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Gênero, Sexualidade e Educação (UniFatecie)

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Prévia do material em texto

Gênero, Sexualidade e 
Educação
Professor Esp. Jose Valdeci Grigoleto Netto
EduFatecie
E D I T O R A
Reitor
Prof Ms. 
Diretor de Ensino 
Prof Ms. 
Diretor Financeiro
Prof
Diretor Administrativo 
Secretário Acadêmico 
Prof
Coordenação Adjunta de Ensino 
Prof a
Coordenação Adjunta de 
Pesquisa 
Prof
Coordenação Adjunta de 
Extensão 
Coordenador NEAD - Núcleo de 
Educação a Distância 
Web Designer
Revisão Textual
e Diagramação
UNIFATECIE Unidade 1 
UNIFATECIE Unidade 2 
(
UNIFATECIE Unidade 3 
UNIFATECIE Unidade 4 
www.unifatecie.edu.br/site/
As imagens utilizadas neste 
livro foram obtidas a partir 
do site ShutterStock
20 by Editora EduFatecie 
Copyright do Texto © 20 Os autores 
Copyright © Edição 20 Editora EduFatecie
o download da obra e o compartilhamento desde que sejam atribuídos créditos aos autores, mas sem a 
EQUIPE EXECUTIVA
Editora-Chefe 
Prof
 Sbardeloto
Tatiane Viturino de
Oliveira
André Dudatt
www.unifatecie.edu.br/
editora-edufatecie
edufatecie@fatecie.edu.br
 
 Dados Internacionais de Catalogação na Publicação - CIP 
 
G857g Grigoleto Netto, José Valdeci 
 Gênero, sexualidade e educação / José Valdeci Grigoleto 
 Netto. Paranavaí: EduFatecie, 2021. 
 81 p. : il. Color. 
 
 ISBN 978-65-87911-70-0 
 
1. Identidade de gênero na educação. 2. Educação sexual. 
 I. Centro Universitário UniFatecie. II. Núcleo de Educação a 
 Distância. III. Título. 
 
CDD : 23 ed. 306.7 
 Catalogação na publicação: Zineide Pereira dos Santos – CRB 9/1577 
AUTOR
Professor Jose Valdeci Grigoleto Netto
●	 Mestrando	em	Psicologia	(Universidade	Estadual	de	Maringá,	Maringá	-	PR);	
●	 Graduado	em	Psicologia	(Centro	Universitário	Ingá	-	UNINGÁ,	Maringá	-	PR);
●	 Especialista	em	Educação	Especial	e	Inclusiva	(Faculdade	de	Tecnologia	e		 	
	 Ciências	do	Norte	do	Paraná	-	UNIFATECIE,	Paranavaí	-	PR);
●	 Especialista	em	Saúde	Mental,	Psicopatologia	e	Atenção	Psicossocial	(Centro		
	 Universitário	de	Maringá	-	UNICESUMAR,	Maringá	-	PR);
●	 Membro	do	Grupo	de	Pesquisa	DeVerso	-	Sexualidade,	Saúde	e	Política	
	 (Universidade	Estadual	de	Maringá,	Maringá	-	PR).
●	 Professor	orientador	de	Trabalhos	de	Conclusão	de	Curso	(TCC)	da	Pós-
	 Graduação	Lato	Sensu	(EAD)	do	Centro	Universitário	de	Maringá	-	UNICESUMAR.
Possui	experiência	na	área	da	política	pública	de	Assistência	Social,	estudos	de	
gênero,	diversidade	sexual,	e	educação	especial	e	inclusiva.	Atualmente,	no	mestrado,	pes-
quisa	acerca	da	subjetividade	e	das	práticas	sociais	na	contemporaneidade,	com	ênfase	
nas	relações	de	gênero.
Link	para	acesso	ao	currículo	lattes:	http://lattes.cnpq.br/2661321527310427	
APRESENTAÇÃO DO MATERIAL
Olá,	aluno(a)!	
Seja	bem-vindo(a)	à	disciplina:	Gênero,	Sexualidade	e	Educação.	Neste	momento,	
você	terá	a	oportunidade	de	conhecer	a	interface	entre	estes	três	temas	que,	muitas	vezes,	
quando	trabalhamos	em	conjunto,	despertam	receio	e	desconfiança	por	parte	dos	profissio-
nais	da	educação	e,	também,	da	sociedade.
Para	desenvolvermos	um	trabalho	interessante	e	agradável,	a	disciplina	foi	dividida	
em	quatro	unidades	e,	em	cada	uma	delas,	iremos	trabalhar	alguns	temas	que	se	relacio-
nem	entre	si.	Vamos	conhecer	cada	um	deles	detalhadamente?
Para	iniciar,	na	Unidade	I	iremos	realizar	um	apanhado	histórico	acerca	da	cons-
trução	 histórica	 dos	 temas	 envolvidos	 na	 disciplina	 e,	 a	 partir	 disso,	 correlacionar	 suas	
perspectivas	com	a	educação	sexual.	Para	tanto,	será	destacada	a	contextualização	his-
tórica	sobre	os	estudos	de	gênero	e	educação.	Na	sequência,	iremos	nos	atentar	para	a	
sexualidade	enquanto	uma	construção	histórica,	social,	cultural,	política	e	discursiva.	Dando	
continuidade,	 iremos	conhecer	alguns	paradigmas	subjacentes	às	várias	abordagens	de	
educação	sexual	através	da	história	e	seus	reflexos	nos	cotidianos	das	sociedades,	com	
destaque	para	a	escolarização	brasileira,	a	educação	para	sexualidade	e	para	a	equidade	
de	gênero.	Ao	final	da	unidade,	daremos	atenção	à	importante	prevenção	do	preconceito	e	
discriminação,	no	respeito	à	alteridade	e	às	identidades	culturais.
Concluído	este	momento,	iremos	avançar	para	a	Unidade	II	em	que	iremos	traba-
lhar	a	educação	de	gênero	e	sexualidade	nos	espaços	escolares.	Nesta	perspectiva,	será	
dada	atenção	especial	para	as	abordagens	pedagógicas	da	educação	sexual	no	Brasil.	
Ainda,	compreenderemos	os	conceitos	e	as	interfaces	entre	gênero	e	orientação	sexual.	
Para	finalizar,	iremos	nos	debruçar	no	conhecimento	dos	recursos	didático-metodológicos	
para	um	trabalho	de	Educação	Sexual	na	Educação	Infantil	e	Ensino	Fundamental.	
Seguindo	adiante,	na	Unidade	III	iremos	voltar	nossa	atenção	para	a	questão	da	
sexualidade	 na	 infância	 e	 adolescência.	Desta	maneira,	 realizaremos	 um	diálogo	 sobre	
crianças	e	adolescentes,	gênero	e	sexualidade	na	 interface	entre	 tais	 temas.	Após	 isso,	
estudaremos	a	questão	da	violência	sexual	infantil	e	seus	desdobramentos.	Para	finalizar,	
como	 tema	extremamente	 importante,	dar-se-á	um	destaque	especial	para	a	 integração	
entre	escola	e	família.	
Ao	 fim	da	 disciplina,	 na	Unidade	 IV,	 trabalharemos	 as	 práticas	 pedagógicas	 com	
base	em	uma	educação	sexual	emancipatória.	Para	tanto,	conheceremos	os	processos	de	
educação	sexual	que	existem	nos	espaços	educativos.	A	seguir,	conheceremos	a	construção	
de	educação	sexual	com	base	em	uma	proposta	emancipatória.	Neste	caminho,	para	finalizar	
nossos	estudos,	vamos	conhecer	o	ensino	dos	Direitos	Humanos	no	contexto	escolar.	
A	partir	da	organização,	esperamos	que	os	conteúdos	que	escolhemos	para	serem	
apresentados	nesta	disciplina	sejam	norteadores	para	seus	estudos	e,	inclusive,	sua	futura	
prática	 docente.	Aproveite	 ao	máximo	 a	 disciplina,	 extraia	 o	 possível	 de	 informações	 e	
conhecimento	destas	páginas.
Ótimo estudo! 
SUMÁRIO
UNIDADE	I	...................................................................................................... 6
Construção Histórica e Perspectivas da Educação Sexual
UNIDADE	II	................................................................................................... 27
Educação de Gênero e Sexualidade nos Espaços Educativos
UNIDADE	III	.................................................................................................. 44
Sexualidade na Infância e Adolescência
UNIDADE	IV	.................................................................................................. 59
Práticas Pedagógicas com Base em uma Educação Sexual 
Emancipatória
4
Plano de Estudo:
●	Contextualização	histórica	sobre	os	estudos	de	gênero	e	educação;
●	Sexualidade	como	construção	histórica,	social,	cultural,	política	e	discursiva;
●	Paradigmas	subjacentes	às	várias	abordagens	de	educação	sexual	através	
	 da	história	e	seus	reflexos	nos	cotidianos	das	sociedades,	com	destaque	para	
	 a	escolarização	brasileira,	a	educação	para	sexualidade	e	para	a	equidade	de	gênero;
●	Prevenção	do	preconceito	e	discriminação,	no	respeito	a	alteridade	e	às	
	 identidades	culturais.
Objetivos da Aprendizagem:
●	 Conhecer	a	história	acerca	dos	estudos	
de	gênero	e	suas	interfaces	com	a	educação;
●	 Compreender	os	aspectos	relacionados	à	sexualidade	
enquanto	uma	construção	histórica,	social	e	cultural;
●	 Conhecer	recursos	para	o	trabalho	educativo,	com	o	objetivo	de	prevenir	
situações	de	preconceitos	e	discriminações	no	âmbito	escolar.	
UNIDADE I
Construção Histórica e Perspectivas da 
Educação Sexual
Professor Esp. Jose Valdeci Grigoleto Netto
5UNIDADE I Construção Histórica e Perspectivas da Educação Sexual
INTRODUÇÃO
Olá,	aluno(a)!
Seja	bem-vindo(a)	à	primeira	unidade	da	disciplina	Gênero,	Sexualidade	e	Educa-
ção.	Neste	momento,	iremos	nos	debruçar	em	aspectos	introdutórios	acerca	da	temática.	
Para	isso,	faremos	um	amplo	estudo	acerca	de	conceitos	e	ideias,	culminando	em	impor-
tantes	reflexões	e	análises.
No	TópicoI	iremos	trilhar	através	da	contextualização	histórica	sobre	os	estudos	de	
gênero	e	educação,	principalmente	no	Brasil,	iniciando	com	a	conceituação	do	que	vem	ser	
a	palavra	gênero	e	de	como	podemos	empregá-la	em	nosso	vocabulário	e	no	dia	a	dia.	Na	
sequência	iremos	estudar	as	construções	históricas	acerca	do	masculino	e	feminino,	com	os	
papéis	sociais	que	são	pré-determinados	em	relação	aos	sexos.	Ainda,	iremos	refletir	acerca	
do	papel	da	escola	na	construção	dos	estudos	de	gênero	e	na	manutenção	destes	papéis.
Avançando,	no	Tópico	 II	 trataremos	mais	especificamente	da	sexualidade	como	
construção	 histórica,	 social,	 cultural,	 política	 e	 discursiva.	 Para	 isso,	 nos	 debruçaremos	
nos	estudos	de	Michel	Foucault	e	outros(as)	autores(as)	 importantes,	compreendendo	a	
importância	e	relevância	dos	discursos,	bem	como	a	noção	de	poder	e	seus	efeitos.	
No	Tópico	III	iremos	discutir	acerca	das	abordagens	de	educação	sexual	através	
da	história	e	seus	reflexos	no	cotidiano	para	a	escolarização	brasileira	frente	à	equidade	
de	gênero.	Para	isso,	iremos	conhecer	um	pouco	do	papel	dos	estudos	feministas	para	a	
compreensão	dos	estudos	de	gênero,	bem	como	a	importância	da	temática	da	sexualidade	
dentro	das	escolas	e,	principalmente,	o	papel	desta	instituição	para	o	fomento	de	discus-
sões	e	diálogos	que	envolvam	a	temática	da	sexualidade,	a	fim	de	proporcionar	equidade	
no	acesso	aos	direitos.	
Por	fim,	no	Tópico	IV	iremos	estudar	aspectos	relacionados	à	prevenção	do	pre-
conceito	 e	 discriminação	 frente	 às	 diferenças,	 contando	 com	 estudos	 que	 embasam	 e	
problematizem	aspectos	relacionados	ao	preconceito	no	ambiente	escolar.	
A	 partir	 da	 exposição	 apresentada,	 espero	 que	 os	 temas	aqui	 elencados	 sejam	
pertinentes	e	úteis	para	embasar	seus	estudos	e	sua	futura	prática	docente.	
Bons	estudos!	
6UNIDADE I Construção Histórica e Perspectivas da Educação Sexual
1. CONTEXTUALIZAÇÃO HISTÓRICA SOBRE OS ESTUDOS DE GÊNERO E 
 EDUCAÇÃO
Olá,	aluno(a),	vamos	dar	início	ao	primeiro	tópico	de	nossos	estudos.	Para	tanto,	
é	preciso	que	realizemos	um	resgate	histórico	acerca	dos	estudos	sobre	gênero	e	suas	
interfaces	com	a	educação,	para	que	possamos	compreender	como,	nos	dias	de	hoje,	a	
relação	educação	e	sexualidade	é	compreendida.	Vamos	lá?
Primeiro,	é	importante	destacar	que	definir	e	conceituar	a	palavra	gênero	não	é	uma	
tarefa	fácil	e	simplista.	Pela	sua	amplidão	de	compreensões,	pela	vasta	gama	de	autores	e	
autoras	que	trabalham	com	este	conceito,	gênero	pode	ser	compreendido	de	maneira	plural.
Além	disso,	Connell	e	Pearse	(2015)	destacam	que	o	gênero	é	um	espaço	que	
ocupa	 uma	 posição	 central	 e	 de	 grande	 importância	 na	 vida	 das	 pessoas,	 refletindo,	
inclusive,	em	questões	de	acesso	à	justiça,	à	identidade	e	à	sobrevivência.	Não	obstante,	
como	nós	podemos	perceber	atualmente,	e	as	autoras	também	destacam,	gênero	é	um	
assunto	alvo	de	constantes	preconceitos,	mitos	e	rodeados	por	falsas	ideias.	Portanto,	é	
preciso	que	nós	saibamos	que
[...]	Acima	de	tudo,	o	gênero	é	uma	questão	de	relações	sociais	dentro	das	
quais	indivíduos	e	grupos	atuam.	[...]	o	gênero	deve	ser	entendido	como	uma	
estrutura	social.	Não	é	uma	expressão	da	biologia,	nem	uma	dicotomia	fixa	
na	vida	ou	no	caráter	humano.	É	um	padrão	em	nossos	arranjos	sociais,	e	as	
atividades	do	cotidiano	são	formadas	por	esse	padrão	(CONNELL;	PEARSE,	
2015,	p.	47).	
7UNIDADE I Construção Histórica e Perspectivas da Educação Sexual
A	partir	desta	definição,	podemos	pensar	no	gênero	enquanto	uma	questão	das	
relações,	compreendendo-o	enquanto	algo	que	faz	parte	da	maneira	na	qual	as	sociedades	
lidam	com	os	corpos	das	pessoas	e	com	suas	vidas.	Ainda,	gênero	diz	respeito	à	nossa	
identidade	e	nossa	sexualidade	(CONNELL;	PEARSE,	2015).
Desta	maneira,	podemos	compreender	que	o	gênero	não	está	relacionado	à	biolo-
gia,	aos	aspectos	orgânicos	que	diferem	o	“macho”	da	“fêmea”.	Pensar	em	gênero	é	pensar	
exatamente	em	uma	pluralidade	de	possibilidades,	que	vão	além	de	uma	dicotomia,	isto	é,	
algo	com	apenas	duas	possibilidades,	mas	sim	que	assuma	uma	imensidão	de	expressões	
de	vida	e,	consequentemente,	de	sexualidade.	
Importante	pontuar,	como	afirma	Louro	(2003),	que,	ao	falarmos	da	importância	
dos	aspectos	sociais	na	construção	de	gênero,	não	estamos	negando	a	importância	do	
papel	 dos	 aspectos	 biológicos,	mas	 estamos	 retirando	 certa	 ênfase,	 exageradamente	
focada	em	tais	pontos.	
O	objetivo,	 com	 isso,	é	 trazer	para	o	espaço	social	 os	debates	 relacionados	ao	
gênero	e	às	sexualidades,	visto	que	é	exatamente	no	campo	do	social	que	as	relações	são	
construídas	e,	como	fator	consequente,	as	exclusões	e	discriminações	também	se	produ-
zem.	“As	justificativas	para	as	desigualdades	precisariam	ser	buscadas	não	nas	diferenças	
biológicas	 [...]	mas	 sim	 nos	 arranjos	 sociais,	 na	 história,	 nas	 condições	 de	 acesso	 aos	
recursos	da	sociedade,	nas	formas	de	representação”	(LOURO,	2003,	p.	22).	
Agora	que	já	possuímos	uma	compreensão	do	que	é	o	gênero,	pergunto	à	você,	
aluno(a):	Quantas	vezes	você	já	ouviu	alguma	dessas	expressões:	“isso	é	coisa	de	me-
nino;	isso	é	coisa	de	menina”,	ou	ainda	“azul	é	cor	de	menino	e	rosa	é	cor	de	menina”,	
relacionando	cores,	objetos,	profissões	com	o	sexo	biológico	das	pessoas.	Acredito	que	
inúmeras	vezes,	não	é	mesmo?!	Proponho,	então,	que	você	se	questione	e	reflita:	será	
que	essa	construção	(do	que	é	pertencente	ao	menino	e	à	menina)	é	algo	natural?	Será	
que	“sempre	foi	assim”?	
Revisitando	a	história,	podemos	constatar	que,	ao	longo	dos	tempos,	as	diversas	
sociedades	criaram	ideias	de	como	deveria	ser	utilizado	o	tempo	e	o	espaço,	isto	é,	o	tempo	
de	casa,	o	tempo	do	ócio,	o	tempo	da	rua.	Ainda	houve	a	determinação	e	estabelecimento	
de	lugares	que	eram	permitidos	ou	não	para	determinados	grupos	de	pessoas.	A	escola,	
neste	aspecto,	exerceu	importante	papel	no	que	diz	respeito	ao	acesso,	separação	e	per-
manência	de	diferentes	alunos	neste	ambiente	(LOURO,	2003).	
Curioso	apontar	que,	segundo	a	autora,	havia	antigos	manuais	que	determinavam,	
de	maneira	explícita,	como	deveria	ser	o	trato	que	os	professores	deveriam	ter	com	seus	
8UNIDADE I Construção Histórica e Perspectivas da Educação Sexual
alunos,	ou	seja,	a	maneira	na	qual	eles	iriam	lidar	com	a	forma	de	segurar	o	lápis,	de	se	
posicionar	nas	carteiras,	dentre	outros	aspectos,	o	que	acabava	por	construir	uma	distinção	
entre	meninos	e	meninas.	Para	cada	um	destes	havia	regras	a	serem	seguidas,	distintas	e	
muito	bem	demarcadas	umas	das	outras.	
Havia,	 inclusive,	nas	chamadas	“escolas	femininas”,	a	produção	de	meninas	vol-
tadas	aos	trabalhos	manuais,	à	delicadeza,	ao	treino	de	habilidades	unicamente	de	ordem	
manual,	o	que	resultava	em	jovens	ditas	“prendadas”,	em	que	seus	trabalhos	giravam	em	
torno,	quase	que	exclusivamente,	de	agulhas	e	pincéis.	Vê-se,	então,	que	“As	marcas	da	
escolarização	se	inscreviam,	assim,	nos	corpos	dos	sujeitos”	(LOURO,	2003,	p.	62).
FIGURA 1 - CRIANÇA EM ATIVIDADE ESCOLAR
Aluno(a),	a	partir	dessas	afirmações,	pensem	comigo:	podemos,	então,	 falar	em	
um	“processo	de	fabricação	de	sujeitos”?	Podemos	pensar	que	sim,	visto	que,	como	aponta	
Louro	 (2003),	 essa	 fabricação	 se	 dá	 de	maneira	 sutil,	 quase	 imperceptível	 nos	 dias	 de	
hoje.	Tomemos	como	exemplos:	a	separação,	nas	escolas,	de	filas	de	meninos	e	meninas;	
a	separação	de	meninos	e	meninas	em	atividades	escolares;	a	escolha	de	determinados	
brinquedos	para	meninas	e	outros	para	meninos	(como	já	pontuamos	anteriormente).	Tudo	
isso,	aluno(a),	faz	parte	de	um	processo	que	precisamos	questionar,	problematizar	e,	acima	
de	tudo,	desconfiar.
Os	questionamentos	em	torno	desses	campos,	no	entanto,	precisam	ir	além	
das	 perguntas	 ingênuas	 e	 dicotomizadas.	 Dispostas/os	 a	 implodir	 a	 idéia	
de	um	binarismo	rígido	nas	relações	de	gênero,	teremos	de	ser	capazes	de	
um	olhar	mais	aberto,	de	uma	problematização	mais	ampla(e	também	mais	
complexa),	uma	problematização	que	terá	de	lidar,	necessariamente,	com	as	
múltiplas	combinações	de	gênero,	sexualidade,	classe,	raça,	etnia	(LOURO,	
2003,	p.	65).	
9UNIDADE I Construção Histórica e Perspectivas da Educação Sexual
Assim,	pensarmos	na	relação	e	na	 importância	da	discussão	de	temas	relacio-
nados	ao	gênero	e	à	 sexualidade	dentro	do	ambiente	escolar,	 é	pensar	no	 respeito	à	
diversidade	humana,	sua	multiplicidade	e	diversidade,	o	que,	 infelizmente,	 tem	gerado	
nos	últimos	tempos	debates	negativos	que	colocam	em	jogo	a	questão	do	efetivo	acesso	
democrático	ao	ensino.	Todavia,	quanto	mais	dialogarmos	acerca	da	importância	do	re-
conhecimento	das	diferenças	de	gênero,	 raça,	orientação	sexual,	 idade,	dentre	outros,	
mais	 iremos	nos	aproximar	de	uma	efetiva	democracia,	realocando	nossos	debates	às	
questões	 relacionadas	 à	 criação	 e	 aperfeiçoamento	 de	 políticas	 públicas	 que	 visem	a	
qualidade	do	ensino	que	é	ofertado,	bem	como	a	permanência	destes	estudantes	nos	
espaços	de	ensino	(OLIVEIRA;	MOCHI,	2020).	
No	tópico	a	seguir	iremos	conhecer	um	pouco	acerca	dos	aspectos	que	envolvem	
a	sexualidade,	especificamente	os	pontos	que	demarcaram	sua	construção	histórica,	a	ma-
neira	na	qual	as	sociedades	a	compreendiam	e	compreendem	no	dia	de	hoje,	perpassando	
pelo	olhar	da	cultura,	da	política	e	do	discurso.	Vamos	lá!	
10UNIDADE I Construção Histórica e Perspectivas da Educação Sexual
2. SEXUALIDADE COMO CONSTRUÇÃO HISTÓRICA, SOCIAL, CULTURAL, 
 POLÍTICA E DISCURSIVA
Louro	(2004)	afirma	que	a	sexualidade,	tendo	sido	tornada	(não	por	acaso)	uma	
“questão”	nos	últimos	dois	séculos,	vem	sendo	assunto	de	grande	interesse	de	diversas	
áreas,	por	exemplo:	cientistas,	educadores,	religiosos	e	psiquiatras.	Pautadas	em	diferentes	
visões,	as	compreensões	acerca	da	sexualidade	buscam	descrever,	compreender,	explicar,	
regular,	educar	e	normatizar	suas	práticas	e	expressões.	
Neste	caminho,	para	discutirmos	acerca	do	tema	da	sexualidade	e,	principalmente,	
para	compreendermos	a	construção	histórica	e	cultural	de	seus	desdobramentos,	 faz-se	
pertinente	recorrermos	aos	estudos	do	filósofo	Michel	Foucault	que	se	debruçou	na	cons-
trução	da	História da Sexualidade,	tendo	publicado,	em	vida,	sua	obra	em	três	tomos.	O	
Primeiro	livro,	intitulado	A Vontade de Saber,	foi	originalmente	publicado	em	1976;	o	segun-
do,	O Uso dos Prazeres e	o	terceiro, O Cuidado de Si foram	ambos	publicados	em	1984.	
Em	2018,	sob	a	edição	de	Fréderic	Gross,	anos	após	a	morte	de	Foucault,	foi	publicado	o	
quarto	volume,	intitulado	As Confissões da Carne.	
Para	Foucault	(1976/2020),	no	início	do	século	XVII	a	sexualidade	não	era	com-
preendida	enquanto	um	assunto	tabu,	ao	contrário:	não	havia	segredo,	as	palavras	eram	
ditas	sem	delongas,	havia	certa	familiaridade	com	o	dito	“ilícito”.	A	ideia	de	obsceno	não	
era	a	mesma	que	nossa	sociedade,	hoje,	compreende	a	sexualidade;	era	a	época	dos	
corpos	expostos,	gestos	e	atitudes	que	não	portavam	vergonha.	Era	a	sexualidade	em	
sua	forma	crua	e	livre.	
11UNIDADE I Construção Histórica e Perspectivas da Educação Sexual
No	entanto,	a	partir	do	século	XIX,	a	sexualidade	toma	outra	forma,	se	encerra	en-
quanto	atributo	e	prática	livre,	torna-se	indecente.	Ela	deixa	de	ser	assunto	público,	visível	
e	adentra	o	quarto	dos	pais,	isto	é,	o	quarto	do	casal,	local	para	a	procriação.	A	sexualidade	
é	confiscada	para	o	seio	familiar;	seu	objetivo	agora	é	a	reprodução.	O	prazer	não	é	mais	o	
alvo,	o	objetivo	final	(FOUCAULT,	1976/2020).
Surge,	 então,	 a	 repressão	 da	 sexualidade.	É	 o	 silenciamento	 das	 práticas	 até	
então	permitidas,	é	como	se	surgisse	a	“[...]	constatação	de	que,	em	tudo	isso,	não	há	
nada	para	dizer,	nem	para	ver,	nem	para	saber”	(FOUCAULT,	1976/2020,	p.	8).	Fazendo	
um	balanço	com	os	dias	atuais,	Maio	(2011,	p.	38)	ressalta	que,	ainda	hoje,	no	século	
XXI,	“É	inegável	que	vivemos	numa	tradição	cultural	na	qual	nosso	corpo	sofreu	e	ainda	
sofre	uma	série	de	repressões	por	meio	de	preconceitos,	normas	sociais,	interditos	[...]	
sofrendo	com	isso	uma	rigidez	postural”.	
Foucault	(1976/2020)	nos	mostra	como	os	discursos	médicos	passaram	a	exercer	um	
papel	central	na	patologização	de	determinadas	práticas	sexuais,	denominadas	de	“perver-
sões”,	exercendo	o	papel	de	poder	frente	à	uma	verdade	que	detinha	todo	o	conhecimento.	Os	
discursos	médicos,	então,	eram	tomados	como	a	norma,	o	correto	e	o	que,	por	consequência,	
deveria	ser	seguido;	tudo	o	que	fugia	à	tal	norma	deveria	ser	corrigido,	revertido.	
Na	 psiquiatrização	 das	 perversões,	 o	 sexo	 foi	 referido	 a	 funções	 biológicas	
e	a	um	aparelho	anátomo-fisiológico	que	 lhe	dá	 “sentido”,	 isto	é,	finalidade;	
também	a	um	instinto	que,	através	do	seu	próprio	desenvolvimento	e	de	acor-
do	com	os	objetos	a	que	pode	se	vincular,	torna	possível	o	aparecimento	das	
condutas	perversas	e	sua	gênese,	inteligivél	(FOUCAULT,	1976/2020,	p.	167).	
É	o	que	Louro	(2004)	aponta,	ao	elucidar	que,	a	partir	do	século	XIX,	homens	vito-
rianos,	que	detinham	o	poder,	começaram	a	fazer	“descobertas”	(entre	aspas	para	enfatizar	
certa	ironia)	a	respeito	da	sexualidade,	definindo	e	classificando	as	práticas	que	recaiam	
nos	corpos	de	homens	e	mulheres.	Tais	discursos	passaram,	como	Foucault	elucidou,	a	
deter	certa	ideia	de	verdade	e,	por	isso,	não	poderiam	ser	questionados.	Com	isso,	
Busca-se,	 tenazmente,	 conhecer,	 explicar,	 identificar	 e	 também	 classificar,	
dividir,	regrar	e	disciplinar	a	sexualidade.	Produzem-se	discursos	carregados	
da	autoridade	da	ciência.	Discursos	que	se	confrontam	ou	se	combinam	com	
os	da	igreja,	da	moral	e	da	lei	(LOURO,	2004,	p.	79).	
Hoje,	nós	presenciamos	discursos	que	colocam	a	sexualidade	enquanto	heteronor-
mativa,	isto	é,	apenas	a	expressão/relação	afetivo-sexual	entre	um	homem	e	uma	mulher	
heterossexual	podem	ser	consideradas	normais.	Essa	maneira	de	viver	e	experienciar	as	
manifestações	da	sexualidade	em	uma	compreensão	heterocentrada	possui	como	objetivo	
a	construção	de	uma	forma	tida	como	“normal”	de	família,	excluindo	todas	as	outras	possibi-
lidades	de	vivência	e	expressão	de	relações	(LOURO,	2004).	Esquece-se,	no	entanto,	que	
12UNIDADE I Construção Histórica e Perspectivas da Educação Sexual
“[...]	a	sexualidade	se	forma	com	base	em	um	constructo	histórico,	que	vai	se	integrando	
às	construções	física	e	psíquica	de	cada	pessoa,	determinando	a	sua	expressão	sexual;	
portanto,	corporal”	(MAIO,	2011,	p.	39),	sendo	um	fator	subjetivo,	único	e	multideterminado.	
Vê-se	ainda	que
Se,	 nos	 dias	 de	 hoje,	 ela	 [a	 sexualidade]	 continua	 alvo	 da	 vigilância	 e	 do	
controle,	agora	se	ampliaram	e	diversificaram	suas	formas	de	regulação,	mul-
tiplicaram-se	as	instâncias	e	as	instituições	que	se	autorizam	a	ditar-lhe	as	
normas,	a	definir-lhe	os	padrões	de	pureza,	sanidade	ou	insanidade,	a	delimi-
tar-lhe	os	saberes	e	as	práticas	pertinentes,	adequadas	ou	infames	(LOURO,	
2004,	p.	27).	
Desta	forma,	percebe-se,	aluno(a),	que	falar	em	sexualidade	é,	ao	mesmo	tempo,	
falar	em	relações	de	poder.	Foucault	(1976/2020)	nos	apresenta	dois	conceitos	extrema-
mente	importantes	em	sua	obra,	para	compreendermos	a	ideia	de	biopoder,	isto	é,	o	poder	
sobre	a	vida.	O	conceito	de	biopoder	pode	ser	subdividido	em:	disciplina	e	biopolítica.	A	
primeira	se	refere	ao	governo	dos	corpos,	dos	indivíduos	e	a	segunda	está	relacionada	ao	
governo	da	população.	Ambos	os	conceitos	estão	relacionados,	claramente,	com	a	ideia	de	
controle.	O	poder,	na	obra	de	Foucault,	ilustra	as	diferenças	entre	quem	detém	o	poder	de	
superioridade	para	falar	e	ser	ouvido	e	quem	é	silenciado,	excluído,	relegado	à	margem.	
Logo,	 nota-se	 que	 os	 interesses	 políticos	 possuem	 forte	 espaço	 no	 controle	 da	
sexualidade.	Como	Louro	(2004)	assinalou,	os	estados	passaram	a	se	preocupar	com	o	
controle	populacional	e,	nesta	lógica,	com	o	controle	da	família	e	da	reprodução.	
Aluno(a),	neste	ponto	 iremos	adentrar	em	um	outro	conceito	de	extremarele-
vância	na	vasta	obra	de	Foucault:	o	discurso.	Para	aprofundarmos	nossa	compreensão	
acerca	da	sexualidade,	é	de	extrema	relevância	compreendermos	como	os	discursos	
sobre	a	sexualidade	nos	atravessam,	 isto	é,	 como	os	discursos	são	produzidos,	 (re)
produzidos,	e	transformados.	
Para	Foucault	(1970/2014),	o	discurso	pode	ser	compreendido	como	o	ato	de	falar,	
transmitir	determinadas	ideias	e	possuir	a	capacidade	de	articulá-las	em	qualquer	campo	
de	comunicação.	No	entanto,	o	discurso	exerce	um	controle	quando	se	limita	quem,	onde,	
como	e	quando	falar,	 isto	é,	o	poder	entra	em	cena,	como	sendo	a	capacidade	e	a	pos-
sibilidade	de	exercer	a	fala.	Com	isso,	vê-se	que	não	são	todas	as	pessoas,	em	todos	os	
espaços,	que	podem	falar;	ao	contrário,	o	silenciamento	e	a	exclusão	são	fatores	presentes	
quando	se	estabelece	uma	ordem	do	discurso.	
[...]	ninguém	entrará	na	ordem	do	discurso	se	não	satisfizer	a	certas	exigên-
cias	ou	se	não	for,	de	início,	qualificado	para	fazê-lo.	Mais	precisamente:	nem	
todas	as	regiões	do	discurso	são	igualmente	abertas	e	penetráveis;	algumas	
são	altamente	proibidas	[...],	enquanto	outras	parecem	quase	abertas	a	todos	
os	ventos	e	postas,	sem	restrição	prévia,	à	disposição	de	cada	sujeito	que	
fala	(FOUCAULT,	1970/2014,	p.	35).	
13UNIDADE I Construção Histórica e Perspectivas da Educação Sexual
Ainda	para	o	autor,	podemos	compreender	o	discurso	através	de	duas	partes:	a	
primeira	diz	respeito	aos	processos	externos	ao	sujeito,	sendo	eles:	
●	 A	interdição,	que	se	refere	à	criação	de	certos	silenciamentos,	interditos,	em	
relação	ao	que	pode	ou	não	ser	dito;
●	 A	separação/rejeição,	que	define	quem	possui	o	direito	privilegiado	de	falar;	
●	 A	oposição	entre	verdadeiro x falso,	que	serve	como	uma	forma	de	organiza-
ção	dos	discursos,	com	o	reconhecimento	de	certas	posições	como	verdadeiras	
e	legítimas,	e	outras,	ao	contrário,	tidas	como	falsas.	
Na	segunda	parte,	temos	os	procedimentos	internos	ao	sujeito,	sendo	eles:	
●	 O	comentário,	em	que	quem	fala	possui	a	capacidade	de	repetir	e	reafirmar	
determinado	discurso,	expandindo-o;	
●	 O	 autor,	 que	 detém	 a	 capacidade	 de	 colocar	 uma	 origem	 e	 identidade	
frente	ao	saber;
●	 A organização das disciplinas,	que	serve	como	uma	categorização	dos	discur-
sos,	enquadrando-os	em	uma	maneira	de	“encaixotar”,	digamos,	assim,	o	conhe-
cimento,	a	fim	de	ele	que	caiba	em	determinados	espaços	e	círculos	sociais.	
Desta	forma,	aluno(a),	podemos	compreender	como	o	discurso	possui	um	papel	de	
extrema	importância	no	que	tange	o	tema	da	sexualidade.	A	partir	dos	pressupostos	elen-
cados,	se	realizarmos	uma	breve	e	rápida	reflexão,	poderemos	perceber	que	as	instituições	
que	possuem	o	poder	de	determinar	a	norma	sempre	possuem	um	interesse	velado	que	
serve	apenas	para	uma	parcela	específica	da	população.	
	
14UNIDADE I Construção Histórica e Perspectivas da Educação Sexual
3. AS ABORDAGENS DE EDUCAÇÃO SEXUAL ATRAVÉS DA HISTÓRIA E SEUS 
 REFLEXOS NO COTIDIANO PARA A ESCOLARIZAÇÃO BRASILEIRA FRENTE 
 À EQUIDADE DE GÊNERO
No	Brasil,	os	estudos	e	pesquisas	sobre	gênero	tiveram	início	com	o	movimento	
feminista.	É	a	partir	da	década	de	1970	que	mulheres,	principalmente	ligadas	às	universida-
des,	ganham	visibilidade	e	espaço	para	a	discussão	de	questões	ligadas	à	temática.	O	foco	
inicial	eram	as	pesquisas	sociais,	dando-se	 início	à	 realização	de	eventos,	produção	de	
livros	e	artigos	que	traziam	a	ideia	de	“estudos	sobre	mulher”	como	marca	para	demarcar	
esta	nova	área	de	estudos	(HEILBORN;	SORJ,	1999).	
A	defesa	do	uso	do	conceito	de	gênero,	acompanhando	o	debate	internacio-
nal,	passou	a	adquirir	caráter	relacional	e	a	abarcar	a	definição	e	a	estrutu-
ração	das	relações	sociais,	englobando	as	dimensões	de	classe,	raça,	etnia	
e	geração	na	procura	de	apreensão	das	distintas	 formas	de	desigualdade	
(VIANNA,	2017,	p.	53).
Uma	observação	importante	e	que	não	podemos	deixar	de	mencionar,	refere-se	ao	
trabalho	importante	de	Scott	(1995)	que,	com	o	artigo	intitulado	Gênero: uma categoria útil 
de análise histórica,	trouxe	importantes	reflexões	para	que	possamos	compreender	gênero	
enquanto	uma	categoria	de	poder.	Neste	 trabalho,	a	autora	 traz	o	pioneirismo	do	 termo	
gênero	e	seu	surgimento	com	as	feministas	americanas.	É	no	seu	trabalho,	também,	que	
encontramos	o	gênero	de	maneira	ampla,	em	que	ela	o	compreende	como	sendo
15UNIDADE I Construção Histórica e Perspectivas da Educação Sexual
[...]	utilizado	para	designar	as	relações	sociais	entre	os	sexos.	 [...]	o	 termo	
“gênero”	 torna-se	uma	 forma	de	 indicar	 “construções	culturais”	 -	 a	 criação	
inteiramente	social	de	idéias	sobre	os	papéis	adequados	aos	homens	e	às	
mulheres.	Trata-se	 de	 uma	 forma	 de	 se	 referir	 às	 origens	 exclusivamente	
sociais	das	identidades	subjetivas	de	homens	e	de	mulheres.	“Gênero”	é,	se-
gundo	esta	definição,	uma	categoria	social	imposta	sobre	um	corpo	sexuado	
(SCOTT,	1995,	p.	75).	
Voltando	ao	cenário	nacional,	Heilborn	e	Sorj	 (1999)	pontuam	que	é	a	partir	 da	
década	de	1980	que	há,	nos	espaços	acadêmicos,	uma	significativa	e	gradativa	alteração	
do	termo	“mulher”,	passando	a	ser	substituído	pelo	termo	“gênero”,	em	que	
Em	termos	cognitivos	esta	mudança	 favoreceu	a	rejeição	do	determinismo	
biológico	implícito	no	uso	dos	termos	sexo	ou	diferença	sexual	e	enfatizou	os	
aspectos	relacionais	e	culturais	da	construção	social	do	feminino	e	masculi-
no.	Os	homens	passaram	a	ser	incluídos	como	uma	categoria	empírica	a	ser	
investigada	nesses	estudos	e	uma	abordagem	que	focaliza	a	estrutura	social	
mais	do	que	os	indivíduos	e	seus	papéis	sociais	foi	favorecida	(HEILBORN;	
SORJ,	1999,	p.	4).	
Nesta	época,	segundo	Heilborn	e	Sorj	(1999),	a	alteração	dos	termos	supracita-
dos	proporcionou	maior	visibilidade	e	aceitação	de	pesquisas	relacionadas	ao	gênero	no	
âmbito	acadêmico,	ganhando	maior	espaço	e	reconhecimento,	além	de	financiamentos	
para	pesquisas.	
Aluno(a),	 é	 muito	 importante	 que	 você	 conheça	 esses	 fatos	 pontuados.	 Essa	
alteração	 do	 termo,	 como	 vimos,	 proporcionou	 um	maior	 espaço	 para	 abarcar	 outras	
temáticas	de	estudo,	o	que	 reflete	nas	pesquisas	até	os	dias	de	hoje.	Desta	maneira,	
podemos	compreender	como	o	movimento	feminista,	no	Brasil,	possui	papel	de	destaque	
no	que	tange	às	questões	de	gênero.	Agora,	vamos	conhecer	um	pouco	sobre	a	inserção	
deste	tema	nas	escolas.	
Em	 relação	às	 discussões	do	gênero	 e	 da	 sexualidade	dentro	 dos	espaços	es-
colares,	Martin	(2017)	pontua	que	ainda	hoje	há	uma	compreensão	equivocada,	em	que	
muitos,	 erroneamente,	 compreendem	 sexualidade	 enquanto	 ligada	 às	 genitálias,	 isto	 é,	
pensamento	 que	 remete	 aos	 órgãos	 sexuais	 e,	 consequentemente,	 na	 relação	 sexual.	
Como	consequência,	ao	ignorarmos	as	discussões	acerca	da	sexualidade,	embasados	em	
tais	pensamentos,	estamos	 ignorando	aspectos	extremamente	 importantes	e	relevantes,	
como	a	cultura,	valores	e	cidadania.	
Ainda,	nas	escolas	tende	a	ter	um	silenciamento	desta	temática	e,	por	isso,	
[...]	a	preocupação	com	a	sexualidade	geralmente	não	é	apresentada	de	for-
ma	aberta.	 Indagados/as	sobre	essa	questão,	é	possível	que	dirigentes	ou	
professores/as	façam	afirmações	do	tipo:	“em	nossa	escola	nós	não	precisa-
mos	nos	preocupar	com	isso,	nós	não	temos	nenhum	problema	nesta	área”,	
ou	então,	“nós	acreditamos	que	cabe	à	família	tratar	desses	assuntos”.	[...]	
É	 indispensável	que	 reconheçamos	que	a	escola	não	apenas	 reproduz	ou	
reflete	as	concepções	de	gênero	e	sexualidade	que	circulam	na	sociedade,	
mas	que	ela	própria	as	produz	(LOURO,	2003,	p.	80).	
16UNIDADE I Construção Histórica e Perspectivas da Educação Sexual
Desta	maneira,	quando	há	o	silenciamento	dessas	discussões	dentro	do	espaço	
escolar,	há	um	interdito,	uma	perda	na	possibilidade	em	realizar	construções	históricas	e	
debates	extremamente	importantes,	visto	que	a	escola,	na	maioria	das	vezes,	ignora	discu-
tir	tais	questões,	deslegitimando	asdiferenças	dos	sujeitos	que	estão	inseridos,	inclusive,	
dentro	do	próprio	ambiente	escolar.	Não	raro,	destaca-se,	há	imensa	dificuldade	e	falta	de	
preparo	da	própria	escola	para	lidar	com	essas	questões	(MARTIN,	2017).	
Por	tanto,	é	preciso	compreender	que	a	escola	possui	um	papel	ativo	na	constru-
ção	dos	conhecimentos	acerca	da	sexualidade	e,	por	consequência,	na	educação	sexual.	
Segundo	Louro	(2003),	o	projeto	de	uma	educação	sexual,	tema	de	grande	preocupação	
e	polêmica,	cria	discussões	que	vão	desde	as	instituições	que	deveriam	se	responsabilizar	
por	ela	e	como	seria	sua	execução	e	manejo.	Não	obstante,	questões	como	essa	surgem	
por	parte	da	própria	escola:
[...]	como	educamos	para	as	questões	de	gênero?	De	que	maneira	a	organi-
zação	dos	grupos/turmas	de	alunos	e	alunas,	bem	como	a	escolha	dos	livros,	
dos	jogos	e	outros	materiais	didáticos,	proporcionam	às	crianças	espaços	es-
colares	que	integram	a	diversidade	de	forma	positiva?	Como	é	que	os	profes-
sores	e	as	professoras	se	situam	nestas	questões	e	orientam	suas	práticas	
educativas	?	(CARDONA;	PISCALHO;	UVA,	2015,	p.	49).	
Desta	forma,	é	preciso	que	nosso	olhar	esteja	atento	para	os	impactos	sociais	do	
fato	de	não	abordarmos	questões	relacionadas	à	sexualidade	dentro	dos	espaços	escola-
res.	Situações	de	violências,	por	exemplo,	é	um	fator	 importante	e	que	merece	atenção.	
Precisamos,	ainda,	olhar	para	o	currículo	docente	do	ensino	superior,	a	fim	de	compreen-
dermos	como	os	professores(as)	vêm	sendo	preparados(as)	para	essas	discussões,	pois,	
como	aponta	Maio	(2012):
A	escola	pode	deixar	de	ser	um	espaço	de	opressão	e	repressão	na	questão	
da	sexualidade,	para	se	tornar	um	ambiente	efetivamente	seguro,	livre	e	edu-
cativo	para	todas	as	pessoas.	E,	hoje,	não	é	mais	possível	que	as	questões	
relativas	à	sexualidade	passem	despercebidas	ou	que	sejam	tratadas	com	
deboche	ou	indignação	moral	(MAIO,	2012,	p.	72).	
Sendo	assim,	 ao	 trabalharmos	questões	 relacionadas	à	 sexualidade,	 é	 possível	
e	emergente	o	trabalho	pautado	em	uma	equidade	de	gênero.	Aluno(a),	você	sabe	o	que	
significa	a	palavra	equidade?	
Segundo	o	Dicionário	Michaelis	(on-line),	equidade	pode	ser	compreendida	como	
a	“consideração	em	relação	ao	direito	de	cada	um,	levando	em	conta	o	que	se	considera	
justo”.	O	que	isso	significa?	Significa	que	a	equidade	está	relacionada	à	justiça,	em	que	
são	levadas	em	consideração	as	necessidades	individuais	e	específicas	de	determinadas	
pessoas	ou	grupos,	não	da	totalidade.	
17UNIDADE I Construção Histórica e Perspectivas da Educação Sexual
Para	ilustrar,	trago	a	imagem	a	seguir,	em	que	a	primeira	se	refere	à	IGUALDADE.	
Veja	que	os	três	sujeitos	possuem	o	mesmo	recurso	para	conseguir	enxergar	o	outro	lado	
da	cerca,	mas	um	deles	não	alcança;	a	figura	ao	lado,	no	entanto,	representa	a	EQUIDADE,	
em	que,	devido	à	sua	necessidade,	o	sujeito	menor	passa	a	receber	recursos	suficientes	
para	que	consiga	enxergar	o	outro	lado	da	cerca.	Interessante,	não	é?!	
FIGURA 2 - EQUIDADE
Neste	caminho,	ao	pensarmos	acerca	da	equidade	e	dos	estudos	relacionados	ao	
gênero	e	sexualidade,	com	ênfase	na	questão	do	gênero	feminino,	
[...]	a	educação	se	revela	como	política	pública	para	romper	com	os	padrões	
de	gênero,	a	fim	de	alcançar	a	equidade.	A	educação	não	é	apenas	um	impor-
tante	instrumento	de	prevenção	contra	a	violência	doméstica	e	familiar	contra	
a	mulher,	mas	 também	um	direito	 humano	 fundamental	 a	 que	 todos,	 sem	
qualquer	 tipo	 de	 distinção,	 devem	 ter	 acesso	 (KNIPPEL;	AESCHLIMANN,	
2017,	p.	61).				
Aluno(a),	com	estes	apontamentos,	podemos	compreender	a	 importância	de	um	
olhar	para	a	equidade	nas	relações,	seja	no	âmbito	escolar	ou	fora	dele.	Neste	cenário,	
a	educação	é	uma	política	pública	de	grande	importância	para	o	desenvolvimento	de	um	
olhar	que	seja	humano	e,	acima	de	tudo,	respeite	as	diferenças.	
18UNIDADE I Construção Histórica e Perspectivas da Educação Sexual
4. PREVENÇÃO DO PRECONCEITO E DISCRIMINAÇÃO, NO RESPEITO A 
 ALTERIDADE E ÀS IDENTIDADES CULTURAIS
Aluno(a),	neste	momento	iremos	estudar	sobre	a	importância	do	trabalho	preventivo	
frente	às	situações	de	preconceito	e	discriminação,	com	ênfase	para	o	ambiente	escolar,	e	
a	importância	do	respeito	às	diferenças	sociais,	raciais,	culturais	e	de	gênero.	
Passador	(2017)	aponta	que	gênero,	sexualidade	e	classe	são	vistos	como	mar-
cadores	sociais	que	excluem,	separam	e	segregam	as	pessoas,	definindo	 identidades	e	
delimitando	fronteiras	de	acessos	a	determinados	recursos	e	espaços.	Neste	caminho,	são	
estabelecidas	 determinadas	 características	 aceitáveis,	 isto	 é,	 tidos	 como	 “normalidade”,	
enquanto	outras	passam	a	ser	excluídas,	em	que	“O	processo	de	marcar	e	significar	valo-
rativa	e	hierarquicamente	as	diferenças	sociais	é	o	que	dá	princípio	ao	que	chamamos	de	
discriminação”	(PASSADOR,	2017,	p.	18).	Mas	o	que	isso	significa?
Nas	próprias	palavras	do	autor,	 isso	significa	que	é	por	meio	deste	processo	de	
classificar	e	hierarquizar	as	pessoas	que	nós	vamos	demarcando	e	assinalando	àquelas	
consideradas	mais	importantes,	construindo	identidades	de	acordo	com	os	marcadores	que	
são	construídos	socialmente.	
Neste	sentido,	
Vamos,	 portanto,	 produzindo	 e	 classificando	 não	 apenas	 diferenças,	 mas	
também	desigualdades.	E,	ao	produzirmos	desigualdades,	 legitimamos	for-
mas	de	tratamento	discriminatório	e	excludente,	o	que	inclui	formas	de	recri-
minação	e	repressão	–	e	até	mesmo	de	patologização	e/ou	de	criminalização	
(PASSADOR,	2017,	p.	19).	
19UNIDADE I Construção Histórica e Perspectivas da Educação Sexual
Ainda,	faz-se	necessário	destacar	que,	segundo	Vianna	(2017),	o	próprio	espaço	
escolar	passa	a	reproduzir,	muitas	vezes,	uma	visão	discriminatória	e	excludente,	sendo	
necessário	um	olhar	aguçado	para	as	interações	conflituosas	que	são	mantidas	dentro	da	
instituição	escolar	e	para	os	poderes	que	ali	são	exercidos.	No	Brasil,	foi	apenas	a	partir	da	
década	de	1990	que,	de	maneira	tímida	e	cautelosa,	os	primeiros	aparecimentos	relacio-
nados	ao	gênero	passaram	a	adentrar	o	currículo	escolar,	tendo	respaldo	de	documentos	
nacionais	e	internacionais.
No	entanto,	o	processo	de	discriminação	é	inaceitável,	pois,	como	pontua	Passador	
(2017),	nossa	sociedade	é	composta	por	uma	ampla	gama	de	diferenças,	ou	seja,	somos	
um	povo	marcado	pela	pluralidade	e	diversidade	de	características.	Neste	aspecto,	a	escola	
possui	um	papel	de	extrema	relevância	e	importância,	pois	ela	passa	a	ser	um	espaço	de	
promoção	de	mudança	no	que	tange	à	construção	da	aceitação	das	diferenças	e	promoção	
da	inclusão	dos	múltiplos	modos	de	ser.	Logo,	temos	um	desafio	pela	frente,	visto	que	
O	reconhecimento	da	diversidade	como	fato	humano	vivido	por	todas/os	nós,	
e	a	garantia	do	direito	a	ela	como	fato	histórico,	social,	político,	econômico	e	
cultural	que	nós	mesmas/os	construímos	cotidianamente	com	nossos	valores	
e	práticas,	é	um	desafio	e	um	compromisso	que	precisamos	assumir	quando	
nos	propomos	a	construir	uma	sociedade	mais	igualitária	e	na	qual	os	direitos	
sejam	efetivos	para	todas/os.	Portanto,	um	desafio	e	um	compromisso	que	
devem	ser	assumidos	em	nossas	escolas	(PASSADOR,	2017,	p.	22).	
No	entanto,	infelizmente,	o	que	podemos	ver	ao	longo	do	tempo	é	que	o	conserva-
dorismo	invadiu	os	assuntos	relacionados	à	questão	de	gênero	e	sexualidade	nos	currículos	
escolares,	em	que	se	criou	um	pânico	exagerado	em	relação	aos	assuntos	abordados	no	
âmbito	educacional.	Desta	 forma,	 retrocessos	passaram	a	serem	vistos	cotidianamente,	
em	 que	 o	 silenciamento	 de	 determinados	 temas	 passou	 a	 vigorar	 no	 contexto	 escolar	
(VIANNA,	2017).	Como	consequência,	o	que	se	vê	ainda	são	muitos(as)	“[...]	professoras	
e	professores	dedicados	ao	tema	[...]	sozinhos/as,	sem	parcerias	e	sem	força	política	para	
sustentar	um	trabalho	denegrido	pela	maior	parte	da	escola”	(p.	65).
Não	obstante,	Passador	(2017,	p.	28)	destaca	ainda	que	a	diversidade	cultural	deve	
ser	compreendidaenquanto	um	fenômeno	que	está	presente	em	todas	as	partes	do	mundo	
e	que	“[...]	a	diversidade	de	culturas	que	a	humanidade	produziu	e	produz	é	uma	conse-
quência	 lógica	 dessa	 nossa	 condição	 e	 capacidade	 de	 produzirmos	 diferenças”.	 Sendo	
assim,	“A	diversidade	é,	portanto,	uma	realidade	incontornável,	que	exige	reconhecimento	
e	garantia	de	direitos,	na	direção	da	superação	da	discriminação	e	exclusão	social”	(p.	30).	
Em	 conjunto	 com	 a	 discriminação,	 evidencia-se	 os	 processos	 de	 preconceitos.	
Segundo	Passador	(2017),	o	preconceito	está	enraizado	em	nossa	cultura	e,	consequen-
temente,	em	nós	mesmos,	e	muitas	vezes	 reproduzimos	determinadas	 falas,	 comporta-
20UNIDADE I Construção Histórica e Perspectivas da Educação Sexual
mentos,	gestos	 imbuídos	de	preconceitos,	 sem	nos	darmos	conta;	a	 isto	chamamos	de	
naturalização	dos	preconceitos.	
Neste	caminho,	a	escola	possui	um	papel	chave,	sendo	o	de	“[...]	estabelecer	bases	
inclusivas	que	garantam	não	apenas	a	convivência	entre	os	diversos,	mas	o	reconhecimento	
deles	como	iguais	em	direitos,	sem	que	eles	precisem	para	tanto	se	descaracterizar	como	
diferentes	entre	si”	(PASSADOR,	2017,	p.	40).	
Uma	educação	cidadã	deve	estar	baseada	na	promoção	da	igualdade	de	di-
reitos	e	no	reconhecimento	e	valorização	da	diversidade.	Isso	exige	que	su-
peremos	um	modelo	de	educação	pensado	como	um	processo	de	produção	
de	homogeneidades	padronizadas	e	normalizadas	(PASSADOR,	2017,	p.	41).
Sendo	assim,	a	escola	possui	um	papel	extremamente	empoderador	relacionado	à	
quebra	de	preconceitos	relacionados	à	diversas	categorias,	como	vimos	anteriormente.	No	
que	se	refere	ao	gênero	e	sexualidade,	a	escola,	por	meio	de	inúmeras	alternativas,	pode	
assumir	uma	posição	de	criadora	de	espaços	para	novos	pontos	de	vista,	novas	formas	de	
pensar	e,	consequentemente,	novas	maneiras	de	agir	sobre	o	mundo.
SAIBA MAIS
Aluno(a),	pensando	na	relação	entre	gênero	e	feminismo,	você	sabia	que	existem	al-
gumas	datas	importantes	que	marcam	a	luta	pelo	fim	da	violência	contra	as	mulheres?	
Essas	datas	são	importantes,	pois	trazem	visibilidade	para	a	causa.	O	dia	25	de	novem-
bro	é	considerado	o	Dia	Internacional	da	Não-Violência	contra	as	mulheres.	Também,	o	
dia	06	de	dezembro	é	tido	como	o	Dia	Nacional	de	Mobilização	dos	Homens	pelo	Fim	
da	Violência	contra	as	Mulheres.	
Fonte:		Mello	(2020).
REFLITA 
“Aqueles	e	aquelas	que	transgridem	as	fronteiras	de	gênero	ou	de	sexualidade,	que	as	
atravessam	ou	que,	de	algum	modo,	embaralham	e	confundem	os	sinais	considerados	
próprios	de	cada	um	desses	territórios	são	marcados	como	sujeitos	diferentes	e	des-
viantes”.	
Aluno(a),	 você	 já	 parou	para	pensar	 nisso?	Como	você	enxerga	o	que	é	 “normal”	 e	
“anormal”	frente	às	outras	pessoas?	
Fonte:	Louro	(2004,	p.132).	
21UNIDADE I Construção Histórica e Perspectivas da Educação Sexual
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Caro(a)	aluno	(a),	
Chegamos	ao	fim	da	nossa	primeira	unidade.	Você	percebeu	quantos	assuntos	e	
conceitos	 importantes	estudamos	até	aqui?	Como	vimos	na	primeira	unidade,	é	preciso	
compreender	o	conceito	de	gênero	para	que	possamos	expandir	nossa	compreensão	das	
diferenças	e,	 consequentemente,	 absorver	 novas	maneiras	de	 compreender	o	papel	 da	
sexualidade	no	currículo	escolar.	
Ainda,	realizamos	uma	importante	contextualização	histórica	sobre	os	estudos	
de	gênero	e	educação,	principalmente	no	Brasil,	estudando	as	construções	históricas	
acerca	do	masculino	e	feminino,	com	os	papéis	sociais	que	são	pré-determinados	em	
relação	aos	sexos.	
Também	estudamos	a	sexualidade	como	sendo	uma	construção	de	ordem	histórica,	
social,	cultural,	política	e	discursiva.	Para	tal	estudo,	nos	ancoramos	nos	estudos	basilares	
de	Michel	Foucault,	compreendendo	a	importância	e	relevância	dos	discursos,	bem	como	
a	noção	de	poder	e	seus	efeitos.	
Na	sequência,	partimos	para	discussões	relacionadas	às	abordagens	da	educação	
sexual	através	da	história	e	seus	reflexos	no	cotidiano	para	a	escolarização	brasileira	frente	
à	equidade	de	gênero.	Para	isso,	conhecemos	o	papel	dos	estudos	feministas,	bem	como	
a	importância	da	temática	da	sexualidade	dentro	das	escolas.
Por	fim,	estudamos	aspectos	cruciais	relacionados	à	prevenção	do	preconceito	e	
da	discriminação	frente	às	diferenças	no	contexto	escolar.
Espero	que	você	tenha	aproveitado	ao	máximo	os	conteúdos	que	foram	discutidos	
aqui.	Nos	encontramos	na	Unidade	II	para	darmos	continuidade	nas	discussões	relaciona-
das	à	sexualidade,	gênero	e	educação.	
Até logo!
22UNIDADE I Construção Histórica e Perspectivas da Educação Sexual
LEITURA COMPLEMENTAR
Artigo:	Formação	em	gênero	e	educação	para	a	sexualidade:	considerações	acer-
ca	do	papel	da	escola
Resumo:	Este	 artigo,	 por	meio	de	uma	pesquisa	bibliográfica,	 propõe	uma	dis-
cussão	acerca	da	 formação	em	gênero	e	da	educação	para	a	sexualidade,	na	 tentativa	
de	compreender	como	a	igreja,	a	família	e	a	escola	têm,	historicamente,	contribuído	para	
a	Educação,	principalmente	de	crianças	e	jovens	em	idade	escolar,	de	acordo	com	seus	
preceitos.	Assim,	defendemos	que	a	família	e	a	igreja	podem	contribuir	na	formação	dos	
indivíduos	–	com	afeto,	carinho,	costumes	–,	porém,	à	escola	cabe	disseminar	conhecimen-
tos	científicos,	de	modo	a	mostrar	as	várias	formas	de	vivenciar	e	construir	as	identidades	
pessoais,	sempre	com	caráter	emancipatório,	para	a	convivência	e	o	reconhecimento	das	
diferenças,	além	do	respeito	entre	os	sujeitos.
Palavras-chave:	Gênero,	educação,	sexualidade,	respeito.
Texto completo disponível em: 
MAIO,	E.	R.;	OLIVEIRA,	M.	de;	PEIXOTO,	R.	Formação	em	gênero	e	educação	
para	a	sexualidade:	considerações	acerca	do	papel	da	escola.	Revista NUPEM,	Campo	
Mourão,	v.	10,	n.	20,	2018.	Disponível	em:	http://revistanupem.unespar.edu.br/index.php/
nupem/article/view/353/332.	Acesso	em:	01	mar.	2021.
http://revistanupem.unespar.edu.br/index.php/nupem/article/view/353/332
http://revistanupem.unespar.edu.br/index.php/nupem/article/view/353/332
23UNIDADE I Construção Histórica e Perspectivas da Educação Sexual
MATERIAL COMPLEMENTAR
LIVRO 
Título:	Educação,	Gênero	e	Feminismos:	 resistências	bordadas	
com	fios	de	luta.
Autora: Eliane	Rose	Maio	(Organizadora)
Editora: Editora	CRV
Sinopse:	O	livro	apresenta	as	lutas	do	movimento	feminista	e	que	
ainda	se	mostram	constantes,	pela	igualdade	e	equidade	de	direi-
tos,	entre	as	mulheres	e	os	homens.	As	discussões	sobre	os	fe-
minismos	fazem	parte	desta	obra	literária,	em	que	se	apresentam,	
em	várias	instâncias,	como	as	mulheres	(e	aqui	pontuamos	todas	
as	mulheres,	de	quaisquer	etnias	e	raça),	buscaram	(e	buscam)	os	
seus	direitos	de	equidade	e	igualdades,	diferenciando-se	daquelas	
que	ainda	são	somente	vistas	como	a	“rainha	do	lar,	da	musa	ido-
latrada	pelos	poetas	e	cantores,	da	mulher	frágil,	etc.”	O	livro	traz	
discussões	e	provocações	em	uma	luta	para	que	possamos	ter	um	
mundo	mais	justo	e	digno	para	todas	as	pessoas.	
FILME/VÍDEO
Título: Hoje	eu	quero	voltar	sozinho
Ano: 2014
Sinopse:	O	filme	mostra	o	preconceito	e	a	discriminação	no	am-
biente	escolar,	tanto	pela	deficiência	visual	(o	personagem	principal	
é	cego)	quanto	pela	sua	orientação	sexual.	O	filme	também	traba-
lha	com	questões	relacionadas	à	adolescência	e	à	descoberta	da	
sexualidade,	os	conflitos	e	a	busca	pela	independência.	
24UNIDADE I Construção Histórica e Perspectivas da Educação Sexual
WEB
No	site	Vivendo	a	Adolescência	(link	a	seguir)	é	possível	encontrar	uma	gama	am-
pla	de	materiais	que	apresentam	e	trabalham	com	a	proposta	de	uma	Educação	Integral	em	
Sexualidade.	Ainda,	o	site	oferece	informações,	esclarece	dúvidas	e	propõem	atividades	no	
que	se	refere	à	educação	sexual.
	 	Link	do	site:	http://www.adolescencia.org.br/site-pt-br/educacao-integral-em-sexualidade
http://www.adolescencia.org.br/site-pt-br/educacao-integral-em-sexualidade
25
Plano de Estudo:
●	Abordagens	pedagógicas	da	educação	sexual	no	Brasil;
●	Compreendendo	os	conceitos	e	as	interfaces	entre	gêneroe	orientação	sexual;
●	Recursos	didático-metodológicos	para	um	trabalho	de	Educação	Sexual	na	Educação		
	 Infantil	e	Ensino	Fundamental.	
Objetivos da Aprendizagem:
●	 Contextualizar	as	abordagens	pedagógicas	que	dialogam	com	
a	educação	sexual	no	Brasil;
●	 Compreender	a	relação	e	a	diferença	entre	os	conceitos	de	gênero	e	
orientação	sexual,	destacando	suas	especificidades;
●	 Estabelecer	a	 importância	e	os	 tipos	de	 recursos	que	podem	ser	empregados	na	
sala	de	aula	para	trabalhar	a	Educação	Sexual.	
UNIDADE II
Educação de Gênero e Sexualidade nos 
Espaços Educativos
Professor Esp. Jose Valdeci Grigoleto Netto
26UNIDADE II Educação de Gênero e Sexualidade nos Espaços Educativos 
INTRODUÇÃO
Olá,	aluno(a)!	Que	bom	reencontrar	você.	
Seja	 bem-vindo(a)	 à	 segunda	 unidade	 da	 disciplina	 Gênero,	 Sexualidade	 e	
Educação.	Agora,	 iremos	 conhecer	 os	 aspectos	 relacionados	à	 prática	 do	ensino	da	
educação	sexual	dentro	dos	espaços	educativos.	Para	isso,	inicialmente	faremos	uma	
leitura	acerca	das	abordagens	educativas	relacionadas	à	educação	sexual,	perpassan-
do	por	alguns	conceitos	importantes	e,	por	fim,	iremos	explorar	os	recursos	que	podem	
ser	adotados	para	esta	prática.
No	 Tópico	 I	 iremos	 conhecer	 as	 abordagens	 pedagógicas	 da	 educação	 sexual	
no	Brasil.	Para	 isso,	 iremos	realizar	algumas	reflexões	acerca	da	 inserção	da	educação	
sexual	nos	espaços	educacionais	e	resgatar	na	história	da	educação	do	Brasil	aspectos	
relacionados	à	temática.	
Avançando,	 no	Tópico	 II	 iremos	 conhecer	 os	 conceitos	 de	 gênero	 e	 orientação	
sexual	e	suas	interfaces,	buscando	diferenciá-los	e,	a	partir	disso,	elencar	suas	especifici-
dades,	a	fim	de	não	reproduzir	equívocos.		
Por	fim,	no	Tópico	III,	iremos	nos	aproximar	de	alguns	recursos	didático-metodoló-
gicos	que	podem	ser	utilizados	para	o	trabalho	de	educação	sexual	na	educação	Infantil	e,	
também,	no	ensino	fundamental.
A	partir	dos	conteúdos	elencados,	espero	que	os	textos	e	discussões	aqui	propos-
tos	sejam	úteis	e	interessantes	para	embasar	seus	estudos	e	sua	futura	prática	docente.	
Bons estudos! 
27UNIDADE II Educação de Gênero e Sexualidade nos Espaços Educativos 
1. ABORDAGENS PEDAGÓGICAS DA EDUCAÇÃO SEXUAL NO BRASIL
Olá,	aluno(a).	Vamos	dar	início	ao	primeiro	tópico	desta	unidade.	Iniciaremos	apre-
sentando	as	abordagens	pedagógicas	da	educação	sexual	no	Brasil.	Vamos	lá?
De	acordo	com	Pelegrini	e	Maio	(2016),	a	sexualidade,	ao	longo	do	tempo,	tem	sido	
alvo	de	construções	nas	mais	diversas	esferas,	principalmente	no	que	tange	à	constituição	
subjetiva	das	pessoas.	Ainda,	é	notável	que	ela	está	presente	nos	discursos,	sejam	eles	
ditos	ou	escritos,	além	de	estar	presente,	também,	na	ausência	dos	discursos,	em	situações	
em	que	a	sexualidade	é	rodeada	por	silêncios	e	proibições.	
Quando	pensamos	na	inserção	do	tema	da	sexualidade	nos	currículos	escolares,	
é	 importante	 destacarmos	que	 sua	 inserção,	 desde	o	 início,	 foi	 alvo	 de	 polêmicas	 que,	
mesmo	ocasionando	alguns	avanços,	também	originaram	inúmeros	retrocessos	no	cenário	
educacional	brasileiro.	Para	ilustrar,	podemos	citar	as	incansáveis	discussões,	desde	o	ano	
de	2010,	instauradas	nos	espaços	sociais	quando	se	deu	início	à	construção	dos	Planos	
Nacionais,	Estaduais	e	Municipais	de	Educação	(PELEGRINI;	MAIO,	2016).
Não	obstante,	faz-se	oportuno	citar	os	próprios	autores	quando	pontuam	que
Um	exemplo	desses	embates	foi	a	supressão	dos	termos	“gênero	e	orienta-
ção	sexual”	do	 texto	original	do	Plano	Nacional	de	Educação	(2010).	Essa	
disputa	envolveu	diferentes	movimentos	sociais	e	instituições,	ganhou	visibi-
lidade	e	gerou	repercussão,	alcançando	os	Planos	dos	Estados	e	Municípios	
em	uma	reação	em	cadeia.	Muitas	Manifestações	ocorreram	para	que	fos-
sem	retirados	também	desses	planos	as	dimensões	da	diversidade	sexual	e	
de	gênero	(PELEGRINI;	MAIO,	2016,	p.	129).	
28UNIDADE II Educação de Gênero e Sexualidade nos Espaços Educativos 
Bem	como,	Furlaneto	et al.	 (2018)	realizaram	um	estudo	em	que	pesquisaram,	
em	alguns	bancos	de	dados	on-line	de	produções	científicas,	com	o	recorte	de	período	
2010-2016,	 a	 questão	 da	 educação	 sexual	 em	 escolas	 brasileiras,	 com	 o	 objetivo	 de	
conhecer	suas	principais	características,	quais	são	os	temas	abordados	e,	ainda,	quais	
os	profissionais	responsáveis	por	tal	tarefa.	Após	a	obtenção	dos	dados	e	enquanto	re-
sultado,	percebeu-se	que	o	que	foi	realizado	nos	espaços	educativos	não	corresponde	
ao	que	está	inserido	nos	Parâmetros	Curriculares	Nacionais,	em	relação	à	importância	de	
que	o	tema	seja	abordado	de	maneira	transversal,	isto	é,	que	atravesse	e	abarque	todo	
o	currículo	escolar.	
Lima	e	Almeida	 (2010),	 na	mesma	vertente,	 assinalam	que	a	 inserção	do	 tema	
da	 sexualidade	 nas	 práticas	 pedagógicas	 curriculares	 apresenta	 grandes	 dificuldades	 e	
barreiras,	 em	que	 a	 oferta	 é	 superficial	 e	 rasa,	 não	 sendo	 proporcionado	 aos	 alunos	 e	
alunas	um	espaço	para	aprofundamento	das	questões	necessárias,	visto	que	
[...]	as	políticas	públicas	são	incipientes	no	que	se	refere	ao	preparo	de	profis-
sionais	de	ensino	para	lidar	com	temas,	tais	como	a	sexofobia	ou	heterofobia,	
homofobia,	heteronormatividade	e	outros	preconceitos	que	estão	presentes	
na	sala	de	aula,	incorporados	desde	muitos	séculos	atrás	e	antes	da	própria	
escola	existir	como	instituição	(LIMA;	ALMEIDA,	2010,	p.	726).		
Neste	caminho,	é	extremamente	urgente	que	professores	e	professoras	trabalhem	
com	questões	relacionadas	à	sexualidade	e,	ainda	mais,	ofereçam	um	conteúdo	coeso	e	
trabalhe	com	a	verdade,	no	sentido	de	possibilitar	o	acesso	à	informação	e	que	as	trans-
formem,	em	conhecimentos	que	agreguem	aos	estudantes,	traduzindo-as	em	informações	
imbuídas	de	uma	linguagem	acessível	e	clara.	Ademais,	é	preciso	englobar	as	mais	diversas	
questões	 relacionadas	à	sexualidade,	a	saber:	gravidez,	aborto,	 Infecções	Sexualmente	
Transmissíveis	(IST),	dentre	outros	(LIMA;	ALMEIDA,	2010).	
Louro	(2013)	diz	que	há	 tempos	alguns	movimentos,	 tais	como	o	movimento	 fe-
minista,	o	movimento	negro	e	o	movimento	das	chamadas	minorias	sexuais,	denunciam	a	
ausência	de	suas	histórias	nos	currículos	escolares.	O	que	muitas	vezes	podemos	ver,	é	a	
realização	simbólica	de	datas	“comemorativas”	que,	em	cada	nível	de	ensino,	apresentam	
atividades	e	eventos	específicos.	Com	isso,	as	instituições	escolares	detêm	determinado	
controle	e	poder	em	relação	ao	que	é	dito	e	apresentado,	logo,	os	sujeitos	pertencentes	a	
tais	categorias	passam	a	assumir	o	papel	de	excêntricos	e	excepcional.	
A	discussão	da	educação	em	sexualidade	não	é	algo	novo	e	provoca	muitas	
controvérsias,	pois	é	um	tema	pouco	debatido	e,	quando	discutido	é	percep-
tível	o	desconhecimento	e	a	visão	estereotipada	por	grande	parte	da	popu-
lação	leiga.	No	que	concerne	ao	tema,	docentes,	técnicos	e	teóricos	da	área	
têm	dedicado	anos	de	estudos	para	oferecer	uma	educação	que	promova	a	
justiça	social	a	partir	da	equidade	de	gênero	para	meninas	e	meninos	(FREI-
TAS,	2017,	p.	134).
29UNIDADE II Educação de Gênero e Sexualidade nos Espaços Educativos 
É	inegável	que	a	escola	deve	refletir	a	realidade	social	na	qual	está	inserida,	isto	
é,	ela	possui,	dentre	outros,	o	papel	de	preparar	os	alunos	e	alunas	para	os	processos	
sociais.	Ainda,	 ela	 deve	 refletir	 aspectos	 relacionados	 à	 sexualidade	 e	 ao	 gênero.	 Um	
equívoco	muito	comum	é	a	associação	de	sexualidade	com	relação	sexual.	Essa	confusão	
é	presente	no	imaginário	social,	o	que	acaba	deixando	o	tema	de	lado,	transformando-o	
em	tabu.	Como	consequência,	o	silenciamento	da	sexualidade	tende	a	deixar	os	alunos	e	
alunas	vulneráveis	ao	não	receberem	as	informações	de	maneira	adequada	e	pedagógica	
(MARTINI,	2016).	
É	na	escola	que	os	adolescentes	passam	boa	parte	do	seu	tempo,	e	é	nesse	
espaço	que	se	complementa	a	educação	dada	no	ambiente	familiar.	Na	esco-
la	são	abordados	temas	mais	complexos	que	no	dia-a-dia	não	são	ensinadose	aprendidos,	tendo	esta	uma	imensa	responsabilidade	na	formação	afetiva	
e	emocional	de	seus	alunos	(OLIVEIRA;	URBAN,	2016,	p.	2).
A	 sexualidade,	 neste	 caminho,	 pode	 ser	 compreendida	 enquanto	 fazendo	 parte	
de	todas	as	fases	do	desenvolvimento	humano,	estando	relacionada	com	os	campos	das	
emoções	e	dos	afetos,	sendo	de	extrema	 importância	e	ocupando	um	papel	que,	como	
vimos,	vai	além	do	prazer	físico	(MARTINI,	2016).	
Aluno(a),	neste	momento,	você	deve	estar	se	perguntando:	mas	será	que	as	coisas	
sempre	foram	assim,	no	que	diz	respeito	à	sexualidade	nos	espaços	educativos?	Aqui,	ire-
mos	destacar	três	momentos	sociais	que	são	de	grande	importância	para	compreendermos	
alguns	avanços	e	retrocessos	em	relação	à	educação	sexual.
Segundo	Oliveira	e	Urban	(2016),	tal	tema	já	se	configurava	enquanto	uma	preo-
cupação	 nos	 espaços	 escolares,	 no	Brasil,	 desde	 o	 início	 do	 século	XX	 em	que,	 nas	
décadas	de	1920	e	1930,	médicos,	professores	e	professoras	e	intelectuais	da	época	se	
debruçaram	no	tema.	
Em	 1922,	 Fernando	 de	 Azevedo,	 reformador	 educacional,	 foi	 responsável	 por	
responder	a	um	questionário	em	relação	à	educação	sexual.	Tal	questionário	foi	solicitado	
pelo	Instituto	de	Higiene	da	Faculdade	de	Medicina	e	Cirurgia	de	São	Paulo.	A	partir	deste	
feito,	deu-se	origem	a	um	movimento	brasileiro	que	passou	a	se	interessar	pelo	tema	da	
sexualidade	no	âmbito	educacional	(OLIVEIRA;	URBAN,	2016).	
Pouco	mais	de	uma	década	depois,	 em	1933,	no	estado	do	Rio	de	Janeiro,	 foi	
fundado	o	Circuito	Brasileiro	de	Educação	Sexual	(CBES),	sob	responsabilidade	do	médico	
José	de	Oliveira	Pereira	de	Albuquerque.	O	CEBS	visava	a	produção	de	materiais	relacio-
nados	à	educação	sexual,	além	de	realizar	eventos,	reuniões	e	a	produção	de	filmes.	Ainda,	
o	circuito	possuía	como	objetivo	“[...]	prestar	um	serviço	de	instrução	e	esclarecimento	no	
30UNIDADE II Educação de Gênero e Sexualidade nos Espaços Educativos 
que	 tange	aos	assuntos	de	educação	e	higiene	sexual,	abordando	questões	biológicas,	
psicológicas	e	morais	para	a	população	brasileira”	(OLIVEIRA;	URBAN,	2016,	p.	3).	
Ainda	segundo	os	autores,	na	década	de	1960,	um	pouco	antes	do	 início	da	di-
tadura	militar	brasileira,	a	educação	sexual	passa	a	vigorar	nos	contextos	educacionais,	
sendo	inserida	nos	currículos.	No	entanto,	com	a	ditadura	militar	em	vigor,	a	sexualidade	foi	
retirada	e	suprimida	do	contexto	educacional.
Como	a	ditadura	impôs	um	regime	de	controle	e	moralização	dos	costumes,	
especialmente	 decorrente	 da	 aliança	 entre	 militares	 e	 o	 majoritário	 grupo	
conservador	da	igreja	católica,	a	educação	sexual	foi	definitivamente	banida	
de	qualquer	discussão	pedagógica	por	parte	do	Estado	e	 toda	e	qualquer	
iniciativa	escolar	suprimida	com	rigor	(OLIVEIRA;	URBAN,	2016,	p.	04).
Aluno(a),	com	essas	afirmativas,	de	recortes	sociais,	podemos	perceber	que,	hoje,	
incluir	nos	currículos	escolares	tal	temática	foi	(e	ainda	é)	tarefa	desafiadora.	No	entanto,	
é	necessário	que	continuemos	na	 luta	para	que	o	ensino	da	sexualidade	faça	parte	dos	
espaços	educativos,	pois
a	sexualidade	humana	figura	como	um	dos	temas	mais	inquietantes	e,	quase	
sempre,	mais	recusados	no	universo	prático	do	educador.	Entretanto,	cada	
vez	mais	a	escola	 tem	sido	convocada	a	enfrentar	as	 transformações	das	
práticas	sexuais	contemporâneas,	principalmente	na	adolescência,	uma	vez	
que	seus	efeitos	se	fazem	alardear	no	cotidiano	escolar	(OLIVEIRA;	URBAN,	
2016,	p.	02).
Sendo	 assim,	 como	 aponta	 Louro	 (2013),	 é	 necessário	 que	 os	 profissionais	 da	
educação	se	atentem	à	uma	prática	que	seja	desestabilizadora	e	que	desconstrua	a	ideia	
de	naturalidade	da	sexualidade	e	que,	em	vez	disso,	busque	dar	espaço	ao	caráter	móvel,	
plural	e	o	papel	do	social	na	construção	da	sexualidade.	
31UNIDADE II Educação de Gênero e Sexualidade nos Espaços Educativos 
2. COMPREENDENDO OS CONCEITOS E AS INTERFACES ENTRE GÊNERO E 
 ORIENTAÇÃO SEXUAL
Aluno(o),	 na	primeira	unidade	nós	conhecemos	o	conceito	de	gênero,	 contando	
com	 algumas	 importantes	 referências	 para	 embasar	 nossos	 estudos.	 Neste	 momento,	
iremos	conhecer	outro	conceito	de	extrema	relevância:	orientação	sexual	e,	a	partir	disso,	
iremos	 tecer	algumas	 reflexões	acerca	de	ambos	os	conceitos	e	suas	 interfaces	com	o	
espaço	educacional.	
Em	síntese,	para	Jesus	(2012,	p.	12),	orientação	sexual	pode	ser	compreendida	
enquanto	a	“[...]	atração	afetivossexual	por	alguém	de	algum/ns	gênero/s”.	Isto	posto,	po-
demos	pensar	que	a	
Sexualidade,	portanto,	está	ligada	a	fatores	internos	e	externos	ao	ser	huma-
no,	que	num	processo	de	interação	mútua	cooperam	para	a	sua	constituição.		
Frente	a	esta	 constatação,	 urge	pensar	 a	 sexualidade	 como	um	processo	
dialético,	no	qual	o	ser	humano	influencia	a	construção	de	valores	e	normas	
sexuais	e,	simultaneamente,	é	influenciado	pelas	múltiplas	e	sucessivas	ex-
periências	vividas	e	vivenciadas	em	contato	com	o	meio	social	em	que	se	
insere	(BISPO	DE	JESUS,	2014,	p.	55).
Nesta	perspectiva,	trago	uma	imagem	interessante,	que	pode	nos	auxiliar	na	com-
preensão	do	conceito	de	orientação	sexual.	A	imagem	também	traz	o	conceito	de	identidade	
de	gênero	e	de	sexo	biológico.	Veja:	
32UNIDADE II Educação de Gênero e Sexualidade nos Espaços Educativos 
FIGURA 1 - CONCEITOS IMPORTANTES
Fonte:	https://miro.medium.com/max/2026/1*fdQkEf7yXhQ_OaIyFNLuPA.png
Aluno(a),	 viu	 como	 é	 interessante	 conhecermos	 esses	 aspectos?	 Ainda	 hoje,	
percebemos	uma	grande	confusão	nas	pessoas	quando	se	referem	à	orientação	sexual.	
Como	a	imagem	ilustra,	a	orientação	sexual	refere-se	ao	aspecto	da	atração,	do	desejo;	
já	a	identidade	de	gênero,	ao	lado	do	conceito	de	gênero,	refere-se	à	maneira	na	qual	nos	
enxergamos	e	nos	identificamos.
Conhecer	tais	diferenças	é	um	passo	de	extrema	importância	para	que	os	profes-
sores	e	professoras	possam	conhecer	as	múltiplas	formas	de	ser	e	estar	no	mundo	que	
existem	e,	a	partir	disso,	se	aperfeiçoarem	e	sentirem-se	seguros	para	levar	para	o	espaço	
escolar	as	questões	relacionadas	à	sexualidade.
A	simples	conscientização	tem	o	poder	de	modificar	nosso	posicionamento	e	
ações	diante	do	desafio	das	questões	de	gênero	e	sexualidade	presentes	nas	
salas	de	aula	fazendo	com	que	as	expressões	presenciadas	e	descritas	no	
início	desse	texto	muito	corriqueiras	em	sala	de	aula	deixem	de	existir.	Como	
professoras/res	não	podemos	ficar	impassíveis,	nem	tomar	atitudes	discrimi-
natórias,	porque	este	assunto	reflete	diretamente	na	felicidade	ou	infelicidade	
de	alunas/os	sendo	o	mesmo	importantíssimo	para	que	essa	pessoa	consiga	
atingir	uma	vida	eficaz	e	plena	como	indivíduo	produtivo	da	sociedade	sendo	
isso	o	principal	objetivo	da	escola	(SIQUEIRA;	CALDAS,	2020,	p.	130).
https://miro.medium.com/max/2026/1*fdQkEf7yXhQ_OaIyFNLuPA.png
33UNIDADE II Educação de Gênero e Sexualidade nos Espaços Educativos 
É	pertinente	 citar,	 neste	momento,	 a	Base	Nacional	Curricular	Comum	 (BNCC).	
Este	documento,	de	ordem	normativa,	abrange	conhecimentos	contemporâneos	que	dia-
logam	com	as	necessidades	de	alunos	e	alunas	de	todo	o	país,	visando	a	efetivação	de	
direitos.	O	documento	traz	que,	para	o	ensino	de	ciências,	é	ofertado	o	tema	da	sexualidade	
em	conjunto	com	a	reprodução	humana,	isto	é,	ligado	aos	aspectos	biológicos	dos	sujeitos	
(BRASIL,	2018).	Aluno(a),	se	faz	importante,	depois	dos	conteúdos	que	vimos	na	unidade	
anterior,	problematizar:	e	as	outras	esferas?	E	a	transversalidade	da	temática?	Compete	
apenas	 à	 biologia	 lidar	 com	o	 tema	da	 sexualidade?	Precisamos	 desenvolver	 um	olhar	
atento	para	o	tema,	ao	lembrarmos	que	a	sexualidade	se	manifesta	de	maneira	plural	e,	por	
isso,	reflete	em	vários	âmbitos	de	nossas	vidas,	e	não	apenas	no	campo	biológico.
Agora,	aluno(a),	quando	pensamos	nas	interfaces	entre	a	escola	e	as	questões	de	
gênero,	você	pode	observar	que	a	própria	instituição	escolar	tende	a	gravar	e	a	produzir	
alguns	marcadores	de	gênero,	é	o	quepontua	Bispo	de	Jesus	(2014),	quando	sinaliza	que	
Em	conformidade	com	as	normatizações	sociais	 tradicionalmente	concebi-
das,	acerca	do	comportamento	masculino	e	 feminino,	a	docilidade,	a	obe-
diência	às	regras	e	o	temperamento	menos	agitado,	por	exemplo,	são	expec-
tativas,	 vulgarmente,	 direcionadas	 ao	mundo	 feminino;	 já	 a	 desobediência	
aos	regulamentos,	a	contestação	às	ordens	e	a	agitação	são	atitudes	aguar-
dadas	do	mundo	masculino	(p.	60,	grifo	da	autora).	
É	válido	mencionarmos,	a	partir	disso,	que	essas	questões	não	são	de	ordem	na-
tural.	Ao	contrário,	são	produzidas	e	reproduzidas	diariamente	no	contexto	escolar,	social	
e	 familiar.	 Importante	mencionarmos	e	produzirmos	questões	e	debates	acerca	da	 ideia	
de	 “naturalização”	 dos	 acontecimentos	 sociais.	 Isso,	 inclusive,	 fica	 evidente	 no	 próprio	
contexto	escolar,	quando	
[...]	Diante	de	comportamentos	que	costumam	fugir	às	 regras	de	gênero	e	
sexualidade,	a	tendência	de	docentes,	homens	e	mulheres,	é	recriminar	tais	
condutas,	 sinalizando	 para	 a	 forma	 como	 sujeitos	masculinos	 e	 femininos	
devem	agir	para	serem	reconhecidos	como	tais.
[...]
Dessa	maneira,	muitas	vezes,	docentes	homens	e	mulheres	estimulam	mais	
a	participação	de	meninas	nas	aulas,	face	à	representação	do	mundo	femi-
nino	como	sendo,	naturalmente,	comunicativo,	enquanto	os	meninos	pouco	
são	convocados	a	participarem.	 Isto	 implica	considerar	que,	consciente	ou	
inconscientemente,	a	escola	é	capaz	de	erigir,	junto	aos	sujeitos	participantes	
do	contexto	escolarizado,	conceitos	de	masculinidade	e	feminilidade	a	partir	
de	afirmativas	que	lhes	são	apresentadas	e	que	lhes	esclarecem	o	significa-
do	social	do	que	venha	a	ser	homem	e	do	que	venha	a	ser	mulher	(BISPO	
DE	JESUS,	2014,	p.	61-62).
Desta	forma,	é	de	extrema	importância	que	pensemos	na	escola	enquanto	forma-
dora,	inclusive,	de	caráter	e	da	personalidade	das	pessoas,	mesmo	que	de	maneira	discreta	
(BISPO	DE	JESUS,	2014).	A	escola	precisa,	urgentemente,	contribuir	para	a	efetivação	de	
espaços	de	expressão	da	sexualidade	que	não	sejam	excludentes	e	discriminatórios,	mas	
sim	que	abarquem	a	diversidade	existente.	
34UNIDADE II Educação de Gênero e Sexualidade nos Espaços Educativos 
3. RECURSOS DIDÁTICO-METODOLÓGICOS PARA UM TRABALHO DE 
 EDUCAÇÃO SEXUAL NA EDUCAÇÃO INFANTIL E ENSINO FUNDAMENTAL
Ainda	hoje,	realizar	a	organização	de	conteúdos	relacionados	à	sexualidade	para	
se	trabalhar	no	contexto	educativo	é	uma	ação	que	tende	a	gerar	desconforto	e	incômodo,	
tanto	nos	próprios	professores	e	professoras	quanto	na	população	em	geral	(SACHI,	2018).	
Isso	porque	a	escola,	inclusive,	é	um	espaço	que	ainda	produz	a	inserção	de	mar-
cadores	de	gênero	em	seus	espaços,	tais	como:	cartazes,	filas,	linguagem,	brincadeiras,	
músicas,	dentre	outros.	Curioso	que,	mesmo	produzindo	questões	relacionadas	ao	gênero,	
a	escola	possui	resistência	para	discutir	sobre	a	temática	(LEITE;	ROMERO,	2017,	p.	145),	
ficando	tal	fato	evidente	quando	notamos	que
Na	Educação	Infantil,	por	exemplo,	notamos	que	os	estereótipos	de	gênero	
se	efetivam	de	diversas	maneiras	como	o	uso	do	diminutivo	para	referir-se	ao	
corpo	feminino	e	o	aumentativo	para	falar	do	masculino	ou	a	separação	de	
filas	de	meninas	e	meninos	para	a	locomoção	das	crianças.	É	o	mesmo	com	
as	cores	dos	materiais,	a	decoração	dos	cadernos,	a	divisão	dos	brinquedos,	
das	brincadeiras.		
Neste	caminho,	é	importante	questionarmos	acerca	do	preparo	e	da	formação	dos	
professores	 e	 professoras	 para	 abordar	 questões	 relacionadas	 à	 sexualidade.	Sabendo	
que	estes	profissionais	são	 formadores	de	opinião	 (SACHI,	2018),	é	possível	perguntar:	
será	que	há	um	adequado	preparo	para	tal	empreitada?	
Pensando	 nisto,	 é	 relevante	 que	 nos	 atentemos	 para	 aspectos	 relacionados	 ao	
processo	de	ensino-aprendizagem,	em	que
35UNIDADE II Educação de Gênero e Sexualidade nos Espaços Educativos 
Não	se	pode	ver	o	mundo	pronto.	Para	isso	é	preciso	pensar	no	processo	ensi-
no-aprendizagem,	pois	é	por	meio	dele	que	educadores(as),	formam	opiniões	
nos(as)	 seus(suas)	 discentes.	 É	 necessário,	 antes	 de	 tudo,	 impelir	 em	 nós	
mesmos(as)	perguntas	e	 respostas	que	certamente	nos	 levarão	a	esquadri-
nhar,	perscrutar,	observar	e	pensar	sobre	como	nos	foi	ensinada	essa	questão	
da	sexualidade. É evidente que, se não aprendemos, também não temos 
subsídios consideráveis para ensinar (SACHI,	2018,	p.	28,	grifo	nosso).	
Portanto,	é	urgente	pensarmos	(e	repensarmos	quantas	vezes	forem	necessárias)	
acerca	da	formação	destes	profissionais.	Percebe-se,	pois,	que	nas	universidades	ainda	é	
tímida	a	inserção	de	tais	temas	nos	currículos.	Nesta	perspectiva,	um	caminho	interessante	
é	que	os	profissionais	busquem	outras	formas	de	agregarem	em	sua	formação	o	tema	da	
sexualidade	(SACHI,	2018).	
Hoje,	 existe	uma	vasta	 literatura	que	pode	servir	 como	base	para	os	estudos	e	
para	a	inserção	do	tema	da	sexualidade	dentro	dos	espaços	educativos.	Entretanto,	o	que	
se	percebe	é	que	a	sociedade	ainda	possui	forte	resistência	para	aceitar	que	se	discuta	
a	sexualidade	no	campo	da	educação,	em	que	muitas	vezes	pais	e	mães	e,	inclusive,	os	
próprios	profissionais,	por	não	possuírem	conhecimentos	e	informações	adequadas	e	sufi-
cientes,	não	aceitam	que	as	crianças	recebam	estes	conteúdos	(SACHI,	2018).	No	entanto,	
não	podemos	aceitar	 isso	e	precisamos	problematizar	e	colocar	esse	silenciamento	em	
pauta,	 pois	 “cabe	à	 sociedade	desmistificar	 esse	paradigma,	mas	cabe,	 principalmente,	
ao(à)	educador(a)	a	incumbência	de	desnudar	esse	arquétipo	que	foi	imposto	na	sociedade	
por	meio	de	uma	educação	tradicionalista,	engessada	e	arcaica”	(SACHI,	2018,	p.	29).	
Outro	ponto	que	merece	destaque	neste	momento,	por	estar	 relacionado	com	o	
processo	ensino-aprendizagem,	é	o	brincar.	Aluno(a),	você	sabia	que	diversas	pesquisas	
apontam	que	o	brincar	na	escola,	em	especial	na	Educação	Infantil,	possui	um	papel	de	
extrema	importância?	
É	o	que	apontam	Leite	e	Romero	(2017,	p.	146),	sinalizando	que	o	brincar	tende	a	
ser	“[...]	responsável	por	contribuir	com	o	desenvolvimento	físico,	psíquico,	cognitivo,	motor,	
afetivo,	entre	outras	competências	dos	alunos”.	Neste	caminho,	proponho	uma	reflexão:	
quantas	 vezes	ouvimos	 falar,	 ou	até	mesmo	 já	 reproduzimos	 tal	 discurso,	 que	meninos	
brincam	de	carrinho	e	meninas	brincam	de	bonecas?
Se	consideramos	apenas	o	dualismo	limitado,	reforçado	nos	ambientes	esco-
lares,	a	brincadeira	de	boneca,	acaba	por	ser	entendida	exclusivamente	como	
“coisa	de	menina”.	Esta	concepção	está	fortemente	ligada	à	representação	
de	mulher	como	quem	deve	cuidar	do	 lar	e	o	homem	com	quem	o	provê.	
Entretanto,	eis	nesta	ideia	além	de	um	hiato	explícito	de	gênero	(mulher	dó-
cil,	homem	viril),	uma	contradição	com	a	própria	“realidade”	contemporânea,	
visto	que	as	mulheres	exercem	outros	papéis,	como	estudante,	trabalhadora,	
motorista,	entre	outros	(LEITE;	ROMERO,	2017,	p.	147).	
36UNIDADE II Educação de Gênero e Sexualidade nos Espaços Educativos 
Nos	espaços	escolares,	infelizmente,	esse	discurso,	muitas	vezes,	se	faz	presente.	
Está	em	ação	o	que	chamamos	de	binarismo,	isto	é,	a	ideia	de	que	só	existem	duas	formas	
de	brincadeiras:	de	meninos	e	de	meninas.	A	existência	deste	pensamento,	faz	com	que	
limitemos	o	brincar	e	coloquemos	em	ação	questões	de	gênero	que	tendem	a	reproduzir	
um	pensamento	de	que	exista	“brincadeiras	de	meninos	e	brincadeiras	de	meninas”.	
E	a	 escola	 nisto	 tudo?	O	que	a	 escola	 produz	e	 fala	 sobre	 sexualidade?	Sachi	
(2018)	aponta	que,	não	raro,	os	discursos	dos	responsáveis	familiares	estão	carregados	
de	falas	em	que	se	encontra	a	afirmação	de	que	a	escola	não	é	o	espaço	para	se	aprender	
sobre	sexualidade.	No	entanto,	a	autora	sinaliza	que	não	é	apenas	na	escola	que	esse	
conteúdo	chega	até	as	crianças,	a	diferença	é	que	neste	espaço	o	conteúdo	é	transmitido	
de	maneira	pedagógica	e,	logo,	responsável.	
Ao	levarmos	em	conta	que	a	criança,	a	partir	doseu	nascimento,	já	entra	em	
contato	com	o	mundo	por	meio	de	diversas	situações,	a	escola	certamente	
não	será	seu	primeiro	ambiente	de	aprendizagem.	Devemos	levar	em	conta	
que	as	relações	que	essa	mesma	criança	desenvolve	com	o	meio	em	que	
está	 inserida	fazem	com	que	ela	aprenda,	de	modo	pedagógico	ou	não.	O	
contato	com	outros	seres	humanos,	os	meios	de	comunicação	e	a	mídia	são	
fontes	 ricas	de	 informação	e	de	aprendizado.	Entretanto,	salientamos	que,	
nos	dias	atuais,	as	crianças	entram	em	contato	com	essas	mídias	cada	vez	
mais	cedo	e	sem	a	orientação	de	adultos	(SACHI,	2018,	p.	31).	
A	partir	disso,	aluno(a),	podemos	perceber,	conforme	pontua	Sachi	(2018),	o	quão	
importante	 é	 que	 haja	 pessoas	 comprometidas	 e	 capacitadas	 para	 orientar	 as	 crianças	
acerca	dessa	temática.	Também,	é	preciso	que	compreendamos	que	vivemos	em	uma	so-
ciedade	atravessada	e	marcada	pelas	diferenças	e	pela	multiplicidade	de	modos	de	viver,	
ou	seja,	precisamos	desconstruir	a	ideia	de	que	ser	diferente	é	ser	anormal	e/ou	errado.	
Não	obstante,	ainda	nas	palavras	da	autora,
Levar	em	consideração	que	cada	sujeito	faz	parte	de	um	todo,	e	por	conta	
disso	ele	se	constitui	de	raça,	classe,	religião,	etc.,	permite	que	façamos	com	
que	ele	se	incomode	com	a	realidade	exposta	e	busque	respostas	até	então	
não	encontradas	de	 forma	satisfatória,	bem	como	 faz	com	que	 facilitemos	
essa	 desconstrução,	 possibilitando	 de	 forma	mais	 esclarecedora	 um	novo	
aprendizado	composto	de	questionamentos	e	possíveis	 respostas	 (SACHI,	
2018,	p.	32).	
Um	exemplo	de	prática	para	se	trabalhar	nas	salas	de	aula	é	a	utilização	de	livros	
infantis	que	 trazem	consigo	questões	que	possam	nortear	discussões	e,	consequente-
mente,	o	trabalho	educativo.	Neste	caminho,	Leite	e	Romero	(2017)	apresentam	o	livro	
O menino que ganhou uma boneca, da	autoria	de	Majô	Baptistoni,	enquanto	instrumento	
para	trabalhar,	dentro	dos	espaços	educativos,	questões	relacionadas	à	sexualidade.	As	
autoras	sugerem	que	a	obra	seja	lida	em	conjunto	com	as	crianças,	a	fim	de	que	todas	
possam	participar	das	discussões	oriundas;	os	professores	e	professoras,	neste	momen-
37UNIDADE II Educação de Gênero e Sexualidade nos Espaços Educativos 
to,	possuem	grande	importância,	pois	serão	responsáveis	pela	mediação	das	discussões	
e	problematizações.		
Claro	que	esta	atividade	não	precisa	se	limitar	com	o	livro	proposto,	mas	sim	que	
os(as)	docentes	possam	explorar	novos	materiais	e	recursos	para	o	trabalho	dentro	da	
sala	de	aula,	contando	com	o	objetivo	de	desconstruir	ideias	preestabelecidas	e	social-
mente	construídas.	
Outro	recurso	importante	e	útil	é	a	utilização	de	filmes	que	abordam,	de	maneira	
responsável,	a	questão	da	sexualidade.	A	partir	da	exibição	dos	filmes,	é	possível	que	os	
professores	elaborem	questões	disparadoras,	a	fim	de	produzir	discussões	e	debates	rela-
cionados	à	temática.	Ainda,	é	possível	utilizar	pinturas,	charges	e	vídeos	(RIBEIRO,	2013).	
A	metodologia	utilizada	pelo	professor	pode	ser	a	mais	variada	possível	obser-
vando	e	avaliando	qual	melhor	didática	sobre	sexualidade	lidar	em	cada	sala	
de	aula.	Diálogo,	seminário,	pesquisas,	debates,	mesas	redondas,	palestras	e	
formas	lúdico-culturais	que	estimulem	os	alunos	no	entendimento	de	dificulda-
des	sexuais	presentes	na	adolescência	(LIMA;	ALMEIDA,	2010,	p.	729).
Ademais,	é	importante	sabermos,	como	pontua	Ribeiro	(2013,	p.	61),	que
Nesse	 redemoinho	 de	 possibilidades,	 [é	 necessário]	 criar	 estratégias	 para	
ouvir	as	crianças,	escutá-las,	desde	a	mais	tenra,	saber	que	trazem	consigo	
construções	de	gênero	desiguais,	sexistas,	pois	foram	anos	e	anos	de	ades-
tramento	em	que,	não	só	a	sexualidade	vem	sendo	vigiada	e	normatizada,	
mas	a	identidade	de	gênero	é	construída	diferentemente	para	homens	e	mu-
lheres,	meninos	e	meninas.	
Também,	é	 importante	que	cada	professor(a)	busque	desenvolver	seus	próprios	
recursos,	de	maneira	criativa	e	que	reflita	a	necessidade	de	seus	alunos	e	alunas,	a	fim	
de	que	a	experiência	de	obter	conhecimentos	acerca	da	sexualidade	seja	uma	tarefa	que	
proporcione	a	efetiva	participação	e	interesse	dos	discentes.		
38UNIDADE II Educação de Gênero e Sexualidade nos Espaços Educativos 
SAIBA MAIS
Aluno(a),	é	muito	importante	que	você	conheça	as	diferentes	nomenclaturas	relaciona-
das	à	sexualidade,	a	fim	de	evitar	a	repetição	e	produção	de	informações	incorretas.	Um	
exemplo:	Orientação	Sexual	é	o	termo	correto	para	expressar	a	maneira	na	qual	uma	
pessoa	se	sente	atraída	física	e/ou	emocionalmente	por	outra.	O	termo	Opção	Sexual	
está	incorreto,	pois	ninguém	escolhe	sua	orientação	sexual,	visto	que	ela	faz	parte	do	
desenvolvimento	individual	de	cada	pessoa.	
Para	aprofundar	a	leitura	nessa	temática,	acesse	o	material	a	seguir:	
JÚNIOR,	I.	B.	de	O.;	MAIO,	E.	R.	Opção	ou	orientação	sexual:	onde	reside	a	homosse-
xualidade?	Anais	do	III	Simpósio	Internacional	de	Educação	Sexual	“Corpos,	Identidade	
de	Gênero	e	Heteronormatividade	no	espaço	escolar”,	Maringá,	2013.		
Disponível	em:	http://www.sies.uem.br/anais/pdf/diversidade_sexual/3-02.pdf.	
REFLITA 
“Trabalhar	com	a	sexualidade	no	ambiente	escolar	ainda	sinaliza	um	 longo	caminho.	
Talvez	com	mais	clareza,	desejos,	discernimentos,	mas	ainda	é	preciso	muito	para	que	
a	educação	sexual	escolar	se	faça	presente	enquanto	um	projeto	pedagógico	coerente	
e	adequado”.	
Fonte:	Maio	(2011,	p.	205).	
39UNIDADE II Educação de Gênero e Sexualidade nos Espaços Educativos 
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Caro(a)	aluno(a),	
Chegamos	ao	fim	da	segunda	unidade	de	estudos.	Até	aqui,	 já	avançamos	nos	
estudos	relacionados	ao	gênero,	sexualidade	e	educação.	Como	vimos	na	nesta	unidade,	
as	abordagens	pedagógicas	da	educação	sexual	no	Brasil	passaram	por	grandes	transfor-
mações	através	do	último	século,	refletindo,	inclusive,	na	maneira	que	a	educação	sexual	
é	trabalhada	atualmente	no	contexto	escolar.	
Também	compreendendo	os	conceitos	e	as	 interfaces	entre	gênero	e	orientação	
sexual,	refletindo	acerca	de	como	tais	conceitos,	de	vasta	importância,	são	abordados	e,	
além	disso,	vividos	no	contexto	escolar,	seja	por	alunos	e	alunas	ou	pelo	corpo	docente.	
Por	 fim,	 no	 último	 tópico,	 encerramos	 com	 a	 apresentação	 de	 alguns	 recur-
sos	didático-metodológicos	para	a	execução	de	um	 trabalho	de	Educação	Sexual	na	
Educação	Infantil	e	Ensino	Fundamental,	que	contemple	e	dê	conta	das	necessidades	
contemporâneas.	
Com	os	conteúdos	apresentados,	espero	que	você	tenha	aproveitado	ao	máximo	
cada	informação	exposta.	Nos	encontramos	na	Unidade	III	para	darmos	continuidade	nas	
discussões	relacionadas	à	temática	da	sexualidade.
Até logo!
40UNIDADE II Educação de Gênero e Sexualidade nos Espaços Educativos 
LEITURA COMPLEMENTAR
Artigo:	Gênero	e	sexualidade:	pedagogias	contemporâneas
Resumo:	Gênero	e	sexualidade	são	construídos	através	de	inúmeras	aprendiza-
gens	e	práticas,	empreendidas	por	um	conjunto	inesgotável	de	instâncias	sociais	e	culturais,	
de	modo	explícito	ou	dissimulado,	num	processo	sempre	inacabado.	Na	contemporaneida-
de,	essas	instâncias	multiplicaram-se	e	seus	ditames	são,	muitas	vezes,	distintos.	Nesse	
embate	cultural,	torna-se	necessário	observar	os	modos	como	se	constrói	e	se	reconstrói	a	
posição	da	normalidade	e	a	posição	da	diferença,	e	os	significados	que	lhes	são	atribuídos.
Palavras-chave:	gênero;	sexualidade;	pedagogias	culturais;	norma;	diferença.
Texto completo disponível em: https://www.scielo.br/pdf/pp/v19n2/a03v19n2.pdf	
https://www.scielo.br/pdf/pp/v19n2/a03v19n2.pdf
41UNIDADE II Educação de Gênero e Sexualidade nos Espaços Educativos 
MATERIAL COMPLEMENTAR
LIVRO
Título:	Problemas	de	gênero:	feminismo	e	subversão	de	identidade
Autora:	Judith	Butler
Editora:	Civilização	Brasileira
Sinopse:	Nesta	obra,	Judith	Butler	tece	algumas	reflexões	acerca	
do	feminismo	e	traz	algumas	críticas	à	noção	de	identidade,	concei-
to	fortemente	presente	no	movimento	feminista.	No	livro,	a	autora	
apresenta	a	noção	plural

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