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Infecções virais do sistema nervoso (raiva e enterovírus) Questões norteadoras: 1. Quais são os principais vírus neurotrópicos? 2. Qual a principal forma de transmissão desses patógenos? 3. Quais os tecidos/órgãos são primariamente acometidos? 4. Que doenças são associadas a essas infecções virais? 5. A infecção pelo vírus da Raiva sempre será fatal? Por quê? 6. Quais são os reservatórios do vírus da Raiva? 7. Para humanos, a vacina é de vírus atenuado ou inativado? 8. Há medidas profiláticas? Agentes virais das infecções do SN: OBS: Os vírus têm acesso ao SNC por diferentes mecanismos. Em algumas situações as partículas virais passam diretamente pela barreira hematoencefálica (vírus envelopado), ou são carreadas em leucócitos infectados, e então infectam as células do endotélio vascular. Outros vírus invadem o SNC via nervos espinhais e cranianos. Raiva: Família Rhabdoviridae; Gênero Lyssavirus; 17 espécies virais: ICTV 2021; Rabies virus genótipo 1; Distribuição dessa espécie é global, é encontrada em mamíferos terrestres e morcegos. Eliminação do vírus na natureza é uma tarefa muito difícil uma vez que a raiva é endêmica entre muitos animais selvagens. Patogênese: A porta de entrada é pela lesão causada pela mordida do animal infectado (vírus presente na saliva), onde se replicará. Ocorre deslocamento do vírus através de fibras sensoriais e motoras, que chega à medula e ao gânglio dorsal, onde se replica maciçamente, atingindo posteriormente o cérebro, depois ocorre disseminação para o sistema nervoso parassimpático do hospedeiro. Fases: A raiva é uma doença com alta diversidade clínica, principalmente na fase neurológica aguda, podendo ser distinguida como clássica (quando ocorre formas encefalítica ou furiosa e paralítica ou muda) ou não clássica; A doença ocorre devido à disfunção neuronal resultante das anormalidades na neurotransmissão envolvendo principalmente o ácido γ-aminobutírico (GABA) e não pela morte celular. Prevenção e controle: Profilaxia pós exposição: Limpeza do local com água e sabão, aplicação de antissépticos; Vacinação (também utilizada para pré exposição); Aplicação do soro no local de infecção; Vacinação de cães e gatos; Vacinação de herbívoros domésticos; Controle de morcegos hematófagos. Diagnóstico laboratorial: A ocorrência de sintomas neurológicos em pessoa mordida por animal geralmente estabelece o diagnóstico de raiva; RT-PCR, efeito citopático em material coletado em necropsia. Enterovírus: Família Picornaviridae 27 Gêneros – 7 espécies parasitas de humanos Gênero Enterovirus; Vírus não envelopados; Capsídeo icosaédrico – VP1, VP2, VP3, VP4; Genoma ssRNA +; Estáveis em pH 3 – 9; Resistentes a desinfetantes, como álcool 70%; Estáveis a temperatura de 20 a -70oC; Fatores de virulência: Inibição da síntese de Interferon e Inibição de fatores de alongamento, impedem a tradução de diferentes proteínas celulares. O enterovírus (gênero) é dividido em tipo A, B, C e D, e em cada um deles pode ser encontrado o coxsackievírus, o poliovírus e o echovírus. Patogênese: Ocorre a partir de via oral (ingestão ou inalação), o vírus chega à orofaringe e se replica, cai na corrente sanguínea e vai para o tecido-alvo, podendo gerar diversos problemas ao indivíduo. Resposta imunológica: Imunidade aos EV é duradoura e sorotipo-específica - mediada principalmente por anticorpos; A infecção primária resulta em uma resposta de IgM e é seguida pela produção de IgG e IgA; Infecções secundárias resultam em altos títulos de anticorpos; Neutralização; IgA: importância nas mucosas- porta de entrada. Síndromes clínicas: Doença dos pés, mão, boca (HFMD) Associada ao CV-A16 e ao EV-A71; Causada pelo Coxsackievírus A; Febre: 24-48hs; Erupções cutâneas (lesões pápulo vesiculares); Autolimitada; Fazer diagnóstico diferencial entre: varicela, estomatite, gengivoestomatite herpética. Poliovírus: Vírus causador da poliomielite (ou paralisia infantil ou pólio); Está associado à via de contato fecal-oral; Esse vírus vive no intestino; Patogênese: Disseminação para o SNC por nervos periféricos ou cranianos, provavelmente pela via axonal retrógrada; Participação de células do sistema imunológico, como monócitos e células dendríticas infectados, que funcionariam como um cavalo de Tróia carreando o vírus. Manifestações clínicas: A destruição dos neurônios motores, nos cornos anteriores da medula espinhal, resulta em paralisia flácida. Poliomielite abortiva: febre, fadiga, sonolência, cefaleia, náusea, vômito, prisão de ventre e inflamação da garganta. O paciente se recupera em poucos dias; Poliomielite não paralítica (meningite viral): rigidez e dor nas costas e nuca. A doença dura de 2 a 10 dias, sendo a recuperação rápida e completa, com um baixo percentual evoluindo para paralisia; Poliomielite paralítica: 1% das infecções por PV. Período de incubação é geralmente de 4 a 10 dias e a paralisia aparece 2 a 5 dias após os sintomas iniciais inespecíficos. Paralisia geralmente espinhal e flácida, limitada as extremidades e tronco. 10-15% são do tipo bulbar: nervos motores ou centros medulares que controlam respiração e sistema vasomotor. OBS: A patologia da poliomielite é decorrente da inflamação e da destruição da massa cinzenta do SNC, especialmente da medula espinal Diagnóstico: Diagnóstico clínico; Diagnóstico laboratorial: Testes sorológicos; Testes moleculares; Imunofluorescência em culturas celulares Profilaxia: Vacinação: VOP (vacina oral da poliomielite): atenuado (Sabin) – utilizada como reforço; VIP (vacina injetável da poliomielite): Inativado (Salk); Saneamento; OBS: vacinação três doses da vacina injetável – VIP (aos 2, 4 e 6 meses) e mais duas doses de reforço com a vacina oral bivalente – VOP (gotinha). Gabriela Domingues Werner