PROLAPSO VAGINAL DE GRAU 3 EM FÊMEA BOVINA.RELATO DE CASO.

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UNIVERSIDADE EDUCACIONAL DE SANTA CATARINA
MEDICINA VETERINÁRIA
PROLAPSO VAGINAL DE GRAU 3 EM FÊMEA BOVINA: RELATO DE CASO 
ALANA STEFEN DE CASTILHO
SÃO BENTO DO SUL
2022
RESUMO
Entende-se por prolapso vaginal a exposição total ou parcial do órgão em questão, tendo origem multifatorial, tratamento cirúrgico e prognóstico desfavorável para a reprodução. Está diretamente ligada ao relaxamento dos ligamentos pélvicos e perineais provocados pela gestação, estimulado pelos hormônios estrógeno e progesterona. Este trabalho tem o objetivo de relatar um caso clínico de prolapso vaginal ocorrido em animal mestiço no município de Campo Alegre/SC, em 2022, durante o período de estágio obrigatório para a obtenção do diploma em Medicina Veterinária. Após a recolocação da vagina em sua posição fisiológica, foi utilizado a Técnica de Flessa para a sutura, porém de forma adaptada com materiais disponíveis no momento. 
Palavras-chave: Bovinocultura, Patologia, Reprodução.
INTRODUÇÃO
O prolapso de vagina é uma afecção no aparelho reprodutor feminino (MELLO, 2015), podendo afetar qualquer espécie, porém, com maior frequência, acomete bovinos e ovinos (FRASER et al., 1996); sendo que em bovinos acomete, predominantemente, as raças Brahman e Nelore (PRESTES et al., 2008).
O prolapso é classificado em grau 1, grau 2, grau 3 e grau 4 (SAH & NAKAO, 2003; ALVARENGA, 2006; DIAS, 2007), dependendo da evolução do problema. No primeiro estágio, ocorre protusão da mucosa vaginal através da vulva, quando o animal está em decúbito, desaparecendo quando este se levanta. Já no segundo, a protusão da mucosa vaginal permanece mesmo com o animal na posição quadrupedal. Em seguida, no terceiro estágio, o prolapso vaginal e cervical permanece constantemente exposto e, no último estágio (grau 4), apresenta-se com áreas necrosadas (ALVARENGA, 2006).
Entre as causas de prolapso vaginal são citados nos bovinos como: predisposição hereditária (principalmente raças leiteiras), flacidez do diafragma pélvico (devido ao edema e efeito estrogênico), período de gestação (normalmente nos últimos dois meses), idade avançada, decúbito (aumento da pressão intra-abdominal), debilidade da fêmea (deficiência nutricional), hipocalcemia, distensão exagerada do útero (hidropsia, gestações gemelares), tenesmo (inversão), confinamento (falta de exercícios), gravidade (em razão da inclinação do piso do estábulo), tração forçada, excesso de gordura perivaginal, cistos ovarianos e timpanismo ruminal. (GH et al, 2003; G. Arthur, et al, 2001). 
Diversos tratamentos clínicos, procedimentos para contenção do prolapso ou manobras cirúrgicas estão descritos na tentativa de redução do prolapso, mas em sua maioria não resolvem o problema ou a resolução é temporária, sendo necessária a repetição dos procedimentos (TONIOLLO & VICENTE, 2003; RICHARD, 2007; PRESTES et. al.; 2008)
Pandit et al. (1982) citou que, a maioria dos animais tratados, com reposição mecânica dos órgãos e sutura de vulva, se tornaram estéreis após prolapso vaginal/ uterino, mostrando cervicites crônicas, com índice de reincidência da afecção em 34,88% dos animais. 
CASO CLÍNICO 
Descrição
Vaca apresentando prolapso de vagina de grau 3. Gestante de aproximadamente 7 meses. Produtor relata que antes de chamar o serviço veterinário, ele mesmo tentou proceder a manobra de correção, mas sem sucesso. 
Atendimento e cirurgia 
(Foto: produtor. Vaca apresentando prolapso de vagina grau 3) 
Durante o atendimento, avaliou-se a condição física do animal, que aparentemente apresentava sinais de dor. Em seguida, foi instituída a lavagem da vagina prolapsada com água em abundância e utilização de gelo, e logo depois foi reconduzida à cavidade abdominal na posição fisiológica. Nova limpeza com água foi realizada e então aproveitada uma adaptação da técnica de “Flessa” com 2 mangueiras de água (15cm a 20 cm cada) e atadura com fio de nylon, para sutura de tensão da vulva. O animal recebeu anestésico local epidural de Lidocaína (2ml) para o procedimento. 
Sinais clínicos
Animal se apresentava com a exposição total da vagina, tenesmo, inquietação. Sinais vitais normais. A mucosa prolapsada apresentava-se de coloração vermelha, sem áreas de necrose.
Método diagnóstico 
O diagnóstico é obvio, no entanto, a palpação transretal foi realizada para determinar a viabilidade fetal e posicionamento da bexiga. 
Tratamento realizado 
Cirúrgico e Spray Prata a cada dois dias para evitar ectoparasitas, bem como administração de analgésico via intramuscular para alivio da dor e antibiótico. 
Foto: Autora. Animal contido com a técnica cirurgia
 
Resultados 
Após a cirurgia, o animal já conseguia se locomover normalmente. Ao passar 2 meses, a vaca pariu sem complicações e reincidência do prolapso. 
Foto: autora. Animal se apresentando em estação logo após a cirurgia. 
Discussão
Vaca anteriormente sem histórico de prolapso de vagina. Aparentemente originou-se do relaxamento dos ligamentos pélvicos e perineais devido a sua gestação avançada. Recomenda-se após o parto e engorda o descarte da fêmea devido as estatísticas de reincidência de prolapso e também pela sua inutilização para a reprodução. 
CONCLUSÃO
A cirurgia com a adaptação da técnica de Flessa associada à terapia medicamentosa mostrou-se muito eficaz no tratamento de prolapso de vagina. Entende-se que são várias as causas de prolapsos, mas uma que se mostrou congruente devido à gestação avançada, foi o possível relaxamento dos ligamentos pélvicos e perineais. O produtor foi norteado de que vacas que manifestam o prolapso de vagina podem, geneticamente, transferir tais características para as suas descendentes, bem como, ter um novo episódio desta patologia. Portanto, é imprescindível considerar a possibilidade de eliminação deste animal da propriedade, a fim de evitar a ocorrência desta patologia nas descendentes, evitando-se, dessa forma, os prejuízos econômicos.
REFERÊNCIAS
ALVARENGA, F.C.L. Patologias da gestação. In: PRESTES, N.C.; ALVARENGA, F.C.L. Obstetrícia veterinária. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2006. p.149-155.
Arthur G, Noakes DE, Pearson H, Parkimson T. Veterinary reproduction & obstetrics. 8. ed. London: W. B. Saunders, 2001. 
DIAS, B.M.L. Clínica das espécies pecuárias e cirurgias corretivas. 2007. 60f. Relatório final de estágio (Licenciatura em Medicina Veterinária) - Universidade de Trás-os-Montes e Alta Douro, Vila Real 
FRASER, C. M.; BERGERON, J. A; MAYS, A.; AIELLO, S. E. Manual Merck de veterinária. 7 ed. São Paulo, SP: Roca, 1996
GRUNERT, E. Manual de obstetrícia veterinária. Porto Alegre/RS. Editora Sulina, 1977. p. 164. 39-44.
MELLO, I. A. S. Prolapso parcial de mucosa vaginal em vacas Nelore: abordagem clínica e cirúrgica. Ouro Fino Saúde Animal, 2015
PANDIT R.K.; GRUPTA S.K.; PATTABI S.R. Clinical study on prolapse of vagina and uterus in buffaloes. Indian Veterinary Journal, v.59, p.975-980, 1982.
Prestes NC, Alvarenga FCL. Obstetrícia veterinária. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2017.
PRESTES, N.C. et al. Prolapso total ou parcial de vagina em vacas não gestantes: uma nova modalidade de patologia?. Revista Brasileira de Reprodução Animal, Belo Horizonte, v.32, n.3, p.182-190, jul/set. 2008.
PROLAPSO VAGINAL EM TRÊS VACAS - RELATO DE CASO. POSSIBLE CAUSES OF VAGINAL PROLAPSE - THREE CASE REPORTS. Vitor Dalmazo Melotti, Docente Centro Universitário ICESP, Águas Claras, Brasília, Brasil Ricardo Augusto Oliveira Mattos, Discente Centro Universitário ICESP, Águas Claras, Brasília, Brasil 
RICHARD, M.H. Surgical correction of abnormalities of genital organs of cows. In: YOUNGQUIST, R.S.; THRELFALL, W.R. Current therapy in large animal theriogenology. 2.ed. bMissouri: Saunders Elsevier, 2007.b p.463-472
SAH, S.K.; NAKAO, T.b Some characteristics of vaginal prolapse in nepali buffaloes. Journal of Veterinary Medical Science, v.65, n.11, p.1213-1215, nov. 2003. Disponível em: . Acesso em: 08 nov. 2011. doi: 10.1292/jvms.65.1213.
ToniolloGH, Vicente WRR. Manual de obstetrícia veterinária. São Paulo: Varela, 2003.