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Manual de Direito Processual Civil - SENTENÇA

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SENTENÇA 
23.1. Conceito legal de sentença- 23.2. Classificação das sentenças: 23.2.1. Conteúdo 
<•'""'"" 23..2..2. Resolução de mérito - 23.3. Elementos da sentença: 23.3.1. Relatório; 
. Fundamentação; 23.3.3. Dispositivo; 23.3.4. Comentários gerais a respeito dos elemen-
sentença - 23.4. Sentença líquida - 23.5. Princípio da congruência; 23.5.1. Conceito; 
Exceções ao princípio da congruência - 23.6. Sentença extra petito: 23.6.1. Conceito; 
Recorribilidade da sentença extra petita- 23.7. Sentença ultra petita: 23.7.1. Conceitó; 
,2, Jlecorriit >ililidade da sentença ultra petita- 23.8. Sentença citra petita (infra petita): 23.8.1. 
Recorribilidade da sentença citra petita - 23.9. Situação fática no momento 
da sentença - 23.10. Modificação da sentença pelo juízo sentenciante - 23.11, 
que tenham como objeto obrigaçâo de fazer e não fazer- 23.12. Capítulos de sentença. 
LEGAL DE SENTENÇA 
foi conceituada pelo legislador de 1973 como o ato que punha 
pruc:esso, incluindo-se nessa conceituação tanto as sentenças que resolvem 
uc,,u.uu• (definitivas) como aquelas que apenas encerram o processo, 
níltestaç:ão sobre o mérito (terminativas). Ainda que mantida a opção de 
tomando-se por base o efeito do pronunciamento judicial, melhor 
o legislador se tivesse conceituado a sentença como ato que encerra 
:dilne.ntc>·e:m primeiro grau de jurisdição, porque havendo a interposição de 
. o processo não se encerrava com a sentença1• Seja como for, a opção do 
era clara: o critério adotado era o efeito da decisão relativo ao prece-
absolutamente irrelevante o seu conteúdo para a configuração da 
sentença2• 
advento generalizado das ações sincréticas, independentemente da natu-
:ot>ri<,ac:ãn objeto da condenação, levou o legislador a repensar o conceito 
substituindo o critério utilizado anteriormente. Em vez do efeito do 
p. 79. 
818 MANUAL DE DIREITO PROCESSUAL CIVIL· Voll!ME ÚNICO- Daniel Amorim A5sumpçáo Neves 
pronunciamento, um novo conceito de sentença surgiu em 2005, que passou 
como critério conceitual o seu conteúdo, fazendo expressa remissão aos arts, 
269 do CPC/1973, dispositivos que indicavam as causas que geram a re:;olução: 
não do mérito (sentença definitiva e terminativa, respectivamente)3. 
Diante dessa novidade, o conceito de sentença passou a resultar de uma 
conjunta dos arts. 162, § !.", 267 e 269, todos do CPC/1973. Da conjugação 
dispositivos legais conclui-se que as sentenças terminativas passaram a ser 
tuadas tomando-se por base dois critérios distintos: (i) conteúdo: uma das 
previstas nos incisos do art. 267 do CPC; e (ii) efeito: a extinção do pnlc<:dúméJ 
em prímeiro grau de jurisdição4• 
A hibridez de critérios na conceituação da sentença terminativa - cont•oúc 
efeito - não se repetia na sentença definitiva, considerando-se que o art. 269, 
do CPC/1973 não fazia nenl;mrna menção à necessidade de extinção do 
para que o .ato decisório seja considerado uma sentença. Dessa forma, a qu1es·tã<) 
colocar ou não fim ao procedimento em primeiro grau passava a ser ,·, -re1e,r.u1te 
conceituação da sentença de mérito, bastando para que um pronunciamento 
considerado uma sentença definitiva que tivesse como conteúdo uma das 
dos incisos do art. 269 do CPC/1973. 
Essa realidade, entretanto, não foi bem recebida por parcela cc•nsíd<etável 
doutrina, em especial pelo receio de que o conceito de sentença de mérito 
termos levaria a existência de sentenças parciais de mérito, com a intei·p<lsiçã< 
apelações em diferentes momentos procedimentais. 
Diante da "ameaça'' de caos que tal interpretação levaria à praxe 
doutrina majoritária continuava a associar a sentença definitiva ao efeito 
tinção do processo ou de alguma fase procedimental, em especial do pr<JCesso 
conhecimento. Corrente doutrinária afirmava que o ato judicial só seria seJote,nçi 
mérito quando colocasse fim ao processo ou quando resolvesse por inteiro 
da demanda na fase cognitiva5• Outra parcela da doutrina defendia a cone<eJhia 
de sentença com a adoção dos critérios do efeito e conteúdo do ato~ atirni<llOd? 
o art. 162, § 1. 0 , do CPC/1973 deveria ser interpretado de forma sistêmica 
§§ 2. 0 e 3. 0 desse mesmo dispositivo legal6• Havia ainda corrente doutrinária 
defendia o entendimento de que a decisão somente poderia ser consiideTa•da 
sentença se colocasse fim a uma das fases procedimentais dentro da nova 
do sincretismo processuaF. 
O entendimento que mantinha o efeito corno critério de conceituação 
tença de mérito, além de grande aceitação doutrinária, passou a ser admiticlo 
nossa jurisprudência8• Era o prenúncio de que nosso sistema preferia conviv<T .< 
decisões interlocutórias de mérito do que com sentenças parciais de mérito. 
Bedaque, Algumas, p:?l-72. 
Bedaque, Algumas, p. 71; Câmara, A nova, p. 20; Bondioli, O novo, p. 46. 
Theodoro Jr., As novas, p. 5-6; Freitas Câmara, A nova, p. 21. 
Nery-Nery, Código, 2006, p. 372; Arruda Alvlm, O perfil, p. 51. 
Scarpine!la Bueno, A nova, p. 15-16; Didier, A terceiro, p. 69-71; Greco, Primeiros, p. 99. 
STJ, 4.a Turma, REsp 645.388/MS, rei. Min. Hélio Quaglia Barbosa, j. 15.03.2007, DJ 02.04.2007, p. 277. 
Cap. 23 • SENTENÇA 819 
É bem provável que esse entendimento tenha influenciado o legislador de 2015, 
_Ue no art. 203 do Novo CPC modifica tanto o conceito de sentença quanto o de 
- interlocutória. 
No § 1.0 do dispositivo legal a sentença é conceituada, salvo as previsões ex-
nos procedimentos especiais, como o pronunciamento por meio do qual o 
com fundamento nos arts. 485 e 487, do Novo CPC, põe fim à fase cognitiva 
la'Pr<Jct:dim<:nto comum, bem como extingue a execução. Fica clara a opção do 
í!íl.iislaldcor em criar um conceito híbrido, que considera tanto o conteúdo como o 
da decisão para qualificá-la como sentenÇa. 
No § 2." do art. 203 do Novo CPC opta-se por um conceito residual da 
interlocutória, como qualquer pronunciamento decisório que não seja 
Nesse caso, a decisão interlocutória poderá ter como conteúdo ques-
in,oidlentaJis ou mérito, como ocorre, por exemplo, no julgamento antecipado 
de mérito. 
Ao fazer menção ·expressa ao encerramento da fase cognitiva do procedimento 
esqueceu-se da crítica ao antigo conceito de sentença da redação originária 
de que, sendo interposto recurso contra essa decisão, a fase processual 
encerra, somente continuando em grau jurisdicional superior ou ainda no 
grau, como ocorre com a interposição dos embargos de declaração. Esse 
entretanto, é praticamente irrisório se comparado com a total despreocu-
do legislador com a decisão de mérito ilíquida. 
sentença ilíquida, apesar de excepcional, é admitida no sistema processual 
Como se sabe, proferida sentença civil genérica, o processo continuará numa 
fase procedimental, agora de liquidação, notoriamente uma fase cognitiva. 
:unta-se: a decisão que decide o an debeatur, relegando para momento posterior 
do quantum debeatur, não será mais sentença? Não coloca fim à fase de 
prosseguirá na liquidação de sentença, logo deve ser considerada de-
) iloterlc>CULtória à luz do sugerido art. 203, § 2. 0 , do Novo CPC, sendo recorrível 
de instrumento. E, nesse caso, a decisão que ftxar o quantum debeatur, 
encerrando a fase cognitiva, será sentença, recorrível por apelação? Diante 
cmoct:itclS de sentença e de decisão interlocutória sugeridos pelo dispositivo ora 
não há como responder negativamente a essa questão . 
. "''u1na percepção nesse sentido é reforçada com a adoção pelo novo diploma 
julgamento antecipado parcial do mérito, por meio de decisão interlocutória 
por agravo de instrumento. Sendo o objeto da demanda formado pelo 
'eb,eatur e o quantum debeatur, o julgamento do primeiro nada mais é do que 
·'JUlg,tmento antecipado parcial do mérito. Afinal, as hipóteses de cabimento de 
ilíquida previstas no art. 491 do Novo CPC se adequam perfeitamente ao 
li, do Novo CPC. 
Ac:re.:lito, entretanto, que será mais um caso de descumprimento de norma 
que não levantará maiores questionamentos. A decisão proferida na fase delecimen1to resolvendo apenas o an debeatur, continuará a ser entendida como 
ilíquida recorrível por apelação, enquanto a decisão que, posteriormente, 
quantum debeatur, continuará a ser entendida como decisão interlocutória 
820 MANUAL DE DIREITO PROCESSUAL CIVIL ·VOLUME ÚNIW- Daniel Amorim Assumpção Neves 
de mérito recorrível por agravo de instrumento9 • Mesmo que contra a 
previsão legal. 
Por outro lado, ainda que justificável, a exclusão dos procedimentos 
do âmbito de aplicação do art. 203, § 1 ', do Novo CPC cria urna singular 
de aparente limbo jurídico. 
A opção é justificada porque em alguns procedimentos especiais há 
expressa de que determinada decisão judicial é sentença, ainda que não se 
ao conceito legal previsto no dispositivo legal ora analisado. São exemplos 
de divisão de terras particulares (art. 572 do Novo CPC); ação de deJmarcaçãç 
terras particulares (arts. 581, 582 e 587 do Novo CPC); ação de inventário 
e 655 do Novo CPC); ação de habilitação (art. 692); embargos da ação 
(art. 702, § 9', do Novo CPC); ação de homologação de penhor legal (art. 
do Novo CPC); ação de regulação de avaria grossa (art. 710, § 1 '). 
O problema, entretanto, é que nem todo procedimento especial apre,;entta 
previsão, e é com relação a esses que se verifica o aparente limbo J wuu•cc> .. 
existindo previsão expressa de que a decisão é uma sentença e sendo 
conceito legal de sentença por expressa previsão do art. 203, § I", do 
simplesmente não haverá como se concluir qual decisão nele proferido é 
É presumível que nesses casos continue a se considerar sentença a 
sempre foi considerada sentença, mas para se chegar a tal conclusão não 
qualquer justificativa legal. Acredito que nesses casos possa ser aplicado o 
§ 1 ', do Novo CPC, ainda que o próprio dispositivo exclua sua aplic:Jbilidac 
procedimentos especiais. 
23.2. CLASSIFICAÇÃO DAS SENTENÇAS 
A classificação de qualquer instituto jurídico depende dos critérios 
adotados, sendo possíveis tantas cla~sificações quantos forem os critérios. No 
à sentença, entendo que os dois principais critérios são: 
(a) o conteúdo do ato sentencia!; 
(b) a resolução ou não do mérito. 
23.2.1. Conteúdo da sentença 
23.2. 1. 1. Teoria ternária e teoria quindrla 
Clássica lição doutrinária entende que pelo conteúdo do ato JU<llClal e;» 
três espécies de sentença: 
(a) meramente declaratória; 
(b) constitutiva; 
{c) condenatória. 
9 Câmara, O novo, p. 354. 
Cap. 23 • SENTENÇA 821 
trara-->e da teoria ternária (trinária) da sentença, defendida por substanciosa 
doutrinária que segue as lições de Liebman. Contrapõe-se a essa tradicional 
doutrinária a teoria quinária (quíntupla) da sentença, defendida por doutri~ 
que seguem as lições de Pontes de Miranda, fundada no entendimento de 
das três espécies de sentença descritas pela teoria ternária, existem ainda 
executivas lato sensu e as sentenças mandamentais, o que resultaria 
de cinco espécies de sentença. 
mais adequada a teoria ternária porque concordo com a doutrina 
distingue diferenças no conteúdo de sentenças condenatórias, executivas 
e mandamentais. Em todas elas há a imputação de cumprimento de uma 
ao réu, havendo diferença entre elas somente na forma de satisfação dessa 
o que naturalmente não faz parte do conteúdo do ato decisório, mas sim 
s:.;reZJ,us .. Partindo-se da premissa de que o critério adotado para a classificação 
é o seu conteúdo, as reconhecidas diferenças nas formas de efetivação 
;cespcicies de sentença são irrelevantes para fins de dassificação10• 
rristre-se que os defensores da teoria ternária da sentença não ignoram as 
referentes às formas de satisfação da sentença, de maneira que 
a existência das chamadas sentenças executivas lato sensu e rnandamen-
concordando com as diferenças em termos de formas de efetivação 
entre essas sentenças e a sentença condenatória classicamente definida 
Só não concordam que sejam novas espécies de sentença em razão 
de conteúdo com a sentença condenatória clássica, concluindo-se que 
subespécies de sentença condenatória. 
que entenda superior a teoria ternária da sentença, parece realmente que a 
meramente acadêmica, começa a cansar parcela da doutrina, que percebeu 
de debate inócuoli. Todos reconhecem as diferenças entre as sentenças exe-
sensu, mandamentais e condenatórias classicamente consideradas; para os 
da teoria ternária, todas são espécies de sentença condenatória, enquanto 
' l~~~~;:~:si da teoria quinária, são espécies diferentes de sentença. Como se limita-se a uma questão de classificação, com poucos resultados 
dignos de destaque. Mais adequada e certamente útil é a exata definição dos 
que compõem cada uma dessas espécies - ou subespécies - de sentença. 
Sentença meramente declaratória 
y,qml!eú,do da sentença meramente declaratória é a declaração da existência, 
o modo de ser12 (não há dúvida de que a relação jurídica existe, 
inc:erte;,a quanto à sua natureza: compra e venda a prazo ou arrendamento 
s::::~;~;· p. 517-522; Dinamarco, Instituições, n. 889, p. 198-200; Theodoro Jr., Curso, n. 499, p. 583-584; 
~~ Questões, p. 125-142; Moreira Pinto, Conteúdo, p. 116-121. 
EkiMdade,, P- 558, 
p. 46, 1994; Marinoni-Arenhart, Manual, 1 5.5.1, p. 424. Súmula 5TJ/18l :"t admissível ação declaratória, 
obter certeza quanto à exata interpretação de dâusula contratual~ lnadmitindo ação declaratória para 
possibilidade de o contrato produzir os efeitos pretendidos pela parte: InformatiVo 378/STJ: 3.• Turma, 
reL Castro Filho, ret. p/ acórdão Nancy Andrighi, j. 25,112008. 
822 MANUAL DE DIREITO PROCESSUAL CIVIL ·VOLUME ÚNKo ~ Daniel Amorim Assumpçáo Neves 
mercantil? Empréstimo ou doação?) de uma relação jurídica de direito 
Não se confundindo com o conteúdo da sentença, seu efeito é a certeza 
gerada pela declaração contida na sentença. Note-se que conteúdo e efeito 
confundem, porque o conteúdo é o que está dentro, enquanto o efeito é aquuo'< 
se prÓjeta para fora do ato judicial; declaração e certeza jurídica, ev'tdent<emeJ 
são fenômenos diferentes. 
Por uma opção legislativa a sentença meramente declaratória só pode ter 
objeto uma relação jurídica, excepcionalmente admitindo-se que tenha como 
meros fatos na hipótese de declaração de autenticidade ou falsidade de do·cumé 
(art. 19, I!, do Novo CPC). Nesse caso, o objeto da sentença será o 
o documento ser falso ou autêntico, podendo ser proferida em açãoo l;~~i~~~~~~' 
em ação declaratória incidental (incidente de falsidade documental). F 
se tem admitido a sentença meramente declaratória de deveres, dil•eito1;, 
e obrigações referentes à relação juridica13 • No processo objetivo, a sent<,nç:a 
mente declaratória também não tem por objeto uma relação jurídica, Jinnitand• 
a interpretar o direito14• 
Para que exista interesse processual na obtenção de uma sentença 
declaratória é necessária a existência de uma crise de incerteza que, se não 
poderá acarretar algum dano ao autor. É necessário que a dúvida seja 
real, não se limitando a um isolado estado de incerteza subjetiva do autor. 
em dúvida social, que atinja terceiros e crie uma instabilidade na esfera de 
do autor, sendo a dúvida do autor possível, mas não necessária tampouco 
para isoladamente justificar uma sentença meramente declaratória15 • 
Felipe recebe a visita de uma desconhecida que afirma ter acabado de 
ter um filho seu. Felipe nunca esteve com aquela mulher, de forma que tem 
certeza de que o filho não é dele, mas como ela insiste perante terceiros que 
pertencem ao drculo social em que vive Felipe, passa a existir uma dúvida 
social a respeito da paternidade da criança que traz danos a ele. Mesmo com a 
certeza pessoal de que não é pai, para afastar a dúvida social surgida, poderá 
ingressar com demanda judicial e pleitear a declaração de inexistência da 
relação jurídica de paternidade por meio de sentença meramente declaratória. 
Toda sentença tem um elemento declaratório, considerando-se que, ao 
o réu ao cumprimento de uma prestação, ou ao criar, modificar ouextingu.ir 
relação jurídica, caberá ao juiz a declaração de que o direito material 
condenação ou a constituição efetivamente existe no caso concreto 16• Por 
a sentença de improcedência do pedido do autor será sempre uma sentença 
ratória, já que terá como conteúdo a declaração de inexistência do direito 
alegado pelo autor17 • 
13 Dinamarco, Instituições, n. 906, p. 223; Neves, Ações, p. 450. 
14 Neves, Açóes, p. 453. 
15 Neves, AçOes, p. 477-482. 
16 Greco Filho, Direito, v. 2, n. 56.1, p. 262; Moniz de Aragão, Sentença, p. 86; Didier-Braga-OiiVeira, Curso, p. 
17 Theodoro Jr., Curso, n. 498, p. 583; Moniz de Aragão, Sentença, p. 85. Contra, Botelho de Mesquita, 
Cap. 23 • 823 
Ainda que haja condições para a propositura de demanda constitutiva ou 
mclertat•ória, haverá interesse no ingresso de demanda objetivando uma sentença 
,e:::;:;:~!~é,;\~clara1tória .. Considerando-se que tanto a sentença constitutiva quanto 
c-~ contêm um elemento declaratório, pode-se aplicar o brocardo popu-
"quem pode mais pode menos': sendo a certeza jurídica um bem isoladamente 
pelo ordenamento processual. A certeza jurídica é bem da vida tutelável. 
ques1:ão de saber se a sentença meramente declaratória pode entregar ao autor 
a mais do que a certeza jurídica, derivada de uma suposta autorização de sua 
para a satisfação da obrigação inadimplida, é objeto de análise no Capítulo 
44.3.1. 
Os efeitos da sentença declaratória são ex tunc, considerando-se que a declara-
o son1e11te confirma jurisdicionalmente o que já existia; nada criando de novo a 
a certeza jurídica a respeito da relação jurídica que foi objeto da demanda18• 
a sentença de procedência na ação de investigação de paternidade que torna 
mas sim as relações sexuais que manteve com a mãe de seu filho, como 
é a sentença de procedência da ação de usucapião que torna o autor 
priet:ário, e sim o preenchimento dos requisitos legais. A exceção fica por conta 
27 da Lei 9.868/1999, que permite ao Supremo Tribunal Federal modificar 
natural da decisão de procedência na ação declaratória de inconstitucio-
(instituto denominado de modulação ou limitação temporal dos efeitos da 
de inconstitucionalidade), tendo em vista razões de segurança jurídica ou 
Xe<:pciOilal interesse social. 
termos do dispositivo legal, além da tradicional eficácia ex tunc, a 
de inconstitucionalidade poderá ser modulada de três diferentes 
(a) ex tunc restritiva, com uma limitação temporal da retroatividade 
da declaração; (b) ex nunc, a partir do trânsito em julgado (efeito 
tpectivo); e (c) eficácia projetada para o futuro, condicionando-se a geração 
a um limite temporal escolhido pelo tribunal ou mesmo a um ato 
praticado supervenientemente (declaração de inconstitucionalidade sem 
da nulidade). 
modulação dos efeitos da declaração de inconstitucionalidade se justifica 
de segurança jurídica ou de excepcional interesse social, dependendo da 
lifestatçáo de maioria de dois terços dos membros do Supremo Tribunal Federal. 
tcepciorralid21de de decisão judicial de inconstitucionalidade de efeitos límitados 
se presta a preservar relevantes princípios constitucionais, revestidos de 
importância sistêmica. 
da omissão da decisão quanto à modulação dos efeitos da declaração de 
LSt;~~~~~;,;~d~d:; há presunção de que a eficácia segue a regra, ou seja, ex tunc. 
~ é apenas relativa (torna~se absoluta somente com o trânsito em 
de forma que o tribunal poderá ser provocado por meio dos embargos de 
para que se manifeste expressamente a respeito da eficácia da declaração 
Instituições, n. 909, p. 227. 
824 MANUAL DE DIREITO PROCESSUAL CIVIL • VOWME ÚN<Co- Daniel Amorim Assumpçõo Neves 
Registre-se, por fim, que a tese da modulação dos efeito·ss~d~a:t;~~:~~~~~~~ 
inconstitucionalidade já foi aplicada em controle incidental de c 
no julgamento de recurso extraordinário 19• 
23.2.1.3. Sentença constitutiva 
O conteúdo da sentença constitutiva é a criação (positiva)7 extinção (neg''ti''" 
modificação (modificativa) de wna relação jurídica, enquanto o efeito dessa 
é a alteração da situação jurídica, necessariamente com a criação de uma 
jurídica diferente da existente antes de sua prolação, com todas as co:nS<:qu~1 
advindas dessa alteração20• Fala-se em sentença constitutiva positiva e 
constitutiva e desconstitutiva. Uma sentença de procedência na demanda de 
tem como conteúdo a extinção do laço conjugal e o efeito de modificar o 
civil das partes, que de casadas passarão a divorciadas. A possibilidade de 
sarem com outras pessoas certamente não é um reflexo do conteúdo da 
mas sim de seus efeitos. 
As sentenças constitutivas podem ser divididas em dois grupos; 
facultativas. É natural que todas as sentenças constitutivas - como a 
declaratória e a condenatória - sejam no caso concreto necessárias, porq1ae 
interesse de agir não se chegará ao julgamento de mérito. A distinção 
tretanto, não leva em conta o caso concreto, mas a possibilidade abstrata 
a situação jurídica sem a necessária intervenção do Poder Judiciário. 
Será necessária a sentença constitutiva sempre que a única forma de 
alteração da situação jurídica pretendida pelas partes for por meio da 
jurisdicional (ações constitutivas necessárias; por exemplo, anulação de 
situação inclusive que dispensa o conflito de interesse entre as partes. A 
facultativa só existirá se houver a lide clássica no caso concreto, porque 
não seria necessária a intervenção jurisdicional. Como há um conflito de 
entre as partes e a autotutela é reservada a situações excepcionais, faz-se 
a intervenção do Poder Judiciário no caso concreto, mas abstratamente seria 
a alteração da situação jurídica das partes mediante um acordo de vo.ntaLdl} 
elas (por exemplo, rescisão contratual)21 < 
A sentença constitutiva tem efeitos ex nunc, considerando-se que 
dela que a situação jurídica será efetivamente alterada. As partes só são 
divorciadas após a sentença de procedência que extingue a relação co:nju:gal 
também só se. considera rescindido um contrato após a sentença que 
relação jurídica contratual. A lei, entretanto, poderá pontualmente mc•di(iç 
regra, apontando expressamente para a exístência de efeitos ex tunc, 
nas demandas que tenham como objeto a anulação de atos jurídicos22• 
·~ STF, Segunda Turma, RE 553123 AgR-ED/RJ, rei. Mín. Joaquim Barbosa, j. 19.08.2008, DJe 18.12.2008. 
, Theodoro Jr., Curso, n. 500, p. 584. 
21 Dinamarco, Instituições, n. 923, p. 250; Moniz de Aragão, Senrença, p. 87. 
22 Dinamarco, Instituições, n. 927, p. 256; Didier-Braga-Oliveira, curso, p. 329. 
Cap. 23 • SENTENÇA 825 
Sentença condenatória 
considerável amparo na doutrina italiana, parte significativa da doutrina 
entende que a sentença condenatória é formada por dois momentos lógicos: 
declaração da existência do direito do autor; 
criação de condições para que sejam praticados atos materiais de execução, o que se 
justificaria em razão da aplicação de uma sanção executiva23• 
definição, entretanto, parece confundir o conteúdo com o efeito da sentença 
devendo ser analisada com muita atenção. 
conteúdo da sentença condenatória, além da indispensável declaração de exis-
direito material, é a imputação ao réu do cumprimento de uma prestação 
não fazer, entregar coisa ou pagar quantia certa, com o objetivo de resolver 
de inadimplemento24• O efeito é a criação de um título executivo, o 
a prática de atos executivos voltados ao efetivo cumprimento dessa 
com a consequente satisfação do autor. 
foi adotada a teoria ternária, pouco importa quais sejam esses atos execu-
exe:cuçãc direta ou indireta - e como se desenvolvem - processo de execução, 
)tediJme:ntal ou cumprimento de ordem judicial - porque os efeitos da sentença 
em uma classificação que adota como critério o conteúdo da sentença. 
Sentença executiva lato sensu 
é pacífico na doutrina pátria o conceito de sentença executiva lato sensu, 
inclusive crítica quanto à tradicional nomenclatura, preferindo parcela da 
chamar tais sentenças de sentenças executivas, considerando-sea inexistên-
'~,~:~,~~:~,á~e~x~;ecutivas stricto sensu25• Creditada ao jurista Pontes de Miranda, 
Jc da doutrina entende que essa sentença é assim denominada 
:l.isJpei!Sa o processo de execução subsequente para ser satisfeita, tratando-a 
sentença autoexecutável. 
>(anelo-se esse conceito, a diferença entre a sentença condenatória e a exe-
sensu é a exigência ou dispensa de processo autônomo de execução26• 
visto por esse prisma, a distinção seja inútil levando-se em conta 
classificação proposta, considerando-se que a forma de satisfazer a 
respeito aos seus efeitos e não ao seu conteúdo. Daí a enorme dificul-
intransponível - da doutrina que defende a teoría ternária 
a sentença executiva lato sensu como espécie autônoma da sentença, 
nside:radla simplesmente uma espécie de sentença condenatória. 
Instituições, n_ 911, p. 229-230; Theodoro Jr., Curso, n. 499, p. 583; Marinoni-Arenhart, Manual, n. 15.5.3, 
,ffoeti,idrni' p. 524-525; Moniz de Aragão, Sentença, p. 88; Moreira Pinto, Conteúdos, p. 91-92; Câmara, 
i , Questões, p. 138. 
r5111,.,(U'>O, V. 2, n. 15, p. 24-25. 
826 MANUAL DE DIREITO PROCESSUAL CIVIL • VolllM~ ÚNICO- Daniel Amorim Neves 
Lições contemporâneas, entretanto, buscam outra distinção entre 
condenatória e a executiva lato sensu, entendendo que a dispensa do prooossi 
tônomo de execução para a satisfação do direito não torna autornaticarrterM 
sentença condenatória em executiva lato sensu, até mesmo porque, fosse esse 
de distinção, o Novo Código de Processo Civil teria definitivamente igualado 
as espécies ao prever expressamente que a execução de pagar contra a Fa.ze11da 
blica e de alimentos fundadas em título executivo se processam por cumtJrimi'n 
sentença. Para essa corrente doutrinária, a existência de uma fase de ex·ectJÇiLo 
procedimento previsto em lei, inclusive com a previsão de urna defesa 
do executado - impugnação -, não é capaz de transformar a sentença coJodr'l)~ 
em sentença executiva lato sensu. 
Nesse entendimento doutrinário são substancialmente dois os fatores 
tinguem a sentença condenatória da executiva lato sensu27: 
(a) o direito material, uma vez que na sentença condenatória o direito é de crédito, 
-se o cumprimento de uma obrigação pecuniária, enquanto na sentença 
direito é real, buscando-se a retomada de coisa que está injustamente no 
executado. Nessa visão, a sentença condenatória retira algo do património do 
que até a sentença lá estava legitimamente, enquanto na sentença executiva 
bem que pertence ao exequente, estando injustamente com o executado; 
(b) a complexidade da fase de satisfação do direito, que na sentença executiva 
inclusive não estando prevista defesa ao executado, que deve exaurir a 
de suas matérias defensivas na fase de conhecimento, enquanto na serlte,nça 
tória isso não ocorre. Diante da ausência de previsão legal de ":,,~,:~~:~~~,:~ 
satisfação, a sentença executiva lato sensu se realiza pelos meios P 
entender adequados no caso concreto, tomando em conta as oar·ticul<lficladlesd 
concreto. 
23.2. 7 .6. Sentença mandamental 
A sentença mandamental se caracteriza pela existência de uma ordem 
dirigida à pessoa ou órgão para que faça ou deixe de fazer algo, não se 
portanto, à condenação do réu28• O juiz na sentença mandamental ordena 
pratique determinado ato que somente a ele caberia praticar, não exístín•do 
atividade o caráter substitutivo característico da execução. A satisfação da 
mandamental é feita pelo cumprimento da ordem, não existindo processo 
de execução subsequente a ela visando tal satisfação.29 O juiz ordena e 
cumprimento da ordem, não havendo previsão de procedimento para que 
verifique concretamente. 
Poderá o juiz se valer de atos de pressão psicológica - execução 
como também de sanção civil (ato atentatório à dignidade da justiça, 
art. 77, IV, do Novo CPC) e penal (críme de desobediêncía), mas aínda 
27 Marinoni-Arenhart, Manual, n. 15.4, p. 430-431. 
28 Baptista da Silva, Curso, v. 2, n. 1.8, p. 351. 
•• STJ, 5.a Turma, AgRg no REsp 951.441/PR, ReJ. Min. Arnaldo Esteves Uma, j. 15.10.2009, DJe 16.11.2009. 
30 Marinoni-Arenhart, Manual, n. 15.5.4, p. 429. 
'23 . 827 
uma fase executiva, com a prática de atos materiais de execução. É diferente 
;entertça executiva lato sensu porque esta, além de ser satisfeita pela prática de 
materiais, o que caracteriza um procedimento, ainda que não expressamente 
em lei, atinge o patrimônio do executado, enquanto a sentença mandamental 
a vontade do executado. 
Resolução de mérito 
Adotando-se a resolução de mérito como critério, as sentenças são divididas 
se11tenç,>s terminativas, que não resolvem o mérito (arL 485 do Novo CPC), e 
definitivas, que resolvem o mérito (art. 487 do Novo CPC). Observe-se 
mantida no Novo Código de Processo Civil a mudança efetuada pela Lei 
40'" ~vvo, que substituiu o tenno "julgamento" por «resolução" no caput dos arts. 
do CPC/1973, modificação que não gerou repercussões práticas, dividindo 
a respeito da melhora ou piora no texto legaP1• Para os que elogiam a 
o legislador finalmente reconheceu a diferença entre as sentenças que efe-
julgam o mérito da demanda, por meio da imposição da decisão do juiz, 
que simplesmente homologam um ato de autocomposição praticado pelas 
Para os críticos, resolução lembra instituto jurídico de direito administrativo, 
estranho ao direito processual civil. Como já afirmado, trata-se de discussão 
acadêmica, sem consequências práticas. 
Sentenças terminativas (art. 485 do Novo CPC) 
U. Indeferimento da petição inicial 
art. 485, I, do Novo CPC prevê que o indeferimento da petição inicial se 
meio de sentença terminativa. Atualmente, a norma é correta porque 
Código de Processo Civil a única hipótese de indeferimento da petição 
se dava por meio de sentença de mérito no CPC/1973 - prescrição e 
- passou a ser causa de julgamento liminar de improcedência. Dessa 
todas as causas de indeferimento da petição inicial estão previstas no art. 
Novo CPC. 
1.2. Processo parado durante mais de um ano por negligi!ncia das partes 
é incomum que o processo fique parado por mais de um ano aguardando 
de um ato processual já determinado pelo órgão jurisdicional, por exemplo, 
de uma audiência. Também ocorre de a paralisação por mais de um 
de um longo período de conclusão dos autos ao juiz, com significati-
oncnnen1:o dos prazos estabelecidos pelo art. 226 do Novo CPC. Não são essas 
tratadas pelo art. 485, I!, do Novo CPC, que exige que a paralisação 
a um ano seja resultado da negligência das partes. 
modificação Didier, Curso, p. 553-554. Critica Nery-Nery, Código, p, 502. 
828 MANUAL DE DIREITO PROCESSUAL ((VIL ·VolUME ÚNiCO- Daniel Amorim Assumpção Neves 
O dispositivo é curioso, porque em razão da regra do impulso oficial 
que for possível caberá ao juiz de ofício dar andamento procedimental ao 
mesmo diante da negligência das partes. O impulso oficial, entretanto, 
limitações materiais intransponíveis quando a continuidade do processo 
de ato a ser praticado por uma das partes. Caso o ato deva ser praticado 
o dispositivo é inaplicável, porque este tem o prazo de 30 dias para nnorn,nvo. 
atos e diligências necessárias ao prosseguimento da demanda, conforme 
previsão do art. 485, II!, do Novo CPC. Resta a raríssima hipótese de caber 
dar andamento ao procedimento, o que torna o dispositivo legal no mimiOl<>·e 
mático, tendo pouca aplicação prática32• Outro entendimento possível é de 
dispositivo se aplique a situações em que não há necessidade de impulso por 
ser praticado por nenhuma das partes33• 
De qualquer forma, é irrelevante saber as razões pelas quais o processo 
vidamente paralisado por mais de um ano, tampouco poderá o autor evitar a 
ao afirmar que a paralisação indevida se deu por culpa do juízo ou da parte 
O mero transcurso do prazo legal é razão suficiente para a extinção do pn>c<OSSi 
Segundo a previsão do art. 485, § 1.", do Novo CPC, a parte negligente, 
sável pela indevida paralisação do processo por prazo superior a um ano 
que só podeser o réu), deve ser intimada pessoalmente para dar andamcer 
processo no prazo de 5 dias, condição indispensável para a extinção do 
Naturalmente essa decisão do juiz não dependerá de provocação do réu, · 
o responsável pela omissão que proporcionou a indevida paralisação pr·ooedi.meri 
Muitas vezes na praxe forense ocorre a intimação por publicação 
Oficial, na pessoa do advogado, porque muitas vezes essa forma de co.mtmii 
basta para despertar o advogado a retomar o andamento procedimental 
vendo resposta, entretanto, a intimação pessoal é indispensáveP6• O prazo 
não é peremptório, de forma que. sendo pedido o andamento do processo 
de vencido o prazo, mas antes de o juiz ter extinguido o processo sem 
mérito, a provocação será admitida e o processo prosseguirá. 
Segundo entendimento do Superior Tribunal de Justiça, nessa hipótese 
ção do processo, de responsabilidade de ambas as partes, não caberá cond•elll!Ç 
honorários advocatícios, diferentemente da extinção por abandono do autor, 
este deverá ser condenado a pagar honorários advocatícios ao réu37• 
23.2.2.1.3. Abandono do processo 
O art. 485, III, do Novo CPC trata da causa de extinção do pnJce,ssc>< 
resolução do mérito conhecida como «abandono do processo': descrevendo a 
3< Didier, Pressupostos, p. 332. 
33 Adroaldo, Ensaios, n. 5, p. 372. 
;.o Nery~Nery, Código, p. 502; Moniz de Aragão, Comentários, n. 504, p. 421-422. 
's o·1namarco, Instituições, n. 836, p. 133. 
36 STJ, 3.• Turma, AgRg no Ag 951.976/RJ, Rei. Min. Humberto Gomes de Barros, j. 19.12.2007, DJ 08.()2200!, 
31 InformatiVO 452/STJ: 3.• Turma, REsp 435.681/ES, Rei. Min. Paulo dé'Tarso Sanseverino, j. 19.10.2010. 
Cap. 23 • 829 
nandante que deixa de praticar atos ou cumprir diligências indispensáveis ao 
do processo por prazo superior a 30 dias. A doutrina majoritária enten-
diferente do que ocorre com a extinção prevista pelo art. 485, II, do Novo 
extinção do processo ora tratada não é objetiva, devendo o juiz considerar 
concreto o real intuito do autor em abandonar o processo, de forma que 
a prática de ato após o transcurso do prazo de 30 dias38• 
será intimado nos termos do art. 485, § 1.0 , do Novo CPC, sendo 
a essa forma de extinção as considerações já feitas quanto à sentença 
art. 485, Il, do Novo CPC, e no caso de efetiva extinção do processo 
adtmado ao pagamento das despesas e honorários advocatícios (art. 485, § 
CPC). Mesmo quando a parte advoga em causa própria a intimação 
pessoal, não bastando a mera publicação no Díário Oficiaf39• 
6. o do dispositivo ora comentado consagra o entendimento consolidado 
da Súmula 240/STJ ao prever que, após o oferecimento da con-
extínção do processo, por abandono da causa pelo autor, depende de 
do réu. Antes da citação ou mesmo depois dela - no transcurso do 
da interposição e no caso de revelia -, a extinção poderá ser realizada 
A regra legal é afastada pelo Superior Tribunal de Justiça na hipótese 
da Fazenda Pública na execução fiscal não embargada, de forma 
for dado andamento ao processo no prazo de 30 dias, o processo 
por abandono de ofício; portanto, sem necessidade de requerimento 
(Íst:re--se entendimento do Superior Tribunal de Justiça no sentido de não ser 
intimação pessoal do autor nas hipóteses de emenda da petição inicial, 
que bastará a intimação do autor na pessoa de seu advogado42• 
aJ:gum'LS situações o abandono do processo pelo autor não gerará a extinção 
sem a resolução do mérito, como ocorre na demanda de inventário, 
.Jémt,tícla ao arquivo. Também ao cumprimento da sentença não se aplicará 
do Novo CPC, tendo o Novo Código de Processo Civil consagrado 
a prescrição intercorrente na execução no § 4o do art. 921, de forma 
do exequente, tanto no processo de execução como no cumprimento 
deva dar início à contagem do prazo prescricional e não à extinção 
do processo. 
r e:spéc:·ie de sentença e aquela mais rara, prevista pelo inciso anterior, têm 
prática para o surgimento do raro fenômeno processual da perempção 
§ 3° do Novo CPC), porque a extinção por três vezes da mesma demanda 
em três processos diferentes deverá ser sempre pelo abandono do autor. 
medida para evitar o abuso do direito de ação. 
p. 502; Moniz de Aragão, Comentórios, n. 508, p. 424; Greco Filho, Direito, n. 17.2, p. 70, 
n. 316, p. 353. 
3.~ Turma, rei. M!n. Massami Uyeda, REsp 1.094.308-RJ, j. 19.03.2009; Dinamarco, Instituições, n. 
Adroaldo, Ensaios, n. 5, p. 373. 
549/STJ: 2." Turma, AgRg no REsp 1.450.799/RN, Rei. Min. Assusete Magalhães, j. 21.08.2014. 
511/STJ: 3." Turma, REsp 1.286.262/ES, Rei. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, j. 18.12.2012. 
830 MANUAL DE DIREITO PROCESSUAL CIVIL • VolUME ÚNICO- Daniel Amorim Am1mpçáo Neves 
23.2.2.7.4. Ausência de pressupostos de constituição e de desenvolvimento 
e regular do processo 
O tema dos pressupostos processuais já foi analisado no Capítulo 
3.3.3, sendo interessante relembrar que nem sempre a ausência de 
processuais será responsável pela extinção do processo. Existem também os 
postos processuais negativos, cuja ausência é o que se deseja, consid<,rando-; 
a presença de um deles é o que gera o vício que levará o processo à sua 
sem a resolução de mérito. Ocorre, entretanto, que o legislador preferiu 
espécie de pressuposto processual em outro inciso do art. 485, qual seJa o 
limitando-se o art. 485, IV, do Novo CPC ao tratamento dos pressupostos 
positivos. Nesse sentido, é correta a redação do texto legal ao indicar que a 
de pressupostos processuais leva à extinção do processo sem a resolução do 
Não se deve declarar a nulidade se o juiz tiver condições de julgar o 
em favor da parte, a qual aproveitaria a declaração da nulidade (art. 282, § 
Novo CPC). Essa lição é plenamente aplicável aos pressupostos processuais 
criados para tutelar o interesse das partes, de forma que, sendo a parte 
no mérito mesmo sem ter contado com essa proteção, não tem ucm>u>u 
a sentença terminatíva quando for possível julgar em seu favor. A c::;:~; 
estar em juízo dos incapazes por meio de representante processual é v 
proteção da parte, não sendo legítima a extinção do processo sem a 
mérito se o juiz perceber que a parte, mesmo sem a representação 
caso concreto, será vitoriosa se o mérito for julgado. 
Esse entendimento contraria uma antiga e sedimentada lição da dc•utri,tà 
nal: a análise dos pressupostos processuais antecede a análise de mérito. 
o vício na primeira análise, é impossível chegar à segunda. A proposta de 
da doutrina é admitir a inversão nessa ordem de análise, desde que o 
esteja pronto para o julgamento do mérito. É óbvio que o juiz não deve 
com processos nos quais perceba em seu nascedouro a ausência de um 
processual, hipótese em que deve intimar a parte para saneamento do 
extinção do processo sem resolução do mérito na hipótese de omissão 
Nessa situação, é óbvio que a análise dos pressupostos processuais precede 
de mérito; mas, transcorrendo todo o processo e percebendo-se no m>>rrt~n 
julgamento a ausência de um pressuposto processual, parece legítima a 
de que pode ser desprezado pelo juiz o vício se o pressuposto processual 
for voltado à proteção da parte que no julgamento do mérito se sagrará 
23.2.2.1.5. Perempção, coisa julgada e litispendência 
O art. 485, V, do Novo CPC prevê a extinção do processo sem re,;oluc1 
mérito quando o juiz reconhecer a existência de perempção, litispendência 
julgada. A redação do artigo legal não é feliz, porque as matérias tratadas 
positivo legal são de ordem pública, devendo ser reconhecidas de ofício 
•l Adroaldo, Ensaios, n. 7, p. 375; Didier, Pressupostos, p. 338. 
Cap, 23 • 831 
se afirma é que, não só quando o juiz reconhecer a existência de perempção, 
>etld<!n<O>a ou coisa julgada haverá a sentença do inciso V do art. 485 do Novo 
também quando o juiz reconhecer tais matérias de ofício, ainda que essa 
seja rara, sendo difícil ao juiz reconhecer esses fenômenos processuais no 
, e<m<:re1to sem a alegação das partes. 
pere!Uf>Ção é fenômeno que evita o abuso no exercíciodo direito de deman-
,al'in:do a extinção do processo quando a mesma ação for proposta pela quarta 
sido os três processos anteriores extintos sem a resolução do mérito por 
bilateral (art. 485, li, do Novo CPC) ou unilateral do autor (art. 485, Ill, 
CPC). 
dos significados do termo "litispendêncíâ' - e que interessa à presente 
- é a existência de dois ou mais processos em trâmite com a mesma ação 
da tríplice identidade - mesmos elementos da ação). Interessante registrar 
na qual o Superior Tribunal de Justiça entende haver litispendência ainda 
sejam exatamente os mesmos elementos da ação. Tal excepcionalidade se 
na litispendência entre ação ordinária e m~ndado de segurança, considera-
!lTin<l;ma ação, ainda que no mandado de segurança figure no polo passivo a 
coatora e na ação ordinária a pessoa jurídica de direito público ao qual 
:auwrlmtae pertence44• 
coisa julgada quando for repetida ação que já foi julgada no mérito por 
transitada em julgado em processo anteriormente proposto, sendo fenômeno 
analisado no Capítulo 25. 
Car~ncia da ação 
Capítulo 2, item 2.2.1. defendi a manutenção das condições da ação como 
processual autônoma no sistema processual pelo Novo CPC, de forma que 
sentido em deixar de me valer da expressão "carência de açãd', ainda que 
expressa no Novo CPC. As condições da ação - interesse de agir e legiti-
de parte - devem ser analisadas no momento do julgamento da demanda, 
da sua propositura. Significa dizer que, presentes as condições da ação 
de propositura, se por fato superveniente desaparecer uma delas, será 
e:,exti,nção por carência superveniente de ação. Por outro lado, a ausência no 
pn>p•>sitUJca não leva o processo à extinção pela carência no caso de 
nJ>re:;en•tes as condições da ação no momento em que o juiz analisá-las45 , 
Convenção de arbitragem 
determina a Lei 9.307/1996, a convenção de arbitragem é um gênero, do 
;LáUst<la compromissória (antes da formação da lide) e o compromisso arbitral 
de instaurada a lide) são espécies. A existência de qualquer uma das espécies 
422/STJ: 1.• Turma, RMS 29.729·DF, rel. Min. Castro Meira, j. 09.02.2010. 
Jr., Curso, n. 320, p. 356; Nery-Nery, Código, p. 503; Yarshe\1, Açáo, n. 41, p. 133. 
832 MANUAL DE DIREITO PROCESSUAl CIVIL • VoLUMt ÚNICO- Daniel Amorím Neves 
de convenção de arbitragem gera a extinção do processo sem a resolução do 
porque, havendo a opção pela arbitragem, a intervenção jurisdicional é in,de'•id 
Sendo o direito de ação disponível, também é disponível o direito de exercê-lo 
a jurisdição, não havendo na escolha da arbitragem pelas partes qualquer ofensa 
princípio da inafastabilidade da jurisdição (art. 5.", XXXV, da CF). 
Assim como as partes escolheram excluir a jurisdição, preferindo a arc,itr:•ge: 
como forma de solucionar o conflito de interesses em que estão envolvidos, é 
que também possam abrir mão da arbitragem já acordada. Significa dizer que, 
que exista uma convenção de arbitragem, nem sempre o processo será extinto 
sentença terminativa prevista no art. 485, VII, do Novo CPC, porque, se ambas as 
tes resolverem pela intervenção jurisdicional, naturalmente a convenção de art>itr,aoe. 
torna-se ineficaz. A extinção pela sentença terminativa analisada, portanto, depende 
o autor ignorar a convenção de arbitragem ao propor a demanda judicial e 
concordar com essa postura, indicando a existência da escolha prévia pela ar!Jitrag''lí 
O art. 485, VII, do Novo CPC prevê serem causas de extinção terminat:iva ô 
processo tanto a alegação de existência de convenção de arbitragem como o 
címento pelo juízo arbitral de sua competência. Significa dizer que, havendo 
arbitral reconhecendo sua competência, vinculado estará o juízo onde oorvent>i 
estiver tramitando o processo com o mesmo objeto. 
23.2.2, 1 .8. Desistência da ação 
Desistir da ação é diferente de renunciar ao direito material alegado; 
a desistência diz respeito somente ao processo em que ocorre, o que permite 
autor voltar ao Poder Judiciário com idêntica demanda, a renúncia concerr•e'' 
direito material alegado, de forma que não se admitirá ao autor retornar ao 
Judiciário com demanda fundada em direito material que já foi objeto de 
Não por outra razão a sentença fundada em desistência é terminativa, pois 
solve o mérito (art. 485, VIII, do Novo CPC), enquanto a sentença que homo,lq 
a renúncia é definitiva, resolvendo o mérito da demanda e fazendo 
material (art. 487, III, "c'; do Novo CPC), 
Corrigindo erro do art. 267, § 4.", do CPC/1973, o mesmo par,ágrafo 
do Novo CPC prevê -que a anuência do réu como condição para a hom<)logação 
desistência só passa a ser exigida após o oferecimento da contestação. O di,;pc>Sit 
legal consagra consolidado entendimento jurisprudencial". Sem contestação do 
não é necessária sua anuência quanto ao pedido de desistência do autor47, sendo 
tendido que seu silêncio quanto ao pedido representa aceitação tácita da de,;istên'~' 
Nos termos do art. L040, § 3. 0 , do Novo CPC, o consentimento do réu 
do pedido de desistência do autor será excepcíonado quando ocorrer antes de 
ferida a sentença, se a questão nela discutida for idêntica à resolvida pelo 
46 Nery-Nery, Código, p. 505. 
~1 STJ, 5>• Turma, REsp 591.849/SP, Rei. Min.laurita Vaz, j. 10.08.2004, DJ 06.09.2004 . 
., Informativo 499/STJ: 3.a Turma, REsp 1.036.070-SP, Rei. Min. Sidnei Beneti, j. 05.06.2012. 
Cap. 23 • SENTENÇA 
ser1tativco da controvérsia. Nesse caso o § 2° do mesmo dispositivo prevê que 
ficará isento do pagamento de custas e de honorários de sucumbência se 
do processo antes de oferecida a contestação. 
P-f~:~:~:~~,,~~l~ que a sentença de improcedência é mais favorável ao réu do 
:;~ terminativa, o Superior Tribunal de Justiça confirma o entendimen-
após a apresentação de contestação, a desistência depende de anuência 
mas exige que a recusa do réu deva ser fundamentada e justificada, não 
apenas a simples alegação de discordância, sem a indicação de qualquer 
relevante49• Entendo que bastará ao réu expressamente consignar o óbvio, 
reconhecido pelo tribunal: a sentença de improcedência é mais favorável 
secnt<:nç:a terminativa. 
céQístre-seentendimento do Superior Tribunal de Justiça, que dispensa a anuên-
na homologação de pedido de desistência do mandado de segurança50• 
-inter·es:sarlte entendimento do Superior Tribunal de Justiça é o que proíbe a 
da ação após a prolação da sentença, admitindo-se tão somente que as 
tran:sac:io:neJm a respeito do decidido51 • Esse entendimento é consagrado de 
(genéi·ica para todas as ações pelo § 5° do art. 485 do Novo CPC que prevê 
cs<llneJnte ser admissíVel o pedido de desistência apenas até a prolação da sentença. 
Direitos intransmissíveis 
.J.rncrso IX do art. 485 do Novo CPC prevê como causa de extinção termina-
da parte em ação considerada intransmissível por disposição legal. Tal 
de extinção, portanto, não decorre somente da natureza do direito material 
mas também de um fato superveniente que exija para a continuação da 
a sucessão processual, o que não se admitirá no caso concreto em razão 
direito intransmissível. Hipótese frequente em demandas de família, como 
no qual o falecimento de um dos cônjuges durante a demanda exigirá a 
do processo sem resolução do mérito, sendo inviável que o polo em que 
o de cujus seja assumido por seus herdeiros ou sucessores. 
nt<,res5lm'te 'ques1:ão surge nas demandas indenizatórias em razão de dano moral. 
PJH:avel o art. 485, IX, do Novo CPC? Para a doutrina majoritária o direito de 
a dano moral é patrimonial. de forma que os sucessores do ofendido 
de sucedê-lo na demanda judicial. Esse também é o entendimento 
no Superior Tribunal de Justiça52• Para outra parcela doutrinária, o direito, 
patrimonial, é personalíssimo, porque somente o de cujus suportou o abalo 
qual pede reparação, não tendo sentido recompensar terceiros - ainda que 
526/STJ: 3a TUrma, REsp 1.318.558-RS, Rei. Min. Nancy Andrighi, j. 04.06.2013. 
394/STJ: 1." T., REsp 930.952-RJ, Rei. José Delgado, reL p/ acórdãoLuiz Fux, j. 12.05.2009. 
425/STJ: 1.• Turma, REsp 1.115.161-RS, Rei. Min. Luiz Fux,j. 04.03.2010. 
486/STJ: J.a Turma, REsp 1.071.158/RJ, ReL Min. Nancy Andrighi, j. 25.10.2011; Informativo 474/STJ: REsp 
Rei. Min. Nancy Andrighi,j. 02.05.2011; REsp 829.789/RJ, 2.•Turma, Rei. Min.Castro Meira,j. 05.09.2006, 
REsp 648191/RS, 4.a Turma, Rel. Min. Jorge Scartezzini, j. 09.11.2004, DJ 06.12.2004; REsp 324.886/ 
, Rei. Min. José Delgado, j. 21.06.2001, OJ 03.09.2001. 
834 MANUAL DE DIREITO PROCESSUAL CIVIl • VowME ÚNICO- Daniel Amorim Assumpção Neve~ 
herdeiros e sucessores - que não tiveram qualquer abalo moral53 • Nesse caso, hav1 
extinção do processo sem resolução do mérito fundada na hipótese ora analisai 
Concordo com o entendimento consagrado no Superior Tribunal de Jlí'St 
porque se o sofrimento típico do dano moral realmente é intransmissível. o m-e~ 
não se pode dizer do direito de ressarcimento em razão do ato ilícito, de natuÍ 
patrimonial e, portanto, suscetível de transmissão. 
23.2.2. 7. 70. Repropositura da ação 
O Novo Código de Processo Civil inova no tratamento da reJor<>p<>sítuJcaj 
ação diante do trânsito em julgado de sentença terminativa. O 
mantém tradicional regra de que diante da extinção do processo por se11!e•nça'f! 
minativa transitada em julgado a parte poderá propor novamente a ação. 
entretanto, prevê cinco espécies de sentellça terminativa diante das quais 
só poderá repropor a ação se o vício que levou a tal decisão tiver sido 
(sanado): extinção por litispendência, indeferimento da petição inicial, 
de pressuposto processual, carência de ação e convenção de arbitragem. 
ciência de se exigir a correção do vício para a repropositura da ação, mesrnq,~j 
prevísão legal expressa no CPC/1973, já vinha sendo reconhecida pelo 
Tribunal de Justiça54• 
Pode-se questionar a razão da seletividade do art. 486, § 1°, do Novo 
que não contempla todas as hipóteses de sentença terminativa. Para 
pelo acerto ou erro da opção legislativa vale uma breve menção às hi]>ót:est,&tj[ii 
incluídas no dispositivo legal. 
No caso de abandono unilateral ou bilateral (art. 485, II e 
CPC), não existe qualquer vício a ser corrigido, tendo o processo sido 
não porque viciado, mas por inércia do autor ou de ambas as partes. 
tese de extinção por desistência do processo (art. 485, VIII, do Novo 
dá o mesmo fenômeno, porque nesse caso a extinção não decorreu de 
processo, mas de vontade expressa do autor. No caso de morte da parte 
considerada intransmissível (art. 485, IX, do Novo CPC), a re]pn,po>siturac 
impossível porque o falecido não tem capacidade de ser parte e os 
não tem legitimidade ativa. 
A sentença terminativa prevista no art. 485, V, do Novo CPC é a que 
mais atenção, já que somente a litispendência está prevista no art. 486, § 
Novo CPC. A litispendência que gerou a extinção terminativa do processo 
saparecer em decorrência da extinção superveniente da ação que gerou tal 
No caso de extinção por perempção e coisa julgada, o vício que levou a 
do processo não tem como ser corrigido, não tendo mesmo sentido tais 
de sentença terminativa constarem do dispositivo legal ora analisadd5 • Mas 
" STJ, 3.a Turma, AgRG no REsp 769.043/PR, Rei. Min. Humberto Gomes de Barros, j. Lo.03.2007, DJ 
>• STJ, 3a Turma, REsp 897.739/RS, rei. Mln. Massam"1 Uyeda, j. 05/05/2011, DJe 18/05/2011; Bedaque, 
396-397. 
-'-' Didier Jr., Comentários, p. 695. 
Cap. 23 • SENTENÇA 835 
descartar totalmente a repropositura no caso de extinção por coisa julgada, 
JSÍ<lerando-se a possibilidade de sua desconstituição superveniente56, por exemplo, 
rescisória. Nesse caso, embora ausente do rol do § 1 o do art. 486 do Novo 
será admissível a repropositura da ação. 
A opção do legislador de limitar a aplicabilidade do art. 486, § 1 ", do Novo CPC 
êtt:rnlinLadlasespécies de sentença terminativa foi, portanto, acertada. O dispositivo 
a extinções terminativas fundadas em vícios sanáveis, que inadmitem o 
.an>er•to do mérito57• Nesses casos, o saneamento do vício passa a ser condição 
a repropositura da ação. 
Essa nova realidade gera uma interessante situação quanto à sentença que 
o processo sem resolução do mérito por ilegitimidade de parte quando 
concreto versar sobre legitimidade ordinária. Nesse caso, o vício que gerou 
terminativa só pode ser sanado com a substítuição do sujeito apontado 
pà.rte ilegítima por aquele que é legitimado a participar do processo. Ocorre 
vez substituído um dos sujeitos que compunha a relação jurídica processual 
demanda, a segunda demanda já não será mais idêntica à primeira. A 
de parte, um dos elementos da demanda, afasta a existência da tríplice 
Significa dizer que a mera repetição nesse caso não será admitida58, o 
parcela da doutrina a concluir que a sentença se torna tão imutável quanto 
.sent<m\:a de mérito transitada em julgado, o que possibilitaria o ingresso de 
l'r•escisó·ria contra tal sentença. 
hipóteses como essa, embora a sentença terminativa não faça coisa julgada 
será cabível ação rescisória por expressa previsão do art. 966, § 2°, I, do 
A previsão é indispensável, sob pena de se criar sentenças terminativas 
i;1t~~~~~~~:!s e indiscutíveis que a própria sentença de mérito transitada em julgado. 
;~~ para não se admitir a ação rescisória contra a sentença terminativa é 
a ausência de interesse de agir diante da possibilidade da repropositura 
Não havendo tal possibilidade, passa a existir o interesse de agir em regra 
e o cabimento de ação rescisória torna-se essencial para a preservação da 
do sistema. 
\e1:>stre..se que o mesmo não ocorre na legitimação extraordinária, quando 
poderá ser sanado sem a mudança da parte, como ocorre numa ação civil 
extínta por ilegitimidade ativa porque a associação ainda não completou 
de existência, sendo que decorrido esse prazo a mesma associação poderá 
com demanda idêntica à primeira. Sana-se o vício sem a necessidade de 
dos elementos da ação, ou seja, admite-se a nova propositura da ação. 
art. 486, § 2.0 , do Novo CPC mantém a regra de que, admitida a repro-
a petição inicial só será despachada com a prova do pagamento ou do 
das custas e honorários advocatícios referentes ao processo extinto por 
r;;;;:;~;;;;;~Mitidieco, Novo, p. 488. 
1.220; Dídler, Comentários, p. 696. 
Bueno, Manual, p. 349. 
836 MANUAL DE DIREITO PROCESSUAL ClVIL • VowME ÚNICO- Daniel Amorlm Assumpção Neves 
23.2.2.2. Sentenças definitivas (art. 487 do Novo CPC) 
O legislador prevê cinco espécies de sentenças de mérito no art. 487 do 
CPC, sendo que o elemento que as reúne é a decisão definitiva do conflito, 
zão da coisa julgada material. Nesse aspecto não existe nenhuma diferença 
diferentes espécies de sentença de mérito. Ocorre, entretanto, que somente 
delas o direito material alegado pelo autor é efetivamente analisado, sendo 
caso o pedido rejeitado ou acolhido dependendo da existência ou não do 
material Essa particularidade faz com que parcela da doutrina chame a 
prevista pelo art. 487, I, do Novo CPC, de sentença genuína de mérito ou de 
deira sentença de mérito. 
Existem também as sentenças homologatórias de mérito, nas 
chega a apreciar o direito material alegado pela parte, limitando-se a homr>logar 
declaração de vontade somente de uma das partes, como ocorre no re<:orlhr!CiJm, 
jurídico do pedido, que é um ato dispositivo do réu (art. 487, IJI, "á', 
e a renúncia, que é wn ato dispositivo do autor (art. 487, III, "c", do 
ou ao homologar um acordo de vontades das partes (art. 487, III, "b'; do 
CPC), sendo entendimento do Superior Tribunal de Justiça no sentido de que 
não está obrigado a homologar o negócio jurídico59• 
Por fim, a sentença que reconhece a prescrição ou decadência (art. 487> 
Novo CPC), na qual também não ocorre a análise de existência do direito 
do autor, limitando-se o juiz a reconhecer o transcurso do prazo para a 
da demanda, o que impedirá a resolução de mérito. 
Tanto as sentenças homologatórias como as que reconhecem a pnesc:rí1:~ 
decadência põem fim ao conflito de formadefinitiva, o que as torna se11tenç, 
mérito, mas, como o juiz não enfrenta o direito material alegado pelo 
consideradas falsas sentenças de mérito, ou ainda sentenças de 
Existe doutrina que entende ser a sentença que reconhece a prescrição e 
genuinamente de mérito, tratando-se de espécie de sentença de rejeição do 
do autor, mas por um fundamento específico, o transcurso temporal60• 
se leve em conta que nesse caso não existe análise da efetiva existência do 
material, suficiente para distingui-la da sentença de rejeição do pedido nnnnria 
dita, não vejo maiores problemas na solução apontada por essa parcela 
O art. 488 do Novo CPC prevê que, "desde que possível, o juiz 
mérito sempre que a decisão for favorável à parte a quem aproveitaria 
pronunciamento nos termos do art. 485". É a consagração de que as 
formais são menos importantes que a solução de mérito quando não 
para a parte, que, mesmo sendo prejudicada por tais imperfeições, tem 
se sagrar vitoriosa no mérito. Acredito que nenhum vencedor de demanda 
se tiver uma legitima defesa preliminar rejeitada, mesmo qUe rer:orlh<ecidam<!J:ll 
dada, desde que obtenha a vitória definitiva. O dispositivo, entretanto, não 
ao juiz desconsiderar as alegações preliminares ou os vícios evidentes que 
59 Informativo 406/STJ: 2. 3 Turma, AgRg no REsp 1.090.695-MS, Rel. Min. Herman Benjamin, J. 08.09.2009. 
w Adroaldo, Ensaios, n. 3, p. 367. 
Cap. 23 . 
de ofício, aguardando o final do processo para verificar quem 
w<m<:ector da demanda e somente nesse momento decidir se as acolhe ou 
>hnena de violação clara ao princípio da economia processual. Serve apenas 
tm•çc•es em que a percepção de acolhimento da preliminar ou da existência 
ocorre em momento no qual o processo já esteja pronto para a imediata 
de mérito. 
Acolhimento ou rejeição do pedido 
·!lf<>rnle já afirmado, a sentença proferida com amparo no art. 487, L do Novo 
" ,,.,.,« entre todas as espécies de sentença de mérito que se fundamenta na 
não do direito material alegado pelo autor. Na praxe forense é comum 
do termo procedência ou improcedência, o que não causa qualquer 
""'>"•uo que se tenha a exata medida do que efetivamente está sendo julga-
Não parece ser correto falar em procedência da ação, porque com 
esse termo será compreendido como a declaração de que o autor tem 
ação, nada afirmando a respeito de sua pretensão material. O adequado, 
é procedência ou improcedência do pedido, e não da açãd1 • 
uma consideração voltada ao fenômeno da confusão, forma de extinção 
prevista pelo Código Civil nos arts. 381 a 384. É representada pela 
em uma só pessoa das qualidades de credor e devedor, e, como não tem 
pessoa ser credora e devedora de si mesma, a obrigação será extinta. 
JUCLinal na qual o pai cobra dívida do filho, falecendo o primeiro e 
>se>gu•ncto o único herdeiro, haverá a confusão prevista no direito material. 
fe11Ô1neno ocorre quando sociedades que litigam por direito patrimonial 
quando uma adquire a outra. 
Comunhão do patrimônio de autor e réu era no CPC/1973 causa de 
· em opção legislativa que encontrava resistência em parte da 
defendia, por se tratar a confusão de instituto de direito material com 
kJ1l'oc:es:m;ús, uma extinção com julgamento do mérito, inclusive coro geração 
l;}uQg,tda material, considerando-se a extinção do litígio62• A tese de que a 
uma sentença de mérito parece ter prevalecido no Novo Código de 
já que a matéria foi excluída do rol de matérias que levam à extinção 
sem resolução de mérito. 
Reconhecimento jurídico do pedido 
•l1bmi:ssão é forma de solução alternativa de solução de conflitos, tratando-se 
espécies de autocomposição, conforme analisado no Capítulo 1, item 
~o reconb,ecimento jurídico do pedido verifica-se a submissão processual, 
sempre que o réu expressamente concorda coro a pretensão do autor. 
nccJrdlância é ampla, atingindo lauto a causa de pedir quanto o pedido, de 
n. 328, p. 362. 
o.tma.:o,, n. 21, p. 395-396; Didier, Curso, p. 537. 
838 MANUAL DE DIREITO PROCESSUAL CIVIL· VowME ÚNICO- Daniel Amorim Assumpção Neves 
forma que no reconhecimento jurídico do pedido o réu concorda com os 
fundamentos jurídicos alegados pelo autor e também com o pedido por ele 
Como se nota com facilidade, o reconhecimento jurídico do pedido é 
abrangente que a confissão, que atinge tão somente a matéria fática da 
No reconhecimento jurídico do pedido o juiz simplesmente homologa a 
do réu de que o autor se sagre vitorioso na demanda, nos termos de seu 
23.2.2.2.3. Transação 
Na transação verifica-se um acordo de vontade das partes cOm sa<:rif1cíos: 
procos. Como já afirmado no Capítulo 1, item 1.2.2, a transação vem 
mente encorajada em razão da maior possibilidade de geração da justiça 
quando o conflito é resolvido por acordo entre as partes e não por uma 
impositiva do juiz. Mais uma vez não é o juiz que decide o conflito - como 
em todas as formas de autocomposição - limitando-se a homologar por 
acordo de vontade entre as partes. 
A sentença homologatória de transação não guarda relação com o 
processo, de forma que é admissível que o objeto da transação seja mais 
o da demanda, trazendo para a homologação do juiz matérias que não 
do processo. O mesmo fenômeno se aplica aos limites subjetivos da de1nruada 
a transação envolvendo terceiro (art. 515, § 2°, do Novo CPC). Trata-se de 
medida de economia processual e de oferecimento de solução da lide 
23.2.2.2.4. Prescrição e decadência 
São de direito material os fenômenos jurídicos tratados no art. 487, Il, 
CPC, sendo tanto a prescrição quanto a decadência previstas no Código 
leis extravagantes de direito material. Referem-se a limitações temporais 
guição perante o Poder Judiciário de tutela de um direito material, com o 
de resguardar a segurança de situações jurídicas já estabelecidas. C<m:;iden•çcié: 
aprofundadas dos institutos jurídicos ora tratados ensejam necessariamente 
de direito material, o que não se encaixa nos limites do presente livro. 
23.2.2.2.5. Renúncia 
A renúncia é um ato unilateral de vontade do autor consubstanciado na 
ção de um direito material que alega ter, sendo irrelevante no caso concreto a 
existência de tal direito. Dessa forma, ocorrendo renúncia do direito afirrtla<lõ 
autor, não há preocupação do juízo em descobrir se o direito objeto da 
efetivamente existe, bastando para a solução definitiva da lide a homologação 
do ato de vontade do autor. A atividade homologatória somente não oconcef 
caso concreto nas hipóteses de direitos que não admitem renúncia. 
Como é simples perceber, recaindo a renúncia sobre o direito material, 
o autor abre mão do direito material que alega ter, a renúncia decide de 
definitiva o conflito porque não haverá mais direito material que possa ser 
Cap. 23 • SENTENÇA 839 
ensejar eventual conflito de interesses. Nesse aspecto é nítida a diferença entre 
~púncia do direito material e desistência do processo, a primeira gerando efeitos 
rul:eriai·s e a segunda limitando-se a efeitos processuais. 
ELEMENTOS DA SENTENÇA 
índicar as partes que devem compor urna sentença genuína de mérito, 
do art. 489 do Novo CPC deve ser elogiado por consagrar entendimento 
)!!!:mano de que o relatório, a fundamentação e o dispositivo da sentença são os 
,eternent<>s e não seus requisitos, conforme incorretamente previa o art. 458, 
do CPC/1973. 
Fríse-se que esses elementos da sentença somente são exigidos na genuína 
de mérito, não havendo o formalismo previsto pelo dispositivo legal ora 
nas falsas sentenças de mérito e nas sentenças terminativas. Essa realidade 
paJrcüt!mterrte reconhecida pelo art. 459 do CPC/1973 ao prever que a sentença 
poderia ter fundamentação concisa. O Novo Código de Processo Civil 
a disposição legal, mas isso não altera a possibilidade de uma sentença 
em seus aspectos intrínsecos nas hipóteses mencionadas. A permissão 
m,jaJnentaçilo sucinta naturalmente não contraria o art. 93, IX, da CF, de for-
mesmo o juiz estando dispensado de elaborar uma sentença com relatório,~aJrnent;açilo e dispositivo, é indispensável que exteriorize suas razões de decidir. 
A maior ou menor extensão da fundamentação nas sentenças terminativas e 
sentenças de mérito dependerá do caso concreto. Nas falsas sentenças de 
uma sentença que homologa ato de composição tem como fundamento a mera 
a uma das alíneas do inciso III do art. 487 do Novo CPC. Já a sentença que 
o processo por prescríção e decadência depende de uma fundamentação 
i~cJb>lsta, sendo indispensável que o juiz especifique as razões que o levaram 
"S<>luçil<J. Nas sentenças terminativas, a técnica de mera remissão a díspositivo 
tarr1bé,m é aplicável, como ocorre, por exemplo, na hipótese de homologação 
esístência. E também nessas sentenças é possível exigir-se uma fundamentação 
"extensa, como, por exemplo, na extinção por carência da ação. 
Relatório 
'Ü relatório é um resumo da demanda, no qual o juiz indicará 
uma breve suma do pedido; 
uma breve suma da defesa; e 
(d) a descrição dos principais atos praticados no processo. 
dizer que a razão de ser do relatório é demonstrar que o JUlZ 
conhecimento da demanda que está julgando. Ocorre, entretanto, que é 
!J\am,ent:e possível que o juiz, mesmo que não faça o relatório - seja porque ele 
seja porque o serventuário o elaborou -, tenha o pleno conhecimento da 
840 MANUAL DE DlRElTO PROCESSUAL CIVIL • VOlUME ÚNICO - Daniel Amorim Assumpção Neves 
demanda exigido para um julgamento de qualidade. Tanto assim que nos Juizac 
Especiais o relatório é dispensado (art. 38 da Lei 9.099/1995), não se conhecen 
entendimento que afirme que nesses processos o juiz possa sentenciar sem te1 
pleno conhecimento da demanda. 
Admite-se a elaboração de relatório per relationem, quando o juiz se reporto 
um relatório realizado em outra demanda, o que é possível em termos de senter 
em julgamento de demandas conexas quando julgadas em momentos diferentes ou 
ações incidentais. É mais comum ocorrer em acórdãos, com a utilização do relatóJ 
da sentença impugnada, além dos principais atos praticados depois da sentença& 
A ausência de relatório gera a nulidade da sentença, presumindo-se que o j1 
ao deixar de realizar o relatório não tem o conhecimento pleno da demanda q 
está julgando. A doutrina majoritária entende tratar-se de nulidade absoluta64, co 
o que não concordo, porque só tem sentido anular a sentença se restar demonstra< 
concretamente o prejuízo, ou seja, que o juiz realmente não tinha o conhecimeri 
pleno da demanda. Trata-se, portanto, de nulidade relativa6S. Prova maior é a disperi 
de relatório nos Juizados Especiais (art. 38, caput, da Lei 9.099/95), o que demonst 
que a decisão pode ser válida mesmo sem esse elemento. Frise-se que, nesse c~S 
provavelmente o desconhecimento do juiz se mostrará por meio de fundamentaÇi 
inadequada ou insuficiente. r 
23.3.2. Fundamentação 
A fundamentação da decisão é essencial, sendo inclusive um dos princíp!~ 
constitucionais já analisados no Capítulo 3, item 3.4.4. Sendo a sentença um ·~1 
decisório de extrema importância no processo, é evidente que a fundamentação ~~ 
pode ser dispensada. Na fundamentação o juiz deve enfrentar todas as questões:J 
fato e de direito que sejam relevantes para a solução da demanda, justificand(j' 
conclusão a que chegará no dispositivo. São os porquês do ato decisório66, tanto -q~ 
só é possível afirmar justa ou injusta uma sentença analisando-se no caso conci~j 
sua fundamentaçãO. LJ 
A ausência de fundamentação é vício grave, mas não gera a inexistência juríd!! 
do ato, devendo ser tratado no plano da validade do ato judicial decisório, de forif 
que a sentença sem fundamentação é nula (nuüdade absoluta) 67• As duas funçõJ 
da motivação das decisões judiciais - inclusive e essencialmente a sentença --Sã 
tratadas no Capítulo 3, item 3.4.4. · 
O recurso adequado é a apelação com a alegação de error in procedendo 
trínseco, ainda que excepcionalmente possam se admitir os embargos de de<:Jar·aç~ 
com efeitos ínfringentes, tema tratado no Capítulo 73, item 73.7 .2. Sob a 
do CPC/1973, o Superior Tribunal de Justiça entendia que, sendo anulada 
63 Dinamarco, Instituições, n. 1.222, p. 657. 
&> Moniz de Aragáo, Sentença, p. 97; Arruda Alvim, Manual, n. 297, p. 549; Scarpinel!a Bueno, Código, p. 1.389. 
61 Araújo Cintra, Comentános, p. 275. 
66 Moniz de Aragão, Sentença, p. 101. 
61 Por todos, Monlz de Afagão, Sentença, p. 102. 
Cap, 23 . SENTENÇA 841 
a sentença não fundamentada, o processo deveria retornar ao primeiro 
a prolação de uma nova sentença68• Parcela da doutrina entendia ser 
por analogia o art. 515, § 3.", do CPC/l973, de forma que o tribunal de 
anulasse a sentença e passasse imediatamente à prolação de uma nova 
da demanda, agora devidamente fundamentada69 • A divergência 
pelo art. L013, § 3°, IV, do Novo CPC, que prevê expressamente a 
da teoria da causa madura na hipótese de nulidade de sentença por falta 
Dispositivo 
dispositivo é a_condusão decisória da sentença, representando o comando da 
É a parte da sentença responsável pela geração de efeitos da decisão, ou seja, 
yü;po•sítivo que são gerados os efeitos práticos da sentença, transformando o 
fatos. O dispositivo é a conclusão do juiz que decorre da fundamentação, 
sentença na qual o julgador descreve suas razões de decidir, indicando os 
m•ent:os que justificam a opção tomada no dispositivo. 
é permitida a elaboração de dispositivo direto e indireto, ainda que 
espécie seja a forma mais segura de elaborar essa parte da sentença, 
eventuais obscuridades da decisão. No dispositivo direto, o juiz indica 
'@Si;f!fne:nte o bem da vida obtido pelo autor, enquanto no dispositivo indireto o 
o pedido do autor sem a indicação do bem da vida obtido, limitando-se 
gar p•roce<ieii!e o pedido e a fazer uma remissão à pretensão do autor70• 
Cibele ingressa com ação judlcia\ em virtude de dano material suportado 
por ato i!ícito praticado por Alarico, requerendo sua condenação ao paga-
mento de R$ 10.000,00. Em caso de acolhimento do pedido de Cibele, o juiz 
sentenclante poderá optar pe\as duas técnicas de elaboração do dispositivo 
da sentença: valendo-se do dispositivo direto, acolhe o pedido e condena 
expressamente Alarico ao pagamento de R$ 10.000,00; valendo-se do dispo-
sitivo indireto, acolhe o pedido nos termos da petição iniciaL 
ausência de dispositivo gera vício gravíssimo, até mesmo porque uma decisão 
dispos1ith'o não é propriamente uma decisão, porque nada decide. Trata-se 
nexístêJocia jurídica do ato judiciaF1, podendo tal vício ser alegado em sede 
,mba:rg<>S de declaração em razão de omissão do órgão julgador ou por meio 
?"'"l''"u. Tratando-se de inexistência jurídica é admissível a alegação do vício 
após o trânsito em julgado da decisão, por meio de ação meramente 
, REsp 86644S/MG, rei. Min. Francisco Falcão,j. 27.02.2007, OJ 16.042007; STJ, 1." Turma, REsp 684947/ 
. Min. José Delgado, j. 03.021005, DJ 18.04.2005. 
,o,qu<<, Ape!.oçao, v. 7, n. 2.1, p. 450·451. 
Jr., Curso, n. 490, p. S68. 
842 MANUAl DE DIREITO PROCESSUAl CIVJL · VOUJME ÚNICO - Daniel Amorim Assumpção Neves 
23.3.4. Comentários gerais a respeito dos elementos da sentença 
Ainda que o art. 489 do Novo CPC estabeleça uma ordem entre os 
elementos da sentença, não existe nenhuma irregularidade na sentença nn,fedc 
a inversão dessa ordem72 • Por uma questão lógica, entretanto, a 
ser seguida, considerando-se que o relatório descreve o processo, a fu.ndan1€ 
demonstra as justificativas da decísão e o dispositivo é a conclusão 
raciocínio desenvolvido na fundamentação. 
Além da desnecessidade de seguir a ordem legal, o juiz na prolação da , 
não é obrigado a separar a decisão, com clara identificação dos seus di"J 'er,mt 
mentes. Alguns juízes indicam de forma bastante dara o início e o fim dos 
elementos, mas, sendo possível identificá-los no caso concreto, a ausência de 
não torna a decisão viciada. A melhor técnica, entretanto, é a elaboração da 
ça com a nítida separação entre os elementos descritos no art. 489do 
23.4. SENTENÇA LfQUIDA 
Segundo o art. 491, caput, do Novo CPC, na ação relativa à obrigação 
quantia, ainda que formulado pedido genérico, a decisão definirá desde 
tensão da obrigação, o índice de correção monetária, a taxa de juros, o 
de ambos e a periodicidade da capitalização dos juros, se for o caso. 
norma mais completa, mas com praticamente o mesmo conteúdo daquela 
no art. 459, parágrafo único, do CPC/1973. A regra também é aplicável ao 
que alterar a sentença, nos termos do § 2.0 do art. 491 do Novo CPC. 
Os incisos do dispositivo legal trazem as exceções a essa 
sentença ilíquida quando não for possível determinar, de modo de.flrlitivo, 
tante devido ou a apuração do valor devido depender da produção de 
realização demorada ou excessivamente dispendiosa, assim reconhecida na 
Nesses casos, o § 1.0 do art. 491 do Novo CPC prevê que o processo se:gmirá 
a prolação da sentença para apuração do valor devido por liquidação. 
Os dois incisos do art. 491 do Novo CPC, ao versarem sobre a pc,ssibíl 
de o juiz proferir decisão de mérito ilíquida, preveem: quando não 
determinar, de modo deimitivo, o montante devido e quando a apuração 
devido depender da produção de prova de realização demorada ou Pxre.•;<i,m.n 
dispendiosa, assim reconhecida na sentença. 
No primeiro caso chega-se a um momento procedimental no qual o an 
está pronto para ser decidido por decisão definitiva, estando, portanto, 
para julgamento, mas o quantum debeatur não se encontra na mesma situação, 
nesse caso mais adequado se decidir a pretensão do autor, ainda que parciia!J:ri, 
deixando-se para um momento posterior a definição do valor devido. Errtend'o 
tal hipótese enquadra-se na situação em que o ato ilícito ainda encontra-se 
efeitos, de forma que o juiz ainda não consegue dimensionar o valor exato 
>l Moniz de Aragão, Sentença, p. 97-98; Costa Machado, Código, p. 467. 
Cap. 23 • SENTENÇA 843 
do dano suportado pelo réu no momento em que já pode condenar o réu 
segundo caso é possível ao juiz decidir a pretensão por completo, mas por 
de economia processual e em prestígio à duração razoável do processo o 
decidir imediatamente o an debeatUr e postergar a produção de prova de 
demorada ou excessivamente dispendiosa para um momento posterior. A 
do dispositivo é de que é melhor decidir a pretensão parcialmente de forma 
a postergar a definição do an debeatur para o momento em que também 
() processo pronto para a resolução do quantum debeatur. 
pc,ssílvel que com a condenação a pagar do réu, ainda que ilíquida, as partes 
melhores condições para se autocompor, o que evitaría a realização de pro-
complexa e demorada. Além disso, a sentença, mesmo que ilíquida, pode 
hipoteca judiciária prevista no art. 495 do Novo CPC e diminui a chance 
i'\.J·ibunal, em grau recursal, após longa, complexa e cara produção de prova, 
a sentença por considerar inexistente o an debeatur, o que tornaria inútil 
produzida73 • 
dos motivos que levaram o doutrinador a consagrar as 
de cabimento da decisão de mérito ilíquida, fica clara a divisão do jul-
do mérito do processo: primeiro se decide o an debeatur e num segundo 
o quantum debeatur. 
PRINcfPIO DA CONGRU~NCIA 
Conceito 
~<,gumd:o o art. 492, caput do Novo CPC, o juiz não pode conceder diferente 
do que for pedído pelo autor. Trata-se do princ~plo da congruência, tam-
conhecido como princípio da correlação ou da adstrição. O dispositivo legal, 
é incompleto, porque os limites da sentença devem respeitar não só o 
mas também a causa de pedir e os sujeitos74 que participam do processo. É 
ser1teJ1ça que concede a mais ou diferente do que foi pedido, como também 
1ulídacde na sentença fundada em causa de pedir não narrada pelo autor, na 
que atinge terceiros que não participaram do processo ou que não julga a 
relativamente a certos demandantes. 
:O Superior Tribunal de Justiça, inclusive, mesmo sem previsão expressa nes~ 
já reconheceu· a existência de sentenças ultra e extra causa petendi. 750 
~1encto, entretanto, merece um reparo. É materialmente impossível a existência 
sentença ultra causa petendi, porque não há como se quantificar a causa 
A causa de pedir que fundamenta a sentença pode ser diferente daquela 
pelo autor, mas nunca poderá ir além dela. E a correlação exigida nesse caso 
4. ed. São Paulo, RT, 2016, p. 782. 
, Instituições, n. 948, p. 287-289; Scarpinella Bueno, Código, p. 1.399. 
·Corte Especial, EREsp 1.284.814/PR, rei. Min. Napoleão Nunes Maia F!lho, j. 18.122013, DJe 06.022014. 
844 MANUAL DE DIREITO PROCESSUAL CIVIL • VoLUM~ ÚNICO- Daniel Amorim Neves 
limita-se aos fatos jurídicos, porque na aplicação do fundamento jurídico de,ve'""''" 
adotados os brocardes iura novit cu ria (o juiz sabe o direito) e da mihi factum 
tibi ius (dá-me os fatos que te dou o Direito)16• 
Para significativa parcela doutrinária, o princípio da congruência é demrri:n 
do princípio dispositivo77. Sem afastar tal entendimento, em análise mais mim1cio 
nota-se que o princípio ora estudado é fundamentado em dois outros prin<:ípió§ 
inércia da jurisdição (princípio da jurisdição) e contraditório (princípio do p;~~~:~~~~ 
A inércia da jurisdição determina que o juízo só se movimenta quando 
pelo interessado, sendo que essa movimentação ocorre nos estritos limites do 
e causa de pedir elaborados pelo autor, bem como se limita aos sujeitos processualf!l 
Por outro lado, o réu limita sua defesa tomando por base a pretensão do autor, 
havendo sentido defender-se de pedido não elaborado, causa de pedir não 
na petição inicial, ou contra sujeito que não participa do processo. Uma 
proferida fora desses limites surpreenderá o réu, o que não se pode admitir 
respeito ao princípio do contraditório. 
Registre-se que uma ofensa ao princípio da congruência nem sempre 
sentará ofensa ao princípio do contraditório, bastando que o pedido ou a 
pedir levada em conta pelo juiz sem que tenha sido provocado a tanto, 
objeto de prévia discussão entre as partes. Ainda que seja improvável tal ocor:rên 
é possível imaginar um desvio das partes e do próprio juiz durante o pnlce:sso. 
tocante aos limites impostos pelo autor, de forma que não haverá nesse 
surpresa ao réu. O princípio da inércia, entretanto, será sempre desrespeitado 
de sentença que não respeite os limites traçados pelo princípio da congruiencia.: 
Marina ingressa com ação judidal objetivando a rescisão de contrato que 
mantém com Olga. Na exposição de fatos na petição inicial, narra que odes-
cumprimento contratual de Olga ocasionou-lhe uma série de contratempos, 
inclusive a fazendo sofrer demasiadamente. Imagine-se que Olga, em sua 
contestação, passe a impugnar tal sofrimento, ainda que nitidamente essa 
parte da narrativa fática da petição inicial não faça parte da causa de pedir e 
em nada se relacione com o pedido de rescisão contratual. Por alguma razão 
Marina entra na discussão com Olga, e ambas produzem provas a respeito 
do alegado sofrimento da primeira, tudo sendo permitido pelo juiz. Note-se 
que, caso o juiz condene Olga ao pagamento de danos morais, certamente a 
sentença será extra petita, porque o pedido de Marina !imitava-se à rescisão 
contratual; mas, nesse caso, não terá ocorrido violação ao princípio do con-
traditório, considerando-se que a matéria - danos morais - foi amplamente 
discutida por ambas as partes. Apesar de não verificar-se a violação ao prin-
cípio do contraditório, naturalmente houve ofensa ao princípio da inércia da 
jurisdição, e por essa razão a sentença é nula. 
76 STJ, 1• Turma, AgRg no REsp 1.120.968/MG, rei. Min. Sérgio Kukina, j. 26/08/2014, DJe 02/09/2014; STJ, 4•1'"'""· I 
no AREsp 281.594/SC, rei. Mln. Luis Felipe Salomão, j. 20/06/2013, OJe 27/06/2013; STJ, 2• Turma, REsp 
ES, rei. Min. Herman Benjamin, j. 11/12/2012, OJe 19/12/2012. 
71 Nery-Nery, Código, p. 669; Costa Machado, Código, p. 468; Arruda Alvim, Manual, n. 301, p. 554. 
7a Theodoro Jr., Curso, n. 493-b, p. 574; Arruda Alvim, Manual, n. 301, p. 554; Dinamarco, Instituições, n. 940, P-
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