Prévia do material em texto
VIVENCIANDO APLICAÇÃO DO CONTEÚDO INCIDÊNCIA DO TEMA NAS PRINCIPAIS PROVAS ÁREAS DE CONHECiMENTO DO ENEM TEORIA MULTiMÍDiA CONEXÃO ENTRE DiSCiPLiNAS DiAGRAMA DE iDEiAS HERLAN FELLiNi Caro aluno Ao elaborar o seu material inovador, completo e moderno, o Hexag considerou como principal diferencial sua exclu- siva metodologia em período integral, com aulas e Estudo Orientado (E.O.), e seu plantão de dúvidas personalizado. O material didático é composto por 6 cadernos de aula e 107 livros, totalizando uma coleção com 113 exemplares. O conteúdo dos livros é organizado por aulas temáticas. Cada assunto contém uma rica teoria que contempla, de forma objetiva e transversal, as reais necessidades dos alunos, dispensando qualquer tipo de material alternativo complementar. Para melhorar a aprendizagem, as aulas possuem seções específicas com determinadas finalidades. A seguir, apresentamos cada seção: No decorrer das teorias apresentadas, oferecemos uma cuidado- sa seleção de conteúdos multimídia para complementar o reper- tório do aluno, apresentada em boxes para facilitar a compreen- são, com indicação de vídeos, sites, filmes, músicas, livros, etc. Tudo isso é encontrado em subcategorias que facilitam o apro- fundamento nos temas estudados – há obras de arte, poemas, imagens, artigos e até sugestões de aplicativos que facilitam os estudos, com conteúdos essenciais para ampliar as habilidades de análise e reflexão crítica, em uma seleção realizada com finos critérios para apurar ainda mais o conhecimento do nosso aluno. Um dos grandes problemas do conhecimento acadêmico é o seu distanciamento da realidade cotidiana, o que dificulta a compreen- são de determinados conceitos e impede o aprofundamento nos temas para além da superficial memorização de fórmulas ou regras. Para evitar bloqueios na aprendizagem dos conteúdos, foi desenvol- vida a seção “Vivenciando“. Como o próprio nome já aponta, há uma preocupação em levar aos nossos alunos a clareza das relações entre aquilo que eles aprendem e aquilo com que eles têm contato em seu dia a dia. Sabendo que o Enem tem o objetivo de avaliar o desempenho ao fim da escolaridade básica, organizamos essa seção para que o aluno conheça as diversas habilidades e competências abordadas na prova. Os livros da “Coleção Vestibulares de Medicina” contêm, a cada aula, algumas dessas habilidades. No compilado “Áreas de Conhecimento do Enem” há modelos de exercícios que não são apenas resolvidos, mas também analisados de maneira expositiva e descritos passo a passo à luz das habilidades estudadas no dia. Esse recurso constrói para o estudante um roteiro para ajudá-lo a apurar as questões na prática, a identificá-las na prova e a resol- vê-las com tranquilidade. Cada pessoa tem sua própria forma de aprendizado. Por isso, cria- mos para os nossos alunos o máximo de recursos para orientá-los em suas trajetórias. Um deles é o ”Diagrama de Ideias”, para aqueles que aprendem visualmente os conteúdos e processos por meio de esquemas cognitivos, mapas mentais e fluxogramas. Além disso, esse compilado é um resumo de todo o conteúdo da aula. Por meio dele, pode-se fazer uma rápida consulta aos princi- pais conteúdos ensinados no dia, o que facilita a organização dos estudos e até a resolução dos exercícios. Atento às constantes mudanças dos grandes vestibulares, é ela- borada, a cada aula e sempre que possível, uma seção que trata de interdisciplinaridade. As questões dos vestibulares atuais não exigem mais dos candidatos apenas o puro conhecimento dos conteúdos de cada área, de cada disciplina. Atualmente há muitas perguntas interdisciplinares que abran- gem conteúdos de diferentes áreas em uma mesma questão, como Biologia e Química, História e Geografia, Biologia e Mate- mática, entre outras. Nesse espaço, o aluno inicia o contato com essa realidade por meio de explicações que relacionam a aula do dia com aulas de outras disciplinas e conteúdos de outros livros, sempre utilizando temas da atualidade. Assim, o aluno consegue entender que cada disciplina não existe de forma isolada, mas faz parte de uma grande engrenagem no mundo em que ele vive. De forma simples, resumida e dinâmica, essa seção foi desenvol- vida para sinalizar os assuntos mais abordados no Enem e nos principais vestibulares voltados para o curso de Medicina em todo o território nacional. Todo o desenvolvimento dos conteúdos teóricos de cada coleção tem como principal objetivo apoiar o aluno na resolução das ques- tões propostas. Os textos dos livros são de fácil compreensão, com- pletos e organizados. Além disso, contam com imagens ilustrativas que complementam as explicações dadas em sala de aula. Qua- dros, mapas e organogramas, em cores nítidas, também são usados e compõem um conjunto abrangente de informações para o aluno que vai se dedicar à rotina intensa de estudos. Essa seção foi desenvolvida com foco nas disciplinas que fazem parte das Ciências da Natureza e da Matemática. Nos compila- dos, deparamos-nos com modelos de exercícios resolvidos e co- mentados, fazendo com que aquilo que pareça abstrato e de difí- cil compreensão torne-se mais acessível e de bom entendimento aos olhos do aluno. Por meio dessas resoluções, é possível rever, a qualquer momento, as explicações dadas em sala de aula. © Hexag Sistema de Ensino, 2018 Direitos desta edição: Hexag Sistema de Ensino, São Paulo, 2021 Todos os direitos reservados. Autores Joaquim Matheus Santiago Coelho Larissa Beatriz Torres Ferreira Diretor-geral Herlan Fellini Diretor editorial Pedro Tadeu Vader Batista Coordenador-geral Raphael de Souza Motta Responsabilidade editorial, programação visual, revisão e pesquisa iconográfica Hexag Sistema de Ensino Editoração eletrônica Arthur Tahan Miguel Torres Matheus Franco da Silveira Raphael de Souza Motta Raphael Campos Silva Projeto gráfico e capa Raphael Campos Silva Imagens Freepik (https://www.freepik.com) Shutterstock (https://www.shutterstock.com) ISBN: 978-65-88825-16-7 Todas as citações de textos contidas neste livro didático estão de acordo com a leg- islação, tendo por fim único e exclusivo o ensino. Caso exista algum texto a respeito do qual seja necessária a inclusão de informação adicional, ficamos à disposição para o contato pertinente. Do mesmo modo, fizemos todos os esforços para identificar e localizar os titulares dos direitos sobre as imagens publicadas e estamos à disposição para suprir eventual omissão de crédito em futuras edições. O material de publicidade e propaganda reproduzido nesta obra é usado apenas para fins didáticos, não representando qualquer tipo de recomendação de produtos ou empresas por parte do(s) autor(es) e da editora. 2021 Todos os direitos reservados para Hexag Sistema de Ensino. Rua Luís Góis, 853 – Mirandópolis – São Paulo – SP CEP: 04043-300 Telefone: (11) 3259-5005 www.hexag.com.br contato@hexag.com.br SUMÁRIO BIOLOGIA EVOLUÇÃO E ECOLOGIA DIVERSIDADE DA VIDA CITOLOGIA Aulas 1 e 2: Origem da vida 6 Aulas 3 e 4: Evidências evolutivas 17 Aulas 5 e 6: Teorias evolutivas 25 Aulas 7 e 8: Especiação 35 Aulas 1 e 2: Taxonomia e reinos 50 Aulas 3 e 4: Vírus 60 Aulas 5 e 6: Reino Monera 69 Aulas 7 e 8: Reino protoctista I: protozoários 80 Aulas 1 e 2: Composição química celular I 91 Aulas 3 e 4: Composição química celular II 102 Aulas 5 e 6: Composição química celular III 109 Aulas 7 e 8: Código genético e síntese proteica 116 UFMG Uma prova muito bem elaborada e interdis- ciplinar que exige conhecimentos básicos de ecologia para resolver questões de cadeia e teia alimentar. Apesar de o assunto tratado ser de caráter intermediário, a múltipla interação entre as áreas pode aumentar o nível de dificuldade. Normalmente, usa casos atuais de impactos ambientais para abordar assuntos básicos de ecologia. Saber relacionar problemas ecológicos com conteúdos simples, é essencial. Além disso, é importante saber identificar e utilizardiscursos lamarckistas e darwinistas. A ecologia aparece como área de destaque. Interações ecológicas e teias alimentares são corriqueiros. Além disso, evidências e teorias evolutivas, como seleção natural, costumam aparecer com certa frequência. Prova com poucas questões de ecologia, sendo que o tema que mais aparece é a inte- ração entre os seres vivos (teias alimentares e relações ecológicas). Prova bem comparativa, com questões que misturam diferentes áreas da Biologia. Aparecem assuntos como especiação, sucessão ecológica, origem da vida e relações ecológicas. Problemas ambientais, relações ecológicas e conceitos básicos relacionados à ecologia (população, comunidade e ecossistema) são muito presentes. Prova com forte presença de ecologia – cadeias alimentares, relações ecológicas e problemas ambientais são os principais as- suntos. Além disso, há questões sobre teorias evolutivas e hipóteses de origem da vida. Compreensão de teias e cadeias alimentares, assim como a interação entre os seres vivos, é fundamental para resolver as questões de ecologia, que são interdisciplinares e pedem temas atuais com relação aos impactos ambientais. As questões se concentram principalmente na área da ecologia, sendo cadeia e teia alimentar assuntos recorrentes. Compreender a origem da vida e a evolução dos seres vivos é a base para o entendimento da interação entre os organismos. Nesta prova, há questões principalmente sobre especiação, leitura e compreensão de clado- gramas e aplicação das teorias lamarckista e darwinista. Em ecologia, a prova é similar à do Enem, com ênfase em problemas ambientais e relações ecológicas. Com perfil similar à Fuvest e questões bem es- pecíficas, os temas mais frequentes são teorias e evidências evolutivas, problemas ambientais e relações ecológicas. É uma prova que privilegia citologia e gené- tica, de forma que não há muitas questões sobre ecologia – os temas mais abordados são relações ecológicas e problemas ambientais. Apresenta questões de temas variados e não muito cobrados em outros vestibulares, como origem da vida (biogênese e abiogênese) e dinâmica populacional. Também estão presentes temas como teorias evolutivas e teias alimentares. Questões com alto nível de especificidade. Estão presentes tanto conceitos evolutivos (especiação e seleção natural) como ecológi- cos (cadeias alimentares, pirâmides e relações ecológicas). É uma prova com questões interdisciplinares que cobram conteúdos altamente específicos. Conceitos gerais INCIDÊNCIA DO TEMA NAS PRINCIPAIS PROVAS EVOLUÇÃO E ECOLOGIA 6 1. Introdução A palavra biologia é formada através da conjugação do grego "bio", que significa "vida", com o sufixo "-logia", que significa "ciência de", "conhecimento de" ou "estu- do de". Dessa maneira, é a ciência que estuda a vida e todos os seus desdobramentos. Esse estudo pressupõe um método científico que, apesar de seguir certos parâmetros, não possui uma receita universal infalível para todas as situações e necessita criatividade e plasticidade para ser aplicado. Porém, tradicionalmente, o método se caracteriza por observação, elaboração de per- guntas (hipóteses testáveis), planejamento e realização de experimentos, sistematização e registro de dados, discus- são de resultados e, por fim, conclusão. Dessa maneira, ge- ra-se conhecimento, que poderá ser questionado, ampliado e alterado ao longo do tempo. Com efeito, a ciência e a pesquisa são realizadas pelo ser humano e, portanto, são direcionadas. A ciência possui uma perspectiva e um olhar parcial, ou seja, é influenciada pela época, sociedade e cul- tura às quais o pesquisador pertence. Então, é um método possível para interpretar os acontecimentos que está su- jeito a revisões e confrontamentos de novas informações. Para iniciar o estudo da biologia, são necessárias algumas re- flexões e considerações, pois existem várias subdivisões nessa ciência. Por exemplo, a zoologia estuda os animais e os seus desdobramentos; as plantas, por sua vez, são estudadas pela botânica; as estruturas e o funcionamento das células são dis- cutidos pela citologia; as interações entre os seres vivos, e des- ses com o meio em que vivem, são abordadas pela ecologia; os mecanismos e padrões de herança do material genético são estudados pela genética; e o processo adaptativo e as relações de parentesco entre as diversas espécies são respon- sabilidade da evolução. Essas divisões facilitam o estudo, a pesquisa e a construção do conhecimento biológico. Entre- tanto, integrar essas subáreas é fundamental, pois permite um olhar amplo que possibilita a compreensão da complexidade dos seres vivos e dos ambientes em todos os seus níveis de or- ganização: organismos, populações, comunidades biológicas, ecossistemas, biomas, biocoras, biociclos e biosfera. 2. Formação da Terra Antes de abordarmos a origem da vida, é necessário tratar da origem da Terra. A Terra surgiu há aproximadamente 4, 6 bilhões de anos. Toda a matéria que compõe o Universo atual estava com- primida em uma esfera extremamente pequena e densa, do tamanho da ponta de uma agulha. Há cerca de 14 bilhões de anos, essa esfera teria subita- mente explodido, dando início a expansão dessa matéria e formando, de uma só vez, o Universo. A essa grande ex- plosão dá-se o nome científico de Big Bang. A expansão do Universo continua sendo observada até hoje, o que reforça as hipóteses a favor do Big Bang. A formação do Sistema Solar é resultado direto dessa explosão. Ao longo desses bilhões de anos até hoje, ocorreram muitas mudanças na superfície terrestre que influenciaram significa- tivamente a vida no planeta, como: movimentos de massas continentais, alterações climáticas, formação e destruição de cadeias de montanhas, extinção e origem de espécies, etc. FONTE: YOUTUBE A origem do planeta Terra documentário completo F Y multimídia: vídeo 2.1. Escala do tempo geológico A escala do tempo geológico representa a linha do tempo desde o surgimento da Terra até o presente. Na escala, essa evolução é indicada por uma sequência de eventos. Dessa forma, o tempo da história da Terra é marcado por determi- nados eventos geológicos e pode ser calculado por métodos absolutos ou relativos. Os estudos da evolução da vida dividem hierarquicamente essa escala em: éons, eras, períodos, épocas e idades ORIGEM DA VIDA HABILIDADES: 15 e 16 COMPETÊNCIA: 4 AULAS 1 e 2 7 ERA PERÍODO INÍCIO (milhões de anos) EVENTOS Ce no zo ic a Quaternário 1,6 Clima flutuando entre frio e ameno. Avanços e recuos glaciais. Extinção de muitos mamífe- ros e aves de grande porte. Primeiros humanos modernos do gênero Homo. Neogeno 23 Surgimento e formação de montanhas. Início da glaciação nos hemisférios Norte e Sul. Ele- vação do Panamá e consequente união das Américas do Norte e do Sul. Primeiros macacos do Velho Mundo. Mamíferos pastadores em abundância. Primeiros hominídeos eretos e grandes carnívoros. Aves e mamíferos marinhos diversificam-se. Paleogeno 65 Clima ameno a frio. Mares continentais largos e rasos. Elevação dos Alpes e Himalaia. A Amé- rica do Sul separa-se da Antártica. Clima ameno a muito quente no final do período. Primei- ros mamíferos insetívoros e primatas. Expansão extensiva de mamíferos e aves. Irradiação de famílias de mamíferos placentários. Primeiros macacos do Novo Mundo. Formação inicial de pradarias. Aves carnívoras gigantes, incapazes de voar, eram predadores comuns. M es oz oi ca Cretácio 135 Clima ameno em todo o período. Níveis dos mares elevados. A África e a América do Sul se separam. Clímax dos dinossauros e répteis marinhos, seguido da extinção destes grupos. Início da irradiação de mamíferos marsupiais e placentários. Primeiras angiospermas. De- clínio das gimnospermas. Aparecimento de muitos grupos de insetos. Jurássico 205 Clima ameno. Os níveis dos continentes são baixos com grandes áreas cobertas pelos ma- res. Primeiras aves.Abundância de dinossauros. Crescimento exuberante de florestas. Triássico 250 Continentes montanhosos, unidos em um supercontinente (Pangeia). Extensas áreas ári- das. Primeiros dinossauros. Primeiros mamíferos. Crescimento exuberante de florestas com predomínio de coníferas. Pa le oz oi ca Permiano 290 Glaciação extensiva do Hemisfério Sul no início do período. Elevação dos Apalaches. Aridez marcante em algumas áreas. Origem das coníferas, cicadófitas e ginkgos. Desa- parecem os tipos anteriores de florestas. Irradiação dos répteis. O período termina com extinção em massa. Carbonífero 355 Clima quente com pequena variação sazonal nos trópicos. Níveis das terras baixos. Áreas pantanosas com a formação de depósitos de carvão. Irradiação dos anfíbios. Abundância de tubarões. Samambaias com esporos e árvores com “casca”. Primeiros répteis. Insetos gigantes. Grandes florestas de pteridófitas. Devoniano 410 Mares na maior parte das terras, com montanhas locais. Primeiros peixes com nadadeiras raiadas e nadadeiras lobadas. Primeiros tetrápodes terrestres. Siluriano 438 Clima ameno. Topografia em geral plana. Primeiros peixes com mandíbulas. Primeiros in- vertebrados terrestres. Ordoviciano 510 Clima ameno. Mares rasos. Continentes em geral com topografia plana. Os mares cobrem boa parte do atual território dos Estados Unidos. Glaciação no final do período. Primeiros vertebrados (peixes sem mandíbula). Invertebrados marinhos em abundância. Primeiras plantas terrestres. Cambriano 570 Extensos mares invadindo os continentes existentes. Origem de vários filos e classes de invertebrados. Primeiros cordados. Moluscos com conchas. Abundância de trilobitas. Pr ot er oz oi ca - 2.500 Extensivo bombardeamento de meteoritos e instabilidade geológica nas primeiras fases dessa era. Os primeiros organismos eucariontes apareceram há cerca de 2 bilhões de anos. Grande diversificação da vida há 1 bilhão de anos, surgindo os organismos pluricelulares, inclusive algas. Os primeiros metazoários surgiram há mais ou menos 600 milhões de anos, logo após uma grande glaciação. A rq ue an a - 4.600 Formação da crosta terrestre e início dos movimentos continentais. Os primeiros fósseis (seres unicelulares) são conhecidos de 3,5 bilhões de anos atrás. Origem da vida. 8 A seguir, serão analisados os principais períodos e suas características. O objetivo dessa abordagem é apresentar uma visão geral de como a vida se manifestou e se esta- beleceu na Terra. Os primeiros microrganismos surgiram no planeta há cerca de 3,5 bilhões de anos. Os primeiros peixes ancestrais apareceram no fim do pe- ríodo Cambriano, em que os oceanos eram largos, rasos e cálidos. Registros fósseis indicam que esses peixes, di- ferentemente dos peixes de hoje, possuíam apenas duas barbatanas rudimentares e não tinham mandíbulas. No período Devoniano, conhecido como Idade dos Peixes, ocorreu uma grande proliferação de peixes que possuíam mandíbulas adaptadas para digerir diversos tipos de alimentos. O ambiente desse período era bas- tante diferente daquele em que surgiram os primeiros peixes. Os oceanos haviam avançado e retrocedido vá- rias vezes, e as plantas vasculares terrestres, que haviam surgido no período anterior, chamado de Silu- riano, eram abundantes. No fim da Idade dos Peixes, um grupo ancestral de pei- xes de água doce iniciou a adaptação à vida terrestre e originou os primeiros anfíbios. No período seguinte, apareceram os répteis, primeiros vertebrados terres- tres, assim como os primeiros insetos alados. Os primeiros mamíferos surgiram no período Triássico, assim como os primeiros dinossauros. No período se- guinte, apareceram as primeiras aves. No período Cretáceo, ocorreu a extinção dos dinossauros. No fim desse período, aconteceu uma grande irradiação adaptativa dos mamíferos, fato que originou muitas das ordens de animais conhecidas atualmente. Alguns mamí- feros insetívoros deram origem a um grupo de animais com polegares oponíveis e com unhas no lugar de garras denominados primatas. A lenta movimentação dos continentes terrestres, deno- minada deriva continental, originou, há 250 milhões de anos, um supercontinente denominado Pangeia. Há aproximadamente 200 milhões de anos, teve início a se- paração da Pangeia. Há 90 milhões de anos, a América do Sul descolou-se da África. Há 50 milhões de anos, a Índia uniu-se à Ásia, e, cinco milhões de anos depois, a Austrália separou-se da Antártica. Os primatas experimentaram processos evolutivos distintos nos dois lados do mundo. No continente americano, eles restringiram-se ao ambiente das árvores e desenvolveram adaptações morfológicas muito eficientes para esse hábi- to, entre elas uma cauda com grande capacidade preênsil. No Velho Mundo, os prossímios geraram novas formas de primatas, entre eles uma linhagem evolutiva de hábito terrestre que originou, há cerca de 5 milhões de anos, os primeiros hominídeos. Os primeiros hominídeos, parte do gênero Australopithe- cus, foram também os primeiros a apresentarem nos regis- tros fósseis uma morfologia dos membros inferiores com- pletamente adaptada à bipedia. O aparecimento do Homo sapiens ocorreu há aproximadamente 400 mil anos. 3. Teorias sobre a origem da vida O mistério da origem da vida intriga o ser humano desde a Antiguidade. Doutrinas milenares da Índia, da Babilônia e do Egito ensi- navam que rãs, cobras e crocodilos eram gerados espon- taneamente pelo lodo dos rios. Esses seres, que apare- ciam inexplicavelmente no lodo e na lama, eram vistos como manifestações da vontade dos deuses. Para Aristóteles, por exemplo, os organismos surgiam a partir do princípio ativo, uma energia presente em substâncias inanimadas e capaz de formar vida espontaneamente. Des- sa interpretação, surgiu a teoria da geração espontânea, ou teoria da abiogênese, segundo a qual os seres vivos origi- nam-se da matéria bruta de modo contínuo. A teoria da geração espontânea perdurou até meados do século XIX, quando diversos cientistas a contestaram e, por meio de experimentos, demonstraram que um ser vivo só se origina de outro ser vivo. Teoria da abiogênese: Os seres vivos surgem da ma- téria bruta de maneira contínua (geração espontânea). Principais defensores: Aristóteles, Platão, Needhan, Virgí- lio, Aldovandro, Kricher e Van Helmont. Teoria da biogênese: Os seres vivos originam-se de outros seres vivos preexistentes. Principais defensores: Redi, Spallanzani e Pasteur. 3.1. Van Helmont Van Helmont (1580-1644), considerado o maior fisiologis- ta de seu tempo, criou diversas receitas para a abiogêne- se. Uma delas é a fórmula para se obter ratos por meio da geração espontânea: ‘’Enche-se de trigo e fermento um vaso, que é fechado com uma camisa suja, de preferência de mulher. Um fermento vindo da camisa, transformado pelo odor dos grãos, trans- forma em ratos o próprio trigo’’. Como se sabe, os ratos que apareciam não se formavam a partir da camisa e do trigo, como acreditava Van Helmont, mas eram atraídos pela mistura. 9 3.2. Francesco Redi Francesco Redi (1628-1698) começou, por volta de 1660, a questionar a teoria da geração espontânea. Ao observar cadáveres em decomposição, Redi notou a presença de moscas rodeando a carne antes do apa- recimento de larvas. Sua hipótese, então, era que es- sas larvas eclodiam a partir de ovos depositados pelas moscas. Para testá-la, elaborou um experimento com dois frascos contendo carne crua, porém enquanto um deles permaneceu aberto (grupo controle), o outro foi obstruído com gaze. De acordo com a teoria da abiogênese, depois de alguns dias deveriam surgir da carne moscas e outros insetos. Isso, contudo, não aconteceu nos frascos fechados com gaze. Nos frascos fechados, Redi não encontrou nada sobre a carne, mas constatou ovos e larvas de insetos sobre a gaze que cobria os recipientes. Assim, o experimento corroborou sua hipótese ao demonstrar que as moscas eram atraídas pela carne e que o aparecimentodas lar- vas era devido aos ovos depositados pelos insetos. larvas frasco aberto frasco fechado com gaze ausência de larvas ESQUEMA DO EXPERIMENTO REALIZADO POR FRANCESCO REDI (1668) Apesar dos resultados de Redi fortalecerem a teoria da bio- gênese, o advento do microscópio e a descoberta dos mi- crorganismos, chamados naquela época de "animálculos", provocaram questionamentos acerca da origem desses seres. 3.3. John Needham Dentre os que continuaram defendendo a teoria da geração espontânea, pode-se destacar o cientista in- glês John T. Needham (1713 -1781), que, por volta de 1745, realizou uma série de experimentos para respaldar seu argumento. Após submeter à fervura diversos re- cipientes contendo substâncias nutritivas e fechar parte deles com rolhas enquanto o resto permanecia aberto, ele observou o surgimento de microrganismos em todos os frascos. Needham afirmou que esse fenômeno ocorria devido à presença, nas partículas orgânicas da infusão, de uma força vital especial, responsável pelo aparecimen- to da vida microscópica. Assim, com esses experimentos, Needham contribuía para o fortalecimento da teoria da geração espontânea. 3.4. Abbey Spallanzani Em 1770, contudo, o cientista italiano Abbey Lazzaro Spallan- zani (1729-1799) criticou seriamente os experimentos de Needham e evidenciou que o aquecimento prolongado de substâncias orgânicas acondicionadas em recipientes fechados, providos de válvula de escape, não propiciava o desenvolvimento de microrganismos. Spallanzani concluiu, então, que Needham não havia esterilizado corretamente os frascos. Porém, Needham respondeu às críticas afirman- do que ferver as substâncias destruía a "força vital" e que fechar os frascos hermeticamente tornava o ar desfavorá- vel ao aparecimento de vida. VIVENCIANDO A partir dos experimentos realizados por Pasteur para comprovar a teoria da biogênese, criou-se o processo de pasteurização. A pasteurização é utilizada para conservar alimentos, pois elimina microrganis- mos patogênicos que causam azedamento ou acidificação, sem causar alterações físico-químicas no valor nutri- tivo dos alimentos. O método consiste em elevar a temperatura do alimento por um determinado tempo e, em seguida, resfriá-lo a uma temperatura inferior a de antes. Por ser um processo rápido, nem todos os seres vivos são eliminados, e, portanto, conservam-se no produto alguns microrganismos benéficos para o ser humano. Para remover 100% dos microrganismos, o alimento deve passar por um processo de esterilização e posteriormente ser lacrado para evitar novas contaminações. A pasteurização é muito usada na indústria alimentícia, principal- mente em leite, sucos, cerveja, polpas de frutas, entre outros. 10 Pasteurização: outra importante contribuição de Pasteur A pasteurização, criada em 1864 por Louis Pasteur, é um procedimento industrial empregado no tratamen- to do leite, de sorvetes, de cervejas, etc. O leite in natura é um produto altamente perecível, propício ao desenvolvimento de microrganismos que o acidificam e azedam. Para evitar esses problemas, tomam-se alguns cuidados, da captação ao consumo do leite. Dentre eles, destaca-se a pasteurização, que, no Brasil, é obrigatória. Esse procedimento consiste em submeter o leite a um grau de aquecimento suficiente para destruir os mi- crorganismos patogênicos presentes nele. O melhor cuidado nesse procedimento é não causar alterações físico-químicas e organolépticas ao alimento, bem como não alterar o valor nutritivo do produto. O leite pasteurizado, portanto, deve apresentar características semelhantes, ao máximo, ao produto in natura, bem como garantir a ele mais tempo e condições de conser- vação, uma vez que a pausterização destrói aproxima- damente 99% da microbiota presente no leite. Mas esse procedimento também traz desvantagens, embora superadas pelos benefícios. Ele reduz ou mesmo elimina as bactérias lácticas benéficas para o organismo, altera o sabor do leite, bem como provoca desnaturação da proteína do leite, dificultando, por exemplo, a produção de alguns queijos. Se o leite for submetido a temperaturas elevadas por tempo prolongado, seu sabor e cor podem alterar-se. Em razão disso, há limites de temperatura e de tempo para que suas características se mantenham. Existem três tipos de pasteurização: Pasteurização lenta: também conhecida como LTLT (low temperature long time, baixa tempe- ratura por longo tempo), mantém a temperatu- ra a 63 °C por 30 minutos. Pasteurização rápida: HTST (high temperature and short time, alta temperatura por pouco tempo), mantém a temperatura a 72 °C por 15 segundos. Pasteurização muito rápida: UHT (ultra high tem- perature, temperatura ultraelevada), mantém a temperatura entre 130 °C e 150 °C por um perí- odo de 3 a 5 segundos. FONTE: <HTTP://INFOESCOLA.COM/MICROBIOLOGIA/PASTEURIZAÇÃO>. ACESSO EM: 6 FEV. 2015.AS CONDIÇÕES DA TERRA PRIMITIVA Por meio de novos experimentos, Spallanzani demonstrou que surgiam microrganismos quando os recipientes fecha- dos e submetidos à fervura eram abertos e entravam em contato com o ar, atestando que a “força vital’’ não havia sido destruída. Apesar disso, Spallanzani não conseguiu provar que o aquecimento de material orgânico em reci- pientes fechados não alterava a qualidade do ar. Needham saiu favorecido dessa polêmica, o que reforçou ainda mais a teoria da geração espontânea. 3.5. Louis Pasteur O cientista francês Louis Pasteur (1822-1895), por volta de 1860, através de seus célebres experimentos com balões do tipo “pescoço de cisne”, conseguiu provar definitiva- mente que os seres vivos se originam de outros seres vivos. Além disso, constatou a presença de microrganismos no ar atmosférico. Considerando as críticas dos seguidores da abiogênese sobre a formação de ar viciado – que seria impróprio para o desenvolvimento da vida em recipientes submetidos à fervura e hermeticamente fechados –, Pas- teur realizou os seguintes experimentos utilizando frascos com gargalos longos e curvos: O caldo nutritivo é despejado em um frasco de vidro O gargalo do frasco é esticado e curvado ao fogo O caldo nutritivo é fervido e esterelizado Se o gargalo do frasco é quebrado, surgem microrganismos no caldo O caldo nutritivo do frasco com “pescoço de cisne” matém-se livre de microrganismos 1 2 3 4 5 ESQUEMA DO EXPERIMENTO REALIZADO POR LOUIS PASTEUR (1860). O famoso experimento demonstrou que um líquido, ao ser fervido, não perde a suposta “força vital”, como defendiam os adeptos da geração espontânea. Na verdade, quando o pescoço do balão é quebrado, depois da fervura do líquido, surgem seres vivos. O experimento refuta ainda outro ar- gumento dos defensores da abiogênese: a formação de ar viciado impróprio para a vida. O líquido fervido fica, nesse caso, em contato com o ar atmosférico através do pescoço do balão, porém não ocorre o aparecimento de seres vivos porque as gotículas de água acumuladas no gargalo retêm os micróbios presentes no ar. A partir dos experimentos de Pasteur, a teoria da biogênese passou a ser predominante nos meios científicos. 11 4. Surgimentos dos primeiros seres vivos De fato, com a consolidação da teoria da biogênese, a ques- tão da origem da vida passou a preocupar cada vez mais os cientistas: se apenas seres vivos podem originar outros seres vivos, como apareceram as primeiras formas de vida? Para responder a essa pergunta, várias hipóteses foram for- muladas. Uma das teorias mais antigas, o criacionismo, geralmente está associada à religião. Seus defenso- res argumentam que cada ser vivo foi gerado indivi- dualmente através de criação divina e que sua forma é a mesma desde o princípio, imutável ao longo do tempo (fixismo). Já a panspermia afirma que a vida veio de outra parte do Universo, por meio de meteoros e cometas que caíram na Terra. Embora tenham evidências de material orgânico em meteoritos, essa teoria não explica a origem da vida e ape-nas levanta mais questionamentos. Não obstante, a teoria mais aceita atualmente é a hipó- tese da evolução gradual dos sistemas químicos, desenvolvida pelo russo Aleksandr Oparin e pelo inglês John Burdon Sanderson Haldane na década de 1920. Para se compreender a teoria de Oparin e Haldane, é pre- ciso conhecer as condições da Terra primitiva. 4.1. A hipótese da evolução gradual dos sistemas químicos Essa hipótese, formulada por Oparin e Haldane, sugere que, na Terra primitiva, moléculas orgânicas complexas se for- maram a partir de moléculas simples, antes do apareci- mento dos seres vivos. Apesar de a Terra conservar altas temperaturas após a sua formação, o contato com o espaço cósmico – que é muito frio – possibilitou ligações químicas entre os elementos, formando substâncias como a água. Portanto, ao passo que o calor da superfície evaporava toda substância lí- quida, as camadas mais frias da atmosfera condensavam os vapores de água e provocavam violentas tempestades com descargas elétricas (raios). Apenas com o gradativo processo de resfriamento da Terra que foi possível o acú- mulo de água líquida sobre a superfície, fator que deu origem aos mares primitivos. Além disso, intensas atividades vulcânicas liberavam gases que contribuíam para a formação de uma atmosfera primiti- va bem diferente da atual, formada provavelmente por me- tano (CH4), amônia (NH3), hidrogênio (H2) e vapores de água (H2O). Todavia, ao contrário da atmosfera atual, a primitiva não apresentava oxigênio (O2) e nem, portanto, camada de ozônio (O3). Sem esse filtro, a radiação ultravioleta não era barrada e atingia a superfície de forma intensa. Desse modo, os raios solares, em conjunto com os efeitos das fortes descargas elétricas, forneceu a energia neces- sária para que os gases componentes da atmosfera rea- gissem entre si e formassem moléculas orgânicas simples (aminoácidos, açúcares, álcoois). Essas moléculas foram arrastadas pelas águas das chuvas e se acumularam em mares primitivos, quentes e rasos, que possibilitaram a ocorrência de outras reações. Assim, a formação de grande número de substâncias orgânicas, simples e complexas, transformou esses mares em verda- deiras "sopas nutritivas". As moléculas de proteína dispersas em água formaram uma solução coloidal com características próprias. Nos coloides, cada molécula de proteína encontra-se en- volvida por várias moléculas de água atraídas pela diferen- ça de carga elétrica. Se há alteração no grau de acidez da solução coloidal, as moléculas de proteína aproximam-se, formando vários aglomerados proteicos envoltos por uma porção líquida denominada camada de hidratação ou sol- vatação. Esses aglomerados foram chamados por Oparin de coacervados. PROTEÍNA COACERVADO H2O ESQUEMA DO DESENVOLVIMENTO DA CAMADA DE SOLVATAÇÃO E DOS COACERVADOS Esses coacervados não eram seres vivos, mas uma primitiva organização das substâncias orgânicas, principalmente de proteínas e ácidos nucleicos, em um sistema isolado do meio. Apesar de isolados, os coavervados realizavam trocas com o meio externo e possuíam em seu interior condições para a ocorrência de inúmeras reações químicas. Com as constantes reações químicas, alguns coacervados tor- naram-se mais complexos, chegando inclusive a apresentar capacidade de duplicação. Nesse momento, teriam surgido os primeiros seres vivos, que, apesar de organização simples, eram capazes de reproduzir-se, dando origem a outros seres vivos. Essa evolução gradual dos sistemas químicos teve a duração provável de 2 bilhões de anos. O esquema a seguir sintetiza essa hipótese. 12 H O2 CH 4 H2 NH3 *Sopa nutritiva* Calor. Formação de moléculas orgânicas complexas Alteração da acidez do meio propicia a formação de aglomerados proteicos isolados (coacervados). Inúmeras reações químicas ocorrem dando origem aos primeiros seres vivos. A chuva arrasta essas moléculas para a superficie da Terra Moléculas orgânicas simples na atmosfera Esses gases sofrem influência de fortes descargas elêtricas e de raios ultravioleta, formando moléculas orgânicas. Gases da atmosfera primitiva HIPÓTESE DA EVOLUÇÃO GRADUAL DOS SISTEMAS QUÍMICOS - PROPOSTA POR OPARIN E HALDANE 4.2. O experimento de Miller e Urey A hipótese da evolução gradual dos sistemas químicos foi testada pela primeira vez em 1953 pelos químicos norte- -americanos Stanley L. Miller (1930-2007) e Harold Urey (1893-1981). Eles construíram um aparelho que simulava as condições da Terra primitiva e introduziram nele os gases que provavelmente constituíam a atmosfera daquele período: amônia (NH3), hidrogênio (H), metano (CH4) e vapor de água. ELETRODOS POLO NEGATIVOPOLO POSITIVO SÁIDA DO VAPOR ENTRADA DE ÁGUA CONDENSADOR AMÔNIA METANO HIDROGÊNIO VAPOR D’AGUA ÁGUA FERVENTE PARA GERAR VAPOR RESULTADOS PARA ANÁLISE TUBO PARA CRIAR VÁCUO ESQUEMA DO EXPERIMENTO DE MILLER E UREY (1953), DEMONSTRANDO A FORMAÇÃO DE AMINOÁCIDOS EM CONDIÇÕES SIMILARES ÀS DA TERRA PRIMITIVA A água, ao ferver, transforma-se em vapor e ocasiona a cir- culação em todo o sistema, conforme indicado pelas setas. No balão em que se encontra a mistura gasosa, ocorrem descargas elétricas simulando raios, que deviam ser muito frequentes naquela época. Em seguida, as substâncias são submetidas a um resfria- mento para simular a condensação nas altas camadas da atmosfera, fator que provoca as chuvas. A parte em “U” do sistema simula os mares primitivos, que recebiam as chuvas e os compostos formados na atmosfera. Pela análise da água acumulada nessa parte em “U”, foi pos- sível verificar a formação de moléculas orgânicas, dentre elas alguns aminoácidos, substâncias que formam as proteínas. CONEXÃO ENTRE DISCIPLINAS Conceitos de química são aplicados no famoso experimento de Miller e Urey, dado que envolve reações químicas que transformavam compostos inorgânicos em compostos orgânicos precursores da vida. Dessa forma, compre- ender como os átomos e íons se conectam e se comportam para formarem pequenas moléculas orgânicas, como aminoácidos, e, posteriormente, moléculas orgânicas maiores, como as proteínas, é fundamental para entender como foi possível o início da vida a partir de moléculas inorgânicas simples, como metano, nitrogênio, hidrogênio e vapor de água, que estavam presentes na atmosfera primitiva. 13 Dessa forma, o experimento de Miller e Urey demonstrou que moléculas orgânicas (aminoácidos) poderiam ter-se formado nas condições da Terra primitiva, o que reforçou a hipótese da evolução gradual dos siste- mas químicos. 4.3. O experimento de Fox O bioquímico norte-americano Sidney W. Fox (1912-1998), por meio de experimentos, evidenciou a combinação de dois aminoácidos através de uma síntese de desidratação. R R C C C H H H OH OH ONH NH+ + 2 C O R C CC H H HO OH N+ R+NH H O 2 2 C O REAÇÃO QUE FORMA AS LIGAÇÕES PEPTÍDICAS ENTRE AMINOÁCIDOS, POR DESIDRATAÇÃO. Para isso, aqueceu uma mistura seca de aminoácidos e, depois do resfriamento, verificou que eles haviam se unido para compor moléculas maiores e mais complexas, seme- lhantes a proteínas. Na Terra primitiva, os aminoácidos teriam chegado às ro- chas levados pelas chuvas. A evaporação da água teria dei- xado os aminoácidos secos sobre a superfície das rochas quentes. Em tais condições, teria ocorrido a formação de ligações peptídicas pela evaporação da água e a conse- quente formação de proteínas. 4.4. A hipótese autotrófica Alguns cientistas questionam se a vida surgiu nos mares rasos e quentes da Terra primitiva, uma vez que a superfície do planeta era bombardeada frequentemente por meteo- ros. Dessa forma, a crosta terrestre não teria a estabilidade necessária para o desenvolvimento dos seres vivos. Para os defensores dessa teoria, a vida se originou nos assoalhos oceânicos, perto de fontes térmicas, onde existiam bac- térias capazes de utilizar compostos químicos para obter energia e, assim, sintetizarsua própria matéria orgânica. Como todo ser vivo necessita de alimento para sobrevi- ver, parece lógico admitir que os primeiros tenham sido capazes de produzir seu próprio alimento, ou seja, te- nham sido autótrofos. De fato, está comprovado que que existem bactérias qui- miossintetizantes em fontes térmicas sulfurosas de regi- ões tão profundas que a luz solar não consegue alcançar. Entretanto, existe uma objeção a essa teoria: como os au- tótrofos sintetizam alimentos orgânicos (a partir de subs- tâncias inorgânicas) à custa de uma série extremamente complexa de reações químicas, exige-se que seu próprio organismo também seja complexo - uma situação menos provável de acontecer quando comparada ao surgimento de seres mais simples. 4.5. A hipótese heterotrófica Essa hipótese sustenta que o primeiro ser vivo surgiu em um determinado ambiente, na forma de um ser pouco complexo e incapaz de fabricar seu alimento. Ou seja, ela supõe que um organismo simples evoluiu vagarosamente da matéria inanimada, fato que ocorreu nas condições es- pecíficas de milhões de anos atrás. Não se trata de geração espontânea, uma vez que a teoria da abiogênese afirma que seres complexos podem surgir de matéria bruta. De acordo com a hipótese heterotrófica, a vida teria surgi- do por meio das etapas ilustradas abaixo: FORMAÇÃO DE AMINOÁCIDOS FORMAÇÃO DE PROTEÍNAS FORMAÇÃO DE COACERVADOS SURGIMENTO DE HETERÓTROFOS OBTENÇÃO DE ENERGIA CAPACIDADE DE REPRODUÇÃO APARECIMENTO DE AUTÓTROFOS PREDOMÍNIO DE AUTÓTROFOS APARECIMENTO DE AERÓBIOS Para se manter e se desenvolver, um sistema de coacervados necessitaria de uma fonte de energia constante e contro- lável. A hipótese heterotrófica sugere que essa fonte teria sido a energia das ligações químicas existentes nas imensas quantidades de substâncias, geradas durante milhares de anos no mar primitivo. Porém, como a presença de gás oxigênio (O2) era quase nula na atmosfera da época, esse primeiros seres provavelmente eram heterótrofos fermentadores que liberavam CO2. 4.5.1. Capacidade de reprodução Devido a sua capacidade de retirar alimentos e energia do meio e organizar as moléculas em padrões definidos, os heterótrofos-anaeróbios primitivos teriam crescido gradativamente, a tal ponto que teriam surgido novos problemas na luta pela sobrevivência: com o aumento 14 volumétrico do indivíduo, a difusão do alimento do meio exterior para o interior do coacervado teria ficado mais lenta por causa da distância a ser percorrida; desse modo, o coacervado teria começado a sofrer fome. Nessas condições, teria se dividido para reduzir seu vo- lume. Contudo, qualquer mecanismo de divisão teria ge- rado um novo problema; ao dividir-se, o coacervado teria corrido o risco de se desorganizar e, portanto, perder as características de sistema complexo adquiridas em muito tempo de evolução. Nos organismos bem-sucedidos, teriam surgido os ácidos nucleicos, moléculas que controlam os processos básicos de reprodução e organização. Em tais condições, o orga- nismo que tivesse DNA teria encontrado o meio para se duplicar de maneira exata, transmitindo aos seus descen- dentes o mesmo padrão de organização adquirido depois de toda evolução transcorrida. 4.5.2. Surgimento dos autótrofos Com o passar do tempo, a quantidade relativa de alimento começou a decair e a competição entre os seres heterótrofos se amplificou. A "sopa nutritiva" se diluiu progressivamente devido ao crescimento contínuo da população que aumen- tou o consumo de matérias orgânicas e à diminuição da sínte- se de tais substâncias, dado que as condições para formá-las deixavam de existir. Em contrapartida, graças à fermentação dos heterótrofos, a atmosfera tinha taxas cada vez mais altas de gás carbônico (CO2). Ao longo do desenvolvimento da vida na Terra, houve diver- sas mutações no material genético dos seres vivos. A partir de- las, há cerca de 2,7 bilhões de anos atrás, surgiram aleatoria- mente seres vivos unicelulares com capacidade de sintetizar matéria orgânica a partir de inorgânica, ou seja, organismos autótrofos. Devido à presença de enzimas ATP, ao surgimento de pigmentos fotossintetizantes e à capacidade de usar CO2 e captar energia luminosa para realizar uma fotossíntese, esses primeiros autótrofos foram bem-sucedidos no ambiente. 4.5.3. Surgimento dos aeróbios No processo de fotossíntese, liberam-se moléculas de oxigênio. Dessa forma, é possivel supor que uma certa quantidade de gás tenha-se acumulado gradativamente, durante milhares de anos, como consequência do apare- cimento dos autótrofos. O aumento na concentração de oxigênio tornou a atmosfera tóxica para muitos dos seres vivos anaeróbios e, portanto, selecionou organismos adaptados às novas condições. Além disso, o uso de oxigênio para a obtenção da glicose libera muito mais energia do que aquela obtida na ausência de oxigênio, uma vez que a fermentação fornece um saldo energético de apenas 2 ATP, enquanto, na reação com o oxigênio, o saldo é de 38 ATP. Dessa forma, os organis- mos capazes de executar respiração aeróbia teriam levado vantagem, pois eram capazes de retirar mais energia do alimento disponível. https://evosite.ib.usp.br/ multimídia: site 15 ÁREAS DO CONHECIMENTO DO ENEM HABILIDADE 15 Interpretar modelos e experimentos para explicar fenômenos ou processos biológicos em qualquer nível de organização dos sistemas biológicos. A questão irá testar a capacidade de interpretação de hipóteses científicas por meio de experimentos e como os resultados desses experimentos apoiam ou refutam a hipótese. Resultados dentro do esperado podem tornar a hipótese uma lei científica. MODELO 1 (Enem) Em certos locais, larvas de moscas, criadas em arroz cozido, são utilizadas como iscas para pesca. Alguns criadores, no entanto, acreditam que essas larvas surgem espontaneamente do arroz cozido, tal como preconizado pela teoria da geração espontânea. Essa teoria começou a ser refutada pelos cientistas ainda no século XVII, a partir dos estudos de Redi e Pasteur, que mostraram experimentalmente que a) seres vivos podem ser criados em laboratório; b) a vida se originou no planeta a partir de microrganismos; c) o ser vivo é oriundo da reprodução de outro ser vivo preexistente; d) seres vermiformes e microrganismos são evolutivamente aparentados; e) vermes e microrganismos são gerados pela matéria existente nos cadáveres e nos caldos nutritivos, respectivamente. ANÁLISE EXPOSITIVA Os experimentos de Redi e Pasteur demonstraram que não é possível o surgimento de vermes ou microrga- nismos por geração espontânea. Nessa situação, é importante saber analisar o procedimento experimental adotado pelos cientistas e como os resultados obtidos refutaram a teoria da abiogênese. O experimento de Redi foi realizado com a utilização de dois frascos com um pedaço de carne cada. Um frasco permaneceu aberto e o outro foi fechado com gaze. Com o passar dos dias, ele observou que havia vermes somente no frasco que permaneceu aberto, refutando a hipótese da abiogênese. Já Pasteur provou que microrganismos não podem surgir espontaneamente. Ao ferver o meio de cultura em um recipiente com pescoço de cisne, ele esterilizava o meio e o acúmulo de líquido no pescoço do recipiente impedia que bactérias do ar entrassem no meio. Com isso, o meio de cultura permanecia estéril. Essa condição se invertia quando o pescoço de cisne era retirado, promovendo a entrada de ar e, consequentemente, o crescimento bacteriano no meio de cultura, que ficava com cor turva. RESPOSTA Alternativa C 16 DIAGRAMA DE IDEIAS SERES VIVOS OU SUBS- TÂNCIAS PRECURSORAS, VINDAS DE OUTROS LOCAIS DO COSMO ABIOGÊNESE (IV A.C.) BIOGÊNESE (XVII) ORIGEM DA VIDA COMPOSTOS INORGÂNICOS ORIGINAM MOLÉCULAS ORGÂNICAS TEORIA DA EVOLUÇÃO QUÍMICA (XX) PANSPERMIA PRIMEIRO SER VIVO CAPAZ DE SINTETIZAR SEU PRÓPRIO ALIMENTO TEORIA AUTOTRÓFICA PRIMEIRO SER VIVO NUTRIA-SE DA MATÉRIA ORGÂNICA DO MEIO TEORIAHETEROTRÓFICA VIDA A PARTIR DA MATÉRIA BRUTA • ARISTÓTELES • J.B. VAN HELMONT VIDA A PARTIR DE ALGO VIVO F. REDI (1660) FRASCOS COM CARNE L. PASTEUR (1860) PESCOÇO DE CISNE OPARIN E HALDANE TEORIA MILLER PRÁTICA COACERVADOS MOLÉCULAS ORGÂNICASCH4, NH3, H2, H2O ATMOSFERA COM DESCARGA ELÉTRICA + HETEROTRÓFICOS FERMENTADORES AUTOTRÓFICOS FERMENTA- DORES FOTOSSINTETIZANTES AERÓBICOS 17 1. A evolução O ser humano sempre se interessou pelos seres vivos que o rodeiam. Os caçadores silvícolas, os filósofos gregos, os monges da Idade Média, assim como qualquer outro ser humano de qualquer época. Todos possuem o discernimento de que os indivíduos, ainda que diferentes uns dos outros em muitos pormenores, ten- dem a organizar-se em grupos com características comuns. Atualmente, denomina-se esse grupos como espécies, um conjunto de indivíduos semelhantes anatômica, fisiológica e filogeneticamente, capazes de realizar fluxo gênico entre si por mecanismos reprodutivos diversos e produzir descenden- tes com as mesmas características (transmissão hereditária). A evolução biológica consiste no conjunto de mutações sofridas pelas espécies ao longo do tempo. Essas modifi- cações podem permitir à espécie uma melhor adaptação ao meio em que vive, ou seja, realizar com mais eficiência seus comportamentos reprodutivo, alimentar e de explo- ração de seu habitat. Uma espécie evoluída é adaptada ao meio em que vive, não importando o seu grau de complexidade. Por exemplo, um organismo procarionte, unicelular e heterótrofo, como uma bactéria que vive em nossos intestinos, pode ser considerado tão adaptado ao seu habitat quanto um organismo eucarion- te, pluricelular com tecidos e um autótrofo, como um abaca- teiro, que é uma árvore frutífera. O mesmo raciocínio pode ser feito quando a comparação é feita com o ser humano. Assim, é interessante observar que tanto os organismos simples, como as bactérias, quanto os complexos, como os mamíferos, estão adaptados ao ambiente em que vivem simplesmente porque as características que apresentam per- mitem a realização de todas as suas funções vitais básicas, ou seja, possibilitam o funcionamentos dos seus metabolis- mos energético, plástico e de controle. 1.1. Fixismo e transformismo Durante muito tempo, acreditou-se que os seres vivos que conhecemos hoje são exatamente iguais à época de sua criação. Essa teoria, conhecida como fixismo, começou a ser questionada com maior vigor a partir do século XVIII, quando se passou a acreditar que uma espécie poderia modificar-se com o tempo, originando uma ou mais espé- cies diferentes da anterior. Assim, o fixismo, geralmente propagado pela Igreja, defen- de que as espécies foram originadas simultaneamentes por uma divindade e que conservam uma essência imutável, sem a capacidade de se modificar ao longo do tempo. Já o transformismo propõe que as espécies são mutáveis e que há uma correspondência entre as transformações do meio e e as adaptações dos organismos. A partir desse con- ceito, originou-se o evolucionismo. Entre os transformistas está Jean-Baptiste de Lamarck (1744 -1829), o qual acreditava que as espécies não são fixas, mas que descendem de outras, e, por meio de mudanças graduais que se processam através de muitas gerações, apresentam diferenças em relação aos ancestrais. 2. Evidências evolutivas As evidências evolutivas fornecem informações sobre as condições em que os organismos estão inseridos, permitem traçar relações de parentesco e facilitam a análise da diver- sidade genética − desde a origem da variedade, até o esta- belecimento de sua frequência. Em outras palavras, auxiliam no entendimento dos processos de evolução. IMAGEM COM FEZES FOSSILIZADAS DE ORGANISMOS EXTINTOS, SUA ANÁLISE PODE LEVAR A DIVERSAS CONCLUSÕES SOBRE OS SEUS HÁBITOS ALIMENTARES. Fósseis, datação radiométrica, filogenia, constituição quími- ca de organismos modernos e experimentos diversos ace- EVIDÊNCIAS EVOLUTIVAS HABILIDADES: 15 e 16 COMPETÊNCIA: 4 AULAS 3 e 4 18 nam para linhas de evidência que avançam para esclarecer a origem da vida. Entretanto, essas hipóteses são sempre vulneráveis a mudanças graças ao avanço tecnológico e ao conhecimento científico. A revisão de hipóteses é parte es- sencial da pesquisa científica. É importante perceber que Lamarck e, mais tarde, Darwin, ambos evolucionistas, procuraram elucidar o fato por meio de hipóteses e teorias. A seguir, serão apresentadas as evi- dências evolutivas descritas pela ciência ao longo dos anos. 2.1. Fósseis Os fósseis são a principal e mais notável evidência a fa- vor do transformismo e, portanto, da teoria evolucionis- ta. Por definição, eles são restos ou vestígios de organis- mos de épocas remotas conservados até a atualidade. Representam uma evidência evolutiva, pois fósseis de diferentes idades e/ou encontrados em distintos estratos geológicos demonstram que os organismos não foram criados simultaneamente. Além disso, também corrobo- ram com a ideia que as espécies sofrem modificações ao longo do tempo, uma vez que os fósseis não possuem as mesmas características dos seres vivos atuais. O registro fóssil é uma importante evidência das mu- danças pelas quais passam os organismos ao longo do tempo e, por meio da comparação com espécies atuais, fornece possíveis indicativos de parentesco evolutivo. FÓSSEIS DE TELEÓSTEO (PEIXE ÓSSEO). 2.1.1. Processo de fossilização São necessárias condições especiais para que um fóssil se forme. Dado que os cadáveres se decompõem, é preciso que os restos mortais ou os vestígios de um organismo morto fiquem a salvo da ação de agentes decompositores e das intempéries naturais, como o vento, o sol e a chuva. As condições mais favoráveis à fossilização ocorrem quan- do o corpo é coberto por sedimentos imediatamente de- pois da morte. Com efeito, a fossilização é um processo raro. Em razão disso, a paleontologia padece com a ausência de fósseis de todas as formas de vida. A grande maioria dos seres vivos do passado não foi fossilizada. Em consequência, existe a dificuldade de relacionar diferentes grupos de seres vivos. Faltam fósseis de transição que liguem esses grupos. PROCESSO DE FOSSILIZAÇÃO. DESDE A MORTE ATÉ A DESCOBERTA DOS RESTOS FÓSSEIS. 2.1.2. Tipos de fossilização Dentre os muitos tipos de fossilização, destacam-se: Fossilização por âmbar: o âmbar é uma resina libe- rada por árvores e com capacidade de aprisionar um organismo vivo, permitindo a conservação das partes moles de um ser vivo. PRESERVAÇÃO POR ÂMBAR, MUITO COMUM NA CONSERVAÇÃO DE INSETOS, PÓLEN E RÉPTEIS. 19 CONEXÃO ENTRE DISCIPLINAS Fossilização por mumificação e congelamento: a mumificação ocorre em regiões desérticas e áridas; já o congelamento ocorre em regiões glaciais, como a Sibéria, onde foram encontrados mamutes em perfeito estado de conservação. Fossilização por carbonificação: ocorre mais co- mumente com restos vegetais e organismos com partes moles. Os restos mortais são comprimidos pelo peso ou pela compactação das rochas. Durante o processo, em razão do calor e da compressão, são liberados gases como hidrogênio, oxigênio e nitrogênio. Ao final, resta apenas uma película de carbono do organismo. EXEMPLO DE CARBONIFICAÇÃO RECORRENTE EM UMA PLANTA LICÓFITA. PERCEBA A COR PRETA QUE O VEGETAL ADQUIRIU. 2.1.3. Datação radioativa dos fósseis A idade de um fóssil pode ser estimada pela medição de elementos radioativos presentes nele ou na rocha em que está fossilizado. Teoricamente, quanto mais profundo o ter- reno, mais antigo é o fóssil. Caso o fóssil apresente substâncias orgânicas em sua cons- tituição, sua idade pode ser calculada com razoável precisão pelo método do carbono-14 (14C), um isótopo radioa- tivo do carbono (12C). De acordo com uma determinação científica, a meia-vida do carbono-14 é de 5730 anos. Isso significa que, nesse período, metade do carbono-14 de uma amostra desintegra-se. Ao mor- rer, um organismoque se fossiliza contém determinada quan- tidade de 14C. Passados 5730 anos, restará no fóssil apenas metade da quantidade de 14C presente no ser vivo que morreu. Passados mais 5730 anos, a metade do que restou também será desintegrada, e assim por diante, até o último vestígio de isótopo radioativo na matéria orgânica remanescente. Por meio da medição da quantidade residual de carbo- no-14 em um fóssil, é possível calcular quanto tempo se passou desde a morte do ser vivo que o originou. Um fóssil que apresente 1/8 do carbono radioativo estimado para um organismo vivo indica que a morte deve ter ocorrido há aproximadamente 22 ou 23 mil anos. FÓSSIL DE MAMUTE No entanto, a datação por meio do carbono-14 serve ape- nas para fósseis com menos de 50 mil anos, dado que a meia-vida desse isótopo é relativamente curta. Para datar fósseis mais antigos, empregam-se isótopos com meia- -vida mais longa, como é o caso das rochas fossilíferas. Rochas formadas há alguns milhões de anos podem ser da- tadas por meio do isótopo urânio-235 (235U), cuja meia-vida é de 700 milhões de anos. Para rochas mais antigas, com centenas de milhões de anos de idade, usa-se o potássio-40, cuja meia-vida é de 1,3 bilhão de anos. Um princípio químico, como o tempo de meia-vida do carbono-14, é utilizado para determinar a idade de um fóssil e, assim, estudar o processo evolutivo e a relação entre os indivíduos. A colisão entre raios cósmicos e o nitrogênio-14, presente na atmosfera terrestre, forma o carbono-14. Esse isótopo do carbono pode ligar-se com o oxigênio, forman- do o gás carbônico, que é absorvido pelas plantas. Quando um organismo morre, a quantidade de carbono-14 sofre uma queda, o que resulta em um decaimento radioativo. O tempo de meia−vida do carbono-14 é de 5730 anos. Dessa forma, um organismo que morreu há 5730 anos apresentará a metade do conteúdo de 14C. 20 VIVENCIANDO Há evidências de que a vida tenha se manifestado há 3,5 bilhões de anos com a descoberta de microfósseis (fósseis invisí- veis a olho nu) da vida celular procariótica, frequentemente na forma de estruturas rochosas encontradas no sul da África e na Austrália, chamadas estromatólitos, produzidos por micróbios (maioria cianobactérias fotossintetizantes), que se formam quando as células crescem na superfície marinha e sedimentos se depositam entre as células ou sobre elas. Assim, uma camada minera- lizada fica abaixo delas, pois as células crescem na direção da luz. Com o passar do tempo e a repetição do processo, camadas mineralizadas vão formando uma estrutura rochosa estratificada, o estromatólito. Ainda hoje, micróbios produzem estromatólitos modernos que são in- crivelmente similares aos antigos. Vistos em corte transversal, ambos mostram a mesma estrutura de camadas produzidas por bactérias. Microfósseis de cianobactérias anciãs são eventualmente identificados nessas camadas. 2.2. Anatomia e embriologia comparadas No estudo dos vertebrados, é evidente a existência de um padrão esquelético: um crânio ligado a uma coluna ver- tebral que apresenta uma cintura escapular, onde se co- nectam os membros anteriores e uma cintura pélvica, na qual estão conectados os membros posteriores. Assim, é perceptível que todos os vertebrados, apesar de diferentes, apresentam características em comum, fator que mostra parentesco e indica um ancestral comum que, por evolu- ção, deu origem a todos os subgrupos. O estudo embriológico dos animais, por sua vez, demonstra que, quanto mais inicial é a fase de desenvolvimento do em- brião, maiores são as dificuldades de diferenciação e identifi- cação do grupo estudado. Isso indica que o desenvolvimento embriológico dos animais é extremamente semelhante nas suas primeiras fases e que a distinção só ocorre mais tarde. Portanto, entre espécies ou grupos evolutivamente próximos, existe uma semelhança embriológica muito grande em rela- ção às fases iniciais do desenvolvimento. 2.2.1. Homologia Estruturas homólogas apresentam a mesma origem em- briológica, mas podem ter destinos funcionais diferentes. Quando as estruturas não desempenham funções seme- lhantes, indicando adaptações distintas, as homologias apontam uma evolução divergente. Nesse sentido, é possível citar os membros anteriores de vertebrados, que podem se diversificar em braços, patas dianteiras, nadadeiras ou asas. Apesar de funcionalidades diferentes, identifica-se parentesco e, por consequência, ancestralidade comum. Golfinho Carpo Metacarpo Metacarpo CarpoRádio Ulna Úmero Humano Cavalo 1 1 2 2 3 3 4 4 5 5 Rádio Ulna Rádio Carpo Metacarpo Úmero Ulna Úmero FÓSSEIS ESTROMATÓLITOS EM SECÇÕES TRANSVERSAIS. FONTE: YOUTUBE POA ciência de Jurassic Park | Nerdologia 57 F Y multimídia: vídeo 21 Morcego 1 2 3 Metacarpo CarpoRádioUlna Úmero 4 5 ESTUDO COMPARATIVO ÓSSEO ENTRE MEMBROS ANTERIORES DE GOLFINHO, HUMANO, CAVALO E MORCEGO. A homologia é evidente na formação das espécies a partir de um ancestral comum que colonizou diferentes meios e nichos ecológicos, apresentando adaptações distintas. Esse processo evolutivo caracteriza a irradiação adaptativa. REPRESENTAÇÃO DE IRRADIAÇÃO ADAPTATIVA. 2.2.2. Analogia Estruturas análogas obrigatoriamente apresentam a mes- ma função ou papel biológico, mas possuem origens em- briológicas distintas. Assim, apesar de serem indício de condições evolutivas similares, não são evidências de parentesco. As estruturas análogas surgem de um processo denominado evolução convergente. Devido a contextos ecológicos e a pressões seletivas semelhantes, as estruturas evoluem inde- pendentemente em vários grupos que não possuem ancestral em comum, convergindo para uma mesma funcionalidade. ESQUEMA COMPARATIVO DE ANALOGIA E HOMOLOGIA ENTRE ASAS DE DIFERENTES ANIMAIS Como exemplo, é possível citar as asas de insetos, aves e mor- cegos. Esses grupos distintos adotaram, ao longo do tempo, a mesma estratégia – asa – para a locomoção no meio aéreo, porém a origem da estrutura nos grupos é completamente diferente. A presença da característica “asa” permitiu a adap- tação, ou seja, o voo. Nesse caso, percebe-se que o ambiente foi o referencial comum entre as espécies distintas, pois, para a locomoção no meio aquático, sem dúvida que nadadeiras seriam mais adaptadas, independentemente de sua origem – caracterizando analogia. Essa situação é chamada de conver- gência adaptativa. REPRESENTAÇÃO DE CONVERGÊNCIA EVOLUTIVA. Exemplo de convergência evolutiva: rãs, crocodilos e hipo- pótamos possuem os olhos e as narinas posicionados acima da superfície da água. Isso permite que eles permaneçam ocultos, ao mesmo tempo que possibilita respirarem e obser- varem ao seu redor. As estruturas não possuem mesma ori- gem evolutiva, foram as pressões ambientais similares que selecionaram os caracteres mais adaptados ao meio. 2.2.3. Estruturas vestigiais As estruturas vestigiais são características biológicas re- duzidas que modificaram ou perderam sua funcionalidade principal. Embora encontrada nessas condições em alguns grupos de seres vivos, em outros a estrutura pode ser bem desenvolvida. Assim, é possível traçar parentesco entre as espécies que a possuem. O ceco, o apêndice vermifome e a a base da espinha dor- sal humana são exemplos de órgãos vestigiais. Todas essas características estão pouco desenvolvidas na espécie hu- mana, enquanto em outras estão mais desenvolvidas − o que denota modificação e evolução ao longo do tempo. Por exemplo, ao passo que o apêndice cecal não possui função aparente em animais carnívoros, em herbívoros ele é bem desenvolvido e possui papel essencial na digestão de celulose. 22 Base da espinha dorsal Humana Vértebras Sacro Cóccix (cauda vestigial) BASE DA ESPINHA DORSAL HUMANA COELHO Ceco Ceco Apêndice Intestino delgado Intestino delgado Ceco Apêndice vermiforme HOMEM Intestino grosso Intestino delgado SER HUMANO ESQUEMA COMPARATIVO ENTRE O INTESTINO DE COELHOS E DE SERESHUMANOS. 2.3. Bioquímica, biologia e genética molecular Estudos nas áreas de bioquímica, biologia e genética mole- cular têm mostrado que a presença das mesmas proteínas em organismos de grupos diferentes indica semelhança no aparato metabólico e hereditário, o que, sem dúvida, evi- dencia parentesco e, portanto, ancestralidade comum. O esquema abaixo ilustra os processos básicos e universais que envolvem o material genético e a sua expressão. Replicação DNA Transcrição Tradução proteína RNA Transcrição (Síntese de RNA) (Síntese proteica) informação informação informação Ribossomo Tradução MECANISMOS PARA EXPRESSÃO DO MATERIAL GENÉTICO. FONTE: YOUTUBE Por Dentro do Apêndice - Por Dentro 7 F Y multimídia: vídeo http://mundoeducacao.bol.uol.com.br/biologia/analo- gia-homologia.htm http://www.sobiologia.com.br/conteudos/Seresvivos/ Ciencias/bioevolucao2.php multimídia: site 23 ÁREAS DO CONHECIMENTO DO ENEM HABILIDADE 15 Interpretar modelos e experimentos para explicar fenômenos ou processos biológicos em qualquer nível de organização dos sistemas biológicos. O exercício testa a capacidade do aluno de interpretar o processo biológico (queda do meteorito e o impacto ambiental causado) e relacioná-lo à extinção dos dinossauros. MODELO 1 (Enem) Paleontólogos estudam fósseis e esqueletos de dinossauros para tentar explicar o desaparecimento desses animais. Esses estudos permitem afirmar que esses animais foram extintos há cerca de 65 milhões de anos. Uma teoria aceita atualmente é a de que um asteroide colidiu com a Terra, formando uma densa nuvem de poeira na atmosfera. De acordo com essa teoria, a extinção ocorreu em função de modificações no planeta que a) Desestabilizaram o relógio biológico dos animais, causando alterações no código genético. b) Reduziram a penetração da luz solar até a superfície da Terra, interferindo no fluxo energético das teias tróficas. c) Causaram uma série de intoxicações nos animais, provocando a bioacumulação de partículas de poeira nos organismos. d) Resultaram na sedimentação das partículas de poeira levantada com o impacto do meteoro, provocando o desaparecimento de rios e lagos. e) Evitaram a precipitação de água até a superfície da Terra, causando uma grande seca que impediu a retroalimentação do ciclo hidrológico. ANÁLISE EXPOSITIVA Entender o fenômeno das extinções corretamente é de grande importância para dominar esse pro- cesso biológico. Existe a crença de que o impacto por si só foi a grande causa das extinções dos dinossauros há 65 milhões de anos. Na verdade, a Terra já vinha passando por alterações climáticas consideráveis que foram potencializadas devido aos efeitos da queda do meteoro. Dentre esses efei- tos, a formação de uma camada de poeira foi determinante, uma vez que reduziu drasticamente a incidência de luz na superfície terrestre, diminuindo assim a captação de energia dos produtores e comprometendo as teias alimentares. Como os dinossauros eram muito numerosos, sofreram drasti- camente com esse processo a ponto de serem extintos. RESPOSTA Alternativa B 24 DIAGRAMA DE IDEIAS ANATOMIA COMPARADA EMBRIOLOGIA COMPARADA EX: ANIMAIS COM COLUNA VERTEBRAL / ANIMAIS SEM COLUNA VERTEBRAL FÓSSEIS OS ORGANISMOS DE ANTIGAMENTE ERAM DIFERENTES BIOQUÍMICA, BIOLOGIA E GENÉ- TICA MOLECULAR ÓRGÃOS VESTIGIAIS EX: ANIMAIS COM AS MESMAS PROTEÍNAS EVIDENCIAM UM PARENTESCO O CECO BEM DESENVOLVIDO EM HERBÍVOROS E POUCO DE- SENVOLVIDO EM CARNÍVOROS. FATORES QUE COMPROVAM A EVOLUÇÃO BIOLÓGICA EVIDÊNCIAS EVOLUTIVAS ÓRGÃOS ANÁLOGOS ORIGEM DISTINTA, MAS MESMA FUNÇÃO CONVERGÊNCIA ADAPTATIVA ÓRGÃOS HOMÓLOGOS MESMA ORIGEM PODEM APRESENTAR FUNÇÕES IGUAIS OU DIFERENTES (DIVERGÊNCIA ADAPTATIVA) 25 1. Introdução Entendendo que a evolução é o conjunto de mudanças here- ditárias dos organismos no decorrer do tempo e que o estu- do das evidências corroboram essa teoria, é preciso entender como ocorrem as alterações nas espécies com o transcorrer do tempo. Outra questão importante é o modo como essas modificações, se favoráveis, permanecem ao longo das gera- ções. Jean-Baptiste de Lamarck (século XVIII) e Charles Darwin (século XIX) foram dois cientistas que se destacaram na tentativa de explicar essas e outras questões. 2. Lamarckismo A teoria de Lamarck, publicada em 1809, baseava-se em três pontos principais: 1. A lei do uso e desuso afirmava que era possível ad- quirir características necessárias à adaptação em um certo ambiente pelo uso intensivo do órgão ou estrutura envolvi- da. Enquanto, do mesmo modo, o desuso poderia atrofiar determinada característica. 2. A lei da transmissão dos caracteres adquiri- dos, de maneira complementar, defendia que essas mudanças eram hereditáras, ou seja, eram transmitidas aos descendentes. 3. A ideia da evolução como progresso e melhora. Para Lamarck, o aumento da complexidade e da perfeição seriam o destino natural e esperado de cada espécie. Exemplo: o comprimento do pescoço das girafas pode ser entendido, se pensarmos nos esforços diários para alcançar os ramos mais altos das árvores, como um resultado do de- senvolvimento de ossos e músculos. As girafas com pesco- ços desenvolvidos transmitiriam essa característica a seus descendentes. Logo, ao longo das gerações, todas as girafas teriam pescoços grandes. Para Lamarck, portanto, o ambiente tem um papel dire- cionador e induz modificações nas características e nas adaptações dos organismos, uma vez que estes se modi- ficam para atender às necessidades impostas pelo meio. REPRESENTAÇÃO DO AMBIENTE INDUZINDO O DESENVOLVIMENTO DO PESCOÇO DA GIRAFA AO LONGO DAS GERAÇÕES O lamarckismo é considerado equivocado pela biologia contemporânea: os lamarckistas defendem que os bagres cegos das grutas de Ipiranga perderam a visão devido ao desuso e à atrofia dos olhos na ausência da luz; no entanto, foi demonstrado que tais animais simplesmente descendem de formas com visão atrofiada (mutações), que surgiram e se fixaram ao acaso, quer na presença, quer na ausência de luz. Outro questionamento dessa teoria foi realizado por Weis- mann, em experiências cortando caudas de camundongos por sucessivas gerações e mostrando que não havia atrofia desse apêndice. Ele foi autor da teoria da “continuidade do plasma germinativo”, segundo a qual o germe é imortal, não sendo as alterações provocadas pelo meio ambiente transmissíveis aos descendentes. Apesar de algumas de suas interpretações sobre a evolu- ção terem sido refutadas, Lamarck foi um dos primeiros cientistas a criticar o fixismo e a introduzir o conceito de adaptação do organismo ao meio, que é fundamental para a compreensão do processo evolutivo. 3. Darwinismo Na teoria de Charles Darwin, a evolução é defendida como um processo lento e gradual de pequenas alterações que vão se acumulando até resultarem em uma grande mu- dança em relação aos indivíduos ancestrais. Em sua viagem ao redor do mundo, de dezembro de 1831 a outubro de 1836, a bordo do navio inglês H.M.S. Beagle, Darwin observou e colheu espécimes de animais e plantas que o levaram a elaborar sua teoria evolucionista. TEORIAS EVOLUTIVAS HABILIDADES: 15 e 16 COMPETÊNCIA: 4 AULAS 5 e 6 26 VIVENCIANDO LOCAIS VISITADOS POR DARWIN A BORDO DO H.M.S. BEAGLE. Foi com base na observação desses espécimes que surgi- ram as ideias sobre a possível mutabilidade das espécies. Darwin realizou muitas pesquisas e amadureceu sua teoria evolutiva durante 20 anos, culminando na publicação do livro A origem das espécies por meio da seleção natural. O naturalista viajou pela América do Sul, passou pelo Bra- sil, pela Austrália e por diversos arquipélagos, como o de Galápagos, no oceano Pacífico, a cerca de mil quilômetros da costa sul-americana, que ofereceu a ele o material indispen- sável ao desenvolvimento de sua teoria de seleção natural. A fauna desse arquipélago, principalmente os jabutis-gigantes e os pássaros, chamou sua atenção de modo particular.Ele observou que diferentes espécies de tentilhões ficavam restritas a diferentes ilhas, bem como o formato do bico dos espécimes desses pássaros adequava-se à necessidade de consumir os alimentos disponíveis em cada uma das ilhas. Darwin notou também as semelhanças entre os espécimes de tentilhões habitantes das ilhas e do continente. Desse fato, ele concluiu que aquelas diferentes espécies de pássa- ros de Galápagos se originaram de uma única espécie an- cestral, a qual provavelmente deixara o continente sul-ame- ricano para viver nas ilhas. Assim, por seleção natural, foram originados indivíduos adaptados aos diversos modos de vida do ambiente. Nesse sentido, é provável que a diversificação da espécie original ocorreu como resultado das diferentes alimentações e habitats existentes em cada ilha. Bico grande e forte que esmaga sementes grandes e duras Bico grande e afiado que agarra e corta insetos Bico curto e fino que apanha insetos das fendas no solo Bico pequeno e forte que parte sementes Bico grande e fino que tira néctar de flores REPRESENTAÇÃO DE ALGUNS ESPÉCIMES DE TENTILHÕES, RELACIONANDO OS TIPOS DE BICOS COM OS ALIMENTOS. O naturalista inglês Alfred Russel Wallace (1823- 1913) estudou as faunas da Amazônia e das Índias orientais. Ele desenvolveu a teoria de que as espécies se modificam por seleção natural. De posse do manuscrito que relatava as pesquisas de Wallace, Darwin resolveu publicar seus estudos. Assim, em 1858, a pesquisa dos dois foi apresentada para a comunidade científica de Londres. Darwin é o nome de destaque da teoria da evolução, embora as ideias de Wallace tenham sido mui- to bem elaboradas. A publicação do livro A origem das espécies, que possui uma ampla gama de informações sobre a evolução, tornou Darwin mais conhecido, uma vez que o trabalho de Wallace não foi tão amplo. Não obstante, Wallace merece créditos quando se trata da teoria da evolução por seleção natural. ALFRED RUSSEL WALLACE A elucidação dos processos evolutivos possibilitou a compreensão dos parentescos entre espécies e permitiu o desenvolvimento de teorias que, acredita-se, estão cada vez mais próximas de desvendar como os seres vivos se mo- dificaram ao longo do tempo. Pela teoria de Darwin, compreende-se como as bactérias podem ficar resistentes aos antibióticos. O antibiótico, que é uma substância utilizada para combater infecções bacterianas, acaba com grande parte dos microrganismos, mas não é capaz de eliminar formas mais resistentes, que se reproduzem passando o gene de resistência para as próximas gerações. Quando um paciente com infecção bacteriana toma o antibiótico de maneira inadequada ou interrompe o tratamento antes do tempo, possibilita-se que bactérias resistentes aumentem sua população e, consequentemente, retornem com a doença de maneira mais agressiva. Por isso, é importante tomar antibióticos sempre com recomendação médica e sempre nos horários indicados por esse profissional. 27 3.1. Seleção natural De acordo com a teoria da seleção natural, os indivíduos com as características mais vantajosas para a sobrevi- vência em determinado ambiente conseguiam resistir e se reproduzir, transmitindo essas características para as próximas gerações. Em outras palavras, espécies bem adaptadas pressupõem sempre um agente responsável pela seleção dos indivídu- os mais aptos a determinado habitat. Assim, para Darwin, o meio é um agente seletor − em oposição à teoria de Lamarck, na qual o ambiente induz as mudanças. No caso dos tentilhões, o agente seletor foi o alimento, uma vez que as condições climáticas gerais das ilhas eram pare- cidas. Já em animais que viviam em regiões muito frias, a temperatura teria atuado como agente seletor. Consegui- riam sobreviver nesse ambiente apenas os indivíduos com características corpóreas vantajosas, como uma espessa ca- mada de gordura que atuasse como isolante térmico. Na segunda metade do século XIX, Charles Darwin apresen- tou, com bases sólidas, evidências das modificações sofridas pelas espécies, formulando uma explicação sobre os possíveis mecanismos que atuariam no processo de evolução biológica. Em seu livro A origem das espécies, Darwin expôs a sua teoria da evolução por seleção natural, partindo de duas observações: Os organismos vivos produzem um grande número de sementes ou ovos, mas o número de indivíduos nas po- pulações normais é mais ou menos constante, o que só pode ser explicado pela grande mortalidade natural. Organismos de mesma espécie, ou então de uma popula- ção natural, são muito variáveis em forma e comportamen- to, sendo a variabilidade influenciada pela hereditariedade. FOTO COM DIVERSAS VARIEDADES DO MILHO. NOTE COMO A DIFERENÇA É UM FATO NATURAL E ESSENCIAL NAS ESPÉCIES SILVESTRES. Desse modo, havendo variabilidade e grande mortalida- de, alguns organismos tem maior chance de deixar des- cendentes do que outros. Darwin denominou esse tipo de reprodução diferencial como seleção natural. Logo, a seleção natural ou a “luta pela vida com a sobre- vivência do mais apto” é o fator orientador da evolução e não a causa das variações. A origem destas só foi desven- dada com a descoberta das mutações, teoria exposta no século XX por Hugo de Vries e denominada Mutacionismo. A teoria da seleção natural é o principal ponto do darwinismo. Na época, essas ideias foram duramente com- batidas, principalmente por considerar o ser humano como mais uma espécie animal. Os indivíduos que nascem não são idênticos e, mesmo dentre os descendentes de um mesmo casal, ocorreriam variações das características − como os diferentes tama- nhos de pescoço (1). Porém, por conta das condições específicas do ambiente, nem todos estariam adaptados. No caso, girafas com pes- coço maior teriam mais disponibilidade de alimento do que as outras, principalmente em épocas de escassez, quan- do as poucas folhas estão localizadas no alto (2). Assim, naquele meio, os indivíduos com a característica "pescoço comprido" estariam mais aptos a sobreviver e, portanto, a se reproduzir (3). Essas girafas com um pescoço um pouco mais longo que o de seus pais transmitiriam aos seus descendentes a variação (4) e, após muitas gerações, o comprimento do pescoço des- ses animais teria aumentado, modificando uma característi- ca da espécie (5). Portanto, o Darwinismo pode ser entendido a partir de cin- co acontecimentos fundamentais: 1. Variabilidade intraespecífica 2. Adaptação 3. Seleção natural 4. Reprodução diferecial e hereditariedade 5. Tempo Observações Em todas as espécies e populações existe a variação, sob forma de diferenças individuais. A maioria dos organismos produz descendentes em número muito maior do que o número dos que conse- guem sobreviver até a idade reprodutiva. Conclusões Darwin concluiu que existe uma competição ou “luta” pela sobrevivência, na qual muitos indivíduos são eliminados. As características que favorecem os indivíduos nesse proces- so de eliminação são transmitidas às gerações posteriores. 28 As reflexões do economista Thomas Malthus a respeito do aumento da população humana contribuíram para algumas conclusões de Darwin. De acordo com Malthus, grande parte do sofrimento humano, provocado por guerras, fome, doen- ças, etc, deve-se ao aumento da população humana ultra- passar a velocidade de disponibilidade dos recursos do meio. “[...] A população humana tende a crescer para além das pos- sibilidades do meio, cresce exponencialmente, enquanto que os recursos alimentares crescem em progressão aritmética.” THOMAS MALTHUS (1766-1834), COLABORADOR DE DARWIN. 3.2.1. Coloração de advertência Há animais que produzem e armazenam substâncias quí- micas nocivas, além de possuírem cores bastante vitsosas. Trata-se da chamada coloração de advertência, que sinali- za aos possíveis predadores que eles não devem ser ingeri- dos, pois são perigosos. A RÃ DE COR VERMELHA VIBRANTE POSSUI UM VENENO MUITO PERIGOSO. A borboleta-monarca, de coloração