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CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 1 Controladoria e Auditoria Aula 4 Prof. Luiz Eduardo Lanzini CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 2 Conversa inicial Neste estudo, vamos entender como o Orçamento Empresarial pode ser um instrumento utilizado pelos gestores para unificar as diversas áreas da empresa e orientá-las para a mesma estratégia. Também serão verificadas as principais demonstrações financeiras e como é possível analisar a empresa a partir de indicadores financeiros extraídos a partir destas estruturas. Finalmente, será apresentado um modelo ou critérios para se elaborar um relatório a partir das análises e conclusões levantadas para a devida tomada de decisão. Contextualizando Este estudo abordará os conceitos e as técnicas de projeções de demonstrações financeiras como uma importante ferramenta para o orçamento empresarial. Os conceitos abordados são amplos e se aplicam a várias situações relacionadas ao processo de análise. As projeções exigem uma visão genérica das necessidades da empresa. Se verificarmos as principais dificuldades dos gestores de negócios atualmente, percebemos que a gestão dos recursos operacionais da empresa é uma permanente dificuldade. A gestão de caixa, dos estoques e dos valores a receber disponível da empresa, assim como os compromissos com fornecedores são atividades que constantemente ocupam o planejamento dos administradores. Nessa situação é que se faz necessário entender algumas movimentações para incluí-las nos planos orçamentários. Sendo assim, como avaliar empresas e como demonstrar as informações levantadas? Vamos ver adiante. Tema 01: Orçamento Empresarial A origem da palavra orçamento, na língua inglesa, remete ao ato simbólico, a partir da constituição de 1689 na Inglaterra, do primeiro ministro levar ao parlamento em uma bolsa de couro – “budget” – à previsão dos gastos CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 3 anual de seu governo. A partir de 1800 foi incorporada a palavra “budget” ao dicionário inglês com o significado de orçamento (CARNEIRO e MATIAS, 2012). Nas empresas privadas tem-se o primeiro registro por volta do ano de 1920, na empresa “Dupont”. Os seus controles financeiros desenvolvidos, baseados inclusive em modelos econômicos e estatísticos, são aplicados posteriormente na “General Motors Corporation” (GM), então emergente e posteriormente uma das mais importantes organizações do século XX, conforme descreveu seu principal executivo Alfred P. Sloan Jr. O orçamento empresarial não deve ser entendido como instrumento limitador e controlador de gastos, mas sim como uma forma de focalizar a atenção nos processos e também nas finanças da empresa. Dessa forma, o orçamento torna-se um instrumento que formaliza as metas e objetivos e funciona como uma orientação para comunicar “de onde” e “para onde” a empresa deveria caminhar e permite traçar o horizonte de curto, médio e longo prazo (FREZATTI, 2009). Assim, também deve ser entendido como uma sinalização das metas e objetivos que necessitem de cuidado por parte dos gestores, contribuindo para a tomada de decisões com vistas ao cumprimento das orientações estratégicas das empresas. Nesse sentido, o planejamento é a essência da gestão empresarial para as pequenas empresas, grandes corporações, órgãos governamentais, organizações sem fins lucrativos ou simplesmente para a vida pessoal das pessoas. De alguma forma, os gestores realizam algum planejamento em determinados momentos. Pode-se perceber também que esses planos nem sempre são formalizados ou que às vezes cumprem somente um procedimento burocrático de determinada instituição. Com o crescimento das atividades empresariais e a necessidade de se otimizar os recursos disponíveis, os planejamentos informais deixam de ser CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 4 suficientes, tornando-se necessário um planejamento formal. Também é preciso planejar as diretrizes, as estratégias, as metas, os objetivos e as ações que garantam a continuidade e o aumento da riqueza das organizações. Por esse entendimento é que são considerados os benefícios que o orçamento representa para a gestão empresarial. A sua relação entre o planejamento estratégico e também os procedimentos de controle o tornam uma ferramenta que pode estar presente no chamado ciclo administrativo ou funções administrativas, a saber: Planejar: definir metas/objetivos (estratégicos, táticos e operacionais) e o meio mais adequado para alcançá-los, como planos de ação, procedimentos, orçamentos, programas, normas e regulamentos. Organizar: organizar, estruturar e integrar os recursos e os diversos setores envolvidos, incluindo objetivos, estrutura, departamentos, cargos e tarefas especializadas. Dirigir: dar instruções sobre como devem ser executadas as atividades previstas para a obtenção dos objetivos/metas estabelecidos, considerando a estrutura e a hierarquia da organização. Controlar: avaliar os resultados obtidos na busca pela máxima aproximação ao que foi planejado, exigindo critérios de avaliação, medidas corretivas, de manutenção, coercitivas ou de regulação. Planejar Organizar Dirigir Controlar CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 5 O orçamento pode ser considerado o elo entre essas funções. A ideia ou percepção de ciclo remete à continuidade permanente dessas funções. A sequência ideal sugere que as ações de organizar e dirigir são precedidas pelo planejamento, e as suas consequências sendo monitoradas por instrumentos de controle. A avaliação dos resultados apresentados nesses instrumentos orienta o início (planejamento) do novo ciclo. Saiba mais: Os controles financeiros foram mencionados por Alfred P. Sloan Jr em sua narrativa como CEO da General Motors Company no livro My Years with General Motors de 1963. Como principal executivo dessa importante organização, Sloan acreditava que o principal objetivo estratégico da organização é o retorno sobre o capital investido. Tema 02: Demonstrativos Financeiros As demonstrações financeiras (ou contábeis) é a exposição resumida e ordenada de dados colhidos pela contabilidade. Ele objetiva relatar às pessoas que utilizam os dados contábeis os principais fatos registrados por aquele setor em determinado período (IUDÍCIBUS & MARION, 2004). Esses relatórios se distinguem em obrigatórios (exigidos por lei) e não obrigatórios (não exigidos por lei). As demonstrações financeiras de cada exercício devem ser publicadas com a indicação dos valores correspondentes das demonstrações do exercício anterior (IUDÍCIBUS & MARION, 2004). Segundo a deliberação n° 595 da Comissão dos Valores Mobiliários (CVM) e propagação do Comitê de Pronunciamentos Contábeis (CPC 26), são demonstrações obrigatórias para as Sociedades por Ações (SA) elaborar e publicar, ao fim de cada exercício social, juntamente com a complementação por notas explicativas, as seguintes: Balanço Patrimonial (BP) Demonstração do Resultado do Exercício (DRE) Demonstração das Mutações do Patrimônio Líquido CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 6 Demonstração do Resultado Abrangente do Exercício Demonstração do Fluxo de Caixa Demonstração do Valor Adicionado Todas as demonstrações financeiras acima devem ser analisadas, embora seja dada mais ênfase às duas primeiras, uma vez que, através delas, é evidenciada de forma objetiva a situação financeira e econômica da empresa (identificada no BP e, em conjunto, na DRE). Referente ao período examinado são também definidos como sendo os demonstrativos ou insumos básicos para uma análise financeira. O balanço patrimonial é a demonstração que mostra todos osbens, direitos e obrigações da empresa em determinada data. Mostra apenas os fatos registráveis, conforme os princípios contábeis, ou seja, os fatos objetivamente mensuráveis em dinheiro. Conforme Iudícibus & Marion (2004) e Marion (2003), o balanço reflete a situação financeira/econômica em determinado período, normalmente no fim do ano de uma empresa e abarca o resultado obtido na demonstração do resultado. Outra forma simplificada de definir o balanço patrimonial é fornecida por Braga (1995) que diz que nele estão representados os saldos de todas as contas que integram o patrimônio da empresa em determinada momento. Pode-se definir o balanço patrimonial como uma fotografia da empresa tirada numa certa data em que aparecem os valores: de todos os bens e direitos (Ativo); de todas as dívidas e compromissos a pagar (Passivo); total de recursos pertencentes aos proprietários (Patrimônio Líquido). Por convenção, o balanço patrimonial é constituído de duas colunas, a coluna do lado esquerda é denominada Ativo (A) e representam as aplicações de recursos na empresa, a coluna do lado direito é denominado Passivo (P) e Patrimônio Líquido (PL) e apresentam as origens de recursos da empresa. De maneira geral, quando nós investigamos a origem dos recursos ou fonte de financiamento da empresa, estamos olhando para o lado “passivo” do CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 7 balanço. Quando procuramos os investimentos da empresa, estamos em buscando o “ativo” do balanço. No entendimento do gestor financeiro, existe no balanço o lado que demonstra a origem dos recursos, ou seja, quem está garantindo recursos para a empresa e outro lado que mostra onde estes recursos foram investidos. Duas premissas para a montagem do balanço são fundamentais para o gestor financeiro. A primeira diz respeito à convenção de apresentar as contas do balanço por ordem de liquidez, ou seja, as primeiras contas apresentadas são as contas disponíveis ou exigíveis pela sua ordem de vencimento ou prazo. A segunda é óbvia, porém muito negligenciada. Diz respeito ao equilíbrio que as contas do balanço devem apresentar. Assim, o valor do ativo total e também do passivo total mais os recursos próprios devem ser rigorosamente iguais. É fácil entender se você considerar que para cada real na origem dos recursos (financiamento), deve haver uma contrapartida nos investimentos. Uma função importante do balanço na gestão financeira é o controle do capital próprio dos sócios na empresa. É através do Balanço Patrimonial que identificamos o valor dos recursos próprios que financiam a empresa, fato nem sempre constatado pelo proprietário que faz retirada ou em momentos de necessidade socorrem a empresa com recursos não gerados pela atividade da empresa. A seguir, um modelo sintético de apresentação do Balanço Patrimonial Figura 3. Estrutura Sintética de Balanço Patrimonial. Fonte: CPC 26. ATIVO ATIVO CIRCULANTE ATIVO NÃO CIRCULANTE PASSIVO PASSIVO CIRCULANTE PASSIVO PERMAMENTE E RECURSOS PRÓPRIOS CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 8 Como já comentado, as contas são apresentadas pela ordem de liquidez. Também devemos considerar que a soma dos ativos deve ser igual a soma do passivo mais o patrimônio líquido. Em outras palavras: a soma dos investimentos é igual a soma das origens dos recursos ou fonte de financiamento. Esse financiamento pode ser de terceiros (passivo) e através de recursos próprios (patrimônio líquido). A Demonstração de Resultado do Exercício ou DRE é um resumo do movimento de certas entradas e saídas no balanço, entre duas datas. Por outro lado, Iudícibus & Marion (2004) definem a Demonstração do Resultado do Exercício de outra maneira, porém, sob o mesmo enfoque como sendo um resumo ordenado das receitas e despesas da empresa em determinado período (12 meses). É apresentada de forma dedutiva (vertical), ou seja, das receitas subtraem-se as despesas e, em seguida, indica-se o resultado (lucro ou prejuízo). Assaf Neto (2010) e Braga (1995) apresentam a DRE como sendo a demonstração que engloba as receitas, despesas, ganhos, e perdas do exercício social, apurados por regime de competência, independentes de seus recebimentos e pagamentos. Nessa demonstração é evidenciada a formação do lucro ou prejuízo do exercício social mediante a confrontação das receitas realizadas e das despesas incorridas (BRAGA, 1995). Para a tomada de decisão, segundo Iudícibus & Marion (2004), a DRE pode ser simples ou completa. Será simples quando não requeira dados pormenorizados como, por exemplo, para micro e pequenas empresas, e será completa (exigida por lei) quando fornece maiores detalhes de cada grupo de contas. A seguir, a estrutura legal da DRE: CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 9 Embora com algumas obrigatoriedades e recomendações para a publicação dos resultados, normalmente a escolha para o acompanhamento dos resultados é mensal. A Demonstração de Resultado do Exercício (DRE) também é um documento obrigatório da empresa e sua apuração se faz pela competência (mês a mês) dos seus documentos fiscais como, por exemplo, notas fiscais de vendas, notas de compras e outras despesas comprovadas. O planejamento financeiro de uma empresa é desenvolvido fundamentalmente através da projeção de suas demonstrações financeiras, como estimativa mais aproximada possível da posição econômico-financeira esperada (ASSAF NETO, 2010). Diante da visão prospectiva da posição financeira da empresa, observada na elaboração dos demonstrativos financeiros, torna-se mais fácil contornar dificuldades mediante a antecipação ou resolução destas. As demonstrações contábeis e demais informações destinadas aos investidores e aos diversos grupos de usuários interessados no desempenho da empresa, prestam grande contribuição na avaliação dos riscos e no (=) LUCRO OPERACIONAL (-) DESPESAS OPERACIONAIS (=) LUCRO BRUTO (-) CUSTOS MERCADORIA VENDIDA (=)RECEITA LÍQUIDA (-) DEDUÇÕES RECEITA BRUTA CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 10 potencial de retorno da empresa analisada. Assim, elas representam um canal de comunicação com os usuários internos e externos. Vale ressaltar que a transparência das informações aos interessados é parte de um contexto que envolve a esfera contábil e fiscal, mas também atinge uma dimensão ética. Nessa mesma linha, a análise financeira ou parecer sobre determinada condição empresarial também deve considerar outras abordagens como as condições do ambiente externo, onde aspectos relacionados à economia, fatores sociais entre outros impactam no desempenho organizacional. Tema 03: Análise Financeira A análise das demonstrações financeiras consiste no exame isolado das contas, na comparação de grupos de contas entre si ou em relação ao todo (BRAGA, 1995). Essas comparações podem ser feitas através de algumas técnicas de análise. A análise de balanços visa extrair informações das demonstrações financeiras para a tomada de decisões. A análise de balanços transforma os dados extraídos das demonstrações financeiras em informações. O grau de excelência é alcançado pela qualidade e extensão dessas informações. Relatórios escritos em linguagem corrente é o produto da análise de balanços, sendo que um bom relatório de análise de balanços é aquele que apresenta informações em vez de dados, segundo o mesmo autor. "A análise das demonstrações financeiras dedica-se à elaboração de Demonstrações das Origens dos Recursos e ao cálculo de Índices Financeiros, de modo a avaliar o desempenho passado, presente e projetado da empresa" (GITMAN, 2004). Segundo Assaf Neto (2010), a análise de demonstrações financeiras recorre a demonstrações primárias (BP e DRE), secundárias (Demonstração de Valor Adicionado, Demonstraçãode Fluxo de Caixa entre outros), a métodos de análise (horizontal e vertical), e a índices que são grandezas CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 11 construídas a partir dos números contidos nas demonstrações primárias – destinados a medir a posição financeira e os níveis de desempenho da empresa em diversos aspectos. Segundo o autor, a análise poderá ter várias finalidades, mas poderá referir-se ao passado, presente ou futuro em termos de situação e desempenho em relação a empresa em questão. Existe a possibilidade de aplicar métodos a demonstrações financeiras projetadas para o futuro, embora, os dados contábeis sejam registros de eventos já ocorridos. A análise das demonstrações financeiras pode ser aprofundada com o uso de técnicas adicionais, as quais são relacionadas abaixo: Análise Horizontal e Vertical Índices (Quocientes) Financeiros (ou Índices Financeiros e Econômicos) Análise da Taxa de Retorno sobre Investimento (Margem lucro x Giro do ativo) Os índices financeiros são apresentados como a técnica de análise mais conhecida e empregada, e são considerados como os melhores instrumentos para avaliar a saúde das empresas. Análise Horizontal e Análise Vertical Análise Horizontal é o acompanhamento da evolução de cada conta (item) de uma série de demonstrações financeiras ou índices em relação à anterior e/ou em relação a mais antiga das séries). Consequentemente, envolve o cálculo percentual de variação de cada conta considerada entre um ano (período) e outro, no caso do BP e DRE. Através da Análise Horizontal podemos relacionar a evolução ou variações das contas comparada a de outro, por exemplo: a evolução da mesma conta comparada aos concorrentes do mesmo ramo de atividade (ou mais próximos da empresa). Como também, podemos estudar (ou verificar modificações no) o comportamento das contas das demonstrações financeiras CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 12 ou índices, bem como investigar com mais profundidade as contas que mais se alteraram. Uma definição simplificada é a apresentada por Marion (2003) onde o autor define que a análise horizontal é a observação de uma sequência de um mesmo índice ou de uma sequência de valores de uma mesma conta, durante vários anos ou períodos. Essa análise é facilmente realizada estabelecendo o ano inicial da série analisada como índice básico 100 e expressando as cifras relativas aos anos posteriores, com relação ao índice básico 100. Isso quer dizer que é determinado igualando o primeiro valor ou índice do ano inicial a 100 e, através da regra de três simples, atribuir o crescimento percentual. A análise Vertical baseia-se em valores percentuais entre contas pertencentes a mesma demonstração financeira. Calcula-se o percentual de cada conta em relação a um valor base (no BP é o Total do Ativo e na DRE são as Vendas ou Receita Líquida). Essa análise apresenta uma ideia da representatividade de uma determinada conta ou subgrupo de uma demonstração financeira em relação a um determinado total ou subtotal tomado como base. Por exemplo: calcula-se o percentual das contas do Ativo sobre o Total do Ativo (no caso do BP) e assim sucessivamente para as demais contas. Marion (2003) e Assaf Neto (2010) recomendam o estudo em conjunto das análises horizontal/vertical, ou seja, deveriam ser usadas como uma técnica de análise única. Por esta razão, mencionam o aspecto de complementaridade, quer dizer, que as conclusões baseadas na análise vertical sejam complementadas pela análise horizontal, no sentido da identificação das causas constatadas. Índices Financeiros Índice é a relação entre contas ou grupos de contas do BP e da DRE, com o objetivo de determinar qual a relação entre os itens de ambas as demonstrações financeiras, bem como medir determinado aspecto da situação CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 13 econômica ou financeira da empresa, são grandezas comparáveis obtidas a partir de valores absolutos destinados a medir a posição financeira e os níveis de desempenho da empresa em diversos aspectos. (SILVA, 2013) Os índices são relações que se estabelecem entre duas grandezas, ou seja, o índice de um número é o quociente do primeiro dividido pelo segundo. A finalidade principal do uso dos índices é permitir ao analista extrair tendências e comparar os índices com padrões preestabelecidos, segundo Iudícibus & Marion (2004). Gitman (2004) afirma que a análise de índices financeiros é de interesse da administração da empresa, credores (liquidez e na capacidade de cumprir seus compromissos) e dos acionistas atuais e potenciais (medir o risco e retorno que afetam o preço da ação) da empresa, com a finalidade de fazer uma avaliação relativa da situação financeira da empresa. Segundo Gitman (2004), existem duas maneiras de se usar os índices financeiros, são elas: Análise Comparativa: esta análise envolve a comparação dos índices financeiros de diferentes empresas no mesmo instante, ou através dos índices da empresa e os índices médios do setor industrial. Análise de Série Temporal: esta análise é avaliada em relação ao desempenho passado da empresa. Uma comparação entre o desempenho atual e passado de uma empresa permite determinar se a mesma está progredindo conforme o planejado. E, portanto, uma comparação dos índices atuais e passados com os índices resultantes das demonstrações projetadas pode revelar discrepâncias ou um excesso de otimismo destas demonstrações projetadas. A abordagem mais informativa à análise de índices financeiros é aquela que consiste em combinar as análises comparativas e de série temporal. Uma visão combinada permite avaliar a tendência no comportamento do índice relativamente à tendência para o setor (GITMAN, 2004). CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 14 O referenciado autor ainda apresenta algumas precauções que devem ser tomadas quanto ao uso da análise de índices financeiro. Normalmente, um único índice não fornece informações suficientes para se julgar o desempenho global de uma empresa; muitas vezes, requer-se um conjunto de índices. Apenas quanto ao aspecto da posição financeira um ou dois índices podem ser suficientes. Ao comparar demonstrações financeiras, observar se as datas das mesmas são iguais, ou seja, períodos de tempos semelhantes. Recomenda-se usar demonstrações devidamente “auditadas”, uma vez que as “não auditadas” podem não refletir a verdadeira situação ou apresentar dados imprecisos e questionáveis. É por meio desses índices que analisamos o nível de endividamento da empresa. Esses índices são avaliados pelo critério de “quanto maior, mais cautela”. O Ativo (aplicação de recursos) é financiado por Capitais de Terceiros (Passivo Circulante e Passivo Exigível a Longo Prazo) e por Capitais Próprios (Patrimônio Líquido), portanto Capitais de Terceiros e Capitais Próprios são fontes (origens) de recursos. São os índices de endividamento que informam se a empresa utiliza mais recursos de terceiros ou recursos dos proprietários, e se os recursos de terceiros têm seu vencimento em maior parte a Curto Prazo (Passivo Circulante) ou a Longo Prazo (Passivo Exigível a Longo Prazo). De um modo geral, as empresas recorrem ao endividamento com o objetivo de: Complementar os Capitais Próprios para realizar aplicações produtivas em seu Ativo (ampliação, expansão, modernização etc.): esse endividamento é sadio, mesmo sendo um tanto elevado, pois as aplicações produtivas deverão gerar recursos para saldar o compromisso assumido; e Pagar dívidas que estão vencendo: por não gerarem recursos para saldar seus compromissos, elas recorrem a empréstimos sucessivos. CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 15 Permanecendo esse círculo vicioso, a empresa seráséria candidata à insolvência e, consequentemente, à falência. Indicadores de situação financeira Como já vimos em aulas anteriores, é importante para a empresa comparar os seus resultados com outras empresas. A forma encontrada é a comparação dos indicadores de desempenho extraídos dos registros contábeis. Os indicadores estabelecem a relação entre as contas ou grupo de contas das demonstrações contábeis, visando evidenciar determinado aspecto da situação econômico-financeira de uma empresa. Facilitam sensivelmente o trabalho de análise, uma vez que a apreciação de certas relações ou percentuais é mais significativa que a observação de montantes. Servem como um termômetro da saúde financeira da empresa. Destacamos os principais indicadores e seu objetivo: Indicador de liquidez: apontam a capacidade de pagamento da empresa. Liquidez imediata (LI): Disponível/Passivo Circulante Este indicador mede a capacidade financeira da empresa em honrar imediatamente seus compromissos de curto prazo contando apenas com suas disponibilidades, ou seja, os recursos disponíveis em caixa ou bancos. Liquidez corrente (LC): Ativo Circulante/Passivo Circulante A liquidez corrente é um dos indicadores mais utilizados em análise econômico-financeira mostrando quanto à empresa poderá dispor em recursos no curto prazo (caixa, bancos, clientes, estoques etc.) para pagar suas dívidas circulantes (fornecedores, empréstimos e financiamentos de curto prazo, contas a pagar etc.). CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 16 Liquidez Seca (LS): Ativo Circulante – Estoques/Passivo Circulante Esse indicador é uma medida mais rigorosa da liquidez da empresa. Mostra quanto a empresa poderá dispor de recursos circulantes, sem levar em consideração seus estoques, para fazer face às suas obrigações de curto prazo. Liquidez geral (LG): Ativo Circulante + Ativo Realizável a Longo Prazo/Passivo Circulante + Passivo Exigível a Longo Prazo A liquidez geral, ou índice de solvência geral, é uma medida de capacidade da empresa em honrar todas exigibilidades, contando, para isso, com os seus recursos realizáveis a curto e longo prazos. Índices de estrutura de capital: demonstram a estrutura de capital da empresa. Imobilização do patrimônio líquido (IPL): Ativo Permanente/Patrimônio Líquido Este indicador mostra quanto do ativo permanente da empresa é financiado pelo seu patrimônio líquido e, portanto, a maior ou menor dependência de aporte de recursos de terceiros para manutenção dos seus negócios. Participação de capitais de terceiros sobre recursos próprios: Passivo Circulante + Passivo Exigível a Longo Prazo/Ativo Total Indica quanto a empresa possui de capital de terceiros em relação ao capital próprio. Portanto, os índices não devem ser considerados isoladamente, e sim num contexto mais amplo, onde cabe interpretar também outros indicadores e variáveis. Muitas vezes, um alto grau de endividamento não significa que a empresa esteja à beira da insolvência, já que existem outros fatores capazes de atenuar essa condição. Recomenda-se que essas avaliações sejam efetuadas com base nas demonstrações financeiras de pelo menos três exercícios sociais. O analista CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 17 deve sempre ponderar sobre o ramo de atividade e as peculiaridades do negócio da empresa, comparar os índices aos das empresas concorrentes e com os índices-padrão que representam os índices médios de diversas empresas que atuam no mesmo ramo de atividade da empresa em análise. Tema 04: Avaliação de Resultado e Desempenho A avaliação de resultado e de desempenho basicamente é formado por medidas de uso gerencial extraídas do próprio orçamento empresarial. É importante lembrar que o orçamento é uma ferramenta interna da empresa que tem como premissa o planejamento e o controle das atividades operacionais e de capital da empresa. Normalmente, essas mensurações avaliam e compreendem valores e dados numéricos que relacionam fatores como custo, volume de vendas, lucro e investimento, resultando em indicadores como lucratividade, rentabilidade EBITDA e Valor Econômico Agregado (EVA)1. Diante das inúmeras siglas da área financeira, o termo EBITDA talvez seja uma das mais populares. EBITDA significa Earnings Before Interest, Taxes, Depreciation and Amortization, que significa "Lucros antes de juros, impostos, depreciação e amortização", em português. Representa o resultado da empresa sem levar em consideração os efeitos financeiros e também os impostos, ou seja, é um indicador que mede exclusivamente a atividade operacional da empresa. Por esse motivo, é um indicador muito valorizado pelo mercado financeiro. O mercado acompanha muito este indicador por entender que a eficiência da empresa está em gerar resultado operacional. Na visão de longo de prazo, visa avaliar também o próprio investimento ou os ativos da empresa. O cálculo da margem EBITDA é feito a partir da estrutura da DRE como ilustra a estrutura abaixo: 1 EVA é uma marca registrada, propriedade da empresa de consultoria Stern & Stewart. CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 18 Receita Bruta (–) Impostos sobre vendas (–) Devoluções, Descontos Comerciais e Abatimentos Receita Líquida (–) Custos dos Produtos e Serviços Vendidos Lucro Bruto (–) Despesas de Vendas (–) Despesas Administrativas (–) Outras Despesas Operacionais (=) Lucro Operacional EVA é a abreviação da expressão americana para Economic Value Added ou Valor Econômico Adicionado e é considerado por muitos especialistas financeiros no melhor indicador para avaliação de negócios (SILVA, 2013). O EVA serve para identificar o quanto efetivamente de valor foi criado para o acionista em um determinado período de tempo (mês, ano). Basicamente, o EVA consiste no lucro operacional após o imposto de renda menos o custo de todo o capital empregado pela empresa na atividade. Consideram-se os recursos de terceiros e também a taxa de atratividade do capital próprio. A diferença essencial para se considerar este indicador é que a partir do EBITDA calculado, para a apuração dos resultados antes do Imposto de Renda, considera-se os encargos financeiros com recursos de terceiros (empréstimos) e também as atividades não operacionais como amortizações e depreciações. Para se calcular o EVA, a partir destas deduções já apontadas, avalia-se este resultado comparado com o custo de capital próprio. O valor excedente significa EVA positivo. Dessa forma, a empresa pode apresentar resultado positivo, normalmente apurado nas tradicionais análises, porém o seu EVA pode ser nulo ou até mesmo negativo, devido ao custo de capital próprio ser elevado. Outros Indicadores de Rentabilidade também são constantemente EBITDA CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 19 usados nas análises de desempenho das empresas, são eles: Retorno Sobre Investimentos (ROI) e Retorno Sobre o Patrimônio Líquido (ROE). Taxa de Retorno dos Investimentos: Lucro Líquido/Ativo Total Taxa de retorno dos investimentos ou ROI (Return On Investiment - em inglês), esse indicador mostra quanto a empresa está obtendo de retorno em relação aos seus investimentos totais. Taxa de Retorno sobre o Patrimônio Líquido: Lucro Líquido/ Patrimônio Líquido Também conhecido como ROE (Return on Equity), este indicador mede a remuneração dos capitais próprios investidos na empresa, ou seja, quanto foi adicionado ao patrimônio líquido decorrente do resultado do período. Quando os padrões são estabelecidos no planejamento como, por exemplo, o lucro desejado, este alvo passa a ser relacionado ou corresponder com outrasvariáveis. Dessa forma, se obtém as medidas de desempenho econômico que um negócio pode gerar. Tais informações são muito relevantes nas decisões do planejamento estratégico. Tema 05: Elaborando Relatórios e a Tomada de Decisão O relatório de análise de uma empresa é desenvolvido para diversas finalidades específicas como, por exemplo, a decisão de investimento de curto ou longo prazo. Sobre o conteúdo do relatório, devem-se considerar alguns aspectos. O nível de segurança que se obtém de um parecer técnico sobre a situação econômica financeira de uma empresa está diretamente relacionado ao período escolhido para a avaliação. Por isso, é recomendado que essa avaliação seja efetuada com base nas demonstrações financeiras de pelo menos três exercícios sociais. Os índices facilitam bastante o trabalho de análise, uma vez que a apreciação de certas relações ou percentuais é mais significativa que a CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 20 observação de montantes. De fato, os índices servem como um termômetro da saúde financeira da empresa. Porém, para fornecer um parecer conclusivo, é necessário analisar outros aspectos da estrutura financeira e econômica da empresa. Portanto, os índices não devem ser considerados isoladamente, e sim num contexto mais amplo, onde cabe interpretar também outros indicadores e variáveis. Muitas vezes, um alto grau de endividamento não significa que a empresa esteja à beira da insolvência, já que existem outros fatores capazes de atenuar essa condição. O analista deve sempre ponderar sobre o ramo de atividade e as peculiaridades do negócio da empresa, comparar os índices aos das empresas concorrentes e com os índices-padrão que representam os índices médios de diversas empresas que atuam no mesmo ramo de atividade da empresa em análise. A análise geral dos índices tende a focalizar todos os aspectos das atividades financeiras da empresa, através da análise comparativa com a indústria e da análise do histórico da própria empresa, a fim de identificar as áreas que mais contribuíram ou afetaram o desempenho da empresa no período em análise. O relatório deve seguir algumas premissas para que seu objetivo seja atingido. Por tratar de diversos interesses, o cuidado com a escolha das palavras e a postura neutra em relação a análise, porém posicionada em relação às conclusões, são comportamentos desejáveis. Em relação aos detalhes técnicos, é interessante o analista estruturar o seu relatório de acordo com uma lógica coerente. Em primeiro lugar, é importante ser descrito a metodologia que foi utilizada para o levantamento dos dados necessários. É através da metodologia que são descritos os processos de coleta de dados e suas fontes de pesquisa. Nesta etapa, o relatório deve descrever os documentos, eventuais entrevistas e outros artefatos que demonstram as informações necessárias. Também é nesta etapa que se CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 21 menciona os critérios de avaliação. A análise financeira pode ser descrita, porém o analista pode ilustrar o seu parecer com tabelas, gráfico e outras imagens que auxiliam na explicação das conclusões. É importante a indicação da evolução das vendas da empresa e uma possível avaliação dos ciclos operacional e financeiro da empresa. A conclusão sobre a empresa deve destacar seus principais pontos fortes e fracos de modo a resumir o que há de mais importante na análise. Caso seja possível, é desejável estabelecer uma forma objetiva de comparação entre a empresa e seus concorrentes, de modo que possibilite aos usuários do relatório compreender quais os riscos e também o potencial de mercado da empresa. Trocando ideias Já pensou em fazer uma análise comparativa das principais atividades empresarias da sua região? Procure dados estatísticos e informações oficiais a respeito das atividades e elabore um relatório. O desenvolvimento da técnica vem com a prática. Bons estudos. Na prática Continuação Estudo de Caso: Integração das operações através do ERP. (Adaptado ENADE – 2015 – Prova de Administração) – Parte 4 (Final). Após o levantamento estratégico, a descrição dos planos operacionais e também da relação dos principais indicadores de desempenho da empresa, chegou a hora de projetar essas informações para que se possa confirmar os benefícios planejados e também para que se possa controlar a execução desses objetivos. Resolução da Situação Proposta A sugestão para a solução deste caso é a construção de um Balance ScoreCard (BSC). Essa ferramenta permite a integração das orientações estratégicas com as atividades operacionais, bem como mensurar os CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 22 desempenhos da empresa de acordo com as premissas de cada área com o apoio do sistema ERP sugerido. O objetivo é construir o BSC a partir desta aula que será incrementado com os conteúdos das demais aulas da disciplina. 4ª Fase – Elaboração do Orçamento Empresarial Com a definição das ações nos Planos Operacionais, cada área funcional deverá realizar o orçamento de sua respectiva responsabilidade, apresentando às demais áreas os números obtidos com a aprovação do presidente da empresa. É importante que os orçamentos específicos estejam alinhados (Exemplo: Vendas e Produção, Produção, MOD e Compras de Matérias-primas etc.). Cabe ao Controller consolidar e formalizar todo o orçamento. Finalizando Nesta aula, foi apresentada uma importante ferramenta de planejamento e controle, que é o Orçamento Empresarial. Neste entendimento, foi identificada no orçamento a oportunidade de unificar as áreas da empresa e orientá-las para o mesmo direcionamento estratégico. Também foram apresentadas as principais estruturas de informações financeiras das empresas, que são as demonstrações financeiras de resultado, patrimonial e também o fluxo de caixa. Embora relacionadas entre si, essas demonstrações apresentam informações de natureza e grandezas diferentes. Com as demonstrações é possível analisar as empresas, no que se refere a sua estrutura financeira, compondo diversos índices que são gerados a partir da combinação das contas desses demonstrativos. Finalmente, a partir das análises quantitativas apresentadas nos indicadores financeiros, foi tratada, nesta aula, a forma como devem ser elaborados os relatórios gerenciais para tomada de decisão. CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 23 Referências ASSAF NETO, Alexandre. Finanças Corporativas e Valor. São Paulo: Atlas, 2010. BRAGA, Roberto. Fundamentos e Técnicas de Administração Financeira. São Paulo: Atlas, 1995. GITMAN, Lawrence J. Princípios de administração financeira. São Paulo: Pearson Education do Brasil, 2004. IUDÍCIBUS, Sérgio de; MARION, José Carlos. Contabilidade Comercial. 6ª ed. São Paulo: Atlas, 2004. MARION, José Carlos. Contabilidade Empresarial. 10ª ed. São Paulo: Atlas, 2003. SILVA, José Pereira. Análise Financeira das Empresas. São Paulo: Atlas, 2013. http://www.contabeis.com.br/termos-contabeis/contabilidade http://www.contabeis.com.br/termos-contabeis/contabilidade