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SENTENÇA 23.1. Conceito legal de sentença- 23.2. Classificação das sentenças: 23.2.1. Conteúdo <•'""'"" 23..2..2. Resolução de mérito - 23.3. Elementos da sentença: 23.3.1. Relatório; . Fundamentação; 23.3.3. Dispositivo; 23.3.4. Comentários gerais a respeito dos elemen- sentença - 23.4. Sentença líquida - 23.5. Princípio da congruência; 23.5.1. Conceito; Exceções ao princípio da congruência - 23.6. Sentença extra petito: 23.6.1. Conceito; Recorribilidade da sentença extra petita- 23.7. Sentença ultra petita: 23.7.1. Conceitó; ,2, Jlecorriit >ililidade da sentença ultra petita- 23.8. Sentença citra petita (infra petita): 23.8.1. Recorribilidade da sentença citra petita - 23.9. Situação fática no momento da sentença - 23.10. Modificação da sentença pelo juízo sentenciante - 23.11, que tenham como objeto obrigaçâo de fazer e não fazer- 23.12. Capítulos de sentença. LEGAL DE SENTENÇA foi conceituada pelo legislador de 1973 como o ato que punha pruc:esso, incluindo-se nessa conceituação tanto as sentenças que resolvem uc,,u.uu• (definitivas) como aquelas que apenas encerram o processo, níltestaç:ão sobre o mérito (terminativas). Ainda que mantida a opção de tomando-se por base o efeito do pronunciamento judicial, melhor o legislador se tivesse conceituado a sentença como ato que encerra :dilne.ntc>·e:m primeiro grau de jurisdição, porque havendo a interposição de . o processo não se encerrava com a sentença1• Seja como for, a opção do era clara: o critério adotado era o efeito da decisão relativo ao prece- absolutamente irrelevante o seu conteúdo para a configuração da sentença2• advento generalizado das ações sincréticas, independentemente da natu- :ot>ri<,ac:ãn objeto da condenação, levou o legislador a repensar o conceito substituindo o critério utilizado anteriormente. Em vez do efeito do p. 79. 818 MANUAL DE DIREITO PROCESSUAL CIVIL· Voll!ME ÚNICO- Daniel Amorim A5sumpçáo Neves pronunciamento, um novo conceito de sentença surgiu em 2005, que passou como critério conceitual o seu conteúdo, fazendo expressa remissão aos arts, 269 do CPC/1973, dispositivos que indicavam as causas que geram a re:;olução: não do mérito (sentença definitiva e terminativa, respectivamente)3. Diante dessa novidade, o conceito de sentença passou a resultar de uma conjunta dos arts. 162, § !.", 267 e 269, todos do CPC/1973. Da conjugação dispositivos legais conclui-se que as sentenças terminativas passaram a ser tuadas tomando-se por base dois critérios distintos: (i) conteúdo: uma das previstas nos incisos do art. 267 do CPC; e (ii) efeito: a extinção do pnlc<:dúméJ em prímeiro grau de jurisdição4• A hibridez de critérios na conceituação da sentença terminativa - cont•oúc efeito - não se repetia na sentença definitiva, considerando-se que o art. 269, do CPC/1973 não fazia nenl;mrna menção à necessidade de extinção do para que o .ato decisório seja considerado uma sentença. Dessa forma, a qu1es·tã<) colocar ou não fim ao procedimento em primeiro grau passava a ser ,·, -re1e,r.u1te conceituação da sentença de mérito, bastando para que um pronunciamento considerado uma sentença definitiva que tivesse como conteúdo uma das dos incisos do art. 269 do CPC/1973. Essa realidade, entretanto, não foi bem recebida por parcela cc•nsíd<etável doutrina, em especial pelo receio de que o conceito de sentença de mérito termos levaria a existência de sentenças parciais de mérito, com a intei·p<lsiçã< apelações em diferentes momentos procedimentais. Diante da "ameaça'' de caos que tal interpretação levaria à praxe doutrina majoritária continuava a associar a sentença definitiva ao efeito tinção do processo ou de alguma fase procedimental, em especial do pr<JCesso conhecimento. Corrente doutrinária afirmava que o ato judicial só seria seJote,nçi mérito quando colocasse fim ao processo ou quando resolvesse por inteiro da demanda na fase cognitiva5• Outra parcela da doutrina defendia a cone<eJhia de sentença com a adoção dos critérios do efeito e conteúdo do ato~ atirni<llOd? o art. 162, § 1. 0 , do CPC/1973 deveria ser interpretado de forma sistêmica §§ 2. 0 e 3. 0 desse mesmo dispositivo legal6• Havia ainda corrente doutrinária defendia o entendimento de que a decisão somente poderia ser consiideTa•da sentença se colocasse fim a uma das fases procedimentais dentro da nova do sincretismo processuaF. O entendimento que mantinha o efeito corno critério de conceituação tença de mérito, além de grande aceitação doutrinária, passou a ser admiticlo nossa jurisprudência8• Era o prenúncio de que nosso sistema preferia conviv<T .< decisões interlocutórias de mérito do que com sentenças parciais de mérito. Bedaque, Algumas, p:?l-72. Bedaque, Algumas, p. 71; Câmara, A nova, p. 20; Bondioli, O novo, p. 46. Theodoro Jr., As novas, p. 5-6; Freitas Câmara, A nova, p. 21. Nery-Nery, Código, 2006, p. 372; Arruda Alvlm, O perfil, p. 51. Scarpine!la Bueno, A nova, p. 15-16; Didier, A terceiro, p. 69-71; Greco, Primeiros, p. 99. STJ, 4.a Turma, REsp 645.388/MS, rei. Min. Hélio Quaglia Barbosa, j. 15.03.2007, DJ 02.04.2007, p. 277. Cap. 23 • SENTENÇA 819 É bem provável que esse entendimento tenha influenciado o legislador de 2015, _Ue no art. 203 do Novo CPC modifica tanto o conceito de sentença quanto o de - interlocutória. No § 1.0 do dispositivo legal a sentença é conceituada, salvo as previsões ex- nos procedimentos especiais, como o pronunciamento por meio do qual o com fundamento nos arts. 485 e 487, do Novo CPC, põe fim à fase cognitiva la'Pr<Jct:dim<:nto comum, bem como extingue a execução. Fica clara a opção do í!íl.iislaldcor em criar um conceito híbrido, que considera tanto o conteúdo como o da decisão para qualificá-la como sentenÇa. No § 2." do art. 203 do Novo CPC opta-se por um conceito residual da interlocutória, como qualquer pronunciamento decisório que não seja Nesse caso, a decisão interlocutória poderá ter como conteúdo ques- in,oidlentaJis ou mérito, como ocorre, por exemplo, no julgamento antecipado de mérito. Ao fazer menção ·expressa ao encerramento da fase cognitiva do procedimento esqueceu-se da crítica ao antigo conceito de sentença da redação originária de que, sendo interposto recurso contra essa decisão, a fase processual encerra, somente continuando em grau jurisdicional superior ou ainda no grau, como ocorre com a interposição dos embargos de declaração. Esse entretanto, é praticamente irrisório se comparado com a total despreocu- do legislador com a decisão de mérito ilíquida. sentença ilíquida, apesar de excepcional, é admitida no sistema processual Como se sabe, proferida sentença civil genérica, o processo continuará numa fase procedimental, agora de liquidação, notoriamente uma fase cognitiva. :unta-se: a decisão que decide o an debeatur, relegando para momento posterior do quantum debeatur, não será mais sentença? Não coloca fim à fase de prosseguirá na liquidação de sentença, logo deve ser considerada de- ) iloterlc>CULtória à luz do sugerido art. 203, § 2. 0 , do Novo CPC, sendo recorrível de instrumento. E, nesse caso, a decisão que ftxar o quantum debeatur, encerrando a fase cognitiva, será sentença, recorrível por apelação? Diante cmoct:itclS de sentença e de decisão interlocutória sugeridos pelo dispositivo ora não há como responder negativamente a essa questão . . "''u1na percepção nesse sentido é reforçada com a adoção pelo novo diploma julgamento antecipado parcial do mérito, por meio de decisão interlocutória por agravo de instrumento. Sendo o objeto da demanda formado pelo 'eb,eatur e o quantum debeatur, o julgamento do primeiro nada mais é do que ·'JUlg,tmento antecipado parcial do mérito. Afinal, as hipóteses de cabimento de ilíquida previstas no art. 491 do Novo CPC se adequam perfeitamente ao li, do Novo CPC. Ac:re.:lito, entretanto, que será mais um caso de descumprimento de norma que não levantará maiores questionamentos. A decisão proferida na fase delecimen1to resolvendo apenas o an debeatur, continuará a ser entendida como ilíquida recorrível por apelação, enquanto a decisão que, posteriormente, quantum debeatur, continuará a ser entendida como decisão interlocutória 820 MANUAL DE DIREITO PROCESSUAL CIVIL ·VOLUME ÚNIW- Daniel Amorim Assumpção Neves de mérito recorrível por agravo de instrumento9 • Mesmo que contra a previsão legal. Por outro lado, ainda que justificável, a exclusão dos procedimentos do âmbito de aplicação do art. 203, § 1 ', do Novo CPC cria urna singular de aparente limbo jurídico. A opção é justificada porque em alguns procedimentos especiais há expressa de que determinada decisão judicial é sentença, ainda que não se ao conceito legal previsto no dispositivo legal ora analisado. São exemplos de divisão de terras particulares (art. 572 do Novo CPC); ação de deJmarcaçãç terras particulares (arts. 581, 582 e 587 do Novo CPC); ação de inventário e 655 do Novo CPC); ação de habilitação (art. 692); embargos da ação (art. 702, § 9', do Novo CPC); ação de homologação de penhor legal (art. do Novo CPC); ação de regulação de avaria grossa (art. 710, § 1 '). O problema, entretanto, é que nem todo procedimento especial apre,;entta previsão, e é com relação a esses que se verifica o aparente limbo J wuu•cc> .. existindo previsão expressa de que a decisão é uma sentença e sendo conceito legal de sentença por expressa previsão do art. 203, § I", do simplesmente não haverá como se concluir qual decisão nele proferido é É presumível que nesses casos continue a se considerar sentença a sempre foi considerada sentença, mas para se chegar a tal conclusão não qualquer justificativa legal. Acredito que nesses casos possa ser aplicado o § 1 ', do Novo CPC, ainda que o próprio dispositivo exclua sua aplic:Jbilidac procedimentos especiais. 23.2. CLASSIFICAÇÃO DAS SENTENÇAS A classificação de qualquer instituto jurídico depende dos critérios adotados, sendo possíveis tantas cla~sificações quantos forem os critérios. No à sentença, entendo que os dois principais critérios são: (a) o conteúdo do ato sentencia!; (b) a resolução ou não do mérito. 23.2.1. Conteúdo da sentença 23.2. 1. 1. Teoria ternária e teoria quindrla Clássica lição doutrinária entende que pelo conteúdo do ato JU<llClal e;» três espécies de sentença: (a) meramente declaratória; (b) constitutiva; {c) condenatória. 9 Câmara, O novo, p. 354. Cap. 23 • SENTENÇA 821 trara-->e da teoria ternária (trinária) da sentença, defendida por substanciosa doutrinária que segue as lições de Liebman. Contrapõe-se a essa tradicional doutrinária a teoria quinária (quíntupla) da sentença, defendida por doutri~ que seguem as lições de Pontes de Miranda, fundada no entendimento de das três espécies de sentença descritas pela teoria ternária, existem ainda executivas lato sensu e as sentenças mandamentais, o que resultaria de cinco espécies de sentença. mais adequada a teoria ternária porque concordo com a doutrina distingue diferenças no conteúdo de sentenças condenatórias, executivas e mandamentais. Em todas elas há a imputação de cumprimento de uma ao réu, havendo diferença entre elas somente na forma de satisfação dessa o que naturalmente não faz parte do conteúdo do ato decisório, mas sim s:.;reZJ,us .. Partindo-se da premissa de que o critério adotado para a classificação é o seu conteúdo, as reconhecidas diferenças nas formas de efetivação ;cespcicies de sentença são irrelevantes para fins de dassificação10• rristre-se que os defensores da teoria ternária da sentença não ignoram as referentes às formas de satisfação da sentença, de maneira que a existência das chamadas sentenças executivas lato sensu e rnandamen- concordando com as diferenças em termos de formas de efetivação entre essas sentenças e a sentença condenatória classicamente definida Só não concordam que sejam novas espécies de sentença em razão de conteúdo com a sentença condenatória clássica, concluindo-se que subespécies de sentença condenatória. que entenda superior a teoria ternária da sentença, parece realmente que a meramente acadêmica, começa a cansar parcela da doutrina, que percebeu de debate inócuoli. Todos reconhecem as diferenças entre as sentenças exe- sensu, mandamentais e condenatórias classicamente consideradas; para os da teoria ternária, todas são espécies de sentença condenatória, enquanto ' l~~~~;:~:si da teoria quinária, são espécies diferentes de sentença. Como se limita-se a uma questão de classificação, com poucos resultados dignos de destaque. Mais adequada e certamente útil é a exata definição dos que compõem cada uma dessas espécies - ou subespécies - de sentença. Sentença meramente declaratória y,qml!eú,do da sentença meramente declaratória é a declaração da existência, o modo de ser12 (não há dúvida de que a relação jurídica existe, inc:erte;,a quanto à sua natureza: compra e venda a prazo ou arrendamento s::::~;~;· p. 517-522; Dinamarco, Instituições, n. 889, p. 198-200; Theodoro Jr., Curso, n. 499, p. 583-584; ~~ Questões, p. 125-142; Moreira Pinto, Conteúdo, p. 116-121. EkiMdade,, P- 558, p. 46, 1994; Marinoni-Arenhart, Manual, 1 5.5.1, p. 424. Súmula 5TJ/18l :"t admissível ação declaratória, obter certeza quanto à exata interpretação de dâusula contratual~ lnadmitindo ação declaratória para possibilidade de o contrato produzir os efeitos pretendidos pela parte: InformatiVo 378/STJ: 3.• Turma, reL Castro Filho, ret. p/ acórdão Nancy Andrighi, j. 25,112008. 822 MANUAL DE DIREITO PROCESSUAL CIVIL ·VOLUME ÚNKo ~ Daniel Amorim Assumpçáo Neves mercantil? Empréstimo ou doação?) de uma relação jurídica de direito Não se confundindo com o conteúdo da sentença, seu efeito é a certeza gerada pela declaração contida na sentença. Note-se que conteúdo e efeito confundem, porque o conteúdo é o que está dentro, enquanto o efeito é aquuo'< se prÓjeta para fora do ato judicial; declaração e certeza jurídica, ev'tdent<emeJ são fenômenos diferentes. Por uma opção legislativa a sentença meramente declaratória só pode ter objeto uma relação jurídica, excepcionalmente admitindo-se que tenha como meros fatos na hipótese de declaração de autenticidade ou falsidade de do·cumé (art. 19, I!, do Novo CPC). Nesse caso, o objeto da sentença será o o documento ser falso ou autêntico, podendo ser proferida em açãoo l;~~i~~~~~~' em ação declaratória incidental (incidente de falsidade documental). F se tem admitido a sentença meramente declaratória de deveres, dil•eito1;, e obrigações referentes à relação juridica13 • No processo objetivo, a sent<,nç:a mente declaratória também não tem por objeto uma relação jurídica, Jinnitand• a interpretar o direito14• Para que exista interesse processual na obtenção de uma sentença declaratória é necessária a existência de uma crise de incerteza que, se não poderá acarretar algum dano ao autor. É necessário que a dúvida seja real, não se limitando a um isolado estado de incerteza subjetiva do autor. em dúvida social, que atinja terceiros e crie uma instabilidade na esfera de do autor, sendo a dúvida do autor possível, mas não necessária tampouco para isoladamente justificar uma sentença meramente declaratória15 • Felipe recebe a visita de uma desconhecida que afirma ter acabado de ter um filho seu. Felipe nunca esteve com aquela mulher, de forma que tem certeza de que o filho não é dele, mas como ela insiste perante terceiros que pertencem ao drculo social em que vive Felipe, passa a existir uma dúvida social a respeito da paternidade da criança que traz danos a ele. Mesmo com a certeza pessoal de que não é pai, para afastar a dúvida social surgida, poderá ingressar com demanda judicial e pleitear a declaração de inexistência da relação jurídica de paternidade por meio de sentença meramente declaratória. Toda sentença tem um elemento declaratório, considerando-se que, ao o réu ao cumprimento de uma prestação, ou ao criar, modificar ouextingu.ir relação jurídica, caberá ao juiz a declaração de que o direito material condenação ou a constituição efetivamente existe no caso concreto 16• Por a sentença de improcedência do pedido do autor será sempre uma sentença ratória, já que terá como conteúdo a declaração de inexistência do direito alegado pelo autor17 • 13 Dinamarco, Instituições, n. 906, p. 223; Neves, Ações, p. 450. 14 Neves, Açóes, p. 453. 15 Neves, AçOes, p. 477-482. 16 Greco Filho, Direito, v. 2, n. 56.1, p. 262; Moniz de Aragão, Sentença, p. 86; Didier-Braga-OiiVeira, Curso, p. 17 Theodoro Jr., Curso, n. 498, p. 583; Moniz de Aragão, Sentença, p. 85. Contra, Botelho de Mesquita, Cap. 23 • 823 Ainda que haja condições para a propositura de demanda constitutiva ou mclertat•ória, haverá interesse no ingresso de demanda objetivando uma sentença ,e:::;:;:~!~é,;\~clara1tória .. Considerando-se que tanto a sentença constitutiva quanto c-~ contêm um elemento declaratório, pode-se aplicar o brocardo popu- "quem pode mais pode menos': sendo a certeza jurídica um bem isoladamente pelo ordenamento processual. A certeza jurídica é bem da vida tutelável. ques1:ão de saber se a sentença meramente declaratória pode entregar ao autor a mais do que a certeza jurídica, derivada de uma suposta autorização de sua para a satisfação da obrigação inadimplida, é objeto de análise no Capítulo 44.3.1. Os efeitos da sentença declaratória são ex tunc, considerando-se que a declara- o son1e11te confirma jurisdicionalmente o que já existia; nada criando de novo a a certeza jurídica a respeito da relação jurídica que foi objeto da demanda18• a sentença de procedência na ação de investigação de paternidade que torna mas sim as relações sexuais que manteve com a mãe de seu filho, como é a sentença de procedência da ação de usucapião que torna o autor priet:ário, e sim o preenchimento dos requisitos legais. A exceção fica por conta 27 da Lei 9.868/1999, que permite ao Supremo Tribunal Federal modificar natural da decisão de procedência na ação declaratória de inconstitucio- (instituto denominado de modulação ou limitação temporal dos efeitos da de inconstitucionalidade), tendo em vista razões de segurança jurídica ou Xe<:pciOilal interesse social. termos do dispositivo legal, além da tradicional eficácia ex tunc, a de inconstitucionalidade poderá ser modulada de três diferentes (a) ex tunc restritiva, com uma limitação temporal da retroatividade da declaração; (b) ex nunc, a partir do trânsito em julgado (efeito tpectivo); e (c) eficácia projetada para o futuro, condicionando-se a geração a um limite temporal escolhido pelo tribunal ou mesmo a um ato praticado supervenientemente (declaração de inconstitucionalidade sem da nulidade). modulação dos efeitos da declaração de inconstitucionalidade se justifica de segurança jurídica ou de excepcional interesse social, dependendo da lifestatçáo de maioria de dois terços dos membros do Supremo Tribunal Federal. tcepciorralid21de de decisão judicial de inconstitucionalidade de efeitos límitados se presta a preservar relevantes princípios constitucionais, revestidos de importância sistêmica. da omissão da decisão quanto à modulação dos efeitos da declaração de LSt;~~~~~;,;~d~d:; há presunção de que a eficácia segue a regra, ou seja, ex tunc. ~ é apenas relativa (torna~se absoluta somente com o trânsito em de forma que o tribunal poderá ser provocado por meio dos embargos de para que se manifeste expressamente a respeito da eficácia da declaração Instituições, n. 909, p. 227. 824 MANUAL DE DIREITO PROCESSUAL CIVIL • VOWME ÚN<Co- Daniel Amorim Assumpçõo Neves Registre-se, por fim, que a tese da modulação dos efeito·ss~d~a:t;~~:~~~~~~~ inconstitucionalidade já foi aplicada em controle incidental de c no julgamento de recurso extraordinário 19• 23.2.1.3. Sentença constitutiva O conteúdo da sentença constitutiva é a criação (positiva)7 extinção (neg''ti''" modificação (modificativa) de wna relação jurídica, enquanto o efeito dessa é a alteração da situação jurídica, necessariamente com a criação de uma jurídica diferente da existente antes de sua prolação, com todas as co:nS<:qu~1 advindas dessa alteração20• Fala-se em sentença constitutiva positiva e constitutiva e desconstitutiva. Uma sentença de procedência na demanda de tem como conteúdo a extinção do laço conjugal e o efeito de modificar o civil das partes, que de casadas passarão a divorciadas. A possibilidade de sarem com outras pessoas certamente não é um reflexo do conteúdo da mas sim de seus efeitos. As sentenças constitutivas podem ser divididas em dois grupos; facultativas. É natural que todas as sentenças constitutivas - como a declaratória e a condenatória - sejam no caso concreto necessárias, porq1ae interesse de agir não se chegará ao julgamento de mérito. A distinção tretanto, não leva em conta o caso concreto, mas a possibilidade abstrata a situação jurídica sem a necessária intervenção do Poder Judiciário. Será necessária a sentença constitutiva sempre que a única forma de alteração da situação jurídica pretendida pelas partes for por meio da jurisdicional (ações constitutivas necessárias; por exemplo, anulação de situação inclusive que dispensa o conflito de interesse entre as partes. A facultativa só existirá se houver a lide clássica no caso concreto, porque não seria necessária a intervenção jurisdicional. Como há um conflito de entre as partes e a autotutela é reservada a situações excepcionais, faz-se a intervenção do Poder Judiciário no caso concreto, mas abstratamente seria a alteração da situação jurídica das partes mediante um acordo de vo.ntaLdl} elas (por exemplo, rescisão contratual)21 < A sentença constitutiva tem efeitos ex nunc, considerando-se que dela que a situação jurídica será efetivamente alterada. As partes só são divorciadas após a sentença de procedência que extingue a relação co:nju:gal também só se. considera rescindido um contrato após a sentença que relação jurídica contratual. A lei, entretanto, poderá pontualmente mc•di(iç regra, apontando expressamente para a exístência de efeitos ex tunc, nas demandas que tenham como objeto a anulação de atos jurídicos22• ·~ STF, Segunda Turma, RE 553123 AgR-ED/RJ, rei. Mín. Joaquim Barbosa, j. 19.08.2008, DJe 18.12.2008. , Theodoro Jr., Curso, n. 500, p. 584. 21 Dinamarco, Instituições, n. 923, p. 250; Moniz de Aragão, Senrença, p. 87. 22 Dinamarco, Instituições, n. 927, p. 256; Didier-Braga-Oliveira, curso, p. 329. Cap. 23 • SENTENÇA 825 Sentença condenatória considerável amparo na doutrina italiana, parte significativa da doutrina entende que a sentença condenatória é formada por dois momentos lógicos: declaração da existência do direito do autor; criação de condições para que sejam praticados atos materiais de execução, o que se justificaria em razão da aplicação de uma sanção executiva23• definição, entretanto, parece confundir o conteúdo com o efeito da sentença devendo ser analisada com muita atenção. conteúdo da sentença condenatória, além da indispensável declaração de exis- direito material, é a imputação ao réu do cumprimento de uma prestação não fazer, entregar coisa ou pagar quantia certa, com o objetivo de resolver de inadimplemento24• O efeito é a criação de um título executivo, o a prática de atos executivos voltados ao efetivo cumprimento dessa com a consequente satisfação do autor. foi adotada a teoria ternária, pouco importa quais sejam esses atos execu- exe:cuçãc direta ou indireta - e como se desenvolvem - processo de execução, )tediJme:ntal ou cumprimento de ordem judicial - porque os efeitos da sentença em uma classificação que adota como critério o conteúdo da sentença. Sentença executiva lato sensu é pacífico na doutrina pátria o conceito de sentença executiva lato sensu, inclusive crítica quanto à tradicional nomenclatura, preferindo parcela da chamar tais sentenças de sentenças executivas, considerando-sea inexistên- '~,~:~,~~:~,á~e~x~;ecutivas stricto sensu25• Creditada ao jurista Pontes de Miranda, Jc da doutrina entende que essa sentença é assim denominada :l.isJpei!Sa o processo de execução subsequente para ser satisfeita, tratando-a sentença autoexecutável. >(anelo-se esse conceito, a diferença entre a sentença condenatória e a exe- sensu é a exigência ou dispensa de processo autônomo de execução26• visto por esse prisma, a distinção seja inútil levando-se em conta classificação proposta, considerando-se que a forma de satisfazer a respeito aos seus efeitos e não ao seu conteúdo. Daí a enorme dificul- intransponível - da doutrina que defende a teoría ternária a sentença executiva lato sensu como espécie autônoma da sentença, nside:radla simplesmente uma espécie de sentença condenatória. Instituições, n_ 911, p. 229-230; Theodoro Jr., Curso, n. 499, p. 583; Marinoni-Arenhart, Manual, n. 15.5.3, ,ffoeti,idrni' p. 524-525; Moniz de Aragão, Sentença, p. 88; Moreira Pinto, Conteúdos, p. 91-92; Câmara, i , Questões, p. 138. r5111,.,(U'>O, V. 2, n. 15, p. 24-25. 826 MANUAL DE DIREITO PROCESSUAL CIVIL • VolllM~ ÚNICO- Daniel Amorim Neves Lições contemporâneas, entretanto, buscam outra distinção entre condenatória e a executiva lato sensu, entendendo que a dispensa do prooossi tônomo de execução para a satisfação do direito não torna autornaticarrterM sentença condenatória em executiva lato sensu, até mesmo porque, fosse esse de distinção, o Novo Código de Processo Civil teria definitivamente igualado as espécies ao prever expressamente que a execução de pagar contra a Fa.ze11da blica e de alimentos fundadas em título executivo se processam por cumtJrimi'n sentença. Para essa corrente doutrinária, a existência de uma fase de ex·ectJÇiLo procedimento previsto em lei, inclusive com a previsão de urna defesa do executado - impugnação -, não é capaz de transformar a sentença coJodr'l)~ em sentença executiva lato sensu. Nesse entendimento doutrinário são substancialmente dois os fatores tinguem a sentença condenatória da executiva lato sensu27: (a) o direito material, uma vez que na sentença condenatória o direito é de crédito, -se o cumprimento de uma obrigação pecuniária, enquanto na sentença direito é real, buscando-se a retomada de coisa que está injustamente no executado. Nessa visão, a sentença condenatória retira algo do património do que até a sentença lá estava legitimamente, enquanto na sentença executiva bem que pertence ao exequente, estando injustamente com o executado; (b) a complexidade da fase de satisfação do direito, que na sentença executiva inclusive não estando prevista defesa ao executado, que deve exaurir a de suas matérias defensivas na fase de conhecimento, enquanto na serlte,nça tória isso não ocorre. Diante da ausência de previsão legal de ":,,~,:~~:~~~,:~ satisfação, a sentença executiva lato sensu se realiza pelos meios P entender adequados no caso concreto, tomando em conta as oar·ticul<lficladlesd concreto. 23.2. 7 .6. Sentença mandamental A sentença mandamental se caracteriza pela existência de uma ordem dirigida à pessoa ou órgão para que faça ou deixe de fazer algo, não se portanto, à condenação do réu28• O juiz na sentença mandamental ordena pratique determinado ato que somente a ele caberia praticar, não exístín•do atividade o caráter substitutivo característico da execução. A satisfação da mandamental é feita pelo cumprimento da ordem, não existindo processo de execução subsequente a ela visando tal satisfação.29 O juiz ordena e cumprimento da ordem, não havendo previsão de procedimento para que verifique concretamente. Poderá o juiz se valer de atos de pressão psicológica - execução como também de sanção civil (ato atentatório à dignidade da justiça, art. 77, IV, do Novo CPC) e penal (críme de desobediêncía), mas aínda 27 Marinoni-Arenhart, Manual, n. 15.4, p. 430-431. 28 Baptista da Silva, Curso, v. 2, n. 1.8, p. 351. •• STJ, 5.a Turma, AgRg no REsp 951.441/PR, ReJ. Min. Arnaldo Esteves Uma, j. 15.10.2009, DJe 16.11.2009. 30 Marinoni-Arenhart, Manual, n. 15.5.4, p. 429. '23 . 827 uma fase executiva, com a prática de atos materiais de execução. É diferente ;entertça executiva lato sensu porque esta, além de ser satisfeita pela prática de materiais, o que caracteriza um procedimento, ainda que não expressamente em lei, atinge o patrimônio do executado, enquanto a sentença mandamental a vontade do executado. Resolução de mérito Adotando-se a resolução de mérito como critério, as sentenças são divididas se11tenç,>s terminativas, que não resolvem o mérito (arL 485 do Novo CPC), e definitivas, que resolvem o mérito (art. 487 do Novo CPC). Observe-se mantida no Novo Código de Processo Civil a mudança efetuada pela Lei 40'" ~vvo, que substituiu o tenno "julgamento" por «resolução" no caput dos arts. do CPC/1973, modificação que não gerou repercussões práticas, dividindo a respeito da melhora ou piora no texto legaP1• Para os que elogiam a o legislador finalmente reconheceu a diferença entre as sentenças que efe- julgam o mérito da demanda, por meio da imposição da decisão do juiz, que simplesmente homologam um ato de autocomposição praticado pelas Para os críticos, resolução lembra instituto jurídico de direito administrativo, estranho ao direito processual civil. Como já afirmado, trata-se de discussão acadêmica, sem consequências práticas. Sentenças terminativas (art. 485 do Novo CPC) U. Indeferimento da petição inicial art. 485, I, do Novo CPC prevê que o indeferimento da petição inicial se meio de sentença terminativa. Atualmente, a norma é correta porque Código de Processo Civil a única hipótese de indeferimento da petição se dava por meio de sentença de mérito no CPC/1973 - prescrição e - passou a ser causa de julgamento liminar de improcedência. Dessa todas as causas de indeferimento da petição inicial estão previstas no art. Novo CPC. 1.2. Processo parado durante mais de um ano por negligi!ncia das partes é incomum que o processo fique parado por mais de um ano aguardando de um ato processual já determinado pelo órgão jurisdicional, por exemplo, de uma audiência. Também ocorre de a paralisação por mais de um de um longo período de conclusão dos autos ao juiz, com significati- oncnnen1:o dos prazos estabelecidos pelo art. 226 do Novo CPC. Não são essas tratadas pelo art. 485, I!, do Novo CPC, que exige que a paralisação a um ano seja resultado da negligência das partes. modificação Didier, Curso, p. 553-554. Critica Nery-Nery, Código, p, 502. 828 MANUAL DE DIREITO PROCESSUAL ((VIL ·VolUME ÚNiCO- Daniel Amorim Assumpção Neves O dispositivo é curioso, porque em razão da regra do impulso oficial que for possível caberá ao juiz de ofício dar andamento procedimental ao mesmo diante da negligência das partes. O impulso oficial, entretanto, limitações materiais intransponíveis quando a continuidade do processo de ato a ser praticado por uma das partes. Caso o ato deva ser praticado o dispositivo é inaplicável, porque este tem o prazo de 30 dias para nnorn,nvo. atos e diligências necessárias ao prosseguimento da demanda, conforme previsão do art. 485, II!, do Novo CPC. Resta a raríssima hipótese de caber dar andamento ao procedimento, o que torna o dispositivo legal no mimiOl<>·e mático, tendo pouca aplicação prática32• Outro entendimento possível é de dispositivo se aplique a situações em que não há necessidade de impulso por ser praticado por nenhuma das partes33• De qualquer forma, é irrelevante saber as razões pelas quais o processo vidamente paralisado por mais de um ano, tampouco poderá o autor evitar a ao afirmar que a paralisação indevida se deu por culpa do juízo ou da parte O mero transcurso do prazo legal é razão suficiente para a extinção do pn>c<OSSi Segundo a previsão do art. 485, § 1.", do Novo CPC, a parte negligente, sável pela indevida paralisação do processo por prazo superior a um ano que só podeser o réu), deve ser intimada pessoalmente para dar andamcer processo no prazo de 5 dias, condição indispensável para a extinção do Naturalmente essa decisão do juiz não dependerá de provocação do réu, · o responsável pela omissão que proporcionou a indevida paralisação pr·ooedi.meri Muitas vezes na praxe forense ocorre a intimação por publicação Oficial, na pessoa do advogado, porque muitas vezes essa forma de co.mtmii basta para despertar o advogado a retomar o andamento procedimental vendo resposta, entretanto, a intimação pessoal é indispensáveP6• O prazo não é peremptório, de forma que. sendo pedido o andamento do processo de vencido o prazo, mas antes de o juiz ter extinguido o processo sem mérito, a provocação será admitida e o processo prosseguirá. Segundo entendimento do Superior Tribunal de Justiça, nessa hipótese ção do processo, de responsabilidade de ambas as partes, não caberá cond•elll!Ç honorários advocatícios, diferentemente da extinção por abandono do autor, este deverá ser condenado a pagar honorários advocatícios ao réu37• 23.2.2.1.3. Abandono do processo O art. 485, III, do Novo CPC trata da causa de extinção do pnJce,ssc>< resolução do mérito conhecida como «abandono do processo': descrevendo a 3< Didier, Pressupostos, p. 332. 33 Adroaldo, Ensaios, n. 5, p. 372. ;.o Nery~Nery, Código, p. 502; Moniz de Aragão, Comentários, n. 504, p. 421-422. 's o·1namarco, Instituições, n. 836, p. 133. 36 STJ, 3.• Turma, AgRg no Ag 951.976/RJ, Rei. Min. Humberto Gomes de Barros, j. 19.12.2007, DJ 08.()2200!, 31 InformatiVO 452/STJ: 3.• Turma, REsp 435.681/ES, Rei. Min. Paulo dé'Tarso Sanseverino, j. 19.10.2010. Cap. 23 • 829 nandante que deixa de praticar atos ou cumprir diligências indispensáveis ao do processo por prazo superior a 30 dias. A doutrina majoritária enten- diferente do que ocorre com a extinção prevista pelo art. 485, II, do Novo extinção do processo ora tratada não é objetiva, devendo o juiz considerar concreto o real intuito do autor em abandonar o processo, de forma que a prática de ato após o transcurso do prazo de 30 dias38• será intimado nos termos do art. 485, § 1.0 , do Novo CPC, sendo a essa forma de extinção as considerações já feitas quanto à sentença art. 485, Il, do Novo CPC, e no caso de efetiva extinção do processo adtmado ao pagamento das despesas e honorários advocatícios (art. 485, § CPC). Mesmo quando a parte advoga em causa própria a intimação pessoal, não bastando a mera publicação no Díário Oficiaf39• 6. o do dispositivo ora comentado consagra o entendimento consolidado da Súmula 240/STJ ao prever que, após o oferecimento da con- extínção do processo, por abandono da causa pelo autor, depende de do réu. Antes da citação ou mesmo depois dela - no transcurso do da interposição e no caso de revelia -, a extinção poderá ser realizada A regra legal é afastada pelo Superior Tribunal de Justiça na hipótese da Fazenda Pública na execução fiscal não embargada, de forma for dado andamento ao processo no prazo de 30 dias, o processo por abandono de ofício; portanto, sem necessidade de requerimento (Íst:re--se entendimento do Superior Tribunal de Justiça no sentido de não ser intimação pessoal do autor nas hipóteses de emenda da petição inicial, que bastará a intimação do autor na pessoa de seu advogado42• aJ:gum'LS situações o abandono do processo pelo autor não gerará a extinção sem a resolução do mérito, como ocorre na demanda de inventário, .Jémt,tícla ao arquivo. Também ao cumprimento da sentença não se aplicará do Novo CPC, tendo o Novo Código de Processo Civil consagrado a prescrição intercorrente na execução no § 4o do art. 921, de forma do exequente, tanto no processo de execução como no cumprimento deva dar início à contagem do prazo prescricional e não à extinção do processo. r e:spéc:·ie de sentença e aquela mais rara, prevista pelo inciso anterior, têm prática para o surgimento do raro fenômeno processual da perempção § 3° do Novo CPC), porque a extinção por três vezes da mesma demanda em três processos diferentes deverá ser sempre pelo abandono do autor. medida para evitar o abuso do direito de ação. p. 502; Moniz de Aragão, Comentórios, n. 508, p. 424; Greco Filho, Direito, n. 17.2, p. 70, n. 316, p. 353. 3.~ Turma, rei. M!n. Massami Uyeda, REsp 1.094.308-RJ, j. 19.03.2009; Dinamarco, Instituições, n. Adroaldo, Ensaios, n. 5, p. 373. 549/STJ: 2." Turma, AgRg no REsp 1.450.799/RN, Rei. Min. Assusete Magalhães, j. 21.08.2014. 511/STJ: 3." Turma, REsp 1.286.262/ES, Rei. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, j. 18.12.2012. 830 MANUAL DE DIREITO PROCESSUAL CIVIL • VolUME ÚNICO- Daniel Amorim Am1mpçáo Neves 23.2.2.7.4. Ausência de pressupostos de constituição e de desenvolvimento e regular do processo O tema dos pressupostos processuais já foi analisado no Capítulo 3.3.3, sendo interessante relembrar que nem sempre a ausência de processuais será responsável pela extinção do processo. Existem também os postos processuais negativos, cuja ausência é o que se deseja, consid<,rando-; a presença de um deles é o que gera o vício que levará o processo à sua sem a resolução de mérito. Ocorre, entretanto, que o legislador preferiu espécie de pressuposto processual em outro inciso do art. 485, qual seJa o limitando-se o art. 485, IV, do Novo CPC ao tratamento dos pressupostos positivos. Nesse sentido, é correta a redação do texto legal ao indicar que a de pressupostos processuais leva à extinção do processo sem a resolução do Não se deve declarar a nulidade se o juiz tiver condições de julgar o em favor da parte, a qual aproveitaria a declaração da nulidade (art. 282, § Novo CPC). Essa lição é plenamente aplicável aos pressupostos processuais criados para tutelar o interesse das partes, de forma que, sendo a parte no mérito mesmo sem ter contado com essa proteção, não tem ucm>u>u a sentença terminatíva quando for possível julgar em seu favor. A c::;:~; estar em juízo dos incapazes por meio de representante processual é v proteção da parte, não sendo legítima a extinção do processo sem a mérito se o juiz perceber que a parte, mesmo sem a representação caso concreto, será vitoriosa se o mérito for julgado. Esse entendimento contraria uma antiga e sedimentada lição da dc•utri,tà nal: a análise dos pressupostos processuais antecede a análise de mérito. o vício na primeira análise, é impossível chegar à segunda. A proposta de da doutrina é admitir a inversão nessa ordem de análise, desde que o esteja pronto para o julgamento do mérito. É óbvio que o juiz não deve com processos nos quais perceba em seu nascedouro a ausência de um processual, hipótese em que deve intimar a parte para saneamento do extinção do processo sem resolução do mérito na hipótese de omissão Nessa situação, é óbvio que a análise dos pressupostos processuais precede de mérito; mas, transcorrendo todo o processo e percebendo-se no m>>rrt~n julgamento a ausência de um pressuposto processual, parece legítima a de que pode ser desprezado pelo juiz o vício se o pressuposto processual for voltado à proteção da parte que no julgamento do mérito se sagrará 23.2.2.1.5. Perempção, coisa julgada e litispendência O art. 485, V, do Novo CPC prevê a extinção do processo sem re,;oluc1 mérito quando o juiz reconhecer a existência de perempção, litispendência julgada. A redação do artigo legal não é feliz, porque as matérias tratadas positivo legal são de ordem pública, devendo ser reconhecidas de ofício •l Adroaldo, Ensaios, n. 7, p. 375; Didier, Pressupostos, p. 338. Cap, 23 • 831 se afirma é que, não só quando o juiz reconhecer a existência de perempção, >etld<!n<O>a ou coisa julgada haverá a sentença do inciso V do art. 485 do Novo também quando o juiz reconhecer tais matérias de ofício, ainda que essa seja rara, sendo difícil ao juiz reconhecer esses fenômenos processuais no , e<m<:re1to sem a alegação das partes. pere!Uf>Ção é fenômeno que evita o abuso no exercíciodo direito de deman- ,al'in:do a extinção do processo quando a mesma ação for proposta pela quarta sido os três processos anteriores extintos sem a resolução do mérito por bilateral (art. 485, li, do Novo CPC) ou unilateral do autor (art. 485, Ill, CPC). dos significados do termo "litispendêncíâ' - e que interessa à presente - é a existência de dois ou mais processos em trâmite com a mesma ação da tríplice identidade - mesmos elementos da ação). Interessante registrar na qual o Superior Tribunal de Justiça entende haver litispendência ainda sejam exatamente os mesmos elementos da ação. Tal excepcionalidade se na litispendência entre ação ordinária e m~ndado de segurança, considera- !lTin<l;ma ação, ainda que no mandado de segurança figure no polo passivo a coatora e na ação ordinária a pessoa jurídica de direito público ao qual :auwrlmtae pertence44• coisa julgada quando for repetida ação que já foi julgada no mérito por transitada em julgado em processo anteriormente proposto, sendo fenômeno analisado no Capítulo 25. Car~ncia da ação Capítulo 2, item 2.2.1. defendi a manutenção das condições da ação como processual autônoma no sistema processual pelo Novo CPC, de forma que sentido em deixar de me valer da expressão "carência de açãd', ainda que expressa no Novo CPC. As condições da ação - interesse de agir e legiti- de parte - devem ser analisadas no momento do julgamento da demanda, da sua propositura. Significa dizer que, presentes as condições da ação de propositura, se por fato superveniente desaparecer uma delas, será e:,exti,nção por carência superveniente de ação. Por outro lado, a ausência no pn>p•>sitUJca não leva o processo à extinção pela carência no caso de nJ>re:;en•tes as condições da ação no momento em que o juiz analisá-las45 , Convenção de arbitragem determina a Lei 9.307/1996, a convenção de arbitragem é um gênero, do ;LáUst<la compromissória (antes da formação da lide) e o compromisso arbitral de instaurada a lide) são espécies. A existência de qualquer uma das espécies 422/STJ: 1.• Turma, RMS 29.729·DF, rel. Min. Castro Meira, j. 09.02.2010. Jr., Curso, n. 320, p. 356; Nery-Nery, Código, p. 503; Yarshe\1, Açáo, n. 41, p. 133. 832 MANUAL DE DIREITO PROCESSUAl CIVIL • VoLUMt ÚNICO- Daniel Amorím Neves de convenção de arbitragem gera a extinção do processo sem a resolução do porque, havendo a opção pela arbitragem, a intervenção jurisdicional é in,de'•id Sendo o direito de ação disponível, também é disponível o direito de exercê-lo a jurisdição, não havendo na escolha da arbitragem pelas partes qualquer ofensa princípio da inafastabilidade da jurisdição (art. 5.", XXXV, da CF). Assim como as partes escolheram excluir a jurisdição, preferindo a arc,itr:•ge: como forma de solucionar o conflito de interesses em que estão envolvidos, é que também possam abrir mão da arbitragem já acordada. Significa dizer que, que exista uma convenção de arbitragem, nem sempre o processo será extinto sentença terminativa prevista no art. 485, VII, do Novo CPC, porque, se ambas as tes resolverem pela intervenção jurisdicional, naturalmente a convenção de art>itr,aoe. torna-se ineficaz. A extinção pela sentença terminativa analisada, portanto, depende o autor ignorar a convenção de arbitragem ao propor a demanda judicial e concordar com essa postura, indicando a existência da escolha prévia pela ar!Jitrag''lí O art. 485, VII, do Novo CPC prevê serem causas de extinção terminat:iva ô processo tanto a alegação de existência de convenção de arbitragem como o címento pelo juízo arbitral de sua competência. Significa dizer que, havendo arbitral reconhecendo sua competência, vinculado estará o juízo onde oorvent>i estiver tramitando o processo com o mesmo objeto. 23.2.2, 1 .8. Desistência da ação Desistir da ação é diferente de renunciar ao direito material alegado; a desistência diz respeito somente ao processo em que ocorre, o que permite autor voltar ao Poder Judiciário com idêntica demanda, a renúncia concerr•e'' direito material alegado, de forma que não se admitirá ao autor retornar ao Judiciário com demanda fundada em direito material que já foi objeto de Não por outra razão a sentença fundada em desistência é terminativa, pois solve o mérito (art. 485, VIII, do Novo CPC), enquanto a sentença que homo,lq a renúncia é definitiva, resolvendo o mérito da demanda e fazendo material (art. 487, III, "c'; do Novo CPC), Corrigindo erro do art. 267, § 4.", do CPC/1973, o mesmo par,ágrafo do Novo CPC prevê -que a anuência do réu como condição para a hom<)logação desistência só passa a ser exigida após o oferecimento da contestação. O di,;pc>Sit legal consagra consolidado entendimento jurisprudencial". Sem contestação do não é necessária sua anuência quanto ao pedido de desistência do autor47, sendo tendido que seu silêncio quanto ao pedido representa aceitação tácita da de,;istên'~' Nos termos do art. L040, § 3. 0 , do Novo CPC, o consentimento do réu do pedido de desistência do autor será excepcíonado quando ocorrer antes de ferida a sentença, se a questão nela discutida for idêntica à resolvida pelo 46 Nery-Nery, Código, p. 505. ~1 STJ, 5>• Turma, REsp 591.849/SP, Rei. Min.laurita Vaz, j. 10.08.2004, DJ 06.09.2004 . ., Informativo 499/STJ: 3.a Turma, REsp 1.036.070-SP, Rei. Min. Sidnei Beneti, j. 05.06.2012. Cap. 23 • SENTENÇA ser1tativco da controvérsia. Nesse caso o § 2° do mesmo dispositivo prevê que ficará isento do pagamento de custas e de honorários de sucumbência se do processo antes de oferecida a contestação. P-f~:~:~:~~,,~~l~ que a sentença de improcedência é mais favorável ao réu do :;~ terminativa, o Superior Tribunal de Justiça confirma o entendimen- após a apresentação de contestação, a desistência depende de anuência mas exige que a recusa do réu deva ser fundamentada e justificada, não apenas a simples alegação de discordância, sem a indicação de qualquer relevante49• Entendo que bastará ao réu expressamente consignar o óbvio, reconhecido pelo tribunal: a sentença de improcedência é mais favorável secnt<:nç:a terminativa. céQístre-seentendimento do Superior Tribunal de Justiça, que dispensa a anuên- na homologação de pedido de desistência do mandado de segurança50• -inter·es:sarlte entendimento do Superior Tribunal de Justiça é o que proíbe a da ação após a prolação da sentença, admitindo-se tão somente que as tran:sac:io:neJm a respeito do decidido51 • Esse entendimento é consagrado de (genéi·ica para todas as ações pelo § 5° do art. 485 do Novo CPC que prevê cs<llneJnte ser admissíVel o pedido de desistência apenas até a prolação da sentença. Direitos intransmissíveis .J.rncrso IX do art. 485 do Novo CPC prevê como causa de extinção termina- da parte em ação considerada intransmissível por disposição legal. Tal de extinção, portanto, não decorre somente da natureza do direito material mas também de um fato superveniente que exija para a continuação da a sucessão processual, o que não se admitirá no caso concreto em razão direito intransmissível. Hipótese frequente em demandas de família, como no qual o falecimento de um dos cônjuges durante a demanda exigirá a do processo sem resolução do mérito, sendo inviável que o polo em que o de cujus seja assumido por seus herdeiros ou sucessores. nt<,res5lm'te 'ques1:ão surge nas demandas indenizatórias em razão de dano moral. PJH:avel o art. 485, IX, do Novo CPC? Para a doutrina majoritária o direito de a dano moral é patrimonial. de forma que os sucessores do ofendido de sucedê-lo na demanda judicial. Esse também é o entendimento no Superior Tribunal de Justiça52• Para outra parcela doutrinária, o direito, patrimonial, é personalíssimo, porque somente o de cujus suportou o abalo qual pede reparação, não tendo sentido recompensar terceiros - ainda que 526/STJ: 3a TUrma, REsp 1.318.558-RS, Rei. Min. Nancy Andrighi, j. 04.06.2013. 394/STJ: 1." T., REsp 930.952-RJ, Rei. José Delgado, reL p/ acórdãoLuiz Fux, j. 12.05.2009. 425/STJ: 1.• Turma, REsp 1.115.161-RS, Rei. Min. Luiz Fux,j. 04.03.2010. 486/STJ: J.a Turma, REsp 1.071.158/RJ, ReL Min. Nancy Andrighi, j. 25.10.2011; Informativo 474/STJ: REsp Rei. Min. Nancy Andrighi,j. 02.05.2011; REsp 829.789/RJ, 2.•Turma, Rei. Min.Castro Meira,j. 05.09.2006, REsp 648191/RS, 4.a Turma, Rel. Min. Jorge Scartezzini, j. 09.11.2004, DJ 06.12.2004; REsp 324.886/ , Rei. Min. José Delgado, j. 21.06.2001, OJ 03.09.2001. 834 MANUAL DE DIREITO PROCESSUAL CIVIl • VowME ÚNICO- Daniel Amorim Assumpção Neve~ herdeiros e sucessores - que não tiveram qualquer abalo moral53 • Nesse caso, hav1 extinção do processo sem resolução do mérito fundada na hipótese ora analisai Concordo com o entendimento consagrado no Superior Tribunal de Jlí'St porque se o sofrimento típico do dano moral realmente é intransmissível. o m-e~ não se pode dizer do direito de ressarcimento em razão do ato ilícito, de natuÍ patrimonial e, portanto, suscetível de transmissão. 23.2.2. 7. 70. Repropositura da ação O Novo Código de Processo Civil inova no tratamento da reJor<>p<>sítuJcaj ação diante do trânsito em julgado de sentença terminativa. O mantém tradicional regra de que diante da extinção do processo por se11!e•nça'f! minativa transitada em julgado a parte poderá propor novamente a ação. entretanto, prevê cinco espécies de sentellça terminativa diante das quais só poderá repropor a ação se o vício que levou a tal decisão tiver sido (sanado): extinção por litispendência, indeferimento da petição inicial, de pressuposto processual, carência de ação e convenção de arbitragem. ciência de se exigir a correção do vício para a repropositura da ação, mesrnq,~j prevísão legal expressa no CPC/1973, já vinha sendo reconhecida pelo Tribunal de Justiça54• Pode-se questionar a razão da seletividade do art. 486, § 1°, do Novo que não contempla todas as hipóteses de sentença terminativa. Para pelo acerto ou erro da opção legislativa vale uma breve menção às hi]>ót:est,&tj[ii incluídas no dispositivo legal. No caso de abandono unilateral ou bilateral (art. 485, II e CPC), não existe qualquer vício a ser corrigido, tendo o processo sido não porque viciado, mas por inércia do autor ou de ambas as partes. tese de extinção por desistência do processo (art. 485, VIII, do Novo dá o mesmo fenômeno, porque nesse caso a extinção não decorreu de processo, mas de vontade expressa do autor. No caso de morte da parte considerada intransmissível (art. 485, IX, do Novo CPC), a re]pn,po>siturac impossível porque o falecido não tem capacidade de ser parte e os não tem legitimidade ativa. A sentença terminativa prevista no art. 485, V, do Novo CPC é a que mais atenção, já que somente a litispendência está prevista no art. 486, § Novo CPC. A litispendência que gerou a extinção terminativa do processo saparecer em decorrência da extinção superveniente da ação que gerou tal No caso de extinção por perempção e coisa julgada, o vício que levou a do processo não tem como ser corrigido, não tendo mesmo sentido tais de sentença terminativa constarem do dispositivo legal ora analisadd5 • Mas " STJ, 3.a Turma, AgRG no REsp 769.043/PR, Rei. Min. Humberto Gomes de Barros, j. Lo.03.2007, DJ >• STJ, 3a Turma, REsp 897.739/RS, rei. Mln. Massam"1 Uyeda, j. 05/05/2011, DJe 18/05/2011; Bedaque, 396-397. -'-' Didier Jr., Comentários, p. 695. Cap. 23 • SENTENÇA 835 descartar totalmente a repropositura no caso de extinção por coisa julgada, JSÍ<lerando-se a possibilidade de sua desconstituição superveniente56, por exemplo, rescisória. Nesse caso, embora ausente do rol do § 1 o do art. 486 do Novo será admissível a repropositura da ação. A opção do legislador de limitar a aplicabilidade do art. 486, § 1 ", do Novo CPC êtt:rnlinLadlasespécies de sentença terminativa foi, portanto, acertada. O dispositivo a extinções terminativas fundadas em vícios sanáveis, que inadmitem o .an>er•to do mérito57• Nesses casos, o saneamento do vício passa a ser condição a repropositura da ação. Essa nova realidade gera uma interessante situação quanto à sentença que o processo sem resolução do mérito por ilegitimidade de parte quando concreto versar sobre legitimidade ordinária. Nesse caso, o vício que gerou terminativa só pode ser sanado com a substítuição do sujeito apontado pà.rte ilegítima por aquele que é legitimado a participar do processo. Ocorre vez substituído um dos sujeitos que compunha a relação jurídica processual demanda, a segunda demanda já não será mais idêntica à primeira. A de parte, um dos elementos da demanda, afasta a existência da tríplice Significa dizer que a mera repetição nesse caso não será admitida58, o parcela da doutrina a concluir que a sentença se torna tão imutável quanto .sent<m\:a de mérito transitada em julgado, o que possibilitaria o ingresso de l'r•escisó·ria contra tal sentença. hipóteses como essa, embora a sentença terminativa não faça coisa julgada será cabível ação rescisória por expressa previsão do art. 966, § 2°, I, do A previsão é indispensável, sob pena de se criar sentenças terminativas i;1t~~~~~~~:!s e indiscutíveis que a própria sentença de mérito transitada em julgado. ;~~ para não se admitir a ação rescisória contra a sentença terminativa é a ausência de interesse de agir diante da possibilidade da repropositura Não havendo tal possibilidade, passa a existir o interesse de agir em regra e o cabimento de ação rescisória torna-se essencial para a preservação da do sistema. \e1:>stre..se que o mesmo não ocorre na legitimação extraordinária, quando poderá ser sanado sem a mudança da parte, como ocorre numa ação civil extínta por ilegitimidade ativa porque a associação ainda não completou de existência, sendo que decorrido esse prazo a mesma associação poderá com demanda idêntica à primeira. Sana-se o vício sem a necessidade de dos elementos da ação, ou seja, admite-se a nova propositura da ação. art. 486, § 2.0 , do Novo CPC mantém a regra de que, admitida a repro- a petição inicial só será despachada com a prova do pagamento ou do das custas e honorários advocatícios referentes ao processo extinto por r;;;;:;~;;;;;~Mitidieco, Novo, p. 488. 1.220; Dídler, Comentários, p. 696. Bueno, Manual, p. 349. 836 MANUAL DE DIREITO PROCESSUAL ClVIL • VowME ÚNICO- Daniel Amorlm Assumpção Neves 23.2.2.2. Sentenças definitivas (art. 487 do Novo CPC) O legislador prevê cinco espécies de sentenças de mérito no art. 487 do CPC, sendo que o elemento que as reúne é a decisão definitiva do conflito, zão da coisa julgada material. Nesse aspecto não existe nenhuma diferença diferentes espécies de sentença de mérito. Ocorre, entretanto, que somente delas o direito material alegado pelo autor é efetivamente analisado, sendo caso o pedido rejeitado ou acolhido dependendo da existência ou não do material Essa particularidade faz com que parcela da doutrina chame a prevista pelo art. 487, I, do Novo CPC, de sentença genuína de mérito ou de deira sentença de mérito. Existem também as sentenças homologatórias de mérito, nas chega a apreciar o direito material alegado pela parte, limitando-se a homr>logar declaração de vontade somente de uma das partes, como ocorre no re<:orlhr!CiJm, jurídico do pedido, que é um ato dispositivo do réu (art. 487, IJI, "á', e a renúncia, que é wn ato dispositivo do autor (art. 487, III, "c", do ou ao homologar um acordo de vontades das partes (art. 487, III, "b'; do CPC), sendo entendimento do Superior Tribunal de Justiça no sentido de que não está obrigado a homologar o negócio jurídico59• Por fim, a sentença que reconhece a prescrição ou decadência (art. 487> Novo CPC), na qual também não ocorre a análise de existência do direito do autor, limitando-se o juiz a reconhecer o transcurso do prazo para a da demanda, o que impedirá a resolução de mérito. Tanto as sentenças homologatórias como as que reconhecem a pnesc:rí1:~ decadência põem fim ao conflito de formadefinitiva, o que as torna se11tenç, mérito, mas, como o juiz não enfrenta o direito material alegado pelo consideradas falsas sentenças de mérito, ou ainda sentenças de Existe doutrina que entende ser a sentença que reconhece a prescrição e genuinamente de mérito, tratando-se de espécie de sentença de rejeição do do autor, mas por um fundamento específico, o transcurso temporal60• se leve em conta que nesse caso não existe análise da efetiva existência do material, suficiente para distingui-la da sentença de rejeição do pedido nnnnria dita, não vejo maiores problemas na solução apontada por essa parcela O art. 488 do Novo CPC prevê que, "desde que possível, o juiz mérito sempre que a decisão for favorável à parte a quem aproveitaria pronunciamento nos termos do art. 485". É a consagração de que as formais são menos importantes que a solução de mérito quando não para a parte, que, mesmo sendo prejudicada por tais imperfeições, tem se sagrar vitoriosa no mérito. Acredito que nenhum vencedor de demanda se tiver uma legitima defesa preliminar rejeitada, mesmo qUe rer:orlh<ecidam<!J:ll dada, desde que obtenha a vitória definitiva. O dispositivo, entretanto, não ao juiz desconsiderar as alegações preliminares ou os vícios evidentes que 59 Informativo 406/STJ: 2. 3 Turma, AgRg no REsp 1.090.695-MS, Rel. Min. Herman Benjamin, J. 08.09.2009. w Adroaldo, Ensaios, n. 3, p. 367. Cap. 23 . de ofício, aguardando o final do processo para verificar quem w<m<:ector da demanda e somente nesse momento decidir se as acolhe ou >hnena de violação clara ao princípio da economia processual. Serve apenas tm•çc•es em que a percepção de acolhimento da preliminar ou da existência ocorre em momento no qual o processo já esteja pronto para a imediata de mérito. Acolhimento ou rejeição do pedido ·!lf<>rnle já afirmado, a sentença proferida com amparo no art. 487, L do Novo " ,,.,.,« entre todas as espécies de sentença de mérito que se fundamenta na não do direito material alegado pelo autor. Na praxe forense é comum do termo procedência ou improcedência, o que não causa qualquer ""'>"•uo que se tenha a exata medida do que efetivamente está sendo julga- Não parece ser correto falar em procedência da ação, porque com esse termo será compreendido como a declaração de que o autor tem ação, nada afirmando a respeito de sua pretensão material. O adequado, é procedência ou improcedência do pedido, e não da açãd1 • uma consideração voltada ao fenômeno da confusão, forma de extinção prevista pelo Código Civil nos arts. 381 a 384. É representada pela em uma só pessoa das qualidades de credor e devedor, e, como não tem pessoa ser credora e devedora de si mesma, a obrigação será extinta. JUCLinal na qual o pai cobra dívida do filho, falecendo o primeiro e >se>gu•ncto o único herdeiro, haverá a confusão prevista no direito material. fe11Ô1neno ocorre quando sociedades que litigam por direito patrimonial quando uma adquire a outra. Comunhão do patrimônio de autor e réu era no CPC/1973 causa de · em opção legislativa que encontrava resistência em parte da defendia, por se tratar a confusão de instituto de direito material com kJ1l'oc:es:m;ús, uma extinção com julgamento do mérito, inclusive coro geração l;}uQg,tda material, considerando-se a extinção do litígio62• A tese de que a uma sentença de mérito parece ter prevalecido no Novo Código de já que a matéria foi excluída do rol de matérias que levam à extinção sem resolução de mérito. Reconhecimento jurídico do pedido •l1bmi:ssão é forma de solução alternativa de solução de conflitos, tratando-se espécies de autocomposição, conforme analisado no Capítulo 1, item ~o reconb,ecimento jurídico do pedido verifica-se a submissão processual, sempre que o réu expressamente concorda coro a pretensão do autor. nccJrdlância é ampla, atingindo lauto a causa de pedir quanto o pedido, de n. 328, p. 362. o.tma.:o,, n. 21, p. 395-396; Didier, Curso, p. 537. 838 MANUAL DE DIREITO PROCESSUAL CIVIL· VowME ÚNICO- Daniel Amorim Assumpção Neves forma que no reconhecimento jurídico do pedido o réu concorda com os fundamentos jurídicos alegados pelo autor e também com o pedido por ele Como se nota com facilidade, o reconhecimento jurídico do pedido é abrangente que a confissão, que atinge tão somente a matéria fática da No reconhecimento jurídico do pedido o juiz simplesmente homologa a do réu de que o autor se sagre vitorioso na demanda, nos termos de seu 23.2.2.2.3. Transação Na transação verifica-se um acordo de vontade das partes cOm sa<:rif1cíos: procos. Como já afirmado no Capítulo 1, item 1.2.2, a transação vem mente encorajada em razão da maior possibilidade de geração da justiça quando o conflito é resolvido por acordo entre as partes e não por uma impositiva do juiz. Mais uma vez não é o juiz que decide o conflito - como em todas as formas de autocomposição - limitando-se a homologar por acordo de vontade entre as partes. A sentença homologatória de transação não guarda relação com o processo, de forma que é admissível que o objeto da transação seja mais o da demanda, trazendo para a homologação do juiz matérias que não do processo. O mesmo fenômeno se aplica aos limites subjetivos da de1nruada a transação envolvendo terceiro (art. 515, § 2°, do Novo CPC). Trata-se de medida de economia processual e de oferecimento de solução da lide 23.2.2.2.4. Prescrição e decadência São de direito material os fenômenos jurídicos tratados no art. 487, Il, CPC, sendo tanto a prescrição quanto a decadência previstas no Código leis extravagantes de direito material. Referem-se a limitações temporais guição perante o Poder Judiciário de tutela de um direito material, com o de resguardar a segurança de situações jurídicas já estabelecidas. C<m:;iden•çcié: aprofundadas dos institutos jurídicos ora tratados ensejam necessariamente de direito material, o que não se encaixa nos limites do presente livro. 23.2.2.2.5. Renúncia A renúncia é um ato unilateral de vontade do autor consubstanciado na ção de um direito material que alega ter, sendo irrelevante no caso concreto a existência de tal direito. Dessa forma, ocorrendo renúncia do direito afirrtla<lõ autor, não há preocupação do juízo em descobrir se o direito objeto da efetivamente existe, bastando para a solução definitiva da lide a homologação do ato de vontade do autor. A atividade homologatória somente não oconcef caso concreto nas hipóteses de direitos que não admitem renúncia. Como é simples perceber, recaindo a renúncia sobre o direito material, o autor abre mão do direito material que alega ter, a renúncia decide de definitiva o conflito porque não haverá mais direito material que possa ser Cap. 23 • SENTENÇA 839 ensejar eventual conflito de interesses. Nesse aspecto é nítida a diferença entre ~púncia do direito material e desistência do processo, a primeira gerando efeitos rul:eriai·s e a segunda limitando-se a efeitos processuais. ELEMENTOS DA SENTENÇA índicar as partes que devem compor urna sentença genuína de mérito, do art. 489 do Novo CPC deve ser elogiado por consagrar entendimento )!!!:mano de que o relatório, a fundamentação e o dispositivo da sentença são os ,eternent<>s e não seus requisitos, conforme incorretamente previa o art. 458, do CPC/1973. Fríse-se que esses elementos da sentença somente são exigidos na genuína de mérito, não havendo o formalismo previsto pelo dispositivo legal ora nas falsas sentenças de mérito e nas sentenças terminativas. Essa realidade paJrcüt!mterrte reconhecida pelo art. 459 do CPC/1973 ao prever que a sentença poderia ter fundamentação concisa. O Novo Código de Processo Civil a disposição legal, mas isso não altera a possibilidade de uma sentença em seus aspectos intrínsecos nas hipóteses mencionadas. A permissão m,jaJnentaçilo sucinta naturalmente não contraria o art. 93, IX, da CF, de for- mesmo o juiz estando dispensado de elaborar uma sentença com relatório,~aJrnent;açilo e dispositivo, é indispensável que exteriorize suas razões de decidir. A maior ou menor extensão da fundamentação nas sentenças terminativas e sentenças de mérito dependerá do caso concreto. Nas falsas sentenças de uma sentença que homologa ato de composição tem como fundamento a mera a uma das alíneas do inciso III do art. 487 do Novo CPC. Já a sentença que o processo por prescríção e decadência depende de uma fundamentação i~cJb>lsta, sendo indispensável que o juiz especifique as razões que o levaram "S<>luçil<J. Nas sentenças terminativas, a técnica de mera remissão a díspositivo tarr1bé,m é aplicável, como ocorre, por exemplo, na hipótese de homologação esístência. E também nessas sentenças é possível exigir-se uma fundamentação "extensa, como, por exemplo, na extinção por carência da ação. Relatório 'Ü relatório é um resumo da demanda, no qual o juiz indicará uma breve suma do pedido; uma breve suma da defesa; e (d) a descrição dos principais atos praticados no processo. dizer que a razão de ser do relatório é demonstrar que o JUlZ conhecimento da demanda que está julgando. Ocorre, entretanto, que é !J\am,ent:e possível que o juiz, mesmo que não faça o relatório - seja porque ele seja porque o serventuário o elaborou -, tenha o pleno conhecimento da 840 MANUAL DE DlRElTO PROCESSUAL CIVIL • VOlUME ÚNICO - Daniel Amorim Assumpção Neves demanda exigido para um julgamento de qualidade. Tanto assim que nos Juizac Especiais o relatório é dispensado (art. 38 da Lei 9.099/1995), não se conhecen entendimento que afirme que nesses processos o juiz possa sentenciar sem te1 pleno conhecimento da demanda. Admite-se a elaboração de relatório per relationem, quando o juiz se reporto um relatório realizado em outra demanda, o que é possível em termos de senter em julgamento de demandas conexas quando julgadas em momentos diferentes ou ações incidentais. É mais comum ocorrer em acórdãos, com a utilização do relatóJ da sentença impugnada, além dos principais atos praticados depois da sentença& A ausência de relatório gera a nulidade da sentença, presumindo-se que o j1 ao deixar de realizar o relatório não tem o conhecimento pleno da demanda q está julgando. A doutrina majoritária entende tratar-se de nulidade absoluta64, co o que não concordo, porque só tem sentido anular a sentença se restar demonstra< concretamente o prejuízo, ou seja, que o juiz realmente não tinha o conhecimeri pleno da demanda. Trata-se, portanto, de nulidade relativa6S. Prova maior é a disperi de relatório nos Juizados Especiais (art. 38, caput, da Lei 9.099/95), o que demonst que a decisão pode ser válida mesmo sem esse elemento. Frise-se que, nesse c~S provavelmente o desconhecimento do juiz se mostrará por meio de fundamentaÇi inadequada ou insuficiente. r 23.3.2. Fundamentação A fundamentação da decisão é essencial, sendo inclusive um dos princíp!~ constitucionais já analisados no Capítulo 3, item 3.4.4. Sendo a sentença um ·~1 decisório de extrema importância no processo, é evidente que a fundamentação ~~ pode ser dispensada. Na fundamentação o juiz deve enfrentar todas as questões:J fato e de direito que sejam relevantes para a solução da demanda, justificand(j' conclusão a que chegará no dispositivo. São os porquês do ato decisório66, tanto -q~ só é possível afirmar justa ou injusta uma sentença analisando-se no caso conci~j sua fundamentaçãO. LJ A ausência de fundamentação é vício grave, mas não gera a inexistência juríd!! do ato, devendo ser tratado no plano da validade do ato judicial decisório, de forif que a sentença sem fundamentação é nula (nuüdade absoluta) 67• As duas funçõJ da motivação das decisões judiciais - inclusive e essencialmente a sentença --Sã tratadas no Capítulo 3, item 3.4.4. · O recurso adequado é a apelação com a alegação de error in procedendo trínseco, ainda que excepcionalmente possam se admitir os embargos de de<:Jar·aç~ com efeitos ínfringentes, tema tratado no Capítulo 73, item 73.7 .2. Sob a do CPC/1973, o Superior Tribunal de Justiça entendia que, sendo anulada 63 Dinamarco, Instituições, n. 1.222, p. 657. &> Moniz de Aragáo, Sentença, p. 97; Arruda Alvim, Manual, n. 297, p. 549; Scarpinel!a Bueno, Código, p. 1.389. 61 Araújo Cintra, Comentános, p. 275. 66 Moniz de Aragão, Sentença, p. 101. 61 Por todos, Monlz de Afagão, Sentença, p. 102. Cap, 23 . SENTENÇA 841 a sentença não fundamentada, o processo deveria retornar ao primeiro a prolação de uma nova sentença68• Parcela da doutrina entendia ser por analogia o art. 515, § 3.", do CPC/l973, de forma que o tribunal de anulasse a sentença e passasse imediatamente à prolação de uma nova da demanda, agora devidamente fundamentada69 • A divergência pelo art. L013, § 3°, IV, do Novo CPC, que prevê expressamente a da teoria da causa madura na hipótese de nulidade de sentença por falta Dispositivo dispositivo é a_condusão decisória da sentença, representando o comando da É a parte da sentença responsável pela geração de efeitos da decisão, ou seja, yü;po•sítivo que são gerados os efeitos práticos da sentença, transformando o fatos. O dispositivo é a conclusão do juiz que decorre da fundamentação, sentença na qual o julgador descreve suas razões de decidir, indicando os m•ent:os que justificam a opção tomada no dispositivo. é permitida a elaboração de dispositivo direto e indireto, ainda que espécie seja a forma mais segura de elaborar essa parte da sentença, eventuais obscuridades da decisão. No dispositivo direto, o juiz indica '@Si;f!fne:nte o bem da vida obtido pelo autor, enquanto no dispositivo indireto o o pedido do autor sem a indicação do bem da vida obtido, limitando-se gar p•roce<ieii!e o pedido e a fazer uma remissão à pretensão do autor70• Cibele ingressa com ação judlcia\ em virtude de dano material suportado por ato i!ícito praticado por Alarico, requerendo sua condenação ao paga- mento de R$ 10.000,00. Em caso de acolhimento do pedido de Cibele, o juiz sentenclante poderá optar pe\as duas técnicas de elaboração do dispositivo da sentença: valendo-se do dispositivo direto, acolhe o pedido e condena expressamente Alarico ao pagamento de R$ 10.000,00; valendo-se do dispo- sitivo indireto, acolhe o pedido nos termos da petição iniciaL ausência de dispositivo gera vício gravíssimo, até mesmo porque uma decisão dispos1ith'o não é propriamente uma decisão, porque nada decide. Trata-se nexístêJocia jurídica do ato judiciaF1, podendo tal vício ser alegado em sede ,mba:rg<>S de declaração em razão de omissão do órgão julgador ou por meio ?"'"l''"u. Tratando-se de inexistência jurídica é admissível a alegação do vício após o trânsito em julgado da decisão, por meio de ação meramente , REsp 86644S/MG, rei. Min. Francisco Falcão,j. 27.02.2007, OJ 16.042007; STJ, 1." Turma, REsp 684947/ . Min. José Delgado, j. 03.021005, DJ 18.04.2005. ,o,qu<<, Ape!.oçao, v. 7, n. 2.1, p. 450·451. Jr., Curso, n. 490, p. S68. 842 MANUAl DE DIREITO PROCESSUAl CIVJL · VOUJME ÚNICO - Daniel Amorim Assumpção Neves 23.3.4. Comentários gerais a respeito dos elementos da sentença Ainda que o art. 489 do Novo CPC estabeleça uma ordem entre os elementos da sentença, não existe nenhuma irregularidade na sentença nn,fedc a inversão dessa ordem72 • Por uma questão lógica, entretanto, a ser seguida, considerando-se que o relatório descreve o processo, a fu.ndan1€ demonstra as justificativas da decísão e o dispositivo é a conclusão raciocínio desenvolvido na fundamentação. Além da desnecessidade de seguir a ordem legal, o juiz na prolação da , não é obrigado a separar a decisão, com clara identificação dos seus di"J 'er,mt mentes. Alguns juízes indicam de forma bastante dara o início e o fim dos elementos, mas, sendo possível identificá-los no caso concreto, a ausência de não torna a decisão viciada. A melhor técnica, entretanto, é a elaboração da ça com a nítida separação entre os elementos descritos no art. 489do 23.4. SENTENÇA LfQUIDA Segundo o art. 491, caput, do Novo CPC, na ação relativa à obrigação quantia, ainda que formulado pedido genérico, a decisão definirá desde tensão da obrigação, o índice de correção monetária, a taxa de juros, o de ambos e a periodicidade da capitalização dos juros, se for o caso. norma mais completa, mas com praticamente o mesmo conteúdo daquela no art. 459, parágrafo único, do CPC/1973. A regra também é aplicável ao que alterar a sentença, nos termos do § 2.0 do art. 491 do Novo CPC. Os incisos do dispositivo legal trazem as exceções a essa sentença ilíquida quando não for possível determinar, de modo de.flrlitivo, tante devido ou a apuração do valor devido depender da produção de realização demorada ou excessivamente dispendiosa, assim reconhecida na Nesses casos, o § 1.0 do art. 491 do Novo CPC prevê que o processo se:gmirá a prolação da sentença para apuração do valor devido por liquidação. Os dois incisos do art. 491 do Novo CPC, ao versarem sobre a pc,ssibíl de o juiz proferir decisão de mérito ilíquida, preveem: quando não determinar, de modo deimitivo, o montante devido e quando a apuração devido depender da produção de prova de realização demorada ou Pxre.•;<i,m.n dispendiosa, assim reconhecida na sentença. No primeiro caso chega-se a um momento procedimental no qual o an está pronto para ser decidido por decisão definitiva, estando, portanto, para julgamento, mas o quantum debeatur não se encontra na mesma situação, nesse caso mais adequado se decidir a pretensão do autor, ainda que parciia!J:ri, deixando-se para um momento posterior a definição do valor devido. Errtend'o tal hipótese enquadra-se na situação em que o ato ilícito ainda encontra-se efeitos, de forma que o juiz ainda não consegue dimensionar o valor exato >l Moniz de Aragão, Sentença, p. 97-98; Costa Machado, Código, p. 467. Cap. 23 • SENTENÇA 843 do dano suportado pelo réu no momento em que já pode condenar o réu segundo caso é possível ao juiz decidir a pretensão por completo, mas por de economia processual e em prestígio à duração razoável do processo o decidir imediatamente o an debeatUr e postergar a produção de prova de demorada ou excessivamente dispendiosa para um momento posterior. A do dispositivo é de que é melhor decidir a pretensão parcialmente de forma a postergar a definição do an debeatur para o momento em que também () processo pronto para a resolução do quantum debeatur. pc,ssílvel que com a condenação a pagar do réu, ainda que ilíquida, as partes melhores condições para se autocompor, o que evitaría a realização de pro- complexa e demorada. Além disso, a sentença, mesmo que ilíquida, pode hipoteca judiciária prevista no art. 495 do Novo CPC e diminui a chance i'\.J·ibunal, em grau recursal, após longa, complexa e cara produção de prova, a sentença por considerar inexistente o an debeatur, o que tornaria inútil produzida73 • dos motivos que levaram o doutrinador a consagrar as de cabimento da decisão de mérito ilíquida, fica clara a divisão do jul- do mérito do processo: primeiro se decide o an debeatur e num segundo o quantum debeatur. PRINcfPIO DA CONGRU~NCIA Conceito ~<,gumd:o o art. 492, caput do Novo CPC, o juiz não pode conceder diferente do que for pedído pelo autor. Trata-se do princ~plo da congruência, tam- conhecido como princípio da correlação ou da adstrição. O dispositivo legal, é incompleto, porque os limites da sentença devem respeitar não só o mas também a causa de pedir e os sujeitos74 que participam do processo. É ser1teJ1ça que concede a mais ou diferente do que foi pedido, como também 1ulídacde na sentença fundada em causa de pedir não narrada pelo autor, na que atinge terceiros que não participaram do processo ou que não julga a relativamente a certos demandantes. :O Superior Tribunal de Justiça, inclusive, mesmo sem previsão expressa nes~ já reconheceu· a existência de sentenças ultra e extra causa petendi. 750 ~1encto, entretanto, merece um reparo. É materialmente impossível a existência sentença ultra causa petendi, porque não há como se quantificar a causa A causa de pedir que fundamenta a sentença pode ser diferente daquela pelo autor, mas nunca poderá ir além dela. E a correlação exigida nesse caso 4. ed. São Paulo, RT, 2016, p. 782. , Instituições, n. 948, p. 287-289; Scarpinella Bueno, Código, p. 1.399. ·Corte Especial, EREsp 1.284.814/PR, rei. Min. Napoleão Nunes Maia F!lho, j. 18.122013, DJe 06.022014. 844 MANUAL DE DIREITO PROCESSUAL CIVIL • VoLUM~ ÚNICO- Daniel Amorim Neves limita-se aos fatos jurídicos, porque na aplicação do fundamento jurídico de,ve'""''" adotados os brocardes iura novit cu ria (o juiz sabe o direito) e da mihi factum tibi ius (dá-me os fatos que te dou o Direito)16• Para significativa parcela doutrinária, o princípio da congruência é demrri:n do princípio dispositivo77. Sem afastar tal entendimento, em análise mais mim1cio nota-se que o princípio ora estudado é fundamentado em dois outros prin<:ípió§ inércia da jurisdição (princípio da jurisdição) e contraditório (princípio do p;~~~:~~~~ A inércia da jurisdição determina que o juízo só se movimenta quando pelo interessado, sendo que essa movimentação ocorre nos estritos limites do e causa de pedir elaborados pelo autor, bem como se limita aos sujeitos processualf!l Por outro lado, o réu limita sua defesa tomando por base a pretensão do autor, havendo sentido defender-se de pedido não elaborado, causa de pedir não na petição inicial, ou contra sujeito que não participa do processo. Uma proferida fora desses limites surpreenderá o réu, o que não se pode admitir respeito ao princípio do contraditório. Registre-se que uma ofensa ao princípio da congruência nem sempre sentará ofensa ao princípio do contraditório, bastando que o pedido ou a pedir levada em conta pelo juiz sem que tenha sido provocado a tanto, objeto de prévia discussão entre as partes. Ainda que seja improvável tal ocor:rên é possível imaginar um desvio das partes e do próprio juiz durante o pnlce:sso. tocante aos limites impostos pelo autor, de forma que não haverá nesse surpresa ao réu. O princípio da inércia, entretanto, será sempre desrespeitado de sentença que não respeite os limites traçados pelo princípio da congruiencia.: Marina ingressa com ação judidal objetivando a rescisão de contrato que mantém com Olga. Na exposição de fatos na petição inicial, narra que odes- cumprimento contratual de Olga ocasionou-lhe uma série de contratempos, inclusive a fazendo sofrer demasiadamente. Imagine-se que Olga, em sua contestação, passe a impugnar tal sofrimento, ainda que nitidamente essa parte da narrativa fática da petição inicial não faça parte da causa de pedir e em nada se relacione com o pedido de rescisão contratual. Por alguma razão Marina entra na discussão com Olga, e ambas produzem provas a respeito do alegado sofrimento da primeira, tudo sendo permitido pelo juiz. Note-se que, caso o juiz condene Olga ao pagamento de danos morais, certamente a sentença será extra petita, porque o pedido de Marina !imitava-se à rescisão contratual; mas, nesse caso, não terá ocorrido violação ao princípio do con- traditório, considerando-se que a matéria - danos morais - foi amplamente discutida por ambas as partes. Apesar de não verificar-se a violação ao prin- cípio do contraditório, naturalmente houve ofensa ao princípio da inércia da jurisdição, e por essa razão a sentença é nula. 76 STJ, 1• Turma, AgRg no REsp 1.120.968/MG, rei. Min. Sérgio Kukina, j. 26/08/2014, DJe 02/09/2014; STJ, 4•1'"'""· I no AREsp 281.594/SC, rei. Mln. Luis Felipe Salomão, j. 20/06/2013, OJe 27/06/2013; STJ, 2• Turma, REsp ES, rei. Min. Herman Benjamin, j. 11/12/2012, OJe 19/12/2012. 71 Nery-Nery, Código, p. 669; Costa Machado, Código, p. 468; Arruda Alvim, Manual, n. 301, p. 554. 7a Theodoro Jr., Curso, n. 493-b, p. 574; Arruda Alvim, Manual, n. 301, p. 554; Dinamarco, Instituições, n. 940, P- Cap. 23