para conseguirem enxergar o outro lado da cerca, mas um deles não alcança; a figura ao lado, no entanto, representa a EQUIDADE, em que, devido à sua necessidade, o sujeito menor passa a receber recursos suficientes para que consiga enxergar o outro lado da cerca. Interessante, não é?! Figura 2 - Equidade Id da imagem: 1907736232 Neste caminho, ao pensarmos acerca da equidade e dos estudos relacionados ao gênero e sexualidade, com ênfase na questão do gênero feminino, [...] a educação se revela como política pública para romper com os padrões de gênero, a fim de alcançar a equidade. A educação não é apenas um importante instrumento de prevenção contra a violência doméstica e familiar contra a mulher, mas também um direito humano fundamental a que todos, sem qualquer tipo de distinção, devem ter acesso (KNIPPEL e AESCHLIMANN, 2017, p. 61). Aluno (a), com estes apontamentos, podemos compreender a importância de um olhar para a equidade nas relações, seja no âmbito escolar ou fora dele. Neste cenário, a educação é uma política pública de grande importância para o desenvolvimento de um olhar que seja humano e, acima de tudo, respeite as diferenças. 4 PREVENÇÃO DO PRECONCEITO E DISCRIMINAÇÃO, NO RESPEITO A ALTERIDADE E ÀS IDENTIDADES CULTURAIS Id da imagem: 1810676716 Aluno (a), neste momento iremos estudar sobre a importância do trabalho preventivo frente às situações de preconceito e discriminação, com ênfase para o ambiente escolar, e a importância do respeito às diferenças sociais, raciais, culturais e de gênero. Passador (2017) aponta que gênero, sexualidade e classe são vistos como marcadores sociais que excluem, separam e segregam as pessoas, definindo identidades e delimitando fronteiras de acessos a determinados recursos e espaços. Neste caminho, são estabelecidas determinadas características aceitáveis, isto é, tidos como “normalidade”, enquanto outras passam a ser excluídas, em que “O processo de marcar e significar valorativa e hierarquicamente as diferenças sociais é o que da princípio ao que chamamos de discriminação” (p. 18). Mas o que isso significa? Nas próprias palavras do autor, isso significa que é através deste processo de classificar e hierarquizar as pessoas que nós vamos demarcando e assinalando àquelas consideradas mais importantes, construindo identidades de acordo com os marcadores que são construídos socialmente. Neste sentido, Vamos, portanto, produzindo e classificando não apenas diferenças, mas também desigualdades. E, ao produzirmos desigualdades, legitimamos formas de tratamento discriminatório e excludente, o que inclui formas de recriminação e repressão – e até mesmo de patologização e/ou de criminalização (PASSADOR, 2017, p. 19). Ainda, faz-se necessário destacar que, segundo Vianna (2017), o próprio espaço escolar passa a reproduzir, muitas vezes, uma visão discriminatória e excludente, sendo necessário um olhar aguçado para as interações conflituosas que são mantidas dentro da instituição escolar e para os poderes que ali são exercidos. No Brasil, foi apenas a partir da década de 1990 que, de maneira tímida e cautelosa, os primeiros aparecimentos relacionados ao gênero passaram a adentrar o currículo escolar, tendo respaldo de documentos nacionais e internacionais. No entanto, o processo de discriminação é inaceitável, pois, como pontua Passador (2017), nossa sociedade é composta por uma ampla gama de diferenças, ou seja, somos um povo marcado pela pluralidade e diversidade de características. Neste aspecto, a escola possui um papel de extrema relevância e importância, pois ela passa a ser um espaço de promoção de mudança no que tange à construção da aceitação das diferenças e promoção da inclusão dos múltiplos modos de ser. Logo, temos um desafio pela frente, como pontua o autor, visto que O reconhecimento da diversidade como fato humano vivido por todas/os nós, e a garantia do direito a ela como fato histórico, social, político, econômico e cultural que nós mesmas/os construímos cotidianamente com nossos valores e práticas, é um desafio e um compromisso que precisamos assumir quando nos propomos a construir uma sociedade mais igualitária e na qual os direitos sejam efetivos para todas/os. Portanto, um desafio e um compromisso que devem ser assumidos em nossas escolas (PASSADOR, 2017, p. 22). No entanto, infelizmente, o que podemos ver ao longo do tempo é que o conservadorismo invadiu os assuntos relacionados à questão de gênero e sexualidade nos currículos escolares, em que criou-se um pânico exagerado em relação aos assuntos abordados no âmbito educacional. Desta forma, retrocessos passaram a serem vistos cotidianamente, em que o silenciamento de determinados temas passou a vigorar no contexto escolar (VIANNA, 2017). Como consequência, o que se vê ainda são muitos/as “[...] professoras e professores dedicados ao tema [...] sozinhos/as, sem parcerias e sem força política para sustentar um trabalho denegrido pela maior parte da escola” (p. 65). Não obstante, Passador (2017) destaca ainda que a diversidade cultural deve ser compreendida enquanto um fenômeno que está presente em todas as partes do mundo e que “[...] a diversidade de culturas que a humanidade produziu e produz é uma consequência lógica dessa nossa condição e capacidade de produzirmos diferenças” (p. 28). Sendo assim, “A diversidade é, portanto, uma realidade incontornável, que exige reconhecimento e garantia de direitos, na direção da superação da discriminação e exclusão social” (p. 30). Em conjunto com a discriminação, evidencia-se os processos de preconceitos. Segundo Passador (2017), o preconceito está enraizado em nossa cultura e, consequentemente, em nós mesmos, em que muitas vezes reproduzimos determinadas falas, comportamentos, gestos imbuídos de preconceitos, sem nos darmos conta; a isto chamamos de naturalização dos preconceitos. Neste caminho, a escola possui um papel chave, sendo o de “[...] estabelecer bases inclusivas que garantam não apenas a convivência entre os diversos, mas o reconhecimento deles como iguais em direitos, sem que eles precisem para tanto se descaracterizar como diferentes entre si.” (p. 40). Uma educação cidadã deve estar baseada na promoção da igualdade de direitos e no reconhecimento e valorização da diversidade. Isso exige que superemos um modelo de educação pensado como um processo de produção de homogeneidades padronizadas e normalizadas (PASSADOR, 2017, p. 41). Sendo assim, a escola possui um papel extremamente empoderador relacionado à quebra de preconceitos relacionados à diversas categorias, como vimos acima. No que se refere ao gênero e sexualidade, a escola, através de inúmeras alternativas, pode assumir uma posição de criadora de espaços para novos pontos de vista, novas formas de pensar e, consequentemente, novas maneiras de agir sobre o mundo. SAIBA MAIS Aluno (a), pensando na relação entre gênero e feminismo, você sabia que existem algumas datas importantes que marcam a luta pelo fim da violência contra as mulheres? Essas datas são importantes, pois trazem visibilidade para a causa. No dia 25 de novembro é considerado o Dia Internacional da Não-Violência contra as mulheres. Também, o dia 06 de dezembro é tido como o Dia Nacional de Mobilização dos Homens pelo Fim da Violência contra as Mulheres. Fonte: MELLO, K. DIA INTERNACIONAL DE LUTA CONTRA A VIOLÊNCIA À MULHER - 25 DE NOVEMBRO. TelesaúdeRS, Porto Alegre-RS, 25/11/2021. Disponível em: <https://www.ufrgs.br/telessauders/noticias/dia-internacional-de-luta-contra-violencia-mulher-25-de- novembro/> Acesso em: 15/04/2021. #SAIBA MAIS# REFLITA “Aqueles e aquelas que transgridem as fronteiras de gênero ou de sexualidade,que as atravessam ou que, de algum modo, embaralham e confundem os sinais considerados próprios de cada um desses territórios são marcados como sujeitos diferentes e desviantes”. Aluno (a), você já parou para pensar nisso? Como você enxerga o que é “normal” e “anormal” frente às outras pessoas? Fonte: LOURO, G. L. Um corpo estranho: ensaios sobre sexualidade e teoria queer. Belo Horizonte: Autêntica, 2004. #REFLITA# https://www.ufrgs.br/telessauders/noticias/dia-internacional-de-luta-contra-violencia-mulher-25-de-novembro/ https://www.ufrgs.br/telessauders/noticias/dia-internacional-de-luta-contra-violencia-mulher-25-de-novembro/ CONSIDERAÇÕES FINAIS Caro aluno (a), Chegamos ao fim da nossa primeira unidade. Você percebeu quantos assuntos e conceitos importantes estudamos até aqui? Como vimos na primeira unidade, é preciso compreender o conceito de gênero para que possamos expandir nossa compreensão das diferenças e, consequentemente, absorver novas maneiras de compreender o papel da sexualidade no currículo escolar. Ainda, realizamos uma importante contextualização histórica sobre os estudos de gênero e educação, principalmente no Brasil, estudando as construções históricas acerca do masculino e feminino, com os papéis sociais que são pré-determinados em relação aos sexos. Também, estudamos a sexualidade como sendo uma construção de ordem histórica, social, cultural, política e discursiva. Para tal estudo, nos ancoramos nos estudos basilares de Michel Foucault, compreendendo a importância e relevância dos discursos, bem como a noção de poder e seus efeitos. Na sequência, partimos para discussões relacionadas às abordagens da educação sexual através da história e seus reflexos no cotidiano para a escolarização brasileira frente à equidade de gênero. Para isso, conhecemos o papel dos estudos feministas, bem como a importância da temática da sexualidade dentro das escolas. Por fim, estudamos aspectos cruciais relacionados à prevenção do preconceito e da discriminação frente às diferenças no contexto escolar. Espero que você tenha aproveitado ao máximo os conteúdos que foram discutidos aqui. Nos encontramos na Unidade II para darmos continuidade nas discussões relacionadas à sexualidade, gênero e educação. Até logo! LEITURA COMPLEMENTAR Artigo: Formação em gênero e educação para a sexualidade: considerações acerca do papel da escola Resumo: Este artigo, por meio de uma pesquisa bibliográfica, propõe uma discussão acerca da formação em gênero e da educação para a sexualidade, na tentativa de compreender como a igreja, a família e a escola têm, historicamente, contribuído para a Educação, principalmente de crianças e jovens em idade escolar, de acordo com seus preceitos. Assim, defendemos que a família e a igreja podem contribuir na formação dos indivíduos – com afeto, carinho, costumes –, porém, à escola cabe disseminar conhecimentos científicos, de modo a mostrar as várias formas de vivenciar e construir as identidades pessoais, sempre com caráter emancipatório, para a convivência e o reconhecimento das diferenças, além do respeito entre os sujeitos. Palavras-chave: Gênero, educação, sexualidade, respeito. Texto completo disponível em: MAIO, E. R.; OLIVEIRA, M. de; PEIXOTO, R. Formação em gênero e educação para a sexualidade: considerações acerca do papel da escola. Revista NUPEM, Campo Mourão, v. 10, n. 20, 2018. Disponível em: <http://revistanupem.unespar.edu.br/index.php/nupem/article/view/353/332> Acesso em: 01/03/2021. http://revistanupem.unespar.edu.br/index.php/nupem/article/view/353/332 LIVRO • Título: Educação, Gênero e Feminismos: resistências bordadas com fios de luta. • Autora: Eliane Rose Maio (Organizadora) • Editora: Editora CRV • Sinopse: O livro apresenta as lutas do movimento feminista e que ainda se mostram constantes, pela igualdade e equidalide de direitos, entre as mulheres e os homens. As discussões sobre os feminismos fazem parte desta obra literária, em que se apresentam, em várias instâncias, como as mulheres (e aqui pontuamos todas as mulheres, de quaisquer etnias e raça), buscaram (e buscam) os seus direitos de equidade e igualdades, diferenciando-se daquelas que ainda são somente vistas como a “rainha do lar, da musa idolatrada pelos poetas e cantores, da mulher frágil, etc.”.O livro traz discussões e provocações em uma luta para que possamos ter um mundo mais justo e digno para todas as pessoas. FILME/VÍDEO • Título: Hoje eu quero voltar sozinho • Ano: 2014 • Sinopse: O filme mostra o preconceito e a discrimação no ambiente escolar, tanto pela deficiência visual (o personagem principal é cego) quanto pela sua orientação sexual. O filme também trabalha com questões relacionadas à adolescência e à descoberta da sexualidade, os conflitos e a busca pela independência. WEB • No site Vivendo a Adolescência (link abaixo) é possível encontrar uma gama ampla de materiais que apresentam e trabalham com a proposta de uma Educação Integral em Sexualidade. Ainda, o site oferece informações, esclarece dúvidas e propõem atividades no que se refere à educação sexual. • Link do site: http://www.adolescencia.org.br/site-pt-br/educacao-integral-em- sexualidade http://www.adolescencia.org.br/site-pt-br/educacao-integral-em-sexualidade http://www.adolescencia.org.br/site-pt-br/educacao-integral-em-sexualidade REFERÊNCIAS CARDONA, M. J.; NOGUEIRA, C.; UVA, M. Género e currículo no 1º ciclo do ensino básico. In: CARDONA, M. J. (coord.); NOGUEIRA, C.; VIEIRA, C.; PISCALHO, I.; UVA, M.; TAVARES, T.S.Guia de educação: género e cidadania - 1º ciclo. Lisboa-PT: Comissão para a cidadania e igualdade de género, 2015. CONNELL, R.; PEARSE, R. Gênero: uma perspectiva global. São Paulo: nVersos, 2015. EQUIDADE. In: MICHAELIS, moderno dicionário da língua portuguesa. 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Educação e resistência escolar [recurso eletrônico]: gênero e diversidade na formação docente.São Paulo: Alameda, 2017. VIANNA, C. Debates e embates de gênero: dos estudos às políticas e práticas educativas In: FINCO, D.; SOUZA, A. dos S.; OLIVEIRA, N. R. C. de (Orgs.) Educação e resistência escolar [recurso eletrônico]: gênero e diversidade na formação docente.São Paulo: Alameda, 2017. http://revistathemis.tjce.jus.br/index.php/THEMIS/article/view/569/538 https://seer.ufrgs.br/index.php/educacaoerealidade/article/view/71721 UNIDADE II EDUCAÇÃO DE GÊNERO E SEXUALIDADE NOS ESPAÇOS EDUCATIVOS Professor Especialista Jose Valdeci Grigoleto Netto Plano de Estudo: ● Abordagens pedagógicas da educação sexual no Brasil; ● Compreendendo os conceitos e as interfaces entre gênero e orientação sexual; ● Recursos didático-metodológicos para um trabalho de Educação Sexual na Educação Infantil e Ensino Fundamental. Objetivos de Aprendizagem: ● Contextualizar as abordagens pedagógicas que dialogam com a educação sexual no Brasil; ● Compreender a relação e a diferença entre os conceitos de gênero e orientação sexual, destacando suas especificidades; ● Estabelecer a importância e os tipos de recursos que podem ser empregados na sala de aula para trabalhar a Educação Sexual. INTRODUÇÃO Olá aluno (a)! Que bom reencontrar você. Seja bem-vindo (a) à segunda unidade da disciplina Gênero, Sexualidade e Educação. Agora, iremos conhecer os aspectos relacionados à prática do ensino da educação sexual dentro dos espaços educativos. Para isso, inicialmente faremos uma leitura acerca das abordagens educativas relacionadas à educação sexual, perpassando com alguns conceitos importantes e, por fim, iremos explorar os recursos que podem ser adotados para esta prática. No Tópico I iremos conhecer as abordagens pedagógicas da educação sexual no Brasil. Para isso, iremos realizar algumas reflexões acerca da inserção da educação sexual nos espaços educacionais e resgatar na história da educação do Brasil aspectos relacionados à temática. Avançando, no Tópico II iremos conhecer os conceitos de gênero e orientação sexual e suas interfaces, buscando diferenciá-los e, a partir disso, elencar suas especificidades, a fim de não reproduzir equívocos. Por fim, no Tópico III, iremos nos aproximar de alguns recursos didático- metodológicos que podem ser utilizados para o trabalho de educação sexual na educação Infantil e, também, no ensino fundamental. A partir dos conteúdos acima elencados, espero que os textos e discussões aqui propostos sejam úteis e interessantes para embasar seus estudos e sua futura prática docente. Bons estudos! 1 ABORDAGENS PEDAGÓGICAS DA EDUCAÇÃO SEXUAL NO BRASIL ID: 1177489090 Olá aluno (a), vamos dar início ao primeiro tópico deste unidade. Vamos iniciar apresentando as abordagens pedagógicas da educação sexual no Brasil. Vamos lá? De acordo com Pelegrini e Maio (2016), a sexualidade, ao longo do tempo, tem sido alvo de construções nas mais diversas esferas, principalmente no que tange à constituição subjetiva das pessoas. Ainda, é notável que ela está presente nos discursos, sejam eles ditos ou escritos, além de estar presente, também, na ausência dos discursos, em situações em que a sexualidade é rodeada por silêncios e proibições. Quando pensamos na inserção do tema da sexualidade nos currículos escolares, é importante destacarmos que sua inserção, desde o início, foi alvo de polêmicas que, mesmo ocasionando alguns avanços, também originaram inúmeros retrocessos no cenário educacional brasileiro. Para ilustrar, podemos citar as incansáveis discussões, desde o ano de 2010, instauradas nos espaços sociais quando deu-se início à construção dos Planos Nacionais, Estaduais e Municipais de Educação (PELEGRINI e MAIO, 2016). Não obstante, faz-se oportuno citar os próprios autores acima, quando pontuam que Um exemplo desses embates foi a supressão dos termos “gênero e orientação sexual” do texto original do Plano Nacional de Educação (2010. Essa disputa envolveu diferentes movimentos sociais e instituições, ganhou visibilidade e gerou repercussão alcançando os Planos dos Estados e Municípios em uma reação em cadeia. Muitas Manifestações ocorreram para que fossem retirados também desses planos as dimensões da diversidade sexual e de gênero (p. 129). Bem como, Furlaneto e Col (2018) realizaram um estudo em que pesquisaram, em alguns banco de dados online de produções científicas, com o recorte de período 2010-2016, a questão da educação sexual em escolas brasileiras, com o objetivo de conhecer suas principais características, quais são os temas abordados e, ainda, quais os profissionais responsáveis por tal tarefa. Após a obtenção dos dados e enquanto resultado, percebeu-se que o que foi realizado nos espaços educativos não correspondem ao que está inserido nos Parâmetros Curriculares Nacionais, em relação à importância de que o tema seja abordado de maneira transversal, isto é, que atravesse e abarque todo o currículo escolar. Lima e Almeida (2010), na mesma vertente, assinalam que a inserção do tema da sexualidade nas práticas pedagógicas curriculares apresenta grandes dificuldades e barreiras, em que a oferta é superficial e rasa, não sendo proporcionado aos alunos e alunas um espaço para aprofundamento das questões necessárias, visto que [...] as políticas públicas são incipientes no que se refere ao preparo de profissionais de ensino para lidar com temas, tais como a sexofobia ou heterofobia, homofobia, heteronormatividade e outros preconceitos que estão presentes na sala de aula, incorporados desde muitos séculos atrás e antes da própria escola existir como instituição (p. 726). Neste caminho, é extremamente urgente que professores e professoras trabalhem com questões relacionadas à sexualidade e, ainda mais, ofereçam um conteúdo coeso e trabalhe com a verdade, no sentido de possibilitar o acesso à informação e que as transformem em conhecimentos que agreguem aos estudantes, traduzindo-as em informações imbuídas de uma linguagem acessível e clara. Ademais, é preciso englobar as mais diversas questões relacionadas à sexualidade, a saber: gravidez, aborto, Infecções Sexualmente Transmissíveis - IST, dentre outros (LIMA e ALMEIDA, 2010). Louro (2013) diz que há tempos alguns movimentos, tais como o movimento feminista, o movimento negro e o movimento das chamadas minorias sexuais, denunciam a ausência de suas histórias nos currículos escolares. O que muitas vezes podemos ver, é a realização simbólica de datas “comemorativas” que, em cada nível de ensino, apresentam atividades e eventos específicos. Com isso, as instituições escolares detêm determinado controle e poder em relação ao que é dito e apresentado, logo, os sujeitos pertencentes a tais categorias passam a assumir o papelde excêntricos e excepcional. A discussão da educação em sexualidade não é algo novo e provoca muitas controvérsias, pois é um tema pouco debatido e, quando discutido é perceptível o desconhecimento e a visão estereotipada por grande parte da população leiga. No que concerne ao tema, docentes, técnicos e teóricos da área têm dedicado anos de estudos para oferecer uma educação que promova a justiça social a partir da equidade de gênero para meninas e meninos (FREITAS, 2017, p. 134). É inegável que a escola deve refletir a realidade social na qual está inserida, isto é, ela possui, dentre outros, o papel de preparar os alunos e alunas para os processos sociais. Ainda, ela deve refletir aspectos relacionados à sexualidade e ao gênero. Um equívoco muito comum é a associação de sexualidade com relação sexual. Essa confusão é presente no imaginário social, o que acaba deixando o tema de lado, transformando-o em tabu. Como consequência, o silenciamento da sexualidade tende a deixar os alunos e alunas vulneráveis ao não receberem as informações de maneira adequada e pedagógica (MARTINI, 2016). É na escola que os adolescentes passam boa parte do seu tempo, e é nesse espaço que se complementa a educação dada no ambiente familiar. Na escola são abordados temas mais complexos que no dia-a-dia não são ensinados e aprendidos, tendo esta uma imensa responsabilidade na formação afetiva e emocional de seus alunos (OLIVEIRA e URBAN, 2016, p. 02). A sexualidade, neste caminho, pode ser compreendida enquanto fazendo parte de todas as fases do desenvolvimento humano, estando relacionada com os campos das emoções e dos afetos, sendo de extrema importância e ocupando um papel que, como vimos, vai além do prazer físico (MARTINI, 2016). Aluno (a), neste momento, você deve estar se perguntando: mas será que as coisas sempre foram assim no que diz respeito à sexualidade nos espaços educativos? Aqui, iremos destacar três momentos sociais que são de grande importância para compreendermos alguns avanços e retrocessos em relação à educação sexual. Segundo Oliveira e Urban (2016), tal tema já se configurava enquanto uma preocupação nos espaços escolares, no Brasil, desde o início do século XX em que, nas décadas de 1920 e 1930, médicos, professores e professoras e intelectuais da época, se debruçaram no tema. Em 1922, Fernando de Azevedo, reformador educacional, foi responsável por responder a um questionário em relação à educação sexual. Tal questionário foi solicitado pelo Instituto de Higiene da Faculdade de Medicina e Cirurgia de São Paulo. A partir deste feito, deu-se origem a um movimento brasileiro que passou a se interessar pelo tema da sexualidade no âmbito educacional (OLIVEIRA e URBAN, 2016). . Pouco mais de uma década depois, em 1933, no estado do Rio de Janeiro, foi fundado o Circuito Brasileiro de Educação Sexual - CBES, sob responsabilidade do médico José de Oliveira Pereira de Albuquerque. O CEBS visava a produção de materiais relacionados à educação sexual, além de realizar eventos, reuniões e a produção de filmes. Ainda, o circuito possuía como objetivo “[...] prestar um serviço de instrução e esclarecimento no que tange aos assuntos de educação e higiene sexual, abordando questões biológicas, psicológicas e morais para a população brasileira” (OLIVEIRA e URBAN, 2016, p. 03). Ainda segundo os autores, na década de 1960, um pouco antes do início da ditadura militar brasileira, a educação sexual passa a vigorar nos contextos educacionais, sendo inserida nos currículos. No entanto, com a ditadura militar em vigor, a sexualidade foi retirada e suprimida do contexto educacional. Como a ditadura impôs um regime de controle e moralização dos costumes, especialmente decorrente da aliança entre militares e o majoritário grupo conservador da igreja católica, a educação sexual foi definitivamente banida de qualquer discussão pedagógica por parte do Estado e toda e qualquer iniciativa escolar suprimida com rigor (OLIVEIRA e URBAN, 2016, p. 04). Aluno (a), com essas afirmativas, de recortes sociais, podemos perceber que, hoje, incluir nos currículos escolares tal temática foi (e ainda é) tarefa desafiadora. No entanto, é necessário que continuemos na luta para que o ensino da sexualidade faça parte dos espaços educativos, pois a sexualidade humana figura como um dos temas mais inquietantes e, quase sempre, mais recusados no universo prático do educador. Entretanto, cada vez mais a escola tem sido convocada a enfrentar as transformações das práticas sexuais contemporâneas, principalmente na adolescência, uma vez que seus efeitos se fazem alardear no cotidiano escolar (OLIVEIRA e URBAN, 2016, p. 02). Sendo assim, como aponta Louro (2013), é necessário que os profissionais da educação se atentem à uma prática que seja desestabilizadora e que desconstrua a ideia de naturalidade da sexualidade e que, em vez disso, busque dar espaço ao caráter móvel, plural e o papel do social na construção da sexualidade. 2 COMPREENDENDO OS CONCEITOS E AS INTERFACES ENTRE GÊNERO E ORIENTAÇÃO SEXUAL ID: 1043482492 Aluno (o), na primeira unidade nós conhecemos o conceito de gênero, contando com algumas importantes referências para embasar nossos estudos. Neste momento, iremos conhecer outro conceito de extrema relevância: orientação sexual e, a partir disso, iremos tecer algumas reflexões acerca de ambos os conceitos e suas interfaces com o espaço educacional. Em síntese, para Jesus (2012, p. 12), orientação sexual pode ser compreendida enquanto a “[...] atração afetivossexual por alguém de algum/ns gênero/s”. Isto posto, podemos pensar que a Sexualidade, portanto, está ligada a fatores internos e externos ao ser humano, que num processo de interação mútua cooperam para a sua constituição. Frente a esta constatação, urge pensar a sexualidade como um processo dialético, no qual o ser humano influencia a construção de valores e normas sexuais e, simultaneamente, é influenciado pelas múltiplas e sucessivas experiências vividas e vivenciadas em contato com o meio social em que se insere (BISPO DE JESUS, 2014, p. 55). Nesta perspectiva, trago abaixo uma imagem interessante que pode nos auxiliar na compreensão do conceito de orientação sexual. Também, a imagem traz o conceito de identidade de gênero e de sexo biológico. Veja: Figura 1: Conceitos importantes Fonte: https://miro.medium.com/max/2026/1*fdQkEf7yXhQ_OaIyFNLuPA.png Aluno (a), viu como é interessante conhecermos esses aspectos? Ainda hoje, percebemos uma grande confusão nas pessoas quando se referem à orientação sexual. Como a imagem ilustra, a orientação sexual refere-se ao aspecto da atração, do desejo; já a identidade de gênero, ao lado do conceito de gênero, refere-se à maneira na qual nos enxergamos e nos identificamos. https://miro.medium.com/max/2026/1*fdQkEf7yXhQ_OaIyFNLuPA.png Conhecer tais diferenças é um passo de extrema importância para que os professores e professoras possam conhecer as múltiplas formas de ser e estar no mundo que existem e, a partir disso, se aperfeiçoarem e sentirem-se seguros para levar para o espaço escolar as questões relacionadas à sexualidade. A simples conscientização tem o poder de modificar nosso posicionamento e ações diante do desafio das questões de gênero e sexualidade presentes nas salas de aula fazendo com que as expressões presenciadas e descritas no início desse texto muito corriqueiras em sala de aula deixem de existir. Como professoras/res não podemos ficar impassíveis, nem tomar atitudes discriminatórias, porque este assunto reflete diretamente na felicidade ou infelicidade de alunas/os sendo o mesmo importantíssimo para que essa pessoa consiga atingir uma vida eficaz e plenacomo indivíduo produtivo da sociedade sendo isso o principal objetivo da escola (SIQUEIRA e CALDAS, 2020, p. 130). É pertinente citar, neste momento, a Base Nacional Curricular Comum - BNCC. Este documento, de ordem normativa, abrange conhecimentos contemporâneos que dialoguem com as necessidades de alunos e alunas de todo o país, visando a efetivação de direitos. O documento traz que, para o ensino de ciências, é ofertado o tema da sexualidade em conjunto com a reprodução humana, isto é, ligado aos aspectos biológicos dos sujeitos (BRASIL, 2018). Aluno (a), se faz importante, depois dos conteúdos que vimos na unidade anterior, problematizar: e as outras esferas? E a transversalidade da temática? Compete apenas à biologia lidar com o tema da sexualidade? Precisamos desenvolver um olhar atento para o tema, ao lembrarmos que a sexualidade se manifesta de maneira plural e, por isso, reflete em vários âmbitos de nossas vidas, e não apenas no campo biológico. Agora, aluno (a), quando pensamos nas interfaces entre a escola e as questões de gênero, você pode observar que a própria instituição escolar tende a gravar e a produzir alguns marcadores de gênero, é o que pontua Bispo de Jesus (2014), quando sinaliza que Em conformidade com as normatizações sociais tradicionalmente concebidas, acerca do comportamento masculino e feminino, a docilidade, a obediência às regras e o temperamento menos agitado, por exemplo, são expectativas, vulgarmente, direcionadas ao mundo feminino; já a desobediência aos regulamentos, a contestação às ordens e a agitação são atitudes aguardadas do mundo masculino (p. 60, grifo da autora). É válido mencionarmos, a partir disso, que essas questões não são de ordem natural. Ao contrário, são produzidas e reproduzidas diariamente no contexto escolar, social e familiar. Importante mencionarmos e produzirmos questões e debates acerca da ideia de “naturalização” dos acontecimentos sociais. Isso, inclusive, fica evidente no próprio contexto escolar, quando “[...] Diante de comportamentos que costumam fugir às regras de gênero e sexualidade, a tendência de docentes, homens e mulheres, é recriminar tais condutas, sinalizando para a forma como sujeitos masculinos e femininos devem agir para serem reconhecidos como tais” (BISPO DE JESUS, 2014, p. 61). Dessa maneira, muitas vezes, docentes homens e mulheres estimulam mais a participação de meninas nas aulas, face à representação do mundo feminino como sendo, naturalmente, comunicativo, enquanto os meninos pouco são convocados a participarem. Isto implica considerar que, consciente ou inconscientemente, a escola é capaz de erigir, junto aos sujeitos participantes do contexto escolarizado, conceitos de masculinidade e feminilidade a partir de afirmativas que lhes são apresentadas e que lhes esclarecem o significado social do que venha a ser homem e do que venha a ser mulher (BISPO DE JESUS, 2014, p. 62). Desta forma, é de extrema importância que, Bispo de Jesus (2014), pensemos na escola enquanto formadora, inclusive, de caráter e da personalidade das pessoas, mesmo que de maneira discreta. A escola precisa, urgentemente, contribuir para a efetivação de espaços de expressão da sexualidade que não sejam excludentes e discriminatórios, mas sim que abarque a diversidade existente. 3 RECURSOS DIDÁTICO-METODOLÓGICOS PARA UM TRABALHO DE EDUCAÇÃO SEXUAL NA EDUCAÇÃO INFANTIL E ENSINO FUNDAMENTAL ID: 1767364355 Ainda hoje, realizar a organização de conteúdos relacionados à sexualidade para se trabalhar no contexto educativo é uma ação que tende a gerar desconforto e incômodo, tanto nos próprios professores e professoras quanto na população em geral (SACHI, 2018). Isso porque a escola, inclusive, é um espaço que ainda produz a inserção de marcadores de gênero em seus espaços, tais como: cartazes, filas, linguagem, brincadeiras, músicas, dentre outros. Curioso que, mesmo produzindo questões relacionadas ao gênero, a escola possui resistência para discutir sobre a temática (LEITE e ROMERO, 2017), ficando tal fato evidente quando notamos que Na Educação Infantil, por exemplo, notamos que os estereótipos de gênero se efetiva de diversas maneiras como o uso do diminutivo para referir-se ao corpo feminimo e o aumentativo para falar do masculino ou a separação de filas de meninas e meninos para a locomoção das crianças. É o mesmo com as cores dos materiais, a decoração dos cadernos, a divisão dos brinquedos, das brincadeiras. (LEITE e ROMERO, 2017, p. 145). Neste caminho, é importante questionarmos acerca do preparo e da formação dos professores e professoras para abordar questões relacionadas à sexualidade. Sabendo que estes profissionais são formadores de opinião (SACHI, 2018), é possível perguntar: será que há um adequado preparo para tal empreitada? Pensando nisto, é relevante que nos atentarmos para aspectos relacionados ao processo de ensino-aprendizagem, em que Não se pode ver o mundo pronto. Para isso é preciso pensar no processo ensino-aprendizagem, pois é por meio dele que educadores(as), formam opiniões nos(as) seus(suas) discentes. É necessário, antes de tudo, impelir em nós mesmos(as) perguntas e respostas que certamente nos levarão a esquadrinhar, perscrutar, observar e pensar sobre como nos foi ensinada essa questão da sexualidade. É evidente que, se não aprendemos, também não temos subsídios consideráveis para ensinar. (SACHI, 2018, p. 28, grifo nosso). Portanto, é urgente pensarmos (e repensarmos quantas vezes forem necessárias) acerca da formação destes profissionais. Percebe-se, pois, que nas universidades ainda é tímida a inserção de tais temas nos currículos. Nesta perspectiva, um caminho interessante é que os profissionais busquem outras formas de agregarem em sua formação o tema da sexualidade (SACHI, 2018). Hoje, existe uma vasta literatura que pode servir como base para os estudos e para a inserção do tema da sexualidade dentro dos espaços educativos. Entretanto, o que se percebe é que a sociedade ainda possui forte resistência para aceitar que se discuta a sexualidade no campo da educação, em que muitas vezes pais e mães e, inclusive, os próprios profissionais, por não possuírem conhecimentos e informações adequadas e suficientes, não aceitam que as crianças recebam estes conteúdos (SACHI, 2018). No entanto, não podemos aceitar isso e precisamos problematizar e colocar esse silenciamento em pauta, pois “cabe à sociedade desmistificar esse paradigma, mas cabe, principalmente, ao(à) educador(a) a incumbência de desnudar esse arquétipo que foi imposto na sociedade por meio de uma educação tradicionalista, engessada e arcaica” (p. 29). Outro ponto que merece destaque neste momento por estar relacionado com o processo ensino-aprendizagem é acerca do brincar. Aluno (a), você sabia que diversas pesquisas apontam que o brincar na escola, em especial na Educação Infantil, possui um papel de extrema importância? É o que apontam Leite e Romero (2017), sinalizando que o brincar tende a ser “[...] responsável por contribuir com o desenvolvimento físico, psíquico, cognitivo, motor, afetivo, entre outras competências dos alunos” (p. 146). Neste caminho, proponho uma reflexão: quantas vezes ouvimos falar, ou até mesmo já reproduzimos tal discurso, que meninos brincam de carrinho e meninas brincam de bonecas? Se consideramos apenas o dualismo limitado, reforçado nos ambientes escolares, a brincadeira de boneca, acaba por ser entendida exclusivamente como “coisa de menina”. Esta concepção está fortemente ligada à representação de mulher como quem deve cuidar do lar e o homem com quem o provê. Entretanto, eis nesta ideia além de um hiato explícito de gênero (mulher dócil, homem viril), uma contradição com a própria“realidade” contemporânea, visto que as mulheres exercem outros papéis, como estudante, trabalhadora, motorista, entre outros (LEITE e ROMERO, 2017, p.147). Nos espaços escolares, infelizmente, esse discurso, muitas vezes, se faz presente. Está em ação o que chamamos de binarismo, isto é, a ideia de que só existam duas formas de brincadeiras: de meninos e de meninas. A existência deste pensamento, faz com que limitemos o brincar e coloquemos em ação questões de gênero que tendem a reproduzir um pensamento de que exista “brincadeiras de meninos e brincadeiras de meninas”. E a escola nisto tudo? O que a escola produz e fala sobre sexualidade? Sachi (2018) aponta que, não raro, os discursos dos responsáveis familiares estão carregados de falas em que se encontra a afirmação de que a escola não é o espaço para se aprender sobre sexualidade. No entanto, a autora sinaliza que não é apenas na escola que esse conteúdo chega até as crianças, a diferença é que neste espaço o conteúdo é transmitido de maneira pedagógica e, logo, responsável. Ao levarmos em conta que a criança, a partir do seu nascimento, já entra em contato com o mundo por meio de diversas situações, a escola certamente não será seu primeiro ambiente de aprendizagem. Devemos levar em conta que as relações que essa mesma criança desenvolve com o meio em que está inserida fazem com que ela aprenda, de modo pedagógico ou não. O contato com outros seres humanos, os meios de comunicação e a mídia são fontes ricas de informação e de aprendizado. Entretanto, salientamos que, nos dias atuais, as crianças entram em contato com essas mídias cada vez mais cedo e sem a orientação de adultos (SACHI, 2018, p. 31). A partir disso, aluno(a), podemos perceber, conforme pontua Sachi (2018), o quão importante é que haja pessoas comprometidas e capacitadas para orientar as crianças acerca dessa temática. Também, é preciso que compreendamos que vivemos em uma sociedade atravessada e marcada pelas diferenças e pela multiplicidade de modos de viver, ou seja, precisamos desconstruir a ideia de que ser diferente é ser anormal e/ou errado. Não obstante, ainda nas palavras da autora Levar em consideração que cada sujeito faz parte de um todo, e por conta disso ele se constitui de raça, classe, religião, etc., permite que façamos com que ele se incomode com a realidade exposta e busque respostas até então não encontradas de forma satisfatória, bem como faz com que facilitemos essa desconstrução, possibilitando de forma mais esclarecedora um novo aprendizado composto de questionamentos e possíveis respostas (p. 32). Um exemplo de prática para se trabalhar nas salas de aula é a utilização de livros infantis que trazem consigo questões que possam nortear discussões e, consequentemente, o trabalho educativo. Neste caminho, Leite e Romero (2017) apresentam o livro O menino que ganhou uma boneca, da autoria de Majô Baptistoni, enquanto instrumento para trabalhar, dentro dos espaços educativos, questões relacionadas à sexualidade. As autoras sugerem que a obra seja lida em conjunto com as crianças, a fim de que todas possam participar das discussões oriundas; os professores e professoras, neste momento, possuem grande importância, pois serão responsáveis pela mediação das discussões e problematizações. Claro que esta atividade não precisa se limitar com o livro proposto, mas sim que os/as docentes possam explorar novos materiais e recursos para o trabalho dentro da sala de aula, contando com o objetivo de desconstruir ideias preestabelecidas e socialmente construídas. Outro recurso importante e útil é a utilização de filmes que abordam, de maneira responsável, a questão da sexualidade. A partir da exibição dos filmes, é possível que os professores elaborem questões disparadoras, a fim de produzir discussões e debates relacionados à temática. Ainda, é possível utilizar pinturas, charges e vídeos (RIBEIRO, 2013). A metodologia utilizada pelo professor pode ser a mais variada possível observando e avaliando qual melhor didática sobre sexualidade lidar em cada sala de aula. Diálogo, seminário, pesquisas, debates, mesas redondas, palestras e formas lúdico-culturais que estimulem os alunos no entendimento de dificuldades sexuais presentes na adolescência (LIMA e ALMEIDA, 2010, p. 729). Ademais, é importante sabermos, como pontua Ribeiro (2013, p. 61), que Nesse redemoinho de possibilidades, [é necessário] criar estratégias para ouvir as crianças, escutá-las, desde a mais tenra, saber que trazem consigo construções de gênero desiguais, sexistas, pois foram anos e anos de adestramento em que, não só a sexualidade vem sendo vigiada e normatizada, mas a identidade de gênero é construída diferentemente para homens e mulheres, meninos e meninas. Também, é importante que cada professor e professora busque desenvolver seus próprios recursos, de maneira criativa e que reflita a necessidade de seus alunos e alunas, a fim de que a experiência de obter conhecimentos acerca da sexualidade seja uma tarefa que proporcione a efetiva participação e interesse dos discentes. SAIBA MAIS Aluno (a), é muito importante que você conheça as diferentes nomenclaturas relacionadas à sexualidade a fim de evitar a repetição e produção de informações incorretas. Um exemplo: Orientação Sexual é o termo correto para expressar a maneira na qual uma pessoa se sente atraída física e/ou emocionalmente por outra. O termo Opção Sexual está incorreto, pois ninguém escolhe sua orientação sexual, visto que ela faz parte do desenvolvimento individual de cada pessoa. Para aprofundar a leitura nessa temática, acesse o material abaixo: Fonte: JÚNIOR, I. B. O.; MAIO, E. R. Opção ou orientação sexual: onde reside a homossexualidade? Anais do III Simpósio Internacional de Educação Sexual “Corpos, Identidade de Gênero e Heteronormatividade no espaço escolar”, Maringá - PR, 2013. Disponível em: http://www.sies.uem.br/anais/pdf/diversidade_sexual/3-02.pdf REFLITA “”Trabalhar com a sexualidade no ambiente escolar ainda sinaliza um longo caminho. Talvez com mais clareza, desejos, discernimentos, mas ainda é preciso muito para que a educação sexual escolar se faça presente enquanto um projeto pedagógico coerente e adequado”. Fonte: MAIO, E. R. O nome da coisa. Maringá: Unicorpore, 2011. #REFLITA# #CONSIDERAÇÕES FINAIS# Caro aluno (a), Chegamos ao fim da segunda unidade de estudos. Até aqui, já avançamos nos estudos relacionados ao gênero, sexualidade e educação. Como vimos na nesta unidade, as abordagens pedagógicas da educação sexual no Brasil passaram por grandes transformações através do último século, refletindo, inclusive, na maneira que a educação sexual é trabalhada atualmente no contexto escolar. Também, compreendendo os conceitos e as interfaces entre gênero e orientação sexual, refletindo acerca de como tais conceitos, de vasta importância, são abordados e, além disso, vividos no contexto escolar, seja por alunos e alunas ou pelo corpo docente. Por fim, no último tópico, encerramos com a apresentação de alguns recursos didático-metodológicos para a execução de um trabalho de Educação Sexual na Educação Infantil e Ensino Fundamental, que contemple e dê conta das necessidades contemporâneas. Com os conteúdos apresentados, espero que você tenha aproveitado ao máximo cada informação exposta. Nos encontramos na Unidade III para darmos continuidade nas discussões relacionadas à temática da sexualidade. Até logo! #LEITURA COMPLEMENTAR# Artigo: Gênero e sexualidade: pedagogias contemporâneas Resumo: Gênero e sexualidade são construídos através de inúmeras aprendizagens e práticas, empreendidas por um conjunto inesgotável de instâncias sociais e culturais, de modo explícito
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