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O PERÍODO INTERTESTAMENTAL E OS DOIS TESTAMENTOS Professor-conteudista: Eurípedes Pereira de Brito Professor-tutor: Eurípedes Pereira de Brito 1 1. APRESENTAÇÃO Vindo, porém, a plenitude dos tempos, Deus enviou o seu filho, nascido sob os homens, nascido sob a lei. (Gl. 4.4). A disciplina O Período Intertestamental e dos dois Testamentos refere-se a um estudo introdutório deste período rico e marcante, que começa com o final do Antigo Testamento e termina com o início do Novo Testamento. O período Intertestamentário abrange os quatrocentos anos entre o livro de Malaquias e o de Mateus (BAXTER, 1985, p. 11), também chamado de quatrocentos anos de silêncio, visto da ausência do exercício da profecia e de escritos inspirados. O estudo propõe uma análise dos últimos fatos históricos envolvendo tanto o exílio de Israel pelo Império Assírio, bem como do exílio de Judá pelo Império Babilônico; entra no Período Intertestamental, e nos leva naturalmente para a entrada do Período do Novo Testamento. Verificam-se os aspectos políticos, religiosos, filosóficos, culturais e sociais do povo de Israel e dos povos que estiveram presentes, principalmente no período intertestamental e do início do Novo Testamento. De forma especial, busca-se compreender o mundo em que o cristianismo lançou suas raízes. Quando abrimos o texto de Mateus, nós encontramos um mundo no qual se encontra o povo de Deus, totalmente novo, como observa Ironside (1988 p. 6): „O Velho Testamento se encerra com o povo de Deus restaurado à sua terra, mas debaixo do domínio romano, e ainda mais, com um vice-rei edomita exercendo a jurisdição sobre parte do país‟. 2. EMENTA Estudo histórico e analítico do período Interbíblico e sua relação com o Antigo e Novo Testamento. Análise histórica: política, social e religiosa. 3. META Refletir sobre a importância do estudo do Período Interbíblico e sua relação com o Antigo e o Novo Testamento. O PERÍODO INTERTESTAMENTAL E OS DOIS TESTAMENTOS Professor-conteudista: Eurípedes Pereira de Brito Professor-tutor: Eurípedes Pereira de Brito 2 4. OBJETIVOS Esperamos que no final dessa disciplina você seja capaz de: 1. Compreender e demonstrar a importância do estudo do Período Intertestamental. 2. Identificar o conteúdo do estudo do Período Intetestamental. 3. Aplicar os aspectos estudados à análise hermenêutica e exegética das Escrituras. 4. Explicar os principais assuntos políticos, religiosos, filosóficos, sociais e culturais que abrangem este período e os que estão interligados. 5. ESTRUTURA DA DISCIPLINA A reflexão histórico-teológica sobre o período interbíblico e sua relação com o Antigo e Novo Testamento, será desenvolvida em dois módulos com duas unidades a serem desenvolvidas em cinco semanas cada. Dessa forma, o curso será desenvolvido em dez semanas, como segue: MÓDULO I – HISTÓRIA DE ISRAEL: ASPECTOS POLÍTICOS DOS EXÍLIOS AO PERÍODO ROMANO Unidade I – Os exílios de Israel e Judá e o período grego Aula 1: Os exílios de Israel e Judá e o retorno à terra prometida no período persa Aula 2: O período grego Aula 3: Os períodos egípcio e sírio Unidade II – Os períodos macabeu e romano Aula 4: O período macabeu Aula 5: O período romano O PERÍODO INTERTESTAMENTAL E OS DOIS TESTAMENTOS Professor-conteudista: Eurípedes Pereira de Brito Professor-tutor: Eurípedes Pereira de Brito 3 MÓDULO II – HISTÓRIA DE ISRAEL: RELIGIÃO, FILOSOFIA E VIDA SECULAR Unidade I – Os aspectos religiosos e filosóficos do Período Intertestamental e do Novo Testamento Aula 6: A religião e a filosofia dos gregos e romanos Aula 7: A sinagoga, o templo e a teologia do judaísmo Aula 8: A literatura e os grupos do judaísmo. Unidade II – O aspecto secular do Período Intertestamental e do Novo Testamento Aula 9: Idioma, transporte, comércio, comunicação e moradia Aula 10: Alimentação, vestuário, classes sociais e família O PERÍODO INTERTESTAMENTAL E OS DOIS TESTAMENTOS Professor-conteudista: Eurípedes Pereira de Brito Professor-tutor: Eurípedes Pereira de Brito 4 MÓDULO I – HISTÓRIA DE ISRAEL: ASPECTOS POLÍTICOS DO EXÍLIO AO PERÍODO ROMANO APRESENTAÇÃO Neste módulo vamos analisar a história do domínio político e militar sobre Israel desde o exílio do reino norte imposto pelo Império Assírio até o início domínio romano no período do Novo Testamento. Abrangendo parte do período do Antigo Testamento, passaremos pelo domínio greco-macedônio, o domínio egípcio e o domínio sírio, até a independência experimentada sob os Macabeus, e chegarmos ao período romano, tudo isso no período interbíblico, e início do período do Novo Testamento. META Refletir sobre os aspectos políticos que dominaram Israel desde o período dos exílios até o período do domínio romano. OBJETIVOS Analisar os aspectos históricos do exílio do reino do norte (Israel) e do reino do sul (Judá) e as transformações políticas e culturais sobre o povo de Deus. Verificar a história de Alexandre Magno, a formação do Império Grego, e as grandes influências do helenismo no mundo. Estudar a história e a influência do domínio egípcio e sírio sobre os judeus no período intertestamental. Analisar a independência dos judeus no período intertestamental. Estudar o período romano e as influências sobre o Novo Testamento. O PERÍODO INTERTESTAMENTAL E OS DOIS TESTAMENTOS Professor-conteudista: Eurípedes Pereira de Brito Professor-tutor: Eurípedes Pereira de Brito 5 Este módulo está dividido em 2 (duas) unidades, subdivididas em 5 (cinco) aulas que correspondem a 5 (cinco) semanas, como segue: Unidade I – Os exílios de Israel e de Judá e o período grego Aula 1: Os exílios de Israel e Judá e o retorno à terra prometida no período persa Aula 2: O período grego Aula 3: Os períodos egípcio e sírio Unidade II – Os períodos hasmoneu e romano Aula 4: O período hasmoneu Aula 5: O período romano O PERÍODO INTERTESTAMENTAL E OS DOIS TESTAMENTOS Professor-conteudista: Eurípedes Pereira de Brito Professor-tutor: Eurípedes Pereira de Brito 6 UNIDADE I – OS EXÍLIOS DE ISRAEL E DE JUDÁ NO PERÍODO GREGO Aula 1 – Os exílios de Israel e de Judá e o retorno à terra prometida META Refletir sobre os dois grandes exílios do Antigo Testamento – causas e consequências. OBJETIVOS Conhecer a história do exílio de Israel (reino do norte) Conhecer a história da o exílio de Judá (reino do Sul) Verificar o retorno terra prometida. PARA INÍCIO DE CONVERSA Olá! Esta é a nossa primeira aula do curso Período Intertestamental e os dois Testamentos. Como você já observou na apresentação do curso, pretendemos fazer uma reflexão e análise do domínio político-cultural em relação ao povo de Israel, nesta que é uma das mais importantes partes históricas do povo de Deus, como uma contribuição introdutória e analítica aos estudos da Bíblia. Esta pesquisa também pretende contribuir de forma significativa para a compreensão e apreciação plena das muitas cenas e incidentes sobre os quais o Novo Testamento ergue a cortina. COM A PALAVRA, QUEM ENTENDE DO ASSUNTO Nas palavras de Tenney (2000, p. 18): O mundo em que nasceu o cristianismo, era um mundo de grande maleabilidade e eminentemente cosmopolita. Representava ele o patrimônio O PERÍODO INTERTESTAMENTAL E OS DOIS TESTAMENTOS Professor-conteudista: Eurípedes Pereira de Brito Professor-tutor: Eurípedes Pereira de Brito 7 de três grandes raças: a oriental, a grega e a romana. Praticamente as três se haviam fundido numa só, porém cada qual entrando com sua contribuição especial.A oriental entrara com seu vasto quinhão de filosofia e religião. Esta herança encontrou-a o cristianismo profundamente arraigada no coração de ambos os mundos – judaico e gentio – mas operante ainda na vida da época. O mundo que o cristianismo enfrentou foi evidentemente um mundo grego porque a cultura grega permeara-o em toda a sua extensão, sendo a língua grega veículo de uso quase universal, a ponto de Paulo escrever em grega a carta aos romanos – à igreja situada em pleno coração das raças latinas. Nesta primeira unidade vamos verificar principalmente o aspecto político que dominou o povo de Deus e grande parte do mundo da época relacionada ao Período Intertestamental e os dois testamentos, principalmente nos aspectos que afetaram, tanto a parcela compreendida como o reino do norte (Israel), quanto à outra parcela compreendida como reino do sul (Judá). 1. O reino do Norte (Israel) e o exílio Assírio O reino do Norte compreendia as dez tribos de Israel que, após a divisão do reino davídico, ficou com a possessão da parte norte do reino de Israel. Esta parte justamente ficou conhecida, nesse período, como Israel, e a outra parte, a do sul, como Judá. O registro da divisão do reino nas escrituras afirma: „Assim, Israel se mantém rebelado contra a casa de Davi, até ao dia de hoje‟ (1 Rs 12.19). Jeroboão, que foi o primeiro rei de Israel, edificou a cidade de Siquém, onde passou a morar. Já a história da importante cidade de Samaria começa no reinado de Onri, de Israel, o qual começou a reinar em Tirza e posteriormente edificou a cidade de Samaria. „De Semer comprou ele o monte de Samaria por dois talentos de prata e o fortificou; à cidade que edificou sobre o monte, chamou-lhe Samaria, nome oriundo de Semer, dono do monte‟ (1 Rs 16.25). Samaria, portanto, passou a ser a importante capital do reino do norte. O PERÍODO INTERTESTAMENTAL E OS DOIS TESTAMENTOS Professor-conteudista: Eurípedes Pereira de Brito Professor-tutor: Eurípedes Pereira de Brito 8 Por causa da rebeldia dos reis de Israel, em 722 a.C. Deus permitiu o exílio assírio (1 Rs 17.6-18). Este foi um tempo de grande tristeza e lamento para esta porção do povo de Deus. PARA SABER MAIS Veja o vídeo: „Quarta 10 - A Civilização Assíria 11Abr2012‟. O vídeo faz parte das aulas ministradas pela Igreja Batista Central de Teixeira de Freitas. Veja o vídeo reflita e vamos continuar nossa aula. O endereço eletrônico do vídeo é: http://www.youtube.com/watch?v=4uW4CYALEXU. O reino do norte teve duração de aproximadamente 200 anos; no ano de 722 a.C., o rei da Assíria, Sargão II conquistou a Samaria. (TOGNINI, 2009, p. 10) TIRE SUA DÚVIDA Síria ou Assíria? Não confundir o país Síria que teve como capital a cidade de Damasco, que teve também uma importante parte na história, com o Império Assírio, que levou cativo Israel em 722 a.C., e que tinha por capital a cidade de Nínive. Os assírios viviam na antiga Mesopotâmia, região compreendida entre os rios Tigre e Eufrates, e Nínive era a sua capital. A expansão do Império Assírio abrange o período de 1700 a 610 a.C., ou seja, mais de mil anos. Eles eram guerreiros experientes e expandiram o seu Império. Em 1240 a.C, conquistaram a Babilônia, e a partir daí começaram a alargar as fronteiras do seu Império até atingirem o Egito, no norte da África. O período de maior glória e prosperidade foi experimentado durante o reinado de Assurbanipal (até 630 a.C.). Eles cobravam pesados impostos dos povos vencidos, o que os levava a revoltarem-se continuamente. No reinado de Assurbanipal, os babilônios se libertaram e, em 626 a.C. capturaram Ninive. 1.1. Os exilados http://www.youtube.com/watch?v=4uW4CYALEXU O PERÍODO INTERTESTAMENTAL E OS DOIS TESTAMENTOS Professor-conteudista: Eurípedes Pereira de Brito Professor-tutor: Eurípedes Pereira de Brito 9 Os filhos de Israel foram levados cativos para a Assíria e habitavam em Hala, junto ao rio Habor e ao rio Gozâ, e também nas cidades dos medos. (1 Rs 17.6). Gente da Mesopotâmia e da Síria foi trazida para a Samaria e se misturaram com os que ainda ali ficaram. Por isso é que os judeus eram inimigos dos samaritanos, pois os julgavam pagãos. COM A PALAVRA, QUEM ENTENDE DO ASSUNTO Tognini, em relação ao tipo de dominío dos assírios, observa que: Traziam gente de diversas partes e as ajuntavam numa cidade, enquanto o povo daquela cidade era removido para outro luar, perdendo assim a sua origem e sepultando suas mais nobres tradições e perdendo o que lhes era precioso e digno. Os israelenses quase que se perderam por causa desse sistema assírio. O povo todo, ou grande parte das dez tribos foi absorvido pelas nações orientais. (2009, p. 10). O escritor do livro de 1 Reis registra que „assim, foi Israel transportado da sua terra para a Assíria, onde permanece até ao dia de hoje‟. Não há registro de uma volta considerável de membros das tribos do norte à terra natal. 1.2. A história da capital de Israel: Os samaritanos do período exílico e pós-exílico No texto de 2 Rs 17.29, observa-se que um samaritano, antes do exílio, era um indivíduo pertencente ao antigo reino do norte de Israel. No período posterior do exílio imposto pela Babilônia ao reino do sul (Judá) e posteriormente até aos dias de Jesus, samaritano era um indivíduo natural do distrito de Samaria na Palestina central, (Lc 17.11). Quando Sargão II, do Império Assírio, tomou Samaria, levou para o cativeiro 27.280 de seus habitantes, deixando ainda alguns israelitas no país. Sabendo que eles conservavam o espírito de rebelião, planejou um meio de os desnacionalizar, estabelecendo ali colônias de habitantes da Babilônia, de Emate (2 Rs 17.24), e da Arábia. Estes elementos estrangeiros levaram consigo a sua idolatria. A população O PERÍODO INTERTESTAMENTAL E OS DOIS TESTAMENTOS Professor-conteudista: Eurípedes Pereira de Brito Professor-tutor: Eurípedes Pereira de Brito 10 deixada em Samaria era insuficiente para o cultivo das terras, interrompido pelas guerras, de modo que as feras começaram a invadir as povoações e a se multiplicarem espantosamente, servindo na mão de Deus de azorrague para aquele povo. Os leões mataram alguns dos novos colonizadores. Estes atribuíram o fato a um castigo do deus da terra que não sabiam como apaziguar, e neste sentido pediram instruções ao rei da Assíria, que lhes mandou um sacerdote dos que havia entre os israelitas levados para o cativeiro. Este foi residir em Betel e começou a instruir o povo nas doutrinas de Jeová, porém, não conseguiu que os gentios abandonassem a idolatria de seus antepassados. Levantaram imagens de seus deuses nos lugares altos de Israel combinando a idolatria com o culto de Jeová (2 Rs 17.25-33). Este regime híbrido de adoração permaneceu até a queda de Jerusalém (2 Rs 34-41). Asor-Hadã continuou a política de seu avô Sargom (Ed 4.2), e o grande e glorioso Asenafar, que talvez seja Assurbanipal, completou a obra de seus antecessores, acrescentando à população existente mais gente vinda de Elã e de outros lugares, (Ed 9; 10). 2. O Reino do Sul e o Exílio Babilônico Nabucodonosor invadiu a Judéia e tomou Jerusalém em 597 a.C.. Naquele momento apenas o rei Joaquim juntamente com a corte e os principais do povo formam levados cativos. Matanias, tio do rei Joaquim, foi colocado no trono sob o domínio babilônico, tendo o seu nome mudado para Zedequias (2 Rs 24.10-17).. De 597 a 586 a.C., a Judéia sofreu um tempo de opressão como reino tributário da Babilônia. PARA SABER MAIS Segundo Tenney (1995, p. 49, 50), Zedequias ficou obrigado por juramento a servir o rei da Babilônia; mas era muito forte a tentação de entender-se com o Egito, especialmente por se tratar de um tão grande interesse: a independência. As opiniõesdiferiam até O PERÍODO INTERTESTAMENTAL E OS DOIS TESTAMENTOS Professor-conteudista: Eurípedes Pereira de Brito Professor-tutor: Eurípedes Pereira de Brito 11 nos círculos proféticos, Ananias, filho de Azur, declarava repetidamente que Deus quebraria o jugo da Babilônia e que dentro de dois anos, a partir de sua predição seriam postos no seu lugar os vasos de ouro que Nabucodonosor tinha levado do templo (Jr 28.1-4). Jeremias, por sua vez, acusava Ananias de falsidade e profetizou que o aperto da Babilônia não seria aliviado. Em 590, o Egito tentou dominar a própria Babilônia, sentindo que havia um defensor. Zedequias acreditou que essa era sua oportunidade para a revolta. Nabucodonosor pôs cerco a Jerusalém em 588. Em 586, os Babilônios abriram brechas nas muralhas de Jerusalém e a cidade foi tomada. Assim, em 586 a.C. ocorreu o cativeiro babilônico definitivo, imposto ao reino do sul. Zedequias, que tentou fugir, teve seus olhos vazados, o templo foi incendiado, juntamente com o palácio real e as mansões dos nobres. Os muros de Jerusalém foram destruídos e a população deportada. Isso foi por volta de 200 anos antes do período intertestamental. (Jr 39. 4-10). Na Babilônia ficaram em colônias especiais (Ez 3.15; Ed 2.59). PARA SABER MAIS Baxter (1985, p. 13) informa: Considerado externa e politicamente, o curso variado da pequena nação judaica na Palestina, simplesmente reflete a história dos diferentes impérios mundiais e outros grandes poderes que tiveram sucessivamente o domínio da Palestina, com excessão de uma breve conjuntura, a saber, a revolta dos macabes, quando durante um curto período houve de novo um governo independente. As pessoas que estavam no exílio usufruíram de boas condições de vida na maior parte do tempo. Mesmo após a autorização de retorno para Jerusalém por parte dos persas, muitos preferiram permanecer no exílio. Documentos mostram nomes de alguns judeus que, após alguns anos de exílio, tornaram–se importantes comerciantes. A situação não era tão severa para os judeus exilados, ainda que enfrentassem dificuldades, humilhações, e constrangimento religioso com a fé provada. Mas isso ocorreu em momentos específicos, não sendo uma constante na vida deles. O PERÍODO INTERTESTAMENTAL E OS DOIS TESTAMENTOS Professor-conteudista: Eurípedes Pereira de Brito Professor-tutor: Eurípedes Pereira de Brito 12 PARA APROFUNDAR NO ASSUNTO: Veja o vídeo: „Os Hebreus – Parte 2/2‟. O vídeo faz parte da série: Grandes Civilizações. Veja o vídeo reflita e vamos continuar nossa aula. O vídeo anteriormente citado pode ser encontrado e assistido diretamente no seguinte endereço eletrônico http://www.youtube.com/watch?v=1yANbk6y454&playnext=1&list=PL20DACD9B42D54E9E &feature=results_main. Portanto, verifica-se que os exilados gozavam de certa liberdade, podiam construir suas próprias casas, dedicar-se à agricultura, educar seus filhos, ganhar o seu sustento de maneira justa e casar seus filhos (Jr 29.5ss). Este é um dado importante, pois podemos verificar a boa mão de Deus permitindo-lhes preservar toda a sua identidade como povo do Senhor. 2.1. A consciência do povo no exílio Muitos exilados esperavam voltar para terra prometida. Às vezes essa esperança era tão grande que acreditavam em falsas promessas feitas por profetas imaturos de que isso aconteceria muito rápido, o que Jeremias teve que confrontar, trazendo de Deus a revelação de que o tempo se cumpriria, mas que levaria bem mais tempo do que no começo acreditavam. A esperança deles estava firmada na revelação trazida pelos profetas que, apesar de todas as condenações contra a nação, continuavam a assegurar a todos que a intenção do Senhor era a restauração final de seu povo na terra prometida. Os profetas traziam palavras de juízo, mas também confortavam o povo com palavras de esperança da parte do Senhor. O profeta Oséias, que teve um mistério tão difícil, mostrando a infidelidade de Israel e as consequências sofridas, trouxe também a revelação do grande amor de Deus por seu povo. Os profetas Amós e Isaias, também ressaltaram os juízos do Senhor e sua misericórdia. O profeta Jeremias trouxe a promessa de uma nova aliança. O profeta Ezequiel, da mesma forma, trouxe grandes O PERÍODO INTERTESTAMENTAL E OS DOIS TESTAMENTOS Professor-conteudista: Eurípedes Pereira de Brito Professor-tutor: Eurípedes Pereira de Brito 13 exortações e predições sobre os juízos do Senhor, mas também revelou que haveria um novo povo de Deus e um novo templo, no qual novamente o Senhor iria habitar. 3. O Império Medo-persa, a volta de uma parte do povo para a Palestina e o início da construção do novo templo Em 539 a.C. o Império da Babilônia é derrotado por Ciro da Pérsia. Ciro lançou um edito no ano 538 a.C., ordenando a reconstrução do santuário de Jerusalém e a devolução do inventário do templo, que havia sido apreendido por Nabucodonosor. Os exilados então puderam voltar para sua pátria. Para Reicke (1996, p. 11) o texto massorético afirma que „Ciro, depois da conquista da Babilônia no ano 539 a.C. livrou os judeus do cativeiro da Babilônia, e com isso possibilitou uma nova organização do judaísmo, que, diga-se de passagem, perdurou até o ano 70 d.C.‟ O primeiro grupo, cerca de 50 mil pessoas, voltou a Jerusalém sob a liderança de Zorobabel, que começou a reconstrução do templo. Vinte e um anos mais tarde, depois de muitos obstáculos, a construção do novo templo foi completada em 515 a C. 3.2. Esdras e a restauração da Lei e do Ritual Esdras se juntou aos que voltaram a Jerusalém com um grupo de 2000 pessoas. Esdras foi o escriba que restaurou a Lei e o ritual no templo. COM A PALAVRA, QUEM ENTENDE DO ASSUNTO De acordo com Reick (1996, p. 1), Esdras deve ter chegado a Jerusalém com alguns seguidores, ´no sétimo ano de Assuero´, como ´escrivão´, isto é, notário e relator para defender o direito sagrado dos judeus. Uma vez que o Cronista o coloca claramente antes de Neemias e este último pode ter surgido somente sob o reinado de Artaxerxes I (465-425), para o cronista é o sétimo ano de Assuero e o ano 459, de O PERÍODO INTERTESTAMENTAL E OS DOIS TESTAMENTOS Professor-conteudista: Eurípedes Pereira de Brito Professor-tutor: Eurípedes Pereira de Brito 14 acordo com nossas contas. Esdras é um personagem de grande importância nesse cenário, aquele que foi o renovador do culto judaico e da Lei. Foi considerado no judaísmo como o doutor da lei mais reconhecido. 3.3. Neemias e a reconstrução dos muros e do Estado judaico Neemias veio depois de Esdras. Depois de saber o estado ainda tão difícil no qual se encontravam seus irmãos em Jerusalém, Neemias conseguiu do rei Artaxerxes I (465-424) autorização para reorganizar a situação da Judéia. Neemias, portanto, provido de poderes reais se dirigiu para Jerusalém como „Governador de Judá‟ (Ne 5.14). Neemias tinha a árdua missão de fortificar e reconstruir a cidade. A sua nomeação como governador de Judá tinha um significado muito relevante. A região de Jerusalém, como antigo reino, fora elevado agora à categoria de província autónoma. Isso causou muito rancor a Sambalá, pois ele dominava, a partir de Samaria, toda aquela região, e é por isso que ele aparece tentando por tudo impedir os planos de Neemias. Portanto, a reconstrução do muro não teve somente caráter de fortificação, mas também consequências políticas. Jerusalém se tornara capital de uma província. COM A PALAVRA, QUEM ENTENDE DO ASSUNTO Metzger observa: Desde o início de seu encargo, Neemias deparou com a inimizade de Sambalá, governador de Samaria à cuja província Judá então pertencera. Com a constituição de Judá como província autônoma, a circunscrição de Sambalá havia sido restrita. Sambalá havia encontradoapoio do governador da Transjordânia, Tobias que também se sentia ameaçado com o surgimento de uma província que seria sua vizinha próxima. (METZGER, 1984, p. 137). O PERÍODO INTERTESTAMENTAL E OS DOIS TESTAMENTOS Professor-conteudista: Eurípedes Pereira de Brito Professor-tutor: Eurípedes Pereira de Brito 15 Contudo, é importante registrar que grande parte dos judeus e parte dos membros que pertencia ao Reino do Norte, não voltara para a terra. PARA SABER MAIS Veja o vídeo: „Diáspora judía‟, produzido por Ana María Prieto Hernández. O vídeo é sobre a diáspora judaica; e foi produzido com fins didáticos para para Sec'21 a partir de un programa para Telesecundaria. Veja o vídeo e reflita sobre este importante tema para a continuação da nossa aula. O endereço eletrônico do vídeo é: http://www.youtube.com/watch?v=DtgAFSdsul4. PARA SABER MAIS A diferença do tratamento dos assírios e dos babilônicos Um aspecto importante dentre tantos outros a se observar, é o da maneira diferente que os Assírios agiam com os povos cativos. Como nos narra a história, eles destruíam as nações possuídas, levavam cativos para outros lugares os povos dominados, deixando apenas uma pequena quantidade de pessoas pobres na terra, e traziam outros povos para habitarem nas terras dominadas. Havia uma intencionalidade de destruir a identidade do povo dominado, o que se observa de forma diferente no domínio imposto pelos babilônios, que permitiram os judeus preservarem toda a sua cultura no exílio, exceto em momentos específicos nos quais foram provados terrivelmente diante das tentativas de que eles adorassem os ídolos dos povos. SINTESE DA AULA Nessa aula você estudou sobre: 1. A história do exílio de Israel (reino do norte) 2. A história do exílio de Judá (reino do sul) 3. O retorno à terra prometida com a reconstrução do templo, o retorno à observância da lei, e a reconstrução de Jerusalém. O PERÍODO INTERTESTAMENTAL E OS DOIS TESTAMENTOS Professor-conteudista: Eurípedes Pereira de Brito Professor-tutor: Eurípedes Pereira de Brito 16 Aula 2 – O período grego META Refletir sobre o período do domínio Grego sobre o mundo e de forma específica sobre a Palestina. OBJETIVOS Estudar a vida de Alexandre Magno Analisar o que foi o helenismo Compreender o domínio e a influência da cultura grega no mundo. Verificar a contribuição da cultura grega para a futura divulgação do evangelho. PARA INÍCIO DE CONVERSA Olá pessoal! O que passamos a ver a partir desse momento está relacionado ao Período Intertestamental própriamente dito. Esse período foi chamado também de Quatrocentos anos de silêncio (de Malaquias a Mateus). Este termo, inclusive, é usado como título da obra do Prof. Ironside, Quatrocentos Anos de Silêncio: de Malaquias a Mateus. O mundo jamais seria o mesmo após as conquistas de Alexandre Magno, chamado também de Alexandre, o Grande. A cultura grega, denominada de cultura helênica, passa a ter um domínio tão extenso e forte que pode ser visto na cultura mundial de forma muito forte até os dias de hoje, principalmente nos aspectos filosóficos que norteiam a sociedade. Mesmo nos dias do grande Império Romano, a cultura helênica continuava a dominar as multidões. A filosofia, a religião e as artes O PERÍODO INTERTESTAMENTAL E OS DOIS TESTAMENTOS Professor-conteudista: Eurípedes Pereira de Brito Professor-tutor: Eurípedes Pereira de Brito 17 estavam impregnadas pela cultura helênica, inclusive, a língua mais falada no grande Império Romano nos dias de Jesus não era o latim, e sim o grego. Alexandre Magno era filho do imperador Fellipe II da Macedônia. Nasceu em 356 a .C, na região de Pella na Babilônia. Sua educação foi recebida de Aristóteles, de quem reecebeu toda influência da cultura grega. Apresentou sua vocação para governar desde muito sedo e, já aos 16 anos de idade, ajudava o pai nas tarefas administrativas do império macedônico. Por volta de seus 22 anos, teve que assumir o trono, diante do assassinato de seu pai. O pai de Alexandre, Felipe II, durante o seu reinado já havia conquistado algumas cidades da Grécia, mas foi durante o reinado de Alexandre que o domínio macedônio se ampliou sob as cidades gregas. Em 333 a .C, conquistou a Pérsia de Dario III, utilizando um exército formado por trinta mil soldados muito bem preparados. Transferiu para a Babilônia toda a corte, passando a comandar o império desta região. Logo em seguida, partiu para conquistar a Síria e a Fenícia. Dando continuidade às conquistas, os macedônicos dominaram a região de Gaza e o Egito. Nesta região aplicou uma conquista amigável e diplomática, pois os egípcios não resistiram com violência ao exército macedônico. Em contrapartida, Alexandre respeitou a cultura e deu liberdade de culto aos egípcios. Fundou no Egito a importante cidade de Alexandria, com a construção do monumental Farol de Alexandria (uma das sete maravilhas do mundo). Seu exército recusou prosseguir quando numa longa viagem tentaram conquistar a Índia, uma vez que os combatentes estavam exaustos, e decidiram voltar para a Babilônia. Há duas versões para sua morte: a de que ele teria contraído uma forte febre e falecido; e a outra que ele teria sido ferido nas batalhas e morto. O fato é que ele morreu muito com 33 anos de idade, ou seja, ainda muito jovem. O PERÍODO INTERTESTAMENTAL E OS DOIS TESTAMENTOS Professor-conteudista: Eurípedes Pereira de Brito Professor-tutor: Eurípedes Pereira de Brito 18 PARA SABER MAIS Veja o vídeo: A Grécia Antiga - Parte 2/2‟. O vídeo faz parte da série Grandes civilizações. Veja o vídeo reflita e vamos continuar nossa aula. O vídeo pode ser encontrado no endereço eletrônico: http://www.youtube.com/watch?v=y7pBYr6lY2A A vida de Alexandre Magno foi de grande importância para o mundo. Além das questões políticas e militares, possivelmente o ponto principal de sua grande influência tenha sido o cultural, pois ele foi o responsável por divulgar a língua e a cultura gregas pelas regiões conquistadas. A fusão da cultura oriental com a grega originou a cultura helênica, que influencia o mundo até os dias atuais. O idioma grego tornou-se a língua franca e dominava até a Roma dos dias do Novo Testamento. O grego era a língua comumente usada tanto no comércio como na diplomacia. Da influência do helenismo não se livraram nem mesmo os judeus pós-exílicos, visto da aparente pacificação e domínio dos gregos sobre os judeus. (GUNDRY, 1999, p. 3). COM A PALAVRA, QUEM ENTENDE DO ASSUNTO Flávio Josefo registra que quando Alexandre o Grande, marchou contra Jerusalém ele estava disposto destruir a cidade, pois os tinha como inimigos: Quando este ilustre conquistador tomou esta última cidade, ele avançou para Jerusalém e o grão-sacrificador Jado, que bem conhecia sua cólera contra ele, vendo-se com todo o povo em tão grande perigo, recorreu a Deus, ordenou orações públicas para implorar o seu auxílio e ofereceu-lhe sacrifícios. Deus lhe apareceu em sonhos na noite seguinte e disse-lhe que fizesse espalhar flores pela cidade, mandar abrir todas as portas e ir revestido de seus hábitos pontificiais, com todos os santificadores, também assim revestidos e todos os demais vestidos de branco, ao encontro de Alexandre, sem nada temer do soberano, porque ele os protegeria. Jado comunicou com grande alegria a todo o povo a revelação que tivera e todos se prepararam para esperar a vinda do rei. Quando se soube que ele já estava perto, o grão-sacrificador, acompanhado pelos outros sacrificadores e por todo o povo, foi ao seu encontro, com essa tão santa e tão diferente das outras nações, até o lugar denominado que em grego significa mirante, porque lá se podem ver a cidade de Jerusalém e o templo. [...] O soberano apenasviu aquela grande multidão de homens vestidos de branco, os sacrificadores revestidos com seus paramentos de linho e o grão sacrificador com seu éfode, de cor azul adornado de outro sobre a qual estava escrito o nome de Deus, aproximou-se sozinho dele, adorou aquele augusto nome e O PERÍODO INTERTESTAMENTAL E OS DOIS TESTAMENTOS Professor-conteudista: Eurípedes Pereira de Brito Professor-tutor: Eurípedes Pereira de Brito 19 saudou o grão-sacrificador, ao qual ninguém ainda havia saudado. (JOSEFO, 2000, p. 273, 274) Bom! Para encurtar, resumimos a história registrada por Josefo, segundo a qual Alexandre, que reconheceu em Jado o cumprimento de um sonho, não só poupou Jerusalém e ofereceu sacrifício a Jeová, mas também ouviu a leitura das profecias de Daniel referentes à queda do império persa por meio de um rei da Grécia. Desde então ele tratou os judeus com marcada preferência, concedendo-lhes plenos direitos de cidadania com os gregos em sua nova cidade, Alexandria, e em outras cidades. A atitude de Alexandre trouxe paz entre os judeus e os gregos. Infelizmente essa paz acabou gerando tendências pró-gregas no meio do povo de Deus. A difusão da língua e civilização gregas feita por Alexandre, trouxe repercussões a longo prazo no espírito helenista que se desenvolveu entre os judeus e afetou grandemente sua perspectiva cultural no decorrer da história. Alexandre faleceu muito novo, apenas com 33 anos (323 A C). Com isso o seu grande império foi divido por seus principais generais: Ptolomeu ficou com o Egito e a Síria Meridional; Seleuco exigiu a maior parte do território da Síria Setentrional e, para o oeste, através da Ásia Menor, incluindo a Frígia; Lisímaco obteve a Trácia e a parte ocidental da Ásia Menor; e Cassandro dominou a Macedônia e a Grécia. As duas que são mais importantes no desenvolvimento histórico do período interbíblico e do Novo Testamento são: a porção dos Ptolomeus e a dos Selêucidas. SÍNTESE DA AULA: Nessa aula você estudou sobre: 1. Alexandre Magno, também conhecido como Alexandre o Grande, o fundador do Império e da cultura grega. 2. O helenismo como a cultura que dominou o mundo. 3. A contribuição da cultura grega para a futura divulgação do evangelho. O PERÍODO INTERTESTAMENTAL E OS DOIS TESTAMENTOS Professor-conteudista: Eurípedes Pereira de Brito Professor-tutor: Eurípedes Pereira de Brito 20 Sala 3 – O período Egípcio e Sírio META Refletir sobre o período dos domínios Egípcio e Sírio na Palestina OBJETIVOS Verificar as influências do domínio Egípcio na Palestina. Verificar as influências do domínio Sírio na Palestina. Analisar a tentativa de destruição do judaísmo por Antíoco Epifânio. PARA INÍCIO DE CONVERSA Olá turma! Vimos na última aula como a cultura helênica dominou o mundo por meio do império de Alexandre Magno, que morreu muito novo, deixando o seu império nas mãos de seus quatro generais, que vieram por sua feita a dividi-lo. As partes do império que afetaram a história do povo judeu foram a dos Ptolomeus e dos Selêucidas. Fato importante a se destacar é que, ainda que passemos a chamar de períodos egípcio e sírio, essas regiões estavam influenciadas pelos generais e domínio grego, o que poderia ainda ser chamado de período grego, pois o helenismo domina tanto numa região como na outra. E aqui começa o Período Intertestamental propriamente dito, com o Império Grego e sua grande influência sobre o mundo. PARA SABER MAIS Veja o vídeo: 400 Anos [Four Hundred Years] Vídeo vencedor do eXchange Festival 2011. Fala sobre o período intertestamentário (entre o velho e novo testamento) que durou por volta de 400 anos e é chamado por alguns de „quatrocentos anos de silêncio‟. Veja o vídeo reflita e O PERÍODO INTERTESTAMENTAL E OS DOIS TESTAMENTOS Professor-conteudista: Eurípedes Pereira de Brito Professor-tutor: Eurípedes Pereira de Brito 21 vamos continuar nossa aula. O vídeo pode ser encontrado no endereço eletrônico: http://www.youtube.com/watch?v=KsQ9nda2LT0 1. Governo dos ptolomeus (também chamado de período Egípcio) A parte do Império Grego que ficou com o general Ptolomeu centralizava-se no Egito, tendo Alexandria por capital. Conforme Gundry (2008, p. 31) „a dinastia governante naquela fatia do império veio a ser conhecida como os Ptolomeus. Cleópatra, que morreu no ano 30 a C., foi o último membro da dinastia dos Ptolomeus‟. Premida entre o Egito e a Síria, a Palestina tornou-se vítima das rivalidades entre os Ptolomeus e os Selêucidas. A princípio os Ptolomeus dominaram a Palestina por cento e vinte e dois anos (320-198 A C). Os judeus gozaram de boas condições gerais durante esse período. De acordo com uma antiga tradição foi sob Ptolomeu Filadelfo (285-246 a.C.) que setenta e dois eruditos judeus começaram a tradução do Antigo Testamento hebraico para o grego, versão essa que se chamou Septuaginta. No começo foi feita a tradução das porções restantes do Antigo Testamento. A obra foi realizada no Egito, aparentemente em benefício de judeus que compreendiam o grego melhor que o hebraico e, contrariamente à tradição, provavelmente foi efetuada por judeus egípcios, e não por judeus palestinos. O numeral romano LXX (pois setenta é o número redondo mais próximo de setenta e dois) tornou-se o símbolo comum dessa versão do Antigo Testamento. 2. O governo dos selêucidas (também chamado de período Sírio) Tendo por capital a cidade de Antioquia, os selêucidas dominaram a região da Síria e procuravam constantemente dominar o Egito. Os judeus, por seu território estar estratégicamente entre estes dois reinos, alguns dentre a casa ali reinante receberam o apodo de Seleuco, mas diversos outros foram chamados Antíoco. Os romanos dominaram completamente a Síria e, em 64 a.C. chegou ao fim o império selêucida. http://www.youtube.com/watch?v=KsQ9nda2LT0 O PERÍODO INTERTESTAMENTAL E OS DOIS TESTAMENTOS Professor-conteudista: Eurípedes Pereira de Brito Professor-tutor: Eurípedes Pereira de Brito 22 2.1. Dois pontos importantes a serem notados Primeiro: nessa época a Palestina dividiu-se em cinco províncias, as quais encontramos nos tempos do Novo Testamento, a saber: Judéia, Samaria, Galiléia, Peréia, Traconites (algumas vezes as três primeiras são chamadas coletivamente de Judéia). Segundo: este período sírio foi o mais trágico da era intertestamentária para os judeus na pátria (BAXTER, 1985, p. 17). As tentativas dos Selêucidas para conquistar a Palestina, quer por invasão quer por alianças matrimoniais, deram em fracasso, até que Antíoco III derrotou o Egito em 198 A C. Surgiu nessa ocasião, na Judéia, um partido com ideias gregas, tentando uma transformação radical na cultura judaica pela imposição da cultura helênica. O próprio rei substituiu ao sumo sacerdote judeu Onias III pelo irmão deste, Jasom, helenizante, o qual planejava transformar Jerusalém em uma cidade grega. PARA APROFUNDAR NO ASSUNTO Gundry observou em sua pesquisa que: Foi erigido um ginásio com uma pista de corridas adjacente. Ali rapazes judeus se exercitavam despidos, à moda grega, para ultraje dos judeus piedosos. As competições de corredores eram inauguradas com invocações feitas às divindades pagãs, e até sacerdotes judeus chegaram a participar de tais acontecimentos. O processo de helenização incluía ainda: a frequência aos teatros gregos, a adoção de vestes do estilo grego, a cirurgia que visava à remoção das marcas da circuncisão, e a mudança de nomes hebreus por gregos. Os judeus que se opunham à paganização de sua cultura eram chamados Hasidim, „os piedosos‟, o que a grosso modo equivale a puritanos. (GUNDRY, 1999, p. 5 ). Antíoco Epifânio acabou por substituir a Jasom, embora tenha sido escolhido por ele mesmo para o sumo sacerdócio, porMenelau, outro judeu helenizante, pelo que tudo parece, apenas porque Menelau oferecera a Antíoco um tributo mais elevado. Os O PERÍODO INTERTESTAMENTAL E OS DOIS TESTAMENTOS Professor-conteudista: Eurípedes Pereira de Brito Professor-tutor: Eurípedes Pereira de Brito 23 judeus piedosos ficaram irados com a situação, visto que Menelau talvez nem fosse de família sacerdotal. Jasom, o sumo sacerdote, que havia sido substituído por Epifâneo, recebeu notícias falsas de que Antíoco fora morto no Egito. Jasom retirou de Menelau o controle da cidade para si mesmo. O amargurado Antíoco, espicaçado pela derrota psicológica que sofrera às mãos dos romanos, interpretou a atitude de Jasom com uma revolta, e enviou seus soldados para punirem os rebeldes e reintegrarem Menelau no ofício sumo sacerdotal. Baxter (1985, p. 18) observa que Antíoco Epifâneo „Descarregou seu ódio em forma de uma terrrível devastação em 170 a.C. Jerusalém foi saqueada, os muros derrubados‟. Nesse processo, saquearam e profanaram o templo de Jerusalém e passaram ao fio da espada a muitos de seus habitantes tratando o povo com terrível crueldade. Enviou, então, seu general, um grande exército, declarando o judaísmo ilegal e impuseram o paganismo à força, como um meio de consolidar o seu império e de refazer o seu tesouro. Saquearam Jerusalém, derrubaram suas casas e muralhas e incendiaram a cidade. Varões judeus foram mortos em bom número, e mulheres e crianças foram escravizadas. (GUNDRY, 1999, p. 8). Proibiram a circuncisão, observar o sábado, celebrar as festividades judaicas ou possuir cópias do Antigo Testamento. Muitos manuscritos do Antigo Testamento foram destruídos. Os sacrifícios pagãos, principalmente sacríficios de porcos tornaram-se compulsórios, tal como os cortejos em honra a Dionísio (ou Baco), o deus grego do vinho. (JOSEFO, 2000, p. 287). Mandou também construir um altar no templo e oferecia sacrifícios de porcos no templo, e os que lhe desobedeciam eram mortos cruelmente. Também uma estátua de Epifânio foi erigida no templo. Animais execrados pelos preceitos mosaicos foram sacrificados sobre o altar. Até mesmo a prostituição „sagrada‟ passou a ser praticada no recinto sagrado. (GUNDRY 1999, p. 9). SÍNTESE DA AULA O PERÍODO INTERTESTAMENTAL E OS DOIS TESTAMENTOS Professor-conteudista: Eurípedes Pereira de Brito Professor-tutor: Eurípedes Pereira de Brito 24 Nessa aula você estudou sobre: 1. As influências do domínio egípcio na Palestina, período de certa paz na Palestina, Tradução do Antigo Testamento do Hebráico para o Grego – a Septuaginta. 2. As influências do domínio sírio na Palestina, período de grande turbulência para os judeus. 3. A tentativa de destruição do judaísmo por Antíoco Epifânio. O PERÍODO INTERTESTAMENTAL E OS DOIS TESTAMENTOS Professor-conteudista: Eurípedes Pereira de Brito Professor-tutor: Eurípedes Pereira de Brito 25 UNIDADE II – OS PERÍODOS HASMONEU E ROMANO Aula 4 – O período Hasmoneu META Refletir sobre o período do domínio hasmoneano sobre a Palestina. OBJETIVOS Analisar a revolta de Matatias e seus filhos. Verificar o tempo de independência sob os hasmoneanos. PARA INÍCIO DE CONVERSA Olá turma! Este é um dos momentos históricos considerados como de grande importância na história do povo judeu. Não fora a revolta do sacerdote Matatias com seus filhos, não sabemos o que teria sobrado da cultura judaica diante das terríveis pretensões de Antioco Epifânio IV, governante da Síria. A independência dos judeus nesse período é celebrada ainda hoje entre os judeus espalhados pelo mundo. 1. A resistência hasmoneana Não suportando mais a opressão de Antioco Epifâneo, Matatias que era um sacerdote, e seus filhos, encabeçaram uma revolta que trouxe a libertação dos judeus naqueles dias. O PERÍODO INTERTESTAMENTAL E OS DOIS TESTAMENTOS Professor-conteudista: Eurípedes Pereira de Brito Professor-tutor: Eurípedes Pereira de Brito 26 COM A PALAVRA, QUEM ENTENDE DO ASSUNTO Gundry afirma que: A resistência judaica fez-se sentir prontamente. Na aldeia de Modim, um agente real de Antíoco instou com um já idoso sacerdote, de nome Matatias, a que desse exemplo aos habitantes da aldeia oferecendo um sacrifício pagão. Matatias se recusou a tal. E quando um outro judeu deu um passo à frente em anuência, Matatias tirou-lhe a vida, matou o agente real, demoliu o altar e fugiu para a região montanhosa na companhia de cinco de seus filhos e de outros simpatizantes. E foi assim que teve início a Revolta dos Macabeus, em 167 A C, sob a liderança da família de Matatias, coletivamente chamados de Hasmoneanos, por causa de Hasmon, bisavô de Matatias, ou de Macabeus, devido ao apelido „Macabeu‟ („Martelo‟), conferido a Judas, um dos filhos de Matatias. Judas Macabeu encabeçou um campanha de guerrilhas de extraordinário sucesso, até que os judeus se viram capazes de derrotar os sírios em campo de batalha regular. (163 A C). (GUNDRY, 1999, p. 10). 2. Período de independência Assim, Matatias e seus filhos conseguiram recuperar o domínio da Palestina, após a expulsão das tropas sírias de Jerusalém. PARA SABER MAIS Veja o vídeo: „Hanukkah - A festa das luzes‟. O vídeo apresenta a festa das luzes dos judeus que se chama hannukah. Esta festa importante do calendário Judaico está ligada ao marco histórico da libertação de Israel nos dias dos Hasmoneus. Saiba mais assistindo esse video, produzido em parceria com o blog alegriaesantidade.blogspot.com. O vídeo pode ser encontrado no endereço eletrônico: http://www.youtube.com/watch?v=YsQ797k5MFk Judas Macabeu foi morto em batalha (160 A C), e seus irmãos, Jônatas e posteriormente, Simão, sucederam-no na liderança. Jônatas começou a reconstruir as muralhas danificadas e os edifícios de Jerusalém. Assumiu, igualmente, o ofício sumo sacerdotal. Simão conseguiu o reconhecimento da independência judaica da parte de Demétrio II, um dos que competia pela coroa dos Selêucidas, tendo renovado um tratado com Roma que originalmente fora firmado por Judas. Segundo Ironside (1988, p. 78) „por um curto prazo, a terra gozou de descanso e properidade sob a sábia O PERÍODO INTERTESTAMENTAL E OS DOIS TESTAMENTOS Professor-conteudista: Eurípedes Pereira de Brito Professor-tutor: Eurípedes Pereira de Brito 27 liderança de Simão. As cidades foram reconstruídas, os campos, e as artes pacíficas mais uma vez avançaram‟. Simão foi proclamado em assembléia publica como o grande sumo sacerdote, comandante e líder dos judeus. Ele passou a reunir oficialmente em sua pessoa a liderança religiosa, militar e política do estado judeu. PARA APROFUNDAR NO ASSUNTO Segundo Gundry, A história subsequente da dinastia hasmoneana. (142-37 A C) consiste de um relato de contendas internas, derivadas da ambição pelo poder. Os propósitos políticos e as intrigas dos Hasmoneanos alienaram muitos dos Hasidim, de inclinações religiosas, os quais vieram a ser mais tarde os fariseus e os essênios, semelhantes àqueles que produziram os Papiros do Mar Morto, estabelecidos em Qumran. Os partidários aristocráticos, de pendores políticos, do sacerdócio hasmoneano, vieram a ser os saduceus. (GUNDRY, 1999, p. 10). Finalmente, porém, o general romano Pompeu subjugou a Palestina (63 A C). Durante o período do Novo Testamento, a Palestina estava dominada, portanto pelo poderio romano. SÍNTESE DA AULA Nessa aula você estudou sobre: 1. A revolta de matatias e seus filhos. 2. O tempo de independência sob os hasmoneanos. O PERÍODO INTERTESTAMENTAL E OS DOIS TESTAMENTOS Professor-conteudista: Eurípedes Pereira de Brito Professor-tutor: Eurípedes Pereira de Brito 28Aula 5 – O período Romano META Refletir sobre o domínio romano sobre a palestina; OBJETIVOS Analisar a expansão romana e a influência no mundo. Estudar sobre os imperadores romanos. Verificar os aspectos políticos do império romano. Analisar a história da dinastia herodiana. PARA INÍCIO DE CONVERSA 1. A expansão romana Desde o século VIII a.C., já se apontava no cenário mundial a cidade de Roma, e no século V a.C. Após dois séculos de guerras com a cidade rival de Cartago, na África do Norte, Roma foi vitoriosa (146 a.C). Com as grandes conquistas de Pompeu, Júlio Cezar e seu sobrinho Otávio, Roma cresceu de forma surpreendente. Otávio mais tarde veio a ser conhecido como Augusto, após derrotar as forças de Antônio e Cleópatra, na batalha naval de Ácio, na Grécia, em 31 a.C., tornando-se então o primeiro imperador Romano. Nesse tempo o domínio romano já se estendia por uma imensa faixa geográfica mundial. PARA SABER MAIS O PERÍODO INTERTESTAMENTAL E OS DOIS TESTAMENTOS Professor-conteudista: Eurípedes Pereira de Brito Professor-tutor: Eurípedes Pereira de Brito 29 Veja o vídeo: „Império Romano (Parte 1 de 2) – Publicado pelo canladasvideoaula, o vídeo faz parte da série Grandes Civilizações‟. Episódio da série „Grandes Civilizações‟, que conta de maneira didática a história de povos importantes para a evolução da humanidade. Veja o vídeo, reflita e vamos continuar nossa aula. O endereço eletrônico do vídeo é: http://www.youtube.com/watch?v=zQ4GM6Iy-4I. A conquista de Jerusalém por Pompeu encerrou o período de independência dos judeus. Nesse período a Judéia, então, passou a ser uma provínvia romana. Pompeu tirou do sumo sacerdote João Hircano completamente seus poderes reais, retendo apenas a função sacerdotal. O sumo sacerdote João Hircano foi o último da linhagem de sumo sacerdotes hasmoneus e macabeus. Antípater, o idumeu, foi nomeado procurador da Judéia e passou a governar a região em 47 a.C., ainda que com muito desgosto dos judeus. (BAXTER, 1985, p. 22,23). Depois do período de expansão territorial, veio o período chamado de Pax Romana, visto que não havia nesse tempo qualquer resistência considerável ao império. Os judeus, no entanto, procuraram sua independência mediante grandes revoltas, que os romanos esmagaram nos anos de 70 e 135 d. C. Jerusalém foi destruída e os judeus dispersos pelo mundo. Para o cristianismo, contudo, essa unidade prevalente e a estabilidade política do mundo civilizado sob a hegemonia de Roma facilitaram a propagação do evangelho. 2. Imperadores romanos Veja o quadro apresentado por Gundry (1999, p. 11) dos imperadores romanos e seu domínio, alistados com as datas de seus respectivos governos, e o vínculo com as narrações encontradas na Bíblia: Augusto (27 A C - 14 D C), sob quem ocorreram o nascimento de Jesus, o recenseamento ligado ao Seu nascimento, e os primórdios do culto ao imperador; Tibério (14-37 DC), sob quem Jesus efetuou o Seu ministério público e foi morto; O PERÍODO INTERTESTAMENTAL E OS DOIS TESTAMENTOS Professor-conteudista: Eurípedes Pereira de Brito Professor-tutor: Eurípedes Pereira de Brito 30 Calígula (37-41 DC), que exigiu que se lhe prestasse culto e ordenou que sua estátua fosse colocado no templo de Jerusalém, mas veio a falecer antes que sua ordem fosse cumprida; Cláudio (41-54 DC), que expulsou de Roma os residentes judeus, entre os quais estavam Áquila e Priscila, por motivo de distúrbios civis; Nero (54-68 DC), que perseguiu os cristãos, embora provavelmente somente nas cercanias de Roma, e sob quem Pedro e Paulo foram martirizados; Vespasiano (69-79 DC), o qual, quando ainda general romano começou a esmagar uma revolta dos judeus, tornou-se imperador e deixou o restante da tarefa ao encargo de seu filho, Tito, numa campanha que atingiu seu clímax com a destruição de Jerusalém e seu templo, em 70 DC.; Domiciano (81-96 DC), cuja perseguição contra a Igreja provavelmente serviu de pano-de- fundo para a escrita do Apocalipse, como encorajamento para os cristãos oprimidos. 3. Aspectos políticos na Palestina sob o Império Romano 3.1. A assendência edomita Como já vimos, Antípater, um idumeu, (os idumeus eram descendentes de Esaú), havia subido ao poder contando com o favor dos romanos. Antipater angariou o favor de Cézar durante sua expedição contra os do Ponto e os da Capadócia e, em troca, o ditator lhe concedeu o direito de cidadão livre em Roma, e o designou procurador da Judéia. No início Antipater teve apoio de João Hircano no Sacerdócio de Jerusalém. Considerando a si mesmo em idade avançada para os encargos que lhe demandavam como procurar, nomeou Herodes para assumir o cargo. (IRONSIDE, 1988, p. 100). Posteriormente Roma aprovou o ofício real de Herodes, filho de Antipas, o qual veio a se casar com Mariamne (hasmonea, neta de Hircano). Na tentativa de agradar os judeus também nomeou o irmão de Mariamne, Arístóbulo, como sumo sacerdote. Herodes foi forçado a obter o controle da Palestina mediante o poder das armas, mas também procurou agradar os judeus com um grande embelezamento de Jerusalém e reformas explendorosas no templo dos judeus. O templo de Jerusalém foi decorado com mármore branco e pedras preciosas. Mas sua crueldade era notável. O PERÍODO INTERTESTAMENTAL E OS DOIS TESTAMENTOS Professor-conteudista: Eurípedes Pereira de Brito Professor-tutor: Eurípedes Pereira de Brito 31 COM A PALAVRA, QUEM ENTENDE DO ASSUNTO: Grundy observa que: Tendo por antepassados os idumeus (descendentes de Esaú), por isso mesmo não era visto com bons olhos pelos judeus. Herodes era individuo astuto, invejoso e cruel; assassinou a duas de suas próprias esposas e pelo menos a três de seus próprios filhos. Foi ele quem ordenou a matança dos infantes de Belém, em consonância com a narrativa da natividade por Mateus. De certa feita Augusto disse que era melhor ser um porco de Herodes que um filho seu (jogo de palavras, porquanto no grego as palavras que significam porco e filho são muito parecidas). (GUNDRY, 2008, p. 40). Herodes no seu governo exercia seu controle sobre o povo por polícia secreta, toque de recolher e pesados impostos. Para amenisar a situação como político astuto, também distribuía cereal gratuito em períodos de fome e apoiava a liberdade do povo em suas festas. Os filhos de Herodes, após a morte de seu pai, passaram a governar porções separadas da Palestina. Veja o quadro que Gundry (1999, p.15) nos apresenta da dinastia herodiana: A dinastia herodiana Arquelau: tornou-se etnarca da Judéia, Samaria e Iduméia; Herodes Filipe: tetrarca da Ituréia, Traconites, Gaulanites, Auranitres e Batanéia; Herodes Antipas: tetrarca da Galiléia e Peréia. João Batista repreendeu a Antipas por haver-se divorciado de sua esposa para casar-se com Herodias, esposa de seu meio-irmão. Quando Herodias induziu sua filha dançarina a que pedisse a cabeça de João Batista, Antipas acedeu à horrenda solicitação (Mc 6Ç17-29 - Mt 14: 13-32). Jesus chamou a Herodes Antipas de „essa raposa‟ (Lc 13:32), e mais tarde teve de enfrentar o juízo deste em tribunal (Lc 23: 7-12). Herodes Agripa I: neto de Herodes o Grande, executou o apóstolo Tiago, filho de Zebedeu, e também encarcerou a Pedro (Atos 12). Herodes Agripa II: bisneto de Herodes o Grande, ouviu Paulo em sua auto-defesa (At 25, 26).] O PERÍODO INTERTESTAMENTAL E OS DOIS TESTAMENTOS Professor-conteudista: Eurípedes Pereira de Brito Professor-tutor: Eurípedes Pereira de Brito 32 PARA SABER MAIS Veja o vídeo: „Império Romano (Parte 2 de 2) – Publicado pelo canladasvideoaula, o vídeo faz parte da série Grandes Civilizações‟. Episódio da série „Grandes Civilizações‟, que conta de maneira didática a história de povos importantes para a evoluçãoda humanidade. Veja o vídeo, reflita e vamos continuar nossa aula. O endereço eletrônico do vídeo é: http://www.youtube.com/watch?v=FSFX5PCgcAI. 3.2. Governadores romanos na Palestina Herodes Arquelau, que reinava na Judéia, em Samaria e na Iduméia, foi um péssimo governador. Seus desmandos provocaram sua remoção do ofício e seu banimento por ordens de Augusto, em 6 d.C. Gundry (1999, p. 16) obseva que „esses mesmos desmandos tinham sido a causa pela qual José, Maria e Jesus, ao regressarem do Egito, tiveram de estabelecer-se em Nazaré da Galiléia, ao invés de faze-lo em Belém da Judeia (Mt 2:21-23)‟. O Imperador passou a colocar governadores vinculados diretamente com roma no território. Pôncio Pilatos foi o juiz de Jesus. Os governadores Félix e Festo ouviram a exposição do caso de Paulo (Atos 23-26). E quando o governador Floro pilhou o tesouro do templo, isso foi o estopim da revolta dos judeus em 66-73 DC. Esses governadores romanos, bem como os filhos de Herodes, permitiam o sacerdócio judaico e o Sinédrio (Tribunal dos Judeus) controlar boa parte das questões locais que afetavam a vida do povo. SÍNTESE DA AULA Nessa aula você estudou sobre: 1. A expansão romana e a influência no mundo. 2. Os imperadores romanos. 3. Os aspectos políticos do império romano. 4. A história da dinastia herodiana e seu domínio sobre a palestina. http://www.youtube.com/watch?v=FSFX5PCgcAI O PERÍODO INTERTESTAMENTAL E OS DOIS TESTAMENTOS Professor-conteudista: Eurípedes Pereira de Brito Professor-tutor: Eurípedes Pereira de Brito 33 MÓDULO II - RELIGIÃO, FILOSOFIA E VIDA SECULAR DO PERÍODO INTERTESTAMENTAL E DO NOVO TESTAMENTO APRESENTAÇÃO Neste Módulo você terá contato com conhecimento sobre a religião, a filosofia e a vida secular no período que estamos estudando. São informações valiosas para você, como estudante da Bíblia, porque faz parte do pano de fundo que ajudará você a compreender, especialmente, o Novo Testamneto. META Refletir sobre os aspectos religiosos, filosóficos e seculares que influenciaram a vida de Israel e o povo da terra, desde o período dos exílios até o período Romano. OBJETIVOS Analisar os aspectos religiosos do período intertestamental e do Novo Testamento desde suas origens nos exílios até o período romano. Analisar os aspectos filosóficos do período intertestamental. Verificar os aspectos seculares que envolviam a vida das pessoas no período interbíblico e período romano. O PERÍODO INTERTESTAMENTAL E OS DOIS TESTAMENTOS Professor-conteudista: Eurípedes Pereira de Brito Professor-tutor: Eurípedes Pereira de Brito 34 Este módulo está dividido em 2 (duas) unidades, subdivididas em 5 (cinco) aulas que correspondem a 5 (cinco) semanas, como segue: Unidade I – O Aspecto religioso e filosófico do período intertestamental e do Novo Testamento Aula 6: A Religião e a filosofia dos gregos e romanos Aula 7: A sinagoga, o templo e a teologia do Judaísmo Aula 8: A literatura e os grupos do Judaísmo Unidade II – O Aspecto secular do período intertestamental e do Novo Testamento Aula 9: Idioma, transporte, comércio, comunicação e moradia Aula 10: Alimentação, vestuário, classes sociais e família. O PERÍODO INTERTESTAMENTAL E OS DOIS TESTAMENTOS Professor-conteudista: Eurípedes Pereira de Brito Professor-tutor: Eurípedes Pereira de Brito 35 UNIDADE I – O ASPECTO RELIGIOSO E FILOSÓFICO Aula 6: A religião e a filosofia dos gregos e romanos META Refletir sobre o estado religioso e filosófico do período intertestamental e do Novo Testamento. OBJETIVOS Analisar a história da mitologia grega e as religiões de mistério. Compreender a religião oficial no império romano. Verificar o culto ao imperador. Compreender os aspectos filosóficos que dominaram a história. PARA INÍCIO DE CONVERSA Vamos falar da religião dos tempos intertestamentários? Esse é um dos itens mais importantes para que você compreenda o mundo no qual Jesus chegou, viveu e, especialmente, pregou. 1. A religião 1.1. Mitologia grega e as religiões Os vários deuses dos gregos, apesar de serem vistos como imortais, possuíam características de comportamentos e atitudes semelhantes aos seres humanos. Maldade, bondade, egoísmo, fraqueza, força, vingança e outras características estavam presentes O PERÍODO INTERTESTAMENTAL E OS DOIS TESTAMENTOS Professor-conteudista: Eurípedes Pereira de Brito Professor-tutor: Eurípedes Pereira de Brito 36 nos deuses, segundo os gregos antigos. Eles acreditavam que as divindades habitavam o topo do Monte Olimpo, de onde decidiam a vida dos mortais. As entidades diversas representavam forças da natureza ou sentimentos humanos. Poseidon, por exemplo, era o representante dos mares e Afrodite a deusa da beleza corporal e do amor. A mitologia grega era passada de forma oral de pai para filho e, muitas vezes, servia para explicar fenômenos da natureza ou passar conselhos de vida. Ao invadir e dominar a Grécia, os romanos absorveram o panteão grego, modificando apenas os nomes dos deuses. Considerado a divindade suprema do panteão grego, Zeus era filho de Cronos. Cronos era canibal e devorava os seus próprios filhos conforme iam nascendo. PARA APROFUNDAR NO ASSUNTO Gundry observa que: A mãe de Zeus salvou ao seu infante ao entregar a Cronos uma pedra envolta em cobertores infantis, para que a engolisse. Ao atingir a idade adulta. Zeus derrubou seu pai e dividiu os domínios daquele com seus dois irmãos. Poseidom, que passou governar os mares e Hades, que se tornou senhor do mundo inferior. O próprio Zeus pôs-se a governar os céus. Os deuses tinham acesso à terra, vindos de sua capital, o monte Olimpo, na Grécia. De acordo com a mitologia Zeus era forçado a abafar ocasionais rebeliões da parte dos deuses, os quais exibiam pendores perfeitamente humanos de paixões e concupiscências, de amor e ciúmes, de ira e ódio. De fato os deuses seriam superiores aos homens somente quanto ao poderr, à inteligência e à imortalidade – mas por certo não quanto à imoralidade. (GUNDRY, 1999, p. 37). Veja a relação de outras divindades da mitologia grega e suas principais características: 1.1.1. Afrodite – amor. 1.1.2. Ares – guerra. 1.1.3. Hades - mundo dos mortos e do subterrâneo. O PERÍODO INTERTESTAMENTAL E OS DOIS TESTAMENTOS Professor-conteudista: Eurípedes Pereira de Brito Professor-tutor: Eurípedes Pereira de Brito 37 1.1.4. Hera - protetora das mulheres, do casamento e do nascimento. 1.1.5. Poseidon - mares e oceanos. 1.1.6. Eros - amor, paixão. 1.1.7. Héstia – lar. 1.1.8. Apolo - luz do Sol, poesia, música, artes, beleza masculina. 1.1.9. Ártemis - caça, castidade, animais selvagens e luz. 1.1.10. Deméter - colheita, agricultura. 1.1.11. Dionísio - festas, vinho e prazer. 1.1.12. Hermes - mensageiro dos deuses, protetor dos comerciantes, dos viajantes e dos diplomatas. 1.1.13. Hefesto - metais, metalurgia, fogo. 1.1.14. Crono – tempo. 1.1.15. Gaia - planeta Terra. A confusão ética e a instabilidade das emoções dos deuses gregos confundiam o povo, provocando um vazio existencial. 1.2. A religião no período romano Os romanos adotaram os deuses e a mitologia dos gregos, havendo um verdadeiro sincretismo religioso. Dessa forma, pode-se verificar que os deuses romanos eram identificagdos com os gregos, Júpiter com Zeus, Vênus com Afrodite, e assim por diante. (GUNDRY, 1999). 1.3. O culto ao imperador O PERÍODO INTERTESTAMENTAL E OS DOIS TESTAMENTOS Professor-conteudista: Eurípedes Pereira de Brito Professor-tutor: Eurípedes Pereira de Brito 38 O culto ao imperador nasceu da influênciade práticas já estabelecidas entre alguns reinos. Tenney (1998, pg. 96) observa que „os reinos helenistas dos Selêucidas e dos Ptolomeus tinham durante muitos anos, elevado os seus monarcas à posição de divindade e tinham-lhes aplicado títulos tais como Senhor (kyrios), Salvador (Soter), ou divindade Manifesta (Epipahanes)‟. Além dessa influência trazia consigo a intenção de estabelecer poder aos imperadores e de manter a estabilidade do Império. As funções excecutivas sob o comando de apenas um homem era sem igual na história. COM A PALAVRA, QUEM ENTENDE DO ASSUNTO Gundry afirma que: Seguindo a prática desde há muito firmada de atribuir atributos divinos aos governantes, o senado romano lançou a ideia do culto ao imperador, ao deificar, após a morte, a Augusto e a subsequentes imperadores que porventura tivessem servido bem como tais. Elementos leais e entusiastas das províncias orientais algumas vezes antecipavam essa deificação pós- morte. Os imperadores do primeiro século que reivindicaram a divindade para si mesmos, enquanto ainda viviam - Calígula, Nero e Domiciano - não foram honrados com tal distinção quando morreram. O insano Calígula (37- 41 D C) ordenara que uma estátua sua fosse levantada no templo de Jerusalém, a fim de ser adorada. Afortunadamente, tal medida foi adiada pelo mais sensato embaixador sírio, porquanto os judeus sem dúvida ter-se- iam revoltado. Nesse ínterim, Calígula foi assassinado. Domiciano (81-96 DC) foi o primeiro a tomar providências sérias e generalizadas para forçar a adoração de sua pessoa. A recusa dos cristãos em participarem desta adoração, provocou a intensificação nas perseguições. (GUNDRY, 1999, p. 38,39). 1.4. Religiões misteriosas Além da mitologia e do culto ao imperador, cresciam no meio do povo greco- romano as religiões misteriosas, seja por tendências misticas misteriosas ou pela insatisfação do povo em relação aos aspectos religiosos oficiais. As religiões de mistério O PERÍODO INTERTESTAMENTAL E OS DOIS TESTAMENTOS Professor-conteudista: Eurípedes Pereira de Brito Professor-tutor: Eurípedes Pereira de Brito 39 traziam uma proposta de contato imediato com a divindade e experiências advindas desse tipo de prática religiosa. COM A PALAVRA, QUEM ENTENDE DO ASSUNTO Tenney observa que: Eram, na maior parte, de origem oriental, posto que os mistérios. Eleusinos estivessem a ser celebrados na Grécia desde havia muito tempo. O culto de Cíble, a Grande Mãe, veio da Ásia; o de Isis e Osíris ou Serápio, do Egito; o Mitraísmo teve origem na Pérsia. Embora todos diferissem uns dos outros na origem e nos pormenores, todos eram iguais em certas características gerais. Todos tinham o seu centro num deus que tinha morrido e ressuscitado. Cada um deles tinham um ritual de fórmulas e purificações, de símbolos e das representações dramáticas secretas da experiência do deus, por meio dos quais o iniciado era levado a essa experiência, e assim era presumívelmente um candidato à imortalidade. […] As religiões-mistério traziam o desejo de imortalidade pessoal e de igualdadade social. Apresentavam uma saída à emoção em mistério religioso, como a religião do estado fazia algumas vezes, e tornava a experiência religiosa fortemente pessoal. Nada nos é dito delas diretamente no Novo Testamento, mas julga-se que Paulo pode ter usado o seu vocabulário em ocasiões apropriadas, e que o „culto de anjos‟ mencionado em Cl 2.18,19 é reflexo de uma tentativa de fusão de algum culto filosófico eclético com o cristianismo em Colossos. (1998, p. 98). Dentre alguns aspectos dos seus ritos secretos e outras cerimônias particulares, observam-se as lavagens cerimoniais, a aspersão de sangue, refeições sacramentais, intoxicação alcoólica, frenesi emocional e um impressionante fausto. Por meio das cerimônias e dos ritos, prometia-se uma verdadeira união mística com os deuses aos que procuravam suas práticas. Como as crenças dessas religiões misterioras posteriores se tornaram um tanto paralelas às crenças cristãs, alguns críticos afirmaram que houve uma considerável influência sobre as crenças cristãs no primeiro século. Conforme Gundry (2008, p. 78), o mais provável é que as religiões misteriosas é que tenham tomado por empréstimo certas ideias do cristianismo, e não vice-versa, mormente se levarmos em conta que os pagãos eram notáveis assimiladores, ao passo que os primitivos cristãos eram exclusivistas. O PERÍODO INTERTESTAMENTAL E OS DOIS TESTAMENTOS Professor-conteudista: Eurípedes Pereira de Brito Professor-tutor: Eurípedes Pereira de Brito 40 Dentre outros aspectos, deve-se lembrar de que os primeiros cristãos eram judeus. A formação do cristianismo se deu num contexto judaico, ainda que em meio ao mundo grego e romano. Portanto, teria sido difícil a mudança de partes tão importantes da fé por influência das religiões misteriosas. PARA APROFUNDAR NO ASSUNTO Veja o texto „A Relação entre as Religiões de Mistério e o Cristianismo‟. O texto é parte do artigo do Pr. Claudionor Silva Bezerra, que está no seu blog, cujo endereço eletrônico é: http://pastorclaudionor.blogspot.com.br/2007/03/as-religies-de-mistrio-e-emergncia- do_01.html: A leitura do material histórico que restou dessas religiões impressiona em certas semelhanças básicas com o cristianismo. Pode se perceber nessas religiões planos de redenção como no cristianismo; elas enfatizam a vontade e a responsabilidade humana, o uso da vontade para obedecer e executar os mandamentos da divindade; elas dão grande valor à fé religiosa nesta vida; elas falam na descida ao hades, na libertação do hades, e no vôo para a glória eterna; exceto no caso do mitraísmo, homens e mulheres podiam tornar-se membros, com um destino celestial idêntico, mesmo que no mundo os privilégios entre homens e mulheres diferissem. 3.1 A inserção do cristianismo em Roma É evidente à luz dos textos neotestamentários bíblicos que, em seus primórdios mais antigos, a igreja romana teria sido, provalvemente, iniciada não (exceto indiretamente) por algum apóstolo, mas pela plebe composta de judeus e prosélitos que haviam testemunhado o evento de Pentecostes em Jerusalém e haviam, mais tarde, regressado aos seus lares em Roma. É preciso enfatizar que esses „leigos‟ eram judeus ou, em alguns casos, tinham, em determinada época, se convertido a religião judaica. Por essa razão a comunicação epistolar do apóstolo Paulo aos romanos revela o caráter judaico que aquela igreja possuia. Um outro fator de destaque era o caráter informal que possuía as igrejas cristãs do primeiro e segundo século, eram inexistentes os edifícios eclesiásticos no sentido em que os imaginamos hoje. Sobre isso afirma Hendriksen: As famílias faziam os cultos em seus próprios lares. De tais cultos participariam membros da família, provavelmente pai, mãe, filho, às vezes outros parentes próximos e servos. Se a casa era bastante ampla para acomodar outros, então eram convidados. Estando incluido no contexto religioso e diante das semelhanças já http://pastorclaudionor.blogspot.com.br/2007/03/as-religies-de-mistrio-e-emergncia-do_01.html http://pastorclaudionor.blogspot.com.br/2007/03/as-religies-de-mistrio-e-emergncia-do_01.html O PERÍODO INTERTESTAMENTAL E OS DOIS TESTAMENTOS Professor-conteudista: Eurípedes Pereira de Brito Professor-tutor: Eurípedes Pereira de Brito 41 mencionadas, alguns estudiosos estão divididos a respeito da influência que o cristianismo na sua nascente recebeu das religiões e cultos de mistérios. 3.2 A Teoria dos Empréstimos Muitos estudiosos admitem que em algum grau houveram empréstimos das religiões de mistério para o cristianismo. Dentre esses, Bousset afirma que as lavagens cerimoniais dessas religiões de mistério eram precursoras do batismo cristão e que a refeição sagrada era precursora da Ceia do Senhor,além do que o conceito do „deus‟ que morre e ressuscita influenciou as doutrinas cristãs a respeito de Cristo.[5] Paul Tillich afirma ainda que os deuses das religiões de mistério influenciaram bastante o culto e a teologia cristã. Ao ser iniciada num determinado mistério, como mais tarde eram os cristãos iniciados nas congregações poe estágios, a pessoa passava a participar no deus mistério e em suas experiências. Em Romanos 6, Paulo descreve essas experiências em relação a Jesus em termos de participação na sua morte e ressurreição. Todavia outros estudiosos admitem que é lógico supormos que o cristianismo, ao crescer no meio ambiente formado pelas religiões de mistério tenham frequentemente elaborado seus próprios sistemas contra o pano de fundo dos Mistérios e das formas de pensamento que eram comuns a ambos. A similaridade entre a terminologia dos antigos escritos cristãos e dos Mistérios evidenciam que houve um confronto real entre essas comunidades e um empréstimo apenas de termos. Wand chega mesmo a afirmar: O Cristianismo derrotou os mistérios em seu próprio campo. Ele tinha a vantagem de estar baseado não em um mito, mas numa pessoa histórica. Ao admitir certas similaridades esses estudiosos não admitem que houve qualquer empréstimo substancial das Religiões de Mistério para o cristianismo. Champlin chega a afirmar que essas chegaram até a contribuir para a expansão do cristianismo. ... (1) O trabalho missionário foi facilitado: A Igreja cristã, ao avançar para regiões onde predominava o paganismo, encontrou aderentes das religiões misteriosas. Uma certa semelhança de maneira de pensar, quanto a certas áreas importantes, naturalmente teriam exercido efeito na preparação do caminho para a passagem da nova fé [...] (2) A ênfase sobre a necessidade de disciplina e de experiência religiosa: Embora, com frequência, aqueles sistemas religiosos misteriosos abusassem dessa questão, foi uma ênfase positiva.] 3.3 A Teoria da Originalidade O PERÍODO INTERTESTAMENTAL E OS DOIS TESTAMENTOS Professor-conteudista: Eurípedes Pereira de Brito Professor-tutor: Eurípedes Pereira de Brito 42 Padovani, de forma brilhante, descreve a relação do cristianismo com essas religiões afirmando que o problema do cristianismo não foi o de justificar-se como religião, com o seu conteúdo arcano e prodigioso, em que facilmente se podia crer. O problema era justificar-se como religião em face de outras muitas e variadas religiões e sistemas filosóficos-religiosos da época, que se apresentavam com fins idênticos e caracteres análogos aos do cristianismo. Nesse particular Pandovani representa uma mentalidade que não se preocupa em encontrar empréstimos na relação entre o cristianismo e as religiões de mistério, mas insere o cristianismo na multiplicidade dos cultos da época e que, se apresenta original e rejeita qualquer compromisso com os sistemas religiosos da época. O cristianismo, cônscio da sua originalidade e intransigente como a verdade, rejeita semelhante solução e qualquer compromisso com as doutrinas religiosas e sistemas políticos da época. 3.4 Uma posição alternativa Essa posição rejeita qualquer empréstimo que o cristianismo tenha feito de doutrinas, cerimônias ou códigos de ética das religiões de mistério em Roma. Todavia admite que o cristianismo não é uma religião puramente original. Dessa maneira admite que se houve algum empréstimo esse é oriundo do judaísmo. Elementos como a Ceia cristã remonta a cerimônia da páscoa realizada pelos judeus, o rito do batismo era uma prática corriqueira dos essênios (seita judaica), como atesta os manuscritos do mar morto, bem como as cerimônios de purificação do judaísmo. A morte de Cristo é vista como a morte de um cordeiro, prática diária no templo em Jerusalém. A ressurreição era um evento do Antigo Testamento exclusivo de Javé. Todavia o contato que o cristianismo teve fora dos círculos judaicos forçou- lhe a empregar termos inteligíveis e já usados naquele período, como por exemplo o „logos‟ grego sendo descrito como o período da pré-existência de Cristo. E referindo-se as religiões de mistério, o termo mysteriô não se encontra no Antigo Testamento, sendo portanto utilizado no Novo Testamento para, quase sempre, representar o projeto de redenção pregado por Jesus aos homens e mulheres. As Religiões de Mistério assim como o cristianismo primitivo constituem fios do grande tapete que foi a sociedade romana. A investigação microcóspica desses fios somente nos fará discernir como mais propriedade a complexidade de Roma e o que deixou como legado, a despeito das O PERÍODO INTERTESTAMENTAL E OS DOIS TESTAMENTOS Professor-conteudista: Eurípedes Pereira de Brito Professor-tutor: Eurípedes Pereira de Brito 43 descontinuidades e rupturas os vestígios ainda permeiam a sociedade ocidental. Gundry (1999, p. 41) observa que „as superstições estavam firmemente entrincheiradas nas mentes da maioria do povo do império romano‟. Utilizavam-se de fórmulas mágicas, consultas de horóscopos e oráculos, augúrios ou predições sobre o futuro, mediante a observação do voo dos pássaros, os movimentos do azeite sobre a água, as circunvoluções do fígado e o uso de exorcistas profissionais (peritos na arte de expulsar demônios) - todas essas práticas supersticiosas, além de muitas outras, faziam parte integrante da vida diária. 2. A Filosofia 2.1. Platonismo Platão foi amigo e discípulo de Socrates. Viveu em Atenas e tornou-se um dos mais conhecidos filósofos gregos. COM A PALAVRA, QUEM ENTENDE DO ASSUNTO Tenney afirma que: O mundo pensava que ele é constituído por um número infinito de coisas particulares, cada uma das quais é uma cópia mais ou menos imperfeita duma ideia real. Por exemplo, há muitas espécies de cadeiras, mas nenhuma delas poderia ser a cadeira de que toas as outras são derivadas. A cadeira real de que a madeira é uma cópia. O mundo real, é pois o mundo das ideias, de que o mundo material é apedfnas uma sombra. Estas ideias são organizadas num sistema, no topo do qual está a ideia do Bem. Platão parece nunca ter personalizado a ideia do Bem, nem tampouco identificado com o Demiurgo, ou o Criador, que formou o mundo material. Ele considerou as ideias como tendo existência objetiva; de fato, eram elas a única existência real, de que o presente mundo é um fraco e imperfeito reflexo. Tal conceito do mundo leva inevitavelmente ao dualismo. Se o mundo real é o reino invisível das ideias, e se o mutável cosmos em que vive o homem é somente transitório, a sua busca será a fuga do irreal para o real. A reflexão, a meditação e até o ascetismo abrirão caminho para a libertação. Conhecimento é salvação; pecado é ignorância. Procurando o Supremo O PERÍODO INTERTESTAMENTAL E OS DOIS TESTAMENTOS Professor-conteudista: Eurípedes Pereira de Brito Professor-tutor: Eurípedes Pereira de Brito 44 Bem, o Fim, a Suprema Ideia, assim se liberta o homem a si próprio do mundo material escravizador e pode elevar-se até a compreensão do mundo real. ( 1998, p. 102, 103). Plotino (Egito 204 –269 d. C.) foi além do dualismo platônico pelo seu ensino de que a obtenção da vida espiritual não seria atingida pelo esforço intelectual, mas por uma absorção do Infinito. Lucas registra que Paulo teve um confronto direto com pessoas que assumiam algumas dessas filosofias. Os epicureus e os estóicos contendiam duramente com ele quando pregava sobre Cristo e a ressurreição. (Atos 17. 18). 2.2. Epicurismo O Epicurismo vem do nome de seu fundador, Epicuro, que fundou uma escola filosófica em 306 a. C. Epicuro defendia que a busca e o encontro com os prazeres (não necessariamente de ordem sensual) seria o sumo bem da vida. Era essencialmente antirreligioso e defendia que o mundo foi criado pelo acaso. Nos dias de Jesus e de Paulo, o epicurismo,agora com ênfase sensual e pagã, dominava o império romano. Como observa Tenney, (1998, p. 105) „O Epicurismo não advogava a libertinagem, mas não proporcionava resistência ao egoísmo‟. 2.3. Estoicismo Zenão foi seu fundador (340-265 a. C.). O mais alto bem é a conformidade com a razão. O sentimento pessoal é sem importância ou até prejudicial, visto que tende a perturbar a solução racional dos problemas humanos. O perfeito autodomínio inamovível a considerações sentimentais era o objetivo do estóico. Para, eles não era possível nenhum relacionamento pessoal com Deus. A ideia de relações pessoais com a razão universal ou com o processo cósmico havia de parecer quase tão inconsequente como o mostrar afeição para com a lei da atração universal. Qualquer compreensão da realidade de Deus não envolvia qualquer perspectiva relacional. O PERÍODO INTERTESTAMENTAL E OS DOIS TESTAMENTOS Professor-conteudista: Eurípedes Pereira de Brito Professor-tutor: Eurípedes Pereira de Brito 45 2.4. Cinismo Seus adeptos procuravam abolir os desejos, despresavam todos os padrões e convenções e tornavam-se completamente individualistas e críticos da sociedade. Tenney (1998, p. 108) registra a crítica que Sócrates fez a Antístenes, fundador da escola cínica: „Posso ver o teu orgulho pelos buracos do teu manto‟. 2.5. Ceticismo Relativistas, abandonaram toda esperança de qualquer coisa em termos absolutos, sucumbiam ante a dúvida e a conformidade para com os costumes prevalescentes. 2.6. Gnosticismo O termo deriva do grego gnosis (conhecimento). Prometia-se salvação pelo conhecimento. O problema religioso não consistia da culpa humana, para a qual é preciso que se proveja perdão, mas consistia muito mais da ignorância humana, para a qual era mister prover conhecimento. Segundo Tinney (1998, p. 103), „Deus, diziam os Gnósticos, é demasiado grande e demasiado santo para ter criado o mundo material com toda a sua baixeza e corrupção‟. Para o gnosticismo, na verdade, a suprema Divindade procederia a uma série de sucessivas emanações, cada uma delas um pouco inferior à anterior de que provinha, até que, finalmente, viria a última dessas emanações. Gundry (1999, p. 41) informa-nos que o contraste dualista concebido por Platão entre o mundo invisível das idéias e o mundo visível da matéria, formava o substrato do gnosticismo do primeiro século de nossa era, e segundo o qual a matéria era equiparada ao mal, ao passo que o espírito seria equivalente ao bem. Dessa perspectiva veio a visão de dois modos opostos de conduta: 1. O ascetismo: a supressão do desejo do corpo – a matéria é má. O PERÍODO INTERTESTAMENTAL E OS DOIS TESTAMENTOS Professor-conteudista: Eurípedes Pereira de Brito Professor-tutor: Eurípedes Pereira de Brito 46 2 A libertinagem e o sensualismo: a indulgência quanto às paixões físicas, por causa da irrealidade e inconsequências da matéria. A ideia e o conceito da ressurreição eram inconcebíveis, pois de alguma forma trazia a possibilidade do retorno à matéria, portanto abominável, mas a imortalidade do Espírito era desejável, pois levaria à libertação da matéria eternamente. Por meio do conhecimento e de doutrinas secretas poderia-se chegar à desejada imortalidade. SÍNTESE DA AULA Nessa aula você estudou sobre: 1. A história da mitologia grega e as religiões de mistério. 2. A religião oficial no império romano. 3. Verificar o culto ao imperador. 4. Os aspectos filosóficos que dominaram a história. O PERÍODO INTERTESTAMENTAL E OS DOIS TESTAMENTOS Professor-conteudista: Eurípedes Pereira de Brito Professor-tutor: Eurípedes Pereira de Brito 47 Aula 7: A sinagoga, o templo e a teologia do judaísmo META Refletir sobre a sinagoga, o Templo e a teologia do judaísmo. OBJETIVOS Compreender o judaismo em seus vários aspectos. Analisar a teologia do judaismo e sua influência no período intertestamental e no período romano. Verificar a esperança messiânica na teologia judaica. PARA INÍCIO DE CONVERSA Pessoa, vamos conhecer o Judaismo? Precisamos reconhecer primeiramente que a rigor, a cultura do povo de Deus no período do Antigo Testamento, antes do exílio, era uma cultura israelita. O judaísmo como cultura, surge no tempo do exílio. Ainda que tenha havido a separação entre os dois reinos, e o reino do Sul fosse também chamado de Judá, a cultura que os envolvia era a cultura israelita. O judaísmo como cultura é uma criação do exílio, sendo que o termo „judeu‟ aparece na história no tempo da Restauração. A respeito do termo judeu, diz Josefo: „Este é o nome por que foram chamados depois que subiram da Babilônia‟. (Ant. 11.5). O Povo ocupou sua antiga terra prometida, mas o judaísmo desenvolveu-se como coisa nova no velho solo. A cultura judaica nasce no exílio na preservação da tradição do povo de Israel pelos filhos de Israel ligados a Judá, visto que, em sua maioria, os que subiram da Babilônia durante a Restauração perteciam à tribo de Juda. (4 - origem e desenvolvimento do judaísmo p. O PERÍODO INTERTESTAMENTAL E OS DOIS TESTAMENTOS Professor-conteudista: Eurípedes Pereira de Brito Professor-tutor: Eurípedes Pereira de Brito 48 55). No entanto, é importante observar que os termos „judeus‟ e „judaísmo‟ têm mais que um significado meramente tribal. Simbolizam um tipo distintivo de vida. Os hebreus da tribo de Judá (e parte da tribo de Benjamim) levados ao cativeiro, sofreram uma mudança real naqueles setenta anos. Em suas privações no exílio, viram pesar sobre eles a mão punitiva de Iavé por causa da desobediência à Lei, e se arrependeram de coração. Além disso, apenas os mais devotos foram os que voltaram sob a proteção de Ciro, e empreenderam a reconstrução da nação santa. Os descendentes de Israel que subiram da Babilônia, portanto, sentiam agora outro respeito à Lei e às tradições dos antepassados, desgosto para com a idolatria e o que era gentio e, em consequência, eram muito mais ardorosos e exclusivistas em sua lealdade racial. Os princípios e tipo de vida do judeu no exílio e pós-exílio, constituíram o judaísmo. Vejamos alguns aspectos importantes da cultura judaica: 1. As sinagogas A perda do templo no começo do exílio babilônico e a ausência da celebração do culto com os rituais e sacrifícios, ocasionaram um estudo aprofundado e uma observância da lei (a Torá) do Antigo Testamento. Como observa Nelson (1991, p. 17) „Na Babilônia, a instrução religiosa foi prosseguida pelos sacerdotes e levitas, numa tentativa de conservar o conhecimento de Jeová vivo‟. Para que isso ocorresse era necessário um local, o que acabou conduzindo ao estabelecimento das sinagogas como instituição. Sinagoga é um termo grego que significa „reunir juntos‟. É motivo de debate se as sinagogas tiveram origem durante o exílio, durante o tempo em que o povo foi restaurado do exílio ou já no período intertestamentário. Portanto, a sinagoga era um local primeiramente de adoração, estudo e observância da lei, e não incluía a oferta de sacrifícios. Segundo Gundry, havia os seguintes elementos no culto típico das sinagogas: O PERÍODO INTERTESTAMENTAL E OS DOIS TESTAMENTOS Professor-conteudista: Eurípedes Pereira de Brito Professor-tutor: Eurípedes Pereira de Brito 49 a) Recitações responsivas do Shemá (o „texto áureo‟ do judaísmo) e do Shemoneh Esreh (série de louvores a Deus); b) Oração, canto dos salmos, leituras da lei e dos profetas; c) Um sermão uma bênção proferida, uma junta de anciãos exercia superintendência espiritual sobre a congregação; d) Disciplina: A disciplina fazia parte da vida da sinagoga. Os membros que caíssem em erro eram punidos por meio de açoites ou de exclusão. (GUNDRY, 1999, p. 46). Aadministração da sinagoga cabia a um grupo de anciãos. Havia um presidente que dentre outras funções tinha que manter a ordem durante as reuniões e escolher o orador para o culto no sábado. Não poderia se constituir uma sinagoga com menos de dez homens. Os cultos eram realizados aos sábados nos mesmos horários das celebrações do Templo. Em muitas cidades do Império Romano havia várias sinogogas. Acredita-se que Jerusalém tivesse quase quinhentas sinagogas no primeiro século antes de sua destruição. 1.1. A sinagoga como centro do judaísmo Além dos aspectos religiosos, a sinagoga era um verdadeiro centro de aprendizagem e divulgação do judaísmo. Era também um centro de administração do povo judeu, onde aspectos políticos e sociais eram desenvolvidos ali. GUNDRY, (1999, p. 43), observa que „A perda temporária do templo, durante o exílio deu azo a um crescente estudo e observância da lei (a Torá) do Antigo Testamento, e, pelo menos, afinal de contas, ao estabelecimento das sinagogas como uma instituição‟. Contudo é controverso se as sinagogas surgiram no exílio ou no período interbíblico. Em relação ao culto, o mesmo era muito simples, e os cânticos não eram acompanhados por instrumentos. Orações, cânticos de salmos, leituras do Antigo Testamento hebraico, da lei e dos profetas, um sermão era exposto se houvesse alguém preparado, por último vinha a bênção. O PERÍODO INTERTESTAMENTAL E OS DOIS TESTAMENTOS Professor-conteudista: Eurípedes Pereira de Brito Professor-tutor: Eurípedes Pereira de Brito 50 COM A PALAVRA, QUEM ENTENDE DO ASSUNTO Reicke afirma que: Ao lado do serviço divino estava também um serviço social unido à sinagoga, não havendo diferença de princípios entre lugar de oração e casa da comunidade. Principalmente ouve-se falar de catequese infantil (mishn. Shabb I, 23) e assistências aos pobres (ib., Pes VIII, 7). Também providências judiciais como flagelações (Mt 10,17) e excomunhão (Lc 6,22) eram problemas de autoridades da sinagoga. (REICKE, 1996, p. 143). 2. O Templo O primeiro templo foi destruído por Nabucodonozor quando em 586 levou o reino do sul cativo para a Babilônia. O primeiro grupo que retornou do exílio, sob a liderança de Zorobabel, começou o trabalho da construção do segundo templo. Depois de um tempo de abandono das obras, advertidos pelos profetas Ageu e Zacarias por estarem cuidando de suas próprias casas e abandonando o término do templo do Senhor, as obras foram concluídas e o templo foi dedicado em 516 a.C. O retorno do culto e dos sacrifícios no templo foi um momento de glória para o povo de Deus, pois os sacrifícios prescritos pela lei mosaica só podiam ser legitimamente oferecidos no santuário central. Herodes, o Grande, com o propósito único de obter o favor dos judeus, iniciou um grandioso projeto de embelezamento, ultrapassando em grande medida a glória do primeiro templo. Há uma discussão em relação ao fato se Heródes construiu um novo templo ou apenas desenvolveu um projeto de grande reforma e embelezamento do templo de Zorobabel. De qualquer forma, as obras de Heródes não terminaram antes de 65 d.C., (JOSEFO,1990, p. 368-369). COM A PALAVRA, QUEM ENTENDE DO ASSUNTO Tenney observa que: O templo era o principal centro de culto de Jerusalém. O próprio Jesus e, O PERÍODO INTERTESTAMENTAL E OS DOIS TESTAMENTOS Professor-conteudista: Eurípedes Pereira de Brito Professor-tutor: Eurípedes Pereira de Brito 51 mais tarde, os seus apóstolos ensinavam e pregavam dentro dos seus átrios. Tão tardiamente como em 56 d.C., a igreja de Jerusalém ainda como membros homens que faziam votos no templo (At 21.23-26) e que estavam íntimamente ligados às suas ordenanças legais. Só com o crescimento das igrejas gentílicas cessou a ligação do templo com o Cristianismo. (TENNEY, 1998, p. 122). Esse é um importante aspecto contra perspectivas liberais de que teria havido um cristianismo pregado de forma diferente por Paulo, que teria apresentado o Cristo da fé em oposição ao Cristo histórico. Observamos que Paulo viveu no tempo dos outros apóstolos e que fora ao templo algumas vezes no período de suas viagens missionárias, inclusive Paulo participou do concílio de Jerasusém (Atos 15), que nos mostra que a única contenda deles era pela tendência de alguns tentarem impor as práticas judaicas aos gentios convertidos. No mais observamos um Paulo convivendo com a liderança de Jerusalém e se submetendo a ela, exemplo claro, ele levou consigo a determinação do concílio para as igrejas dos gentios. 3. As festas do Judaísmo Havia sete festas no calendário judaico, cinco delas previstas pela lei, e outras duas tiveram origem depois do exílio. Dessa forma, observa-se que a lei mosaica prescrevia os seis primeiros itens do calendário: Páscoa, Festa dos Pães Asmos, Festa de Pentecostes, Ano novo e Dia da Expiação, Festa dos Tabernáculo. Os dois restantes, Festa da Dedicação (Hanucá) e a Festa de Purim, surgiram posteriormente, em acréscimo ao mandamento bíblico. (TENNEY, 1998). As festas que trazem os peregrinos que enchiam as ruas de Jerusalém, vindos de toda parte da Palestina e também de países estrangeiros eram as três festas principais: da Páscoa-Pães Asmos, do Pentecostes e dos Tabernáculos. (GUNDRY, 1999). Para uma compreensão mais ampla do assunto leia o livro de Tenney (1998, p. 124-129). O PERÍODO INTERTESTAMENTAL E OS DOIS TESTAMENTOS Professor-conteudista: Eurípedes Pereira de Brito Professor-tutor: Eurípedes Pereira de Brito 52 4. A teologia do Judaísmo Parte dos que foram para o cativeiro babilônico levaram consigo os livros do Antigo Testamento que tinham até este momento. O sacrifício no templo foi interrompido com a destruição do templo, mas o culto ao Senhor Deus prevaleceu, com a contribuição dos profetas, destacando Ezequiel no início do exílio, contribuíram para a vida de adoração e temor ao Senhor. Judeus devotos e cultos foram levados para a Babilônia e com a sua fixação na terra ali se constituiu uma comunidade que tomou o lugar de Jerusalém na liderança religiosa. Foram durante os setenta anos do cativeiro que surgiu a sinagoga com o culto a Deus pelos judeus distantes de Jerusalém e diante do fato da destruição do templo. A lei era ensinada e reverenciada. O estudo dedicado da lei se tornou o substituto dos sacrifícios de animais e práticas de caráter ético o lugar do ritual. COM A PALAVRA, QUEM ENTENDE: Tenney observa que A vida religiosa que se desenvolveu em volta da sinagoga era uma adaptação dos velhos ritos e observâncias do judaísmo às novas condições em que o povo tinha que viver. [...] Eram inevitáveis algumas mudanças, mas o Judaísmo reteve o principal – os princípios essenciais do velho culto prescrito pela lei e pregado pelos profetas. (1998, p. 114). Assim, eles mantiveram o culto a Deus, desenvolveram o temor do Senhor e a rejeição da idolatria, bem como perseveraram no amor à lei e à esperança messiânica. A deportação da classe alta de Judá para uma terra estrangeira significou um grande desafio de fé para os judeus. Algumas profecias afirmavam a duração eterna ao reino davídico na profecia de Natã. O templo de Jerusalém era a residência de Deus (1 Rs.8,13). Com isso havia uma certeza de que Jerusalém era inconquistável e o templo era indestrutível porque o Senhor era a sua proteção (Mq 3.11; Jr 7.4, 10). O PERÍODO INTERTESTAMENTAL E OS DOIS TESTAMENTOS Professor-conteudista: Eurípedes Pereira de Brito Professor-tutor: Eurípedes Pereira de Brito 53 Compreendendo que estas profecias protegeriam a nação mesmo estanto em pecado, a nação ficou segura e esperava confiantemente a poderosa intervenção de Iahweh, e desconsideraram a disciplina do Senhor declarada diante da possibilidade de desobediência (Dt 28-30). A invasãode Nabucodonosor derrubou esta perspectiva teológica de interpretação superficial das promessas do Senhor. Foram disciplinados duramente. Certamente, a tentação, para alguns, de deixar o temor do Senhor ocorreu, diante dos deuses babilônicos, pois, para alguns judeus, poderia ocorrer a pergunta: Seriam os deseus babilônicos mais poderosos que Iahweh? Alguns foram tentados a consider pelo menos o culto aos deuses babilônicos como acréscimo a Iahweh e erigiram imagens desses deuses em suas casas (Ez 14,1-11). Havia também feiticeiras que empregavam a magia babilônica, cosiam faixas para os pulsos e faziam véu para o povo que vinham consulta-las (Ez 13.18). Os profetas traziam a explicação para esta tragédia e o clamor para o retorno ao Senhor. Todo o desastre era permitido pelo Senhor, o exílio era declarado como castigo merecido (Is 19; Ez 33.10; 37. 11). Com lágrimas nos olhos, eles clamavam por misericórdia (Sl 74.9ss; Lm 9.9). Contudo, o temor do Senhor foi profundamente renovado, a idolatria banida de quase todo. Mostrando uma admirável tenacidade e vitalidade, a fé dos judeus se renovou na Babilônia. Alguns ritos e cerimônias recebiam grande ênfase durante o exílio. A circuncisão, por exemplo, constituiu-se num importante rito que distinguia os israelitas dos babilônios, pois era o sinal da relação do povo com Iahweh. Além disso, havia o culto em que se abstinham de comer e beber. Essa era a maneira de observância, sobretudo dos dias de lamentação ritual, que também eram regularmente observados no exílio. Permaneciam válidos ali os mandamentos e proibições do Senhor. COM A PALAVRA, QUEM ENTENDE DO ASSUNTO O PERÍODO INTERTESTAMENTAL E OS DOIS TESTAMENTOS Professor-conteudista: Eurípedes Pereira de Brito Professor-tutor: Eurípedes Pereira de Brito 54 Tenney afirma que: A sua crença tenaz na unidade e transcendência de Jeová era o ponto central em toda a doutrina do Judaísmo. Em contraste com a multiplicidade de divindades que o mundo pagão admitia, o judeu conservava zelosamente o seu curto mais incisivo credo de Dt. 6.4: „Ouve, ó Israel, Jeová, nosso Deus, é o único Deus‟. O exclusivismo judaico no culto é amplamente atestado pela atitude que os gentios tomavam para com eles. Eram geralmente acusados de ateísmo, não porque negassem de toda a maneira a existência de um deus, mas porque se recusavam persistemente a reconhecer a realidade de qualquer divindade a não ser a sua própria. (TENNEY, 1998, p. 114). As crenças judaicas procediam dos atos de Deus na história, conforme ficaram registrados e interpretados no Antigo Testamento. 5. A esperança messiânica Aguardavam a vinda do Messias. Para alguns essa esperança se resumia a um rei que viria e os levaria novamente ao poder e a glória como nos dias do rei Davi. Outros esperavam uma variedade de personagens messiânicos – profético, sacerdotal e real. Mas não esperavam que o Messias fosse um ser divino e humano ao mesmo tempo, nem que sofresse, morresse e ressurgisse dos mortos para a salvação do pecado. SÍNTESE DA AULA Nessa aula você estudou sobre: 1. O judaismo em toda a sua complexidade. 2. A teologia do judaismo. 3. A esperança messiânica na teologia judaica e sua influência. O PERÍODO INTERTESTAMENTAL E OS DOIS TESTAMENTOS Professor-conteudista: Eurípedes Pereira de Brito Professor-tutor: Eurípedes Pereira de Brito 55 Aula 8: A literatura e os grupos do judaísmo META Refletir sobre a literatura e os grupos do Judaismo. OBJETIVOS Analisar o caráter peculiar do Antigo Testamento. Verificar a literatura judaica extra-canônica. Compreender os grupos, as seitas e as instituições do Judaísmo. PARA INÍCIO DE CONVERSA Pessoal, hoje vamos falar da literatura e dos diversos grupos do Judaismo. Vamos lá, então? A literatura do Período Intertestamental, do Antigo e do Novo Testamentos é um assunto rico e desafiador para a formação teológico acadêmica, no entanto, trataremos aqui de forma resumida do assunto, visto que há uma disciplina, História e Literatura do Novo Testamento que trata de forma ampla do mesmo. 1. A literatura do Judaísmo A literatura do judaísmo compreende todo o material preservado pelos judeus durante o período dos exílios e da época Intertestamental. A literatura judaica envolve a parte do Antigo Testamento que eles já tinham até este momento do exílio, texto que era amado, temido e guardado por eles, e, nessa mesma linha de livros, vieram os escritos de Esdras e dos profetas do final do período do Antigo Testamento. O PERÍODO INTERTESTAMENTAL E OS DOIS TESTAMENTOS Professor-conteudista: Eurípedes Pereira de Brito Professor-tutor: Eurípedes Pereira de Brito 56 PARA APROFUNDAR NO ASSUNTO Tenney afirma que: Mais do que qualquer outra nação da antiguidade, os judeus eram um povo de um livro. Outros povos tiveram uma literatura maior e mais variada e até mais antiga; mas nenhum outro povo, nem mesmo os gregos no auge do século de Péricles, mostrou um interesse tão absorvente na sua literatura nacional como os judeus na sua lei. Para eles a Torah não era simplesmente representativo duma cultura nacional muito queridaç era a voz de Deus. (TENNEY, 1998, p. 131). Outras fontes da literatura do judaísmo que temos para a pesquisa envolvem os textos que não foram aceitos como canônicos pelos judeus, e, portanto, não acrescidos no Antigo Testamento. Grande parte desse material, não canônico faz parte da Vulgata Católica Romana, conhecida como Apocrypha. O termo vem do grego que significa „oculto, escondido‟. O termo veio a significar livros não reconhecidos e enquadrados no cânon do Velho Testamento. Em parte esses livros já haviam sido acrescidos ao texto do Velho Testamento na tradução grega chamada Septuaginta, feita em Alexandria para atender aos Hebreus que tinham mais facilidade com o grego na época. O catolicismo romano ainda os defende como livros canônicos e, portanto, inspirados. É importante perceber o diferencial do livro de 1 Macabeus, que se resume ao aspecto histórico e, ainda que não tenha sido considerado inspirado, é muito rico para se conhecer o judaísmo, a história do período grego e sua grande influência sobre os judeus, bem como a revolta e libertação sob os macabeus. Além dos apócrifos, há também outras obras judaicas conhecidas como Pseudepigrapha. O termo vem do grego com o sentido de um escrito sob um suposto nome. (Veja a obra de Tenney, 1998, p. 132-133). 1.1. O caráter peculiar do Antigo Testamento O PERÍODO INTERTESTAMENTAL E OS DOIS TESTAMENTOS Professor-conteudista: Eurípedes Pereira de Brito Professor-tutor: Eurípedes Pereira de Brito 57 Jesus e os autores do Novo Testamento utilizavam a forma “está escrito” (que significa: “isso vem diretamente de Deus”) apenas para as Escrituras do Antigo Testamento. Jesus nunca citou nenhuma outra fonte, nem rabinos, nem autores gregos, livros apócrifos, nem outros textos bem conhecidos em sua época. Para ele, as Escrituras do Antigo Testamento eram a Palavra de Deus. Como afirma Tenney, 1998, pg,131) “Mais do que qualquer outra nação da antiguidade, os judeus eram um povo de um livro.”[...] Para eles o Torah não era simplesmente representativo duma cultura nacional muito querida; era a voz de Deus.” Até que os céu e a terra passassem, nenhuma parte da lei podia ser desrespeitada – tudo tinha que se cumprir (Mt 5.18). O respeito que os judeus tinham pelas Escrituras remontava, pelo menos, ao tempo de Esdras (Ne 8-10). Mil anos antes disso, Moisés conclamou o povo de Deus a amar a Deus amando seus mandamentos (Dt 6.4-6). No tempo de Jesus, todos os livros que compunham o Antigo Testamento tinham sido reconhecidos como sendo Escritura Sagrada (Lc 24.44). Ironside (1988, p. 115.),de forma bem enfática, nos informa que “o cânon das Escrituras foi encerrado pouco depois dos dias de Neemias.[...] Todos os livros posteriores a Malaquias não têm lugar no Velho Testamento.” 1.2. Visão geral da literatura judaica extra canônica Ainda que uma classificação rígida seja impossível, queremos detacar neste momento, para o nosso conhecimento, o cárater histórico e o caráter histórico romântico da literatura extra canônica: 1.2.1. Histórico O PERÍODO INTERTESTAMENTAL E OS DOIS TESTAMENTOS Professor-conteudista: Eurípedes Pereira de Brito Professor-tutor: Eurípedes Pereira de Brito 58 O fato de que para os judeus, a história de seu povo era um importante legado religioso e um assunto sagrado, não permite afirmar uma literatura judaica cem por cento histórica. No entanto, ainda que o interesse para com a história não fosse a primeira intenção, a história era elemento importante na vida e religião deles. a) I e II Macabeus. O livro que tem maior aproximação histórica é o de I Macabeus. O propósito histórico é perseguido de forma mais fiel possível, ainda que haja uma percepção sensível da relação de Deus com o seu povo eleito. O livro tem valor inestimável como fonte documentária da história judaica trazendo um registro cuidadoso da batalha heroica e triunfal dos judeus para a independência nacional, sob a liderança dos filhos do sacerdote Matatias. Já o segundo livro de Macabeus tem um valor histórico muito menor, não podendo sequer ser comparado com o I Macabeus. Sua exposição sobre a batalha de Macabeus é escorada por uma base concreta de fatos. b) As obras de Flávio Josefo. Tendo vivido no primeiro século do cristianismo, como escritor contribui com o seu especial interesse com a histórica judaica do primeiro século, tendo valor histórico importante para o estudioso. Sua obra “A Guerra” foi escrita por volta de 80 d.C. Sendo que sua obra mais importante foi “Antiguidades” escrita em Roma por volta de 90-93. 1.2.2. Histórico Romântico O caráter da literatura é bem distinto, empregando a ficção como meio de gravar lições religiosas, patrióticas e éticas. É um romance hortativo que se diz basear em O PERÍODO INTERTESTAMENTAL E OS DOIS TESTAMENTOS Professor-conteudista: Eurípedes Pereira de Brito Professor-tutor: Eurípedes Pereira de Brito 59 acontecimentos históricos. a) A maior parte desse tipo de literatura parece ter sido produzida no Egito. Apenas um de importância. 2. Grupos, seitas e instituições do judaísmo 2.1. Os fariseus O grupo dos fariseus faz parte daqueles grupos que se oporam a Jesus de forma intensa e receberam da parte do Senhor várias repreensões como as encontradas em todo o capítulo 23 do Evangelho de Mateus. Algumas dessas repreensões se tornaram mundialmente conhecidas, tais como: „Ai de vós, escribas e fariseus hipócritas, porque sois semelhantes aos sepulcos caiados, que, por fora, se mostram belos, mas interiormente estão cheios de ossos de mortos e de toda imundície‟ (Mt. 23.27). Com os saduceus, eles formavam os grupos mais importantes do judaísmo e os que mais questionavam e perseguiam a Jesus (Mt 22.34, 35). A origem dos fariseus vem dos „hassidim‟, dos „pios‟ do templo dos macabeus, e que formaram sua congregação paulatinamente, apoiando sua fé, sua crença e seu culto sobre a Lei Escrita e a Lei Oral. (GUNDRY, 1999, p. 53). Como grupo consolidado, sua formação remonta ao ano 175 a.C. Suas doutrinas têm uma origem muito remota. Era a seita que mais tinha adeptos de todas as classes judaicas e, portanto, eles foram os que mais tiveram influência sobre o povo. Vários doutores da lei estavam diretamente ligados aos fariseus, e foram eles que criaram a Mishná e, mais tarde, o Talmud, textos que preservam as suas doutrinas. Verificam-se nesta lista renomados doutores do Talmud: Johanan ben Zacai, Rabi Aquiba, Simão ben Yohay, Gamaliel, Hilel, Ben Azay, inclusive Saulo de Tarso. O PERÍODO INTERTESTAMENTAL E OS DOIS TESTAMENTOS Professor-conteudista: Eurípedes Pereira de Brito Professor-tutor: Eurípedes Pereira de Brito 60 Os fariseus às vezes procuravam cumprir zelosamente não só as leis escritas, mas também os costumes conservados oralmente. Nesta tentativa de zelo extremo, muitos se tornaram fanáticos, legalistas e hipócritas. COM A PALAVRA, QUEM ENTENDE Nas palavras de Elwel e Yarbrough, Os fariseus eram hostis a Jesus porque sentiam que ele era muito liberal com relação às suas leis, aceitava demais os pecadores e era aberto ao contato com os gentios. Acreditavam também que Jesus blasfemava quando se referia a si mesmo à sua relação com Deus. De sua parte, Jesus se opunha a eles por causa de seu legalismo, de sua hipocrisia e de sua falta de vontade de aceita o reino de Deus representado por ele mesmo. (ELWEL; YARBROUGH, 2001, p. 57). E, nas do prof. Eneias Tognini, Eram os fariseus excessivamente escrupulosos quanto ao rituralismo de seu oco tradicionalismo. Abandoram a verdadeira lei, no dizer do Mestre, ´preceitos de homens´. Eram, no entanto, religiosos e tementes a Deus e espiritualistas. Muitos deles se converteram ao cristianismo, inclusive Nicodemos e José de Arimatéia, dois principes entre os judeus. Mais tarde encontramos o fanático Saulo de Tarso. (TOGNINI, 2009, p. 139). Havia duas escolas de pensamento farisaico na época de Jesus. A escola de Hillel tinha revolucionado o pensamento rabínico com um novo método de exegese, que permitia uma interpretação mais liberal da lei. Gamalial I (filho de Hillel e professor de Paulo At. 22.3) foi o líder dos fariseus de 25 a 40 d.C., e os discípulos de Shammai, que assumiam uma interpretação mais conservadora da lei. 2.2. Os saduceus O PERÍODO INTERTESTAMENTAL E OS DOIS TESTAMENTOS Professor-conteudista: Eurípedes Pereira de Brito Professor-tutor: Eurípedes Pereira de Brito 61 O nome dos saduceus pode ter-se originado ou derivado do sacerdote Zadoque. Zadoque teria sucedido Abiatar como sumo sacerdote durante os dias de Salomão, tendo influenciado o sacerdócio por muitas décadas. Ou pode ter vindo da palavra hebraica „zadoquim‟, que significa „os justos‟. Eles se orgulhavam em afirmar que eram fiéis a letra da lei mosaica, em contradistinção à tradição oral observada principalmente pelos fariseus. Os saduceus formavam o partido da aristocracia e dos sacerdotes ricos. Controlavam o Sinédrio e grande parte do poder político dos judeus. Favoreciam o poder de Herodes e controlavam o templo. O sumo sacerdote era o líder do grupo. Os saduceus formavam um grupo fechado, não procuravam prosélitos. PARA APROFUNDAR NO ASSUNTO Conforme a interpertação de Gundry, os aristocrátas saduceus eram os herdeiros dos hasmoneanos do período intertestamentário. Embora menor em número que os fariseus, detinham maior influência política, porquanto controlavam o sacerdócio. Seus contatos com dominadores estrangeiros tendiam a reduzir sua devoção religiosa, empurrando os mais na direção da helenização. (GUNDRY, 1999, p. 54). Os saduceus se opunham duramente a Jesus por serem os detentores principais do poder e estarem diretamente ligados ao partido do governo. Eles estavam contra tudo que pudesse ser uma ameaça aos seus cargos e estrutura de poder. COM A PALAVRA, QUEM ENTENDE DO ASSUNTO Reicke observa que: Os saduceus formavam na primeira procuradoria o partido do governo. Anás e seus colegas estavam tão estreitamente unidos aos saduceus, que Lucas equiparou os adeptos do sumo sacerdote com o partido dos saduceus (At 5.17). Is nos faz compreender porque os saduceus intervinham com todo fervor contra todo levante popular que parecesse por em perigo o poder de César e dos sumos sacerdotes: contra Jesus tendo a colaboração dos sumos sacerdotes e excepcionalmenteaté com os fariseus (Mt 16.1ss), contra os O PERÍODO INTERTESTAMENTAL E OS DOIS TESTAMENTOS Professor-conteudista: Eurípedes Pereira de Brito Professor-tutor: Eurípedes Pereira de Brito 62 apóstolos, só em união com os sumo sacerdotes (At 4.1;5.17) e em parte, sob protesto dos fariseus (At 5.34; 23.6-9). (REICKE, 1996, p. 176, 177). Os saduceus limitavam o cânon à Torah e rejeitavam as doutrinas da ressurreição, demônios, anjos, espíritos e advogavam a vontade livre em lugar da providência divina. Os saduceus não sobreviveram à guerra dos judeus contra os romanos e desapareceram depois do ano 70 d. C. Alguns saduceus, os de extrema esquerda, foram reconhecidos como herodianos. Essa parte dos saduceus baseavam suas esperanças nacionais na família de Herodes. Teriam surgido em 6 d.C., quando Arquelau, filho de Herodes, o Grande, foi deposto e Augusto Cézar enviou um procurador, Copônico, para governar na Judéia. Na busca de proteger seus direitos, alguns judeus, possivelmente, passaram a favorecer a dinastia herodiana, passando a serem chamados „herodianos‟ (Mt 22.16; Mc 3.6, 12.13). (GUNDRY, 1999, p. 56). 2.3. Os essênios O grupo dos essênios formava uma ala de ordem distinta na sociedade judaica. Uma comunidade ascética que vivia principalmente na região do Mar Morto. A origem do nome não é muito segura. Há quem o ligue a raízes gregas, aramaicas ou hebraicas, mas na realidade seu significado é obscuro. Pelo que se sabe de suas características, o significado mais apropriado seria o de „puros‟ ou „pios‟, pois sua origem estaria ligada aos Hassidim como os fariseus (GUNDRY, 1999, p. 56). Como os fariseus tinham a sua origem nos hasidins, parecem ter surgido depois da revolta dos macabeus em 167 a 160 a.C. (ELWEL; YARBROUGH, 2001, p. 57). O grupo não é mencionado no Novo Testamento. Nossas principais fontes para o estudo dos essênios, além dos documentos do mar morto são os escritos de Filon e Flávio Josefo (TOGNINI, 2009, p. 143). Os essênios consideravam o templo profanado, por este fato e algumas características essenciais, eles se afastaram completamente da vida relacionada ao O PERÍODO INTERTESTAMENTAL E OS DOIS TESTAMENTOS Professor-conteudista: Eurípedes Pereira de Brito Professor-tutor: Eurípedes Pereira de Brito 63 templo. Eles constituíam, sobretudo uma ordem monástica; não se casavam e sua comunidade perpetuava-se somente com a associação de novos membros. Não procuravam lucros pessoais, e todos trabalhavam pelos congregados, com os quais viviam em comum. O ingresso à comunidade exigia do candidato passar por diversas fases. Consideravam reprovável o juramento; seguiam rigorosas regras de pureza tomando banhos frequentes e usavam trajes brancos. Foram perseguidos e suas comunidades destruídas juntamente com os outros judeus depois de 66 d.C.. Vários de seus documentos foram encontrados nas cavernas próximas de suas comunidades a partir de 1947 e vieram a ser chamados de „Manuscritos do Mar Morto‟. Muitos acreditavam que seus escritos encontrados a partir da Caverna de Qunram iriam transformar completamente o cristianismo, no entanto, os documentos têm trazido grandes contribuições arqueológicas para o estudo do povo e do tempo de Jesus e seus discípulos. Há uma parte dos museus de Jerusalém reservada só para os achados arqueológicos dos essênios. Dentre eles, um rolo completo do livro de Isaias preservado integralmente por quase dois mil anos, trazendo grande conforto para os judeus e cristãos. 2.4. Os zelotes Os Zelotes formavam o grupo para o qual a política se tornou a razão principal da religião. Eles estavam interessados na independência da nação e sua autonomia. Segundo Josefo, o fundador foi Judas de Gamala, que iniciou a revolta sobre o censo da taxação em 6 d.C. Seu alvo era sacudir o jugo romano e anunciar o reino messiânico. Para Josefo, eles precipitaram a revolta na guerra romana (66-70 d. C.), debaixo da liderança de João Gichala (Guerra v. 3. 1). Um dos discípulos de Cristo, Simão (não Pedro), pertencia aos zelotes (Luc. 6: 15; Atos 1: 13). 2.5. Os discípulos de Jesus O PERÍODO INTERTESTAMENTAL E OS DOIS TESTAMENTOS Professor-conteudista: Eurípedes Pereira de Brito Professor-tutor: Eurípedes Pereira de Brito 64 Um grupo novo que surgiu no início do primeiro século, justamente, no início como fruto das pregações, ensinamentos e milagres de Jesus, foram os seus discípulos. No primeiro momento, todos os que seguiam a Jesus, de certa forma, eram considerados seus discípulos, no passar do tempo, este termo passou a designar os que, de fato, estavam firmados em Cristo e nos seus ensinos. É interessante observar que havia no grupo de seguidores de Jesus, no início, as ovelhas perdidadas da casa de Israel, as pessoas rejeitadas de outras classes, os pescadores de peixes, os cobradores de impostos e logo foram chegando outras pessoas, dentre elas muitos ricos. Dentre a multidão que o seguia Jesus separou doze para estarem mais próximos a ele, posteriormente foram chamados apóstolos. 2.6. O Sinédrio O Sinédrio era o conselho de juízes - uma espécie de corte suprema, que operava em Israel por volta da época de Jesus. Durante o período em que o Sinédrio existia, outras nações reinavam sobre Israel. Esse corpo de líderes consistia de 71 membros e fazia seus negócios em Jerusalém. Conforme Nelson, Quando Esdras e Neemias trabalhavam em Jerusalém, eles fizeram o povo fazer pacto de que iria viver por um código externo de regras básicas, diziam eles, na lei de Moisés. Quando Esdras e Neemias morreram, esta responsabilidade de instrução passou a um grupo de pessoas denominadas sopherim ou a „Grande Sinagoga‟. Este grupo durou cerca de 400 a 200 a.C. Este grupo foi o precursor do sinédrio. (DANA, 1980, p. 17). O nome Sinédrio vem das palavras gregas sin (junto) e edrio (sentar). Esse termo é usado vinte e duas vezes no Novo Testamento. No Novo Testamento, o Sinédrio aparece de uma maneira negativa. O evangelho nos diz que foi esse o grupo que colocou Jesus em julgamento. No livro de Atos vemos o Sinédrio investigando e perseguindo a crescente igreja cristã. O PERÍODO INTERTESTAMENTAL E OS DOIS TESTAMENTOS Professor-conteudista: Eurípedes Pereira de Brito Professor-tutor: Eurípedes Pereira de Brito 65 2.6.1. Sumo sacerdotes O Sinédrio era comandado por um presidente que era conhecido como „o sumo sacerdote‟. Normalmente os saduceus eram os sumo sacerdotes, que eram os homens mais poderosos do Sinédrio. Um sumo sacerdote era o capitão do templo e o outro supervisionava os procedimentos e comandava o guarda do templo (Atos 5:24-26). Os outros serviam de tesoureiros, controlando os salários dos sacerdotes e trabalhadores e monitorando a vasta quantia de dinheiro que vinha através do templo. 2.6.2. Os anciãos A Segunda categoria principal dos membros do sinédrio eram os anciãos. Esses homens representavam a aristocracia sacerdotal e financeira na Judéia. Leigos distintos como com José Arimtéia (Marcos 15.43), dividiam a visão conservadora dos saduceus e davam à assembleia a diversidade de um parlamento moderno. 2.6.3. Os escribas Os membros mais recentes do Sinédrio eram os escribas. A maioria deles era fariseu. Eles eram advogados profissionais, treinados em teologia, direito e filosofia. Eles eram organizados em grêmios, e normalmente seguiam rabinos ou professores célebres. Gamaliel, um escriba famoso do Sinédrio, que aparece no Novo Testamento (Atos 5.34), foi o erudito que instruiu o apóstolo Paulo (Atos 22.3). A extensão da influência do Sinédrio - oficialmente, o Sinédrio tinha só tinha jurisdição na Judéia. Mas na prática, ele tinha influência na província da Galiléia e até mesmo em Damasco (Atos 22.5). O trabalho do conselho era basicamentejulgar O PERÍODO INTERTESTAMENTAL E OS DOIS TESTAMENTOS Professor-conteudista: Eurípedes Pereira de Brito Professor-tutor: Eurípedes Pereira de Brito 66 assuntos da lei judaica quando surgiam discórdias. Em todos os casos, sua decisão era final. Eles julgavam acusações de blasfêmia como nos casos de Jesus (Mateus 26.65) e Estevão (Atos 6.12-14), e também participavam na justiça criminal. Ainda não sabemos se o Sinédrio tinha o poder de punição capital. O filósofo judeu Filo, indica que no período romano o Sinédrio podia julgar violações ao templo. Isso explica as mortes de Estevão (Atos 7.58-60) e Thiago. Gentios que foram pegos ultrapassando o recinto do templo eram avisados sobre uma pena de morte automática. Porém, o Novo Testamento e o Talmude discordam de Filo nesse ponto de vista. No julgamento de Jesus, as autoridades estavam convencidas em envolver o governador romano Pilatos, que por si só poderia mandar matar Jesus (João 18.31). 2.7. O povo da terra Além das divisões dos grupos do judaísmo, havia o povo da terra - pessoas comuns que viviam suas vidas e não se afiliavam a nenhum grupo de influência política. Aquela ampla maioria de pessoas não se afiliavam a nenhum grupo específico, mas simplesmente tentavam viver cada dia de acordo com a vontade de Deus, da melhor maneira que podiam. Suas ideias eram mais próximas das que os fariseus defendiam, mas eram desprezados por estes como uma turba que não sabia nada da lei (Jo 7.49). A literatura rabínica posterior descreve como aqueles que não eram dizimistas regulares, não liam a Shema (Dt 6.4-9 (de manhã e à noite, não usavam tefilim (pequena caixa de couro com trechos das escrituras em um estojo)) em seus umbrais, falhavam em não ensinar a lei a seus filhos e não se associavam aos estudiosos da lei. Para Jesus, essas eram as ovelhas perdidas da casa de Israel (Mt 10.6), ovelhas sem pastor, das quais ele se compadeceu (Mt 6.34). Essas pessoas comuns tinham prazer em ouvir Jesus (Mc 12.37), em oposição às lideranças religiosas que estavam com raiva de seus ensinamentos e tentavam matá-lo. (ELWEL; YARBROUGH, 2001, p. 60). O PERÍODO INTERTESTAMENTAL E OS DOIS TESTAMENTOS Professor-conteudista: Eurípedes Pereira de Brito Professor-tutor: Eurípedes Pereira de Brito 67 2.8. O povo da diáspora Muitos judeus não retornaram para a Palestina. Durante o império romano o número de judeus que vivam na dispersão era muito maior do que os residentes na terra. COM A PALAVRA, QUEM ENTENDE DO ASSUNTO Segundo Tenney, dá-se o nome de Diáspora, ou Dispersão, ao conjunto dos judeus que vivem em quase todas as grandes cidades, desde a Babilônia, até roma e também em muitas povoações menores, onde o comércio e a colonização os retiveram. A dispersão do povo judaico começou com o cativeiro do Reino do Norte em 721 a.C., quando Sargão da Assíria deportou os habitantes de Israel para a Assíria, onde constituiu com eles novas colonias. O Reino do Sul ou de Judá, foi conquistado pela Babilônia em 597 a. C., e muitas classes cultas foram levadas para a Babilônia [...]. A influência grega afetou inquestionavelmente os judeus da Dispersão e muitos deles perderam as características distintivas e a fé que os tornavam diferentes de todos os outros povos. A maioria deles, no entanto, continuou judaica. Agarravam-se tenazmente à sua fé monoteísta -baseada na lei de Moisés. Mantinham o contato com o templo de Jerusalém por meio das peregrinações às festas e mantinham o culto da sinagoga, onde quer que fossem em número bastante para constituirem um grupo cultural. (1998, p. 143). 3.9. Pessoas ligadas à religião dos judeus: os prosélitos e os tementes a Deus Encontramos relacionados aos judeus, os prosélitos, pessoas de outras nações que tentavam guardar e praticar todo o judaísmo, e os tementes a Deus, pessoas que foram influenciadas pelos judeus, com suas leis e sua fé, e que, no entanto, não guardavam todas as leis e ritos do judaísmo, tais como a circuncisão, guarda do sábado e outros. Jeremias (1983, p. 424) corrobora com essa importante observação ao afirmar que seria importante distinguir os prosélitos dos tementes a Deus: „que aceitavam somente a profissão de fé monoteísta e a observância de uma parte das leis cerimoniais, sem se converterem totalmente ao judaísmo. Legalmente, eram considerados pagãos‟. Dentre os prosélitos conhecidos encontramos o centurião Cornélio e toda a sua casa, que O PERÍODO INTERTESTAMENTAL E OS DOIS TESTAMENTOS Professor-conteudista: Eurípedes Pereira de Brito Professor-tutor: Eurípedes Pereira de Brito 68 foi evangelizado por Pedro (Atos 10); Lígia que foi evangelizada por Paulo (Atos 16); e outros. É importante observar que, como resultado da presença dos judeus na dispersão, quando o evangelho começou a ser pregado, já havia esta influência dos judeus com seus ensinamentos em grande parte do mundo greco-romano. SÍNTESE DESSA AULA Nessa aula você estudou sobre: 1. O caráter peculiar do Antigo Testamento. 2. A literatura judaica extra canônica. 3. Os grupos do judaísmo. O PERÍODO INTERTESTAMENTAL E OS DOIS TESTAMENTOS Professor-conteudista: Eurípedes Pereira de Brito Professor-tutor: Eurípedes Pereira de Brito 69 UNIDADE II – OS ASPECTOS SECULARES Aula 9: Idioma, transporte, comércio, comunicação e moradia META Refletir sobre a vida diária no Período Intertestamental e do Novo Testamento. OBJETIVOS Compreender a vida diária de forma mais específica em relação aos judeus. Verificar como era o idioma principal do povo, o comércio, a comunicação e a moradia. Analisar as classes sociais relacionadas ao Período Intertestamental e de forma mais específica no Período Romano. PARA INÍCIO DE CONVERSA Olá, pessoal! Na Aula de hoje vamos falar sobre idioma, transporte, comércio, comunicação e moradia. Sabe-se que a maioria do povo foi levada cativa para a Babilônia, no exílio, como foi observado alhures, os judeus gozaram de grandes privilégios e puderam manter a identidade como povo de Deus. Quando o Imperador Ciro concedeu a liberdade para os judeus voltarem para sua terra, apenas uma minoria voltou. Em termos da população judaica no período do Império Romano, tem-se calculado que mais de quatro milhões de judeus viviam espalhados pelo território do Império durante os dias do Novo Testamento, talvez 7% da população total do mundo romano. Mas dificilmente o número de judeus que viviam na Palestina atingia a setecentos mil. Havia mais judeus em Alexandria e no Egito do que em Jerusalém; e O PERÍODO INTERTESTAMENTAL E OS DOIS TESTAMENTOS Professor-conteudista: Eurípedes Pereira de Brito Professor-tutor: Eurípedes Pereira de Brito 70 mais na Síria do que na Palestina. E mesmo em certas porções da Palestina (na Galiléia onde Jesus se criou, e em Decápolis), os gentios eram mais numerosos do que os judeus. Este é o quadro da população dos judeus do Período Intertestamental e dos dois testamentos. As perguntas que são levantadas neste momento, com esta realidade da dispersão e retorno, diante das grandes influência dos impérios, qual afinal era o principal idioma que eles falavram e os quais os outros eram falados entre eles? Quais eram os principais meios de transportes utilizados? Como era realizado o comércio? Quais eram os principais meios de comunicação? Em fim, estes aspectos são de grande relevância para a reflexão que busca por uma compreensão da vida diária nos tempos do Período Intertestamental, no Antigo e no Novo Testamento. 1. OS IDIOMAS O latim era língua oficial do império romano, mas era idioma usado principalmente no ocidente. No oriente, a língua franca (idioma comum) era o grego. Além do grego, os habitantesda Palestina falavam o aramaico e o hebraico, pelo que também Jesus e os primeiros discípulos provavelmente eram trilingues. PARA APROFUNDAR NO ASSUNTO O ARAMAICO Aramaico é uma língua semítica pertencente à família linguística afro- asiática. O nome da língua é baseado no nome de Aram,1 uma antiga região do centro da Síria. Dentro dessa família, o aramaico pertence ao subgrupo semítico, e mais especificamente, faz parte das línguas semíticas do noroeste, que também inclui as línguas cananitas assim como o hebraico e o fenício. A escrita aramaica foi amplamente adotada por outras línguas, sendo assim, ancestral do alfabeto árabe e hebraico moderno. Foi a língua administrativa e religiosa de diversos impérios da Antiguidade, além de ser o idioma original de muitas partes dos livros bíblicos de Esdras e Daniel, O PERÍODO INTERTESTAMENTAL E OS DOIS TESTAMENTOS Professor-conteudista: Eurípedes Pereira de Brito Professor-tutor: Eurípedes Pereira de Brito 71 assim como do Talmude. O aramaico foi, possivelmente, a língua falada por Jesus e ainda hoje é a língua materna de algumas pequenas comunidades no Oriente Médio, especialmente no interior da Síria; e sua longevidade se deve ao fato de ser escrito e falado pelos aldeões cristãos que durante milênios habitavam as cidades ao norte de Damasco, capital da Síria, entre elas reconhecidamente os vilarejos de Maalula e Yabrud, esse último „onde Jesus Cristo hospedou-se por 3 dias‟ além dessas outras aldeias da Mesopotâmia reconhecidamente católicas por onde Cristo passou, como Tur'Abdin ao sul da Turquia, fizeram com que o aramaico chegasse intacto até os dias de hoje. No início do século XX, devido a perseguições políticas e religiosas, milhares desses cristãos fugiram para o ocidente onde ainda hoje restam poucas centenas, vivendo nos Estados Unidos, na Europa e na América do Sul e que curiosamente falam e escrevem fluentemente o idioma falado por Jesus Cristo. (WIKIPÉDIA). 2. OS TRANSPORTES, O COMÉRCIO E AS COMUNICAÇÕES Jerusalém atingiu antes de 70 d.C. o nível de desenvolvimento da circulação de produtos considerado por alguns de uma economia urbana. A profissão de comerciante era muito valorizada. Os próprios sacerdotes comercializavam. Muitos bens eram transportados por caravanas de camelos. Por vezes, caravanas importantes traziam de longe para aquela cidade, artigos comerciais. Para o comércio com as regiões próximas, utilizavam-se jumentos como animais de carga. Gundry observa que no campo dos transportes, do comércio e das comunicações, a Palestina era bem pouco desenvolvida. O país dificilmente possuía estradas pavimentadas. Havia sim, diversas estradas principais. PARA APROFUNDAR NO ASSUNTO Gundry, falando das estradas da Palestina nos dias de Jesus, observa que: Uma dessas estradas partia de Jerusalém, na direção nordeste, para Betânia, Jericó e Damasco. A segunda estrada principal se separava da primeira na Transjordânia e atravessava Decápolis até Cafarnaum. Uma terceira estrada principal subia pela costa mediterrânea de Gaza a Tiro. Uma estrada secundária, na qual o Cristo ressurrreto conversou com dois discípulos, seguia para além de Emaús até Jerusalém. A quarta ia de Jerusalém e seguia direto para o norte, atravessando Samaria e terminando em Cafarnaum. O PERÍODO INTERTESTAMENTAL E OS DOIS TESTAMENTOS Professor-conteudista: Eurípedes Pereira de Brito Professor-tutor: Eurípedes Pereira de Brito 72 Finalmente Via Maris (Estrada do Mar) partia de Damasco, atravessava Cafarnaum perto do mar da Galiléia e seguia na direção de Nazaré, prosseguindo até à costa do Mediterrâneo. (GUNDRY, 1999, p. 24). 3. AS MORADIAS As cidades e as moradias da Palestina eram um tanto diferentes de suas congêneres greco-romanas, e eram comparativamente atrasadas. A entrada numa cidade se fazia por meio de um portão nas muralhas. Do lado de dentro do portão havia uma praça que provia espaço público para comércio e para atividades sociais e legais. Jesus deve ter pregado com frequência nessas praças citadinas. As casas eram baixas e com cobertura plana, algumas vezes com um quartinho para hóspedes encarapitado no alto. O material de construção usado nessas edificações usualmente consistia de tijolos de barro amassado com palha e ressecados ao sol. Os leitos não passavam de um colchão ou de uma colcha estendida no chão. Somente nas casas mais abastadas havia camas armadas. As pessoas dormiam vestidas com as roupas que usavam durante o dia. PARA SABER MAIS Gundry (1999, p. 26) observa que: “As cidades e as moradias da Palestina eram um tanto diferentes de suas congêneres greco-romanas, e eram comparativamente atrasadas”. SINTESE DA AULA Nessa Aula você estudou sobre alguns pontos importantes da sociedade dos tempos neotestamentários como: 1. Idiomas 2. Transporte, comércio e comunicações 3. Idiomas. O PERÍODO INTERTESTAMENTAL E OS DOIS TESTAMENTOS Professor-conteudista: Eurípedes Pereira de Brito Professor-tutor: Eurípedes Pereira de Brito 73 Aula 10: Alimentação, vestuário, classes sociais e família META Refletir sobre alimentação, vestuários, classes sociais e família no período intertestamental do Antigo e do Novo Testamento. OBJETIVOS Verificar como era a alimentação no contexto judaico com ênfase no Período Intertestamental e do Novo Testamento. Analisar como vestiam no contexto judaico. Verificar como eram as classes sociais e a família no Período Intetestamental e do Novo Testamento. PARA INÍCIO DE CONVERSA Tudo o que estamos estudando até aqui ajuda-nos na compreensão do ambiente do Período Intertestamental e do Novo Testamento de forma especial. Não seria indispensável para a compreensão essencial da mensagem de Deus para nós seres humanos, mas numa busca de compreensão mais aprofundada da Palavra de Deus, é de extrema importância compreender o contexto no qual a mensagem foi transmitida. Continuemos, portanto, a estudar a vida diária nos dias do Período Intestesmental e do Novo Testamento. 1. ALIMENTAÇÃO O PERÍODO INTERTESTAMENTAL E OS DOIS TESTAMENTOS Professor-conteudista: Eurípedes Pereira de Brito Professor-tutor: Eurípedes Pereira de Brito 74 Os judeus costumavam ter somente duas refeições formais ao dia, e os romanos normalmente tinham quatro. Daniel-Rops (1997, p. 137) nos informa que „os judeus gostavam de comer ao ar livre e com frequencia tomavam as refeições no pátio; mas no inverno tinham que permanecer no interior da casa, geralmente um aposento grande que era também a cozinha‟. Eles comiam principalmente frutas e legumes. Carne assada ou cozida, usualmente era reservada para dias de festa. Uvas passas, figos, mel e tâmaras supriam os adoçantes, porquanto era desconhecido o açúcar. O peixe era um frequente substituto da carne. Quando das refeições formais, as pessoas costumavam reclinar-se em divãs acolchoados. Nas refeições informais, se assentavam e gostavam de convidar os amigos. 2. VESTUÁRIO E MODAS Na Palestina os homens deixavam a barba crescer. Seus cabelos eram conservados um pouco mais longos do que em outras regiões, mas não tão compridos como se vê nas gravuras que representam pessoas dos tempos bíblicos. A moda na Palestina usualmente se mantinha em níveis conservadores para ambos os sexos. 3. AS CLASSES SOCIAIS Por causa da influência niveladora do judaísmo, na sociedade judaica as diferenças nas classes sociais eram menores do que na sociedade pagã. A grosso modo, no entanto, os principais sacerdotes e os líderes rabinos formavam a classe mais alta. Fazendeiros, artesãos e pequenos negociantes compreendiam a maior parte da população. Além dessas classes havia a dos escravos, que era formada por uma grande população no império romano. Havia escravos também na comunidadejudaica. Segundo Daniel-Rops (1997, p. 97), „O mais surpreendente exemplo de sua influência é O PERÍODO INTERTESTAMENTAL E OS DOIS TESTAMENTOS Professor-conteudista: Eurípedes Pereira de Brito Professor-tutor: Eurípedes Pereira de Brito 75 a atitude dos judeus quanto à escravidão, esse elemento chocante e essencial em toda a sociedade do mundo antigo‟. Para compreendermos melhor, Gundry observa que: Muitas das declarações e parábolas de Jesus dão a entender que a escravidão também existia na cultura hebreia de Seu tempo. As epístolas de Paulo refletem a presença de escravos nos domicilios cristãos. Muitos desses escravos – médicos, contadores, professores, filósofos, gerentes, balconistas, escriturários – eram mais aptos e mais bem educados que seus senhores. (GUNDRY, 1999, p. 30). 3.1. Herodes e a corte Herodes vivia num perpétuo receio dos próprios súditos, mantendo forte segurança pessoal. A corte com sua riqueza regia a vida oficial. (JEREMIAS, 1983. p, 130). 3.2. Os ricos (não judeus) Havia uma verdadeira manifestação de luxo no meio dos ricos. Os banquetes dos ricos exerceram uma grande função naquela sociedade. Jerusalém servia de modelo para outros países por suas maneiras requintadas. Também lá, um anfritrião podia distinguir- se de modo espetacular pelo grande número de convidados, ou de modo mais real, pelo tratamento dispensado a seus convivas. Em todos os tempos Jerusalém atraiu o capital nacional do país: altos negociantes, grandes proprietários de imóveis, arrendatários de impostos e pessoas que viviam de rendas. 3.3. Os cobradores de impostos (publicanos) O PERÍODO INTERTESTAMENTAL E OS DOIS TESTAMENTOS Professor-conteudista: Eurípedes Pereira de Brito Professor-tutor: Eurípedes Pereira de Brito 76 Eles se tornaram objetos de uma especial aversão, como classe. Os demais judeus desprezavam a esses cobradores de taxas e, isso, devido ao seu necessário contato com superiores gentios e pela opressão sobreposta principalmente no caso dos pobres. 3.4. Ricos e pobres no contexto judaico Não se percebe, como em outras culturas, no meio dos judeus, em ponto algum do Novo Testamento, qualquer referência a uma distinção entre o que chamaríamos de pessoas educadas e simples, ou nobres e plebeus, mas, por outro lado, encontramos continuamente ricos e pobres. Quantas das parábolas de Cristo estão ligadas à posição conferida pela riqueza? Essa distinção que nossa sociedade moderna conhece tão bem. A classe reinante se afirmava por causa da sua riqueza e das ligações políticas providas pela mesma e não pelos serviços prestados. COM A PALAVRA, QUEM ENTENDE DO ASSUNTO Como observa Daniel-Rops, o que isolava, porém, completamente Israel das demais nações do mundo antigo era a sua atitude em relação a esta desigualdade social e aos privilégios da riqueza. O princípio religioso era absoluto: com excessão da classe sacerdotal, que era tida como possuindo uma graça especial, todos os leigos judeus mantinham estritamente uma posição de igualdade entre eles. (DANIEL-ROPS, 1997, p. 96).] 4. A FAMILIA Eram comuns as famílias de muitos membros. Havia alegria ante o nascimento de um menino, mas tristeza ante o de uma menina. No contexto judaico, no oitavo dia O PERÍODO INTERTESTAMENTAL E OS DOIS TESTAMENTOS Professor-conteudista: Eurípedes Pereira de Brito Professor-tutor: Eurípedes Pereira de Brito 77 de vida, o infante do sexo masculino era circuncidado e recebia o seu nome. No caso da outorga de um nome a uma menina, podia esperar pelo espaço de um mês. As famílias não tinham sobrenomes, pelo que pessoas com um mesmo nome eram distinguidas mediante a menção do nome do pai („Simão, filho de Zebedeu), mediante a filiação política („Simão, o Zelote‟), pela ocupação („Simão Curtidor‟), ou mediante o lugar de sua residência („Judas Iscariotes‟), onde a palavra „Iscariotes‟ significa „homem de Quiriote‟. Quando ocorria um falecimento, a família do morto contratava carpideiras profissionais, usualmente mulheres treinadas em soltar lamentações. No contexto judaico, a família poderia ser vista apenas como uma entidade social. Era também uma comunidade religiosa, com suas festas particulares, em que o pai era o celebrante. Segundo Daniel-Rops (1997, p. 81) „algumas das importantes cerimônias exigidas na Lei do Senhor tinham um forte caráter familiar – a Páscoa, por exemplo, tinha de ser celebrada em família‟. Pertencer a uma família tinha um significado muito forte. Nos evangelhos e no livro de Atos vemos, por exemplo, que os pais que aceitavam os ensinamentos de Cristo levavam com eles a família inteira. SÍNTESE DA AULA Nessa aula você estudou sobre: 1. A vida diária de forma mais específica em relação aos judeus. 2. O idioma principal do povo, o comércio, a comunicação e a moradia. 3. As classes sociais relacionadas ao período Intertestamental e de forma mais específica no período Romano. O PERÍODO INTERTESTAMENTAL E OS DOIS TESTAMENTOS Professor-conteudista: Eurípedes Pereira de Brito Professor-tutor: Eurípedes Pereira de Brito 78 REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFIA BÁSICA BAXTER, J. Sidow. Examinai as escrituras. O período intertestamentário e os evangelhos. Trad. De Neyde Siqueira. São Paulo: Vida Nova, 1985. DANA H. E. O mundo do Novo Testamento: um estudo do ambiente histórico e cultural do Novo Testamento. Trad. Jabes Torres. Rio de Janeiro: JUERP, 1980. GUNDRY, Robert. Panorama do Novo Testamento. Trad. João Marques Mendes. São Paulo: Vida Nova, 1999. BIBLIOGRAFIA COMPLEMENTAR DANIEL-ROPS, Henri. A vida diária nos tempos de Jesus. Trad. Neyd Siqueira. São Paulo: Vida Nova. 1997. ELWELL, Walter A. et alli. Descobrindo o Antigo e o Novo Testamentos. São Paulo: Cultura Cristã, 2001. 2 vols. IRONSIDE, H.A. Os quatrocentos anos de silêncio: de Malaquias a Mateus. Trad. Joás Castello Branco Gueiros. São Paulo: Casa Editora Presbiteriana, 1998. JEREMIAS, Joaquim. Jerusalém no tempo de Jesus: Pesquisa de história econômica- social no período neotestamentário. Trad. M. Cecília de M. Duprat. São Paulo: Paulus, 1983. JOSEFO, Flávios. História dos Hebreus. Trad. Vicente Pedroso. Rio de Janeiro: CPAD, 1990. METZGER, Martin. História de Israel. Trad. Nelson Kirst e Silvio Schneider. São Leopoldo: Sinodal. 1984. NELSON, Thomas. O mundo do Novo Testamento. São Paulo: Imprensa da Fé. 1991. 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