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gênero, sexualidade e educação

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#CURRÍCULO LATTES# 
 
Prof. Esp. Jose Valdeci Grigoleto Netto 
 
● Mestrando em Psicologia (Universidade Estadual de Maringá, Maringá - PR); 
● Graduado em Psicologia (Centro Universitário Ingá - UNINGÁ, Maringá - PR); 
● Especialista em Educação Especial e Inclusiva (Faculdade de Tecnologia e 
Ciências do Norte do Paraná - UNIFATECIE, Paranavaí - PR); 
● Especialista em Saúde Mental, Psicopatologia e Atenção Psicossocial (Centro 
Universitário de Maringá - UNICESUMAR, Maringá - PR); 
● Membro do Grupo de Pesquisa DeVerso - Sexualidade, Saúde e Política 
(Universidade Estadual de Maringá, Maringá - PR). 
● Professor orientador de Trabalhos de Conclusão de Curso (TCC) da pós-
graduação Lato Sensu (EAD) do Centro Universitário de Maringá - 
UNICESUMAR. 
 
Possui experiência na área da política pública de Assistência Social, estudos de 
gênero, diversidade sexual, e educação especial e inclusiva. Atualmente, no mestrado, 
pesquisa acerca da subjetividade e das práticas sociais na contemporaneidade, com 
ênfase nas relações de gênero. 
 
 
Link para acesso ao currículo lattes: http://lattes.cnpq.br/2661321527310427 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
http://lattes.cnpq.br/2661321527310427
 
APRESENTAÇÃO DA APOSTILA 
 
Olá aluno (a)! 
Seja bem-vindo à disciplina: Gênero, Sexualidade e Educação. Neste momento, 
você terá a oportunidade de conhecer a interface entre estes três temas que, muitas 
vezes, quando trabalhamos em conjunto, despertam receio e desconfiança por parte dos 
profissionais da educação e, também, da sociedade. 
Para desenvolvermos um trabalho interessante e agradável para cada um de 
vocês, a disciplina foi dividida em quatro unidades e, em cada uma delas, iremos 
trabalhar alguns temas que se relacionem entre si. Vamos conhecer cada um deles 
detalhadamente? 
Para iniciar, na Unidade I iremos realizar um apanhado histórico acerca da 
construção histórica dos temas envolvidos na disciplina e, a partir disso, correlacionar 
suas perspectivas com a educação sexual. Para tanto, será destacada a 
contextualização histórica sobre os estudos de gênero e educação. Na sequência, 
iremos nos atentar para a sexualidade enquanto uma construção histórica, social, 
cultural, política e discursiva. Dando continuidade, iremos conhecer alguns paradigmas 
subjacentes às várias abordagens de educação sexual através da história e seus reflexos 
nos cotidianos das sociedades, com destaque para a escolarização brasileira, a 
educação para sexualidade e para a equidade de gênero. Ao final da unidade, daremos 
atenção à importante prevenção do preconceito e discriminação, no respeito a alteridade 
e as identidades culturais. 
Concluído este momento, iremos avançar para a Unidade II em que iremos 
trabalhar a educação de gênero e sexualidade nos espaços escolares. Nesta 
perspectiva, será dada atenção especial para as abordagens pedagógicas da educação 
sexual no Brasil. Ainda, compreenderemos os conceitos e as interfaces entre gênero e 
orientação sexual. Para finalizar, iremos nos debruçar no conhecimento dos recursos 
didático-metodológicos para um trabalho de Educação Sexual na Educação Infantil e 
Ensino Fundamental. 
Seguindo adiante, já na Unidade III iremos voltar nossa atenção para a questão 
da sexualidade na infância e adolescência. Desta maneira, realizaremos um diálogo 
sobre crianças e adolescentes, gênero e sexualidade, na interface entre tais temas. Após 
isso, estudaremos a questão da violência sexual infantil e seus desdobramentos. Para 
finalizar, como tema extremamente importante, dar-se-á um destaque especial para a 
integração entre escola e família. 
Ao fim da disciplina, na Unidade IV, trabalharemos as práticas pedagógicas com 
base em uma educação sexual emancipatória. Para tanto, conheceremos os processos 
de educação sexual que existem nos espaços educativos. A seguir, conheceremos a 
construção de educação sexual com base em uma proposta emancipatória. Neste 
caminho, para finalizar nossos estudos, vamos conhecer o ensino dos Direitos Humanos 
no contexto escolar. 
A partir da organização, esperamos que os conteúdos que escolhemos para 
serem apresentados nesta disciplina sejam norteadores para seus estudos e, inclusive, 
sua futura prática docente. Aproveite ao máximo a disciplina, extraia o possível de 
informações e conhecimento destas páginas. 
Ótimo estudo! 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
UNIDADE I 
 
CONSTRUÇÃO HISTÓRICA E PERSPECTIVAS DA EDUCAÇÃO SEXUAL 
Professor Especialista Jose Valdeci Grigoleto Netto 
 
 
Plano de Estudo: 
 
● Contextualização histórica sobre os estudos de gênero e educação; 
● Sexualidade como construção histórica, social, cultural, política e discursiva; 
● Paradigmas subjacentes às várias abordagens de educação sexual através da 
história e seus reflexos nos cotidianos das sociedades, com destaque para a 
escolarização brasileira, a educação para sexualidade e para a equidade de 
gênero; 
● Prevenção do preconceito e discriminação, no respeito a alteridade e às 
identidades culturais. 
 
 
Objetivos de Aprendizagem: 
 
● Conhecer a história acerca dos estudos de gênero e suas interfaces com a 
educação; 
● Compreender os aspectos relacionados à sexualidade enquanto uma construção 
histórica, social e cultural; 
● Conhecer recursos para o trabalho educativo com o objetivo de prevenir situações 
de preconceitos e discriminações no âmbito escolar. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
INTRODUÇÃO 
 
Olá aluno (a)! 
 
Seja bem vindo (a) à primeira unidade da disciplina Gênero, Sexualidade e 
Educação. Neste momento, iremos nos debruçar em aspectos introdutórios acerca da 
temática. Para isso, faremos um amplo estudo acerca de conceitos e ideias, culminando 
em importantes reflexões e análises. 
No Tópico I, iremos trilhar através da contextualização histórica sobre os estudos 
de gênero e educação, principalmente no Brasil, iniciando com a conceituação do que 
vem ser a palavra gênero e de como podemos empregá-la, em nosso vocabulário, no 
dia a dia. Na sequência, iremos estudar acerca das construções históricas acerca do 
masculino e feminino, com os papéis sociais que são pré-determinados em relação aos 
sexos. Ainda, iremos refletir acerca do papel da escola na construção dos estudos de 
gênero e na manutenção destes papéis. 
Avançando, no Tópico II, trataremos mais especificamente da sexualidade como 
construção histórica, social, cultural, política e discursiva. Para isso, nos debruçaremos 
nos estudos de Michel Foucault e outros/as autores/as importantes, compreendendo a 
importância e relevância dos discursos, bem como a noção de poder e seus efeitos. 
No Tópico III, iremos discutir acerca das abordagens de educação sexual através 
da história e seus reflexos no cotidiano para a escolarização brasileira frente à equidade 
de gênero. Para isso, iremos conhecer um pouco do papel dos estudos feministas para 
a compreensão dos estudos de gênero, bem como a importância da temática da 
sexualidade dentro das escolas e, principalmente, o papel desta instituição para o 
fomento de discussões e diálogos que envolvam a temática da sexualidade, a fim de 
proporcionar equidade no acesso aos direitos. 
Por fim, no Tópico IV, iremos estudar aspectos relacionados à prevenção do 
preconceito e discriminação frente às diferenças, contando com estudos que embasam 
e problematizem aspectos relacionados ao preconceito no ambiente escolar. 
 
 
A partir da exposição acima, espero que os temas aqui elencados sejam 
pertinentes e úteis para embasar seus estudos e sua futura prática docente. 
 
Bons estudos! 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
1 CONTEXTUALIZAÇÃO HISTÓRICA SOBRE OS ESTUDOS DE GÊNERO E 
EDUCAÇÃO 
 
 
ID: 1320872531 
 
Olá aluno (a), vamos dar início ao primeiro tópico de nossos estudos.Para tanto, 
é preciso que realizemos um resgate histórico acerca dos estudos sobre gênero e suas 
interfaces com a educação, para que possamos compreender como, nos dias de hoje, a 
relação educação e sexualidade é compreendida. Vamos lá? 
Primeiro, é importante destacar que definir e conceituar a palavra gênero não é 
uma tarefa fácil e simplista. Pela sua amplidão de compreensões, pela vasta gama de 
autores e autoras que trabalham com este conceito, gênero pode ser compreendido de 
maneira plural. 
Além disso, Connell e Pearse (2015) destacam que o gênero é um espaço que 
ocupa uma posição central e de grande importância na vida das pessoas, refletindo, 
inclusive, em questões de acesso à justiça, à identidade e à sobrevivência. Não obstante, 
como nós podemos perceber nos dias atuais e as autoras também destacam, gênero é 
 
um assunto alvo de constantes preconceitos, mitos e rodeados por falsas ideias. Por 
tanto, é preciso que nós saibamos que 
 
[...] Acima de tudo, o gênero é uma questão de relações sociais dentro das quais 
indivíduos e grupos atuam. [...] o gênero deve ser entendido como uma estrutura 
social. Não é uma expressão da biologia, nem uma dicotomia fixa na vida ou no 
caráter humano. É um padrão em nossos arranjos sociais, e as atividades do 
cotidiano são formadas por esse padrão (CONNELL e PEARSE, 2015, p. 47). 
 
A partir desta definição, podemos pensar no gênero enquanto uma questão das 
relações, compreendendo-o enquanto algo que faz parte da maneira na qual as 
sociedades lidam com os corpos das pessoas e com suas vidas. Ainda, gênero diz 
respeito à nossa identidade, sexualidade e aos poderes que cada um passa a exercer. 
(CONNELL e PEARSE, 2015). 
Desta maneira, podemos compreender que o gênero não está relacionado à 
biologia, aos aspectos orgânicos que diferem o “macho” da “fêmea”. Pensar em gênero 
é pensar exatamente em uma pluralidade de possibilidades que vão além de uma 
dicotomia, isto é, algo com apenas duas possibilidades, mas sim que assuma uma 
imensidão de expressões de vida e, consequentemente, de sexualidade. 
Importante pontuar, como afirma Louro (2003) que ao falarmos da importância 
dos aspectos sociais na construção de gênero, não estamos negando a importância do 
papel dos aspectos biológicos, mas estamos retirando certa ênfase exageradamente 
focada em tais pontos. 
O objetivo, com isso, é trazer para o espaço social os debates relacionados ao 
gênero e às sexualidades, visto que é exatamente no campo do social que as relações 
são construídas e, como fator consequente, as exclusões e discriminações também se 
produzem. “As justificativas para as desigualdades precisariam ser buscadas não nas 
diferenças biológicas [...] mas sim nos arranjos sociais, na história, nas condições de 
acesso aos recursos da sociedade, nas formas de representação” (LOURO, 2003, p. 22). 
Agora que já possuímos uma compreensão do que venha a ser o gênero, 
pergunto à você aluno (a): Quantas vezes você já ouviu alguma dessas expressões: “isso 
é coisa de menino; isso é coisa de menina” ou ainda “azul é cor de menino e rosa é cor 
de menina”, relacionando cores, objetos, profissões com o sexo biológico das pessoas. 
Acredito que inúmeras vezes, não é mesmo?! Proponho, então, que você se questione 
 
e reflita: será que essa construção (do que é pertencente ao menino e à menina) é algo 
natural? Será que “sempre foi assim”? 
Revisitando a história, podemos constatar que ao longo dos tempos, as diversas 
sociedades criaram ideias de como deveria ser utilizado o tempo e o espaço, isto é, o 
tempo de casa, o tempo do ócio, o tempo da rua. Ainda, houve a determinação e 
estabelecimento de lugares que eram permitidos ou não para determinados grupos de 
pessoas. A escola, neste aspecto, exerceu importante papel no que diz respeito ao 
acesso, separação e permanência de diferentes alunos neste ambiente (LOURO, 2003). 
Curioso apontar que, segundo a autora, haviam antigos manuais que 
determinavam, de maneira explícita, como deveria ser o trato que os professores 
deveriam ter com seus alunos, ou seja, a maneira na qual eles iriam lidar com a forma 
de segurar o lápis, de se posicionar nas carteiras, dentre outros aspectos, o que acabava 
por construir uma distinção entre meninos e meninas, em que para cada um destes havia 
regras a serem seguidas, distintas e muito bem demarcadas umas das outras. 
Havia, inclusive, nas chamadas “escolas femininas”, a produção de meninas 
voltadas aos trabalhos manuais, à delicadeza, ao treino de habilidades unicamente de 
ordem manual, o que resultava em jovens ditas “prendadas”, em que seus trabalhos 
giravam em torno, quase que exclusivamente, de agulhas e pincéis; vê-se, então, que 
“As marcas da escolarização se inscreviam, assim, nos corpos dos sujeitos” (LOURO, 
2003, p. 62). 
 
 
 
 
 
 
 
Figura 1 - Criança em atividade escolar 
 
 
 
Id da imagem: 1923910619 
 
Aluno (a), a partir dessas afirmações, pensem comigo: podemos, então, falar em 
um “processo de fabricação de sujeitos?” Podemos pensar que sim, visto que, como 
aponta Louro (2003), essa fabricação se dá de maneira sutil, quase imperceptível nos 
dias de hoje. Tomemos como exemplos: a separação, nas escolas, de filas de meninos 
e meninas; a separação de meninos e meninas em atividades escolares; a escolha de 
determinados brinquedos para meninas e outros para meninos (como já pontuamos 
acima). Tudo isso, aluno (a), faz parte de um processo que precisamos questionar, 
problematizar e, acima de tudo, desconfiar. 
 
Os questionamentos em torno desses campos, no entanto, precisam ir além das 
perguntas ingênuas e dicotomizadas. Dispostas/os a implodir a idéia de um 
binarismo rígido nas relações de gênero, teremos de ser capazes de um olhar 
mais aberto, de uma problematização mais ampla (e também mais complexa), 
uma problematização que terá de lidar, necessariamente, com as múltiplas 
combinações de gênero, sexualidade, classe, raça, etnia (LOURO, 2003, p. 65). 
 
 
 Assim, pensarmos na relação e na importância da discussão de temas 
relacionados ao gênero e à sexualidade dentro do ambiente escolar, é pensar no respeito 
à diversidade humana, sua multiplicidade e diversidade, o que, infelizmente, tem gerado 
nos últimos tempos debates negativos que colocam em jogo a questão do efetivo acesso 
democrático ao ensino. Todavia, quanto mais dialogarmos acerca da importância do 
reconhecimento das diferenças de gênero, raça, orientação sexual, idade, dentre outros, 
mais iremos nos aproximar de uma efetiva democracia, realocando nossos debates às 
questões relacionadas à criação e aperfeiçoamento de políticas públicas que visem a 
qualidade do ensino que é ofertado, bem como a permanência destes estudantes nos 
espaços de ensino (OLIVEIRA e MOCHI, 2020). 
 No tópico a seguir, iremos conhecer um pouco acerca dos aspectos que envolvem 
a sexualidade, especificamente os pontos que demarcaram sua construção histórica, a 
maneira na qual as sociedades a compreendiam e compreendem no dia de hoje, 
perpassando pelo olhar da cultura, da política e do discurso. Vamos lá! 
 
 
2 SEXUALIDADE COMO CONSTRUÇÃO HISTÓRICA, SOCIAL, CULTURAL, 
POLÍTICA E DISCURSIVA 
 
 
 
 
Id da imagem: 1808618392 
 
Louro (2004) afirma que a sexualidade, tendo sido tornada (não por acaso) uma 
“questão” nos últimos dois séculos, vem sendo assunto de grande interesse de diversas 
áreas, por exemplo: cientistas, educadores, religiosos e psiquiatras. Pautadas em 
diferentes visões, as compreensões acerca da sexualidade buscam descrever, 
compreender, explicar, regular, educar e normatizar suas práticas e expressões. 
Neste caminho, para discutirmos acerca do tema da sexualidade e, 
principalmente, para compreendermos a construção histórica e cultural de seus 
desdobramentos, faz-se pertinente recorrermos aos estudos do filósofo Michel Foucault 
que se debruçou, em seus estudos, naconstrução da História da Sexualidade, tendo 
publicado, em vida, sua obra em três tomos. O Primeiro livro, intitulado A Vontade de 
Saber, foi originalmente publicado em 1976; o segundo, O Uso dos Prazeres e o terceiro 
O Cuidado de Si foram ambos publicados em 1984. Em 2018, sob a edição de Fréderic 
Gross, anos após a morte de Foucault, foi publicado o quarto volume, intitulado As 
Confissões da Carne. 
 
Para Foucault (1976/2020), no início do século XVII a sexualidade não era 
compreendida enquanto um assunto tabu, ao contrário: não havia segredo, as palavras 
eram ditas sem delongas, havia certa familiaridade com o dito “ilícito”. A ideia de obsceno 
não era a mesma que nossa sociedade, hoje, compreende a sexualidade; era a época 
dos corpos expostos, gestos e atitudes que não portavam vergonha. Era a sexualidade 
em sua forma crua e livre. 
No entanto, a partir do século XIX, a sexualidade toma outra forma, se encerra 
enquanto atributo e prática livre, torna-se indecente. Ela deixa de ser assunto público, 
visível e adentra o quarto dos pais, isto é, o quarto do casal, local para a procriação. A 
sexualidade é confiscada para o seio familiar; seu objetivo agora é a reprodução. O 
prazer não é mais o alvo, o objetivo final (FOUCAULT, 1976/2020). 
Surge, então, a repressão da sexualidade. É o silenciamento das práticas até 
então permitidas, é como se surgisse a “[...] constatação de que, em tudo isso, não há 
nada para dizer, nem para ver, nem para saber” (FOUCAULT, 1976/2020, p. 8). Fazendo 
um balanço com os dias atuais, Maio (2011) ressalta que, ainda hoje, no século XXI, “É 
inegável que vivemos numa tradição cultural na qual nosso corpo sofreu e ainda sofre 
uma série de repressões por meio de preconceitos, normas sociais, interditos [...] 
sofrendo com isso uma rigidez postural” (p. 38). 
Foucault (1976/2020) nos mostra como os discursos médicos passaram a exercer 
um papel central na patologização de determinadas práticas sexuais, denominadas de 
“perversões”, exercendo o papel de poder frente à uma verdade que detinha todo o 
conhecimento. Os discursos médicos, então, eram tomados como a norma, o correto e 
o que, por consequência, deveria ser seguido; tudo o que fugia à tal norma deveria ser 
corrigido, revertido. 
 
Na psiquiatrização das perversões, o sexo foi referido a funções biológicas e a 
um aparelho anátomo-fisiológico que lhe dá “sentido”, isto é, finalidade; também 
a um instinto que, através do seu próprio desenvolvimento e de acordo com os 
objetos a que pode se vincular, torna possível o aparecimento das condutas 
perversas e sua gênese, inteligivél (FOUCAULT, 1976/2020, p. 167). 
 
 É o que Louro (2004) aponta, ao elucidar que a partir do século XIX, homens 
vitorianos, que detinham o poder, começaram a fazer “descobertas”, entre aspas para 
enfatizar certa ironia, a respeito da sexualidade, definindo e classificando as práticas que 
 
recaiam nos corpos de homens e mulheres. Tais discursos passaram, como Foucault 
elucidou, a deter certa ideia de verdade e, por isso, não poderiam ser questionados. Com 
isso, 
 
Busca-se, tenazmente, conhecer, explicar, identificar e também classificar, 
dividir, regrar e disciplinar a sexualidade. Produzem-se discursos carregados da 
autoridade da ciência. Discursos que se confrontam ou se combinam com os da 
igreja, da moral e da lei (LOURO, 2004, p. 79). 
 
Hoje, nós presenciamos discursos que colocam a sexualidade enquanto 
heteronormativa, isto é, apenas a expressão/relação afetivo-sexual entre um homem e 
uma mulher heterossexual podem ser consideradas normais. Essa maneira de viver e 
experienciar as manifestações da sexualidade em uma compreensão heterocentrada 
possui como objetivo a construção de uma forma tida como “normal” de família, excluindo 
todas as outras possibilidades de vivência e expressão de relações (LOURO, 2004). 
Esquece-se no entanto que, “[...] a sexualidade se forma com base em um constructo 
histórico, que vai se integrando às construções física e psíquica de cada pessoa, 
determinando a sua expressão sexual; portanto, corporal” (MAIO, 2011, p. 39), sendo 
um fator subjetivo, único e multideterminado. Vê-se ainda que 
 
Se, nos dias de hoje, ela [a sexualidade] continua alvo da vigilância e do controle, 
agora se ampliaram e diversificaram suas formas de regulação, multiplicaram-se 
as instâncias e as instituições que se autorizam a ditar-lhe as normas, a definir-
lhe os padrões de pureza, sanidade ou insanidade, a delimitar-lhe os saberes e 
as práticas pertinentes, adequadas ou infames (LOURO, 2004, p. 27). 
 
Desta forma, percebe-se, aluno (a), que falar em em sexualidade é, ao mesmo 
tempo, falar em relações de poder. Foucault (1976/2020) nos apresenta dois conceitos 
extremamente importantes, em sua obra, para compreendermos a ideia de biopoder, isto 
é, o poder sobre a vida. O conceito de biopoder pode ser subdividido em: disciplina e 
biopolítica. A primeira se refere ao governo dos corpos, dos indivíduos e a segunda está 
relacionada ao governo da população. Ambos os conceitos estão relacionados, 
claramente, com a ideia de controle. O poder, na obra de Foucault, ilustra as diferenças 
entre quem detém o poder de superioridade para falar e ser ouvido e quem é silenciado, 
excluído, relegado à margem. 
 
Logo, nota-se que os interesses políticos possuem forte espaço no controle da 
sexualidade. Como Louro (2004) assinalou, os estados passaram a se preocupar com o 
controle populacional e, nesta lógica, com o controle da família e da reprodução. 
Aluno (a), neste ponto iremos adentrar em um outro conceito de extrema 
relevância na vasta obra de Foucault: o discurso. Para aprofundarmos nossa 
compreensão acerca da sexualidade, é de extrema relevância compreendermos como 
os discursos sobre a sexualidade nos atravessam, isto é, como os discursos são 
produzidos, (re)produzidos, e transformados. 
Para Foucault (1970/2014) o discurso pode ser compreendido como o ato de falar, 
transmitir determinadas ideias e possuir a capacidade de articulá-las em qualquer campo 
de comunicação. No entanto, o discurso exerce um controle quando se limita quem, 
onde, como e quando falar, isto é, o poder entra em cena, como sendo a capacidade e 
a possibilidade de exercer a fala. Com isso, vê-se que não são todas as pessoas, em 
todos os espaços, que podem falar; ao contrário, o silenciamento e a exclusão são 
fatores presentes quando se estabelece uma ordem do discurso. 
 
[...] ninguém entrará na ordem do discurso se não satisfizer a certas exigências 
ou se não for, de início, qualificado para fazê-lo. Mais precisamente: nem todas 
as regiões do discurso são igualmente abertas e penetráveis; algumas são 
altamente proibidas [...], enquanto outras parecem quase abertas a todos os 
ventos e postas, sem restrição prévia, à disposição de cada sujeito que fala 
(FOUCAULT, 1970/2014, p. 35). 
 
 Ainda para o autor, podemos compreender o discurso através de duas partes: a 
primeira, diz respeito aos processos externos ao sujeito, sendo eles: 
 
● A interdição, que se refere à criação de certos silenciamentos, interditos, em 
relação ao que pode ou não ser dito; 
● A separação/rejeição, que define quem possui o direito privilegiado de falar; 
● A oposição entre verdadeiro x falso, que serve como uma forma de organização 
dos discursos, com o reconhecimento de certas posições como verdadeiras e 
legítimas e outras, ao contrário, tidas como falsas. 
 
Na segunda parte, temos os procedimentos internos ao sujeito, sendo eles: 
 
 
● O comentário, em que quem fala possui a capacidade de repetir e reafirmar 
determinado discurso, expandindo-o; 
● O autor, que detêm a capacidade de colocar uma origem e identidade frente ao 
saber; 
● A organização das disciplinas, que serve como uma categorização dos 
discursos, enquadrando-os em uma maneira de “encaixotar”, digamos assim, o 
conhecimento, a fim de eleque caiba em determinados espaços e círculos sociais. 
 
Desta forma, aluno (a), podemos compreender como o discurso possui um papel 
de extrema importância no que tange o tema da sexualidade. A partir dos pressupostos 
elencados, se realizarmos uma breve e rápida reflexão, poderemos perceber que as 
instituições que possuem o poder de determinar a norma sempre possuem um interesse 
velado que serve apenas para uma parcela específica da população. 
 
 
 
3 AS ABORDAGENS DE EDUCAÇÃO SEXUAL ATRAVÉS DA HISTÓRIA E SEUS 
REFLEXOS NO COTIDIANO PARA A ESCOLARIZAÇÃO BRASILEIRA FRENTE À 
EQUIDADE DE GÊNERO 
 
 
Id da imagem: 95455135 
 
 
No Brasil, os estudos e pesquisas sobre gênero tiveram início com o movimento 
feminista. É a partir da década de 1970 que mulheres, principalmente ligadas às 
universidades, ganham visibilidade e espaço para a discussão de questões ligadas à 
temática. O foco inicial eram as pesquisas sociais, dando-se início à realização de 
eventos, produção de livros e artigos que traziam a ideia de “estudos sobre mulher” como 
marca para demarcar esta nova área de estudos (HEILBORN e SORJ, 1999). 
 
A defesa do uso do conceito de gênero, acompanhando o debate internacional, 
passou a adquirir caráter relacional e a abarcar a definição e a estruturação das 
relações sociais, englobando as dimensões de classe, raça, etnia e geração na 
procura de apreensão das distintas formas de desigualdade (VIANNA, 2017, p. 
53). 
 
Uma observação importante é que não podemos deixar de mencionar, refere-se 
ao trabalho importante de Scott (1995) que, com o artigo intitulado Gênero: uma 
 
categoria útil de análise histórica, trouxe importantes reflexões para que possamos 
compreender gênero enquanto uma categoria de poder. Neste trabalho, a autora traz o 
pioneirismo do termo gênero e seu surgimento com as feministas americanas. É no seu 
trabalho, também, que encontramos o gênero de maneira ampla, em que ela o 
compreende como sendo 
 
[...] utilizado para designar as relações sociais entre os sexos. [...] o termo 
“gênero” torna-se uma forma de indicar “construções culturais” - a criação 
inteiramente social de idéias sobre os papéis adequados aos homens e às 
mulheres. Trata-se de uma forma de se referir às origens exclusivamente sociais 
das identidades subjetivas de homens e de mulheres. “Gênero” é, segundo esta 
definição, uma categoria social imposta sobre um corpo sexuado (SCOTT, 1995, 
p. 75). 
 
Voltando ao cenário nacional, Heilborn e Sorj (1999) pontuam que é a partir da 
década de 1980 que há, nos espaços acadêmicos, uma significativa e gradativa 
alteração do termo “mulher”, passando a ser substituído pelo termo “gênero”, em que 
 
Em termos cognitivos esta mudança favoreceu a rejeição do determinismo 
biológico implícito no uso dos termos sexo ou diferença sexual e enfatizou os 
aspectos relacionais e culturais da construção social do feminino e masculino. 
Os homens passaram a ser incluídos como uma categoria empírica a ser 
investigada nesses estudos e uma abordagem que focaliza a estrutura social 
mais do que os indivíduos e seus papéis sociais foi favorecida (HEILBORN & 
SORJ, 1999, p.4). 
 
Nesta época, segundo Heilborn e Sorj (1999), a alteração dos termos supracitados 
proporcionou maior visibilidade e aceitação de pesquisas relacionadas sobre gênero no 
âmbito acadêmico, ganhando maior espaço e reconhecimento, além de financiamentos 
para pesquisas. 
Aluno (a), é muito importante que você conheça esses fatos acima pontuados. 
Essa alteração do termo, como vimos, proporcionou um maior espaço para abarcar 
outras temáticas de estudo, o que reflete até as pesquisas até os dias de hoje. Desta 
maneira, podemos compreender como o movimento feminista, no Brasil, possui papel de 
destaque no que tange às questões de gênero. Agora, vamos conhecer um pouco sobre 
a inserção deste tema nas escolas. 
Em relação às discussões do gênero e da sexualidade dentro dos espaços 
escolares, Martin (2017) pontua que ainda hoje há uma compreensão equivocada, em 
 
que muitos, erroneamente, compreendem sexualidade enquanto ligada às genitálias, isto 
é, pensamento que remete aos órgãos sexuais e, consequentemente, na relação sexual. 
Como consequência, ao ignorarmos as discussões acerca da sexualidade embasados 
em tais pensamentos, estamos ignorando aspectos extremamente importantes e 
relevantes, como a cultura, valores e cidadania. 
Ainda, nas escolas tende a ter um silenciamento desta temática, e, por isso, 
 
[...] a preocupação com a sexualidade geralmente não é apresentada de forma 
aberta. Indagados/as sobre essa questão, é possível que dirigentes ou 
professores/as façam afirmações do tipo: “em nossa escola nós não precisamos 
nos preocupar com isso, nós não temos nenhum problema nesta área”, ou então, 
“nós acreditamos que cabe à família tratar desses assuntos”. [...] É indispensável 
que reconheçamos que a escola não apenas reproduz ou reflete as concepções 
de gênero e sexualidade que circulam na sociedade, mas que ela própria as 
produz (LOURO, 2003, p. 80). 
 
Desta maneira, quando há o silenciamento dessas discussões dentro do espaço 
escolar, há um interdito, uma perda na possibilidade em realizar construções históricas 
e debates extremamente importantes, visto que a escola, na maioria das vezes, ignora 
discutir tais questões, deslegitimando as diferenças dos sujeitos que estão inseridos, 
inclusive, dentro do próprio ambiente escolar. Não raro, destaca-se, há imensa 
dificuldade e falta de preparo da própria escola para lidar com essas questões (MARTIN, 
2017). 
Por tanto, é preciso compreender que a escola possui um papel ativo na 
construção dos conhecimentos acerca da sexualidade e, por consequência, na educação 
sexual. Segundo Louro (2003), o projeto de uma educação sexual, tema de grande 
preocupação e polêmica, cria discussões que vão desde as instituições que deveriam se 
responsabilizar por ela e como seria sua execução e manejo. Não obstante, questões 
como essa surgem por parte da própria escola: 
 
[...] como educamos para as questões de gênero? De que maneira a organização 
dos grupos/turmas de alunos e alunas, bem como a escolha dos livros, dos jogos 
e outros materiais didáticos, proporcionam às crianças espaços escolares que 
integram a diversidade de forma positiva? Como é que os professores e as 
professoras se situam nestas questões e orientam suas práticas educativas? 
(CARDONA; PISCALHO; UVA, 2015, p. 49). 
 
 
Desta forma, é preciso que nosso olhar esteja atento para os impactos sociais do 
fato de não abordarmos questões relacionadas à sexualidade dentro dos espaços 
escolares. Situações de violências, por exemplo, é um fator importante e que merece 
atenção. Precisamos, ainda, olhar para o currículo docente do ensino superior, a fim de 
compreendermos como os professores e professoras vêm sendo preparados/as para 
essas discussões, pois, como aponta Maio (2012): 
 
A escola pode deixar de ser um espaço de opressão e repressão na questão da 
sexualidade, para se tornar um ambiente efetivamente seguro, livre e educativo 
para todas as pessoas. E, hoje, não é mais possível que as questões relativas à 
sexualidade passem despercebidas ou que sejam tratadas com deboche ou 
indignação moral (MAIO, 2012, p. 72). 
 
Sendo assim, ao trabalharmos questões relacionadas à sexualidade, é possível e 
emergente o trabalho pautado em uma equidade de gênero. Aluno (a), você sabe o que 
significa a palavra equidade? 
Segundo o Dicionário Michaelis On-line, equidade pode ser compreendida como 
a “consideração em relação ao direito de cada um, levando em conta o que se considera 
justo”. O que isso significa? Significa que a equidade está relacionada à justiça, em que 
é levando em consideração as necessidades individuais e específicas de determinadas 
pessoas ou grupos, não da totalidade. 
Para ilustrar, trago a imagem abaixo em que a primeira se refereà IGUALDADE. 
Veja que os três sujeitos possuem o mesmo recurso para conseguirem enxergar o outro 
lado da cerca, mas um deles não alcança; a figura ao lado, no entanto, representa a 
EQUIDADE, em que, devido à sua necessidade, o sujeito menor passa a receber 
recursos suficientes para que consiga enxergar o outro lado da cerca. Interessante, não 
é?! 
 
 
 
 
Figura 2 - Equidade 
 
 
Id da imagem: 1907736232 
 
Neste caminho, ao pensarmos acerca da equidade e dos estudos relacionados ao 
gênero e sexualidade, com ênfase na questão do gênero feminino, 
 
[...] a educação se revela como política pública para romper com os padrões de 
gênero, a fim de alcançar a equidade. A educação não é apenas um importante 
instrumento de prevenção contra a violência doméstica e familiar contra a 
mulher, mas também um direito humano fundamental a que todos, sem qualquer 
tipo de distinção, devem ter acesso (KNIPPEL e AESCHLIMANN, 2017, p. 61). 
 
 Aluno (a), com estes apontamentos, podemos compreender a importância de um 
olhar para a equidade nas relações, seja no âmbito escolar ou fora dele. Neste cenário, 
a educação é uma política pública de grande importância para o desenvolvimento de um 
olhar que seja humano e, acima de tudo, respeite as diferenças. 
 
 
4 PREVENÇÃO DO PRECONCEITO E DISCRIMINAÇÃO, NO RESPEITO A 
ALTERIDADE E ÀS IDENTIDADES CULTURAIS 
 
 
Id da imagem: 1810676716 
 
 Aluno (a), neste momento iremos estudar sobre a importância do trabalho 
preventivo frente às situações de preconceito e discriminação, com ênfase para o 
ambiente escolar, e a importância do respeito às diferenças sociais, raciais, culturais e 
de gênero. 
 Passador (2017) aponta que gênero, sexualidade e classe são vistos como 
marcadores sociais que excluem, separam e segregam as pessoas, definindo 
identidades e delimitando fronteiras de acessos a determinados recursos e espaços. 
Neste caminho, são estabelecidas determinadas características aceitáveis, isto é, tidos 
como “normalidade”, enquanto outras passam a ser excluídas, em que “O processo de 
marcar e significar valorativa e hierarquicamente as diferenças sociais é o que da 
princípio ao que chamamos de discriminação” (p. 18). Mas o que isso significa? 
 Nas próprias palavras do autor, isso significa que é através deste processo de 
classificar e hierarquizar as pessoas que nós vamos demarcando e assinalando àquelas 
consideradas mais importantes, construindo identidades de acordo com os marcadores 
que são construídos socialmente. 
 
 
Neste sentido, 
 
Vamos, portanto, produzindo e classificando não apenas diferenças, mas 
também desigualdades. E, ao produzirmos desigualdades, legitimamos formas 
de tratamento discriminatório e excludente, o que inclui formas de recriminação 
e repressão – e até mesmo de patologização e/ou de criminalização 
(PASSADOR, 2017, p. 19). 
 
 Ainda, faz-se necessário destacar que, segundo Vianna (2017), o próprio espaço 
escolar passa a reproduzir, muitas vezes, uma visão discriminatória e excludente, sendo 
necessário um olhar aguçado para as interações conflituosas que são mantidas dentro 
da instituição escolar e para os poderes que ali são exercidos. No Brasil, foi apenas a 
partir da década de 1990 que, de maneira tímida e cautelosa, os primeiros aparecimentos 
relacionados ao gênero passaram a adentrar o currículo escolar, tendo respaldo de 
documentos nacionais e internacionais. 
No entanto, o processo de discriminação é inaceitável, pois, como pontua 
Passador (2017), nossa sociedade é composta por uma ampla gama de diferenças, ou 
seja, somos um povo marcado pela pluralidade e diversidade de características. Neste 
aspecto, a escola possui um papel de extrema relevância e importância, pois ela passa 
a ser um espaço de promoção de mudança no que tange à construção da aceitação das 
diferenças e promoção da inclusão dos múltiplos modos de ser. Logo, temos um desafio 
pela frente, como pontua o autor, visto que 
 
O reconhecimento da diversidade como fato humano vivido por todas/os nós, e 
a garantia do direito a ela como fato histórico, social, político, econômico e 
cultural que nós mesmas/os construímos cotidianamente com nossos valores e 
práticas, é um desafio e um compromisso que precisamos assumir quando nos 
propomos a construir uma sociedade mais igualitária e na qual os direitos sejam 
efetivos para todas/os. Portanto, um desafio e um compromisso que devem ser 
assumidos em nossas escolas (PASSADOR, 2017, p. 22). 
 
 No entanto, infelizmente, o que podemos ver ao longo do tempo é que o 
conservadorismo invadiu os assuntos relacionados à questão de gênero e sexualidade 
nos currículos escolares, em que criou-se um pânico exagerado em relação aos assuntos 
abordados no âmbito educacional. Desta forma, retrocessos passaram a serem vistos 
cotidianamente, em que o silenciamento de determinados temas passou a vigorar no 
 
contexto escolar (VIANNA, 2017). Como consequência, o que se vê ainda são muitos/as 
“[...] professoras e professores dedicados ao tema [...] sozinhos/as, sem parcerias e sem 
força política para sustentar um trabalho denegrido pela maior parte da escola” (p. 65). 
Não obstante, Passador (2017) destaca ainda que a diversidade cultural deve ser 
compreendida enquanto um fenômeno que está presente em todas as partes do mundo 
e que “[...] a diversidade de culturas que a humanidade produziu e produz é uma 
consequência lógica dessa nossa condição e capacidade de produzirmos diferenças” (p. 
28). Sendo assim, “A diversidade é, portanto, uma realidade incontornável, que exige 
reconhecimento e garantia de direitos, na direção da superação da discriminação e 
exclusão social” (p. 30). 
Em conjunto com a discriminação, evidencia-se os processos de preconceitos. 
Segundo Passador (2017), o preconceito está enraizado em nossa cultura e, 
consequentemente, em nós mesmos, em que muitas vezes reproduzimos determinadas 
falas, comportamentos, gestos imbuídos de preconceitos, sem nos darmos conta; a isto 
chamamos de naturalização dos preconceitos. 
Neste caminho, a escola possui um papel chave, sendo o de “[...] estabelecer 
bases inclusivas que garantam não apenas a convivência entre os diversos, mas o 
reconhecimento deles como iguais em direitos, sem que eles precisem para tanto se 
descaracterizar como diferentes entre si.” (p. 40). 
 
Uma educação cidadã deve estar baseada na promoção da igualdade de direitos 
e no reconhecimento e valorização da diversidade. Isso exige que superemos 
um modelo de educação pensado como um processo de produção de 
homogeneidades padronizadas e normalizadas (PASSADOR, 2017, p. 41). 
 
 Sendo assim, a escola possui um papel extremamente empoderador relacionado 
à quebra de preconceitos relacionados à diversas categorias, como vimos acima. No que 
se refere ao gênero e sexualidade, a escola, através de inúmeras alternativas, pode 
assumir uma posição de criadora de espaços para novos pontos de vista, novas formas 
de pensar e, consequentemente, novas maneiras de agir sobre o mundo. 
 
 
 
SAIBA MAIS 
 
 
Aluno (a), pensando na relação entre gênero e feminismo, você sabia que existem 
algumas datas importantes que marcam a luta pelo fim da violência contra as mulheres? 
Essas datas são importantes, pois trazem visibilidade para a causa. No dia 25 de 
novembro é considerado o Dia Internacional da Não-Violência contra as mulheres. 
Também, o dia 06 de dezembro é tido como o Dia Nacional de Mobilização dos Homens 
pelo Fim da Violência contra as Mulheres. 
 
Fonte: MELLO, K. DIA INTERNACIONAL DE LUTA CONTRA A VIOLÊNCIA À MULHER - 25 DE 
NOVEMBRO. TelesaúdeRS, Porto Alegre-RS, 25/11/2021. Disponível em: 
<https://www.ufrgs.br/telessauders/noticias/dia-internacional-de-luta-contra-violencia-mulher-25-de-
novembro/> Acesso em: 15/04/2021. 
 
#SAIBA MAIS# 
 
REFLITA 
 
“Aqueles e aquelas que transgridem as fronteiras de gênero ou de sexualidade,que as 
atravessam ou que, de algum modo, embaralham e confundem os sinais considerados 
próprios de cada um desses territórios são marcados como sujeitos diferentes e 
desviantes”. 
 
Aluno (a), você já parou para pensar nisso? Como você enxerga o que é “normal” 
e “anormal” frente às outras pessoas? 
 
Fonte: LOURO, G. L. Um corpo estranho: ensaios sobre sexualidade e teoria queer. Belo Horizonte: 
Autêntica, 2004. 
 
#REFLITA# 
 
 
 
https://www.ufrgs.br/telessauders/noticias/dia-internacional-de-luta-contra-violencia-mulher-25-de-novembro/
https://www.ufrgs.br/telessauders/noticias/dia-internacional-de-luta-contra-violencia-mulher-25-de-novembro/
 
 
CONSIDERAÇÕES FINAIS 
 
Caro aluno (a), 
Chegamos ao fim da nossa primeira unidade. Você percebeu quantos assuntos e 
conceitos importantes estudamos até aqui? Como vimos na primeira unidade, é preciso 
compreender o conceito de gênero para que possamos expandir nossa compreensão 
das diferenças e, consequentemente, absorver novas maneiras de compreender o papel 
da sexualidade no currículo escolar. 
Ainda, realizamos uma importante contextualização histórica sobre os estudos de 
gênero e educação, principalmente no Brasil, estudando as construções históricas 
acerca do masculino e feminino, com os papéis sociais que são pré-determinados em 
relação aos sexos. 
Também, estudamos a sexualidade como sendo uma construção de ordem 
histórica, social, cultural, política e discursiva. Para tal estudo, nos ancoramos nos 
estudos basilares de Michel Foucault, compreendendo a importância e relevância dos 
discursos, bem como a noção de poder e seus efeitos. 
Na sequência, partimos para discussões relacionadas às abordagens da 
educação sexual através da história e seus reflexos no cotidiano para a escolarização 
brasileira frente à equidade de gênero. Para isso, conhecemos o papel dos estudos 
feministas, bem como a importância da temática da sexualidade dentro das escolas. 
Por fim, estudamos aspectos cruciais relacionados à prevenção do preconceito e 
da discriminação frente às diferenças no contexto escolar. 
Espero que você tenha aproveitado ao máximo os conteúdos que foram discutidos 
aqui. Nos encontramos na Unidade II para darmos continuidade nas discussões 
relacionadas à sexualidade, gênero e educação. 
Até logo! 
 
 
 
 
 
 
 
LEITURA COMPLEMENTAR 
 
Artigo: Formação em gênero e educação para a sexualidade: considerações acerca do 
papel da escola 
 
Resumo: Este artigo, por meio de uma pesquisa bibliográfica, propõe uma discussão 
acerca da formação em gênero e da educação para a sexualidade, na tentativa de 
compreender como a igreja, a família e a escola têm, historicamente, contribuído para a 
Educação, principalmente de crianças e jovens em idade escolar, de acordo com seus 
preceitos. Assim, defendemos que a família e a igreja podem contribuir na formação dos 
indivíduos – com afeto, carinho, costumes –, porém, à escola cabe disseminar 
conhecimentos científicos, de modo a mostrar as várias formas de vivenciar e construir 
as identidades pessoais, sempre com caráter emancipatório, para a convivência e o 
reconhecimento das diferenças, além do respeito entre os sujeitos. 
 
Palavras-chave: Gênero, educação, sexualidade, respeito. 
 
 
Texto completo disponível em: 
 
MAIO, E. R.; OLIVEIRA, M. de; PEIXOTO, R. Formação em gênero e educação para a 
sexualidade: considerações acerca do papel da escola. Revista NUPEM, Campo 
Mourão, v. 10, n. 20, 2018. Disponível em: 
<http://revistanupem.unespar.edu.br/index.php/nupem/article/view/353/332> Acesso 
em: 01/03/2021. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
http://revistanupem.unespar.edu.br/index.php/nupem/article/view/353/332
 
 
 
 
 
 
 
 
LIVRO 
 
 
 
• Título: Educação, Gênero e Feminismos: resistências bordadas com fios de luta. 
• Autora: Eliane Rose Maio (Organizadora) 
• Editora: Editora CRV 
• Sinopse: O livro apresenta as lutas do movimento feminista e que ainda se mostram 
constantes, pela igualdade e equidalide de direitos, entre as mulheres e os homens. As 
discussões sobre os feminismos fazem parte desta obra literária, em que se apresentam, 
em várias instâncias, como as mulheres (e aqui pontuamos todas as mulheres, de 
quaisquer etnias e raça), buscaram (e buscam) os seus direitos de equidade e 
igualdades, diferenciando-se daquelas que ainda são somente vistas como a “rainha do 
lar, da musa idolatrada pelos poetas e cantores, da mulher frágil, etc.”.O livro traz 
discussões e provocações em uma luta para que possamos ter um mundo mais justo e 
digno para todas as pessoas. 
 
 
 
 
 
 
FILME/VÍDEO 
 
 
• Título: Hoje eu quero voltar sozinho 
• Ano: 2014 
• Sinopse: O filme mostra o preconceito e a discrimação no ambiente escolar, tanto pela 
deficiência visual (o personagem principal é cego) quanto pela sua orientação sexual. O 
filme também trabalha com questões relacionadas à adolescência e à descoberta da 
sexualidade, os conflitos e a busca pela independência. 
 
 
 
WEB 
• No site Vivendo a Adolescência (link abaixo) é possível encontrar uma gama ampla de 
materiais que apresentam e trabalham com a proposta de uma Educação Integral em 
Sexualidade. Ainda, o site oferece informações, esclarece dúvidas e propõem atividades 
no que se refere à educação sexual. 
 
• Link do site: http://www.adolescencia.org.br/site-pt-br/educacao-integral-em-
sexualidade 
http://www.adolescencia.org.br/site-pt-br/educacao-integral-em-sexualidade
http://www.adolescencia.org.br/site-pt-br/educacao-integral-em-sexualidade
 
 
REFERÊNCIAS 
 
CARDONA, M. J.; NOGUEIRA, C.; UVA, M. Género e currículo no 1º ciclo do ensino 
básico. In: CARDONA, M. J. (coord.); NOGUEIRA, C.; VIEIRA, C.; PISCALHO, I.; UVA, 
M.; TAVARES, T.S.Guia de educação: género e cidadania - 1º ciclo. Lisboa-PT: 
Comissão para a cidadania e igualdade de género, 2015. 
CONNELL, R.; PEARSE, R. Gênero: uma perspectiva global. São Paulo: nVersos, 
2015. 
EQUIDADE. In: MICHAELIS, moderno dicionário da língua portuguesa. São Paulo: 
melhoramentos. Disponível em: <https://michaelis.uol.com.br/> Acesso em: 01/03/2021. 
LOURO, G. L. Gênero, sexualidade e educação: uma perspectiva pós-estruturalista. 
Petrópolis-RJ: Vozes, 2003. 
LOURO, G. L. Um corpo estranho: ensaios sobre sexualidade e teoria queer. Belo 
Horizonte: Autêntica, 2004. 
FOUCAULT, M. História da Sexualidade 1: a vontade de saber. Rio de Janeiro/São 
Paulo: Paz e Terra, 2020. (Originalmente publicado em 1976). 
FOUCAULT, M. A ordem do discurso: aula inaugural no Collège de France, 
pronunciada em 2 de dezembro de 1970. São Paulo: Edições Loyola, 2014. 
(Originalmente publicado em 1970). 
MAIO, E. R. O nome da coisa. Maringá: Unicorpore, 2011. 
MAIO, E. R. (Org.) Educação, gênero e feminismos: resistências bordadas com fios 
de luta. Curitiba: CRV, 2017. 
MAIO, E. R. Gênero, sexualidade e educação: questões pertinentes à pedagogia. In: 
MARTIN, S.A.F.; GUIBI, G. Y. (Orgs.) Educação em Saúde: formação para atenção às 
vulnerabilidades de crianças, adolescentes e jovens em espaços educacionais. 
Prefeitura Municipal de Presidente Prudente, SP: 2012. 
MAIO, E. R.; OLIVEIRA, M. de; PEIXOTO, R. Formação em gênero e educação para a 
sexualidade: considerações acerca do papel da escola. Revista NUPEM, Campo 
Mourão, v. 10, n. 20, 2018. Disponível em: 
<http://revistanupem.unespar.edu.br/index.php/nupem/article/view/353/332> Acesso 
em: 01/03/2021. 
MARTIN, S. A. de F. Gênero e sexualidade na educação: questão de direito. In: MAIO, 
E. R. (Org.) Educação, gênero e feminismos: resistências bordadas com fios de luta. 
Curitiba: CRV, 2017. 
OLIVEIRA, M. de; MOCHI, L. C. C. Gênero e sexualidade na escola: a educação 
enquanto possibilitadora do essencial direito à democracia! In: OLIVEIRA, M. de; 
https://michaelis.uol.com.br/
http://revistanupem.unespar.edu.br/index.php/nupem/article/view/353/332
 
MOCHI, L. C. C. (Orgs.) Gêneroe diversidade sexual: trilhando caminhos para uma 
educação mais justa. Curitiba: Bagai, 2020. 
KNIPPEL, E. L.; AESCHLIMANN, M. C. de A. N. Educação e equidade de gêneros. 
Revista da Escola Superior de Magistratura do Estado do Ceará, v. 15, n. 2, 2017. 
Disponível em: <http://revistathemis.tjce.jus.br/index.php/THEMIS/article/view/569/538> 
Acesso em: 01/03/2021. 
HEILBORN, M. L.; SORJ, B. Estudos de gênero no Brasil in: MICELI, S. (org.) O que 
ler na ciência social brasileira (1970-1995). São Paulo: Editora Sumaré, 1999. 
SCOTT, J. Gênero: uma categoria útil de análise histórica. Educação e realidade, Rio 
Grande do Sul, v. 20, n. 2, 1995. Disponível em: 
<https://seer.ufrgs.br/index.php/educacaoerealidade/article/view/71721> Acesso em: 
01/03/2021. 
PASSADOR, L. H. Diversidade na escola: diferenças, culturas e desigualdades In: 
FINCO, D.; SOUZA, A. dos S.; OLIVEIRA, N. R. C. de (Orgs.) Educação e resistência 
escolar [recurso eletrônico]: gênero e diversidade na formação docente.São Paulo: 
Alameda, 2017. 
VIANNA, C. Debates e embates de gênero: dos estudos às políticas e práticas 
educativas In: FINCO, D.; SOUZA, A. dos S.; OLIVEIRA, N. R. C. de (Orgs.) Educação 
e resistência escolar [recurso eletrônico]: gênero e diversidade na formação 
docente.São Paulo: Alameda, 2017. 
 
 
 
 
 
 
 
http://revistathemis.tjce.jus.br/index.php/THEMIS/article/view/569/538
https://seer.ufrgs.br/index.php/educacaoerealidade/article/view/71721
 
UNIDADE II 
EDUCAÇÃO DE GÊNERO E SEXUALIDADE NOS ESPAÇOS EDUCATIVOS 
Professor Especialista Jose Valdeci Grigoleto Netto 
 
 
Plano de Estudo: 
 
● Abordagens pedagógicas da educação sexual no Brasil; 
● Compreendendo os conceitos e as interfaces entre gênero e orientação sexual; 
● Recursos didático-metodológicos para um trabalho de Educação Sexual na 
Educação Infantil e Ensino Fundamental. 
 
 
 
Objetivos de Aprendizagem: 
 
● Contextualizar as abordagens pedagógicas que dialogam com a educação 
sexual no Brasil; 
● Compreender a relação e a diferença entre os conceitos de gênero e orientação 
sexual, destacando suas especificidades; 
● Estabelecer a importância e os tipos de recursos que podem ser empregados 
na sala de aula para trabalhar a Educação Sexual. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
INTRODUÇÃO 
 
 
Olá aluno (a)! 
Que bom reencontrar você. 
Seja bem-vindo (a) à segunda unidade da disciplina Gênero, Sexualidade e 
Educação. Agora, iremos conhecer os aspectos relacionados à prática do ensino da 
educação sexual dentro dos espaços educativos. Para isso, inicialmente faremos uma 
leitura acerca das abordagens educativas relacionadas à educação sexual, 
perpassando com alguns conceitos importantes e, por fim, iremos explorar os recursos 
que podem ser adotados para esta prática. 
No Tópico I iremos conhecer as abordagens pedagógicas da educação sexual 
no Brasil. Para isso, iremos realizar algumas reflexões acerca da inserção da 
educação sexual nos espaços educacionais e resgatar na história da educação do 
Brasil aspectos relacionados à temática. 
Avançando, no Tópico II iremos conhecer os conceitos de gênero e orientação 
sexual e suas interfaces, buscando diferenciá-los e, a partir disso, elencar suas 
especificidades, a fim de não reproduzir equívocos. 
Por fim, no Tópico III, iremos nos aproximar de alguns recursos didático-
metodológicos que podem ser utilizados para o trabalho de educação sexual na 
educação Infantil e, também, no ensino fundamental. 
A partir dos conteúdos acima elencados, espero que os textos e discussões 
aqui propostos sejam úteis e interessantes para embasar seus estudos e sua futura 
prática docente. 
Bons estudos! 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
1 ABORDAGENS PEDAGÓGICAS DA EDUCAÇÃO SEXUAL NO BRASIL 
 
 
ID: 1177489090 
 
Olá aluno (a), vamos dar início ao primeiro tópico deste unidade. Vamos iniciar 
apresentando as abordagens pedagógicas da educação sexual no Brasil. Vamos lá? 
De acordo com Pelegrini e Maio (2016), a sexualidade, ao longo do tempo, tem 
sido alvo de construções nas mais diversas esferas, principalmente no que tange à 
constituição subjetiva das pessoas. Ainda, é notável que ela está presente nos 
discursos, sejam eles ditos ou escritos, além de estar presente, também, na ausência 
dos discursos, em situações em que a sexualidade é rodeada por silêncios e 
proibições. 
Quando pensamos na inserção do tema da sexualidade nos currículos 
escolares, é importante destacarmos que sua inserção, desde o início, foi alvo de 
polêmicas que, mesmo ocasionando alguns avanços, também originaram inúmeros 
retrocessos no cenário educacional brasileiro. Para ilustrar, podemos citar as 
 
incansáveis discussões, desde o ano de 2010, instauradas nos espaços sociais 
quando deu-se início à construção dos Planos Nacionais, Estaduais e Municipais de 
Educação (PELEGRINI e MAIO, 2016). 
Não obstante, faz-se oportuno citar os próprios autores acima, quando pontuam 
que 
Um exemplo desses embates foi a supressão dos termos “gênero e 
orientação sexual” do texto original do Plano Nacional de Educação (2010. 
Essa disputa envolveu diferentes movimentos sociais e instituições, ganhou 
visibilidade e gerou repercussão alcançando os Planos dos Estados e 
Municípios em uma reação em cadeia. Muitas Manifestações ocorreram para 
que fossem retirados também desses planos as dimensões da diversidade 
sexual e de gênero (p. 129). 
 
Bem como, Furlaneto e Col (2018) realizaram um estudo em que pesquisaram, 
em alguns banco de dados online de produções científicas, com o recorte de período 
2010-2016, a questão da educação sexual em escolas brasileiras, com o objetivo de 
conhecer suas principais características, quais são os temas abordados e, ainda, 
quais os profissionais responsáveis por tal tarefa. Após a obtenção dos dados e 
enquanto resultado, percebeu-se que o que foi realizado nos espaços educativos não 
correspondem ao que está inserido nos Parâmetros Curriculares Nacionais, em 
relação à importância de que o tema seja abordado de maneira transversal, isto é, que 
atravesse e abarque todo o currículo escolar. 
Lima e Almeida (2010), na mesma vertente, assinalam que a inserção do tema 
da sexualidade nas práticas pedagógicas curriculares apresenta grandes dificuldades 
e barreiras, em que a oferta é superficial e rasa, não sendo proporcionado aos alunos 
e alunas um espaço para aprofundamento das questões necessárias, visto que 
 
[...] as políticas públicas são incipientes no que se refere ao preparo de 
profissionais de ensino para lidar com temas, tais como a sexofobia ou 
heterofobia, homofobia, heteronormatividade e outros preconceitos que estão 
presentes na sala de aula, incorporados desde muitos séculos atrás e antes 
da própria escola existir como instituição (p. 726). 
 
Neste caminho, é extremamente urgente que professores e professoras 
trabalhem com questões relacionadas à sexualidade e, ainda mais, ofereçam um 
conteúdo coeso e trabalhe com a verdade, no sentido de possibilitar o acesso à 
informação e que as transformem em conhecimentos que agreguem aos estudantes, 
 
traduzindo-as em informações imbuídas de uma linguagem acessível e clara. 
Ademais, é preciso englobar as mais diversas questões relacionadas à sexualidade, 
a saber: gravidez, aborto, Infecções Sexualmente Transmissíveis - IST, dentre outros 
(LIMA e ALMEIDA, 2010). 
Louro (2013) diz que há tempos alguns movimentos, tais como o movimento 
feminista, o movimento negro e o movimento das chamadas minorias sexuais, 
denunciam a ausência de suas histórias nos currículos escolares. O que muitas vezes 
podemos ver, é a realização simbólica de datas “comemorativas” que, em cada nível 
de ensino, apresentam atividades e eventos específicos. Com isso, as instituições 
escolares detêm determinado controle e poder em relação ao que é dito e 
apresentado, logo, os sujeitos pertencentes a tais categorias passam a assumir o 
papelde excêntricos e excepcional. 
 
A discussão da educação em sexualidade não é algo novo e provoca muitas 
controvérsias, pois é um tema pouco debatido e, quando discutido é 
perceptível o desconhecimento e a visão estereotipada por grande parte da 
população leiga. No que concerne ao tema, docentes, técnicos e teóricos da 
área têm dedicado anos de estudos para oferecer uma educação que 
promova a justiça social a partir da equidade de gênero para meninas e 
meninos (FREITAS, 2017, p. 134). 
 
É inegável que a escola deve refletir a realidade social na qual está inserida, 
isto é, ela possui, dentre outros, o papel de preparar os alunos e alunas para os 
processos sociais. Ainda, ela deve refletir aspectos relacionados à sexualidade e ao 
gênero. Um equívoco muito comum é a associação de sexualidade com relação 
sexual. Essa confusão é presente no imaginário social, o que acaba deixando o tema 
de lado, transformando-o em tabu. Como consequência, o silenciamento da 
sexualidade tende a deixar os alunos e alunas vulneráveis ao não receberem as 
informações de maneira adequada e pedagógica (MARTINI, 2016). 
 
É na escola que os adolescentes passam boa parte do seu tempo, e é nesse 
espaço que se complementa a educação dada no ambiente familiar. Na 
escola são abordados temas mais complexos que no dia-a-dia não são 
ensinados e aprendidos, tendo esta uma imensa responsabilidade na 
formação afetiva e emocional de seus alunos (OLIVEIRA e URBAN, 2016, p. 
02). 
 
 
A sexualidade, neste caminho, pode ser compreendida enquanto fazendo parte 
de todas as fases do desenvolvimento humano, estando relacionada com os campos 
das emoções e dos afetos, sendo de extrema importância e ocupando um papel que, 
como vimos, vai além do prazer físico (MARTINI, 2016). 
 Aluno (a), neste momento, você deve estar se perguntando: mas será que as 
coisas sempre foram assim no que diz respeito à sexualidade nos espaços 
educativos? Aqui, iremos destacar três momentos sociais que são de grande 
importância para compreendermos alguns avanços e retrocessos em relação à 
educação sexual. 
Segundo Oliveira e Urban (2016), tal tema já se configurava enquanto uma 
preocupação nos espaços escolares, no Brasil, desde o início do século XX em que, 
nas décadas de 1920 e 1930, médicos, professores e professoras e intelectuais da 
época, se debruçaram no tema. 
 Em 1922, Fernando de Azevedo, reformador educacional, foi responsável por 
responder a um questionário em relação à educação sexual. Tal questionário foi 
solicitado pelo Instituto de Higiene da Faculdade de Medicina e Cirurgia de São Paulo. 
A partir deste feito, deu-se origem a um movimento brasileiro que passou a se 
interessar pelo tema da sexualidade no âmbito educacional (OLIVEIRA e URBAN, 
2016). . 
 Pouco mais de uma década depois, em 1933, no estado do Rio de Janeiro, foi 
fundado o Circuito Brasileiro de Educação Sexual - CBES, sob responsabilidade do 
médico José de Oliveira Pereira de Albuquerque. O CEBS visava a produção de 
materiais relacionados à educação sexual, além de realizar eventos, reuniões e a 
produção de filmes. Ainda, o circuito possuía como objetivo “[...] prestar um serviço de 
instrução e esclarecimento no que tange aos assuntos de educação e higiene sexual, 
abordando questões biológicas, psicológicas e morais para a população brasileira” 
(OLIVEIRA e URBAN, 2016, p. 03). 
 Ainda segundo os autores, na década de 1960, um pouco antes do início da 
ditadura militar brasileira, a educação sexual passa a vigorar nos contextos 
educacionais, sendo inserida nos currículos. No entanto, com a ditadura militar em 
vigor, a sexualidade foi retirada e suprimida do contexto educacional. 
 
 
Como a ditadura impôs um regime de controle e moralização dos costumes, 
especialmente decorrente da aliança entre militares e o majoritário grupo 
conservador da igreja católica, a educação sexual foi definitivamente banida 
de qualquer discussão pedagógica por parte do Estado e toda e qualquer 
iniciativa escolar suprimida com rigor (OLIVEIRA e URBAN, 2016, p. 04). 
 
 
Aluno (a), com essas afirmativas, de recortes sociais, podemos perceber que, 
hoje, incluir nos currículos escolares tal temática foi (e ainda é) tarefa desafiadora. No 
entanto, é necessário que continuemos na luta para que o ensino da sexualidade faça 
parte dos espaços educativos, pois 
 
a sexualidade humana figura como um dos temas mais inquietantes e, quase 
sempre, mais recusados no universo prático do educador. Entretanto, cada 
vez mais a escola tem sido convocada a enfrentar as transformações das 
práticas sexuais contemporâneas, principalmente na adolescência, uma vez 
que seus efeitos se fazem alardear no cotidiano escolar (OLIVEIRA e URBAN, 
2016, p. 02). 
 
Sendo assim, como aponta Louro (2013), é necessário que os profissionais da 
educação se atentem à uma prática que seja desestabilizadora e que desconstrua a 
ideia de naturalidade da sexualidade e que, em vez disso, busque dar espaço ao 
caráter móvel, plural e o papel do social na construção da sexualidade. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
2 COMPREENDENDO OS CONCEITOS E AS INTERFACES ENTRE GÊNERO E 
ORIENTAÇÃO SEXUAL 
 
 
 
ID: 1043482492 
 
Aluno (o), na primeira unidade nós conhecemos o conceito de gênero, contando 
com algumas importantes referências para embasar nossos estudos. Neste momento, 
iremos conhecer outro conceito de extrema relevância: orientação sexual e, a partir 
disso, iremos tecer algumas reflexões acerca de ambos os conceitos e suas interfaces 
com o espaço educacional. 
Em síntese, para Jesus (2012, p. 12), orientação sexual pode ser compreendida 
enquanto a “[...] atração afetivossexual por alguém de algum/ns gênero/s”. Isto posto, 
podemos pensar que a 
 
Sexualidade, portanto, está ligada a fatores internos e externos ao ser 
humano, que num processo de interação mútua cooperam para a sua 
constituição. Frente a esta constatação, urge pensar a sexualidade como 
um processo dialético, no qual o ser humano influencia a construção de 
valores e normas sexuais e, simultaneamente, é influenciado pelas 
múltiplas e sucessivas experiências vividas e vivenciadas em contato 
com o meio social em que se insere (BISPO DE JESUS, 2014, p. 55). 
 
 
Nesta perspectiva, trago abaixo uma imagem interessante que pode nos 
auxiliar na compreensão do conceito de orientação sexual. Também, a imagem traz o 
conceito de identidade de gênero e de sexo biológico. Veja: 
 
Figura 1: Conceitos importantes 
 
Fonte: https://miro.medium.com/max/2026/1*fdQkEf7yXhQ_OaIyFNLuPA.png 
 
Aluno (a), viu como é interessante conhecermos esses aspectos? Ainda hoje, 
percebemos uma grande confusão nas pessoas quando se referem à orientação 
sexual. Como a imagem ilustra, a orientação sexual refere-se ao aspecto da atração, 
do desejo; já a identidade de gênero, ao lado do conceito de gênero, refere-se à 
maneira na qual nos enxergamos e nos identificamos. 
https://miro.medium.com/max/2026/1*fdQkEf7yXhQ_OaIyFNLuPA.png
 
Conhecer tais diferenças é um passo de extrema importância para que os 
professores e professoras possam conhecer as múltiplas formas de ser e estar no 
mundo que existem e, a partir disso, se aperfeiçoarem e sentirem-se seguros para 
levar para o espaço escolar as questões relacionadas à sexualidade. 
 
A simples conscientização tem o poder de modificar nosso posicionamento e 
ações diante do desafio das questões de gênero e sexualidade presentes nas 
salas de aula fazendo com que as expressões presenciadas e descritas no 
início desse texto muito corriqueiras em sala de aula deixem de existir. Como 
professoras/res não podemos ficar impassíveis, nem tomar atitudes 
discriminatórias, porque este assunto reflete diretamente na felicidade ou 
infelicidade de alunas/os sendo o mesmo importantíssimo para que essa 
pessoa consiga atingir uma vida eficaz e plenacomo indivíduo produtivo da 
sociedade sendo isso o principal objetivo da escola (SIQUEIRA e CALDAS, 
2020, p. 130). 
 
É pertinente citar, neste momento, a Base Nacional Curricular Comum - BNCC. 
Este documento, de ordem normativa, abrange conhecimentos contemporâneos que 
dialoguem com as necessidades de alunos e alunas de todo o país, visando a 
efetivação de direitos. O documento traz que, para o ensino de ciências, é ofertado o 
tema da sexualidade em conjunto com a reprodução humana, isto é, ligado aos 
aspectos biológicos dos sujeitos (BRASIL, 2018). Aluno (a), se faz importante, depois 
dos conteúdos que vimos na unidade anterior, problematizar: e as outras esferas? E 
a transversalidade da temática? Compete apenas à biologia lidar com o tema da 
sexualidade? Precisamos desenvolver um olhar atento para o tema, ao lembrarmos 
que a sexualidade se manifesta de maneira plural e, por isso, reflete em vários âmbitos 
de nossas vidas, e não apenas no campo biológico. 
Agora, aluno (a), quando pensamos nas interfaces entre a escola e as questões 
de gênero, você pode observar que a própria instituição escolar tende a gravar e a 
produzir alguns marcadores de gênero, é o que pontua Bispo de Jesus (2014), quando 
sinaliza que 
Em conformidade com as normatizações sociais tradicionalmente 
concebidas, acerca do comportamento masculino e feminino, a docilidade, a 
obediência às regras e o temperamento menos agitado, por exemplo, são 
expectativas, vulgarmente, direcionadas ao mundo feminino; já a 
desobediência aos regulamentos, a contestação às ordens e a agitação 
são atitudes aguardadas do mundo masculino (p. 60, grifo da autora). 
 
 
É válido mencionarmos, a partir disso, que essas questões não são de ordem 
natural. Ao contrário, são produzidas e reproduzidas diariamente no contexto escolar, 
social e familiar. Importante mencionarmos e produzirmos questões e debates acerca 
da ideia de “naturalização” dos acontecimentos sociais. Isso, inclusive, fica evidente 
no próprio contexto escolar, quando “[...] Diante de comportamentos que costumam 
fugir às regras de gênero e sexualidade, a tendência de docentes, homens e mulheres, 
é recriminar tais condutas, sinalizando para a forma como sujeitos masculinos e 
femininos devem agir para serem reconhecidos como tais” (BISPO DE JESUS, 2014, 
p. 61). 
 
Dessa maneira, muitas vezes, docentes homens e mulheres estimulam 
mais a participação de meninas nas aulas, face à representação do mundo 
feminino como sendo, naturalmente, comunicativo, enquanto os meninos 
pouco são convocados a participarem. Isto implica considerar que, consciente 
ou inconscientemente, a escola é capaz de erigir, junto aos sujeitos 
participantes do contexto escolarizado, conceitos de masculinidade e 
feminilidade a partir de afirmativas que lhes são apresentadas e que 
lhes esclarecem o significado social do que venha a ser homem e do que 
venha a ser mulher (BISPO DE JESUS, 2014, p. 62). 
 
 Desta forma, é de extrema importância que, Bispo de Jesus (2014), pensemos 
na escola enquanto formadora, inclusive, de caráter e da personalidade das pessoas, 
mesmo que de maneira discreta. A escola precisa, urgentemente, contribuir para a 
efetivação de espaços de expressão da sexualidade que não sejam excludentes e 
discriminatórios, mas sim que abarque a diversidade existente. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
3 RECURSOS DIDÁTICO-METODOLÓGICOS PARA UM TRABALHO DE 
EDUCAÇÃO SEXUAL NA EDUCAÇÃO INFANTIL E ENSINO FUNDAMENTAL 
 
 
ID: 1767364355 
 
 
Ainda hoje, realizar a organização de conteúdos relacionados à sexualidade 
para se trabalhar no contexto educativo é uma ação que tende a gerar desconforto e 
incômodo, tanto nos próprios professores e professoras quanto na população em geral 
(SACHI, 2018). 
Isso porque a escola, inclusive, é um espaço que ainda produz a inserção de 
marcadores de gênero em seus espaços, tais como: cartazes, filas, linguagem, 
brincadeiras, músicas, dentre outros. Curioso que, mesmo produzindo questões 
relacionadas ao gênero, a escola possui resistência para discutir sobre a temática 
(LEITE e ROMERO, 2017), ficando tal fato evidente quando notamos que 
 
Na Educação Infantil, por exemplo, notamos que os estereótipos de gênero 
se efetiva de diversas maneiras como o uso do diminutivo para referir-se ao 
 
corpo feminimo e o aumentativo para falar do masculino ou a separação de 
filas de meninas e meninos para a locomoção das crianças. É o mesmo com 
as cores dos materiais, a decoração dos cadernos, a divisão dos brinquedos, 
das brincadeiras. (LEITE e ROMERO, 2017, p. 145). 
 
Neste caminho, é importante questionarmos acerca do preparo e da formação 
dos professores e professoras para abordar questões relacionadas à sexualidade. 
Sabendo que estes profissionais são formadores de opinião (SACHI, 2018), é possível 
perguntar: será que há um adequado preparo para tal empreitada? 
Pensando nisto, é relevante que nos atentarmos para aspectos relacionados ao 
processo de ensino-aprendizagem, em que 
 
Não se pode ver o mundo pronto. Para isso é preciso pensar no processo 
ensino-aprendizagem, pois é por meio dele que educadores(as), formam 
opiniões nos(as) seus(suas) discentes. É necessário, antes de tudo, impelir 
em nós mesmos(as) perguntas e respostas que certamente nos levarão a 
esquadrinhar, perscrutar, observar e pensar sobre como nos foi ensinada 
essa questão da sexualidade. É evidente que, se não aprendemos, 
também não temos subsídios consideráveis para ensinar. (SACHI, 2018, 
p. 28, grifo nosso). 
 
 
Portanto, é urgente pensarmos (e repensarmos quantas vezes forem 
necessárias) acerca da formação destes profissionais. Percebe-se, pois, que nas 
universidades ainda é tímida a inserção de tais temas nos currículos. Nesta 
perspectiva, um caminho interessante é que os profissionais busquem outras formas 
de agregarem em sua formação o tema da sexualidade (SACHI, 2018). 
Hoje, existe uma vasta literatura que pode servir como base para os estudos e 
para a inserção do tema da sexualidade dentro dos espaços educativos. Entretanto, o 
que se percebe é que a sociedade ainda possui forte resistência para aceitar que se 
discuta a sexualidade no campo da educação, em que muitas vezes pais e mães e, 
inclusive, os próprios profissionais, por não possuírem conhecimentos e informações 
adequadas e suficientes, não aceitam que as crianças recebam estes conteúdos 
(SACHI, 2018). No entanto, não podemos aceitar isso e precisamos problematizar e 
colocar esse silenciamento em pauta, pois “cabe à sociedade desmistificar esse 
paradigma, mas cabe, principalmente, ao(à) educador(a) a incumbência de desnudar 
 
esse arquétipo que foi imposto na sociedade por meio de uma educação 
tradicionalista, engessada e arcaica” (p. 29). 
Outro ponto que merece destaque neste momento por estar relacionado com o 
processo ensino-aprendizagem é acerca do brincar. Aluno (a), você sabia que 
diversas pesquisas apontam que o brincar na escola, em especial na Educação 
Infantil, possui um papel de extrema importância? 
É o que apontam Leite e Romero (2017), sinalizando que o brincar tende a ser 
“[...] responsável por contribuir com o desenvolvimento físico, psíquico, cognitivo, 
motor, afetivo, entre outras competências dos alunos” (p. 146). Neste caminho, 
proponho uma reflexão: quantas vezes ouvimos falar, ou até mesmo já reproduzimos 
tal discurso, que meninos brincam de carrinho e meninas brincam de bonecas? 
 
Se consideramos apenas o dualismo limitado, reforçado nos ambientes 
escolares, a brincadeira de boneca, acaba por ser entendida exclusivamente 
como “coisa de menina”. Esta concepção está fortemente ligada à 
representação de mulher como quem deve cuidar do lar e o homem com 
quem o provê. Entretanto, eis nesta ideia além de um hiato explícito de gênero 
(mulher dócil, homem viril), uma contradição com a própria“realidade” 
contemporânea, visto que as mulheres exercem outros papéis, como 
estudante, trabalhadora, motorista, entre outros (LEITE e ROMERO, 2017, 
p.147). 
 
Nos espaços escolares, infelizmente, esse discurso, muitas vezes, se faz 
presente. Está em ação o que chamamos de binarismo, isto é, a ideia de que só 
existam duas formas de brincadeiras: de meninos e de meninas. A existência deste 
pensamento, faz com que limitemos o brincar e coloquemos em ação questões de 
gênero que tendem a reproduzir um pensamento de que exista “brincadeiras de 
meninos e brincadeiras de meninas”. 
E a escola nisto tudo? O que a escola produz e fala sobre sexualidade? Sachi 
(2018) aponta que, não raro, os discursos dos responsáveis familiares estão 
carregados de falas em que se encontra a afirmação de que a escola não é o espaço 
para se aprender sobre sexualidade. No entanto, a autora sinaliza que não é apenas 
na escola que esse conteúdo chega até as crianças, a diferença é que neste espaço 
o conteúdo é transmitido de maneira pedagógica e, logo, responsável. 
 
 
Ao levarmos em conta que a criança, a partir do seu nascimento, já entra em 
contato com o mundo por meio de diversas situações, a escola certamente 
não será seu primeiro ambiente de aprendizagem. Devemos levar em conta 
que as relações que essa mesma criança desenvolve com o meio em que 
está inserida fazem com que ela aprenda, de modo pedagógico ou não. O 
contato com outros seres humanos, os meios de comunicação e a mídia são 
fontes ricas de informação e de aprendizado. Entretanto, salientamos que, 
nos dias atuais, as crianças entram em contato com essas mídias cada vez 
mais cedo e sem a orientação de adultos (SACHI, 2018, p. 31). 
 
A partir disso, aluno(a), podemos perceber, conforme pontua Sachi (2018), o 
quão importante é que haja pessoas comprometidas e capacitadas para orientar as 
crianças acerca dessa temática. Também, é preciso que compreendamos que 
vivemos em uma sociedade atravessada e marcada pelas diferenças e pela 
multiplicidade de modos de viver, ou seja, precisamos desconstruir a ideia de que ser 
diferente é ser anormal e/ou errado. Não obstante, ainda nas palavras da autora 
 
Levar em consideração que cada sujeito faz parte de um todo, e por conta 
disso ele se constitui de raça, classe, religião, etc., permite que façamos com 
que ele se incomode com a realidade exposta e busque respostas até então 
não encontradas de forma satisfatória, bem como faz com que facilitemos 
essa desconstrução, possibilitando de forma mais esclarecedora um novo 
aprendizado composto de questionamentos e possíveis respostas (p. 32). 
 
 
Um exemplo de prática para se trabalhar nas salas de aula é a utilização de 
livros infantis que trazem consigo questões que possam nortear discussões e, 
consequentemente, o trabalho educativo. Neste caminho, Leite e Romero (2017) 
apresentam o livro O menino que ganhou uma boneca, da autoria de Majô Baptistoni, 
enquanto instrumento para trabalhar, dentro dos espaços educativos, questões 
relacionadas à sexualidade. As autoras sugerem que a obra seja lida em conjunto com 
as crianças, a fim de que todas possam participar das discussões oriundas; os 
professores e professoras, neste momento, possuem grande importância, pois serão 
responsáveis pela mediação das discussões e problematizações. 
Claro que esta atividade não precisa se limitar com o livro proposto, mas sim 
que os/as docentes possam explorar novos materiais e recursos para o trabalho dentro 
da sala de aula, contando com o objetivo de desconstruir ideias preestabelecidas e 
socialmente construídas. 
 
Outro recurso importante e útil é a utilização de filmes que abordam, de maneira 
responsável, a questão da sexualidade. A partir da exibição dos filmes, é possível que 
os professores elaborem questões disparadoras, a fim de produzir discussões e 
debates relacionados à temática. Ainda, é possível utilizar pinturas, charges e vídeos 
(RIBEIRO, 2013). 
 
A metodologia utilizada pelo professor pode ser a mais variada possível 
observando e avaliando qual melhor didática sobre sexualidade lidar em cada 
sala de aula. Diálogo, seminário, pesquisas, debates, mesas redondas, 
palestras e formas lúdico-culturais que estimulem os alunos no entendimento 
de dificuldades sexuais presentes na adolescência (LIMA e ALMEIDA, 2010, 
p. 729). 
 
Ademais, é importante sabermos, como pontua Ribeiro (2013, p. 61), que 
 
Nesse redemoinho de possibilidades, [é necessário] criar estratégias para 
ouvir as crianças, escutá-las, desde a mais tenra, saber que trazem consigo 
construções de gênero desiguais, sexistas, pois foram anos e anos de 
adestramento em que, não só a sexualidade vem sendo vigiada e 
normatizada, mas a identidade de gênero é construída diferentemente para 
homens e mulheres, meninos e meninas. 
 
 Também, é importante que cada professor e professora busque desenvolver 
seus próprios recursos, de maneira criativa e que reflita a necessidade de seus alunos 
e alunas, a fim de que a experiência de obter conhecimentos acerca da sexualidade 
seja uma tarefa que proporcione a efetiva participação e interesse dos discentes. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
SAIBA MAIS 
 
Aluno (a), é muito importante que você conheça as diferentes nomenclaturas 
relacionadas à sexualidade a fim de evitar a repetição e produção de informações 
incorretas. Um exemplo: Orientação Sexual é o termo correto para expressar a 
maneira na qual uma pessoa se sente atraída física e/ou emocionalmente por outra. 
O termo Opção Sexual está incorreto, pois ninguém escolhe sua orientação sexual, 
visto que ela faz parte do desenvolvimento individual de cada pessoa. 
 
Para aprofundar a leitura nessa temática, acesse o material abaixo: 
 
Fonte: JÚNIOR, I. B. O.; MAIO, E. R. Opção ou orientação sexual: onde reside a homossexualidade? 
Anais do III Simpósio Internacional de Educação Sexual “Corpos, Identidade de Gênero e 
Heteronormatividade no espaço escolar”, Maringá - PR, 2013. Disponível em: 
http://www.sies.uem.br/anais/pdf/diversidade_sexual/3-02.pdf 
 
 
REFLITA 
 
“”Trabalhar com a sexualidade no ambiente escolar ainda sinaliza um longo caminho. 
Talvez com mais clareza, desejos, discernimentos, mas ainda é preciso muito para 
que a educação sexual escolar se faça presente enquanto um projeto pedagógico 
coerente e adequado”. 
 
Fonte: MAIO, E. R. O nome da coisa. Maringá: Unicorpore, 2011. 
 
#REFLITA# 
 
 
 
 
 
#CONSIDERAÇÕES FINAIS# 
 
Caro aluno (a), 
Chegamos ao fim da segunda unidade de estudos. Até aqui, já avançamos nos 
estudos relacionados ao gênero, sexualidade e educação. Como vimos na nesta 
unidade, as abordagens pedagógicas da educação sexual no Brasil passaram por 
grandes transformações através do último século, refletindo, inclusive, na maneira que 
a educação sexual é trabalhada atualmente no contexto escolar. 
Também, compreendendo os conceitos e as interfaces entre gênero e 
orientação sexual, refletindo acerca de como tais conceitos, de vasta importância, são 
abordados e, além disso, vividos no contexto escolar, seja por alunos e alunas ou pelo 
corpo docente. 
Por fim, no último tópico, encerramos com a apresentação de alguns recursos 
didático-metodológicos para a execução de um trabalho de Educação Sexual na 
Educação Infantil e Ensino Fundamental, que contemple e dê conta das necessidades 
contemporâneas. 
Com os conteúdos apresentados, espero que você tenha aproveitado ao 
máximo cada informação exposta. Nos encontramos na Unidade III para darmos 
continuidade nas discussões relacionadas à temática da sexualidade. 
Até logo! 
 
 
#LEITURA COMPLEMENTAR# 
 
 
Artigo: Gênero e sexualidade: pedagogias contemporâneas 
 
Resumo: Gênero e sexualidade são construídos através de inúmeras aprendizagens 
e práticas, empreendidas por um conjunto inesgotável de instâncias sociais e culturais, 
de modo explícito

Outros materiais