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IDENTIFICAÇÃO HUMANA POSTMORTEM

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OLHARES PLURAIS – Revista Eletrônica Multidisciplinar, Vol. 1, Nº. 18, Ano 2018 ISSN 2176-9249 
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IDENTIFICAÇÃO HUMANA POST MORTEM 
 
 
Ana Paula Cavalcante Carneiro1 
 
 
Artigo submetido em: fev./2018 e aceito em jul./2018 
 
 
RESUMO 
 
A Identificação Humana é importante em todas as fases da vida, desde o nascimento, com a 
identificação dos recém-nascidos, ao longo da existência do indivíduo, na rotina do exercício 
de todos os direitos e obrigações pessoais e, até mesmo, após a morte, sendo necessário 
identificar o cadáver de pessoa desconhecida ou mesmo confirmar a identidade quando a 
mesma for apresentada, possibilitando à família a realização oportuna dos rituais fúnebres e 
busca por direitos associados ao falecimento. Este artigo pretende apresentar uma breve 
revisão da literatura relacionada à aplicabilidade e importância dos métodos de Identificação 
Humana post mortem, incluindo a necropapiloscopia, a Odontologia Legal e a comparação 
genética por DNA. 
 
Palavras-chave: Identificação Humana. Odontologia Legal. Impressões digitais. 
 
 
POST MORTEM HUMAN IDENTIFICATION 
 
ABSTRACT 
 
Human identification is important in all phases of life, from birth, with the identification of 
newborns, throughout the existence of the individual, in the routine of exercising all personal 
rights and obligations and even after death, it being necessary to identify the corpse of 
unknown person or even to confirm the identity when it is presented, enabling the family to 
carry out the funeral rituals and search for rights associated with the decease.This article 
intends to present a brief review of the literature related to the applicability and importance of 
the methods of Human Identification post mortem, including necropapiloscopy, Forensic 
Dentistry and genetic comparison by DNA. 
 
Keywords: Human Identification. Forensic Dentistry. Fingerprints. 
 
 
 
 
 
 
 
1 Professora de Medicina Legal do Curso de Direito da Seune. Perita odonto-legal do Instituro Médico Legal 
Estácio de Lima. Especialista em Odontologia Legal pela Associação Brasileira de Odontologia, secção Alagoas 
(ABO-AL). Mestre em Perícias Forenses pela Faculdade de Odontologia da Universidade Estadual de 
Pernambuco (FOP-UPE). E-mail: analegista@hotmail.com. 
 
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INTRODUÇÃO 
 
Cada ser humano tem uma identificação em vida, a qual pode ser verificada após a 
morte, tanto para o consolo da família, quanto para fins jurídicos (SILVA e OLIVEIRA, 
2008). Desta forma, algumas razões justificam a necessidade e a importância da identificação 
de restos mortais humanos: comumente, as investigações de assassinatos ou outras mortes 
suspeitas não podem iniciar-se até que as vítimas tenham sido positivamente identificadas; 
pessoas de muitas religiões não podem casar-se novamente, salvo em caso de comprovado 
falecimento de seus companheiros; o pagamento de pensões, seguros de vida e outros 
benefícios dependem da confirmação legal da morte; a identificação de indivíduos 
desaparecidos por longos períodos pode trazer alívio aos membros da família; por fim, há o 
dever da sociedade de preservar os direitos fundamentais, e a dignidade da pessoa humana se 
inicia com a premissa básica da identidade (PRETTY e SWEET, 2001). 
O valor da identificação atualmente é indiscutível: as relações sociais, bem como as 
exigências civis, administrativas, comerciais ou penais exigem essa comprovação (FRANÇA, 
2015). Dada sua relevância para a sociedade como um todo, desde épocas remotas, os homens 
buscam o estabelecimento ou a confirmação da identidade pelos mais diversos métodos. 
Qualquer processo comparativo de Identificação Humana basicamente baseia-se em 
três etapas: a) primeiro registro ou registro prévio, em que se dispõe de caracteres imutáveis 
do indivíduo que podem distingui-lo dos demais; b) segundo registro dos mesmos caracteres, 
feito posteriormente; c) comparação ou identificação propriamente dita onde os dois registros 
são confrontados, estabelecendo-se ou não a identidade (FRANÇA, 2015). 
A identificação de cadáveres de pessoas desconhecidas é importante do ponto de vista 
humanitário, por razões legais de sucessão de bens e direitos, bem como em relação aos 
seguros e pensões. Atualmente, várias técnicas de Identificação Humana estão disponíveis, 
tais como o estudo das impressões digitais, análise do perfil genético e a comparação de 
estruturas dentárias, porém, em algumas situações, o procedimento não se completa com 
sucesso devido à indisponibilidade de material para comparação (KROON et al., 2004). 
 
1 IDENTIDADE E IDENTIFICAÇÃO 
Figiniet al. (2003, p. 139), definem identidade como: “conjunto de sinais, propriedades 
e características que individualizam uma pessoa, entre muitos ou entre todos, tornando-a igual 
a si mesma e distinta das demais”. Consideram ainda que a identidade tem fundamento 
biológico na individualidade (unicidade, ou seja, conjunto de caracteres que torna o indivíduo 
 
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diferente de todos os outros) e na permanência (imutabilidade, ou seja, os caracteres mantêm-
se por toda a vida sem sofrer a ação modificadora de qualquer fator endógeno ou exógeno). 
“Se a identidade é qualidade ou atributo, identificação é sua determinação. (...) Pela 
identificação estabelece-se a identidade, faz-se um diagnóstico, qualifica-se, individualiza-se. 
É, pois, um processo, uma sucessão de atos.” (FÁVERO, 1966, p.62). Ou ainda, de maneira 
mais prática e objetiva, pode-se inferir que a identificação seria o processo através do qual se 
estabelece a identidade de uma pessoa. 
Vanrell (2012) refere os requisitos elementares para que um método de identificação 
seja considerado aplicável: unicidade ou individualidade (as características não se repetem, 
sendo únicas para cada indivíduo); imutabilidade (as características não se alteram por toda a 
existência do indivíduo); perenidade (as características resistem à ação do tempo); 
praticabilidade (condição que faz com que o método seja utilizado facilmente na rotina 
pericial) e classificabilidade (uma vez obtidas, as características são facilmente arquivadas e 
localizadas quando necessário). 
Torna-se também oportuna uma definição de Identificação Humana. De acordo com 
Figiniet al. (2003), Identificação Humana é a ciência que trata da obtenção, preservação e 
comparação de vestígios com padrões obtidos de um indivíduo. Assim, entende-se que a 
Identificação Humana, através da utilização de métodos científicos e auxiliares, tem como 
objetivo o estabelecimento da identidade individual. 
Importante ressaltar que a Declaração Universal dos Direitos Humanos,proclamada em 
1948 pela Assembleia Geral das Nações Unidas (ONU), prevê em seu artigo 6ºque todos os 
indivíduos têm direito ao reconhecimento, em todos os lugares, da sua personalidade jurídica 
e, de acordo com Espinheira (2015), dentre muitas implicações, este artigo também tem o 
significado de que todas as pessoas têm direito ao reconhecimento da sua identidade e de sua 
identificação individual, e, em nossa opinião, este direito não poderia ser negado aos falecidos 
e suas respectivas famílias. 
 
2 MÉTODOS DE IDENTIFICAÇÃO HUMANA POST MORTEM 
Nos casos periciais mais complexos, a Identificação Humana pode necessitar de uma 
abordagem multidisciplinar para que a identidade de vítimas fatais possa ser adequadamente 
estabelecida, resguardando os direitos dos familiares e aplicação da justiça (SILVA et al, 
2015). 
Em artigo sobre os procedimentos de Identificação Humana, utilizados pelas Forças de 
Defesa de Israel, Buchner (1985) pontua a necessidade da identificação de remanescentes 
humanos por
razões legais e sociais. Segundo o autor, existem vários métodos utilizados para 
 
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este fim e todos eles empregam um processo básico de comparação. Dessa forma, a 
identificação é dependente dos registros antemortem disponíveis, bem como do grau de 
preservação dos remanescentes cadavéricos. Este autor comenta ainda que um método 
frequentemente utilizado é o simples reconhecimento visual por parentes e amigos, ou ainda, 
através de roupas e objetos pessoais, sendo que ambos podem levar a inúmeros enganos. Na 
opinião do autor, o método mais fidedigno e preciso de identificação é através do estudo das 
impressões digitais. Caso este método não possa ser empregado, a avaliação odontológica 
torna-se de extrema importância para a identificação. Em casos de cadáveres mutilados, 
decompostos, queimados ou fragmentados, além dos recursos odontológicos, poderiam ser 
utilizados outros métodos como o estudo antropológico do esqueleto, contribuindo para a 
determinação da idade, sexo, raça e estatura do indivíduo. Vale ressaltar que Buchner não 
mencionava a possibilidade da comparação genética, ainda não utilizada na época de seu 
estudo. 
A International Criminal Police Investigation (INTERPOL, 2014), em manual para 
Identificação de Vítimas de Desastres (DVI) considera métodos de identificação primários e 
secundários. Os meios de identificação primários e mais confiáveis são as comparações de 
dados odontológicos, o estudo das impressões digitais e os perfis de ácido desoxirribonucléico 
(DNA). Entre os meios secundários incluem-se estudos de Antropologia Forense, a descrição 
pessoal e os dados médicos, assim como os objetos e vestes encontradas no corpo. Estes 
meios são circunstanciais e, geralmente, por si só não são suficientes para certificar a 
identificação. Os citados métodos secundários são conhecidos na rotina pericial como formas 
de reconhecimento e podem auxiliar o processo de identificação post mortem. 
Cattaneo et al (2006) recomendam que, mesmo em casos de corpos bem preservados, 
seja efetuada a identificação, com uma combinação de critérios que não dependam apenas do 
reconhecimento visual, trazendo maior confiabilidade e segurança aos procedimentos 
periciais. Em circunstâncias específicas, de fato, este reconhecimento poderia até mesmo ser 
invalidado pela condição emocional de parentes ou conhecidos, ou por alterações pós-morte 
iniciais. 
 
2.1 Identificação Papiloscópica 
Precedido pelos estudos de Marcelo Malphighi, Johanes Purkinje, Francis Galton e 
Richard Henry, Juan Vucetich, em 1891, desenvolveu, na Argentina, seu próprio sistema de 
identificação através das impressões digitais, método este mundialmente utilizado e 
reconhecido por sua praticidade e especificidade: o sistema dactiloscópico de Vucetich 
(VANRELL, 2012). França (2015) ensina que este notável processo de identificação foi 
 
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instituído oficialmente no Brasil em 1903, transformando-se no método exclusivo e mais 
eficiente da ciência da identidade, disputando, na atualidade, a primazia da excelência com os 
exames comparativos de perfil genético. França finaliza: 
pode-se dizer que o método de identificação pelo sistema dactiloscópico de Vucetich é 
um processo de grande valia e extraordinário efeito, porque ele apresenta os requisitos 
essenciais para um bom método: unicidade, praticabilidade, imutabilidade e 
classificabilidade. Só não apresenta o requisito da perenidade (2015, p. 94) 
 
A necropapiloscopia é a técnica de identificação de cadáveres que se utiliza das 
impressões digitais e constitui um método de individualização rápido e de baixo custo para o 
Estado. Infelizmente, as impressões digitais não permanecem indefinidamente intactas após a 
morte, o que limita a utilização desta técnica em algumas situações. Cadáveres esqueletizados, 
carbonizados, mutilados ou em estado avançado de putrefação não podem ser identificados 
pelas impressões digitais. Além disso, outra limitação seria a ausência de dados ante mortem 
(registro prévio) para comparação, ou seja, vítimas que ainda não possuem identidade civil ou 
mesmo registro criminal. 
Montenegro et al (2012) enfatizam que as impressões digitais são amplamente usadas 
nas identificações civis e criminais e que a identificação pela papiloscopia não deve ser 
desconsiderada ou vista como obsoleta na atualidade em face da disponibilidade de técnicas 
como a de identificação genética. Os mesmos autores relatam um caso pericial onde um corpo 
judicialmente exumado, após 11 meses de falecimento, para determinação da causa da morte e 
identificação, pode ser identificado pela necropapiloscopia uma vez que os dedos indicador, 
polegar e médio da mão esquerda estavam parcialmente preservados pelo fenômeno 
cadavérico da mumificação, fato que gerou economia para o serviço público e rapidez de 
resposta pericial. 
 
2.2 Identificação Odontológica 
A singularidade dos elementos dentários, em se tratando de Identificação Humana, se 
deve à notável resistência destes às situações que, em regra, ocasionam a destruição dos 
tecidos moles do corpo (BORBOREMA, 2009). Os tecidos dentais podem resistir a extremas 
condições de degradação, tais como: exposição a altas temperaturas, umidade e pressão 
excessivas. O alto conteúdo mineral destes tecidos, especialmente do esmalte, é responsável 
por sua dureza e resistência, tornando o exame odontológico uma componente chave para a 
identificação de corpos humanos (RAMENZONI e LINE, 2006). 
A Odontologia fornece dados importantíssimos para o processo de Identificação 
Humana post mortem. Considerando-se que um indivíduo adulto possui 32 peças dentárias, 
cada uma delas provê um elemento possível para comparação. Os tratamentos odontológicos 
 
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são procedimentos únicos e a quantidade de materiais restauradores disponíveis na atualidade 
constitui um sem número de combinações possíveis (RECALDE et al., 2017). 
As perícias odontolegais de Identificação Humana post mortemsão constantes nos 
serviços médico-legais. Neste sentido, existe a necessidade do suporte dado pelos demais 
profissionais da área odontológica, através das informações contidas nos prontuários clínicos 
dos pacientes. Para que o perito odontolegal possa proceder à identificação dos cadáveres 
desconhecidos que dão entrada nos institutos de Medicina Legal, é imprescindível a existência 
de registros odontológicos prévios para comparação. 
Neste contexto, a comparação de dados odontológicos apresenta-se como uma 
alternativa científica válida nos casos em que a necropapiloscopia não pode ser realizada (pela 
situação dos remanescentes cadavéricos ou por falta de dados ante mortem), além do que, o 
resultado é rápido e o procedimento de baixo custo. Porém a viabilização da identificação 
odontolegal depende dos dados contidos nos prontuários odontológicos.O estabelecimento da 
identidade do indivíduo é possível por meio da comparação entre os caracteres dentários, 
registrados em vida nos prontuários odontológicos, e dados obtidos após a morte. 
O exame odontolegal é importantíssimo, uma vez que são inúmeras as possíveis 
combinações de restaurações e cáries que podem envolver 160 superfícies dentárias, além das 
próteses e exodontias (SOPHER, 1972). Desta forma, a Odontologia Legal, utilizando-se de 
uma abordagem metódica que inclui o exame post mortem, a investigação ante mortem e a 
comparação, tem proporcionado identificações precisas tanto em casos isolados, bem como 
nos desastres de massa (ROTHWELL, 2001). 
 
2.3 Identificação Genética 
Atualmente, outra técnica mundialmente difundida para a Identificação
Humana é a 
que utiliza a impressão genética do ácido desoxirribonucléico (DNA). Os padrões genéticos 
são individuais e transmitidos dos ascendentes aos descendentes, permitindo a identificação 
pessoal através de comparação com amostras biológicas próprias (no caso de identificação de 
criminosos) ou de possíveis parentes (nos casos de identificação de cadáveres ou investigação 
de paternidade e maternidade). 
O método de identificação pelo DNA foi desenvolvido na década de 80 pelo 
geneticista britânico Alec Jeffreys e as primeiras publicações ocorreram na revista Nature em 
1985(JEFFREYS et al., 1985 e JEFFREYS et al., 1985). No ano seguinte, Jeffreys utilizou a 
técnica para auxiliar as autoridades policiais na resolução de dois casos de estupro seguidos 
de assassinato, ocorrido sem Leicestershire, na Inglaterra, através da comparação genética 
entre o esperma encontrado no corpo das vítimas e amostras de sangue coletadas de possíveis 
 
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suspeitos. Desde então, a descoberta do polimorfismo genético tem sido uma poderosa 
ferramenta em exames de Identificação Humana. 
Espinheira (2015, p.74) pontua que “a identificação genética de um indivíduo 
desconhecido só tem lugar quando nenhum outro método científico de identificação 
individual permitiu a identificação positiva”. Em casos de cadáveres em avançado estágio de 
putrefação, esqueletizados, em remanescentes humanos, em cadáveres de morte recente que 
apresentem mutilações (particularmente mutilações faciais) ou indocumentados, de acordo 
com orientações e consenso internacionais, a identificação individual médico-legal deve ser 
realizada sempre que possível utilizando-se de impressões digitais ou de informações 
dentárias, porém, quando nenhum destes métodos possibilita a identificação, a genética 
forense é chamada a intervir (ESPINHEIRA, 2015). 
Recalde et al. (2017) reiteram que a Genética é um excelente método de identificação, 
no entanto, representa um custo elevado e apresenta longo tempo de processamento. Apesar 
dos métodos utilizados pela Genética Forense serem muito mais laboriosos e dispendiosos em 
relação à necropapiloscopia e à Odontologia, implicam também na existência de dados 
anteriores para comparação. A identificação genética individual demanda a existência de uma 
amostra de referência do suposto indivíduo, previamente coletada e identificada, ou, 
alternativamente, na existência de ascendentes, descendentes ou outras pessoas com 
parentesco biológico com o mesmo (ESPINHEIRA, 2015). 
Porém, apesar da aplicabilidade e eficiência, alguns fatores reduzem o poder deste 
exame. No cadáver, o DNA presente nos tecidos moles se degrada muito rapidamente. Outro 
problema comum é a presença de substâncias inibidoras da análise. Agentes exógenos, como 
presença de microorganismos, umidade e muitos compostos orgânicos, aos quais os cadáveres 
estejam expostos, também reduzem a quantidade de DNA informativo disponível 
(IWAMURA et al., 2004). 
 
CONCLUSÃO 
 
 Não há dúvida de que a identificação post mortem tem uma importância singular em 
nossa sociedade. A identificação de falecidos protege a dignidade da pessoa humana, que não 
pode ser negada nem mesmo após a morte, e resguarda os direitos dos familiares, tanto no que 
se referem aos direitos jurídicos de sucessões, pensões e seguros, bem como o direito ao luto. 
Todos os métodos científicos disponíveis dão contributo favorável em situações específicas e 
podem ter limitações relacionadas ao estado de conservação do cadáver, ou mesmo às fontes 
de dados utilizadas para a comparação. 
 
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O estado de conservação do corpo pode ser decisivo para a efetividade da 
identificação pelas impressões digitais, porém, em relação ao requisito da praticabilidade, a 
necropapiloscopia é prática, efetiva e apresenta resultados rapidamente, dando celeridade ao 
processo.Além disso, o avanço das técnicas pode superar as limitações e permitir a coleta de 
impressões digitais após um tempo longo de morte, quando da ocorrência de fenômenos 
conservadores do cadáver. 
Em se tratando do requisito de classificabilidade, a Odontologia encontra um grande 
obstáculo uma vez que não existem bancos de dados disponíveis com informações 
odontológicas ante mortem da população. Estas informações apenas estão disponíveis quando 
os cirurgiões-dentistas clínicos elaboram e arquivam os prontuários odontológicos de seus 
pacientes. 
Apesar da perenidade das características dentárias, traduzida na grande resistência dos 
tecidos dentários e materiais odontológicos a condições ambientais extremas, tal qual a ação 
destrutiva do fogo, por exemplo, os registros ante mortem são essenciais para a identificação 
odontolegal. 
A despeito do custo operacional elevado e considerável demora na resposta pericial, 
quando comparada aos outros métodos, a identificação genética tem a vantagem peculiar de 
não apresentar dificuldades quanto aos dados para comparação uma vez que os familiares 
próximos podem, sem dificuldade, fornecer amostras biológicas, exceto em casos pontuais de 
vítimas sem parentes conhecidos. 
Para finalizar, reiteramos que a Identificação Humana post mortem é rotineira na 
prática pericial e muitas vezes necessita de uma abordagem multidiciplinar utilizando os 
recursos disponíveis, tanto científicos, como auxiliares, preservando direitos e garantindo 
segurança à família do falecido e à sociedade como um todo. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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